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772 | Europa | Europa
A Europa é, por convenção, um dos seis continentes do mundo. Compreendendo a península ocidental da Eurásia, a Europa geralmente divide-se da Ásia a leste pela divisória de águas dos montes Urais, o rio Ural, o mar Cáspio, o Cáucaso, e o mar Negro a sudeste. A Europa é limitada pelo oceano Glacial Ártico e outros corpos de água no norte, pelo oceano Atlântico a oeste, pelo mar Mediterrâneo ao sul, e pelo mar Negro e por vias navegáveis interligadas ao sudeste. No entanto, as fronteiras para a Europa, um conceito que remonta à Antiguidade clássica, são um tanto arbitrárias, visto que o termo "Europa" pode referir-se a uma distinção cultural e política ou geográfica.
A Europa é o segundo menor continente em superfície do mundo, cobrindo cerca de ou 2% da superfície da Terra e cerca de 6,8% da área acima do nível do mar. Dos cerca de 50 países da Europa, a Rússia é o maior tanto em área quanto em população (sendo que a Rússia se estende por dois continentes, a Europa e a Ásia) e o Vaticano é o menor. A Europa é o quarto continente mais populoso do mundo, após a Ásia, a África e a(s) América(s), com 740 milhões de habitantes em 2015, cerca de 11% da população mundial naquele ano, isto é, a cada 100 pessoas no mundo neste período, 11 viviam no continente. No entanto, de acordo com a Organização das Nações Unidas (estimativa média), o peso europeu pode cair para cerca de 7% em 2050. Em 1900, por exemplo, a população europeia representava 25% da população mundial (ou seja, a cada 4 habitantes do mundo naquele ano, 1 vivia dentro dos limites do continente).
A Europa, nomeadamente a Grécia Antiga, é considerada o berço da cultura ocidental. Tendo desempenhado um papel preponderante na cena mundial a partir do , especialmente após o início do colonialismo. Entre os séculos XVI e XX, as nações europeias controlaram em vários momentos as Américas, a maior parte da África, a Oceânia e grande parte da Ásia. Ambas as guerras mundiais foram em grande parte centradas na Europa, sendo considerado como o principal fator para um declínio do domínio da Europa Ocidental na política e economia mundial a partir de meados do , com os Estados Unidos e a União Soviética ganhando maior protagonismo. Durante a Guerra Fria, a Europa estava dividida politicamente ao longo da Cortina de Ferro entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a oeste, e o Pacto de Varsóvia, a leste. A vontade de evitar outra guerra acelerou o processo de integração europeia e levou à formação do Conselho Europeu e da União Europeia na Europa Ocidental, os quais, desde a queda do Muro de Berlim e do fim da União Soviética em 1991, têm vindo a expandir-se para o leste. A moeda da maior parte dos países da União Europeia, o euro, é mais comumente usada por europeus; O Acordo de Schengen aboliu controles de imigração fortes nas fronteiras de países membros da União Europeia. O hino à Alegria é o hino do Conselho Europeu e da União Europeia.
Definição.
O uso do termo "Europa" desenvolveu-se gradualmente ao longo da história. Na antiguidade, o historiador grego Heródoto provavelmente em referência a mapas de Hecateu de Mileto embora sem o nomear explicitamente, descreve o mundo como tendo sido dividido em três continentes, sendo eles a Europa, a Ásia e a Líbia (África), com o Nilo e o rio Fásis formando de suas fronteiras, embora também afirme que alguns consideravam o rio Don, em vez do Fásis, como a fronteira entre Europa e Ásia. Flávio Josefo e o Livro dos Jubileus descrevem os continentes como as terras dadas por Noé aos seus três filhos, sendo a Europa definida entre as Colunas de Hércules no Estreito de Gibraltar, separando-a da África, e o rio Don, separando-o da Ásia.
A definição cultural da Europa como terras da cristandade latina consolidou-se no , significando um novo local cultural criado através da confluência de tradições germânicas e da cultura cristã-latina, definidas em parte, em contraste com o Islão e Império Bizantino, e limitado a norte pela Ibéria (no Cáucaso), Ilhas Britânicas, França, Alemanha ocidental cristianizada, e as regiões alpinas do norte e no centro da Itália. Esta divisão, tanto geográfica como cultural, foi utilizada até a Baixa Idade Média, quando foi desafiada pela Era dos descobrimentos. O problema da redefinição da Europa, finalmente foi resolvido em 1730 quando, em vez de canais, o geógrafo e cartógrafo sueco von Strahlenberg propôs os Montes Urais como a fronteira mais importante do leste, uma sugestão que foi aceita na Rússia e em toda a Europa.
A Europa está agora em geral, definida pelos geógrafos, como a península ocidental da Eurásia, com seus limites marcados por grandes massas de água para o norte, oeste e sul; limites da Europa para o Extremo Oriente são normalmente tomadas para os Urais, o rio Ural, e o Mar Cáspio, a sudeste, as montanhas do Cáucaso, o Mar Negro e nas vias que ligam o Mar Negro ao Mar Mediterrâneo.
Às vezes, a palavra "Europa" é utilizada de forma geopoliticamente limitada para se referir apenas à União Europeia ou, ainda mais exclusiva, a um núcleo cultural definido. Por outro lado, o Conselho da Europa tem 47 países membros, e apenas 28 estados-membros são parte da União Europeia. Além disso, pessoas que vivem em áreas insulares, como a Irlanda, o Reino Unido, no Atlântico Norte e Mediterrâneo e ilhas também na Escandinávia podem rotineiramente se referir a parte "continental" ou ao "continente" da Europa ou simplesmente como "o continente".
Etimologia.
Na mitologia grega, Europa era uma princesa fenícia que Zeus sequestrou depois de assumir a forma de um touro branco deslumbrante. Ele a levou para a ilha de Creta, onde ela deu à luz Minos, Radamanto e Sarpedão. Para Homero, Europa (em grego: , "") era uma rainha mitológica de Creta e não uma designação geográfica. Mais tarde, o termo "Europa" foi usado para se referir ao centro-norte da Grécia, e em , seu significado foi estendido para as terras ao norte.
O nome "Europa" é de etimologia incerta. Uma teoria sugere que a palavra é derivada do grego εὐρύς ("eurus"), que significa "largo, amplo" e ὤψ/ὠπ-/ὀπτ- ("ōps"/"ōp"-/"opt-") significa "olho, rosto, semblante", portanto "" seria algo como "ampla contemplação". "Amplo" era um epíteto da própria Terra na religião protoindo-europeia. Outra teoria sugere que o termo é baseado em uma palavra semita como o mesmo significado do acadiano "erebu", algo como "para ir para baixo, pôr-se" (cf. Ocidente), um cognato do fenício "ereb" "noite; oeste" e do árabe do Magreb, do hebraico "ma'ariv" (ver "Érebo", PIE "*h1regʷos", "escuridão"). No entanto, M. L. West afirma que "fonologicamente, a correspondência entre o nome de Europa e qualquer forma da palavra semítica é muito pobre".
As principais línguas do mundo usam palavras derivadas de "Europa" para se referir ao "continente" (península). O chinês, por exemplo, usa a palavra ' (歐洲); este termo também é usado para se referir à União Europeia nas relações diplomáticas em língua japonesa, apesar do termo katakana ' ser mais comumente usado. No entanto, em algumas línguas turcas, o nome originalmente persa "Frangistan" (terra dos francos) é usado casualmente para se referir à grande parte da Europa, além de nomes oficiais, como "Avrupa" ou "Evropa".
História.
Pré-história.
Os "Homo erectus" e os Neanderthalis habitavam a Europa bem antes do surgimento dos humanos modernos, os "Homo sapiens". Os ossos dos primeiros europeus foram achados em Dmanisi, Geórgia, e datados de 1,8 milhões de anos. O primeiro aparecimento do povo anatomicamente moderno na Europa é datado de Evidências de assentamentos permanentes datam do na Bulgária, Roménia e Grécia. O período neolítico chegou na Europa central no e em partes da Europa Setentrional no 5º e . A civilização Tripiliana (-) foi a primeira grande civilização da Europa e uma das primeiras do mundo; era localizada na Ucrânia moderna e também na Moldávia e Roménia. Foi provavelmente mais antiga que os Sumérios no Oriente Próximo, e tinha cidades com habitantes que cobriam 450 hectares.
Começando no Neolítico, tem-se a civilização dos Camunos no Val Camonica, Itália, que deixou mais de petróglifos, o maior sítio arqueológico da Europa.
Também conhecido como Idade do Cobre, o Calcolítico europeu foi um tempo de mudanças e confusão. O fato mais relevante foi a infiltração e invasão de imensas partes do território por povos originários da Ásia Central, considerado pelos principais historiadores como sendo os originais indo-europeus, mas há ainda diversas teorias em debate. Outro fenómeno foi a expansão do Megalitismo e o aparecimento da primeira significante estratificação económica e, relacionado a isso, as primeiras monarquias conhecidas da região dos Balcãs. A primeira civilização bem conhecida da Europa foi as dos Minoicos da ilha de Creta e depois os Micenas em adjacentes partes da Grécia, no começo do .
Embora o uso do ferro fosse de conhecimento dos povos egeus por volta de , não chegou à Europa Central antes de , levando ao início da Cultura de Hallstatt, uma evolução da Idade do Ferro (que até então se encontrava na Cultura dos Campos de Urnas). Provavelmente como subproduto desta superioridade tecnológica, pouco depois os indo-europeus consolidam claramente suas posições na Itália e na Península Ibérica, penetrando profundamente naquelas penínsulas (Roma foi fundada em ).
Antiguidade clássica.
Os gregos e romanos deixaram um legado na Europa que é evidente nos pensamentos, leis, mentes e línguas actuais. A Grécia Antiga foi uma união de cidades-estado, na qual uma primitiva forma de democracia se desenvolveu. Atenas foi sua cidade mais poderosa e desenvolvida, e um berço de ensinamento nos tempos de Péricles. Fóruns de cidadãos aconteciam e o policiamento do estado deu ordem ao aparecimento dos mais notáveis filósofos clássicos, como Sócrates, Platão e Aristóteles. Como rei do Reino Grego da Macedónia, as campanhas militares de Alexandre o Grande espalharam a cultura helénica até às nascentes do rio Indo.
Mas a República Romana, alicerçada pela vitória sobre Cartago nas Guerras Púnicas, estava crescendo na região. A sabedoria grega passada às instituições romanas, assim como a própria Atenas foi absorvida sob a bandeira do senado e do povo de Roma. Os romanos expandiram seu império desde a Arábia até a Bretanha. Em quando atingiu o seu ápice, seu líder, Júlio César foi morto sob suspeitas de estar corrompendo a república para se tornar um ditador. Na sucessão, Otaviano usurpou as raízes do poder e dissolveu o senado romano. Quando proclamou o renascimento da república ele, de facto, transferiu o poder do senado romano quando república para um império, o Império Romano.
Idade Média.
Quando o Imperador Constantino reconquistou Roma sob a bandeira da Cruz em 312, ele rapidamente editou o Édito de Milão em 313, declarando legal o cristianismo no Império Romano. Além disso, Constantino mudou oficialmente a capital do império, Roma, para a colónia grega de Bizâncio, que ele renomeou para Constantinopla ("Cidade de Constantino"). Em 395, Teodósio, que tornou o cristianismo religião oficial do Império Romano, iria ser o último imperador a comandar o Império Romano em toda a sua unidade, sendo depois o império dividido em duas partes: O Império Romano do Ocidente, centrado em Ravena, e o Império Romano do Oriente (depois referido como Império Bizantino) centrado em Constantinopla. A parte ocidental foi seguidamente atacada por tribos nómadas germânicas, e em 476 finalmente caiu sob a invasão dos Hérulos comandados por Odoacro.
A autoridade romana no Oeste entrou em colapso e as províncias ocidentais logo tornaram-se pedaços de reinos germânicos. Entretanto, a cidade de Roma, sob o comando da Igreja Católica Romana permaneceu como um centro de ensino, e fez muito para preservar o pensamento clássico romano na Europa Ocidental. Nesse meio-tempo, o imperador romano em Constantinopla, Justiniano I, conseguiu com sucesso, montar toda a lei romana no Corpo do Direito Civil . Por todo o , o Império Romano do Oriente esteve envolvido numa série de conflitos sangrentos, primeiro contra o Império Sassânida, depois contra o Califado Ortodoxo. Em 650, as províncias do Egito, Palestina e Síria foram perdidas para forças muçulmanas.
Na Europa Ocidental, uma estrutura política surgia: no vácuo do poder deixado pelo colapso de Roma, hierarquias locais foram construídas sob a união das pessoas nas terras que eram trabalhadas. Dízimos eram pagos ao senhor da terra e este senhor devia tributos ao príncipe regional. Os dízimos eram usados para financiar o estado e as guerras. Esse foi o sistema feudal, no qual novos príncipes e reis apareceram, no qual o maior deles foi o líder Franco Carlos Magno. Em 800, Carlos Magno, após as suas grandes conquistas territoriais, foi coroado Imperador dos Romanos ("Imperator Romanorum") pelo Papa Leão III, afirmando efectivamente o seu poder na Europa Ocidental. O reinado de Carlos Magno marcou o começo dum novo império germânico no oeste, o Sacro Império Romano. Para além das suas fronteiras novas forças estavam crescendo. A Rússia de Quieve estava delimitando o seu território, a Grande Morávia estava crescendo, enquanto os anglos e os saxões estavam confirmando as suas fronteiras.
Idade Moderna.
Renascimento e Reforma.
O Renascimento foi um movimento cultural que afectou profundamente a vida intelectual europeia no seu período pré-moderno. Começando em Itália, e espalhando-se de norte a oeste, o renascimento durou aproximadamente 250 anos e a sua influência afectou a literatura, filosofia, arte, política, ciência, história, religião entre outros aspectos de indagação intelectual.
O italiano Francesco Petrarca ("Francesco di Petracco"), suposto primeiro legítimo humanista, escreveu na década de 1330: "Estou vivo agora, ainda que eu prefira ter nascido noutro tempo". Ele era um entusiasta da antiguidade romana e grega. Nos séculos XV e XVI, o contínuo entusiasmo pela antiguidade clássica foi reforçado pela ideia de que a cultura herdada estava se dissipando e de que havia um conjunto de ideias e atitudes com que seria possível reconstruí-la. Matteo Palmieri escreveu em 1430: "Agora, com certeza, todo espírito pensante deve agradecer a Deus, porque a ele foi permitido nascer numa nova era". O Renascimento fez nascer uma nova era em que aprender era muito importante.
Importantes precedentes políticos aconteceram neste período. O político Nicolau Maquiavel escreveu "O Príncipe" que influenciou o posterior absolutismo e a política pragmática. Também foram importantes os diversos líderes que governaram estados e usaram a arte da Renascença como sinal de seus poderes.
Durante esse período, a corrupção da Igreja Católica levou a uma dura reação, na Reforma Protestante. E ela ganhou muitos seguidores, especialmente entre príncipes e reis buscando um estado forte para acabar com a influência da igreja católica. Figuras como Martinho Lutero começaram a surgir, assim também como João Calvino com o seu Calvinismo que teve influência em muitos países e o rei que rompeu com a igreja católica e fundou a Igreja Anglicana. Essas divisões religiosas trouxeram uma onda de guerras inspiradas e conduzidas religiosamente, mas também pela ambição dos monarcas na Europa Ocidental que se tornavam cada vez mais centralizadas e poderosas.
A reforma protestante também levou a um forte movimento reformista na igreja católica chamado Contra-Reforma, que tinha como objectivo reduzir a corrupção, assim como aumentar e fortalecer o dogma católico. Um importante grupo da igreja católica que surgiu nessa época foram os Jesuítas, que ajudaram a manter a Europa Oriental na linha católica de pensamento. Mesmo assim, a igreja católica foi fortemente enfraquecida pela reforma e, grande parte do continente não estava mais sob sua influência e os reis nos países que continuaram no catolicismo começaram a anexar as terras da igreja para os seus próprios domínios.
A Era dos Descobrimentos.
As numerosas guerras não impediram que os novos estados explorassem e conquistassem largas porções do mundo, particularmente na Ásia (Sibéria) e a recém-descoberta América. No , Portugal liderou a exploração geográfica, seguido pela Espanha no começo no . Eles foram os primeiros estados a fundar colónias na América e estações de troca nas costas da África e da Ásia, porém logo foram seguidos pela França, Inglaterra e Holanda. Em 1552, o czar Russo Ivan, o Terrível conquistou os dois maiores canatos tártaros, Cazã e Astracã, e a viagem de Yermak em 1580, que levou a anexação da Sibéria pela Rússia.
A expansão colonial prosseguiu-se nos anos seguintes (mesmo com alguns empecilhos, como a Revolução Americana e as guerras pela independência em muitas colónias americanas). A Espanha controlou parte da América do Norte e grande parte da América Central e do Sul, as Caraíbas/o Caribe e Filipinas.; Portugal teve em suas mãos o Brasil e a maior parte dos territórios costeiros em África e na Ásia (Índia e pequenos territórios na China, etc.); Os britânicos comandavam a Austrália, Nova Zelândia, maior parte da Índia e grande parte da África e América do Norte; a França comandou partes do Canadá e da Índia (porém quase tudo foi perdido para os britânicos em 1763), a Indochina, grandes terras na África e Caribe; a Holanda ganhou as Índias Orientais (hoje Indonésia) e algumas ilhas nas Caraíbas/no Caribe; países como Alemanha, Bélgica, Itália e Rússia conquistaram colónias posteriormente.
Essa expansão ajudou a economia dos países que a fizeram. O comércio prosperou, por causa da menor estabilidade entre os impérios. No final do , a prata americana era responsável por 1/5 de todo o comércio da Espanha. Os países europeus travaram guerras que foram pagas através do dinheiro conseguido com a exploração das colónias. No entanto, os lucros com o tráfico de escravos e as plantações das Índias Ocidentais, a mais rentável das colônias britânicas naquele momento, representavam apenas 5% de toda a economia do Império Britânico no final do , tempo da Revolução Industrial.
Iluminismo.
A partir do início deste período, o capitalismo substituía o feudalismo como principal forma de organização económica, ao menos no oeste da Europa. A expansão das fronteiras coloniais resultou numa Revolução Comercial. Nota-se no período o crescimento da ciência moderna e a aplicação de suas descobertas em melhorias tecnológicas, que culminaram com a revolução Industrial. Descobertas ibéricas do Novo Mundo, que começaram com a jornada de Cristóvão Colombo ao oeste com a busca de uma rota fácil para as Índias Orientais em 1492, foram logo adaptadas por explorações inglesas e francesas na América do Norte. Novas formas de comércio e a expansão dos horizontes fizeram necessária uma mudança no direito internacional.
A reforma protestante produziu efeitos profundos na unidade europeia. Não apenas dividindo as nações uma das outras pela sua orientação religiosa, mas alguns estados foram afectados internamente por lutas religiosas, fortemente encorajadas por seus inimigos externos. A França viveu essa situação no com uma série de conflitos, como as guerras religiosas na França, que culminaram no triunfo da Dinastia Bourbon. A Inglaterra preveniu-se desse facto/fato com a consolidação sob a Rainha Elizabeth do moderado Anglicanismo. Quase toda a parte da atual Alemanha estava dividida em inúmeros estados sob o comando teórico do Sacro Império Romano Germânico, que também estava dividido dentro do próprio governo. A única exceção a isso era a Comunidade Polaco-Lituana, uma união criada pela União de Lublin, expressando uma grande tolerância religiosa. Esse embate religioso aconteceu até à Guerra dos Trinta Anos quando o nacionalismo substituiu a religião como principal motor dos conflitos na Europa.
A Guerra dos Trinta Anos aconteceu entre 1618 e 1648, principalmente no território da atual Alemanha, e envolveu as principais potências europeias. Começou como um conflito religioso entre Protestantes e Católicos no Sacro Império Romano Germânico, e gradualmente desenvolveu-se numa guerra geral, envolvendo boa parte da Europa, por razões não necessariamente ligadas à religião. O maior impacto da guerra, na qual exércitos de mercenários foram largamente utilizados, foi a devastação de regiões inteiras na busca do exército inimigo. Episódios como a disseminação da fome e das doenças devastaram a população dos estados germânicos e, em menor grau, dos Países Baixos e da Itália, onde levaram à falência muito dos poderes regionais envolvidos. Entre um quarto e um terço da população alemã pereceu por causas diretamente ligadas à guerra ou ainda de doenças e miséria causadas pelo conflito armado. A guerra durou trinta anos, mas os conflitos que ela deu início ainda continuaram sem solução por muito tempo.
Depois da Paz de Vestfália, que permitiu aos países que eles escolhessem a sua orientação religiosa, o Absolutismo tornou-se o padrão do continente, enquanto a Inglaterra caminhava rumo ao liberalismo com a Guerra Civil Inglesa e a Revolução Gloriosa. Os conflitos militares na europa não acabaram, mas tiveram menos impacto na vida dos seus cidadãos. No noroeste, o Iluminismo deu a base filosófica para um novo ponto de vista na sociedade, e a contínua difusão da literatura foi possível com a invenção da prensa, criando novas formas de avanço do pensamento humano. Ainda, nesse segmento, a Comunidade Polaco-Lituana foi uma exceção, com a sua quase democrática "liberdade dourada".
A Europa Oriental era uma arena de conflito disputada pela Suécia, Comunidade Polaco-Lituana e Império Otomano. Nesse período observou-se um gradual declínio destes três poderes que foram eventualmente substituídos pelas novas monarquias absolutistas, Rússia, Prússia e Áustria. Na virada para o , eles tornaram-se as novas potências, dividindo a Polónia entre si, com Suécia e Turquia perdendo territórios substanciais para a Rússia e a Áustria respetivamente/respectivamente. Uma grande parte de judeus polacos/poloneses emigrou para a Europa Ocidental, fundando comunidades judaicas em lugares de onde foram expulsos durante a Idade Média.
Idade Contemporânea.
Revoluções políticas.
A intervenção francesa na Guerra de Independência dos EUA levou o estado francês à falência. Depois de diversas tentativas falhas de uma reforma financeira, foi forçado a reavivar a Assembleia dos Estados Gerais, um corpo representativo do país feito pelas três classes do estado: o clero, os nobres e o povo. Os membros dos Estados-Gerais reuniram-se no Palácio de Versalhes em maio de 1789, mas o debate e a forma de votação que seria usada criaram um impasse. Veio junho, e o terceiro estado, associado a membros dos dois outros estados, declarou-se uma Assembleia Nacional e prometeu não se dissolver até que França tivesse uma constituição e criasse, em julho, uma Assembleia Nacional Constituinte. No mesmo tempo, os parisienses revoltaram-se, celebremente derrubando a prisão da Bastilha em 14 de julho de 1789.
Nesse tempo, a assembleia criou uma monarquia constitucional, e nos dois anos que se passaram várias leis foram criadas como a Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão, a abolição do feudalismo e uma mudança fundamental das relações entre a França e Roma. No início, o rei continuou no trono ao longo dessas mudanças e gozou de uma popularidade razoável com o povo, mas a anti-realeza crescia com o perigo de uma invasão estrangeira. Então o rei, sem poderes, decidiu fugir com a sua família, mas ele foi reconhecido de volta a Paris. Em 12 de janeiro de 1793, sendo condenada a sua traição, ele foi executado.
Em 20 de setembro de 1792, a convenção nacional aboliu a monarquia e declarou a França uma república. Devido à iminência das guerras, a convenção nacional criou o Comitê de Salvação Pública controlado por Maximilien Robespierre do Partido dos Jacobinos, para atuar como executivo do país. Sob Robespierre o comitê iniciava o Reino do Terror, no qual cerca de pessoas foram executadas em Paris, na maioria nobres, apesar de, frequentemente, faltarem evidências. Por todo o país, insurreições contra-revolução foram brutalmente reprimidas. O regime foi posto abaixo no golpe de 9 Termidor (27 de julho de 1794) e Robespierre foi executado. O regime que se seguiu acabou com o Terror e afrouxou a maioria das regras extremas de Robespierre.
Napoleão Bonaparte foi o general francês que mais obteve sucesso nas guerras da Revolução, tendo conquistado grandes porções da península Itálica e forçado os austríacos à paz. Em 1799, retornou do Egito e em 18 de Brumário (9 de Novembro) subjugou o governo, substituindo-o pelo seu Consulado, do qual tornou-se o primeiro Cônsul. Em 2 de dezembro de 1804, depois duma tentativa de assassinato, ele coroou-se imperador. Em 1805, Napoleão planeou invadir a Grã-Bretanha, mas a recém-criada aliança entre britânicos, russos e austríacos (Terceira Coalizão) forçou-o a direcionar a atenção para o continente, quando ao mesmo tempo ele tinha falhado em desviar a Armada Superior Britânica para longe do Canal da Mancha, ocasionando uma decisiva derrota francesa na batalha de Trafalgar em 21 de outubro, e colocando um fim às suas esperanças de invadir a Grã-Bretanha. Em 2 de dezembro de 1805, Napoleão derrotou o exército austro-russo, numericamente superior, em Austerlitz, forçando a Áustria desistir da coalizão e levando à fragmentação do Sacro Império Romano Germânico. Em 1806, a Quarta coalizão foi formada; em 14 de outubro Napoleão derrotou os prussianos na Batalha de Jena-Auerstedt, marchando através da Alemanha e derrotando os russos em 14 de junho de 1807 em Friedland. Os Tratados de Tilsit dividiram a Europa entre França e Rússia e criaram o Ducado de Varsóvia.
Em 12 de junho de 1812, Napoleão invadiu a Rússia com a sua Grande Armée de aproximadamente soldados. Após as vitórias em Smolensk e Borodino, Napoleão ocupou Moscovo, apenas para encontrá-la queimada pelo exército russo em retirada. Assim, ele foi forçado a bater com seu exército em retirada. Na volta o seu exército foi arrasado pelos cossacos e sofreu de doenças, fome e com o rigoroso inverno russo. Apenas soldados sobreviveram a essa campanha. Em 1813, começou o declínio de Napoleão, sendo derrotado pelo Exército das Sete Nações na Batalha de Leipzig em outubro de 1813. Ele foi forçado a abdicar depois da Campanha dos Seis Dias e a ocupação de Paris. Sob o Tratado de Fontainebleau ele foi exilado na Ilha de Elba. Retornou à França em 1 de março de 1815 e convocou um exército leal, mas foi compreensivelmente derrotado por forças britânicas e prussianas na Batalha de Waterloo em 18 de junho de 1815.
A formação das nações e dos impérios.
Depois da derrota da França revolucionária, outras grandes forças tentaram restaurar a situação existente antes de 1789. Em 1815, no Congresso de Viena, as maiores forças da Europa organizaram-se para produzir um pacífico equilíbrio de poder entre os impérios depois das Guerrras Napoleónicas (embora estivessem ocorrendo movimentos internos revolucionários) sob o sistema de Matternich. Entretanto, os seus esforços foram incapazes de parar a propagação de movimentos revolucionários: a classe média foi profundamente influenciada pelos ideais de democracia da Revolução Francesa, a revolução Industrial trouxe importantes mudanças sócio-económicas, as classes baixas começaram a ser influenciadas pelas ideias socialistas, comunistas e anarquistas (especialmente unidas por Karl Marx no Manifesto Comunista), e a preferência dos novos capitalistas era o liberalismo.
Uma nova onda de instabilidade veio da formação de diversos movimentos nacionalistas (na Alemanha, Itália, Polônia, etc.), buscando uma unidade nacional e/ou liberação do domínio estrangeiro. Como resultado, o período entre 1815 e 1871 foi palco de um grande número de conflitos e guerras de independência. Napoleão III, sobrinho de Napoleão I, retornou do exílio na Inglaterra em 1848 para ser eleito pelo parlamento francês, como o então "Presidente-Príncipe" e num golpe de estado eleger-se imperador, aprovado depois pela grande maioria do eleitorado francês. Ele ajudou na unificação da Itália lutando contra o Império Austríaco e lutou a Guerra da Crimeia com a Inglaterra e o Império Otomano contra a Rússia. Seu império ruiu depois duma infame derrota para a Prússia, na qual ele foi capturado. A França então se tornou uma fraca república que recusava-se a negociar e foi derrotada pela Prússia em poucos meses. Em Versalhes, o Rei Guilherme I da Prússia foi proclamado Imperador da Alemanha e a Alemanha moderna nasceu. Mesmo que a maioria dos revolucionários tenha sido derrotada, muitos estados europeus tornaram-se monarquias constitucionais, e em 1871 Alemanha e Itália se desenvolveram em estados-nação. Foi no também que se observou o Império Britânico emergir como o primeiro poder global do mundo devido, em grande parte, à Revolução Industrial e a vitória nas Guerras Napoleónicas.
A paz iria apenas durar até que o Império Otomano declinasse suficientemente para se tornar alvo de outros. Isso incitou a Guerra da Crimeia em 1854, e começou um tenso período de pequenos conflitos entre as nações dominantes da Europa que deram o primeiro passo para a posterior Primeira Guerra Mundial. Isso mudou uma terceira vez com o fim de várias guerras que transformaram o Reino da Sardenha e o Reino da Prússia nas nações da Itália e da Alemanha, mudando significativamente o balanço do poder na Europa. A partir de 1870, a hegemonia Bismarquiana na Europa pôs a França em uma situação crítica. Ela devagar reconstruiu suas relações internacionais, buscando alianças com a Grã-Bretanha e Rússia, para controlar o crescente poder da Alemanha sobre a Europa. Desse modo, dois lados opostos se formaram na Europa, incrementando suas forças militares e suas alianças ano a ano.
Revolução Industrial.
A Revolução Industrial foi um período compreendido entre o fim do e o começo do , no qual ocorreram grandes mudanças na agricultura, manufatura e transporte e foi produzido um profundo efeito socioeconómico e cultural na Grã-Bretanha, que posteriormente se espalhou por toda a Europa, América do Norte, e depois para todo o mundo, num processo que ainda continua: a Industrialização. Na parte final dos anos de 1700 a economia baseada na força manual no Reino da Grã-Bretanha começou a ser substituída por outra dominada pela indústria e pelas máquinas. Começou com a mecanização das indústrias têxteis, o desenvolvimento de técnicas avançadas de produção de ferro e o aumento do uso de carvão refinado. A expansão do comércio foi possibilitada com a introdução de canais, rodovias e auto-estradas. A introdução das máquinas a vapor (abastecidas primeiramente com carvão) e maquinaria bruta (principalmente na manufatura têxtil) deram a base para grandes aumentos na capacidade produtiva inglesa. O desenvolvimento de máquinas de ferramentas nas duas primeiras décadas do facilitou a produção de mais máquinas para serem utilizadas noutras indústrias. Durante o , a industrialização se alastrou pelo resto da Europa Ocidental e América do Norte, afetando posteriormente grande parte do mundo.
Guerras mundiais.
Depois da relativa paz na maior parte do , a rivalidade entre as potências europeias explodiu em 1914, quando a Primeira Guerra Mundial começou. Mais de 60 milhões de soldados europeus foram mobilizados entre 1914 e 1918. De um lado estavam Alemanha, Áustria-Hungria, o Império Otomano e a Bulgária (Poderes Centrais/Tríplice Aliança), enquanto que no outro lado estavam a Sérvia e a Tríplice Entente — a elástica coligação entre França, Reino Unido e Rússia, que ganhou a participação da Itália em 1915 e dos Estados Unidos em 1917. Embora a Rússia tenha sido derrotada em 1917 (a guerra foi uma das maiores causas da Revolução Russa, levando à formação da comunista União Soviética), a Entente finalmente prevaleceu no outono de 1918.
No Tratado de Versalhes (1919) os vencedores impuseram severas condições à Alemanha e aos novos estados reconhecidos (tais como Polónia, Checoslováquia, Hungria, Áustria, Jugoslávia, Finlândia, Estónia, Letónia, Lituânia) criados na Europa Central a partir dos extintos impérios Alemão, Austro-Húngaro e Russo, supostamente na base da auto-definição. A maioria desses países entraria em guerras locais, sendo a maior delas a Guerra Polaco-Soviética . Nas décadas seguintes, o medo do comunismo e a Grande Depressão levaram grupos extremistas nacionalistas — sob a categoria do fascismo — na Itália (1922), Alemanha (1933), Espanha (depois da guerra civil, terminada em 1939) e em outros países como a Hungria.
Depois de aliar-se com a Itália de Mussolini no Pacto de Aço e assinar o pacto de não agressão com a União Soviética, o ditador alemão Adolf Hitler começou a Segunda Guerra Mundial em 1 de setembro de 1939 invadindo a Polónia, depois de uma expansão militar ocorrida no final da década de 1930. Após sucessos iniciais (principalmente a conquista do oeste da Polónia, grande parte da Escandinávia, França e os Balcãs antes de 1941), as forças do Eixo começaram a enfraquecer-se em 1941. Os principais oponentes ideológicos de Hitler eram os comunistas da União Soviética, mas por causa da falha alemã em derrotar o Reino Unido e das falhas italianas no norte da África e no Mediterrâneo, as forças do Eixo se resumiram à Europa Ocidental, Escandinávia, além de ataques a África. O ataque feito posteriormente à União Soviética (que junto com a Alemanha dividiu a Europa central em 1939–1940) não foi feito com a força necessária. Apesar de um sucesso inicial, o exército alemão foi parado perto de Moscovo em dezembro de 1941.
Apenas no ano seguinte é que o avanço alemão seria parado e eles começariam a sofrer uma série de derrotas, como por exemplo, nas batalhas de Stalingrado e Kursk. Nesse ínterim, o Japão (aliado de Alemanha e Itália desde setembro de 1940) atacou os britânicos no Sudeste Asiático e os Estados Unidos no Havaí em 7 de dezembro de 1941; a Alemanha e a Itália declararam guerra aos Estados Unidos em união com seu aliado. A guerra aumentou a tensão entre o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e os Aliados (Reino Unido, União Soviética e os Estados Unidos). As forças Aliadas venceram no norte da África e invadiram a Itália em 1943, e a ocupada França em 1944. Na primavera de 1945, a Alemanha foi invadida pelo leste pela União Soviética e pelo oeste pelos Aliados; Hitler cometeu suicídio e a Alemanha se rendeu no começo de maio acabando com a guerra na Europa.
O período foi marcado também por um industrializado e planeado genocídio de mais de 11 milhões de pessoas, incluindo a maioria dos judeus da Europa e ciganos, assim como milhões de polacos e eslavos soviéticos. O sistema soviético de trabalho forçado, as expulsões da população da União Soviética e a grande fome da Ucrânia tiveram semelhante carga de mortes. Durante e depois da guerra, milhões de civis foram afetados pelas forçadas transferências da população.
Guerra Fria.
A Primeira e especialmente a Segunda Guerra Mundial acabaram com a preponderante posição da Europa Ocidental. O mapa do continente foi redesenhado na Conferência de Yalta e dividido se tornou a principal zona de contenção na Guerra Fria entre dois blocos, os países ocidentais e o bloco Oriental. Os Estados Unidos e a Europa Ocidental (Reino Unido, França, Itália, Portugal, Países Baixos, Alemanha Ocidental, Noruega, etc.) estabeleceram a aliança da OTAN como proteção contra uma possível invasão soviética. Depois, a União Soviética e o Leste Europeu (Polónia, Checoslováquia, Hungria, Roménia, Bulgária e Alemanha Oriental) estabeleceram o Pacto de Varsóvia como proteção contra uma possível invasão dos Estados Unidos.
Na mesma época, a Europa Ocidental lentamente começou um processo de integração política e económica, desejando um continente unido e integrado para prevenir outra guerra. Esse processo resultou naturalmente no desenvolvimento de organizações como a União Europeia e o Conselho da Europa. O movimento Solidarność que aconteceu na década de 1980 enfraqueceu o governo comunista na Polônia, foi o começo do fim do domínio comunista na Europa Oriental e o declínio da União Soviética. O líder soviético Mikhail Gorbachev instituiu a Perestroika e a Glasnost, que enfraqueceram oficialmente a influência soviética na Europa Oriental. Os governos que davam suporte aos soviéticos entraram em colapso e a Alemanha Ocidental anexou a Oriental em 1990. Em 1991, a própria União Soviética ruiu, dividindo-se em 15 estados, com a Rússia tomando o lugar da União Soviética no Conselho de Segurança da ONU. Entretanto, a separação mais violenta aconteceu na Jugoslávia, nos Bálcãs. Quatro (Eslovénia, Croácia, Bósnia e Herzegovina e a então designada Macedónia) das seis repúblicas jugoslavas declararam independência e para a maioria delas uma violenta guerra se seguiu, em algumas partes até 1995. Em 2006, Montenegro se separou e declarou independência, seguido por Kosovo, formalmente uma província autónoma da Sérvia, em 2008, e descaracterizando completamente o antigo mapa da Jugoslávia/Iugoslávia. Na era pós-guerra fria, OTAN e a União Europeia foram gradualmente admitindo a maioria dos antigos estados membros do Pacto de Varsóvia.
Reunificação e integração.
Em 1992, o Tratado de Maastricht foi assinado pelos então membros da União Europeia. Isso transformou o "Projeto Europeu" de ser uma comunidade económica com certos aspectos políticos, numa união com uma intensa cooperação e prosperidade baseada numa união de soberanias nacionais. Em 1985, o Acordo de Schengen criou uma área sem fronteiras e sem controle de passaporte entre os estados que o assinaram.
Uma moeda comum para a maioria dos estados membros da União Europeia, o euro, foi estabelecida eletronicamente em 1999, oficialmente partilhando todas as moedas de cada participante com os outros. A nova moeda foi posta em circulação em 2002 e as velhas foram retiradas dos mercados. Apenas três países dos quinze estados membros decidiram não aderir ao euro (Reino Unido, Dinamarca e Suécia). Em 2004, a UE deu ordem à sua maior expansão, admitindo 10 novos membros (oito dos quais antigos estados comunistas). Outros dois ingressaram no grupo em 2007, num total de 27 nações.
Um tratado estabelecendo uma constituição para a UE foi assinado em Roma em 2004, com a intenção de substituir todos os antigos tratados com apenas um só documento. Entretanto, a sua ratificação nunca foi feita devido à rejeição de franceses e holandeses, via referendo. Em 2007, concordou-se em substituir aquela proposta com um novo tratado reformado, o Tratado de Lisboa, que iria entrar como uma emenda em vez de substituir os tratados existentes. Esse tratado foi assinado em 13 de dezembro de 2007 e entraria em vigor em janeiro de 2009, se ratificado até essa data. Isso daria à União Europeia seu primeiro presidente e ministro de relações exteriores.
Os Bálcãs são a região do continente que mais desejam aderir à União Europeia, com a Croácia sendo o último país a ser aceito no bloco, em 2013. As negociações formais para a entrada da Albânia e Macedônia do Norte estão em andamento.
Geografia.
Fisiograficamente, a Europa é o componente noroeste da maior massa de terra do planeta, conhecida como a Eurásia, ou Eurafrásia: a Ásia ocupa a maior parte leste dessa porção de terra contínua e todos partilham uma plataforma continental comum. A fronteira oriental da Europa agora é comumente definida pelos montes Urais, na Rússia. O geógrafo do Estrabão, considerava o rio Dom (Tánais) como o limite para o mar Negro, como diziam as primeiras fontes judaicas.
A fronteira sudeste com a Ásia não é universalmente definida, sendo que o rio Ural, ou, alternativamente, o rio Emba servem mais comummente como limites possíveis. O limite continua até ao mar Cáspio, a crista das montanhas do Cáucaso, ou, alternativamente, o rio Cura no Cáucaso, e o mar Negro, Bósforo, o mar de Mármara, o estreito de Dardanelos, o mar Egeu concluem o limite com a Ásia. O mar Mediterrâneo ao sul separa a Europa da África. A fronteira ocidental é o oceano Atlântico, a Islândia, embora mais perto da Gronelândia (América do Norte) do que da Europa continental, são geralmente incluídos na Europa.
Por causa das diferenças sócio-políticas e culturais, existem várias descrições de fronteira da Europa, sendo que em algumas fontes alguns territórios não estão incluídos na Europa, enquanto outras fontes incluem-nos. Por exemplo, os geógrafos da Rússia e de outros países pós-soviéticos geralmente incluem os Urais na Europa, incluindo o Cáucaso na Ásia. Da mesma forma, o Chipre é mais próximo da Anatólia (ou Ásia Menor), mas é muitas vezes considerado parte da Europa e atualmente é um estado membro da UE. Além disso, Malta já foi considerado uma ilha da África ao longo de vários séculos.
Relevo.
O relevo europeu mostra grande variação dentro de áreas relativamente pequenas. As regiões do sul são mais montanhosas, e enquanto se move a norte o terreno desce dos altos Alpes, Pirenéus e Cárpatos, através de planaltos montanhosos e baixas planícies do norte, que são vastas a leste. Esta planície estendida é conhecida como a Grande Planície Europeia, e em seu coração encontra-se a Planície do Norte da Alemanha. Um arco de terras altas, também existe ao longo da costa norte-ocidental, que começa na parte ocidental da ilha da Grã-Bretanha e da Irlanda, e continua ao longo da montanhosa coluna, com fiordes cortados, da Noruega.
Esta descrição é simplificada. Sub-regiões como a Península Ibérica e a península Itálica contêm suas próprias características complexas, como faz a própria Europa Central continental, onde o relevo contém muitos planaltos, vales de rios e bacias que complicam a tendência geral. Sub-regiões como a Islândia, a Grã-Bretanha e a Irlanda são casos especiais. A primeira é uma terra independente no oceano do norte, que é considerada como parte da Europa, enquanto as outras duas são zonas de montanha que outrora foram parte do continente até o nível do mar cortá-las da massa de terra principal.
Hidrografia.
O continente apresenta uma complexa rede hidrográfica, com grandes rios como o Volga, na Rússia, e o Danúbio, que atravessa territórios (ou delimita fronteiras) da Alemanha, Áustria, República Checa, Croácia, Hungria, Sérvia, Romênia, Bulgária e Ucrânia. O rio Volga é o maior rio da Europa. Começa no Lago Ládoga e atravessa no sentido norte-sul a região oeste da Rússia até desaguar no mar Cáspio.
Entre os lagos europeus destacam-se o mar Cáspio, localizado na divisa com a Ásia e que possui 371 mil km²; e o lago Ládoga, na Federação Russa, este último o maior localizado totalmente no continente, com 17 700 km² de área. Outros lagos extensos são o Onega, o Vener, o Saimaa, o Veter, entre outros.
Clima.
A Europa encontra-se principalmente nas zonas de clima temperado, sendo submetido a correntes de ventos do oeste. O clima é mais ameno em comparação com outras áreas da mesma latitude de todo o mundo devido à influência da Corrente do Golfo. A Corrente do Golfo é o apelido de "aquecimento central da Europa", porque torna o clima da Europa mais quente e mais húmido do que seria de outra maneira. A Corrente do Golfo não só leva água quente à costa da Europa, mas também aquece os ventos que sopram de oeste em todo o continente do Oceano Atlântico.
Portanto, a temperatura média durante todo o ano de Nápoles, é de 16 °C (60,8 °F), enquanto ela fica a apenas 12 °C (53,6 °F), em Nova Iorque, que é quase na mesma latitude. Berlim, na Alemanha; Calgary, no Canadá, e Irkutsk, na parte asiática da Rússia, estão em torno da mesma latitude, as temperaturas de janeiro, em Berlim, são em média em torno de 8 °C (15 °F), mais elevadas do que aquelas registradas em Calgary, e são quase 22 °C (40 °F) mais elevadas do que as temperaturas médias em Irkutsk.
Demografia.
Desde o Renascimento, a Europa teve uma grande influência na cultura, economia e movimentos sociais no mundo. As invenções mais significativas tiveram origem no mundo ocidental, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Algumas questões atuais e passadas na demografia europeia incluíram emigração religiosa, relações raciais, imigração econômica, a taxa de natalidade decrescente e o envelhecimento da população.
Em alguns países, como a Irlanda e a Polónia, o acesso ao aborto é atualmente limitado. No passado, tais restrições e também as restrições sobre o controle artificial da natalidade eram comuns em toda a Europa. O aborto continua sendo ilegal na ilha de Malta, onde o catolicismo é a religião do Estado. Além disso, três países europeus (Países Baixos, Bélgica e Suíça) e a Comunidade Autónoma da Andaluzia (Espanha) têm permitido uma forma limitada de eutanásia voluntária para doentes terminais.
Em 2005, a população da Europa era estimada em 731 milhões de acordo com as Nações Unidas, que é um pouco mais do que um nono da população mundial. Um século antes, a Europa tinha quase um quarto da população mundial. A população da Europa cresceu no passado, mas nas outras regiões do mundo (especialmente na África e na Ásia), a população tem crescido muito mais rapidamente. Dentre os continentes, a Europa tem uma densidade populacional relativamente alta, perdendo apenas para a Ásia. O país mais densamente povoado da Europa são os Países Baixos, terceiro no ranking mundial após a Coreia do Sul e Bangladesh. Pan e Pfeil (2004) contam 87 distintos "povos da Europa", dos quais 33 formam a maioria da população em pelo menos um Estado soberano, enquanto os 54 restantes constituem minorias étnicas.
Segundo a projeção de população da ONU, a população da Europa pode cair para cerca de 7% da população mundial até 2050, ou 653 milhões de pessoas (variante média, 556 a 777 milhões em baixa e alta variante, respetivamente/respectivamente). Neste contexto, existem disparidades significativas entre regiões em relação às taxas de fertilidade. O número médio de filhos por mulher em idade reprodutiva é de 1,52. De acordo com algumas fontes, essa taxa é maior entre os europeus muçulmanos. A ONU prevê o declínio contínuo da população de vastas áreas da Europa Oriental. A população da Rússia está a diminuir em pelo menos 700 mil pessoas a cada ano. O país tem hoje 13 mil aldeias desabitadas.
A Europa do Sul e a Europa Ocidental são as regiões com o maior número médio de pessoas idosas no mundo, compreendendo actualmente 21% da população, com mais de 65 anos. Prevê-se que a Europa atinja 30% em 2050. Isto deve-se ao facto de a população ter tido filhos abaixo do nível de substituição desde a década de 1970. As Nações Unidas prevêem que a Europa diminua a sua população entre 2022 e 2050 em -7 por cento, sem alterações nos movimentos de imigração..
A Europa é o lar do maior número de [[Migração humana|migrantes]] de todas as regiões do mundo, em 70,6 milhões de pessoas, segundo um relatório da [[Organização Internacional de Migração|OIM]]. Em 2005, a [[União Europeia|UE]] teve um ganho líquido global de [[imigração]] de 1,8 milhão de pessoas, apesar de ter uma das maiores [[Densidade populacional|densidades populacionais]] do mundo. Isso representou quase 85% do [[crescimento populacional]] total da Europa. A União Europeia pretende abrir centros de emprego para trabalhadores migrantes legais da África.
Emigração da Europa começou com os colonos [[espanhóis]] e [[portugueses]] no , e com colonos [[franceses]] e [[ingleses]] no . Mas os números mantiveram-se relativamente pequenas até ondas de emigração em massa no , quando milhões de famílias pobres, deixaram a Europa.
Hoje, uma grande população de ascendência europeia é encontrada em todos os continentes. A ascendência europeia predomina na [[América do Norte]] e, em menor grau, na [[América do Sul]] (principalmente na [[Argentina]], [[Chile]], [[Uruguai]] e [[Região geoeconômica Centro-Sul do Brasil|Centro-Sul do Brasil]]). Além disso, a [[Austrália]] e a [[Nova Zelândia]] têm grandes populações de descendentes europeus. A África não tem países de maioria de descendentes de europeus, mas há minorias significativas, como a dos [[Africânderes|brancos sul-africanos]]. Na Ásia, as populações descendentes de europeus (mais especificamente [[russos]]) predominam no [[Ásia Setentrional]].
Línguas.
[[Imagem:Languages en3.PNG|thumb|Mapa das [[línguas da Europa]]]]
As línguas europeias pertencem principalmente a três grupos de [[Línguas indo-europeias]]: as [[línguas românicas]], derivadas do [[latim]] do [[Império Romano]], as [[línguas germânicas]], cujos ancestrais vieram de língua do sul da [[Escandinávia]], e as [[línguas eslavas]]. Apesar de ter a maioria de seu vocabulário descendente de línguas românicas, o [[Língua inglesa|idioma Inglês]] é classificado como uma língua germânica.
As línguas românicas são faladas principalmente no sudoeste da Europa, bem como na [[Roménia]] e na [[Moldávia]]. As línguas germânicas são faladas no noroeste da Europa e algumas partes da [[Europa Central]]. As línguas eslavas são faladas na Europa Central, [[Europa oriental|Oriental]] e sudeste da Europa.
Muitas outras línguas fora dos três grupos principais grupos existem na Europa. Outras línguas indo-europeias incluem o grupo do [[Línguas bálticas|Báltico]] (ie, [[Língua letã|Letã]] e [[Língua lituana|Lituana]]), o grupo [[Línguas célticas|Céltico]] (ie, [[Língua irlandesa|Irlandês]], [[Língua gaélica escocesa|Gaélico Escocês]], [[Língua manesa|Manês]], [[Língua galesa|Galês]], [[Língua córnica|Córnico]] e [[Língua bretã|Bretão]]), [[língua grega|Grego]], [[Língua albanesa|Albanês]], e [[Língua armênia|Arménio]]. Um grupo diferente de [[línguas urálicas]] são o [[Língua estónia|Estónio]], [[Língua finlandesa|Finlandês]] e [[Língua húngara|Húngaro]], falado nos respetivos/respectivos países, bem como em partes da [[Romênia|Roménia]], Rússia, [[Sérvia]] e [[Eslováquia]].
Outras línguas não indo-europeias são o [[Língua maltesa|maltês]] (a única língua oficial [[Línguas semíticas|semita]] da [[UE]]), o [[Língua basca|Basco]], [[Língua georgiana|Geórgio]], [[Língua azeri|Azerbaijão]], [[Língua turca|Turco]] no leste da [[Trácia Oriental]] e as línguas das nações minoritárias na Rússia.
O [[multilinguismo]] e a proteção das línguas regionais e minoritárias são objetivos políticos reconhecidos na Europa de hoje. A [[Convenção para a Proteção das Minorias Nacionais]] e a [[Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias]] do [[Conselho da Europa]] estabelecem um quadro jurídico para os direitos linguísticos na Europa.
Religião.
Historicamente, a [[religião na Europa]] tem tido uma grande influência na [[História da arte ocidental|arte]], [[Cultura europeia|cultura]], [[Filosofia ocidental|filosofia]] e [[Direito da União Europeia|direito europeu]]. A religião maioritária na Europa é o [[cristianismo]] praticado por [[Igreja Católica Apostólica Romana|católicos]], [[Igreja Ortodoxa|ortodoxos orientais]] e [[protestantes]].
Na sequência, é o [[Islão]], concentrado principalmente no sudeste ([[Bósnia e Herzegovina]], [[Albânia]], [[Kosovo]], [[Cazaquistão]], [[Chipre do Norte]], [[Turquia]] e [[Azerbaijão]]), e o [[Budismo Tibetano]], majoritário na região russa da [[Kalmykia]]. As outras religiões, incluindo o [[Judaísmo]] e o [[Hinduísmo]], são minoritárias.
A Europa é um continente relativamente [[Secularismo|secular]] e tem o maior número e proporção de pessoas [[sem religião]], [[Agnosticismo|agnósticas]] e [[Ateísmo|ateias]] no [[mundo ocidental]], com um número particularmente elevado de pessoas que se autodescrevem como não religiosas na [[República Checa]], [[Estônia|Estónia]], [[Suécia]], [[Alemanha]] (Oeste) e [[França]].
Política.
União Europeia.
Uma união constituída por mais de uma dezena de [[país]]es, que fazem transações comerciais utilizando uma moeda única — [[Euro]] — e cujos interesses são representados por instituições comuns. Essa nova Europa começou a ganhar corpo em dezembro de 1991, quando os 12 países-membros da [[União Europeia]] concluíram o [[Tratado de Maastricht]], que objetivava a união política, económica e monetária dos participantes, sem fechar espaço para novas adesões.
Através desse acordo, [[Alemanha]], [[Bélgica]], [[Dinamarca]], [[Espanha]], [[França]], [[Grécia]], [[Irlanda]], [[Itália]], [[Luxemburgo]], [[Países Baixos]], [[Portugal]] e [[Reino Unido]] iniciaram a caminhada da integração europeia. [[Áustria]], [[Finlândia]] e [[Suécia]] são uns dos mais novos membros e vários outros países já entraram com seu pedido de adesão.
A reunião na cidade neerlandensa de [[Maastricht]] — que, em dezembro de 1991, consolidou a formação da União Europeia — representou um capítulo de várias etapas, cujas iniciativas pioneiras surgiram logo após a [[Segunda Guerra Mundial]].
A [[Comunidade Económica Europeia]] (CEE) ou [[Mercado Comum Europeu]] (MCE) foi o embrião da atual [[União Europeia]] (UE). Seus países membros são: [[Alemanha]], [[Áustria]], [[Bélgica]], [[Dinamarca]], [[Espanha]], [[Finlândia]], [[França]], [[Grécia]], [[Irlanda]], [[Itália]], [[Luxemburgo]], [[Países Baixos]], Portugal, [[Reino Unido]] e [[Suécia]].
Quando de sua formação, em 1957, a entidade era constituída apenas por Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos. Em 1973, ingressaram a Dinamarca, a Irlanda e o Reino Unido; em 1981, a Grécia, e em 1986, Espanha e Portugal. Em 1995, a chamada Europa dos Doze cresceu ainda mais, ganhando a adesão de Áustria, Finlândia e Suécia.
A partir de 1994, os países-membros da [[Comunidade Económica Europeia]], que adotou então o nome de União Europeia, se integrariam para formar um mercado único, em que seriam abolidos os sistemas [[alfândega|alfandegários]] e as diferentes taxas de [[imposto]]s, além das restrições ao [[comércio]], [[Serviço (economia)|serviços]] e à circulação de [[capital (economia)|capitais]]. Isso significaria, entre outras coisas, que os habitantes da União Europeia teriam trânsito livre em todos os países-membros, inclusive para [[trabalho (economia)|trabalho]]; os impostos seriam aos poucos unificados e haveria livre acesso às [[mercadoria]]s e serviços de todos os países-membros dentro da [[comunidade]].
Desde 1995, para facilitar a circulação de [[Pessoa (direito)|pessoas]] por alguns países da União Europeia, entrou em vigor um acordo entre Portugal, Espanha, França, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo e Alemanha para eliminar as barreiras alfandegárias e a obrigação da apresentação do [[passaporte]] entre esses [[país]]es. Essa área recebeu o nome de [[Espaço Schengen]], tirado da cidade luxemburguesa onde o acordo foi assinado.
No sentido da integração económica, outro passo importante seria a utilização de uma moeda comum. O ECU (European Currency Unity ou Unidade Monetária Europeia) circula, desde 1993, como padrão em operações financeiras e, apesar da discordância de alguns membros, pretendeu-se que, gradualmente, ele fosse adotado nas operações cotidianas até 1999, quando o [[euro]] entrou em vigor como [[moeda escritural]] e como [[moeda]] oficial desde 2002.
Todos os [[país]]es que integram a [[União Europeia]] apresentam economia desenvolvida, ainda que existam diferenças extraordinárias entre eles, como entre [[Irlanda]] e [[Alemanha]], por exemplo, ou [[Grécia]] e [[Dinamarca]]. A meta, no entanto, é reduzir esses contrastes, tornando a comunidade cada vez mais homogênea.
Apesar das metas em comum, há divergências entre os países-membros da União Europeia e são frequentes os atritos e necessários os ajustes para garantir a execução de tais metas. O ano de 1994 foi de provas para a integridade da União Europeia, já que ocorreram, nos países, plebiscitos para ratificar seus objetivos e confirmar ou não a adesão à União.
Na Dinamarca e no [[Reino Unido]], as opiniões estavam muito divididas, mas o apoio à comunidade prevaleceu. Na [[Noruega]], entretanto, sua população decidiu não ingressar na União Europeia, apesar da solicitação de adesão feita anteriormente.
Outras organizações.
Os países europeus ocidentais estão vinculados a importantes organizações que agregam países de outros continentes, como a [[OTAN]] e a [[Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico|OCDE]].
A [[Organização do Tratado do Atlântico Norte]] (OTAN), criada em 1949, tem caráter militar. Além de países europeus, inclui outros dois banhados pelo [[oceano Atlântico]] [[Norte]]: [[Canadá]] e [[Estados Unidos]]. Seu objetivo fundamental é a cooperação militar e a defesa de seus membros, no caso de agressão internacional.
Com o fim da [[Guerra Fria]], o papel da OTAN tem estado em segundo plano. A aliança assumiu um caráter preponderantemente político em 1990, desenvolvendo o papel de resolver crises localizadas. Vários países do [[Leste Europeu]] solicitaram o ingresso à OTAN.
A OCDE ([[Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico]]) foi estabelecida em 1961 para promover bem-estar econômico e social entre seus membros e harmonizar a [[qualidade de vida]] nos [[países em desenvolvimento]]. Além de 18 países europeus, engloba também [[Austrália]], Canadá, [[Japão]], [[Nova Zelândia]] e Estados Unidos.
Subdivisões.
[[Imagem:Map of Europe (political).png|thumb|A Europa, de acordo com a definição mais aceita, é mostrada em verde (países, por vezes associados com a cultura europeia, em azul escuro, partes de estados [[Ásia|asiáticos]] e europeus em azul claro)|220x220px]]
[[Imagem:Mapa europa.svg|thumb|221x221px|Divisão política da Europa]]
[[Imagem:Europe subregion map UN geoscheme.svg|thumb|Divisão contemporânea da Europa por regiões de acordo com as [[Nações Unidas]] (a definição da ONU para Europa Ocidental estão marcadas em azul claro):.
[[Imagem:Europe subregion map world factbook.svg|thumb|Grupos regionais de acordo com o "[[The World Factbook]]"|221x221px]]
[[Imagem:EU-candidate countries map.svg|thumb|upright=1.39|[[União Europeia]] e seus países candidatos]]
[[Imagem:Council of Europe.png|thumb|upright=1.39|Nações do [[Conselho da Europa]]]]
[[Imagem:EU and NATO.svg|thumb|upright=1.39|Mapa mostrando os países membros da [[União Europeia]] e da [[OTAN]]]]
De acordo com definições diferentes, os territórios podem ser sujeitos a várias categorizações. Os 27 [[Estados-membros da União Europeia|Estados Membros da União Europeia]] são altamente integrados economicamente e politicamente, a própria União Europeia faz parte da geografia política da Europa. A tabela abaixo mostra o esquema de sub-regiões geográficas utilizado pela [[Organização das Nações Unidas]], ao lado do grupo regional publicado no [[CIA World Factbook]].
Dentro dos referidos Estados existem várias regiões, desfrutando de ampla autonomia, bem como de vários países independentes [[de facto]] com reconhecimento internacional limitado ou reconhecido, nenhum deles é membro da [[ONU]]:
Regiões.
De acordo com os pontos de vista espacial e económico, podemos dividir o continente em: [[Europa Ocidental]], [[Europa Setentrional]], [[Europa centro-oriental|Europa Centro-Oriental]] e [[Europa Meridional]]. Sendo:[[Imagem:Grossgliederung_Europas-an.svg|thumb|300px|Grupos regionais de Europa]]
Economia.
[[Imagem:Europe gdp map-1-.png|thumb|esquerda|As nações europeias segundo o seu [[PIB]] (nominal) "per capita" em 2002]]
Como um continente, a [[economia da Europa]] é atualmente a maior do planeta e é a região mais rica como medido por ativos sob gestão, com mais de 32,7 trilhões de dólares em relação ao 27,1 trilhões de dólares da América do Norte. Tal como acontece com outros continentes, a Europa tem uma grande variação da riqueza entre os seus países. Os países mais ricos tendem a estar no [[Europa ocidental|Ocidente]], enquanto algumas das economias do [[Leste Europeu|Leste]] ainda estão emergindo do colapso da [[União Soviética]] e da [[Iugoslávia]].
A [[União Europeia]], um organismo intergovernamental composto por 28 estados europeus, compreende o maior espaço económico único no mundo. Atualmente, para [[Zona do Euro|19 países da UE]], o [[euro]] é a moeda comum. Cinco países europeus classificam-se entre as dez [[Lista de países por PIB (Paridade do Poder de Compra)|maiores economias nacionais do mundo por PIB (PPC)]]. Isso inclui (classificação de acordo com a [[CIA]]): [[Alemanha]] (5), [[Reino Unido]] (6), Rússia (7), [[França]] (8) e [[Itália]] (10).
Pré-1945: crescimento industrial.
O [[capitalismo]] tem sido dominante no [[mundo ocidental]] desde o fim do [[feudalismo]]. Da Grã-Bretanha, que gradualmente se espalhou pela Europa. A [[Revolução Industrial]] começou na Europa, mais concretamente ao [[Reino Unido]] no final do , e no impulsionou a industrialização da [[Europa ocidental]]. Economias foram interrompidas pela [[Primeira Guerra Mundial]], mas até o início da [[Segunda Guerra Mundial]] já tinham se recuperado e estavam tendo que competir com a crescente força [[econômica|económica]] dos [[Estados Unidos]]. A Segunda Guerra Mundial, novamente, danificados muito as indústrias europeias.
1945–1990: A Guerra Fria.
[[Imagem:Thefalloftheberlinwall1989.JPG|thumb|Queda do [[Muro de Berlim]] em 1989]]
Após a [[Segunda Guerra Mundial]], a economia do [[Reino Unido]] estava em estado de ruína, e continuou a sofrer um relativo declínio econômico nas décadas seguintes. A [[Itália]] também estava em má condição económica, mas recuperou um elevado nível de crescimento na [[década de 1950]]. A [[Alemanha Ocidental]] [[Wirtschaftswunder|recuperou-se rapidamente]] e dobrou a produção de níveis pré-guerra na década de 1950. A [[França]] também organizou um retorno notável a um crescimento rápido e a modernização e, mais tarde a [[Espanha]], sob a liderança de [[Francisco Franco|Franco]], também recuperou-se, e a nação obteve um enorme crescimento econômico sem precedentes no início da [[década de 1960]], em que é chamado de [[milagre espanhol]]. A maioria dos estados da [[Europa Oriental]] ficou sob o controle da [[URSS]] e, portanto, eram membros do [[Conselho para Assistência Econômica Mútua]] (COMECON).
Os estados que mantiveram um sistema de [[livre mercado]] foram agraciados com uma grande quantidade de ajuda dos [[Estados Unidos]] ao abrigo do [[Plano Marshall]]. Os Estados ocidentais mudaram para ligar as suas economias em conjunto, fornecendo a base para a [[UE]] e o aumento do comércio transfronteiriço. Isso ajudou-os a desfrutar de uma rápida melhora de suas economias, enquanto os estados da COMECON estavam lutando em grande parte devido ao custo da [[Guerra Fria]]. Até 1990, a [[Comunidade Europeia]] foi ampliado de 6 para 12 membros fundadores. A ênfase na ressurreição da economia da [[Alemanha Ocidental]] levou a ultrapassagem do Reino Unido como a maior economia da Europa.
1991–2013: O crescimento da UE.
[[Imagem:Euro banknotes.png|thumb|Notas do [[euro]], a moeda da [[Zona Euro]]]]
Com a queda do [[comunismo]] na [[Europa Oriental]], em 1991, os estados do Leste tiveram de se adaptar a um sistema de [[mercado livre]]. Havia vários graus de sucesso com os países centro-europeus, como [[Polônia|Polónia]], [[Hungria]] e [[Eslovénia]], que se adaptaram razoavelmente rápido, enquanto estados do Leste como a [[Ucrânia]] e a Rússia, estão levando muito mais tempo. A Europa Ocidental ajudou a Europa Oriental, formando laços ao nível da economia.
Após o [[Alemanha Oriental|Leste]] e o [[Alemanha Ocidental|Oeste]] da [[Alemanha]] se reunirem em 1990, a economia da Alemanha Ocidental, apoiou a reconstrução da infraestrutura da Alemanha Oriental. A [[Jugoslávia]] mostrou um atraso maior, sendo devastada pela guerra e em 2003 ainda havia muitas tropas de paz da e da OTAN no [[Kosovo]], na [[Macedónia do Norte]], na [[Bósnia e Herzegovina]], sendo apenas a Eslovénia que conseguiu fazer algum progresso real.
Na mudança do milênio, a [[União Europeia]] dominou a economia da Europa, que inclui os cinco maiores economias europeias da época a Alemanha, [[Reino Unido]], [[França]], [[Itália]] e [[Espanha]]. Em 1999, 12 dos 15 membros da UE aderiram à [[Zona Euro]] substituindo suas antigas moedas nacionais pelo [[euro]] comum. Os três que optaram por permanecer fora da zona euro foram Reino Unido Dinamarca e Suécia.
2008–2009: Recessão.
A Zona Euro entrou em sua primeira recessão oficial no terceiro trimestre de 2008, os números oficiais confirmados em janeiro de 2009. A [[Crise econômica de 2008-2009|crise econômica do final dos anos 2000]], que teve início nos [[Estados Unidos]], propagou-se de forma rápida para a Europa e afetou grande parte da região. A taxa de [[desemprego]] oficial nos 16 países que usam o euro subiu para 9,5% em maio de 2009. Os jovens trabalhadores da Europa têm sido especialmente atingidos. No primeiro trimestre de 2009, a taxa de desemprego na [[Alargamento da União Europeia|UE-27]] para pessoas entre 15–24 anos foi de 18,3%.
Cultura.
A [[cultura]] europeia pode ser melhor descrita como uma série de culturas sobrepostas e que envolve questões de Ocidente contra Oriente e [[Cristianismo]] contra [[Islão]]. Existem várias linhas de ruptura culturais através do continente e movimentos culturais [[inovação|inovadores]] discordam uns dos outros. De acordo com Andreas Kaplan, o continente Europeu pode ser definido como "diversidade cultural máxima a uma distância geográfica mínima". Assim, uma "cultura comum europeia" ou "valores comuns europeus", é algo cuja definição é mais complexa do que parece.
Desporto.
[[Imagem:Barcelona 296.JPG|thumb|[[Camp Nou]], o maior estádio de [[futebol]] do continente, em [[Barcelona]], [[Espanha]]]]
Na Europa pratica-se uma considerável quantidade de modalidades desportivas. O [[desporto]] mais popular é o [[futebol]], representado pela [[UEFA]]. O torneio mais importante de seleções é o [[Campeonato Europeu de Futebol]], enquanto que o de clubes é a [[Liga dos Campeões da UEFA]]. Em relação ao [[Campeonato do Mundo de Futebol]], em dez edições países europeus sediaram o evento e cinco seleções europeias já venceram o torneio.
Ligações externas.
[[Categoria:Europa| ]]
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O Espírito Santo é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está localizado na região Sudeste. Faz divisa com o oceano Atlântico a leste, com a Bahia ao norte, com Minas Gerais a oeste e com o estado do Rio de Janeiro ao sul. Sua área é de 46 095,583 km². É o quarto menor estado do Brasil, maior apenas que Sergipe, Alagoas e Rio de Janeiro. Sua capital é Vitória, porém Serra é o município mais populoso. O Espírito Santo é, ao lado de Santa Catarina, um dos únicos entre os estados do Brasil no qual a capital não é o município mais populoso de seu estado. O gentílico do estado é capixaba ou espírito-santense.
Em 1535, os colonizadores portugueses chegaram na Capitania do Espírito Santo e desembarcaram na região da Prainha. Naquela época, teve início a construção do primeiro povoado que recebeu o nome de Vila do Espírito Santo. Por causa dos índios terem atacado a Vila do Espírito Santo, o líder Vasco Fernandes Coutinho fundou outra vila, naquela vez em uma das ilhas. Esta vila passou a ser chamada de Vila Nova do Espírito Santo, atual . Enquanto isso, a antiga recebeu o nome de Vila Velha. Houve um tempo, que poucas pessoas conhecem, em que houve a anexação do Espírito Santo à Bahia. Isso ocorreu no ano de 1715. Então, a capital da extinta Capitania do Espírito Santo passou a ser Salvador. A Capitania do Espírito Santo somente recuperou sua autonomia da Capitania da Bahia em 1809. Com a proclamação da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, o seu "status" foi alterado para província, permanecendo assim até a Proclamação da República Brasileira, em 15 de novembro de 1889, quando se transformou no atual estado do Espírito Santo.
Atualmente, a capital Vitória é um importante porto exportador de minério de ferro. Na agricultura, merecem destaque os seguintes produtos econômicos: o café, arroz, cacau, cana-de-açúcar, feijão, frutas e milho. Na pecuária, há criação de gado de corte e leiteiro. Na indústria, são fabricados produtos alimentícios, madeira, celulose, têxteis, móveis e siderurgia. O estado também possui festas famosas. Entre elas podemos citar: a Festa da Polenta em Venda Nova do Imigrante, a Festa da Penha em Vila Velha e o Festival de Arte e Música de Alegre. O Vital (carnaval fora de época, em novembro) foi extinto.
O nome do estado é uma denominação dada pelo donatário Vasco Fernandes Coutinho que ali desembarcou em 1535, num domingo dedicado ao Espírito Santo. Como curiosidade dessa etimologia, merece destaque o Convento de Nossa Senhora da Penha, símbolo da religiosidade capixaba que abriga em seu acervo a tela mais antiga da América Latina, a imagem de Nossa Senhora das Alegrias.
Etimologia.
Em junho de 1534 foram concedidas cinquenta léguas de litoral entre os rios Mucuri e Itapemirim. A concessão foi feita pelo rei de Portugal Dom João III, entregando o lote da capitania ao fidalgo português Vasco Fernandes Coutinho, veterano das Índias, que participara de forma vitoriosa em batalhas na Ásia e na África. O fidalgo donatário desembarcou no território da capitania a 23 de maio de 1535 e fundou uma vila, denominada Vila do Espírito Santo, por ser domingo do Pentecostes (atualmente é a cidade de Vila Velha). Em 1535, a vila deu o nome à capitania, transferindo o nome à província, em 1822, e ao estado, em 1889.. Assim, 35 anos após o Descobrimento do Brasil, nascia um dos estados mais antigos do Brasil.
Os habitantes naturais do estado do Espírito Santo são denominados "capixabas" (ou "espírito-santenses"). O gentílico foi dado aos futuros cidadãos do Espírito Santo devido às roças de milho que ficavam na ilha de Vitória. As roças pertenciam aos índios, os primeiros habitantes da região quando os portugueses aí chegaram. Tudo leva a crer que a referida assertiva intelectual ajuda a evitar a confusão do nome da unidade federativa brasileira com o nome da terceira pessoa da Santíssima Trindade.
História.
Período pré-cabralino.
Inicialmente, a região era habitada por diversas tribos indígenas, todas pertencentes ao tronco Tupi; as tribos do interior eram chamadas de Botocudos, sendo-lhes atribuído comportamento hostil e belicoso, além da prática de antropofagia. No litoral, as tribos também eram hostis, porém de hábitos um pouco diferentes.
Na região Sul do atual estado e na região da serra do Caparaó, as tribos não eram hostis, e o seu nome deriva de seu hábito de levar os visitantes para "ouvir o silêncio" da Serra do Castelo. As demais tribos eram os aimorés e os goitacás.
Colonização europeia.
Em 23 de maio de 1535, o fidalgo português Vasco Fernandes Coutinho, veterano das campanhas da África e da Índia, aportou em terras da capitania, que lhe destinara o rei D. João III. Como era um domingo do Espírito Santo, chamou de vila do Espírito Santo a povoação que mandou construir nas terras que lhe couberam: cinquenta léguas de costa, entre os rios Mucuri e Itapemirim, com outro tanto de largo, sertão adentro, a partir do ponto em que terminava, ao norte, o quinhão concedido a Pero de Campos Tourinho, donatário da capitania de Porto Seguro. A Vila do Espírito Santo é hoje a cidade de Vila Velha. Ainda em 1535, a vila passou à capitania, em 1822 província e em 1889 a estado.
A fixação da vila foi uma história de lutas, pois os índios não entregaram aos portugueses, sem resistência, suas roças e malocas. Recuaram até a floresta, onde se concentraram para iniciar uma luta de guerrilhas que se prolongou, com pequenas tréguas, até meados do . Foi assim das mais duras a empresa cometida a Vasco Fernandes Coutinho. Para o patriarca do Espírito Santo a capitania foi um prêmio que se transformou em castigo; teve de empenhar todos os haveres para conservar sua vila; acabou por morrer pobre e desvalido.
Além da insubmissão dos indígenas, o donatário teve de enfrentar as dissensões entre os portugueses. A seus companheiros Jorge de Meneses e Duarte Lemos concedera extensas sesmarias, usando os poderes que recebera juntamente com a carta de doação. Com isso, criou dois rivais implacáveis.
Duarte de Lemos fundou Vitória — chamada de Vila Nova — na ilha de Santo Antônio, em posição estratégica, mais vantajosa que Vila Velha para a defesa contra os constantes ataques dos silvícolas. Para lá se transferiu a sede da capitania. À mesma época, chegaram os missionários jesuítas, empenhados na catequese, o que provocou choques com os colonos, que preferiam a dominação do gentio pela escravidão. A presença do padre José de Anchieta deu um sentido muito especial à ação dos padres da Companhia de Jesus em terras do Espírito Santo. Desde 1561, Anchieta elegera para seu refúgio a aldeia de Reritiba, de onde teve de se afastar constantemente, em virtude de seus encargos, ora em São Paulo, no Rio de Janeiro ou na Bahia. Dois poemas escreveu ele em Reritiba: "De Beata Virgine dei Marte Maria" ("Da Santa Virgem Maria Mãe de Deus") e "De gestis Mendi de Saa" ("Dos feitos de Mem de Sá"). Neste último, está descrita a epopeia de uma esquadra enviada da Bahia por Mem de Sá, governador-geral do Brasil, em socorro a Vasco Fernandes Coutinho e sua gente, que estavam sob cerco dos tamoios na ilha de Vitória. A maior força dos gentios estava concentrada numa aldeia fortificada junto ao rio Cricaré. Ali ocorreu a batalha decisiva, em 22 de maio de 1558. Os portugueses, embora vitoriosos, sofreram pesadas baixas. Entre os mortos estavam o próprio filho de Mem de Sá, Fernão de Sá, que comandava a esquadra; e dois filhos de Caramuru (Diogo Álvares Correia) com a índia Paraguaçu.
A posição estratégica da capitania, dada a proximidade com o Rio de Janeiro, ocasionou algumas tentativas estrangeiras de invasão. Em 1592, os capixabas rechaçaram uma investida dos ingleses, sob o comando de Thomas Cavendish. Em 1625, o donatário Francisco de Aguiar Coutinho enfrentou a primeira investida dos holandeses, comandados por Pieter Pieterszoon Heyn, luta em que se destacou a heroína capixaba Maria Ortiz. Em 1640, com sete navios, os holandeses atacaram novamente o Espírito Santo, sob o comando do coronel Koin. Conseguiram desembarcar 400 homens, mas foram repelidos pelo capitão-mor João Dias Guedes e não se firmaram em Vitória. Atacaram então Vila Velha, de onde foram também rechaçados. O governo colonial, diante de tão repetidos ataques, resolveu destacar para Vitória quarenta infantes da tropa regular. Nessa oportunidade a capitania progride e Koin captura duas naus carregadas de açúcar que, atingidas pelo fogo de terra, ficam com a carga quase toda avariada.
O esgotamento da população, que nos primeiros tempos, por diversas vezes, ameaçara desertar a capitania, bem como a incapacidade de dar seguimento a sua incipiente agricultura, denunciavam a fraqueza dos alicerces em que se baseava a colonização local. Também aí os recursos particulares revelaram-se insuficientes para manter empresa tão árdua e onerosa.
Em 1627, morreu o donatário Francisco de Aguiar Coutinho, cujo sucessor, Ambrósio de Aguiar Coutinho, não se interessou pelo senhorio e continuou como governador nos Açores. Sucederam-se os capitães-mores, com frequentes e sérias divergências entre eles e os oficiais da câmara. Ao atingir a maioridade, em 1667, Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho, último descendente do primeiro donatário, conseguiu a nomeação para capitão-mor de Antônio Mendes de Figueiredo, governante operoso e estimado. Em 1674 efetuou-se a compra do território ao último donatário da família Câmara Coutinho pelo fidalgo baiano Francisco Gil de Araújo, por quarenta mil cruzados, transação confirmada por carta régia de 18 de março de 1675.
Esmeraldas.
No governo do novo donatário, o comércio e a lavoura se desenvolveram, mas foi totalmente frustrado o motivo principal da compra da capitania: o descobrimento das "pedras verdes" — as esmeraldas. Essa busca começara por iniciativa do governo-geral. As expedições iniciais, denominadas por alguns historiadores "ciclo espírito-santense", incluem-se na categoria das entradas. Na verdade, o ciclo limitou-se a poucas expedições relevantes, cuja importância está menos nos resultados obtidos, do que na dinamização do interesse pela área e em um maior conhecimento do interior. Entre as mais destacadas, contam-se as de Diogo Martins Cão (1596), Marcos de Azeredo (1611) e Agostinho Barbalho de Bezerra (1664), que vasculharam as imediações do rio Doce. Francisco Gil de Araújo fundou a vila de Nossa Senhora de Guarapari e construiu os fortes do Monte do Carmo e de São Francisco Xavier; o de São João, encontrado em ruínas, foi reconstruído.
Gil de Araújo promoveu 14 entradas através do rio Doce, dirigidas à serra das Esmeraldas, as quais podem ter travado contato com os paulistas de Fernão Dias Pais. Da grande atividade e do vultoso emprego de capital realizados por Francisco Gil não resultou qualquer descoberta metalífera, embora se tenham produzido alguns frutos na valorização das terras, pelo estabelecimento de povoadores e criação de novos engenhos. Os lucros, de qualquer modo, não compensaram o investimento feito. Seu filho e herdeiro, talvez por esse motivo, preferiu conservar-se ausente do senhorio e, por morte deste, a capitania tornou-se devoluta, sendo vendida à coroa por Cosme Rolim de Moura, primo do último donatário. Em consequência, ficou o Espírito Santo submetido à jurisdição da Bahia, e seu governo sempre a cargo de displicentes capitães-mores.
Durante o ainda perdurou o interesse pela mineração, reanimado pela descoberta de Antônio Rodrigues Arzão de pequena quantidade de ouro no rio Doce, em 1692. Seguiram-se numerosas entradas, dando início à abertura do caminho para as Minas Gerais, enquanto as jazidas do Castelo e outras atraíam moradores de capitanias vizinhas. Assistiu-se a um novo impulso de conquista e ocupação do interior, e as concessões de sesmarias favoreceram a fixação dos colonos mais empreendedores. O movimento despertou a atenção das autoridades baianas, e acabou prejudicado pelos cuidados do monopólio real e receio de invasão estrangeira às Minas Gerais a partir do Espírito Santo. Tomaram-se então medidas para fortificar melhor a capitania, enquanto por ordem do rei ficou proibido o prosseguimento das explorações. Impediu-se a abertura de entradas para as minas. A capitania defendia-se de surpresas marítimas e ficava isolada pelas defesas naturais: florestas cerradas e selvagens inimigos. A colonização, portanto, continuou sem maiores progressos, embora em 1741 fosse criada a comarca de Vitória, que abrangia São Salvador de Campos e São João da Barra. Em 1747 o ouvidor Manuel Nunes Macedo assim descrevia a situação de Vitória:
É certo que a obstinação dos mineradores e as melhorias efetuadas no sistema de defesa acabaram por diminuir o rigor das proibições e, em 1758, de acordo com ordem régia, abriu-se um caminho para as minas e estabeleceu-se um posto de quitação na vila de Campos.
Em 1797, o regente D. João dirigiu-se ao governador da Bahia nesses termos:
O novo governador assumiu o cargo em 29 de março de 1800. A obra de recuperação teve como objetivo principal melhores comunicações com a de Minas Gerais. Em 8 de outubro do mesmo ano, Silva Pontes assinou o auto, conjuntamente com o representante do governo de Minas, que regulou a cobrança de impostos entre as duas capitanias. Interessou-se também pela navegação do rio Doce, por abertura de estradas, pela ampliação dos cultivos e pelo povoamento da terra. Em 1810 a capitania tornou-se autônoma em relação à Bahia, e passou a depender diretamente do governo-geral. Governou na época Manuel Vieira de Albuquerque Tovar, que não se afastou do programa de Silva Pontes. Deu o nome de Linhares às antigas ruínas da aldeia de Coutins.
O período colonial encerrou-se sob melhores auspícios, sobretudo em função da diligência de Francisco Alberto Rubim, nomeado governador em 1812. Rubim foi o autor da "Memória estatística da capitania do Espírito Santo", realizada em 1817, na qual afirmou haver na época na capitania 24.587 habitantes, seis vilas, oito povoados e oito freguesias. Consolidara-se a ocupação do território e ampliara-se a base demográfica. Em face das dificuldades enfrentadas, esses dados revelam um progresso nada desprezível.
Em 20 de março de 1820 foi empossado como governador Baltazar de Sousa Botelho de Vasconcelos, a quem coube enfrentar os dias agitados da independência e passar a administração à junta do governo provisório. Antes mesmo de promulgada a constituição do império, foi nomeado presidente da província o ouvidor Inácio Acióli de Vasconcelos.
Independência do Brasil.
Durante o movimento de independência, em março e abril de 1821, ocorreram várias comoções políticas no Espírito Santo, enquanto se procedia à escolha de seus representantes às cortes de Lisboa. Após a proclamação da autonomia brasileira, foi dado total apoio à nova realidade política, e em 1 de outubro de 1822, reconhecido imediatamente D. Pedro na condição de imperador do Brasil.
O governo provincial enfrentou séria crise econômica nos primeiros anos da década de 1820, ocasionada pelo estrangulamento da produção agrícola em razão da prolongada estiagem. Mesmo assim, iniciou a cultura cafeeira. Para tanto, incentivou o aproveitamento de terras por colonos estrangeiros, o que se deu simultaneamente à chegada de fazendeiros fluminenses, mineiros e paulistas. A exemplo das demais províncias do sul, no Espírito Santo essa experiência colonizadora baseou-se na pequena propriedade agrícola, que logo se estendeu ao longo da zona serrana central, em contraste com as áreas do sul daquela região, onde predominava a grande propriedade.
Em 1846 fundou-se a colônia de Santa Isabel (Campinho) com imigrantes alemães de Hunsrück e em 1855 uma sociedade particular — depois encampada pelo governo — criou a colônia do Rio Novo com famílias suíças, alemãs, holandesas e portuguesas. Entre 1856 e 1862 houve considerável afluência de imigrantes alemães para a colônia de Santa Leopoldina, que tinha por sede o porto de Cachoeiro de Itapemirim, no rio Itapemirim, a cinquenta quilômetros da foz, no sul do estado. Rapidamente as antigas áreas de pastoreio pontilharam-se de pequenos estabelecimentos agrícolas, que demonstraram grande força expansiva. As colônias de Santa Isabel e Santa Leopoldina,por exemplo, criaram desdobramenros através de todo o planalto, entre os rios Jucu e Santa Maria, e mais tarde atravessaram o rio Doce.
No processo de colonização enfrentaram os imigrantes, a par de outras dificuldades, o sério problema indígena na região do rio Doce. Malgrado os esforços de aldeamento e as tentativas de utilização de sua mão de obra, sucediam-se os choques com os colonos, e chegou mesmo a verificar-se grave contenda entre índios e moradores de Cachoeiro de Itapemirim, como elevado número de mortos e feridos, em 1825. Duas décadas depois, o comendador e futuro barão de Itapemirim, Joaquim Marcelino da Silva Lima, ainda tentou organizar um grande aldeamento à base de terras devolutas.
Século XIX.
Os canaviais haviam sido substituídos pelos cafeeiros. Ainda não tinha sido fundada nenhuma usina. Os engenhos centrais pouco a pouco desapareciam. Além de fazendeiros capixabas, que passam a cultivar o café, vieram também, com o mesmo propósito, fluminenses, mineiros e até paulistas, como o barão de Itapemirim.
Graças ao trabalho profícuo desses colonos, quando se aboliu a escravidão dos negros — o que derrocou as grandes fazendas, de imediato ou não — a economia do Espírito Santo resistiu e proporcionou aos seus presidentes, depois de proclamada a república, os meios necessários para empreendimentos como a construção de estradas de ferro, expansão do ensino e organização de planos urbanos, com Muniz Freire; instalação de água, luz, esgoto, bondes elétricos, de um parque industrial, de uma usina elétrica e de uma usina de açúcar em Cachoeiro de Itapemirim e na vila de Itapemirim, de uma fazenda-modelo em Cariacica, além de reforma da instrução pública e construção de grupos escolares e de pontes entre Vitória e o litoral e Colatina e o norte do rio Doce. Essas e outras obras foram realizadas com recursos provenientes sobretudo do café produzido pelas colônias de imigrantes europeus organizadas desde a monarquia.
Com a irradiação ferroviária que o café suscitou em meados do , o Espírito Santo beneficiou-se da rede de leitos, cujo centro estava em Campos dos Goitacases e que estabelecia comunicações entre duas importantes áreas cafeeiras: a Zona da Mata, em Minas, e o sul capixaba. Apesar de situada fora da região de cultivo, a cidade de Vitória foi a que mais progrediu sob o surto daquela lavoura, e já em 1879 processaram-se os primeiros estudos destinados à construção do porto, que deveria escoar toda a produção da província. Atendendo às novas exigências, em meados do século começou a funcionar a imprensa capixaba, com a circulação do jornal "O Correio da Vitória", de propriedade de Pedro Antônio de Azeredo, a partir de 1849.
Em 1850 a configuração territorial do Espírito Santo já assinalava a existência de dez municípios: Vitória, Serra, Nova Almeida, Linhares, São Mateus, Espírito Santo, Guarapari, Benevente (hoje Anchieta) e Itapemirim. Pouco antes a província perdera parte de suas terras, em virtude da desanexação de Campos dos Goitacases e São João da Barra, restituídas ao Rio de Janeiro em 1832.
No final do , os capixabas, sobretudo a intelectualidade, aderiram ao movimento abolicionista. A exemplo do que aconteceu nas demais províncias, surgiram associações ligadas à emancipação, como a Sociedade Abolicionista do Espírito Santo (1869) ao lado de acirrada campanha jornalística e parlamentar. No próprio edifício da Câmara Municipal de Vitória fundou-se uma sociedade libertadora (1883). Durante a propaganda, evocava-se a crueldade dos castigos infligidos aos escravos, como sucedera após a insurreição de cerca de 200 negros no distrito de Queimados, em 1849.
A abolição da escravatura, no entanto, conduziu os grandes proprietários à ruína, em virtude da privação da tradicional mão de obra. Assim, com o advento da república, o primeiro governador do estado não encontrou condições materiais para levar a efeito os planos preconizados pela propaganda republicana. As finanças da antiga província encontravam-se exauridas.
Ainda no final do , coincidindo com a fixação da constituição estadual (1891 e 1892), o governador eleito recorreu a reformas e incentivos econômicos que deram novo impulso ao estado. A fim de assegurar uma receita mais sólida, levantou empréstimos externos, que favoreceram a lavoura cafeeira e permitiram maiores investimentos agrícolas. O Espírito Santo obteve assim uma arrecadação cinco vezes mais alta que a da antiga província. Efetuou-se o saneamento de Vitória e em 1895 foi inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo, entre Porto de Argolas e Jabaeté.
Séculos XX e XXI.
A ocupação do norte do Espírito Santo só começou nas primeiras décadas do , e ganhou novo impulso depois da construção da ponte de Colatina sobre o rio Doce, inaugurada em 1928. A economia capixaba contou com a migração de contingentes do sul e do centro do país para aquela área, e assim firmou-se o cultivo do café, que respondeu por 95% da receita em 1903. Durante a primeira guerra mundial, o porto de Vitória figurava como o segundo grande exportador nacional.
Com a Revolução de 1930 assumiu a direção do estado, na qualidade de interventor, João Punaro Bley, mantido pelo Estado Novo até 1943, e sob cuja administração se iniciaram obras para ampliar o porto de Vitória e para construção de cais de minério, este arrendado em 1942 pela Companhia Vale do Rio Doce. No governo de Jones dos Santos Neves, em 1945, foi criada a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), primeira iniciativa referente ao ensino superior no estado. Para ampliar a exportação de minério de ferro oriundo de Minas Gerais, a Companhia Vale do Rio Doce construiu o porto de Tubarão, em Vitória, com capacidade para estocar um milhão de toneladas de minério, receber navios de até cem mil toneladas e carregá-los a um ritmo de seis mil toneladas por hora. As obras foram iniciadas em 1966 e terminadas em tempo recorde. Situado dez quilômetros ao norte da capital, é um dos maiores portos de minério do mundo. Com a transferência para Tubarão da maior parte da exportação de minério de ferro, o porto de Vitória ficou liberado para outras aplicações.
Com a instalação de Tubarão a região foi dotada de uma infraestrutura que propiciou o surgimento de um novo complexo industrial, do qual faz parte uma usina de pelotização de minério de ferro, com capacidade de produção de dois milhões de toneladas anuais. Inaugurada em 1976, entrou em atividade em 29 de novembro de 1983, dez anos depois de iniciadas as obras, a Usina Siderúrgica de Tubarão, que representou um investimento total de três bilhões de dólares. A fase foi marcada por um intenso esforço de industrialização provomido pela Companhia de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo (Codes), mais tarde transformada no Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes). No início da década de 70 foi criado o FUNDAP (Fundo de Desenvolvimento para Atividades Portuárias) que consistia de um incentivo financeiro para a instalação de empresas importadoras, incentivando as atividades portuárias. Instalaram-se fábricas de café solúvel, massas alimentícias, chocolates, azulejos e conservas de frutas, e aprovaram-se projetos para a implantação de fábricas de laticínios, calçados, material elétrico, óleos comestíveis e sucos cítricos.
Em novembro de 2007, é inaugurada a expansão da siderúrgica Arcelor Mittal Tubarão (ex-Companhia Siderúrgica de Tubarão) para ampliar a produção anual de placas de aço de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas. O estado é o maior produtor de placas de aço do país.
Em abril de 2008, a Polícia Federal realiza a Operação Auxílio-Sufrágio, que desmantela uma quadrilha especializada em fraudes contra a Previdência Social no estado. O deputado estadual Wolmar Campostrini (PDT) é acusado de ser líder do esquema. Por causa de trâmites burocráticos, as investigações ainda não foram concluídas e Campostrini mantém o cargo. Em outubro do mesmo ano, o prefeito da capital, João Coser (PT) é reeleito em primeiro turno. Em 2010, Renato Casagrande (PSB) é eleito governador no primeiro turno, com 82,3% dos votos. Em 2014, Paulo Hartung (PMDB) foi eleito governador do estado e César Colnago (PSDB) eleito vice-governador.
A partir de 2006, a precariedade dos presídios passou a ser noticiada, pois provocou rebeliões, assassinatos e até esquartejamentos (na Casa de Custódia de Viana); em 2009, presos são mantidos em contêineres de aço, sem ventilação adequada, por falta de celas. Em março de 2010, essa situação é discutida em um painel na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas. Cumprindo parcialmente compromissos assumidos, o governo desativa as celas metálicas e demole a Casa de Custódia de Viana, em maio de 2010. Em outubro, sete penitenciárias foram vistoriadas por uma comissão liderada pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e da Ordem dos Advogados do Brasil. O relatório, a ser entregue à Procuradoria Geral da República, sugere providências urgentes e intervenção federal no sistema penitenciário do estado.
Geografia.
O estado do Espírito Santo ocupa uma área de no litoral do Brasil, localiza-se a oeste do Meridiano de Greenwich e a sul da Linha do Equador e com fuso horário de menos três horas em relação à hora mundial GMT. No Brasil, o estado faz parte da região Sudeste, fazendo divisa com os estados de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. O estado é banhado pelo oceano Atlântico.
Cerca de 40% do território do estado encontra-se em uma faixa de planície, porém a variação das altitudes é bem grande. O relevo apresenta-se dividido em duas regiões distintas: A Baixada Espírito-Santense e a Serra do Castelo, na qual fica o Pico da Bandeira com 2 892 m, na serra de Caparaó. Seu clima predominante é o tropical de Altitude do tipo Cwb. O bioma (dominío morfoclimático) do estado são os chamados "Mares de Morros" caracterizados pela vegetação tropical, em climas mais amenos, formados por serras fortemente erodidas. Os principais rios capixabas são o Doce, o São Mateus, o Itaúnas, o Itapemirim e o Jucu. Os cinco integram as Bacias Costeiras do Sudeste.
O clima é tropical litorâneo úmido, influenciado pela massa de ar tropical atlântica. As chuvas concentram-se no verão. A temperatura média varia entre 22 °C e 24 °C, e a pluviosidade, entre 1 000 mm e 1 500 mm anuais. Os principais rios do estado são, de norte para o sul, o Itaúnas, o São Mateus, o Doce e o Itapemirim, que correm de oeste para leste, isto é, da serra para o litoral. O mais importante deles é o Doce, que nasce em Minas Gerais e divide o território espírito-santense em duas partes quase iguais. Em seu delta formam-se numerosas lagoas, das quais a mais importante é a de Juparanã.
Relevo.
A maior parte do estado caracteriza-se como um planalto, parte do maciço Atlântico. A altitude média é de seiscentos a setecentos metros, com topografia bastante acidentada e terrenos arqueozoicos, onde são comuns os picos isolados, denominados pontões e os pães-de-açúcar. Na região fronteiriça com Minas Gerais, transforma-se em área serrana, com altitudes superiores a 1 000 metros, na região onde se eleva a Serra do Caparaó ou da Chibata. Aí, se ergue um dos pontos culminantes do Brasil, o Pico da Bandeira, com 2 890 m.
De forma mais esquemática, pode-se compor um quadro morfológico do relevo em cinco unidades:
Ao contrário do que ocorre nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde constitui um escarpamento quase contínuo, no Espírito Santo o rebordo do planalto apresenta-se como zona montanhosa muito recortada pelo trabalho dos rios, que, nela, abriram profundos vales. A partir do centro do estado para norte, esses terrenos perdem altura e a transição entre as terras baixas do litoral e as terras altas do interior vai se fazendo mais lenta, até alcançar o topo do planalto no estado de Minas Gerais. Dessa forma, ao norte do Rio Doce, a serra é substituída por uma faixa de terrenos acidentados, mas de altura reduzida, em meio aos quais despontam picos que formam alinhamentos impropriamente denominados serras.
Clima e vegetação.
Ocorrem no Espírito Santo dois tipos principais de climas, o tropical chuvoso e o mesotérmico úmido. O primeiro domina nas terras baixas e caracterizam-se por temperaturas elevadas durante todo o ano e médias térmicas superiores a 22 °C. O tipo "Am", das florestas pluviais, com mais de mm anuais de chuvas e com uma estação seca pouco pronunciada, ocorre no litoral norte, no sopé da serra e na região de Vitória; o tipo "Aw", com cerca de mil mm de chuva e estação seca bem marcada, ocorre no resto das terras baixas.
O clima mesotérmico úmido, sem estação seca, surge na região serrana do sul do estado. Caracteriza-se por temperaturas baixas no inverno (média do mês mais frio abaixo de 18 °C). Observam-se, entretanto, bruscas alterações climáticas.
O Espírito Santo está incluído em sua totalidade no bioma da Mata Atlântica, apresentando desde fitofisionomias florestais em áreas com altitude menor, até fitofisionomias abertas, em áreas com maior altitude. Entre as fitosionomias florestais destacam-se a floresta ombrófila densa, que ocupava quase 70% do estado, e a floresta estacional semidecidual, que ocupava cerca de 23%. A floresta ombrófila aberta, mais rara, ocupava cerca de 3% do estado, sendo encontrada no sudeste e noroeste. Do ponto de vista geológico, o Espírito Santo é dividido em zona de tabuleiros, zona serrana e planície costeira, com extrema influência na vegetação encontrada nessas zonas.
As florestas úmidas da zona de tabuleiros (abaixo de 300 m de altitude) do norte do Espírito Santo e sul da Bahia frequentemente são chamadas de "mata de tabuleiro", e apresentam pouca vegetação rasteira, muitas epífitas e lianas. As árvores podem ter até 30 m de altura e a primeira vista, essa floresta apresenta semelhanças com a Floresta Amazônica. Hoje em dia, a mata de tabuleiro só é encontrada em bom estado de conservação na Reserva Biológica de Sooretama e na Reserva Natural Vale. No litoral, também observa-se a presença de restingas e mangues, principalmente ao norte do rio Doce. Muitas vezes, as restingas limitam-se apenas às praias, mas podem avançar para o interior, unindo-se com as matas de tabuleiros.
A zona serrana, localizada em terras altas e vales do interior ao sul do rio Doce principalmente, possui desde florestas com muita vegetação rasteira (entre 300 e 2 000 m de altitude), até campos de altitude, acima dos 2 000 m. Alguns autores denominam essa vegetação de "floresta pluvial atlântica". Principalmente na Serra do Caparaó, encontra-se uma vegetação aberta denominada campo rupestre, ainda muito pouco estudada pela ciência e que vem se mostrando ser um ecossistema único.
Atualmente, a vegetação nativa do Espírito Santo está reduzida a menos de 15% da cobertura original: em 2011, calculava-se que havia apenas 5 107,53 km² de florestas, o que totalizava cerca de 11,07%. Por conta de sua semelhança, principalmente na parte norte do estado, com o sul da Bahia, a Mata Atlântica capixaba está incluída em um projeto de corredor ecológico que visa integrar as unidades de conservação desse estado com os do sul baiano, o chamado "Corredor Central da Mata Atlântica".
Litoral.
O litoral capixaba é rochoso ao sul, com falésias de arenito, e também na parte central, com grandes morros e afloramentos graníticos a beira mar, o litoral sul-central é muito recortado com muitas enseadas e baias protegidas por rochas e afloramentos rochosos a beira mar, é arenoso ao norte, com praias cobertas por uma vegetação rasteira e extensas dunas, principalmente em Itaúnas e Conceição da Barra.
A 1 140 quilômetros da costa, em pleno Oceano Atlântico, encontram-se a Ilha da Trindade (12,5 km²) e as Ilha de Martim Vaz, situadas a 30 quilômetros de Trindade. Essas ilhas estão sob a administração do Espírito Santo.
O estado possui um litoral mais recortado no centro-sul, e mais mar aberto no norte, o que faz a maior parte das ilhas se concentrarem na parte central do estado, porém o estado possui várias ilhas. Ao todo, são 73 ilhas localizadas na costa do estado, sendo 50 localizadas na capital Vitória.
Ecologia.
No Espírito Santo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) administra dezessete unidades de conservação: dois parques nacionais, seis reservas biológicas, três reservas particulares do patrimônio natural, duas áreas de proteção ambiental, uma estação ecológica e três florestas nacionais.
O estado também é conhecido por possuir diversos locais que servem para armazenamento dos ovos de Tartarugas-marinhas ("Cheloniidae"). No estado, o TAMAR, um projeto conservacionista brasileiro dedicado à preservação de espécies de tartarugas-marinhas ameaçadas de extinção, mantém sete bases do projeto no estado: Itaúnas, Guriri, Pontal do Ipiranga, Povoação, Vila de Regência, Ilha da Trindade e Anchieta. Os trabalhos de monitoramento das praias realizados pelas equipes do TAMAR normalmente são realizados entre os meses de setembro e março, no fim do período reprodutivo. As tartarugas marinhas demoram até 20 anos para chegar à idade reprodutiva e de cada mil filhotes que nascem apenas um chega à fase adulta. Ou seja, das 100 mil tartarugas nascidas no último ano, daqui a vinte anos, provavelmente, estima-se que apenas 100 retornem para desovar.
Demografia.
Segundo o censo demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, em 2010, o estado do Espírito Santo possuía habitantes, sendo o décimo quarto estado mais populoso do Brasil, representando 1,8% da população brasileira. Segundo o mesmo censo, habitantes eram homens e habitantes eram mulheres. Ainda segundo o mesmo censo, habitantes viviam na zona urbana e na zona rural. Em dez anos, o estado registrou uma taxa de crescimento populacional de 13,59%.
Em relação ao ano de 1991, quando a população era de , esses números mostram uma taxa de crescimento anual de 2% ao ano, inferior a do Brasil como um todo (1,6%) para o mesmo período (1991-2000). Ainda segundo o censo demográfico de 2000, o Espírito Santo é o décimo quarto estado mais populoso do Brasil e concentra 1,82% da população brasileira. Do total da população do estado em 2000, habitantes são mulheres e habitantes são homens. Para 2006, a estimativa é de habitantes.
Nos últimos anos, o crescimento da população urbana intensificou muito, ultrapassando o total da população rural. Segundo a estimativa de 2000, 67,78 dos habitantes viviam em cidades. Dois municípios capixabas mantêm o pomerano como segunda língua oficial (além do português): Vila Pavão e Santa Maria de Jetibá. Também foi aprovada em agosto de 2011 a PEC 11/2009, emenda constitucional que inclui no artigo 182 da Constituição Estadual a língua pomerana, junto com a língua alemã, como patrimônios culturais do Estado. A densidade demográfica no estado, que é uma divisão entre sua população e sua área, é de habitantes por quilômetro quadrado, sendo a sétima segunda maior do Brasil e com uma densidade comparada à do país asiático Malásia. A distribuição da população estadual é desigual, apresentando maior concentração na região serrana, no interior. Nessa área, a densidade demográfica atinge a média de 50 hab./km² e a ultrapassa no extremo sudoeste. A Baixada Litorânea, faixa que acompanha o litoral, apresenta quase sempre densidades inferiores à média estadual. Apenas nas proximidades de Vitória observa-se uma pequena área com mais de 50 hab./km². A parte norte da baixada litorânea é a menos povoada do estado. Sete municípios (Vila Velha, Cariacica, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, São Mateus e Linhares) concentram mais de 45% da população do Espírito Santo (1975).
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, considerado como "elevado" pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), é de , segundo dados do ano de 2010, sendo naquele período, o sétimo mais alto entre as unidades federativas do Brasil. Naquele ano, considerando apenas a educação, o índice era de 0,653, considerado "médio"; o índice de longevidade era de 0,835, considerado "muito alto" e o índice de renda era de 0,743, considerado como "alto". A renda per capita é de reais. Entre 1991 e 2000, o estado registrou uma forte evolução tanto no seu IDH geral quanto na educação, longevidade e renda, critérios utilizados para calcular o índice. A educação foi o critério que mais evoluiu em nove anos, de 0,304 em 1991 para 0,491 em 2000, e em 2010 o valor passou a ser 0,653. Depois da educação, vem a longevidade, que em 1991 tinha um valor de 0,686, passando para 0,777 em 2000 e 0,835 em 2010. E, por último, vem a renda, o critério que menos evoluiu entre 1991, quando era de 0,619, e 2000, ano em que foi calculado como sendo de 0,687, avançando para o valor de 0,743 em 2010. Quanto ao IDH, que é uma média aritmética dos três subíndices, a evolução também foi significativa, passando de 0,505 em 1991 (considerado como "baixo" pela ONU) para 0,64 em 2000 (considerado "médio" pela ONU), e para 0,74 em 2010 (considerado "elevado" pela ONU).
Em 2010, o município com o maior IDH era a capital, Vitória, com um valor de 0,845, considerado como "muito elevado" pelo PNUD no período, posicionado na primeira posição entre os municípios capixabas naquele ano e na quarta posição entre todos os municípios do país, empatado com Balneário Camboriú (SC), e ficando atrás somente de São Caetano do Sul (SP), Águas de São Pedro (SP) e Florianópolis (SC). Já dentre as capitais estaduais do país, Vitória foi posicionada naquele período em segundo lugar, perdendo apenas para Florianópolis, Santa Catarina. Concomitantemente, o município com menor IDH foi Ibitirama, situado na Mesorregião do Sul Espírito-Santense, possuindo o índice no valor de 0,622, que possuindo todos os indicadores sociais abaixo da média estadual no período, estava posicionado na 78° e último lugar entre os municípios do estado e no ° lugar entre todos os municípios brasileiros, com um IDHM considerado "médio" pelo PNUD. No ano 2000, o município capixaba mais bem avaliado de acordo com o IDH era mais uma vez a capital, Vitória, com o índice no valor de 0,759, considerado como "elevado" no período, estando ranqueado na sétima posição na época entre todos os municípios do Brasil, ficando atrás apenas de São Caetano do Sul (SP), Águas de São Pedro (SP), Santos (SP), Balneário Camboriú (SC), Niterói (RJ) e Florianópolis (SC). No mesmo período, o município com menor valor de IDH era Santa Leopoldina, situado na Mesorregião Central Espírito-Santense, com um índice de 0,468 no período, considerado como "baixo" à época. Já no ano de 1991, o município com melhor IDH do estado era igualmente a capital, Vitória, com um índice de 0,644, considerado como "médio" pela ONU e sendo posicionado na sexta posição entre todos os municípios do Brasil, ficando atrás somente de São Caetano do Sul (SP), Santos (SP), Florianópolis (SC), Niterói (RJ) e Porto Alegre (RS).
O coeficiente de Gini, que mede a desigualdade social, é de 0,50, sendo que 1,00 é o pior número e 0,00 é o melhor. A incidência da pobreza, medida pelo IBGE, é de %, o limite inferior da incidência de pobreza é de %, o superior é % e a subjetiva é %.
Religião.
Apesar de tradicionalmente o Catolicismo ser a religião mais professada no Espírito Santo, nas últimas décadas houve grande aumento no número de evangélicos. Segundo o Censo 2010, a Igreja Católica é a religião de 53,4% dos capixabas. Divide-se administrativamente em uma arquidiocese, a Arquidiocese de Vitória, e três dioceses sufragâneas: Cachoeiro de Itapemirim, Colatina e São Mateus. Na Igreja Católica, destaca-se o Convento da Penha, que é um dos principais monumentos históricos do estado e a Basílica de Santo Antônio.
Ainda segundo o Censo IBGE 2010, as Igrejas evangélicas são seguidas por 33,1% dos capixabas, o que faz do Espírito Santo o estado mais evangélico do Brasil. São muitas as igrejas evangélicas, sendo a maior a Assembleia de Deus em suas várias ramificações, seguida da Igreja Cristã Maranata, fundada no estado há 43 anos e da multifacetada Igreja Batista e da Igreja Universal do Reino de Deus. É possível encontrar também praticantes de religiões de origem africana, além de espíritas e outros. O luteranismo também está presente em todo o estado, mas é nas regiões serranas, onde há maior quantidade de descendentes de alemães e pomeranos, que sua presença é mais forte.
É no Espírito Santo que se encontra o Mosteiro Zen Morro da Vargem, primeiro da América Latina, localizado em Ibiraçu e aberto a visitação, no estado também foram construídos o Convento da Penha, 1º convento do Brasil em 1555, e a primeira igreja luterana da América Latina.
De acordo com dados do censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Espírito Santo está composta por: católicos (53,4%), evangélicos (33,1%), pessoas sem religião (9,61%), espíritas (0,72%), budistas (0,02%), muçulmanos (0,00%), umbandistas (0,14%) e judeus (0,01%).
Composição étnica.
O censo do IBGE de 2010 revelou os seguintes números: 1,7 milhão brancos (48,6%), 1,5 milhão Pardos (42,2%), 293 mil Negros (8,4%) e 0,8% amarelos (21,9 mil) ou Indígenas (9 mil).
A população do estado, assim como no resto do Brasil, foi formada por elementos indígenas, africanos e europeus. O Espírito Santo, no , contava com uma grande população de origem indígena e africana. Depois da colonização portuguesa, a partir do o estado recebeu levas consideráveis de imigrantes, na maioria italianos, mas também alemães, portugueses e espanhóis.
Criminalidade.
O Espírito Santo é a décima quinta unidade federativa mais violenta do Brasil, e tem o segundo maior índice de criminalidade da Região Sudeste do país, perdendo para o Rio de Janeiro. A taxa de homicídios é de 32,6 a cada mil (dados de 2016).
O município mais violento do Espírito Santo por médias móveis, é o de Jaguaré na Região Norte do Espírito Santo, com uma taxa de 93,5 homicídios por mil habitantes. Já o mais violento por números absolutos, é o de Serra, na Região Metropolitana de Vitória, com 328 homicídios em 2019. O município com a menor taxa média de homicídios é Marechal Floriano, na Mesorregião Central Espírito-Santense, mais precisamente na Microrregião de Afonso Cláudio.
Governo e política.
O estado do Espírito Santo é governado por três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo e outros tribunais e juízes. Também é permitida a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos.
A atual constituição do estado do Espírito Santo foi promulgada em 1989, acrescida das alterações resultantes de posteriores emendas constitucionais.
O Poder Executivo capixaba está centralizado no governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto, pela população para mandatos de até quatro anos de duração, e podem ser reeleitos para mais um mandato. Sua sede é o "Palácio Anchieta", que desde o é a sede do governo capixaba. A residência oficial do governador fica na Praia da Costa, localizada no município de Vila Velha.
O Poder Legislativo do Espírito Santo é unicameral, constituído pela Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, localizado na Enseada do Suá. Ela é constituída por 30 deputados, que são eleitos a cada 4 anos. No Congresso Nacional, a representação capixaba é de 3 senadores e 10 deputados federais. A maior corte do Poder Judiciário capixaba é o Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, localizado na Enseada do Suá. Compõem o poder judiciário os desembargadores e os juízes de direito.
O Espírito Santo está dividido politicamente em 78 municípios. O mais populoso deles é Serra, com habitantes, segundo dados de 2021 do IBGE. Sua região metropolitana possui aproximadamente 1,7 milhão de habitantes.
Subdivisões.
Uma região geográfica intermediária é uma subdivisão dos estados brasileiros que congrega diversos municípios de uma área geográfica com similaridades econômicas e sociais. Foi criada pelo IBGE e é utilizada para fins estatísticos e não constitui, portanto, uma entidade política ou administrativa. As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. Oficialmente, as quatro regiões geográficas intermediarias do estado são: Região Geográfica Intermediária de Vitória; Região Geográfica Intermediária de São Mateus; Região Geográfica Intermediária de Colatina e Região Geográfica Intermediária de Cachoeiro de Itapemirim.
Além da região geográfica intermediária, existe a região geográfica imediata, que foram instituídas em 2017 para a atualização da divisão regional brasileira e correspondem a uma revisão das antigas microrregiões. O Espírito Santo é dividido em oito regiões geográficas imediatas. São elas: Vitória, Afonso Cláudio-Venda Nova do Imigrante-Santa Maria de Jetibá, São Mateus, Linhares, Colatina, Nova Venécia, Cachoeiro de Itapemirim, Alegre.
Por último, existem os municípios (as menores unidades autônomas da federação), que são circunscrições territoriais dotadas de personalidade jurídica e com certa autonomia administrativa. Em geral, o Espírito Santo está dividido em 78 municípios, sendo a vigésima unidade de federação com o maior número de municípios e a quarta e última do Sudeste (atrás de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro).
Durante a década de 2000, por sucessivas leis estaduais, foram criadas e alteradas regiões de gestão e planejamento, estabelecidas com o objetivo de centralizar a atividades das secretarias estaduais. Seus limites nem sempre coincidem com os das mesorregiões e microrregiões do Espírito Santo. As onze regiões administrativas do estado são: Metropolitana (Grande Vitória), Pólo Linhares, Litoral Sul, Pólo Afonso Cláudio (Sudoeste Serrana), Litoral Norte, Extremo Norte, Pólo Colatina, Noroeste 1, Noroeste 2, Pólo Cachoeiro de Itapemirim, Caparaó (Microrregião de Alegre).
Economia.
Na economia do Espírito Santo, têm destaque a agricultura, a pecuária e a mineração. Na produção agrícola, destacam-se a cana-de-açúcar (2,5 milhões de toneladas), a laranja (175 milhões de frutos), o coco-da-baía (148 milhões de frutos) e o café (1 milhão de toneladas). O total de galináceos no estado é de aproximadamente 9,2 milhões de aves, e o de gado bovino ultrapassa 1,8 milhão de cabeças. Há reservas importantes de granito e uma incipiente extração de gás natural e petróleo. Areias e mármores também são importantes produtos do extrativismo capixaba. Embora relativamente pequeno, o parque industrial do Espírito Santo abriga indústrias químicas, metalúrgicas, alimentícias e de papel e celulose. Em 2012, a pauta de exportação do Espírito Santo se baseou em minério de ferro (52,49%), petróleo cru (10,87%), pastas químicas de madeira à soda ou sulfato (10,01%), pedras de cantaria ou construção (5,58%) e café (4,42%).
O Espírito Santo é sede de importantes cooperativas agropecuárias, entre as quais se destacam: a Capil, de Itarana; a Ceaq, de São Domingos do Norte; a Cooaprucol de Colatina; a Coop-Forgrande, de Castelo; a Cocaes, de Brejetuba; a Cavil, de Bom Jesus do Norte; e a Coopeves, de Vila Velha. A atividade turística do estado concentra-se no litoral, onde há belas praias, como a de Itaúnas e a de Guarapari. O pico da Bandeira, terceiro mais alto do país, é outro destino turístico bastante procurado. Ultimamente, tem ganhado destaque um novo tipo de turismo: o gastronômico, em que se aprecia a típica culinária capixaba, herdeira de diversas culturas. O sistema rodoviário se organiza a partir da BR-101, que corta o Espírito Santo de norte a sul, margeando o litoral. O estado possui 30,1 mil quilômetros de estradas de rodagem, mas apenas 10% são pavimentados.
Setores.
O produto agrícola tradicional do estado é o café, cultura que orientou a ocupação de praticamente todo o território capixaba. Após uma fase de decadência no estado, o café recuperou uma posição de relativo destaque nacional, ocupando a segunda colocação na produção de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com um volume de produção que varia entre 11,58 e 13,33 milhões de sacas em 2017. Seguem-se a ele, em ordem de importância, as culturas de milho, banana, mandioca, feijão, arroz e cacau.
A criação de bovinos serviu-se de solos virgens no norte do estado, em terrenos desmatados. Nessa área cria-se e engorda-se gado de corte, e ali desenvolveu-se a indústria frigorífica, cuja carne é enviada principalmente para o Rio de Janeiro, além de abastecer a região de Vitória. No sul pratica-se muito a pecuária leiteira, e o leite é comercializado, por meio de cooperativas, nos mercados do Rio de Janeiro e Vitória. De desenvolvimento mais recente são a silvicultura e a fruticultura, com aproveitamento para conservas de frutas e para a produção de celulose, destacando-se nessa última atividade alguns projetos de reflorestamento, que poderão compensar em parte o desmatamento avassalador sofrido pelo estado.
O subsolo do estado é rico em minerais, inclusive petróleo. Há consideráveis reservas de calcário, mármore, manganês, ilmenita, bauxita, zircônio, monazitas e terras raras, embora nem todas em exploração. No extrativismo mineral, destaca-se a exploração, na área de Cachoeiro de Itapemirim, de reservas de mármores, calcário e dolomita.
O Espírito Santo tinha em 2018 um PIB industrial de R$ 37,6 bilhões, equivalente a 2,9% da indústria nacional. Emprega 175 104 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Extração de petróleo e gás natural (24,5%), Extração de minerais metálicos (13,9%), Construção (11,4%), Metalurgia (10,8%) e Serviços industriais de utilidade pública, como Energia elétrica e água (7,5%). Estes 5 setores concentram 68,1% da indústria do estado.
Nos centros urbanos da capital e de Cachoeiro de Itapemirim concentram-se praticamente todas as principais unidades da indústria de transformação capixaba. Na grande Vitória localizam-se as indústrias siderúrgicas: Companhia Ferro e Aço de Vitória, usina de pelotização de minério de ferro da Companhia Vale do Rio Doce; madeireira, têxtil, de louças, de café solúvel, de chocolates e frigorífica. No vale do rio Itapemirim, desenvolvem-se indústrias de cimento, de açúcar e álcool e de conservas de frutas.
As 10 maiores empresas industriais do Espírito Santo são a Companhia Vale do Rio Doce, ArcelorMittal, Samarco Mineração, Aracruz Celulose, Fertilizantes Heringer, ArcelorMittal Brasil, Escelsa, Garoto (a maior fábrica de chocolates da América Latina e a mais importante empresa industrial de alimentos do estado) e Sol Coqueria.
É deficitário o comércio do estado com as demais unidades federativas do Brasil. O valor da exportação por cabotagem, em junho de 2010, foi da ordem de US$ 1 075 429 e o da importação de US$ 642 997. Quanto ao seu comércio exterior, devido à exportação de minério, a situação é completamente inversa do comércio por cabotagem. O valor total da exportação para o exterior, em 2009, foi de US$ 6 510 241 e a da importação, de US$ 5 484 252.
O setor terciário é pouco desenvolvido em todo o Estado. No entanto, a atividade comercial adquire certa importância com as exportações de minério de ferro proveniente de Minas Gerais, através da Estrada de Ferro Vitória a Minas e é embarcado nos portos de Atalaia e ponta do Tubarão. Por outro lado, a ligação de Cachoeiro de Itapemirim à cidade do Rio de Janeiro, por rodovia pavimentada, permitiu a incorporação da região à bacia leiteira fluminense e facilitou a exportação de produtos agrícolas, como café, milho, mandioca, arroz e hortigranjeiros.
Petróleo.
Nos últimos anos, o Espírito Santo vem se destacando na produção de petróleo e gás natural. Com várias descobertas realizadas, principalmente pela Petrobras, o Estado saiu da quinta posição no ranking brasileiro de reservas, em 2002, para se tornar a segunda maior província petrolífera do País, com reservas totais de 2,5 bilhões de barris. São cerca de 140 mil barris diários. Os campos petrolíferos se localizam tanto em terra quanto em mar, em águas rasas, profundas e ultraprofundas, contendo óleo leve e pesado e gás não associado.
Dentre os destaques da produção está o campo de Golfinho, localizado a norte do estado, com reserva de 450 milhões de barris de óleo leve, considerado o mais nobre. O primeiro módulo de produção do local já está em operação, com o FPSO Capixaba, e o segundo deve iniciar a operação até o final deste ano, com o FPSO Cidade de Vitória.
Há ainda os campos de Jubarte, Cachalote, Baleia Franca, Baleia Azul, Baleia Anã, Caxaréu, Mangangá e Pirambu, que fazem parte do denominado Parque das Baleias, no Sul, que somam uma reserva de 1,5 bilhão de barris. O Espírito Santo é atualmente responsável por 40% das notificações de petróleo e gás natural brasileiras, conforme levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) desde sua criação, em janeiro de 1998.
A indústria de petróleo no Espírito Santo possibilita o pagamento de royalties relacionados à exploração de petróleo e gás natural aos municípios nos quais estão localizados os campos produtores e as instalações das empresas. Para beneficiar os 68 municípios capixabas que não recebem royalties petrolíferos, o Governo do Estado criou o Fundo para Redução das Desigualdades Regionais, o primeiro projeto desta natureza aprovado no país. Os recursos são provenientes do repasse de 30% dos royalties creditados no cofre público estadual. Em vigor desde junho de 2006, a distribuição do dinheiro do fundo leva em consideração a população, o percentual de repasses do ICMS e a condição de não ser grande recebedor de royalties. As cidades que têm participação acima de 10% no ICMS e mais de 2% dos royalties não têm acesso aos recursos do Fundo.
Infraestrutura.
Educação.
O Estado dispunha em 2008 de uma rede de de 2 733 escolas de ensino fundamental, das quais 482 estaduais, 1 986 municipais, 1 157 particulares e 6 federais. O corpo docente era constituído de 29 282 professores, sendo que 6 777 trabalhavam nas escolas públicas estaduais, 18 146 nas escolas públicas municipais e 4 359 nas escolas particulares. Estudavam nestas escolas 553 396 alunos, dos quais 491 342 nas escolas públicas e 62 054 nas escolas particulares. O ensino médio foi ministrado em 438 estabelecimentos, com a matrícula de 139.984 alunos. Dos 139 984 discentes, 119 478 estavam nas escolas públicas e 20 506 nas particulares. Quanto ao ensino superior, em 2008, o estado possuía 91 estabelecimentos, com 6 490 professores e 89 610 discentes.
Em 2004 a taxa de analfabetismo no estado era de 9,5%, uma das mais baixas do Brasil. Da população, 21,0% dos capixabas são analfabetos funcionais. O Espírito Santo é a 12ª melhor educação do Brasil, com um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,887.
As principais universidades do Espírito Santo são a Universidade Aberta Capixaba, o Instituto Federal do Espírito Santo e a Universidade Federal do Espírito Santo.
Saúde.
Em 2005, existiam, no Estado, 1 755 estabelecimentos hospitalares, com 7.684 leitos e 378 médicos, 35 enfermeiros diplomados e 210 auxiliares de enfermagem. Em 2010, dos 1 755 hospitais existentes, 125 eram de adultos e crianças, 88 eram exclusivamente de crianças, sendo 98 gerais e 22 especializados. Em 2005, da população, 84,4% dos capixabas tinham acesso à rede de água, enquanto 75,7% se beneficiam da rede de esgoto sanitário.
Energia.
Atualmente a situação energética do Estado do Espírito Santo é de confiabilidade, por se conectar ao Sistema Interligado Sul/Sudeste/Centro-oeste através de um anel de transmissão. O estado produz 33% de suas necessidades, importando, consequentemente, 67% da energia requerida de FURNAS Centrais Elétricas S.A. As concessionárias de distribuição de energia elétrica operando no Espírito Santo são a Espírito Santo Centrais Elétricas S/A (Escelsa), atualmente uma empresa do grupo EDP, e Empresa Luz e Força Santa Maria (ELFSM).
Com seu franco desenvolvimento, expansão e a crescente demanda por fontes energéticas que sustentem de maneira consistente este processo, o Espírito Santo vem utilizando como principal energia alternativa a energia eólica. O processo consiste na conversão do vento em energia elétrica através de aerogeradores - gigantes turbinas em forma de cata-vento colocadas em pontos estratégicos onde a ação do vento é intensa.
Comunicações.
Os principais jornais diários editados em Vitória são a "Gazeta", o mais antigo e de instalações mais modernas; o "Diário", "Diário Oficial do Estado" e "A Tribuna". Em Cachoeiro de Itapemirim, circula o Correio do Sul; em Colatina, a "Folha do Norte". As principais emissoras de radiodifusão da capital são a Rádio Espírito Santo, que emite em ondas médias, tropicais e de frequência modulada, a Jovem Pan News Vitória e a Rádio Capixaba, ambas em ondas médias e curtas. Os municípios de Cariacica, Colatina, Mimoso do Sul e Santa Teresa também possuem emissoras de rádio. Na capital, funcionam a TVE Espírito Santo, a TV Gazeta, a TV Vitória, a TV Tribuna, a TV Capixaba e a RedeTV! ES. Há torres repetidoras de emissoras do Rio de Janeiro.
Transportes.
No estado, existe apenas um aeroporto administrado pela Infraero: o Aeroporto Eurico de Aguiar Salles (em Vitória). Além deste, o Espírito Santo possui outros aeroportos, tais como o de Baixo Guandu/Aimorés, o de Cachoeiro de Itapemirim, o de Guarapari, o de Linhares e o Tancredo de Almeida Neves (em São Mateus), que são de responsabilidade das suas respectivas administrações municipais.
A Estrada de Ferro Vitória a Minas escoa minério de ferro de Itabira (MG) até o porto de Tubarão, e volta com carvão para siderurgia. Também faz transporte de passageiros e carga geral no vale do rio Doce. A Ferrovia Centro-Atlântica serve ao sul do estado e comunica Vitória com o estado do Rio de Janeiro. As principais rodovias são a BR-101, que corta o estado de norte a sul, pelo litoral, e a BR-262, que liga Vitória a Belo Horizonte (MG) e ao extremo oeste do país. Outras rodovias importantes são a BR-482, que atravessa Alegre e Jerônimo Monteiro e entronca com a BR-101 no distrito de Safra; a BR-342, que liga Ecoporanga a Nova Venécia, no norte do estado; e a BR-381, que liga o município de São Mateus ao município de São Paulo, passando por Nova Venécia e Barra de São Francisco. O estado possui dois portos, ambos na capital: o cais comercial de Vitória e o porto de exportação de minério de ferro de Tubarão.
Segurança pública.
As principais unidades das Forças Armadas com sede no Espírito Santo são: no Exército Brasileiro, o Espírito Santo integra a 1ª Região Militar (juntamente com o estado do Rio de Janeiro) destacando aí o 38º Batalhão de Infantaria; na Marinha do Brasil, o Espírito Santo faz parte do 1º Distrito Naval (com sede no Rio de Janeiro), destacando-se no Estado a Escola de Aprendizes-Marinheiros; e na Força Aérea Brasileira, o Espírito Santo integra o III Comando Aéreo Regional, com sede na cidade do Rio de Janeiro, destacando-se o Estado como parte integrante do Cindacta I, que forma o quadrilátero com as cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.
A Polícia Militar do Estado do Espírito Santo (PMES) é uma das forças de polícia militar do Brasil, sendo responsável pelo policiamento ostensivo no Estado do Espírito Santo. Seu Quartel do Comando Geral (QCG) é situado na Avenida Maruípe, na cidade de Vitória, capital do Estado.
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito Santo (CBMES) é uma Corporação cuja missão primordial consiste na execução de atividades de defesa civil, prevenção e combate a incêndios, buscas, salvamentos e socorros públicos no âmbito do estado do Espírito Santo. Ele é Força Auxiliar e Reserva do Exército Brasileiro, e integra o Sistema de Segurança Pública e Defesa Social do Brasil. Seus integrantes são denominados Militares dos Estados pela Constituição Federal de 1988, assim como os membros da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo.
A Polícia Civil do Estado do Espírito Santo é uma das polícias do Espírito Santo, Brasil, órgão do sistema de segurança pública ao qual compete, nos termos do artigo 144, § 4º, da Constituição Federal e ressalvada competência específica da União, as funções de polícia judiciária e de apuração das infrações penais, exceto as de natureza militar. As principais instituições penitenciárias do estado são o Instituto de Readaptação Social (em Vila Velha) e Colônia Penal (em Viana).
A Superintendência do Departamento de Polícia Federal no Espírito Santo está localizada no bairro vilavelhense do São Torquato e é responsável pelo cadastro de passaportes brasileiros de capixabas e outras pessoas residentes no Estado, controles de passageiros nacionais e estrangeiros no aeroportos internacionais e defesa mútua e obrigatória das fronteiras do Brasil como outros países sul-americanos ao lado do Exército Brasileiro, da Marinha do Brasil e da Força Aérea Brasileira.
Cultura.
Instituições culturais.
As principais entidades culturais do estado encontram-se na capital: a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o Instituto Histórico e Geográfico, a Associação Espírito-Santense de Imprensa, a Academia Espírito-Santense de Letras, a Associação Espírito-Santense de Juristas, a Arcádia Espírito-Santense, a Associação Médica do Espírito Santo, a Academia Feminina de Letras, o Instituto dos Advogados, o Centro Capixaba de Folclore e o Instituto Espírito-Santense de História, Geografia e Arte Religiosa. Em Cachoeiro de Itapemirim há a Academia Cachoeirense de Letras.
A capital conta com as bibliotecas Estadual, Municipal, do Tribunal de Justiça, dos Comerciários, Embaixador Macedo Soares (da delegacia da Fundação IBGE), Central da Universidade Federal do Espírito Santo e da Companhia Vale do Rio Doce, entre outras. Em Cachoeiro de Itapemirim destacam-se as Bibliotecas Municipal, do Centro Espírita Fraternidade e Luz, do Colégio Estadual Muniz Freire e da Casa dos Braga — pequeno museu dedicado aos irmãos escritores Newton e Rubem Braga, na casa onde nasceram. Muitos outros municípios do interior possuem também pequenas bibliotecas.
O teatro mais relevante da capital é o Theatro Carlos Gomes, inaugurado em 1927 e inovado em 1970, sob a responsabilidade da Fundação Cultural do Espírito Santo, com 311 poltronas e 40 camarotes.
Na capital, o museu histórico mais relevante é o Museu Solar Monjardim, antigo Museu de Arte e História e Museu Capixaba, anteriormente vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo e na atualidade, administrado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O museu encontra-se instalado no Solar Monjardim, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e antiga Casa-Grande da Fazenda, hoje bairro, de Jucutuquara. No centro histórico da capital encontram-se o Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio del Santo (Maes) e o Museu Capixaba do Negro Verônica da Paz (Mucane). No município vizinho de Vila Velha, o Museu Ferroviário da Vale, na antiga sede da Estação Pedro Nolasco, oferece vista para o centro de Vitória.
Em Santa Teresa, há o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, instituição criada pelo ilustre naturalista capixaba Augusto Ruschi em sua própria residência, onde também existe uma das melhores bibliotecas do mundo especializadas na fauna e na flora do país. Ruschi ainda fundou no município de Aracruz uma grande reserva natural que além de oferecer atividades educacionais e recuperação da flora, possuí um extenso arquivo público aberto para consulta, a Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi (EBMAR).
Monumentos.
São tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional os seguintes monumentos: a igreja de Nossa Senhora da Assunção (1587) e residência contígua, em Anchieta, onde morou o clérigo José de Anchieta; a igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Viana; a igreja dos Reis Magos (1558) e residência contígua, em Nova Almeida, município da Serra. Em Vitória, está localizados o Solar de Monjardim, a igreja de São Gonçalo Garcia (1766), a igreja de Nossa Senhora do Rosário (1765) e a igreja de Santa Luzia (1547). Em Vila Velha, o célebre convento e igreja de Nossa Senhora da Penha, localizado a 135m de altura sobre a entrada da baía de Vitória, e a igreja matriz de Nossa Senhora do Santo Rosário, todos do .
Folclore.
Em Vitória, as festas populares tradicionais mais distintas são as de Nossa Senhora da Penha, as comemorações católicas de Santo Antônio, em 13 de junho, de São Pedro dos Pescadores, na praia do Suá, em 29 de junho, e de Nossa Senhora da Vitória, em 8 de setembro. Em Guarapari e Conceição da Barra, realizam-se as festas de Nossa Senhora da Conceição, em 8 de outubro, e o alardo, realizada no ciclo de Natal ou nos dias 19 e 20 de janeiro. Em Cachoeiro de Itapemirim, o Dia de Cachoeiro, 29 de junho, é celebrado com uma semana de eventos em que ocorrem exposição agropecuária, bailes, shows populares, desfiles e caxambu da ilha da Luz. Em diversas cidades e aldeias litorâneas, como Guarapari, Marataízes, Anchieta, Piúma e Conceição da Barra, o dia de São Pedro, 29 de junho, padroeiro dos pescadores, é festejado também com procissões marítimas. Em Conceição da Barra, acontece a festa do Reis de Bois, no ciclo natalino.
Pontos turísticos.
As praias de areia monazítica de Guarapari, aconselhadas para a cura de reumatismo e artrose, e o convento de Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha, são os maiores pontos turísticos do estado. Em Vitória, são locais importantes o palácio Anchieta, prédio onde funciona o governo estadual; as igrejas tombadas de Santa Luzia, do Rosário e de São Gonçalo Garcia; o Parque Moscoso, com concha acústica com capacidade para atrair 400 espectadores sentados; o porto, com seu terminal de exportação de minério; as praias: Comprida, Suá, Camburi e do Canto;
A costa capixaba é margeada de belas praias, que recebem muitos turistas — principalmente mineiros que aproveitam o sol e a água do mar e que são trajados de sunga e biquíni — no verão, sobressaindo-se Guriri, em São Mateus, Marataízes, Guarapari, Piúma, Iriri, Anchieta e Conceição da Barra, onde se situam as célebres dunas da barra do rio Itaúnas.
Nas serras capixabas também são encontrados pontos de grande atração turística, sobressaindo-se Domingos Martins, Santa Teresa, Rio Novo e Venda Nova do Imigrante.No interior, junto à divisa com Minas Gerais, localiza-se o Parque Nacional do Caparaó. O pico do Itabira e as pedras do Frade e da Freira (310m), em Cachoeiro de Itapemirim, são o símbolo maior da cidade, onde se pode visitar também a tradicional fábrica de pios de pássaros em madeira.
Culinária.
O prato típico mais lembrado do estado é a torta capixaba, feita tradicionalmente nas casas de Vitória durante a semana santa, mas também oferecida durante todo o ano aos turistas nos melhores restaurantes da capital. Sobressai-se ainda a moqueca capixaba, de peixes e frutos do mar cozidos em panelas de barro artesanais, ao molho de urucum.
Música.
O congo capixaba é o ritmo musical típico do estado, com origem indígena também teve a participação dos negros. Realizado nas regiões litorâneas do Espírito Santo. As bandas de congo cantam e tocam em festas religiosas como as de São Benedito, São Pedro, São Sebastião e Nossa Senhora da Penha (padroeira do Estado). Os instrumentos utilizados são com pau oco, barricas, taquaras, peles de animais, folha-de-flandres e ferro torcido, assim como tambores, caixas, cuícas, chocalhos, casacas, ferrinhos ou triângulos e pandeiros. Principalmente pelos tambores e casaca que é um instrumento musical espécie de reco-reco com cabeça esculpida.
Festivais.
A cultura do estado sofre forte influência de alemães, italianos e afro-descendentes, o que gera diversas manifestações culturais e festas singulares. Os principais eventos no estado, são de entretenimento, culturais e musicais, o maior evento do estado é a Vitória Stone Fair, maior exposição de Rochas Ornamentais do mundo, porém existem vários outros de importância quase igual, voltados ao setor agropecuário e ao setor alimentício. A maioria dos eventos, de pequeno, médio e grande porte, ocorre no Pavilhão de Carapina, espaço construído pelo governo do estado, para sediar eventos, no município de Serra.
Existe em Itapemirim a Tradicional Festa do Atum e do Dourado, sendo uma das principais festas da cultura pesqueira do Brasil, onde há anexado a festa o Festival de Frutos do Mar Capixaba, no distrito de Itaipava. Reúne mais de 50 mil pessoas por dia, onde tem a oportunidade de experimentar tradicionais pratos em frente ao mar, além da tradicional volta dos barcos, em que percorrem a ilha dos Franceses e o preparo do Peixe no Rolete. Há também a tradicional festa de Corpus Christi, realizada por volta dos meses de maio e junho, onde em Castelo são confeccionados tapetes artesanais em um perímetro aproximado de um quilômetro pelo entorno do centro da cidade. Esse tapetes com vários quadro e passadeiras de desenho e muito colorido são de inspiração religiosa e feitos basicamente de flores, serragem colorida e grãos. Outro importante evento é a Festa do Cafona, em Colatina, evento que reúne pessoas de todo o Brasil, que se vestem de forma inusitada e propositalmente ridícula para ouvir músicas com letras provocativas e também ridículas e fazerem coisas bizarras e obscenas. Também há o Festival de Alegre, na cidade de Alegre, importante evento do cenário musical nacional, reúne as maiores e mais populares bandas brasileiras e as vezes, até bandas estrangeiras. Há também a tradicional e italiana Festa da Polenta realizada em Venda Nova do Imigrante. O maior rodeio do estado é o de Ibiraçu, onde a um encontro de música sertaneja. O Festival de Inverno de Domingos Martins e a Festa do Vinho, são os maiores eventos da região serrana do estado.
Há também várias manifestações culturais importantes, como a festa de Exposição Municipal Afonso-Claudense e a festa do Afonso-Claudense Ausente e Presente, que comemora o aniversário do município de Afonso Cláudio; o Boi Pintadinho, em Muqui; a Sömmerfest em Domingos Martins; a Festa do Imigrante em Santa Teresa; a Festa do Morango em Domingos Martins; a Festa de São Benedito, na cidade de Serra; e a Festa da Penha, maior festa religiosa do estado que reúne cerca de 900 mil fiéis durante a Semana Santa, no Convento da Penha em Vila Velha, durante o período são celebradas muitas missas e romarias.
Na capital acontece o desfile das escolas de samba capixabas, que reúne no Sambão do Povo, como é conhecido o Sambódromo Capixaba, mais de cinquenta mil pessoas, fora os que desfilam, prestigiam as 14 escolas da Grande Vitória que desfilam em três dias de muita festa e animação. O desfile das escolas de samba capixabas acontece sempre uma semana antes do carnaval oficial e tem como atual campeã a Independentes de Boa Vista. A Liga Espírito-santense de Escolas de Samba (LIESES) é o órgão organizador dos desfiles em parceria com a prefeitura. Depois de dois anos em grupo único, os desfiles voltarão, em 2011, a serem divididos em dois grupos que desfilarão em 3 dias distintos.
Esportes.
No setor esportivo, a secretaria responsável por atuar nessa área é a "Secretaria de Esportes e Lazer", que tem como secretário Vanderson Alonso Leite, apelidado de Vandinho, natural de Baixo Guandu e formado em administração com ênfase em análise de sistemas. O estado é sede de diversos clubes de futebol conhecidos nacionalmente, como, por exemplo, o Rio Branco Atlético Clube, a Desportiva Ferroviária, Sociedade Desportiva Serra Futebol Clube e o Vitória Futebol Clube. O Campeonato Capixaba de Futebol é organizado pela Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo e realizado ininterruptamente desde 1917, sendo um dos mais antigos torneios de futebol organizados no Brasil. O estado possui diversos estádios de futebol, como o Salvador Venâncio da Costa, o Governador Bley (todos em Vitória), o Mário Monteiro (em Cachoeiro do Itapemirim), o Engenheiro Alencar de Araripe (em Cariacica), o Municipal Justiniano de Mello e Silva (em Colatina), entre muitos outros. Em 2010, segundo a Confederação Brasileira de Futebol, o estado aparece na décima-quinta colocação no ranking nacional das federações estaduais.
Outros esportes também têm popularidade no estado. No vôlei, o órgão responsável pela atuação no esporte é a Federação Espírito-Santense de Voleibol, que possui diversos clubes filiados e organiza todos os torneios oficiais que envolvam as equipes do estado. No basquete, a federação responsável é a Federação Capixaba de Basquetebol. No skate, existe a Associação Capixaba de Skate (ACSK) responsável pela organização de eventos e afins relacionados ao esporte. Todos os anos, o estado realiza os "Jogos Escolares do Espírito Santo", evento da secretaria de esportes do governo estadual, que reúne diversas modalidades esportivas.
No estado nasceram os medalhistas olímpicos Esquiva Falcão e Yamaguchi Falcão no boxe, os medalhistas em Mundiais de Natação João Gomes Júnior e Daiene Dias, além do três vezes finalista da NBA Anderson Varejão, no basquete.
Feriados.
No Espírito Santo, é considerado feriado estadual o dia dedicado à Padroeira do Estado, Nossa Senhora da Penha, que acontece no oitavo dia posterior ao domingo de Páscoa. O dia da Colonização do solo espírito-santense, no dia 23 de maio, é considerado ponto facultativo em alguns municípios.
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776 | Estatística | Estatística
Estatística é a ciência que utiliza as teorias probabilísticas para explicar a frequência da ocorrência de eventos, tanto em estudos observacionais quanto em experimentos para modelar a aleatoriedade e a incerteza de forma a estimar ou possibilitar a previsão de fenômenos futuros, conforme o caso.
Se dedica à coleta, análise e interpretação de dados e preocupa-se com os métodos de coleta, organização, resumo, apresentação e interpretação dos dados, assim como tirar conclusões sobre as características das fontes donde estes foram retirados, para melhor compreender as situações.
Algumas práticas estatísticas incluem, por exemplo, o planejamento, a sumarização e a interpretação de observações. Dado que o objetivo da estatística é a produção da melhor informação possível a partir dos dados disponíveis, alguns autores sugerem que a estatística seja um ramo da teoria da decisão.
Devido às suas raízes empíricas e seu foco em aplicações, a estatística geralmente é considerada uma disciplina distinta da matemática, e não um ramo dessa.
Etimologia.
O termo "estatística" surge da expressão em latim "statisticum collegium," "palestra sobre os assuntos do Estado", de onde surgiu a palavra em língua italiana "statista", que significa "homem de estado", ou político, e a palavra alemã "Statistik", designando a análise de dados sobre o Estado. A palavra foi proposta pela primeira vez no século XVII, em latim, por Schmeitzel na Universidade de Jena e adotada pelo acadêmico alemão Godofredo Achenwall. Aparece como vocabulário na Enciclopédia Britânica em 1797, e adquiriu um significado de coleta e classificação de dados, no início do século XIX.
História.
De acordo com a Revista do Instituto Internacional de Estatística, "Cinco homens, Hermann Conring, Gottfried Achenwall, Johann Peter Süssmilch, John Graunt e William Petty já receberam a honra de serem chamados de fundadores da estatística por diferentes autores."
Alguns autores dizem que é comum encontrar como marco inicial da estatística a publicação do "Observations on the Bills of Mortality" (Observações sobre os Censos de Mortalidade, 1662) de John Graunt. As primeiras aplicações do pensamento estatístico estavam voltadas para as necessidades de Estado, na formulação de políticas públicas, fornecendo dados demográficos e econômicos. A abrangência da estatística aumentou no começo do século XIX para incluir a acumulação e análise de dados de maneira geral. Hoje, a estatística é largamente aplicada nas ciências naturais, e sociais, inclusive na administração pública e privada.
Seus fundamentos matemáticos foram postos no século XVII com o desenvolvimento da teoria das probabilidades por Pascal e Fermat, que surgiu com o estudo dos jogos de azar. O método dos mínimos quadrados foi descrito pela primeira vez por Carl Friedrich Gauss, aproximadamente no ano de 1794. O uso de computadores modernos tem permitido a computação de dados estatísticos em larga escala e também tornaram possível novos métodos antes impraticáveis.
Fundamentos.
Ligações para estatística observacional fenômeno são coletados pelos "fenômenos estatísticos".
A estatística não é uma ferramenta matemática que nos informa sobre o quanto de erro nossas observações apresentam sobre a realidade pesquisada. A estatística baseia-se na medição do erro que existe entre a estimativa de quanto uma amostra representa adequadamente a população da qual foi extraída. Assim o conhecimento de teoria de conjuntos, análise combinatória e cálculo são indispensáveis para compreender como o erro se comporta e a magnitude do mesmo. É o erro (erro amostral) que define a qualidade da observação e do delineamento experimental.
A faceta dessa ferramenta mais palpável é a "estatística descritiva". A descrição dos dados coletados é comumente apresentado em gráficos ou relatórios e serve tanto a prospecção de uma ou mais variáveis para posterior aplicação ou não de testes estatísticos bem como a apresentação de resultados de delineamentos experimentais.
Nós descrevemos o nosso conhecimento de forma matemática e tentamos aprender mais sobre aquilo que podemos observar. Isto requer:
Em algumas formas de estatística descritiva, nomeadamente mineração de dados ("data mining"), os segundo e terceiro passos tornam-se normalmente mais importantes que o primeiro.
A probabilidade de um evento é definida como um número entre zero e um.
Normalmente aproximamos a probabilidade de alguma coisa para cima ou para baixo porque elas são tão prováveis ou improváveis de ocorrer, que é fácil de reconhecê-las como probabilidade de um ou zero. Entretanto, isso pode levar a desentendimentos e comportamentos perigosos, porque é difícil distinguir entre, uma probabilidade de 10−4 e uma de 10−9, a despeito da grande diferença numérica entre elas. Por exemplo, se você espera atravessar uma estrada 105 ou 106 vezes na sua vida, definir o risco de atravessá-la em 10−9 significa que você está bem seguro pelo resto da sua vida. Entretanto, um risco de 10−4 significa que é bem provável que você tenha um acidente, mesmo que intuitivamente um risco de 0,01% pareça muito baixo.
Estatística computacional.
O crescimento rápido e sustentados no poder de processamento dos computadores a partir da segunda metade do século XX teve um forte impacto na prática da estatística. Os modelos estatísticos mais antigos eram quase sempre lineares, mas os computadores modernos, junto com algoritmos numéricos apropriados, causaram um aumento do interesse nos modelos não-lineares (especialmente redes neurais e árvores de decisão) assim como na criação de novos tipos, como o modelo linear generalizado e o modelo multi-nível.
O aumento na capacidade de computação também tem levado à popularização de métodos que demandam muitos cálculos baseados em reamostragem (em inglês e no jargão do meio "resampling"), como testes de permutação e bootstrap, enquanto técnicas como a amostragem de Gibbs tem feito com que os métodos de Bayes fiquem mais fáceis. A revolução informática também tem levado a um aumento na ênfase na estatística "experimental" e "empírica". Um grande número de softwares estatísticos, de uso tanto geral como específico estão disponíveis no mercado.
Aplicações.
Algumas ciências usam a estatística aplicada tão extensivamente que elas têm uma terminologia especializada. Estas disciplinas incluem:
Estatística forma uma ferramenta chave nos negócios e na industrialização como um todo. É utilizada a fim de entender sistemas variáveis, controle de processos (chamado de "controle estatístico de processo" ou CEP), custos financeiros (contábil) e de qualidade e para sumarização de dados e também tomada de decisão baseada em dados. Nessas funções ela é uma ferramenta chave, e é a única ferramenta segura.
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777 | Escultura | Escultura
Escultura é uma arte que representa ou ilustra imagens plásticas em relevo total ou parcial. Existem várias técnicas de trabalhar os materiais, como a cinzelação, a fundição, a moldagem ou a aglomeração de partículas para a criação de um objeto.
Vários materiais se prestam a esta arte, uns mais perenes como o bronze ou o mármore, outros mais fáceis de trabalhar, como a argila, a cera ou a madeira.
Embora possam ser utilizadas para representar qualquer coisa, ou até coisa nenhuma, tradicionalmente o objetivo maior foi sempre representar o corpo humano, ou a divindade numa forma antropomórfica. É considerada a quarta das artes clássicas.
Técnicas, formas e materiais utilizados.
Através da maior parte da história, permaneceram as obras dos artistas que utilizaram-se dos materiais mais perenes e duráveis possíveis como a pedra (mármore, pedra calcária, granito) ou metais (bronze, ouro, prata). Ou que usavam técnicas para melhorar a durabilidade de certos materiais (argila, terracota) ou que empregaram os materiais de origem orgânica mais nobres possíveis (madeiras duráveis como ébano, jacarandá, materiais como marfim ou âmbar). Mas de um modo geral, embora se possa esculpir em quase tudo que consiga manter por pelo menos algumas horas a forma idealizada (manteiga, gelo, cera, gesso, areia molhada), essas obras efêmeras não podem ser apreciadas por um público que não seja coevo.
A escolha de um material normalmente implica a técnica a se utilizar. A cinzelação, quando de um bloco de material se retira o que excede a figura utilizando ferramentas de corte próprias, para pedra ou madeira; a modelagem, quando se agrega material plástico até conseguir o efeito desejado, para cera ou argila; a fundição, quando se verte metal quente em um molde feito com outros materiais.
Modernamente, novas técnicas, como dobra e solda de chapas metálicas, moldagens com resinas, betão armado ou plásticos, ou mesmo a utilização da luz coerente para dar uma sensação de tridimensionalidade, tem sido tentadas e só o tempo dirá quais serão perenes.
Através do tempo, algumas formas especificas de esculturas foram mais utilizadas que outras: O busto, espécie de retrato do poderoso da época; a estátua eqüestre, tipicamente mostrando um poderoso senhor em seu cavalo; Fontes de água, especialmente em Roma, para coroar seus fabulosos aquedutos e onde a água corrente tinha um papel a representar; estátua, representando uma pessoa ou um deus em forma antropomórfica; Alto ou Baixo-relevo, o modo de ilustrar uma história em pedra ou metal; mobiliário, normalmente utilizado em jardins.
A escultura pelo mundo.
Índia.
As primeiras esculturas na Índia são atribuídas à civilização do vale do Indo, onde trabalhos em pedra e bronze foram descobertos, sendo uma das mais antigas esculturas do mundo. Mais tarde, com o desenvolvimento do hinduismo, do budismo, e do jansenismo, esta região produziu alguns dos mais intricados e elaborados bronzes. Alguns santuários, como o de Ellora, apresentam grandes estátuas esculpidas diretamente na rocha. Durante o século II a.C. no noroeste da Índia, onde hoje é o Paquistão e o Afeganistão, as esculturas começaram a representar passagens da vida e os ensinamentos de Buda. Embora a Índia tivesse uma longa tradição de esculturas religiosas, Buda nunca tinha sido representado na forma humana antes, apenas por símbolos. Este fato reflete já uma influencia artística persa e grega na região. A Índia influenciou ainda, através do budismo, boa parte da Ásia, como as existentes na localidade de Angkor, no Camboja.
China.
Artefactos chineses datam do século X a.C., mas alguns períodos selecionados tiveram destaque: Dinastia Zhou (1050-771 a.C.) produziu alguns intrincados vasos em bronze fundido; Dinastia Han (206-220 a.C.) apresentou o espectacular "Exército de terracota" de Xian, em tamanho natural, defendendo a tumba do imperador; As primeiras esculturas de influencia budista aparecem no período dos "Três reinos" (século III); Dinastia Wei (séculos V e VI) nos da a escultura dos "Gigantes grotescos", reconhecidas por suas qualidades e elegância. O período considerado a idade de ouro da China é a Dinastia Tang, com suas esculturas budistas, algumas monumentais, considerados tesouros da arte mundial.
Após este período a qualidade da escultura chinesa caiu muito. É interessante notar que a arte chinesa não tem nus, como é comum na arte ocidental, à exceção de pequenas estátuas para uso dos médicos tradicionais. Também tem poucos retratos, exceto nos mosteiros, onde eram mais comuns. E nada do que se produziu após a Dinastia Ming (após o século XVII) foi reconhecido como bom pelos museus e colecionadores de arte. No século XX a influencia do realismo socialista de origem soviética arruinou o que restava da arte chinesa. Espera-se que o ressurgimento e abertura para o mundo ocidental traga a arte chinesa ao seu lugar de mérito.
Japão.
Os japoneses faziam muitas estátuas associadas a religião, a maioria sob patrocínio do governo. Notáveis foram as chamadas ‘’haniva’’, esculturas em argila colocadas sobre tumbas, no período ‘’Kofun’’. A imagem em madeira do século IX de ‘’Shakyamuni’’, um Buda histórico é a típica escultura da era ‘’Heian’’, com seu corpo curvado, coberto com um denso drapeado e com uma austera expressão facial. A escola Key criou um novo estilo, mais realista.
Américas.
Existem poucos exemplares de esculturas pré-colombianas no continente americano, entre elas as famosas estátuas da Ilha de Páscoa, algumas esculturas, principalmente em alto-relevo, decorando edificações Maia e Asteca do Peru ao México e algumas peças primitivas em madeira ou argila, geralmente com significado religioso, dos povos nativos de toda América.
No restante, só se começou a produzir arte a partir do século XVI, já sob influência do Barroco, com destaque para imagens religiosas em madeira, terracota e pedra macia nos locais de influência católica. Nos países de religião protestante, por sua maior resistência ao uso religioso de imagens, foi mais tardio o aparecimento de artistas, entrando diretamente no Neoclássico por influência da cultura europeia. A partir daí, com a facilidade de transporte e comunicações, a arte nas Américas ficou muito semelhante à desenvolvida na Europa.
A escultura popular em argila do Nordeste brasileiro, as obras em madeira e argila dos povos da Amazônia, figuras religiosas em todas as regiões católicas da América também possuem sua relevância no contexto atual.
África.
A arte da África tem uma ênfase especial pela escultura, especialmente em ébano e outras madeiras nobres. Além das divindades antropomórficas, tem especial interesse as máscaras rituais. As esculturas mais antigas são da cultura de Noque (cerca de ), no território onde atualmente se encontra a Nigéria.
Antigo Egito.
A escultura no Antigo Egito visava dar uma forma física aos deuses e seus representantes na terra, os faraós. Regras rígidas deviam ser seguidas: homens eram mais escuros que mulheres; as mãos de figuras sentadas deveriam estar nos joelhos; e cada deus tinha suas regras especificas de representação. Por esse motivo, poucas modificações ocorreram em mais de três mil anos, embora tivessem resultado em peças maravilhosas como a cabeça de Nefertiti ou a máscara mortuária de Tutancâmon.
Europa.
A Grécia clássica é com certeza o berço ocidental da arte de esculpir, desde seus primeiros artefatos a partir do século X a.C., em mármore ou bronze, até o apogeu da era de Péricles (século V a.C.), com as esculturas da Acrópole de Atenas. Foi também quando alguns escultores começaram a receber reconhecimento individual, como Fídias. Produziu obras impares, como a Vitória de Samotrácia, os mármores de Elgin ou a Vénus de Milo.
A partir dos gregos, os romanos, depois de um começo na tradição etrusca, abraçaram a cultura clássica e continuaram a produzir esculturas até o fim do império, numa escala monumental e numa quantidade impressionante, espalhando principalmente o trabalho em mármore por todo o império.
Após o fim do império e a idade média, onde pouco se fez, tivemos algumas esculturas góticas (séculos XII e XIII), basicamente como decoração de igrejas, como a porta da catedral de Chartres, arte fúnebre com suas tumbas elaboradas e as famosas gárgulas.
Tudo pareceu culminar no Renascimento, com mestres como Donatello e seu "Davi" em bronze, a estátua eqüestre do "Gattamelata" ou suas inúmeras esculturas em mármore, abrindo caminho para a obra maior de Michelangelo, com seu magnífico "David" em mármore, a Pietá, ou Moisés. Provavelmente o "David" de Florença seja a escultura mais famosa do mundo desde que foi revelada em 8 de setembro de 1504. É um exemplo do contrapposto, estilo de posicionar figuras humanas.
Quando Benvenuto Cellini criou um saleiro em ouro e ébano em 1540, mostrando Netuno e Anfitrite em formas alongadas e posições desconfortáveis, transformou o Naturalismo e criou a obra maior do Maneirismo que em sua forma mais exagerada virou o Barroco, que acrescenta elementos exteriores, como efeitos de iluminação. Bernini foi sem duvida o mais importante escultor desse período, com obras como O Êxtase de Santa Teresa.
Após os excessos do Barroco, o Neoclassicismo é uma volta ao modelo helenista clássico, antes dos anos confusos do Modernismo, que teve a magnífica obra em bronze do francês Auguste Rodin e seu "O Pensador", e depois enterrou a tradição clássica com o Cubismo, o Futurismo, o Minimalismo, as Instalações e a Pop Art.
Algumas das obras de escultura mais famosas são:
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778 | Estrela (desambiguação) | Estrela (desambiguação)
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779 | Euclides | Euclides
Euclides de Alexandria (; ) foi um professor, matemático platónico e escritor grego, muitas vezes referido como o "Pai da Geometria". Além de ter escrito sua principal obra, "Os Elementos", também escreveu sobre rigor, teoria dos números, proporções, perspectivas, óptica, seções cônicas, geometria esférica e astronomia. Ficou conhecido por suas contribuições matemáticas e por sua habilidade de escrever e ensinar, sendo considerado um grande didata.
Assim como muitos matemáticos gregos antigos, a vida de Euclides é em grande parte desconhecida. Ele é reconhecido como o autor de quatro tratados em grande parte existentes - "Os Elementos", Óptica, Dados, Fenômenos - mas além disso, nada se sabe com certeza sobre ele. O historiador Carl Benjamin Boyer observou uma ironia em que "considerando a fama do autor e do seu best-seller ["Os Elementos"], surpreendentemente pouco se sabe sobre Euclides". A narrativa tradicional segue principalmente a conta do século V d.C. feita por Proclus em seu Comentário sobre o Primeiro Livro dos Elementos de Euclides, além de algumas anedotas de Papo de Alexandria no início do século IV. Segundo Proclus, Euclides viveu depois do filósofo Platão e antes do matemático Arquimedes (287 a.C.); especificamente, Proclus colocou Euclides durante o reinado de Ptolomeu I (reinado de 305 a.C a 282 a.C). Em sua "Coleção", Papo indica que Euclides foi ativo em Alexandria, onde fundou uma tradição matemática. Assim, o esboço tradicional - descrito pelo historiador Michalis Sialaros como a "visão dominante" - sustenta que Euclides viveu por volta de 300 a.C. em Alexandria enquanto Ptolemeu I reinava.
Euclides é a versão portuguesa da palavra grega Εὐκλείδης, que significa "Boa Glória".
Vida.
Pouco se sabe sobre a vida de Euclides pois há apenas poucas referências fundamentais a ele, tendo sido escritas séculos depois que ele viveu, por Proclo e Papo de Alexandria. Proclo apresenta Euclides apenas brevemente no seu "Comentário sobre os Elementos", escrito no , onde escreve que Euclides foi o autor de "Os Elementos", que foi mencionado por Arquimedes e que, quando perguntou a Euclides se não havia caminho mais curto para a geometria que "Os Elementos", ele respondeu: "não há estrada real para a geometria". Embora a suposta citação de Euclides por Arquimedes foi considerada uma interpolação por editores posteriores de suas obras, ainda se acredita que Euclides escreveu suas obras antes das de Arquimedes. Além disso, a anedota sobre a "estrada real" é questionável, uma vez que é semelhante a uma história contada sobre Menecmo e Alexandre, o Grande. Na outra única referência fundamental sobre Euclides, Papo mencionou brevemente no século IV que Apolônio "passou muito tempo com os alunos de Euclides em Alexandria, e foi assim que ele adquiriu um hábito de pensamento tão científico". Também se acredita que Euclides pode ter estudado na Academia de Platão, na Grécia.
As datas de nascimento (inclusive o local) e morte (inclusive suas circunstâncias) de Euclides são desconhecidas e estimadas pela comparação com as figuras contemporâneas mencionadas nas referências. Nenhuma imagem ou descrição da aparência física de Euclides foi feita durante sua vida portanto as representações de Euclides em obras de arte são os produtos da imaginação artística.
Convidado por Ptolomeu I para compor o quadro de professores da recém fundada Academia, que tornaria Alexandria o centro do saber da época, tornou-se o mais importante autor de matemática da Antiguidade greco-romana e talvez de todos os tempos, com seu monumental "Stoichia" ("Os elementos", ).
Depois da queda do Império Romano, os seus livros foram recuperados para a sociedade europeia pelos estudiosos muçulmanos da Península Ibérica. Escreveu ainda "Optica" (295 a.C.), sobre a óptica da visão e sobre astrologia, astronomia, música e mecânica, além de outros livros sobre matemática. Entre eles citam-se "Lugares de superfície", "Pseudaria", "Porismas" e mais algumas outras.
Algumas das suas obras como "Os elementos", "Os dados" (uma espécie de manual de tabelas de uso interno na Academia e complemento dos seis primeiros volumes de Os Elementos), "Divisão de figuras" (sobre a divisão geométrica de figuras planas), "Os Fenômenos" (sobre astronomia), e "Óptica" (sobre a visão), sobreviveram parcialmente e hoje são, depois de "A Esfera" de Autólico, os mais antigos tratados científicos gregos existentes. Pela sua maneira de expor nos escritos deduz-se que tenha sido um habilíssimo professor.
"Os Elementos".
A obra "Os Elementos", atribuída a Euclides, é uma das mais influentes na história da matemática, servindo como o principal livro para o ensino de matemática (especialmente geometria) desde a data da sua publicação até o fim do século XIX ou início do século XX. Nessa obra, os princípios do que é hoje chamado de geometria euclidiana foram deduzidos a partir de um pequeno conjunto de axiomas.
Euclides concluiu o seu compêndio aproximadamente no ano , efusivamente replicado na forma de manuscritos pelos monges copistas. Desde a maior invenção do segundo milênio, a imprensa de Gutenberg, passou de mil edições, sendo a publicação de 1482, em Veneza, considerada a primeira delas. Escrito originalmente em grego, constitui-se em uma compilação metódica e ordenada de 465 proposições, tendo como característica o rigor das demonstrações, o encadeamento lógico dos teoremas, axiomas e postulados e muita clareza na exposição. Sua proposta é uma geometria dedutiva, despreocupada das aplicações práticas, em contraste com a Geometria egípcia de caráter indutivo e pragmático.
A obra é composta por treze volumes, sendo:
Escrita em grego, a obra cobre toda a aritmética, a álgebra e a geometria conhecidas até então no mundo grego, reunindo o trabalho de predecessores de Euclides, como Hipócrates e Eudóxio. Sistematizou todo o conhecimento geométrico dos antigos, intercalando os teoremas já então conhecidos com a demonstração de muitos outros, que completavam lacunas e davam coerência e encadeamento lógico ao sistema por ele criado. Após sua primeira edição foi copiado e recopiado inúmeras vezes, tendo sido traduzido para o árabe em 774. A obra possui mais de mil edições desde o advento da imprensa, sendo a sua primeira versão impressa datada de 1482 (Veneza, Itália). Essa edição foi uma tradução do árabe para o latim. Tem sido − segundo George Simmons − “considerado como responsável por uma influência sobre a mente humana maior que qualquer outro livro, com exceção da Bíblia".
Embora muitos dos resultados descritos em "Os Elementos" originarem-se em matemáticos anteriores, uma das reconhecidas habilidades de Euclides foi apresentá-los em uma única estrutura logicamente coerente, tornando-a de fácil uso e referência, incluindo um sistema rigoroso de provas matemáticas que continua a ser a base da matemática 23 séculos mais tarde.
Não há menção de Euclides nas primeiras cópias ainda remanescentes de "Os Elementos", e a maioria das cópias dizem que são "a partir da edição de Teão" ou as "palestras de Teão", enquanto o texto considerado primário, guardado pelo Vaticano, não menciona qualquer autor. A única referência que os historiadores se baseiam para Euclides ter escrito "Os Elementos" veio de Proclo, que brevemente em seu "Comentário sobre Os Elementos" atribui Euclides como o seu autor. Euclides foi a peça chave em toda a história da Geometria.
Contribuição para a física.
Os estudos de Euclides sobre a geometria da visão foi a primeira elaboração em torno da atualmente denominada óptica geométrica.
Diferentemente das análises filosóficas e de suas suposições físicas sobre a natureza da visão, as quais eram isentas de qualquer consideração geométrica, a óptica de Euclides fundamentou-se na análise geométrica da visão e, à primeira vista, parece desprovida de qualquer consideração física acerca da operação da visão. Noções como a cor, a luz ou o transparente, a forma sensível, a luz solar, a natureza do olho e a estrutura física dos órgãos sensoriais envolvidos na visão estão excluídas da óptica de Euclides, uma vez que essas entidades não poderiam ser geometricamente analisáveis, ou melhor, não poderiam ser tratadas pela sua geometria.
A análise geométrica da visão elaborada por Euclides supõe uma teoria física mínima acerca da operação da visão e funda-se na redução da visão a um modelo geométrico, no qual o campo visual é tomado como uma coleção, ou agregado, de “raios visuais” concebidos como linhas retas geométricas discretas e divergentes, as quais aparecem como o último termo da análise. Essa coleção de linhas retas “visuais” divergentes, em cuja origem encontra-se o olho, assume a forma de um cone geométrico, conhecido na tradição como “cone visual”, em cuja base encontra-se a figura daquilo que é visto, isto é, a superfície interceptada pelo feixe divergente de linhas retas visuais – entidades estas que possuem uma natureza híbrida, geométrico-sensível.
O que aparece ao olho é determinado como uma função das propriedades e relações geométricas que são derivadas dessa construção, a qual, ao reduzir o cone visual a uma projeção plana que resulta em triângulos definidos por um vértice situado no olho e por dois raios visuais que unem as extremidades daquilo que é visto, permite calcular a aparência do tamanho, da figura e do movimento daquilo que é visto. Essa construção da estrutura geométrica do “cone visual” é delineada por Euclides quando postula que o aspecto retilíneo dos raios visuais, o cone visual constituído pela divergência desses raios visuais discretos e a condição geral da visibilidade ou seja, que para ser visto, um objeto deve ser interceptado pela radiação ocular.
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780 | Eusebiozinho | Eusebiozinho
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781 | Edwin Willis | Edwin Willis
Edwin O’Neill Willis (Russellville, — Rio Claro, ) foi um ornitólogo norte-americano, professor de zoologia na Universidade Estadual Paulista em Rio Claro.
Willis pesquisou aves nos Estados Unidos, Panamá, Colômbia, Peru, na Amazônia e em todo o Brasil. Ele foi um dos mais destacados cientistas da ornitologia brasileira.
Biografia.
Willis se graduou em biologia no Instituto Politécnico da Virgínia em 1956 e em 1958 concluiu mestrado em zoologia na Universidade do Estado da Louisiana. Em 1964 concluiu o doutorado em zoologia na Universidade da Califórnia de Berkeley. Depois ele fez pós-doutorado no Museu Americano de História Natural, em 1966.
Passou a residir no Brasil, onde lecionou na Unicamp e casou-se com a também ornitóloga Yoshika Oniki. Eles publicaram em 2003 o livro "Aves do estado de São Paulo", em que descrevem todas as espécies de aves do estado de São Paulo e apresentam pranchas coloridas de cada ave, feitas por Tomas Sigrist. Também com Oniki, Willis publicou o livro "Bibliography of Brazilian Birds": "1500-2002", em que relacionam todas as obras sobre aves do Brasil publicadas ao longo de cinco séculos.
Willis era professor titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e se aposentou em 2005. Ele foi um grande especialista em zoologia, especialmente comportamento animal. Ele publicou inúmeros trabalhos sob espécies de Thamnophilidae, Dendrocolaptidae e a ecologia das aves que seguem formigas-de-correição. Sua extensa obra expandiu o conhecimento científico sobre a ecologia de inúmeras aves dos neotrópicos.
Homenagens.
"Willisornis" é um gênero de ave que homenageia Willis pelas suas contribuições ao conhecimento da família Thamnophilidae.
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782 | Conjunção lógica | Conjunção lógica
A conjunção é uma operação na lógica matemática, que pode ser ligada à operação de interseção de conjuntos. A conjunção é representada pelo conectivo lógico ∧, e em programação por AND ou && que = a letra E
Ex:
João ∧ Maria vão ao shopping
A conjunção lógica pode ainda ser representada pelo símbolo do produto.
Definição.
Em lógica binária, ocorrem apenas dois estados:
A conjunção é uma operação que verifica a seguinte tabela de verdade:
ou de forma equivalente
Portanto pode ainda ser representada pela multiplicação, que dá o mesmo resultado, se a e b forem 0 ou 1.
Outra interpretação é a da lógica fuzzy, que generaliza pela equivalência com o mínimo(a,b).
Interseção de conjuntos.
A operação de conjunção lógica está ainda relacionada com a interseção de conjuntos.
Um elemento está na intersecção dos conjuntos apenas se for verdade que está em ambos.
Segue a representação dessa operação no diagrama de Venn.
Conjunção semântica.
A operação lógica da conjunção funciona da mesma forma que a conjunção semântica e.
Suponham-se duas frases quaisquer:
A conjunção só é verdadeira se ambas as frases forem. Se não estiver chovendo, a conjunção é falsa (se não estiver dentro de casa, também).
Convém notar que na linguagem vulgar a conjunção "e" pode ter um significado aditivo, não relacionado com o significado lógico.
Propriedades.
A conjunção relaciona dois valores, mas usando o seu resultado podem ser feitas operações com mais valores.
Com uma tabela de verdade pode demonstrar-se a propriedade associativa
e portanto neste caso basta escrever
sem necessidade de parentesis, já que o resultado é o mesmo.
A conjunção lógica tem diversas propriedades. Destacam-se:
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783 | Evolução | Evolução
Na biologia, Evolução (também conhecida como evolução biológica, genética ou orgânica) é a mudança das características hereditárias de uma população de seres vivos de uma geração para outra. Este processo faz com que as populações de organismos mudem e se diversifiquem ao longo do tempo. O termo "evolução" pode referir-se à evidência observacional que constitui o fato científico intrínseco à teoria da evolução biológica, ou, em acepção completa, à teoria em sua completude. Uma teoria científica é por definição um conjunto indissociável de todas as evidências verificáveis conhecidas e das ideias testáveis e testadas àquelas atreladas.
Do ponto de vista genético, a evolução pode ser definida como qualquer alteração no número de genes ou na frequência dos alelos de um ou um conjunto de genes em uma população e ao longo das gerações. Mutações em genes podem produzir características novas ou alterar as que já existiam, resultando no aparecimento de diferenças hereditárias entre organismos. Estas novas características também podem surgir pela transferência de genes entre populações, como resultado de migração, ou entre espécies, resultante de transferência horizontal de genes. A evolução ocorre quando estas diferenças hereditárias tornam-se mais comuns ou raras numa população, quer de maneira não-aleatória, através de seleção natural, ou aleatoriamente, através de deriva genética.
A seleção natural é um processo pelo qual características hereditárias que contribuem para a sobrevivência e a reprodução se tornam mais comuns numa população, enquanto características prejudiciais tornam-se mais raras. Isto ocorre porque indivíduos com características vantajosas têm mais sucesso na reprodução, de modo que mais indivíduos na próxima geração herdem tais características. Ao longo de muitas gerações, adaptações ocorrem através de uma combinação de mudanças sucessivas, pequenas e aleatórias nas características, mas significativas em conjunto, em virtude da seleção natural dos variantes mais adequados - adaptados - ao seu ambiente. Em contraste, a deriva genética produz mudanças aleatórias na frequência das características numa população. A deriva genética reflete o papel que o acaso desempenha na probabilidade de um determinado indivíduo sobreviver e reproduzir-se. Na década de 1930, a seleção natural darwiniana foi combinada com a hereditariedade mendeliana em uma síntese moderna, onde foi feita a ligação entre as "unidades" de evolução - os genes - e o "mecanismo" central de evolução - fundado na deriva genética e seleção natural. Tal teoria, denominada Síntese Evolutiva Moderna e detentora de um grande poder preditivo e explanatório, por oferecer uma unificadora e inigualável explicação natural para toda a diversidade da vida na Terra, tornou-se o pilar central da biologia moderna.
Uma espécie pode ser definida como o agrupamento dos espécimes capazes de compartilhar material genético - usualmente por via sexuada - a fim de reproduzirem-se gerando descendência fértil. No entanto, quando uma espécie é separada em várias populações que por algum motivo não mais se possam cruzar, mecanismos como mutações, deriva genética e a selecção de características novas provocam a acumulação de diferenças ao longo de gerações, diferenças que, acumuladas, podem implicar desde curiosidades biológicas como os denominados anéis de espécies até a emergência de espécies novas e distintas. As semelhanças entre organismos sugere que todas as espécies conhecidas descenderam de um ancestral comum (ou "pool" genético ancestral) através deste processo de divergência gradual.
Estudos do registro fóssil permitem reconstruir de forma satisfatória e precisa o processo de evolução da vida na Terra, desde os primeiros registros de sua presença no planeta - que datam de 3,4 mil milhões de anos atrás - até hoje. Tais fósseis, juntamente com o reconhecimento da fabulosa diversidade de seres vivos atrelada - a grande maioria hoje extinta - já em meados do século dezenove mostravam aos cientistas que as espécies encontram-se cronologicamente relacionadas, e que essas mudam ao longo do tempo. Contudo, os mecanismos que levaram a estas mudanças permaneceram pouco claros até o reconhecimento científico de que o próprio planeta tem uma história geológica muito rica - implicando mudanças ambientais constantes - e até a publicação do livro de Charles Darwin - "A Origem das Espécies" - detalhando a teoria de evolução por selecção natural. O trabalho de Darwin levou rapidamente à aceitação da evolução pela comunidade científica.
Hereditariedade.
A herança em organismos ocorre por meio de caracteres discretos – características particulares de um organismo. Em seres humanos, por exemplo, a cor dos olhos é uma característica herdada dos pais. As características herdadas são controladas por genes e o conjunto de todos os genes no genoma de um organismo é o seu genótipo.
O conjunto das características observáveis que compõem a estrutura e o comportamento de um organismo é denominado o seu fenótipo. Estas características surgem da interação do genótipo com o ambiente. Desta forma, não são todos os aspectos de um organismo que são herdados. O bronzeamento da pele resulta da interação entre o genótipo de uma pessoa e a luz do sol; assim, um bronzeado não é hereditário. No entanto, as pessoas têm diferentes respostas à radiação solar, resultantes de diferenças no seu genótipo; um exemplo extremo são os indivíduos com a característica hereditária do albinismo, que não se bronzeiam e são altamente sensíveis a queimaduras de sol, devido à inexistência do pigmento melanina na pele.
Os genes são regiões nas moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA) que contêm informação genética. O DNA é uma molécula comprida com quatro tipos de bases ligadas umas às outras. Genes diferentes apresentam uma sequência diferente de bases; é a sequência destas bases que codifica a informação genética. Dentro das células, as longas cadeias de DNA estão associadas com proteínas formando estruturas chamadas cromossomas. Um local específico dentro de um cromossoma é conhecido como locus. Uma vez que normalmente existem duas cópias do mesmo cromossoma no genoma, os locus correspondentes em cada um destes (cuja sequência de DNA pode ser igual ou diferente) são denominados alelos. As sequências de DNA podem mudar através de mutações, produzindo novos alelos. Se uma mutação ocorrer dentro de um gene, o novo alelo pode afectar a característica que o gene controla, alterando o fenótipo de um organismo. No entanto, enquanto que esta simples correspondência entre alelo e uma característica funciona em alguns casos, a maioria das características são mais complexas e são controladas por múltiplos genes que interagem uns com os outros.
Variação.
Como o fenótipo de um indivíduo resulta da interação de seu genótipo com o ambiente, a variação nos fenótipos de uma população reflete, em certa medida, a variação nos genótipos dos indivíduos. A síntese evolutiva moderna define evolução como a mudança nas frequências gênicas ao longo do tempo, ou seja, a flutuação na frequência de um ou mais alelos, se tornando mais ou menos prevalecente relativamente a outras formas do mesmo gene. Forças evolutivas atuam direcionando essa mudança de diferentes formas. A variação em determinado locus desaparece quando algum alelo se fixa na população, ou seja, quando um mesmo alelo passa a estar presente em todos os indivíduos.
A origem de toda a variação genética são mutações no material genético. Essa variação pode ser reorganizada por meio da reprodução sexuada, e distribuída entre populações por meio de migração. A variação também pode vir de trocas de genes entre espécies diferentes, como por exemplo na transferência horizontal de genes em bactérias, e hibridização, principalmente em plantas. Apesar da constante introdução de variação por meio desses processos, a maior parte do genoma de uma espécie é idêntica em todos os indivíduos. No entanto, até mesmo relativamente poucas mudanças no genótipo podem levar a mudanças dramáticas no fenótipo: chimpanzés e humanos possuem apenas cerca de 5% de diferença em seu genoma.
Mutação.
A variação genética se origina de mutações aleatórias que ocorrem no genoma dos organismos. Mutações são mudanças na sequência dos nucleotídeos do genoma de uma célula, sendo causadas por radiação, vírus, transposons e substâncias químicas mutagênicas, assim como erros que ocorrem durante a meiose ou replicação do DNA. Esses agentes produzem diversos tipos de mudança nas sequências de DNA, que podem ser sem efeito, podem alterar o produto de um gene, ou alterar o quanto um gene é produzido. Estudos com a mosca-das-frutas, "Drosophila melanogaster", apontam que cerca de 70% das mutações são deletérias (prejudiciais), sendo as restantes neutras (sem efeito) ou com pequeno efeito benéfico. Devido aos efeitos danosos das mutações sobre o funcionamento das células, os organismos desenvolveram ao longo do tempo evolutivo mecanismos responsáveis pelo reparo do DNA para remover mutações. Assim, a taxa ótima de mutação é resultado do balanço entre as demandas conflitantes de reduzir danos a curto prazo, como risco de câncer, e aumentar os benefícios a longo prazo de mutações vantajosas.
Grandes porções de DNA também podem ser duplicadas, fenômeno que funciona como fonte de material para a evolução de novos genes, sendo estimado que dezenas a centenas de genes são duplicados nos genomas de animais a cada milhão de anos. A grande maioria dos genes pertence a famílias de genes homólogos, que partilham um ancestral comum, de forma semelhante ao que ocorre com linhagens de espécies. Novos genes podem ser produzidos tanto por duplicação e mutação de um gene ancestral como por recombinação de partes de genes diferentes para formar novas combinações com funções distintas. Por exemplo, quatro dos genes utilizados no olho humano para a produção de estruturas responsáveis pela percepção de luz, derivam de um ancestral comum, sendo que três desses genes atuam na visão em cores e um na visão noturna. Uma vantagem na duplicação de genes (ou mesmo de genomas inteiros por poliploidia) é que sobreposição ou redundância funcional em vários genes pode permitir que alelos que seriam deletérios sem essa redundância sejam mantidos na população, aumentando assim a diversidade genética.
Mudanças em número de cromossomos também podem envolver a quebra e rearranjo de DNA entre cromossomos. Por exemplo, no gênero "Homo", dois cromossomos se fundiram, formando o cromossomo 2 humano. Essa fusão não ocorreu na linhagem dos outros grandes primatas (orangotango, chimpanzé, e gorila), e eles mantêm esses cromossomos separados. O papel mais importante desse tipo de rearranjo dos cromossomos na evolução pode ser o de acelerar a divergência de uma população em novas espécies, por meio de uma redução na chance de cruzamento entre as populações, preservando as diferenças genéticas entre elas.
Sequências de DNA que têm a capacidade de se mover pelo genoma, como transposons, constituem uma fração significativa do material genético de plantas e animais, e podem ter sido importantes na evolução de genomas. Por exemplo, mais de um milhão de cópias de um padrão denominado sequência Alu estão presentes no genoma humano, e tem sido demonstrado que essas sequências podem desempenhar um papel da regulação da expressão gênica. Outro efeito dessas sequências de DNA é que, ao se moverem dentro do genoma, elas podem mudar ou deletar genes existentes, gerando assim diversidade genética.
Recombinação.
Em organismos de reprodução assexuada, os genes são herdados todos juntos, ou ligados, dado que eles não podem se misturar com genes de outros organismos durante a reprodução. Por outro lado, a prole de organismos sexuados contêm uma mistura aleatória dos cromossomos de seus pais, produzida por meio da segregação independente durante a meiose. No processo relacionado de recombinação gênica, organismos sexuados também podem trocar DNA entre cromossomos homólogos. Esses processos de embaralhamento podem permitir que mesmo alelos próximos numa cadeia de DNA segreguem independentemente. No entanto, como ocorre cerca de um evento de recombinação para cada milhão de pares de bases em humanos, genes próximos num cromossomo geralmente não são separados, e tendem a ser herdados juntos. Essa tendência é medida encontrando-se com qual frequência dois alelos ocorrem juntos, medida chamada de desequilíbrio de ligação. Um conjunto de alelos que geralmente é herdado em grupo é chamado de haplótipo, e essa co-herança pode indicar que o locus está sob seleção positiva (veja abaixo).
A recombinação em organismos sexuados ajuda a remover mutações deletérias e manter mutações benéficas. Consequentemente, quando alelos não podem ser separados por recombinação - como no cromossomo Y humano, que passa intacto de pais para filhos - mutações deletérias se acumulam. Além disso, a recombinação pode produzir indivíduos com combinações de genes novas e vantajosas. Esses efeitos positivos da recombinação são balanceados pelo fato de que esse processo pode causar mutações e separar combinações benéficas de genes. A taxa ótima de recombinação para uma espécie é, portanto, o resultado do balanço entre essas demandas conflitantes.
Transferência horizontal de genes.
A transferência horizontal de genes é um processo pelo qual um organismo transfere material genético para outra célula que não a sua prole, em contraste à transferência vertical em que um organismo recebe material genético de seu ancestral. A maior parte do pensamento em genética tem se focado na transferência vertical, mas recentemente a transferência horizontal tem recebido maior atenção.
Genética populacional.
De um ponto de vista genético, evolução é uma "mudança de uma geração para a outra nas frequências de alelos de uma população que compartilha um conjunto de genes". Uma população é um grupo de indivíduos pertencentes a determinada espécie e que ocupa um espaço delimitado. Por exemplo, todas as mariposas da mesma espécie que vivem numa floresta isolada representam uma população. Um determinado gene nessa população pode ter diversas formas alternativas, que respondem por variações entre os fenótipos dos organismos. Um exemplo pode ser um gene para coloração em mariposas que tenha dois alelos: preto e branco. O conjunto de todos os genes presentes em todos os organismos de uma determinada população é conhecido como fundo genético, onde cada alelo ocorre várias vezes. A fração de genes dentro desse conjunto que é um alelo em particular é uma quantidade denominada frequência alélica, ou frequência genética. A evolução ocorre quando há mudanças nas frequências de alelos de uma população de organismos intercruzantes. Por exemplo, quando o alelo para a cor preta se torna mais comum numa população de mariposas.
Para entender os mecanismos que fazem com que uma população evolua, é útil considerar quais as condições necessárias para que a população não evolua. Segundo o princípio de "Hardy-Weinberg", as frequências de alelos numa população suficientemente grande irá se manter constante apenas se as únicas forças atuando na população forem a recombinação aleatória dos alelos na formação dos gametas e a combinação aleatória dos alelos nessas células sexuais durante a fecundação. Uma população em que as frequências dos alelos é constante "não" está evoluindo: a população está em "Equilíbrio de Hardy-Weinberg".
Mecanismos.
Há três mecanismos básicos de mudanças evolutivas: selecção natural, deriva genética e fluxo génico. A selecção natural favorece genes que melhoram a capacidade para a sobrevivência e reprodução. A deriva genética é mudança aleatória na frequência de alelos, causada pela amostragem aleatória dos genes de uma geração durante a reprodução, e o fluxo génico é a transferência de genes entre (e dentro de) populações. A importância relativa da selecção natural e deriva genética numa população varia conforme a intensidade da selecção e do efectivo populacional, que é o número de indivíduos capazes de se reproduzir. A seleção natural costuma predominar em grandes populações. A predominância de derivação genética em pequenas populações é capaz até mesmo de levar a fixação de suaves mutações deletérias. Como resultado, mudanças no tamanho da população podem influenciar dramaticamente o rumo da evolução. Os efeitos de gargalo, onde a população encolhe temporariamente e portanto perde variação genética, resultam numa população mais uniforme. Efeitos de gargalo surgem também de alterações no fluxo génico tais como uma diminuição da migração, expansões para outros habitats ou subdivisão populacional.
Selecção natural.
Selecção natural é o processo pelo qual mutações genéticas que melhoram a reprodução tornam-se, ou permanecem, mais comuns em gerações sucessivas de uma população. Este mecanismo tem sido muitas vezes chamado de "autoevidente" porque segue forçosamente a partir de três simples factos:
Estas condições geram competição entre organismos para a sua sobrevivência e reprodução. Por isso, organismos com características que lhes trazem alguma vantagem sobre os seus competidores transmitem estas características vantajosas, enquanto que características que não conferem nenhuma vantagem não são passadas para a geração seguinte.
O conceito central da selecção natural é a aptidão evolutiva de um organismo. Isto mede a contribuição genética de um organismo para a geração seguinte. Contudo, não é o mesmo que o número total de descendentes: a aptidão mede a proporção de gerações subsequentes que carregam os genes de um organismo. Por consequência, se um alelo aumenta a aptidão mais do que outros alelos do mesmo gene, então em cada geração esse alelo tornar-se-á mais comum dentro da população. Diz-se que estas características são "seleccionadas "a favor"" ou "positivamente". Exemplos de características que podem aumentar a aptidão são sobrevivência melhorada e aumento da fecundidade. Pelo contrário, aptidão mais baixa causada por ter um alelo menos beneficial resulta na diminuição da frequência deste alelo; são "seleccionados "contra"" ou "negativamente". É importante notar que a aptidão de um alelo não é uma característica fixa. Se o ambiente muda, características que previamente eram neutras ou prejudiciais podem tornar-se benéficas ou vice-versa.
Selecção natural dentro de uma população, de uma característica que pode variar dentro de uma gama de valores, tal como a altura, pode ser categorizada em três tipos diferentes. A primeira é selecção direccional, que é um desvio do valor médio de uma característica ao longo do tempo - por exemplo, certos organismos que vão lentamente ficando mais altos de geração para geração. A segunda é selecção disruptiva, que é a selecção a favor de valores extremos das características e resulta frequentemente em que dois valores diferentes se tornem mais comuns, com selecção contra valores médios. Isto aconteceria quando quer indivíduos altos ou baixos têm certa vantagem, mas não os que têm altura média. Por último, existe selecção estabilizadora em que há selecção contra valores extremos das características em ambos os lados do espectro, o que causa uma diminuição da variância à volta do valor médio. Isto provocaria, usando o mesmo exemplo, que os organismos se fossem tornando todos da mesma altura.
Um caso especial de selecção natural é selecção sexual, que é selecção sobre qualquer característica que aumente o sucesso reprodutor, incrementando a capacidade de atracção de um organismo a potenciais parceiros. As características que evoluíram através de selecção sexual são particularmente proeminentes em machos de algumas espécies animais, apesar de algumas características como hastes muito elaboradas, chamamentos ou cores vivas poderem atrair predadores, diminuindo por isso a sobrevivência desses machos. Esta desvantagem é compensada pelo maior sucesso reprodutivo em machos que apresentam estas características seleccionadas sexualmente.
Uma área de pesquisa activa actualmente refere-se à unidade de selecção, com propostas de que a selecção natural actua no nível dos genes, células, indivíduos, populações ou mesmo espécies. Nenhum destes modelos são mutuamente exclusivos e a selecção pode actuar em vários níveis simultaneamente. Abaixo do nível do indivíduo, genes chamados transposões tentam copiar-se a si próprios ao longo do genoma. Selecção acima do nível do indivíduo, tal como selecção de grupo, pode permitir a evolução de cooperação, como discutido mais abaixo.
Deriva genética.
Deriva genética é a mudança na frequência alélica de uma geração para a outra que acontece porque os alelos nos descendentes são amostras aleatórias dos presentes nos progenitores. Em termos matemáticos, os alelos estão sujeitos a erros de amostragem. Como resultado disto, quando forças selectivas estão ausentes ou são relativamente fracas, frequências alélicas tendem a "andar à deriva" para cima ou para baixo ao acaso (numa caminhada aleatória). Esta deriva termina quando um alelo eventualmente fique fixado, quer por desaparecer da população, ou por substituir completamente todos os outros alelos. A deriva genética pode assim eliminar alguns alelos de uma população meramente devido ao acaso, e duas populações separadas que começaram com a mesma estrutura genética podem divergir para duas populações com um conjunto diferente de alelos.
O tempo necessário para que um alelo se fixe por deriva genética depende do tamanho da população, com a fixação acontecendo mais rapidamente em populações mais pequenas. A medida mais importante para este caso é o efectivo populacional, que foi definido por Sewall Wright como o número teórico que representa o número de indivíduos reprodutores que exibem o mesmo grau de consanguinidade.
Apesar da selecção natural ser responsável pela adaptação, a importância relativas das duas forças, selecção natural e deriva genética, como motores de mudança evolutiva em geral, é uma área de pesquisa actual em biologia evolutiva. Estas investigações foram despoletadas pela teoria neutral da evolução molecular, que propôs que a maioria das mudanças evolutivas resultam da fixação de mutações neutrais que não têm efeitos imediatos na aptidão de um organismo. Daí que, neste modelo, a maioria das mudanças genética resulte da constante pressão mutacional e deriva genética.
Fluxo génico.
Fluxo génico é a troca de genes entre populações, que são normalmente da mesma espécie. Exemplos de fluxo génico entre espécies incluem a migração seguido de cruzamento de organismos, ou a troca de pólen. A transferência de genes entre espécies inclui a formação de híbridos e transferência lateral de genes.
Migração para dentro ou para fora de uma população pode mudar as frequências alélicas. Imigração pode adicionar material genético novo para o pool genético já estabelecido de uma população. Por outro lado, emigração pode remover material genético. Barreiras à reprodução são necessárias para que as populações se tornem em novas espécies, sendo que o fluxo génico pode travar este processo, espalhando as diferenças genéticas entre as populações. Fluxo génico é impedido por barreiras como cadeias montanhosas, oceanos ou desertos ou mesmo por estruturas artificiais como a Grande Muralha da China, que tem prejudicado o fluxo de genes de plantas.
Dependendo de quanto é que duas espécies divergiram desde o seu ancestral comum mais recente, pode ainda ser possível que produzam descendência, tais como é exemplificado pelo cruzamento entre cavalos e burros, produzindo mulas. Tais híbridos são geralmente inférteis, devido à impossibilidade dos dois conjuntos de cromossomas se emparelharem durante a meiose. Neste caso, espécies próximas são capazes de se cruzar regularmente, mas os híbridos serão seleccionados contra e as espécies permanecerão separadas. Contudo, híbridos viáveis podem formar-se ocasionalmente e mesmo formar novas espécies. Estas novas espécies podem ter propriedades intermédias entre as espécies parentais ou possuir fenótipos totalmente novos. A importância da hibridização no processo de criação de novas espécies de animais não é clara, apesar de haver alguns casos conhecidos em muitos tipos de animais, sendo a espécie "Hyla versicolor" um exemplo particularmente bem estudado.
No entanto, a hibridação é um importante meio de especiação em plantas, uma vez que a poliploidia (ter mais do que duas cópias de cada cromossoma) é tolerada em plantas mais prontamente do que em animais. A poliploidia é importante em híbridos porque permite a reprodução, com cada um dos conjuntos de cromossomas capaz de emparelhar com um par idêntico durante a meiose. Os poliplóides também têm mais diversidade genética, o que permite que evitem depressão de consanguinidade em populações pequenas.
A transferência génica horizontal é a transferência de material genético de um organismo para outro que não é seu descendente. Isto é mais comum em bactérias. Em medicina, isto contribui para a disseminação de resistência a antibióticos, porque assim que uma bactéria adquire genes de resistência eles podem-se transferir rapidamente para outras espécies. Também é possível que tenha ocorrido transferência horizontal de genes de bactérias para eucariontes como a levedura "Saccharomyces cerevisiae" e para o escaravelho "Callosobruchus chinensis", por exemplo. Os vírus também podem transportar DNA entre organismos, permitindo a transferência de genes mesmo entre domínios. A transferência de genes também ocorreu entre os ancestrais das células eucarióticas e procariontes, durante a aquisição do cloroplasto e da mitocôndria.
Consequências.
A evolução influencia cada aspecto da estrutura e comportamento dos organismos. O mais proeminente é o conjunto de adaptações físicas e comportamentais que resultam do processo de seleção natural. Essas adaptações aumentam a aptidão por contribuírem com atividades como busca por alimento, defesa contra predadores ou atração de parceiros sexuais. Outro resultado possível da seleção é o surgimento de cooperação entre organismos, evidenciada geralmente no auxílio a organismos aparentados, ou em interações mutualísticas ou simbióticas. A longo prazo, a evolução produz novas espécies, por meio da divisão de populações ancestrais entre novos grupos que se tornam incapazes de intercruzarem.
Essas consequências da evolução são comummente divididas entre macroevolução, que é a evolução que ocorre acima do nível de espécies, e trata de fenómenos como a especiação, e microevolução, que trata das mudanças evolutivas que ocorrem dentro de uma espécie, como a adaptação a um ambiente específico por determinada população. Em geral, macroevolução é o resultado de longos períodos de microevolução. Assim, a distinção entre micro e macroevolução não é absoluta, havendo apenas uma diferença de tempo entre os dois processos. No entanto, na macroevolução, as características de toda a espécie é que são consideradas. Por exemplo, uma grande quantidade de variação entre indivíduos permite que uma espécie se adapte rapidamente a novos habitats, diminuindo as possibilidade de se tornar extinta, enquanto que uma grande área de distribuição aumenta a possibilidade de especiação, por fazer com que seja mais provável que parte da população fique isolada. Neste sentido, microevolução e macroevolução podem por vezes estar separadas.
Um problema conceptual muito comum é acreditar-se que a evolução é progressiva, mas a seleção natural não tem um objetivo final, e não produz necessariamente organismos mais complexos. Apesar de espécies complexas terem evoluído, isso ocorre como consequência indireta do aumento no número total de organismos, e formas de vida simples continuam sendo mais comuns. Por exemplo, a esmagadora maioria das espécies constitui-se de procariotos microscópicos, que são responsáveis por cerca de metade da biomassa do planeta, apesar de seu pequeno tamanho, e compõem uma grande parte da biodiversidade na Terra. Assim, organismos simples continuam sendo a forma de vida dominante no planeta, sendo que a formas de vida mais complexas parecem mais diversas apenas porque são mais evidentes para nós.
Adaptação.
Adaptações são estruturas ou comportamentos que melhoram uma função específica dos organismos, aumentando sua chance de sobreviver e reproduzir. Elas são produzidas por uma combinação da produção contínua de pequenas mudanças aleatórias nas características (mutações), e da selecção natural das variantes melhor ajustadas ao seu ambiente. Esse processo pode causar tanto o ganho de uma nova propriedade, como a perda de uma propriedade ancestral. Um exemplo que demonstra esses dois tipos de mudança é a adaptação bacteriana a antibióticos. Mutações que causam resistência a antibióticos podem modificar o alvo da droga ou remover os transportadores que permitem que a droga entre na célula. Outros exemplos notáveis são a capacidade adquirida pela bactéria "Escherichia coli" em utilizar o ácido cítrico como nutriente em experiências de laboratório de evolução a longo prazo, a aquisição de novas enzimas pela "Flavobacterium" que permitem que estas bactérias cresçam nos produtos da manufactura do náilon, ou a evolução na bactéria do solo "Sphingobium" de um via metabólica completamente nova que degrada o pesticida sintético pentaclorofenol. Uma interessante mas ainda controversa ideia é que algumas adaptações poderiam aumentar a capacidade dos organismos em gerar diversidade genética e adaptarem-se por seleção natural (aumentando a "evolucionabilidade" do organismo).
No entanto, muitas características que parecem ser simples adaptações podem ser exaptações: estruturas que originalmente surgiram como adaptações para desempenhar determinada função, mas que durante o processo evolutivo, coincidentemente se tornaram úteis no desempenho de uma outra função. Um exemplo é o lagarto africano "Holaspis guentheri", que desenvolveu uma cabeça extremamente fina para se esconder em pequenas cavidades, como pode ser percebido ao olhar-se para espécies aparentadas. No entanto, nessa espécie a cabeça se tornou tão fina que auxilia o animal a planar quando saltando entre árvores - uma exaptação.
Uma adaptação ocorre pela modificação gradual de estruturas existentes. Estruturas com organização interna semelhante podem ter funções muito diferentes em organismos aparentados. Isso é resultado de uma única estrutura ancestral que se adaptou para funcionar de formas diferentes em cada linhagem. Os ossos nas asas de morcegos, por exemplo, são estruturalmente similares tanto com as mãos humanas como com as barbatanas de focas, devido à descendência dessas estruturas de uma ancestral comum que também tinha cinco dedos na extremidade de cada membro anterior. Outras características anatômicas únicas, como ossos no pulso do panda, que formam um falso "polegar", indicam que a linhagem evolutiva de um organismo pode limitar que tipo de adaptação é possível.
Durante a adaptação, algumas estruturas podem perder a sua função e se tornarem estruturas vestigiais. Essas estruturas podem ter pouca ou nenhuma função numa espécie, apesar de terem uma função clara em espécies ancestrais ou relacionadas. Exemplos incluem os remanescentes não funcionais de olhos em alguns peixes de cavernas, asas em aves incapazes de voar e a presença de ossos do quadril em baleias e cobras. Exemplos de estruturas vestigiais em humanos incluem o dente do siso, o cóccix e o apêndice vermiforme.
Uma área de pesquisa atual em biologia do desenvolvimento evolutiva é a base desenvolvimental de adaptações e exaptações. Essa linha de pesquisa busca compreender a origem e evolução de desenvolvimento embrionário e como modificações nos processos do desenvolvimento produzem novas características de forma gradualista, onde as mudanças ocorrem com a presença de intermediários, ou ainda pelo modelo de saltos evolutivos, onde uma mudança "abrupta" pode correr de uma geração para outra e com um passar do tempo aquela nova estrutura pode ser torna-se vantajosa para a população da espécies. Esses estudos têm demonstrado que a evolução pode alterar o desenvolvimento para criar novas estruturas, como as estruturas embrionárias que formam ossos da mandíbula em outros animais formando parte do ouvido médio em mamíferos. É também possível que estruturas perdidas ao longo da evolução reapareçam devido a mudanças em genes do desenvolvimento, como uma mutação em galinhas que faz com que os embriões produzam dentes similares aos de crocodilos.
Co-evolução.
Interações entre organismos podem produzir tanto conflito como cooperação. Quando a interação ocorre entre pares de espécies, como um patógeno e um hospedeiro, ou um predador e uma presa, essas espécies podem desenvolver séries de adaptações combinadas. Nesses casos, a evolução de uma espécie causa adaptações numa outra. Essas mudanças na segunda espécie, por sua vez, causam novas adaptações na primeira. Esse ciclo de seleção e resposta é chamado de co-evolução. Um exemplo é a produção de tetrodotoxina numa espécie de salamandra "(Taricha granulosa)" e a evolução de resistência à tetrodotoxina em seu predador, uma serpente "(Thamnophis sirtalis)". Nesse par de presa e predador, uma corrida armamentista evolutiva produziu altos níveis de toxina na salamandra e correspondentemente altos níveis de resistência na cobra.
Cooperação.
No entanto, nem todas as interações entre espécies envolvem conflito. Muitos casos de interações mutuamente benéficas evoluíram. Por exemplo, existe uma cooperação extrema entre plantas e micorrizas que crescem sobre as raízes, auxiliando na absorção de nutrientes do solo. Essa é uma interação recíproca, já que as plantas provêm à micorriza açúcares da fotossíntese. Nesse caso o fungo geralmente cresce dentro das células da planta, permitindo a troca de nutrientes, enquanto envia sinais que reprimem o sistema imunitário da planta.
A cooperação também evoluiu entre organismos da mesma espécie. Um caso extremo é a eussocialidade, que pode ser observada em insetos sociais, como abelhas, cupins e formigas, onde insetos estéreis alimentam e defendem um pequeno número de organismos da colônia que são capazes de se reproduzir. Numa escala ainda menor, as células somáticas que formam o corpo de um animal são limitadas em sua capacidade de se reproduzir para que se mantenha a estabilidade no organismo e permita que um pequeno número de células germinativas produza prole. Nesse caso, células somáticas respondem a sinais específicos que as instruem a crescer ou destruir a si próprias. Se as células ignoram esses sinais e tentam se multiplicar de forma desordenada, seu crescimento descontrolado causa câncer.
Imagina-se que esses exemplos de cooperação dentro de uma espécie evoluíram pelo processo de seleção de parentesco, que consiste em um organismo agir de forma a aumentar a probabilidade de parentes produzirem prole. Essa atividade é selecionada porque se o indivíduo que ajuda possui alelos que promovem a atividade de ajudar, é provável que seus parentes também possuam esses alelos e, assim, esses alelos são passados adiante. Outros processos que podem promover a cooperação incluem seleção de grupo, onde a cooperação fornece benefícios para um grupo de organismos.
Especiação.
Especiação é o processo pelo qual uma espécie diverge, produzindo duas ou mais espécies descendentes. Eventos de especiação foram observados diversas vezes, tanto em condições controladas de laboratório como na natureza. Em organismos de reprodução sexuada, a especiação resulta do isolamento reprodutivo seguido por divergência entre as linhagens. Há quatro tipos de mecanismos de especiação, sendo a especiação alopátrica considerada a mais comum em animais. Esse tipo de especiação ocorre quando populações são isoladas geograficamente, por fragmentação de habitat ou migração, por exemplo. Como as forças evolutivas passam a atuar independentemente nas populações isoladas, a separação vai, eventualmente, produzir organismos incapazes de se intercruzarem.
O segundo mecanismo de especiação a ser considerado é a especiação peripátrica, que ocorre quando pequenas populações de organismos são isoladas num novo ambiente. Ela difere da especiação alopátrica pelo fato de as populações isoladas serem muito menores do que a população parental. Nesse caso, o efeito fundador causa uma especiação rápida tanto pela deriva genética oriunda do efeito fundador como pela rápida ação da seleção natural sobre um conjunto de genes pequeno.
O terceiro mecanismo de especiação é a especiação parapátrica. Ela é similar à especiação peripátrica na medida em que uma população pequena ocupa um novo habitat, mas difere porque não há separação física entre essas populações. O que ocorre é que a especiação resulta da evolução de mecanismos que reduzem o fluxo gênico entre as duas populações. Geralmente isso ocorre quando há alguma mudança drástica no ambiente da espécie parental. Um exemplo é a gramínea "Anthoxanthum odoratum", que pode passar por especiação parapátrica em resposta a poluição localizada de metais de minas. Neste caso, plantas com resistência a altos níveis de metais no solo evoluem. A seleção contra cruzamentos com a população parental sensível a metais produz uma mudança no tempo de floração das plantas resistentes, causando isolamento reprodutivo. A seleção contra híbridos entre as duas populações pode causar o que é chamado de "reforço", que é a evolução de características que promovem o cruzamento dentro de determinada espécie, assim como deslocamento de caráter, que ocorre quando duas espécies se tornam mais distintas em aparência.
Finalmente, quando há especiação simpátrica, espécies divergem sem uma barreira geográfica entre elas ou mudanças drásticas no ambiente. Esse tipo de especiação é considerado raro, já que uma pequena quantidade de fluxo gênico pode remover as diferenças genéticas entre partes de uma população. Em geral, a especiação simpátrica em animais exige a evolução tanto de diferenças genéticas como de acasalamento preferencial, para permitir que o isolamento reprodutivo evolua.
Um tipo de evolução simpátrica envolve o cruzamento entre duas espécies aparentadas, produzindo uma nova espécie híbrida. Esse tipo de especiação não é comum em animais, já que híbridos são comumente inviáveis ou estéreis, porque não há pareamento entre os cromossomos homólogos de cada progenitor durante a meiose. Ela é mais comum em plantas, porque plantas frequentemente dobram o número de cromossomos, formando poliplóides. Isso permite o pareamento de cada cromossomo com seu homólogo durante a meiose, já que os cromossomos de cada progenitor já se apresentam em pares. Um exemplo desse tipo de especiação ocorreu quando as espécies "Arabidopsis thaliana" e "Arabidopsis arenosa" se hibridizaram para formar a nova espécie "Arabidopsis suecica". Isso ocorreu há cerca de anos atrás e o processo de especiação foi reproduzido em laboratório, permitindo o estudo dos mecanismos genéticos envolvidos no processo. De fato, eventos de poliploidização numa espécie podem ser uma causa comum de isolamento reprodutivo, já que metade dos cromossomos duplicados não irá parear quando ocorrer cruzamento com organismos sem essa duplicação.
Eventos de especiação são importantes na teoria do equilíbrio pontuado, que explica a existência do padrão observado no registro fóssil de "explosões" de evolução entre longos períodos de estase, em que as espécies se mantém relativamente sem mudanças. Nessa teoria, a especiação e a rápida evolução são relacionadas, com seleção natural e deriva genética atuando mais fortemente em organismos especiando em novos habitats ou com pequeno tamanho populacional. Como resultado, os períodos de estase no registro fóssil correspondem à população parental, e os organismos passando por especiação e rápida evolução são encontrados em pequenas populações geograficamente restritas., sendo raramente preservados como fósseis.
Barreiras ao cruzamento entre espécies.
Barreiras reprodutivas ao cruzamento podem ser classificadas em "pré-zigóticas" ou "pós-zigóticas". A distinção entre as duas é definida se a barreira previne a formação de prole antes ou depois da fertilização do óvulo.
Barreiras que previnem a fertilização.
Barreiras pré-zigóticas são aquelas que impedem a cópula entre as espécies, ou então impedem a fertilização do óvulo caso a espécie tente cruzar.
Alguns exemplos são:
Barreiras atuando após a fertilização.
Barreiras pós-zigóticas são aquelas que ocorrem após a fertilização, geralmente resultando na formação de um zigoto híbrido que é infértil ou inviável. Isso geralmente é resultado de incompatibilidade nos cromossomos do zigoto. Um zigoto é um óvulo fertilizado antes de se dividir, ou o organismo que se origina desse óvulo fertilizado. Inviável significa incapaz de chegar à idade adulta.
Exemplos incluem:
Extinção.
Extinção é o desaparecimento de toda uma espécie. A extinção não é um evento incomum, já que espécies normalmente surgem por especiação e desaparecem por extinção. De fato, quase todas as espécies de planta e animal que já existiram hoje estão extintas. Essas extinções aconteceram continuamente durante toda a história da vida, apesar de haver picos nas taxas de extermínio em eventos de extinção em massa. A extinção entre o Cretáceo e o Terciário (Extinção K-T), na qual os dinossauros desapareceram, é a mais conhecida. No entanto, um evento anterior, a extinção do Permiano-Triássico, foi ainda mais severa, levando cerca de 96% das espécies então existentes ao extermínio. A extinção do Holoceno é um processo de desaparecimento de espécies em massa ocorrendo atualmente, em decorrência da expansão da espécie humana pelo globo nos últimos milhares de anos. Taxas de extinção atuais são de 100 a vezes maiores do que as taxas normais, e até 30% das espécies pode estar extinta até o meio deste século. Atividades humanas são hoje a principal causa da extinção em massa atual e o aquecimento global pode acelerar ainda mais essa extinção no futuro.
O papel da extinção na evolução depende do tipo de extinção que é considerada. As causas das baixas taxas de evolução, que atuam continuamente e são responsáveis pela maior parte das extinções, não são bem conhecidas, e podem ser o resultado da competição entre as espécies por recursos compartilhados. Se a competição de outras espécies pode alterar a chance de determinada espécie sobreviver, isso poderia produzir seleção natural no nível de espécies, em contraposição à que ocorre no nível de organismos. As extinções em massa intermitentes também são importantes, mas ao invés de agir como força seletiva, elas reduzem drasticamente a diversidade, de forma não específica, promovendo picos de radiação adaptativa e especiação nas espécies sobreviventes.
História evolutiva da vida.
Origem da vida.
A origem da vida é o precursor necessário para a evolução biológica, mas perceber que a evolução ocorreu depois de os organismos aparecerem pela primeira vez, e investigar como isto acontece, não depende na compreensão exacta de como a vida começou. O consenso científico actual é de que a bioquímica complexa que constitui a vida provém de reacções químicas mais simples, mas que não é claro como ocorreu esta transição. Não há muitas certezas sobre os primeiros desenvolvimentos da vida, a estrutura dos primeiros seres vivos, ou a identidade ou natureza do último ancestral comum ou do pool genético ancestral. Como consequência, não há consenso científico sobre como a vida surgiu. Algumas propostas incluem moléculas capazes de auto-replicação, como o RNA e a construção de células simples.
Origem comum.
Todos os seres vivos da Terra descendem de um ancestral comum ou de um pool genético ancestral. E as espécies actuais são um estádio no processo de evolução, e a sua diversidade resulta de uma longa série de eventos de especiação e extinção. A origem comum dos seres vivos foi inicialmente deduzida a partir de quatro simples factos sobre seres vivos: Primeiro, eles têm distribuições geográficas que não podem ser explicadas por adaptações locais. Segundo, a diversidade da vida não é uma série de organismos completamente únicos, mas os seres vivos têm semelhanças morfológicas. Terceiro, características vestigiais com nenhuma utilidade evidente são parecidas com características ancestrais funcionais e finalmente, que organismos podem ser classificados usando estas semelhanças numa hierarquia de grupos aninhados uns nos outros.
Espécies passadas também deixaram registos da sua história evolutiva. Fósseis, juntamente com a anatomia comparada de seres vivos existentes actualmente, constituem o registo morfológico ou anatómico. Comparando as anatomias de espécies modernas e extintas, paleontólogos podem inferir as linhagens dessas espécies. Contudo, esta metodologia tem maior sucesso em organismos com partes duras, tais como conchas, ossos ou dentes. Além disso, como os procariontes como bactérias e archaea partilham uma série limitada de morfologias comuns, os seus fósseis não fornecem informação sobre a sua ascendência.
Mais recentemente, evidências de origem comum provieram do estudo de semelhanças bioquímicas entre organismos. Por exemplo, todas as células vivas usam os mesmos ácidos nucleicos e aminoácidos. Todos os seres vivos, por exemplo, compartilham os mesmos 23 genes homólogos que estão, notadamente, relacionados aos processos de tradução, transcrição e duplicação do DNA, sem nenhuma exceção conhecida. O desenvolvimento da genética molecular revelou o registo da evolução deixado nos genomas dos seres vivos: datando quando as espécies divergiram através do relógio molecular produzido pelas mutações. Por exemplo, comparações entre sequências de DNA revelaram a estreita semelhança genética entre humanos e chimpanzés e revelou quando existiu um ancestral comum às duas espécies.
Evolução da vida.
Apesar da incerteza sobre como a vida começou, é claro que os procariontes foram os primeiros seres vivos a habitar a Terra, há aproximadamente 3-4 mil milhões de anos. Não ocorreram nenhumas mudanças óbvias em morfologia ou organização celular nestes organismos durante os próximos milhares de milhão de anos.
A próxima grande inovação na evolução foram os eucariontes. Estes surgiram a partir de bactérias antigas terem sido rodeadas por antecessores de células eucarióticas, numa associação cooperativa chamada de endossimbiose. A bactéria encapsulada e a célula hospedeira sofreram evolução, com a bactéria a evoluir em mitocôndrias ou em hidrogenossomas. Uma segunda captura de seres semelhantes a cianobactérias levou à formação de cloroplastos em algas e plantas.
A história da vida foi a história de procariontes, archae e eucariontes unicelulares até há cerca de um milhar de milhão de anos atrás quando seres multicelulares começaram a aparecer nos oceanos durante o período Ediacarano. A evolução de organismos multicelulares ocorreu múltiplas vezes, de forma independente, em organismos tão diversos como esponjas, algas castanhas, cianobactérias, mycetozoa e mixobactérias.
Depois do aparecimento dos primeiros seres multicelulares, ocorreu um notável diversificação biológica num período de 10 milhões de anos, num evento chamado explosão cambriana quando a maioria dos grupos de animais modernos apareceram entre 540 e 520 milhões de anos atrás. Durante este evento, evoluíram a maior parte dos tipos de animais modernos, assim como linhagens únicas que se extinguiram entretanto. Têm sido propostos vários "detonadores" para esta explosão, incluindo a acumulação de oxigénio na atmosfera resultante da fotossíntese. Um estudo conduzido por pesquisadores em 2013 estimou, pela primeira vez, as taxas de evolução durante a "explosão cambriana". Os resultados, solucionam o "dilema de Darwin": o súbito aparecimento de um grande número de grupos de animais modernos no registro de fóssil durante o início do período Cambriano. Há cerca de 500 milhões de anos, plantas e fungos colonizaram a terra, e foram logo seguidos por artrópodes e outros animais. Os anfíbios apareceram pela primeira vez há cerca de 300 milhões de anos, seguidos pelos primeiros amniotas, os mamíferos há volta de 200 milhões de anos e as aves há cerca de 100 milhões de anos (ambos a partir de linhagens semelhantes a répteis. Contudo, apesar da evolução destes grandes animais, seres vivos mais pequenos semelhantes aos que evoluíram cedo no processo, continuam a ser bem sucedidos e a dominar a Terra, formando a maioria da biomassa e das espécies procariontes.
Evolução Convergente.
Na natureza existem exemplos de espécies que mesmo sem ter ancestral comum quando comparado com a outra, desenvolveram tamanha similaridade quando se diz respeito a forma e comportamento, essas espécies similares irão apresentar estruturas análogas quando estas apresentam similaridade na forma superficial ou na função, o que difere de estruturas homólogas que se originam estruturas de um ancestral em comum com as espécies comparadas. Um exemplo desse tipo de evolução no reino animal é encontrado quando comparado as asas dos morcegos e das aves..
Esse tipo de evolução tem como principal agente condições ambientais e nichos ecológicos. Características chave para a sobrevivência em determinadas condições podem aparecer de forma independente em diferentes grupos que não possuem parentesco entre si. Tubarões e golfinhos são exemplo de convergência devido as condições ambientes e hábitos semelhantes, os dois possuem formato do corpo parecido, como nadadeiras e cauda.
Evolução Paralela.
Certa forma de evolução foi acrescentada na história, através de isolamentos entre indivíduos de um grupo. Um exemplo de evolução paralela se apresenta nos mamíferos, em que se diferem entre placentários e marsupiais, sendo que geralmente, alguns pares de animais tais como: Canis (Placentário) e Thylacinus (marsupial), Felis (placentário) e Dasyurus (marsupial), Glaucomys (placentário) e Petaurus (marsupial), Marmota (placentário) e Vombatus (marsupial), Myrmecophaga (placentário) e Myrmecabius (marsupial), Talpa (placentário) e Notoryctes (marsupial), apresentam similaridades tanto na aparência quanto em hábitos. Ao contrário da evolução convergente, a evolução paralela ocorre conforme uma mesma linhagem ancestral evolui.
História do pensamento evolutivo.
Ideias evolutivas como origem comum e de transmutação de espécies existiram pelo menos desde o século VI a.C., quando foram examinadas pelo filósofo grego Anaximandro de Mileto. Outros que consideraram estas ideias incluem o filósofo grego Empédocles, o filósofo-poeta romano Lucrécio, o biólogo árabe Al-Jahiz, o filósofo persa Ibn Miskawayh, e o filósofo oriental Zhuang Zi.
À medida que o conhecimento biológico aumentou no século XVIII, ideias evolutivas foram propostas por alguns filósofos como Pierre Louis Maupertuis em 1745, Erasmus Darwin em 1796, e Georges-Louis Leclerc (conde de Buffon) entre 1749 e 1778. As ideias do biólogo Jean-Baptiste Lamarck acerca da transmutação das espécies teve grande influência. Charles Darwin formulou a sua ideia de selecção natural em 1838 e ainda estava desenvolvendo a sua teoria em 1858 quando Alfred Russel Wallace lhe enviou uma teoria semelhante, e ambas foram apresentadas na Linnean Society of London em dois artigos separados. No final de 1859, a publicação de "A Origem das Espécies" por Charles Darwin, explicava a selecção natural em detalhe e apresentava provas que levaram a uma aceitação cada vez mais geral da ocorrência da evolução. Na 8ª edição deste mesmo livro, Darwin apresenta uma lista de autores que anteciparam a ideia de evolução das espécies.
O debate sobre os mecanismos da evolução continuaram, e Darwin não foi capaz de explicar a fonte das variações hereditárias sobre as quais a selecção natural actuaria. Tal como Lamarck, ele pensava que os progenitores passavam à descendência as adaptações adquiridas durante a sua vida, uma teoria subsequentemente nomeada de Lamarckismo. Na década de 1880, as experiências de August Weismann indicaram que as mudanças pelo uso e desuso não eram hereditárias, e o Lamarckismo entrou gradualmente em descrédito. Mais importante do que isso, Darwin não conseguiu explicar como características passam de geração para geração. Em 1865, Gregor Mendel descobriu que as características eram herdadas de uma maneira previsível. Quando o trabalho de Mendel foi redescoberto em 1900, a discórdia sobre a taxa de evolução prevista pelos primeiros geneticistas e biometristas levou a uma ruptura entre os modelos de evolução de Mendel e de Darwin.
Esta contradição só foi reconciliada nos anos 1930 por biólogos como Ronald Fisher. O resultado final foi a combinação da evolução por selecção natural e hereditariedade mendeliana, a síntese evolutiva moderna. Na década de 1940, a identificação do DNA como o material genético por Oswald Avery e colegas, e a subsequente publicação da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick em 1953, demonstraram o fundamento físico da hereditariedade. Desde então, a genética e biologia molecular tornaram-se partes integrais da biologia evolutiva e revolucionaram o campo da filogenia.
Na sua história inicial, a biologia evolutiva atraiu primariamente cientistas vindos de campos tradicionais de disciplinas orientadas para a taxonomia, cujo treino em organismos particulares os levava a estudar questões gerais em evolução. Assim que a biologia evolutiva se expandiu como disciplina académica, particularmente depois do desenvolvimento da síntese evolutiva moderna, começou a atrair cientistas de um leque mais alargado das ciências biológicas. Actualmente, o estudo da biologia evolutiva envolve cientistas de campos tão diversos como bioquímica, ecologia, genética e fisiologia, e conceitos evolutivos são usados em disciplinas ainda mais distantes como psicologia, medicina, filosofia e ciência dos computadores.
Perspectivas sociais e culturais.
Mesmo antes da publicação d"'A Origem das Espécies", a ideia que a vida evolui era fonte de debate. A evolução ainda é um conceito contencioso em algumas secções da sociedade fora da comunidade científica. O debate tem-se centrado nas implicações filosóficas, sociais e religiosas da evolução, não na ciência em si; a proposta de que a evolução biológica ocorre através do mecanismo de selecção natural é padrão na literatura científica.
Apesar de muitas religiões terem reconciliado as suas crenças com a evolução através de vários conceitos de evolução teísta, há muitos criacionistas que acreditam que a evolução é contraditória com as histórias de criação encontradas nas respectivas religiões. Tal como Darwin reconheceu desde cedo, o aspecto mais controverso do pensamento evolutivo é a sua implicação para a origem dos seres humanos. Em alguns países, notavelmente os Estados Unidos, as tensões entre os ensinamentos científicos e religiosos têm alimentado a controvérsia da criação vs. evolução, um conflito religioso que foca na política do criacionismo e no ensino da evolução nas escolas públicas. Apesar de outros campos da ciência como cosmologia e ciências da Terra também entrarem em conflito com a interpretação literal de muitos textos religiosos, muitos crentes religiosos opõem-se à biologia evolutiva.
A evolução tem sido usada para posições filosóficas que propõe discriminação e o racismo. Por exemplo, as ideias eugénicas de Francis Galton foram desenvolvidas para argumentar que o pool genético humano podia ser melhorado através de políticas de cruzamentos selectivos, incluindo incentivos para aqueles considerados como "bom stock" para se reproduzirem, e esterilização compulsória, testes pré-natais, controlo da natalidade e inclusive homicídio dos considerados "mau stock". Um outro exemplo de uma extensão da teoria evolutiva que é reconhecida actualmente como indevida é o "Darwinismo social", um termo dado à teoria Malthusiana dos Whig, desenvolvida por Herbert Spencer em ideias de "sobrevivência do mais apto" no comércio e nas sociedades humanas em geral, e por outros que reclamavam que a desigualdade social, racismo e imperialismo eram justificados. Contudo, cientistas e filósofos contemporâneos consideram que estas ideias não são nem mandatadas pela teoria evolutiva nem sustentadas por quaisquer dados.
Aplicações na tecnologia.
Uma grande aplicação tecnológica da evolução é a selecção artificial, que é a selecção intencional de certas características em populações de seres vivos. Os seres humanos têm usado a selecção artificial há milhares de anos na domesticação de plantas e animais. Mais recentemente, tal selecção tornou-se uma parte vital da engenharia genética, com o uso de marcadores selecionáveis tais com a resistência a antibióticos para manipular DNA na biologia molecular.
Como a evolução é capaz de produzir processos e redes altamente optimizados, tem muitas aplicações em ciência dos computadores. Aqui, simulações de evolução usando algoritmos genéticos e vida artificial foram iniciadas com o trabalho de Nils Aall Barricelli na década de 1960, e depois estendidas por Alex Fraser, que publicou uma série de artigos sobre simulação de evolução artificial. A evolução artificial tornou-se um método de optimização largamente reconhecido como resultado do trabalho de Ingo Rechenberg na década de 1960 e 70, que usou estratégias evolutivas para resolver problemas de engenharia complexos. Algoritmos genéticos em particular tornaram-se populares pelos escritos de John Holland. À medida que o interesse académico cresceu, o aumento dramático no poder computacional permitiu aplicações práticas. Algoritmos evolutivos são agora usados para resolver problemas multi-dimensionais mais eficientemente do que por software produzido por programadores humanos, e também para optimizar o desenho de sistemas.
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784 | Etileno | Etileno
O etileno ou eteno é o hidrocarboneto alceno mais simples da família das olefinas, constituído por dois átomos de carbono e quatro de hidrogênio (C2H4). Existe uma ligação dupla entre os dois carbonos. A existência de uma ligação dupla significa que o etileno é um "hidrocarboneto insaturado". Pela nomenclatura IUPAC recebe a denominação de eteno.
A molécula não pode rodar em torno da ligação dupla, e os seis átomos dispõem-se no mesmo plano. O ângulo das duas ligações carbono-hidrogênio é de 117º, muito próximo dos 120º preditos pela hibridização sp² ideal.
É um gás incolor, odor etéreo, levemente adocicado que liquefaz a -103°C e solidifica a -169°C, sendo o composto químico de maior utilização no setor químico industrial.
Obtenção.
Destilação seca da hulha.
A hulha é aquecida a uma temperatura de 1000°C/1300°C em presença de uma corrente de ar. Obtém-se uma fração gasosa que contém entre 3% a 5% de etileno.
Desidrogenação do etano.
Industrialmente o etileno é preparado pela desidrogenação do etano (retirada de hidrogênio). A desidrogenação ocorre entre 500°C e 750°C, utilizando catalisadores como óxido de crômio, de molibdênio, de vanádio e de urânio suspensos em alumina.
Desidratação do álcool etílico.
Várias indústrias propõem a fabricação de plástico verde ou ecológico a partir do álcool etílico produzido a partir da cana de açúcar. O método é antigo e semelhante a fabricação de éter etílico (antigamente chamado sulfúrico):
O método é catalisado por ácido sulfúrico ou alumina. A baixa temperatura favorece a produção do éter etílico e alta temperatura favorece o etileno.
Craqueamento do petróleo.
Quando moléculas grandes constituintes do petróleo (geralmente alcanos) são quebradas (inglês "to crack" = quebrar) através de um processo simples de aquecimento utilizando catalisadores (pode ser silica, alumina Al2O3), forma-se uma fração gasosa que contém na sua composição etileno. Esse processo é um dos mais simples que ocorrem com a transformação do petróleo.
Aplicações.
O etileno é usado como:
A maior aplicação do etileno é através do emprego de derivados obtidos a partir dele:
Etileno como hormônio vegetal.
Biossíntese
A rota completa de síntese do etileno é um ciclo (ciclo de Yang).O primeiro precursor do etileno nesta via é o aminoácido metionina, o qual é adenilado pela AdoMet sintetase, formando a S-adenosilmetionina. O precursor imediato do etileno é o ácido 1-aminociclopropano-1-carboxílico (ACC) que é sintetizado a partir da AdoMet pela enzima ACCsintase, nesta reação, a adenina é liberada da AdoMet e é ligada à outra molécula de metionina através do ciclo de Yang. A última etapa de síntese do etileno é a conversão do ACC em etileno catalisada pela enzima ACC oxidase.
A etapa limitante para a produção do etileno é a síntese do ACC a partir de AdoMet, que é catalisada pela ACCsintase. Esta enzima tem seus níveis regulados por fatores ambientais e internos, como ferimentos, inundação, estresse hídrico e presença de auxina e é codificada por uma família multigênica divergente, na qual os genes são regulados de formas distintas por indutores diferentes.
Modo de ação.
Inicialmente, o Etileno liga-se a um receptor proteico na membrana do Retículo Endoplasmático. Em seguida, esse receptor deixa de ativar uma proteína, a CTR1, que atua como reguladora negativa da cadeia de sinais químicos que produz a resposta biológica do etileno. Em outras palavras, a presença do etileno inativa uma proteína que atua como inibidora, fazendo então com que a resposta ocorra. Na ausência do etileno, a CTR1 inibe a formação dos fatores de transcrição que irão regular a expressão de genes de resposta ao etileno na planta.
Efeitos biológicos.
O Etileno regula diversas respostas nos vegetais. O etileno é conhecido como “hormônio do amadurecimento”, pois promove o amadurecimento de frutos através da oxidação de lipídios, quebra das ligações de amido e decomposição da clorofila (molécula responsável pela coloração verde dos vegetais). Isso confere a Outros efeitos biológicos promovidos pelo etileno são: germinação de sementes; epinastia (curvatura para baixo)de folhas; abscisão (queda) de frutos maduros, órgãos senescentes ou danificados e folhas; expansão celular horizontal e crescimento lateral do caule; quebra de dormência de gemas e sementes em algumas espécies; alongamento do caule de espécies vegetais aquáticas submersas; formação de raízes e pêlos absorventes; indução floral e expressão sexual, como por exemplo em Cucurbitaceae (família das abóboras), o etileno induz a preferência de flores femininas. Embora o etileno iniba o florescimento na maioria das espécies, em plantas de abacaxi ele induz o florescimento.
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785 | Espanha | Espanha
Espanha (; ), oficialmente Reino de Espanha ou Reino da Espanha , é um país principalmente localizado na Península Ibérica na Europa. Seu território também inclui dois arquipélagos: as ilhas Canárias, na costa da África, e as ilhas Baleares, no mar Mediterrâneo. Os enclaves africanos de Ceuta e Melilla fazem da Espanha o único país europeu a ter uma fronteira terrestre com um país africano (Marrocos). Várias pequenas ilhas no mar de Alborão também fazem parte do território espanhol. A Espanha continental é limitada a sul e a leste pelo Mediterrâneo, exceto por uma pequena fronteira terrestre com Gibraltar; a norte e a nordeste pela França, por Andorra e pelo Golfo da Biscaia; e a oeste e noroeste por Portugal e pelo Oceano Atlântico. Com uma área de km2, a Espanha é o maior país da Europa Meridional, o segundo maior país da Europa Ocidental e da União Europeia (UE) e o quarto maior país de todo o continente europeu. Também é o sexto país mais populoso da Europa e o quarto da UE. A capital e maior cidade é Madri; outras grandes áreas urbanas incluem Barcelona, Valência, Sevilha, Málaga, Bilbau e Granada.
Os humanos modernos chegaram pela primeira vez na Península Ibérica há cerca de 35 mil anos. As culturas ibéricas, juntamente com antigos povoamentos fenícios, gregos, celtas e cartagineses, desenvolveram-se na península até o início do domínio romano por volta de , quando a região era denominada Hispânia, baseada no antigo nome fenício "Spania". Com o colapso do Império Romano do Ocidente, confederações tribais germânicas migraram da Europa Central, invadiram a Península Ibérica e estabeleceram reinos relativamente independentes em suas províncias ocidentais, incluindo os suevos, alanos e vândalos. No final do , os visigodos tinham integrado à força todos os territórios independentes remanescentes na península ao Reino de Toledo, incluindo as províncias bizantinas, o que de certa maneira unificou politicamente, eclesiasticamente e juridicamente todas as antigas províncias romanas ou reinos sucessores da antiga Hispânia.
No início do , o Reino Visigótico caiu diante dos mouros, que chegaram a governar a maior parte da península no ano de 726 (com duração de até sete séculos no Reino Nacérida de Granada), deixando apenas um punhado de pequenos reinos cristãos no norte. Isto levou a muitas guerras durante um longo período, o que culminou na criação dos reinos de Leão, Castela, Aragão e Navarra, que se tornaram as principais forças cristãs contra os muçulmanos. Após a conquista mourisca, os europeus iniciaram um processo gradual de retomada da região conhecido como "Reconquista", que no final do fez com que a Espanha surgisse como um país unificado sob o domínio dos Reis Católicos. No início da Era Moderna, a nação tornou-se o primeiro império mundial da história e o país mais poderoso do mundo, deixando um grande legado cultural e linguístico que inclui mais de 570 milhões de hispanófonos ao redor do mundo, o que tornou o espanhol a segunda língua mais falada no mundo, depois da língua chinesa. Durante o Século de Ouro Espanhol (séculos XVI e XVII) também houve muitos avanços nas artes, com pintores mundialmente famosos, como Diego Velázquez. A mais famosa obra literária espanhola, "Dom Quixote", também foi publicada durante este período. O país abriga o terceiro maior número de sítios classificados como Património Mundial pela UNESCO.
A Espanha é uma democracia parlamentar secular e uma monarquia constitucional, sendo que o rei serve como chefe de Estado. É um dos principais países desenvolvidos e um país de alta renda, com a 14.ª maior economia do mundo por PIB nominal e a 16.ª maior por paridade do poder de compra. É membro das Nações Unidas (ONU), União Europeia (UE), Zona Euro, Conselho da Europa (CoE), Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), União para o Mediterrâneo, Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o Espaço Schengen, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e muitas outros organismos internacionais. Embora não seja um membro oficial, a Espanha também é um "convidado permanente" das cúpulas do G20, participando de todos os encontros do grupo.
Etimologia.
O nome "Espanha" provém de Hispânia, nome com o qual os romanos designavam geograficamente a Península Ibérica. O nome "Ibéria" era o que os gregos davam à Península embora houvesse outras designações dadas pelos povos antigos. O facto de o termo "Hispânia" não ter uma raiz latina resultou na formulação de diversas teorias sobre a sua origem, algumas controversas. A opção mais consensual seria a de que o nome Hispânia provém do fenício "i-spn-ea". Os romanos tomaram essa denominação dos vencidos cartaginenses, interpretando o prefixo "i" como "costa", "ilha" ou "terra", e o sufixo "ea" com o significado de "região". O lexema "spn" foi traduzido como "coelhos" (na realidade dassies, animais comuns no norte da África).
O topónimo "Espanha", evolução da designação do Império Romano Hispânia era, até ao , apenas descritivo da Península Ibérica, não se referindo a um país ou Estado específico, mas sim ao conjunto de todo o território ibérico e dos países que nele se incluíam. A Espanha é unificada durante o Iluminismo, até então era um conjunto de reinos juridicamente e politicamente independentes governados pela mesma monarquia. Até à data da unificação a monarquia era formada por um conjunto de reinos associados por herança e união dinástica ou por conquista. A forma de governo era conhecida como "aeque principaliter", os reinos eram governados cada um de forma independente, como se tivesse cada reino o seu próprio rei, cada reino mantinha o seu próprio sistema legal, a sua língua, os seus foros e os seus privilégios. As "Leyes de extranjeria" determinavam que o natural de qualquer um dos reinos era estrangeiro em todos os outros reinos ibéricos. A constituição de 1812 adota o nome "As Espanhas" para a nova nação. A constituição de 1876 adota pela primeira vez o nome "Espanha".
Os termos "as Espanhas" e "Espanha" não eram equivalentes, e eram usados com muita precisão. O termo "As Espanhas" referia-se a um conjunto de unidades jurídico-políticas, ou seja, referia-se a um conjunto de reinos independentes, primeiramente apenas aos reinos cristãos da Península Ibérica, depois apenas aos reinos unidos sobre a mesma monarquia. O termo "Espanha" referia-se a um espaço geográfico e cultural que englobava diversos reinos independentes. A partir de Carlos V o uso do título "Rei das Espanhas", referia-se à parte da Espanha que não incluía Portugal, mas esta designação era apenas uma forma de designar coletivamente um extenso número de reinos, uma abreviação, que não tinha validade jurídica, para uma longa lista de títulos reais cuja forma oficial era rei de Castela, de Leão, de Aragão, de Navarra, de Granada, de Toledo, de Valência, da Galiza, de Maiorca, de Menorca, de Sevilha, etc. (da mesma forma utilizava-se o título Sua Majestade Lusitana para o rei de Portugal, ou rei Lusitano).
O uso do da designação de "reis de Espanha" pelos reis Fernando e Isabel foi considerado uma ofensa pelo rei de Portugal que considerava que o nome designava a Península. A última vez que Portugal protestou oficialmente o uso do termo "coroa de Espanha" ou "monarquia de Espanha" pelo governo de Madrid foi, supõe-se, durante o Tratado de Utrecht em 1714.
Atualmente o nome "Península Hispânica" não é aceite pelos portugueses, sendo que a designação usada é a de Península Ibérica. A partir de 1640, com a Restauração da Independência de Portugal, a designação "Rei da Espanha" manteve-se, apesar de a união dinástica já não englobar toda a Península.
História.
Pré-história e Antiguidade.
Os primeiros humanos modernos chegaram à Península Ibérica no território da atual Espanha há 35 mil anos. No período histórico o território foi invadido e colonizado por celtas, fenícios, cartagineses, gregos e cerca de , a maior parte da Península Ibérica começou a formar parte do Império Romano, sendo o rio Ebro a fronteira entre a Espanha romana e cartaginesa.
Durante a Segunda Guerra Púnica, uma expansão do Império Romano capturou colônias comerciais cartaginesas ao longo da costa do Mediterrâneo, cerca de Os romanos levaram quase dois séculos para completar a conquista da Península Ibérica, apesar de terem o controle de boa parte dela há mais de 600 anos. O domínio romano era unido pela lei, idioma e as estradas romanas.
As culturas das populações celtas e ibéricas foram gradualmente romanizadas (latinizadas) em diferentes níveis e em diferentes partes da Hispânia (o nome romano para a Península). Os líderes locais foram admitidos na classe aristocrática romana. A Hispânia serviu como um celeiro para o mercado romano e seus portos exportavam ouro, lã, azeite e vinho. A produção agrícola aumentou com a introdução de projetos de irrigação, alguns dos quais permanecem em uso. Os imperadores Trajano e Teodósio I e o filósofo Séneca nasceram na Hispânia. O cristianismo foi introduzido na província no e tornou-se popular nas cidades no . O termo "Espanha", as línguas, a religião e a base das leis atuais da Espanha se originaram a partir deste período.
Idade Média.
Reino Visigótico.
O enfraquecimento da jurisdição do Império Romano do Ocidente em Hispânia começou em 409, quando os povos germânicos suevos e vândalos, juntamente com os alanos sármatas, cruzaram o Reno e devastaram a Gália e a Península Ibérica. Os visigodos atacaram a Ibéria no mesmo ano. Os suevos estabeleceram um reino no que hoje é a moderna Galiza e o Norte de Portugal. O império romano ocidental se desintegrava, mas a sua base social e econômica continuou, ainda que de forma modificada. Os seus regimes sucessores mantiveram muitas das instituições e das leis do Império, incluindo o cristianismo.
Os aliados dos alanos, os vândalos asdingos, estabeleceram um reino na Galécia, ocupando grande parte da região, mas indo mais ao sul do rio Douro. Os vândalos silingos ocuparam a região que ainda tem o seu nome — Vandalúsia, a moderna Andaluzia, na Espanha. Os bizantinos estabeleceram um enclave, Espânia, no sul, com a intenção de reviver o Império Romano ao longo da Península Ibérica. A Hispânia acabou unida sob o domínio visigótico no final do .
Ibéria muçulmana.
No , quase toda a Península Ibérica foi conquistada por exércitos de mouros muçulmanos provenientes principalmente do Norte de África. Essas conquistas fizeram parte da expansão do Califado Omíada. Apenas uma pequena área montanhosa no noroeste da Península conseguiu resistir à invasão inicial muçulmana.
Sob a lei islâmica, os cristãos e os judeus receberam o estatuto subordinado de "dhimmi". Esse estatuto permitia que cristãos e judeus praticassem suas religiões como "povos do livro", mas eles eram obrigados a pagar um imposto especial e eram sujeitos a certas discriminações. A conversão ao islamismo prosseguiu a um ritmo cada vez maior. Acredita-se que os "muladi" (muçulmanos de origem étnica ibérica) compreendiam a maioria da população de "Al-Andalus" até o final do .
A comunidade muçulmana na Península Ibérica era diversificada e atormentado por tensões sociais. Os povos berberes do Norte de África, que tinham fornecido a maior parte dos exércitos invasores, entraram em choque com a liderança árabe do Oriente Médio. Ao longo do tempo, grandes populações árabes se estabeleceram, especialmente no vale do rio Guadalquivir, na planície costeira de Valência, no vale do rio Ebro (no final deste período) e na região montanhosa de Granada.
Córdova, a capital do califado, era a maior, mais rica e sofisticada cidade na Europa Ocidental na época. O comércio e o intercâmbio cultural no Mediterrâneo floresceram. Os muçulmanos importaram uma rica tradição intelectual do Oriente Médio e do Norte da África. Estudiosos muçulmanos e judeus desempenharam um papel importante na renovação e ampliação da aprendizagem clássica grega na Europa Ocidental. As culturas romanizadas da Península Ibérica interagiram com as culturas muçulmanas e judaicas de forma complexa, dando, à região, uma cultura distinta. No , os territórios muçulmanos fragmentaram-se em reinos rivais (as chamadas taifas), permitindo, aos pequenos Estados cristãos, a oportunidade de ampliar enormemente seus territórios.
A chegada das seitas islâmicas dominantes dos Almorávidas e Almóadas, do Norte da África, restaurou a unidade na Península Ibérica muçulmana, com uma aplicação mais rigorosa e menos tolerante do islã, provocando uma recuperação das fortunas muçulmanas. Este Estado islâmico reunido experimentou mais de um século de sucessos que reverteram parcialmente as vitórias cristãs.
Reconquista.
A Reconquista foi o período de séculos em que o domínio cristão foi sendo gradualmente restabelecido sobre a Península Ibérica. A Reconquista é vista como tendo início na Batalha de Covadonga, vencida por Don Pelayo em 722, e coincide com o período do domínio muçulmano. A vitória do exército cristão sobre as forças muçulmanas levou à criação do Reino das Astúrias ao longo das montanhas costeiras do noroeste. Pouco depois, em 739, as forças muçulmanas foram expulsas da Galiza, que depois hospedaria um dos locais mais sagrados da Europa medieval, Santiago de Compostela, e foi incorporada ao novo reino cristão. O Reino de Leão foi o reino cristão mais forte por séculos. O Reino de Castela, formado a partir do território leonês, foi seu sucessor como o reino mais forte.
Os exércitos muçulmanos também se mudaram para o norte dos Pirenéus, mas foram derrotados pelas forças francas na Batalha de Poitiers e expulsos da região mais ao sul do Reino Franco ao longo da costa marítima nos anos 760. Mais tarde, as forças francas estabeleceram condados cristãos no lado sul dos Pireneus. Essas áreas deveriam crescer nos reinos de Navarra e Aragão. Quando Fernando II de Aragão sucedeu na Coroa de Aragão, em 1479, ocorreu finalmente a união deste reino com o de Castela, onde reinava a sua mulher, Isabel I de Castela, dando início à Monarquia Católica, governada pelos Reis Católicos e seus sucessores.
Império.
A unificação das coroas de Aragão e Castela lançou as bases para a Espanha moderna e para o Império Espanhol. Espanha era a maior potência da Europa durante o e a maior parte do , posição reforçada pelo comércio e pela riqueza de suas possessões coloniais. Atingiu o apogeu durante os reinados dos dois primeiros habsburgos espanhóis, Carlos I (1516–1556) e Filipe II (1556–1598). Este período foi marcado pelas Guerras Italianas, Revolta dos Comuneiros, Revolta Holandesa, Rebelião das Alpujarras, conflitos com os otomanos, a Guerra Anglo-Espanhola e as guerras com a França.
Em 1492 também marcou a chegada de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo, durante uma viagem financiada por Isabela. A primeira viagem dele atravessou o Atlântico e chegou às ilhas do Caribe, iniciando a exploração e conquista europeia das Américas, embora Colombo continuasse convencido de que havia chegado ao Oriente. Um grande número de ameríndios morreu em batalha contra os espanhóis durante a conquista, enquanto outros morreram por várias outras causas, como epidemias de doenças trazidas pelos europeus. Alguns estudiosos consideram o período inicial da conquista espanhola — desde o primeiro desembarque de Colombo nas Bahamas até meados do — como um dos casos mais notórios de genocídio na história da humanidade. O número de mortos pode ter atingido cerca de 70 milhões de indígenas (de uma população de 80 milhões) neste período.
Por meio da exploração, conquista ou alianças dinásticas, o Império Espanhol expandiu-se para incluir vastas áreas nas Américas, ilhas na região Ásia-Pacífico, áreas do que hoje é a Itália, cidades no norte da África e partes do que atualmente é território de França, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo e Países Baixos. A primeira circum-navegação do mundo foi realizada em 1519–1521. Foi o primeiro império no qual foi dito que o "Sol nunca se punha". Era uma época de descobertas, com ousadas explorações marítimas e terrestres, a abertura de novas rotas comerciais através dos oceanos, conquistas e o início do colonialismo europeu. Os exploradores espanhóis trouxeram de volta metais preciosos, especiarias e plantas anteriormente desconhecidas e tiveram um papel de liderança na transformação da compreensão europeia do globo. A eflorescência cultural testemunhada durante esse período é agora chamada de Idade de Ouro da Espanha.
A Reforma Protestante arrastou o reino cada vez mais profundamente para o caos de guerras religiosas. O resultado foi um país forçado a expandir esforços militares em toda a Europa e no Mediterrâneo. Nas décadas intermediárias do , em uma Europa assolada pela guerra e pela peste negra, os Habsburgos espanhóis haviam enredado o país em conflitos políticos e religiosos em todo o continente. Esses conflitos esgotaram seus recursos e minaram a economia em geral. A Espanha conseguiu manter a maior parte do império disperso e ajudar as forças imperiais do Sacro Império Romano-Germânico a reverter grande parte dos avanços feitos pelas forças protestantes, mas finalmente foi forçada a reconhecer a separação de Portugal e das Províncias Unidas, além de sofrer algumas reviravoltas militares sérias na França nos últimos estágios da imensamente destrutiva Guerra dos Trinta Anos.
O declínio culminou em uma controvérsia sobre a sucessão ao trono que consumiu os primeiros anos do . A Guerra da Sucessão Espanhola foi um amplo conflito internacional combinado com uma guerra civil e custaria ao reino seus bens europeus e sua posição como uma das principais potências do continente. Durante essa guerra, uma nova dinastia originária da França, os Bourbons, foi instalada. Por muito tempo unido apenas pela Coroa, um verdadeiro Estado espanhol foi estabelecido quando o primeiro rei Bourbon, , uniu as coroas de Castela e Aragão em um único Estado, abolindo muitos dos antigos privilégios e leis regionais.
Domínio napoleônico e Guerra Hispano-Americana.
Em 1793, a Espanha entrou em guerra contra a nova República Francesa revolucionária como membro da Primeira Coligação. A guerra subsequente dos Pirenéus polarizou o país em uma reação contra as elites galicizadas e após a derrota no campo, um acordo de paz foi feita com a França em 1795 na Paz de Basileia, na qual a Espanha perdeu o controle sobre dois terços da ilha de Hispaniola. O primeiro-ministro Manuel Godoy garantiu que a Espanha se aliasse à França na breve Guerra da Terceira Coalizão, que terminou com a vitória naval britânica na Batalha de Trafalgar, em 1805. Em 1807, um tratado secreto entre Napoleão e o impopular primeiro-ministro levou a uma nova declaração de guerra contra a Grã-Bretanha e Portugal. As tropas de Napoleão entraram no país para invadir Portugal, mas ocuparam as principais fortalezas da Espanha. O rei espanhol abdicou em favor do irmão de Napoleão, José Bonaparte. No entanto, novas ações militares dos exércitos espanhóis, guerrilheiros e forças luso-britânicas de Wellington, combinadas com a desastrosa invasão da Rússia por Napoleão, levaram à expulsão dos exércitos imperiais franceses da Espanha em 1814 e ao retorno do rei .
Durante a guerra, em 1810, um corpo revolucionário, as Cortes de Cádis, foi reunido para coordenar o esforço contra o regime bonapartista e preparar uma constituição. Ele se reuniu como um único corpo e seus membros representaram todo o Império Espanhol. Em 1812, uma constituição para uma representação universal sob uma monarquia constitucional foi declarada, mas após a queda do regime bonapartista, Fernando VII demitiu as Cortes Gerais e estava determinado a governar como um monarca absoluto. Esses eventos prenunciaram o conflito entre conservadores e liberais nos séculos XIX e XX.
No final do , movimentos nacionalistas surgiram nas Filipinas e em Cuba. Em 1895 e 1896, a Guerra de Independência de Cuba e a Revolução Filipina eclodiram e, finalmente, os Estados Unidos se envolveram. A Guerra Hispano-Americana foi travada na primavera de 1898 e resultou na Espanha perdendo o último bastião de seu vasto império colonial fora do norte da África. "El Desastre" (o desastre), como a guerra ficou conhecida na Espanha, deu um impulso adicional à geração de 98 que estava realizando uma análise do país.
As duas primeiras décadas do trouxeram um pouco de paz; a Espanha desempenhou um papel menor na partilha da África, colonizando o Saara Ocidental, Marrocos Espanhol e a Guiné Equatorial. As pesadas perdas sofridas durante a guerra do Rif, no norte de África, ajudaram a minar a monarquia. Um período de governo autoritário do general Miguel Primo de Rivera (1923–1931) terminou com o estabelecimento da Segunda República Espanhola. A República ofereceu autonomia política ao País Basco, Catalunha e à Galiza e deu direito de voto às mulheres.
Guerra civil e ditadura.
Em 1936, a Guerra Civil Espanhola (1936–39) iniciou-se. Três anos mais tarde, as forças nacionalistas, lideradas pelo general Francisco Franco, saíram vitoriosos com o apoio da Alemanha nazista e da Itália fascista. A Frente Popular governista foi apoiada pela União Soviética, o México e pelas Brigadas Internacionais, mas não foi apoiada oficialmente pelas potências ocidentais, devido à política britânica, liderada pelos Estados Unidos, de não intervencionismo.
A Guerra Civil tirou a vida de mais de 500 mil pessoas e causou a fuga de cerca de meio milhão de cidadãos espanhóis. A maioria de seus descendentes vivem agora em países da América Latina, com cerca de 300 mil apenas na Argentina.
O Estado espanhol estabelecido por Francisco Franco após a Guerra Civil foi nominalmente neutro na Segunda Guerra Mundial, embora fosse simpático às Potências do Eixo. O único partido legal sob o regime pós-guerra civil de Franco era o "Falange Española Tradicionalista y de las JONS", formado em 1937. O partido enfatizava o anticomunismo, o catolicismo e o nacionalismo. Dada a oposição à Franco de partidos políticos concorrentes, o partido passou a se chamar Movimento Nacional ("Movimiento Nacional") em 1949.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Espanha ficou isolada politicamente e economicamente e foi mantida fora das Nações Unidas. Isso mudou em 1955, durante o período da Guerra Fria, quando o país se tornou estrategicamente importante para os Estados Unidos para estabelecer sua presença militar na Península Ibérica como base para qualquer possível transferência pela União Soviética para a bacia do Mediterrâneo. Na década de 1960, a Espanha registrou uma taxa sem precedentes de crescimento econômico no que ficou conhecido como o milagre espanhol, que retomou a transição, bastante interrompida, para uma economia moderna.
Restauração da democracia.
Com a morte de Franco, em novembro de 1975, Juan Carlos o sucedeu como Rei de Espanha e chefe de Estado, em conformidade com a lei. Com a aprovação da nova Constituição espanhola de 1978 e a restauração da democracia, o Estado descentralizou muito da sua autoridade para as regiões com governo local e criou uma organização interna baseada em comunidades autónomas.
No País Basco, o nacionalismo moderado tem coexistido com um movimento radical nacionalista liderado pela organização armada "Euskadi Ta Askatasuna" (ETA). O grupo foi formado em 1959 durante o governo de Franco, mas continuou a travar a sua violenta campanha mesmo após a restauração da democracia e do retorno de um elevado grau de autonomia regional.
Em 23 de fevereiro de 1981, elementos rebeldes entre as forças de segurança apreenderam Cortes em uma tentativa de impor um governo militar apoiado pelos Estados Unidos. O Rei Juan Carlos assumiu o comando pessoal dos militares e, com êxito, ordenou que os golpistas, através da televisão nacional, se rendessem. Em 30 de maio de 1982 a Espanha aderiu à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), após um referendo. Nesse ano, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) chegou ao poder, o primeiro governo de esquerda em 43 anos. Em 1986 a Espanha aderiu à Comunidade Europeia, que posteriormente tornou-se a União Europeia (UE). O PSOE foi substituído no governo pelo Partido Popular (PP) em 1996.
Em 1 de janeiro de 2002, a Espanha deixou de usar a peseta como moeda e substituiu-a pelo euro, que compartilha com outros 15 países da Zona Euro. O país experimentou um forte crescimento econômico, bem acima da média da UE, mas as preocupações divulgadas e emitidas por muitos comentaristas econômicos no auge do "boom" dos preços imobiliários e dos elevados défices de comércio exterior de que o país estava susceptível a passar por um doloroso colapso econômico foram confirmadas por uma grave recessão que assola o país desde 2008.
Em 11 de março de 2004, uma série de bombas explodiram em trens de Madrid. Depois de um julgamento de cinco meses em 2007, concluiu-se que os atentados foram perpetrados por um grupo islâmico militante local inspirado pela organização Al-Qaeda. As explosões mataram 191 pessoas e feriram mais de 1800, e a intenção dos autores do atentado terrorista pode ter sido influenciar o resultado da eleição geral espanhola, realizada três dias depois.
Embora as suspeitas iniciais tenham se focado no grupo basco ETA, logo surgiram evidências indicando um possível envolvimento de grupos extremistas islâmicos. Devido à proximidade da eleição, a questão da responsabilidade rapidamente se tornou uma controvérsia política, com os principais partidos concorrentes, PP e PSOE, trocando de acusações sobre a manipulação do resultado.
Nas eleições de 14 de março de 2004, o PSOE, liderado por José Luis Rodríguez Zapatero, obteve uma pluralidade suficiente para formar um novo gabinete, portanto, suceder a administração anterior do PP.
Nas eleições de 20 de novembro de 2011 o partido liderado por Mariano Rajoy obteve mais de 10,8 milhões de votos e elegeu 186 deputados, conquistando a maioria absoluta e o melhor resultado de sempre do Partido Popular, que voltou ao poder.
Um referendo sobre a independência da Catalunha foi realizado em 1 de outubro de 2017 e, em 27 de outubro, o Parlamento Catalão votou declarar unilateralmente a independência da Espanha para formar uma República Catalã no dia em que o Senado espanhol discutia a aprovação da intervenção na região autônoma. Mais tarde naquele dia, o Senado concedeu o poder de impor o governo direto de Madrid na Catalunha, enquanto Rajoy dissolveu o Parlamento Catalão e convocou uma nova eleição.
Nenhum país reconheceu a Catalunha como um Estado separado. Em 1 de junho de 2018, o Congresso dos Deputados aprovou uma moção de não confiança contra Rajoy e o substituiu pelo líder do PSOE, Pedro Sánchez, trazendo os socialistas de volta ao poder após sete anos.
Geografia.
Situada na Europa Ocidental, a Espanha ocupa a maior parte da Península Ibérica e, fora dela, dois arquipélagos principais (ilhas Canárias no oceano Atlântico e as ilhas Baleares no mar Mediterrâneo), duas cidades (Ceuta e Melilla, no Norte da África), a ilha de Alborão e uma série de ilha e ilhotas que se encontram frente às costas peninsulares, como as ilhas Columbretes. Ademais, consta de possessões menores continentais, como as ilhas Chafarinas, o ilhote de Vélez de la Gomera e o ilhote de Alhucemas, todas elas frente à costa africana.
Em extensão territorial, é o quarto maior país da Europa, atrás apenas da Rússia (que é o maior país do mundo, tendo em conta apenas a parte europeia), Ucrânia e França, e o segundo maior da União Europeia, atrás apenas da França. Os limites físicos da Espanha são os seguintes: Portugal e o oceano Atlântico a oeste; o mar Mediterrâneo a leste; o Estreito de Gibraltar, mar Mediterrâneo e oceano Atlântico a sul; os Pirenéus a nordeste e o golfo da Biscaia e o mar Cantábrico a norte.
Geomorfologia e hidrografia.
A metade oeste inteira da Península Ibérica, exceto a extremidade meridional, é constituída de rochas velhas (hercínicas); os geólogos costumam se referir a esse Maciço Hespérico com o nome de Meseta Central. A palavra "meseta" igualmente é utilizada por geógrafos e como topônimo local para denominar o relevo que domina o centro da Península Ibérica. Os Pireneus, uma porção dos Alpes europeus, constituem uma grande cordilheira que vai entre o Mediterrâneo e o Golfo da Biscaia, há 430 km de distância. Muitas serras tendendo de noroeste a sudeste constituem a Cordilheira Ibérica, a qual divide a depressão do Ebro da Meseta e se eleva mais com o pico de Moncayo a 2 313 m.
A Península Ibérica tem muitos riachos, três dos quais se encontram dentre os maiores do continente europeu: o Tejo, com 1 007 km de extensão, o Ebro, com 909 km, e o Douro, com 895 km. O Guadiana e o Guadalquivir possuem 818 km e 657 km, respectivamente. O Tejo, da mesma forma que o Douro e o Guadiana, vem para o Oceano Atlântico em território português. Na verdade, todos os mais importantes rios espanhóis, com exceção do Ebro, correm para o Atlântico. A rede fluvial na porção mediterrânea da bacia hidrográfica tem pouco desenvolvimento em contraste com os sistemas do Atlântico, em parte uma vez que desce nas porções menos úmidas na opinião dos climatólogos especializados em Espanha. Entretanto, os rios ibéricos, em sua quase totalidade, possuem reduzido volume por ano, irregularidade nos regimes, vales com grande profundidade e até desfiladeiros. As cheias são continuamente um perigo potencializado.
A erosão do solo que resulta do bioma degradado ao longo de 3 000 anos, tinha criado áreas que reduziram o revestimento da terra, formando de aluviões para o lado em que rio desce e, ultimamente, obras de irrigação e barragens assorearam outras regiões. Uma das piores questões ambientais da Espanha atualmente constitui o perigo da desertificação, do empobrecimento de ecossistemas áridos, semiáridos e ainda úmidos provocados pela ação conjunta das atividades do homem e da estiagem. Quase 50% de Espanha são atingidas de maneira equilibrada ou severa por secas, principalmente no leste arenoso (Almeria, Múrcia), assim como em boa parte de Espanha sub-árida (bacia do Ebro). Políticas de florestação foram adotadas pelo poder executivo, no entanto, certas autoridades creem que a vegetação que cresce naturalmente teria trazido maior permanência de benefícios.
Clima.
A Espanha se caracteriza por uma divisão climática sobreposta entre zonas úmidas, semiáridas, áridas, oceânicas, continentais e temperadas. Essa complexidade é resultado da dimensão da península, que é suficientemente extensa para produzir um regime térmico bastante variado, assim como pela proximidade com o o Oceano Atlântico e o Norte da África, o que expõe o país a influências do mar e do Saara.
Os Pireneus e as cadeias de montanhas da Cantábria exercem uma função fundamental no clima da Espanha, ao manter as massas de ar subtropicais na Espanha nos os meses de verão. Geralmente, os ventos ocidentais do Atlântico Norte dominam a maioria do ano, ao passo que a massa de ar cálida e seca do Saara sopra fortemente de maneira menos frequente. A Espanha setentrional, entre a Galiza e a Catalunha, se caracteriza por um clima temperado marítimo ou úmido.
O clima do restante da península é mediterrâneo com tendências continentais. O clima dos vales do Guadalquivir e do Ebro igualmente é continental, o Guadalquivir mais frio e mais seco e o Ebro mais úmido e mais quente. As comunidades autônomas catalã, valenciana e baleárica têm um clima mais temperado, muito mais chuvoso na Catalunha, ao passo que o clima das Canárias é atlântico subtropical.
A Espanha é um país especialmente afetado pelo fenômeno da seca: durante o período 1880–2000, mais da metade dos anos foram classificados como secos ou muito secos. Sete anos da década dos 1980 e cinco da década de 1990 foram considerados secos ou muito secos. As mudanças climáticas devem trazer graves problemas ambientais, agravando as características mais extremas do clima local.
Meio ambiente.
A vegetação natural cobre quase 50% metade do território espanhol, entretanto, somente uma pequena parte (em boa parte limitado às montanhas) se classifica como floresta densa. A região setentrional tem florestas decíduas (carvalho, faia) e charnecas. A vegetação do restante do território espanhol é mediterrânea, que se caracteriza por carvalho-verde ("Quercus ilex") e demais plantas que resistem aos períodos de seca.
A proximidade da África com a Espanha forneceu ao país mais espécies de animais silvestres africanas que as que se encontram nas demais penínsulas do Mediterrâneo, ao passo que a cordilheira dos Pireneus e a extensão da nação motivam a quantidade de espécies endêmicas. O lobo europeu e o urso marrom costumam sobreviver nas pequenas regiões silvestres da parte nordeste. O gamo, o íbex (cabra-selvagem), o veado-vermelho e o javali costumam ser frequentes. Cerca de 50% das espécies de aves europeias se encontram no Parque Nacional de Doñana, na desembocadura do Guadalquivir; a águia-imperial-ibérica e demais aves de grande porte, como o urubu e diversas variações de faisão, são endêmicas dos Pireneus. A Espanha meridional e a África setentrional também são invadidas periodicamente pelos gafanhotos-do-deserto.
As águas do país abrigam diversos peixes e mariscos, principalmente na região em que o Atlântico e o Mediterrâneo se encontram (o Mar de Alborán). Espécies como salmonete, cavala, atum, polvo, peixe-espada, sardinha ("Sardinia pilchardus") e anchova ("Engraulis encrasicholus") são comuns. Dentre as espécies demersais (de fundo) estão pescada e badejo. As águas de Espanha sul-oriental são habitadas pelo golfinho-riscado, por baleias e pelo Golfinho-roaz.
Desde 1996 o índice de emissões de CO₂ subiu notavelmente em Espanha, descumprindo os objetivos do Protocolo de Quioto sobre emissões geradoras do efeito estufa e contribuintes da mudança climática. Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, pediu a Espanha uma "liderança mais ativa" na luta contra a mudança climática. Segundo Al Gore, Espanha é o país europeu mais vulnerável ao efeito estufa.
Demografia.
Em 2019, a população de Espanha oficialmente alcançou os 47 milhões de pessoas, conforme registrado pelo "Padrón municipal". A densidade populacional do país, em , é menor do que a da maioria dos países da Europa Ocidental e sua distribuição através do país é bastante desigual. Com exceção da região do entorno da capital, Madrid, as áreas mais povoadas ficam em torno da costa. A população da Espanha mais que dobrou desde 1900, quando se situava em 18,6 milhões, principalmente devido ao espetacular crescimento demográfico vivido pelo país na década de 1960 e início de 1970.
A Espanha é o país mais tolerante em relação à homossexualidade em todo o mundo. Apenas 6% dos espanhóis dizem que a homossexualidade é "moralmente inaceitável", ao passo que 55% a consideram "moralmente aceitável" e 38% dizem que a homossexualidade "não é uma questão moral". Desde 2004 o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Espanha é legal.
Composição étnica.
Os espanhóis nativos compõem 88% da população total da Espanha. Depois da taxa de natalidade ter caído na década de 1980, a taxa de crescimento populacional da Espanha diminuiu, mas a população novamente cresceu baseada inicialmente no regresso de muitos espanhóis que emigraram para outros países europeus durante os anos 1970 e, mais recentemente, alimentada por um grande número de imigrantes que constituem 12% da população. Os imigrantes são originários principalmente na América Latina (39%), Norte da África (16%), Europa Oriental (15%) e África subsaariana (4%).
Em 2008, o país concedeu a cidadania a pessoas, principalmente para pessoas vindas do Equador, Colômbia e Marrocos. Uma parte considerável dos residentes estrangeiros na Espanha também vêm de outros países da Europa Ocidental e Central. Estes são em sua maioria britânicos, franceses, alemães, holandeses e noruegueses. Eles residem principalmente na costa do Mediterrâneo e nas ilhas Baleares, onde muitos escolhem para viver sua aposentadoria.
Populações substanciais descendentes de colonos espanhóis e imigrantes existem em outras partes do mundo, com destaque para a América Latina. Começando no final do , um grande número de colonos ibéricos estabeleceram-se no que se tornou a América Latina e no momento a maior parte dos latino-americanos brancos (que representam cerca de um terço da população da América Latina) são de origem espanhola ou portuguesa. No , estima-se que 240 000 espanhóis emigraram, principalmente para Peru e México. A eles se juntaram 450 000 que emigraram no século seguinte. Entre 1846 e 1932 estima-se que cerca de 5 milhões de espanhóis emigraram para a América, especialmente para Argentina, Cuba e Brasil Cerca de dois milhões de espanhóis migraram para outros países da Europa Ocidental entre 1960 e 1975. Durante o mesmo período, cerca de 300 000 foram para a América Latina.
Imigração e migração.
Os movimentos migratórios, tanto internos quanto externos, foram determinantes na composição demográfica moderna da Espanha. Entre o final do e início do , houve uma significativa corrente imigratória da Espanha para países ibero-americanos. Entre os principais destinos estavam Argentina, Cuba e Brasil. A densidade populacional da Espanha é menor que a da maioria dos países europeus. As populações rurais estão se movendo para as cidades. Nos últimos anos a Espanha apresenta uma considerável diminuição na taxa de imigração neta, deixando de possuir a maior taxa de imigração da Europa (em 2005 de 1,5% anual somente superado na UE pelo Chipre) atualmente sua taxa de imigração neta chega a 0,99%, ocupando a 15ª posição na União Europeia. Além disso, o 9° país com maior porcentagem de imigrantes dentro da UE, abaixo de países como Luxemburgo, Irlanda, Áustria e Alemanha.
Em 2005, a Espanha recebeu 38,6% da imigração para a União Europeia, principalmente de cidadãos de origem latino-americana, de outros países da Europa Ocidental, da Europa Oriental e do Magrebe. A população estrangeira na Espanha em 2007 cifrou-se em 4 144 166, um incremento de 11,1% em relação ao ano anterior. Este valor representa 9,3% dos habitantes na Espanha.
Idiomas.
A Espanha é abertamente um país multilíngue. O idioma oficial e o mais falado no conjunto da Espanha, por 98,9% da população, é o castelhano, língua materna de 89% dos espanhóis, que pode receber a denominação alternativa de espanhol. A estimativa do seu número de falantes em todo o mundo vai desde os 450 aos 500 milhões de pessoas, sendo a segunda língua materna mais falada depois do chinês. Há previsões que se torne a segunda língua de comunicação internacional depois do inglês no futuro, e, após este, é a segunda língua mais estudada.
A Constituição Espanhola reconhece a riqueza linguística de Espanha como património cultural sujeito a especial respeito e proteção, e declara que o "resto de línguas espanholas" são oficiais nas comunidades autónomas segundo os seus estatutos de autonomia, apesar de ser apenas um dever e obrigação o conhecimento do castelhano.
Na Espanha, gozam da mesma proteção que o idioma espanhol as seguintes línguas: catalão (entre 9% e 17% da população); galego (entre 5% e 7% da população); basco (1% da população); asturo-leonês; aragonês; occitano; português; tarifit (em Melilha); e árabe (em Ceuta e Melilha). A Espanha ratificou em 9 de abril de 2001 a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias do Conselho Europeu.
Religião.
O artigo 16-3 da constituição espanhola vigente define o país como um Estado sem confissão: ‘‘"Nenhuma confissão terá caráter estatal"‘‘. Porém, é garantida a liberdade religiosa e de culto dos indivíduos e é assegurada uma relação de cooperação entre os poderes públicos e todas as confissões religiosas. De acordo com o Centro de Investigações Sociológicas, o centro estatal espanhol de estatística, no seu estudo de julho de 2019, cerca de 67,4% dos espanhóis classificaram-se como católicos romanos, embora apenas 22,7% seja praticante. Por outro lado os ateus ou não religiosos somam 21,6%, e os agnósticos chegam a 7,5%. Os aderentes de outras religiões (incluindo islamismo, protestantismo, budismo etc.), cerca de 2%.
De acordo com pesquisa de 2010 do "Eurobarometer", 59% da população espanhola acredita na existência de algum deus. 20% dos espanhóis acreditam na existência de algum tipo de espírito ou força vital, ao passo que 19% não acredita que exista qualquer tipo de espírito, deus, ou força vital.
A maioria dos espanhóis não frequentam templos religiosos regularmente. O estudo apontou que, dos espanhóis que se dizem religiosos, 61% raramente frequenta a missa, 14% frequenta a missa algumas vezes ao ano, 10% algumas vezes ao mês e 14% todos os domingos ou várias vezes na semana. Embora uma maioria dos espanhóis seja católica, a maior parte, especialmente os jovens, ignora as doutrinas morais conservadoras em assuntos como sexo antes do casamento, orientação sexual e métodos contraceptivos.
A segunda religião em número de membros é a muçulmana. Calcula-se que há cerca de 800 000 fiéis, vindos fundamentalmente das recentes ondas de imigração. Há também um número crescente de igrejas protestantes, que somam cerca de 400 000 fiéis (a estatística própria dos protestantes em Espanha indica 1,2 milhões, dos quais 400 000 são espanhóis e o resto são estrangeiros que residem na Espanha durante pelo menos seis meses ao ano).
Política.
Governo.
A Espanha é uma monarquia parlamentarista, com um monarca hereditário que exerce como Chefe de Estado — o Rei da Espanha, e um parlamento bi-cameral, as "Cortes Generales". O poder executivo é formado por um Conselho de Ministros presidido pelo Presidente do Governo, que exerce como Chefe de Governo, e o poder judicial está formado pelo conjunto de Juizados e Tribunais, integrado por Juízes e Magistrados, que têm a potestade de administrar justiça em nome do Rei. O poder legislativo se estabelece nas Cortes Gerais, que é o órgão supremo de representação do povo espanhol. As Cortes Gerais são compostas de uma câmara baixa, o Congresso dos Deputados, e uma câmara alta, o Senado.
O Congresso dos Deputados é formado por 350 membros eleitos por votação popular, em listas fechadas e através de representação proporcional mediante circunscrições provinciais, para servir em legislaturas de quatro anos. O sistema não é absolutamente proporcional, já que existe um número mínimo de cadeiras por circunscrição (3) e se usa um sistema proporcional levemente corrigido para favorecer as listas majoritárias (o Sistema d'Hondt).
O Senado possui 259 membros, dos quais 208 são eleitos diretamente mediante voto popular, por circunscrições provinciais, em cada uma das quais se elegem 4 senadores, seguindo um sistema majoritário (3 para a lista majoritária, 1 para a seguinte), exceto nas ilhas Baleares e nas ilhas Canárias, onde cada circunscrição é uma ilha. Os outros 51 são designados pelos órgãos regionais para servir, também, por períodos de quatro anos. No dia 2 de junho de 2014, o rei Juan Carlos I abdicou do trono a favor do seu filho, que tornou-se o rei Filipe VI. Foi a primeira vez em mais de cinquenta anos que um rei abdica do trono na Espanha.
Relações internacionais.
Após o retorno da democracia após a morte de Franco em 1975, as prioridades da política externa da Espanha foram romper o isolamento diplomático dos anos da ditadura franquista e expandir as relações diplomáticas, entrar na Comunidade Europeia e definir as relações de segurança com o Ocidente. A Espanha manteve relações especiais com a América hispânica e as Filipinas. Sua política enfatiza o conceito de comunidade ibero-americana, essencialmente a renovação do conceito de "hispanismo", que procura vincular a Península Ibérica à América hispânica através da linguagem, comércio, história e cultura. É fundamentalmente "baseado em valores compartilhados e na recuperação da democracia".
Reivindicações territoriais.
A Espanha reivindica Gibraltar, um território britânico ultramarino de 6 km2, na parte mais meridional da Península Ibérica. Então uma cidade espanhola, foi conquistado por uma força anglo-holandesa em 1704 durante a Guerra da Sucessão Espanhola em nome do Arquiduque Carlos, pretendente do trono espanhol. A situação jurídica relativa a Gibraltar foi resolvida em 1713 pelo Tratado de Utrecht, no qual a Espanha cedeu o território perpetuamente à Coroa britânica, afirmando que, se os britânicos abandonassem o local, ele seria oferecido à Espanha em primeiro lugar. Desde a década de 1940, a Espanha pediu o retorno de Gibraltar. A esmagadora maioria dos gibraltânicos se opõe fortemente a isso, assim como rejeitam qualquer proposta de soberania compartilhada. As resoluções da ONU apelam ao Reino Unido e à Espanha para chegarem a um acordo sobre o estatuto de Gibraltar.
Outra reivindicação da Espanha é sobre as ilhas Selvagens, uma reivindicação não reconhecida por Portugal. A Espanha afirma que são rochas e não ilhas, alegando que não há águas territoriais portuguesas em torno das ilhas em disputa. Em 5 de julho de 2013, a Espanha enviou uma carta à ONU que expressava esses pontos de vista.
Forças armadas.
As forças armadas da Espanha tem como comandante-em-chefe o rei da Espanha, Felipe VI. Elas são responsáveis por garantir a soberania e independência da Espanha, defensora de sua integridade territorial e da ordem constitucional, de acordo com as funções confiadas na Constituição de 1978. São formações: Exército, Força Aérea, Armada Espanhola, Guarda Real e Unidade Militar de Emergência, bem como o chamado Corpo Comum.
As forças armadas espanholas são uma força profissional com funcionários ativos e na reserva. O país também possui a Guarda Civil de 77 000 soldados, que está sob o controle do Ministério da Defesa em tempos de emergência nacional. O orçamento da defesa espanhola é de cerca de 5,7 bilhões de euros (2015).
O Exército Espanhol consiste em 15 brigadas ativas e 6 regiões militares. A infantaria moderna possui diversas capacidades e isso se reflete nos diversos papéis que lhes são atribuídos. Existem quatro papéis operacionais que os batalhões de infantaria podem cumprir: assalto aéreo, infantaria blindada, infantaria mecanizada e infantaria leve.
O atual navio-chefe da Marinha Espanhola é o navio de assalto anfíbio "Juan Carlos I", que também é usado como porta-aviões. Além disso, a frota é composta por: 2 docas de transporte anfíbio, 11 fragatas, 3 submarinos, 6 embarcações de contramedidas para minas, 23 embarcações de patrulha e vários navios auxiliares. O deslocamento total da Marinha Espanhola é de aproximadamente 220 000 toneladas. Em 2012, a Armada contava com funcionários.
A Espanha possui dez esquadrões de caça, cada um com 18 a 24 aviões. A força aérea também possui 15 bases aéreas operacionais em todo o país e mantém cerca de 450 aeronaves no total, das quais cerca de 130 são aeronaves de combate, incluindo vários Eurofighter Typhoons.
A Espanha pertence à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) desde 1982. A decisão foi ratificada em um referendo em 1986 pelo povo espanhol. As condições foram a redução das bases militares norte-americanas, nenhuma integração da Espanha na estrutura militar da OTAN e a proibição de introduzir armas nucleares no território espanhol.
Subdivisões.
Desde a Constituição de 1978 que a Espanha está dividida em 17 comunidades autônomas e as duas cidades autônomas de Ceuta e Melilla, gozando estas de estatuto intermediário entre o município e a Comunidade. Das 17 comunidades autônomas, oito delas (Galiza, País Basco, Andaluzia, ilhas Canárias, Catalunha, Aragão, Comunidade Valenciana e ilhas Baleares) possuem condição de "Nacionalidades Históricas" reconhecidas na Constituição, juntamente com um "Estatuto de autonomia", o que reverte num maior poder e capacidade de decisão e soberania com respeito às outras comunidades.
Estado das Autonomias.
A Espanha é na atualidade o que se denomina um "Estado de Autonomias", um país formalmente unitário, mas que funciona como uma federação descentralizada de comunidades autônomas, cada uma delas com diferentes níveis de autonomia. As diferenças dentro deste sistema são provocadas pelo processo de transferência de responsabilidades do governo central para as regiões foi pensado em um princípio como um processo, que garantisse um maior grau de autonomia somente àquelas comunidades que buscavam um tipo de relação mais federalista com o resto da Espanha (as chamadas "comunidades autônomas de regime especial": Andaluzia, ilhas Canárias, Catalunha, Aragão, Comunidade Valenciana, ilhas Baleares, Galiza e País Basco). Por outro lado, o resto de comunidades autônomas ("comunidades autônomas de regime comum") teria uma menor autonomia. Porém, estava previsto que ao longo dos anos, estas comunidades fossem adquirindo gradativamente maior autonomia.
Hoje em dia, a Espanha está considerada como um dos países europeus mais descentralizados, pois todos os seus diferentes territórios administram de forma local seus sistemas de saúde e educativos, assim como alguns aspetos do orçamento público; alguns deles, como o País Basco e Navarra, administram seu orçamento sem praticamente contar, excetuado em alguns aspetos, com a supervisão do governo central espanhol. Catalunha, Navarra e o País Basco possuem suas próprias polícias totalmente operativas e completamente autônomas. Excetuando Navarra (cuja polícia se chama "Policía Foral de Navarra"), tanto a polícia da Catalunha ("Mossos d'Esquadra") como a polícia do País Basco ("Ertzaintza") substituem as funções da Polícia Nacional da Espanha em seus respetivos territórios. Navarra ainda está em processo de transferência de funções.
Movimentos separatistas.
Existem na Espanha diversos movimentos políticos de posição separatista, ligados a nacionalismos periféricos, como o nacionalismo basco, o nacionalismo galego, o nacionalismo catalão, que reclamam a independência da Espanha dos territórios em que são ativos.
Estes movimentos acontecem na Catalunha, Galiza, Navarra e no País Basco, onde existem partidos explicitamente separatistas como a "União do Povo Galego" (UPG), "Esquerda Republicana da Catalunha", "Aralar", o "Eusko Alkartasuna", assim como os seguidores da chamada "esquerda abertzale" que não se desvinculam do ETA (sua última denominação formal é Batasuna, partido ilegalizado em Espanha, mas legal em França). Por outro lado, partidos como o "Bloco Nacionalista Galego" (BNG), "Partido Nacionalista Basco" (PNV) e "Convergència i Unió" (CiU) oscilam entre posturas autonomistas e abertamente separatistas.
Economia.
A economia mista capitalista da Espanha é a décima sexta maior economia do mundo em PIB (PPC), a décima quarta maior por PIB nominal e a quinta maior na União Europeia, bem como a quarta maior da Zona Euro. O país é também o terceiro maior investidor do mundo.
Nas exportações, em 2020, o país foi o 16º maior do mundo (US$ 337,2 bilhões em mercadorias, 1,8% do total mundial, ou US$ 486 bilhões se considerarmos bens e serviços exportados). Em 2019, foi o 14º maior importador do mundo, com o valor de US$ 375,4 bilhões. A Espanha tinha a 14ª indústria mais valiosa do mundo em 2019 (US$ 155,4 bilhões), de acordo com o Banco Mundial.
O governo de centro-direita do ex-primeiro-ministro José María Aznar teve sucesso para ser admitido no grupo de países que lançaram o euro em 1999. A taxa de desemprego situava-se em 7,6% em outubro de 2006, uma taxa que comparavelmente favorável a de muitos outros países europeus e especialmente com o início dos anos 1990 quando se situava em mais de 20%. Os pontos fracos perenes da economia espanhola incluem alta inflação, uma grande economia informal e um sistema educativo que os relatórios da OCDE classificam entre os piores entre os países desenvolvidos, em conjunto com os Estados Unidos e o Reino Unido.
No entanto, a bolha imobiliária que começou a se formar a partir de 1997, alimentada por taxas de juros historicamente baixas e uma onda imensa de imigração, implodiu em 2008 e levou a economia a um rápido enfraquecimento e a um aumento do desemprego. Até o final de maio de 2009, o desemprego atingiu 18,7% (37% para os jovens).
Antes da atual crise, a economia espanhola era creditada por ter evitado uma taxa de crescimento virtual zero como alguns de seus maiores parceiros na União Europeia apresentaram. Na verdade, a economia do país criou mais de metade de todos os novos postos de trabalho na União Europeia durante cinco anos até 2005, um processo que está sendo rapidamente revertido. A economia espanhola, até há pouco tempo, era considerada uma das mais dinâmicos da União Europeia, atraindo uma quantidade significativa de investimentos estrangeiros. O crescimento econômico mais recente foi grandemente beneficiado pelo "boom" imobiliário mundial, com o setor de construção civil representando surpreendentes 16% do PIB do país e 12% dos empregos no seu último ano.
Segundo cálculos do jornal alemão "Die Welt", a Espanha estava a caminho de ultrapassar países como a Alemanha em renda per capita até 2011. No entanto, o PIB per capita da Espanha ainda era inferior à média da União Europeia, que era de 29 800 USD em 2010, tornando-se o segundo mais baixo da Europa Ocidental, depois do de Portugal. O lado negativo do agora extinto "boom" imobiliário é também um correspondente aumento nos níveis de endividamento pessoal: o nível médio de endividamento das famílias triplicou em menos de uma década. Isto pôs grande pressão em cima de uma renda mais baixa para os grupos de renda média; até 2005, o nível médio de endividamento em relação a renda havia crescido para 125%, devido principalmente ao "boom" de hipotecas caras, que hoje muitas vezes excedem o valor da propriedade.
Em 2008/2009, o arrocho do crédito e a recessão mundial manifestaram-se na Espanha através de uma enorme recessão no setor imobiliário. Contudo, os bancos da Espanha e os serviços financeiros evitaram os problemas mais graves dos seus congéneres nos Estados Unidos e no Reino Unido, devido principalmente a um regime financeiro conservador e regulamentado rigorosamente respeitado. A Comissão Europeia previu que a Espanha iria entrar em recessão econômica até o final de 2008. Segundo o Ministro das Finanças da Espanha, "a Espanha enfrenta a sua pior recessão em meio século".
Turismo.
Em 2017, a Espanha foi o segundo país mais visitado do mundo, registrando 82 milhões de turistas, que marcaram o quinto ano consecutivo de números recorde. A sede da Organização Mundial de Turismo está localizada em Madri.
A localização geográfica da Espanha, costas populares, paisagens diversas, legado histórico, cultura vibrante e excelente infraestrutura fizeram da indústria turística internacional do país uma das maiores do mundo. Nas últimas cinco décadas, o turismo internacional na Espanha cresceu e se tornou o segundo maior do mundo em termos de gastos, no valor de aproximadamente 40 bilhões de euros ou cerca de 5% do PIB do país em 2006.
Infraestrutura.
Energia.
A Espanha era um dos países líderes mundiais no desenvolvimento e produção de energia renovável. Em 2012, a Espanha era um dos líderes mundiais em energia eólica e energia solar instaladas. À época, somente EUA, China e Alemanha tinham mais energia eólica instalada em seu território; já na energia solar, apenas EUA, China, Japão, Alemanha e Itália. Em 2010, suas turbinas eólicas geraram GWh, responsáveis por 16,4% de toda a energia elétrica produzida na Espanha. Em 9 de novembro de 2010, a energia eólica atingiu um pico histórico instantâneo, cobrindo 53% da demanda continental de eletricidade e gerando uma quantidade de energia equivalente à de 14 reatores nucleares. Em 2021, a Espanha tinha, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica (12º maior do mundo), em energia eólica (5º maior do mundo), em energia solar (10º maior do mundo), e em biomassa.
As fontes de energia não renováveis usadas na Espanha são nucleares (8 reatores operacionais), gás natural, carvão e petróleo. Juntos, os combustíveis fósseis geraram 58% da eletricidade da Espanha em 2009, logo abaixo da média da OCDE de 61%. A energia nuclear gerou outros 19% e a energia eólica e a hidrelétrica cerca de 12% cada.
Transportes.
O sistema rodoviário espanhol é principalmente centralizado, com seis rodovias que ligam Madrid ao País Basco, Catalunha, Valência, Andaluzia Ocidental, Estremadura e Galiza. Além disso, existem rodovias ao longo das costas do Atlântico (Ferrol a Vigo), Cantábria (Oviedo a San Sebastián) e Mediterrâneo (Girona a Cádis). A Espanha estabeleceu a meta de colocar um milhão de carros elétricos nas estradas até 2014 como parte do plano do governo para economizar energia e aumentar a eficiência energética. O ex-ministro da Indústria, Miguel Sebastián, disse que "o veículo elétrico é o futuro e o motor de uma revolução industrial".
A Espanha possui a mais extensa rede ferroviária de alta velocidade na Europa e a segunda mais extensa do mundo, depois da China. Em outubro de 2010, a o país possuía um total de km de trilhos de alta velocidade ligando Málaga, Sevilha, Madrid, Barcelona, Valência e Valladolid, com trens com velocidades até 300 km/h. Em média, o trem de alta velocidade espanhol é o mais rápido do mundo, seguido do trem-bala japonês e do TGV francês. Em relação à pontualidade, é o segundo lugar no mundo (98,54% de chegada no horário) após o japonês Shinkansen (99%). Caso os objetivos do ambicioso programa AVE (trens de alta velocidade espanhóis) sejam atendidos, até 2020, a Espanha terá 7 000 km de trens-bala que ligam quase todas as cidades provinciais a Madrid em menos de três horas e a Barcelona em quatro horas.
Existem 47 aeroportos públicos na Espanha. O mais movimentado é o aeroporto de Madrid (Barajas), com 50 milhões de passageiros em 2016, sendo o 25º aeroporto mais movimentado do mundo, bem como o quarto mais ocupado da União Europeia. O aeroporto de Barcelona (El Prat) também é importante, com 44 milhões de passageiros em 2016, sendo o 33.º aeroporto mais movimentado do mundo. Outros principais aeroportos estão localizados em Maiorca (23 milhões de passageiros), Málaga (13 milhões de passageiros), Las Palmas (11 milhões de passageiros), Alicante (dez milhões de passageiros) e menores, com número de passageiros entre quatro e dez milhões, como o aeroporto de Tenerife (dois aeroportos), Valência, Sevilha, Bilbao, Ibiza, Lanzarote e Fuerteventura. Além disso, mais de 30 aeroportos com o número de passageiros abaixo de quatro milhões.
Os portos e portos mais importantes são Algeciras, Barcelona, Valência e Bilbao outros: Cádiz, Cartagena, Ceuta, Huelva, La Coruña, Las Palmas, Málaga, Melilla, Gijón, Palma de Maiorca, Sagunto, Santa Cruz de Tenerife, Los Cristianos (Tenerife), Santander, Tarragona, Vigo, Motril, Almería, Sevilha, Castellón de la Plana, Alicante, Pasaia, Avilés e Ferrol.
Saúde.
O sistema de saúde da Espanha ("Sistema Nacional de Saúde") é considerado um dos melhores do mundo, na 7ª posição no ranking elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A assistência médica é pública, universal e gratuita para qualquer cidadão espanhol.
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os gastos totais em saúde representaram 9,4% do PIB espanhol em 2011, ligeiramente acima da média da OCDE de 9,3%. A Espanha é classificada em 1º no mundo em transplantes de órgãos.
O setor público é a principal fonte de financiamento da saúde. No país, 73% dos gastos com saúde foram financiados por fontes públicas em 2011, muito próximo da média de 72% nos países da OCDE. Desde 2010, os gastos a longo prazo em saúde diminuíram.
Educação, ciência e tecnologia.
A educação estatal na Espanha é gratuita e obrigatória dos 6 aos 16 anos de idade. O sistema educacional atual foi estabelecido pela lei educacional de 2006, a LOE ("Ley Orgánica de Educación") ou Lei Orgânica de Educação. Em 2014, a LOE foi parcialmente modificada pela lei LOMCE mais nova e controversa ("Ley Orgánica para la Mejora de la Calidad Educativa"), ou Lei Orgânica para a Melhoria do Sistema Educacional, comumente chamada "Ley Wert". Desde 1970 a 2014, a Espanha teve sete leis educacionais diferentes (LGE, LOECE, LODE, LOGSE, LOPEG, LOE e LOMCE). A Institución Libre de Enseñanza foi um projeto educacional que se desenvolveu em Espanha por meio século, de 1876 até 1936, por Francisco Giner de los Ríos e Gumersindo de Azcárate. O instituto inspirou-se na filosofia do krausismo. Concepción Arenal no feminismo e Santiago Ramón y Cajal na neurociência estavam no movimento.
Nos séculos XIX e XX, a ciência na Espanha foi retida por uma grave instabilidade política e consequente subdesenvolvimento econômico. Apesar destas condições, surgiram alguns cientistas e engenheiros importantes. Os mais notáveis foram Miguel Servet, Santiago Ramón y Cajal, Narcís Monturiol, Celedonio Calatayud, Juan de La Cierva y Codorniu, Leonardo Torres y Quevedo, Margarita Salas e Severo Ochoa. O Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) é o principal órgão público dedicado à pesquisa científica no país. Classificou-se como a 5ª principal instituição científica governamental em todo o mundo (e a 32ª no geral) no ranking de instituições SCImago de 2018.
Cultura.
A Espanha é conhecida pelo seu patrimônio cultural diversificado, tendo sido influenciado por muitas nações e povos ao longo de sua história. A cultura espanhola tem suas origens nas culturas ibérica, celta, celtibera, latina, visigótica, católica romana, e islâmica. A definição de uma cultura nacional espanhola tem sido caracterizada pela tensão entre o estado centralizado, dominado nos últimos séculos por Castela, e muitas regiões e povos minoritários. Além disso, a história da nação e de seu ambiente mediterrânico e atlântico desempenharam papéis importantes na formação de sua cultura. A Espanha tem 47 patrimônios da humanidade, o que inclui a paisagem de Monte Perdido, nos Pirenéus, que é compartilhada com a França, os sítios de arte rupestre pré-históricos do Vale do Côa e o Siega Verde, que é compartilhado com Portugal, o Patrimônio de Mercúrio, compartilhado com a Eslovênia e as florestas primárias de faias dos Cárpatos e de outras regiões da Europa, compartilhadas com outros países da Europa. Além disso, a Espanha também possui 14 patrimônios culturais imateriais, ou "tesouros humanos".
Artes.
Artistas da Espanha têm tido grande influência no desenvolvimento de vários movimentos artísticos europeus e norte-americanos. Devido à diversidade histórica, geográfica e geracional, a arte espanhola conheceu um grande número de influências. A herança mediterrânea com greco-romana e alguns mouros e influências na Espanha, especialmente na Andaluzia, ainda é evidente hoje. As influências europeias incluem Itália, Alemanha e França, especialmente durante os períodos renascentista, barroco espanhol e neoclássico. Existem muitos outros estilos autóctones, como a arte e a arquitetura pré-românica, a arquitetura herreriana ou o gótico isabelino.
Durante a Era de Ouro, os pintores que trabalhavam na Espanha incluíam El Greco, Ribera, Murillo e Zurbarán. Também no período barroco, Diego Velázquez criou alguns dos retratos espanhóis mais famosos, como "Las Meninas" e "Las Hilanderas". Goya pintou durante um período histórico que inclui a Guerra da Independência Espanhola, as lutas entre liberais e absolutistas e a ascensão dos Estados-nações contemporâneos. Sorolla é um conhecido pintor impressionista moderno e existem muitos pintores espanhóis importantes pertencentes ao movimento artístico modernista, incluindo Picasso, Dalí, Gris e Miró.
Literatura.
O desenvolvimento da literatura espanhola coincide e frequentemente se cruza com o de outras tradições literárias de regiões dentro do mesmo território, principalmente a literatura catalã; o galego também se cruza com as tradições literárias latinas, judaicas e árabes da península ibérica. A literatura da América Latina é um importante ramo da literatura espanhola, com suas próprias características particulares que remontam aos primeiros anos da conquista espanhola das Américas.
A conquista e ocupação romana da Península Ibérica, iniciada no , trouxe uma cultura latina aos territórios espanhóis. A chegada dos invasores muçulmanos em 711 d.C. trouxe as culturas do Oriente Médio e Extremo Oriente. Na literatura espanhola medieval, os primeiros exemplos registrados de uma literatura vernacular misturam a cultura muçulmana, judaica e cristã. Uma das obras notáveis é o poema épico "Cantar de Mio Cid", escrito em 1140. A prosa espanhola ganhou popularidade em meados do . A poesia lírica na Idade Média inclui poemas populares e a poesia cortês dos nobres. Durante o , ocorreu o pré-renascimento e a produção literária aumentou muito. No Renascimento, os tópicos importantes eram poesia, literatura religiosa e prosa. Na era barroca do , importantes obras foram a prosa de Francisco de Quevedo e Baltasar Gracián. Miguel de Cervantes é provavelmente o autor mais famoso da Espanha, e sua obra "Dom Quixote" é considerado a obra mais emblemática no cânone da literatura espanhola e um clássico fundador da literatura ocidental.
Na era iluminista do , obras notáveis incluem a prosa de Benito Jerónimo Feijoo, Gaspar Melchor de Jovellanos e José Cadalso; os poemas líricos de Juan Meléndez Valdés, Tomás de Iriarte e Félix María Samaniego e o teatro de Leandro Fernández de Moratín e Ramón de la Cruz. No romantismo (início do ), tópicos importantes são: a poesia de José de Espronceda e outros poetas e o teatro, com Ángel de Saavedra (duque de Rivas), José Zorrilla e outros autores. No realismo (final do ), misturado ao naturalismo, temas importantes são o romance, com Juan Valera, José Maria de Pereda, Benito Pérez Galdós, Emilia Pardo Bazán, Leopoldo Alas, Armando Palacio Valdés e Vicente Blasco Ibáñez.
No modernismo, aparecem várias correntes: parnasianismo, simbolismo, futurismo e criacionismo. A destruição da frota espanhola em Cuba pelos Estados Unidos em 1898 provocou uma crise na Espanha. Um grupo de escritores mais jovens, entre eles Miguel de Unamuno, Pío Baroja e José Martínez Ruiz, fez alterações na forma e no conteúdo da literatura. No ano de 1914 — o ano da eclosão da Primeira Guerra Mundial e da publicação do primeiro grande trabalho da voz principal da geração, José Ortega y Gasset — vários escritores haviam estabelecido seu próprio lugar na cultura espanhola. Entre as principais vozes estão o poeta Juan Ramón Jiménez, os acadêmicos e ensaístas Ramón Menéndez Pidal, Gregorio Marañon, Manuel Azaña, Eugeni d'Ors e Ortega y Gasset, os romancistas Gabriel Miró, Ramón Pérez de Ayala, Ramón Gómez de Serna e o dramaturgo Pedro Muñoz Seca. Por volta de 1920, um grupo mais jovem de escritores — principalmente poetas — começou a publicar obras que, desde o início, revelavam até que ponto os artistas mais jovens estavam absorvendo a experimentação literária dos escritores de 1898 e 1914. Os poetas estavam intimamente ligados à academia formal. Romancistas como Rosa Chacel, Francisco Ayala e Ramón J. Sender foram igualmente experimentais e acadêmicos.
A Guerra Civil Espanhola teve um impacto devastador na escrita espanhola. Entre os poucos poetas e escritores de guerra civil, Miguel Hernández se destaca. Durante a ditadura inicial (1939–1955), a literatura seguiu a visão reacionária do ditador Francisco Franco de uma segunda era de ouro espanhola. Em meados da década de 1950, assim como no romance, uma nova geração que só havia experimentado a guerra civil espanhola na infância estava chegando à maioridade. No início dos anos 1960, os autores espanhóis avançaram em direção a uma experimentação literária inquieta. Quando Franco morreu em 1975, o importante trabalho de estabelecer a democracia teve um impacto literário imediato. Nos próximos anos, vários jovens escritores, entre eles Juan José Millás, Rosa Montero, Javier Marías, Cristina Fernández Cubas, Enrique Vila-Matas, Carme Riera e mais tarde Antonio Muñoz Molina e Almudena Grandes, começariam a conquistar um lugar de destaque.
Música.
A música espanhola é muitas vezes considerada exterior como sinônimo de flamenco, um gênero musical do oeste da Andaluzia que, ao contrário da crença popular, não é muito comum fora dessa região. Vários estilos regionais de música folclórica abundam em Aragão, Catalunha, Valência, Castela, País Basco, Galiza e Astúrias. Pop, rock, hip hop e heavy metal também são populares.
No campo da música clássica, a Espanha produziu uma série de compositores notáveis como Isaac Albéniz, Manuel de Falla e Enrique Granados e cantores e artistas como Plácido Domingo, José Carreras, Montserrat Caballé, Alicia de Larrocha, Alfredo Kraus, Pablo Casals, Ricardo Viñes, José Iturbi, Pablo de Sarasate, Jordi Savall e Teresa Berganza. Na Espanha, existem mais de 40 orquestras profissionais, incluindo o Orquestra Sinfônica de Barcelona e Nacional da Catalunha, Orquestra Nacional de Espanha e a Orquestra Sinfônica de Madrid. As casas de ópera mais importantes incluem o Teatro Real, o "Gran Teatre del Liceu", o Teatro Arriaga, o Palácio Euskalduna e o Palácio das Artes Rainha Sofia.
Milhares de fãs de música também viajam para a Espanha a cada ano para o festival de música reconhecido internacionalmente "Sónar" que muitas vezes apresenta os próximos artistas pop e techno, e "Benicàssim", que tende a característica de rock alternativo e atos de dança. Ambos os festivais marcam uma presença internacional de música e refletir o gosto dos jovens no país. O mais popular instrumento musical tradicional, a guitarra, tem origem na Espanha. Típicos do norte são os "gaiteros", principalmente nas Astúrias e Galiza.
Moda e cinema.
A Semana de Moda de Madrid é uma das semanas de moda mais importantes da Europa. A espanhola Zara é uma das maiores empresas de moda "prêt-à-porter" do mundo. Designers de moda como Cristóbal Balenciaga estão entre os mais influentes do .
O cinema espanhol alcançou grande sucesso internacional, incluindo Oscars de filmes recentes como "O Labirinto do Fauno" e "Volver". Na longa história do cinema espanhol, o grande cineasta Luis Buñuel foi o primeiro a obter reconhecimento mundial, seguido por Pedro Almodóvar na década de 1980 ("La Movida Madrileña"). O cinema espanhol também teve sucesso internacional ao longo dos anos, com diretores como Segundo de Chomón, Florián Rey, Luis García Berlanga, Carlos Saura, Julio Medem, Isabel Coixet, Alejandro Amenábar, Icíar Bollaín e os irmãos David Trueba e Fernando Trueba. As atrizes Sara Montiel e Penélope Cruz ou o ator Antonio Banderas estão entre os que se tornaram estrelas de Hollywood. Os festivais internacionais de cinema de Valladolid e San Sebastian são os mais antigos e mais relevantes da Espanha.
Culinária.
A culinária espanhola consiste em uma grande variedade de pratos que resultam de diferenças de geografia, cultura e clima. É fortemente influenciada pelos frutos do mar disponíveis nas águas que cercam o país e reflete as profundas raízes mediterrâneas da nação. A extensa história da Espanha, com muitas influências culturais, levou a uma culinária única.
Na região mediterrânea, da Catalunha à Andaluzia, há uso intenso de frutos do mar, como "pescaíto" frito (peixe frito); várias sopas frias como gaspacho; e muitos pratos à base de arroz, como a "paella" valenciana e o arroz negro catalão.
No interior, é o comum o consumo de sopas quentes e grossas, como a sopa castelhana à base de pão e alho, juntamente com ensopados substanciais, como o cozido madrileno. Os alimentos são tradicionalmente conservados com salga, como o presunto espanhol, ou imersos em azeite, como o queijo manchego.
Na costa norte do Atlântico, incluindo cozinha asturiana, basca, cantábria e galega — ensopados à base de vegetais e peixes como caldo galego e "marmitako". Além disso, o presunto "lacón" levemente curado. A culinária mais conhecida dos países do norte geralmente se baseia em frutos do mar oceânicos, como no bacalhau ao estilo basco, albacora ou anchova ou no "polbo á feira" à base de polvo e pratos de marisco.
Arquitetura.
Devido à sua diversidade histórica e geográfica, a arquitetura espanhola tem atraído a partir de uma série de influências. Uma cidade importante da província fundada pelos romanos e com uma infraestrutura extensa da era romana, Córdova se tornou a capital cultural, incluindo uma arquitetura em estilo árabe, feita durante a época do Califado Omíada. A arquitetura de estilo árabe mais tarde continuou a ser desenvolvida sob as sucessivas dinastias islâmicas, terminando com os nacéridas, que construíram seu famoso complexo do palácio em Granada. Simultaneamente, os reinos cristãos gradualmente surgiram e desenvolveram seus próprios estilos, desenvolvendo um estilo pré-românico, quando por um tempo isolado das principais influências arquitetônicas contemporâneas europeias durante o início da Idade Média, que mais tarde integraram os fluxos românico e gótico.
Houve então um extraordinário florescimento do estilo gótico, que resultou em inúmeras construções do tipo em todo o território. O estilo mudéjar, a partir dos séculos XII a XVII, foi desenvolvido através da introdução de motivos de estilo árabe, padrões e elementos em arquitetura europeia. A chegada do modernismo na área acadêmica produziu grande parte da arquitetura do . Um estilo influente no centro de Barcelona, conhecido como modernismo catalão, produziu uma série de importantes arquitetos, dos quais Gaudí é um deles. O estilo internacional foi liderado por grupos como GATEPAC. A Espanha está atualmente a viver uma revolução na arquitetura contemporânea e arquitetos espanhóis como Rafael Moneo, Santiago Calatrava, Ricardo Bofill, entre outros, ganharam renome mundial.
Esportes.
A Volta a Espanha ("Vuelta a España" ou simplesmente "Vuelta") é um dos principais eventos esportivos do país, que junto ao Giro d’Italia e o Tour de France, é uma das três "Grandes Voltas" do ciclismo mundial. A "Vuelta" teve sua primeira edição em 1935, porém não houve edições durante a Segunda Guerra Mundial. Teve seu retorno em 1955 até atualmente. Até 2009 foram realizadas 63 edições da "Vuelta a España".
Os esportes na Espanha são dominados, principalmente, pelo ciclismo, o futebol (desde o ), o basquete, o ténis, o andebol, e pelos esportes de motor, principalmente o Motociclismo. A partir dos Jogos Olímpicos de 1992, disputados na cidade de Barcelona, o país entrou na elite mundial em diversos esportes. Tem como maior ídolo no esporte Alberto Contador, da equipe Nursultan Pro Cycling Team. Contador é vencedor do Tour de France 2007 e 2009, além do Giro d'Italia 2008 e Volta a Espanha também em 2008, entre outras vitórias em voltas. É considerado o melhor ciclista da atualidade, e um dos grandes nomes do esporte de todos os tempos. Em 2010 a Espanha consagrou-se campeã de futebol mundial, tendo vencido a Copa do Mundo na África do Sul e tornou-se a única seleção de futebol a ser campeã do mundo e bicampeã da Europa, tendo vencido os campeonatos europeus de 2008, realizado na Suíça e na Áustria, e 2012, na Polónia e Ucrânia.
Feriados.
Os feriados comemorados na Espanha incluem uma mistura de festividades religiosas (católicas romanas), nacionais e regionais. Cada município pode declarar um máximo de 14 feriados por ano; até nove deles são escolhidos pelo governo nacional e pelo menos dois são escolhidos localmente. O Dia Nacional da Espanha ("Fiesta Nacional de España") é 12 de outubro, aniversário da Descoberta da América e comemora a festa de Nossa Senhora do Pilar, padroeira de Aragão e de toda a Espanha.
Alguns dos festivais espanhóis são conhecidos em todo o mundo, e todos os anos milhões de turistas estrangeiros vão à Espanha para participar. Um dos mais famosos são as Festas de São Firmino, em Pamplona. Embora seu evento mais famoso seja o "encierro"', ou a corrida de touros, que acontece na manhã de 14 de julho, a celebração de uma semana envolve muitos outros eventos tradicionais e folclóricos. Seus eventos foram centrais para o enredo de "The Sun Also Rises", de Ernest Hemingway, que o levou à atenção geral das pessoas que falam inglês. Como resultado, tornou-se uma das festas de renome internacional na Espanha, com mais de um milhão de pessoas presentes todos os anos. Outros festivais incluem: o festival de tomate La Tomatina em Buñol, Valência, os carnavais nas Ilhas Canárias, as quedas em Valência ou a Semana Santa na Andaluzia e Castela e Leão.
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786 | Ernest Rutherford | Ernest Rutherford
Ernest Rutherford, o 1º Barão Rutherford de Nelson, (Brightwater, Nova Zelândia, 30 de agosto de 1871 — Cambridge, 19 de outubro de 1937), foi um físico e químico neozelandês naturalizado britânico, que se tornou conhecido como o pai da física nuclear. Em um trabalho no começo da carreira, descobriu o conceito de meia-vida radioativa, provou que a radioatividade causa a transmutação de um elemento químico em outro, e também distinguiu e nomeou as radiações alfa e beta. Foi premiado com o Nobel de Química em 1908 "por suas investigações sobre a desintegração dos elementos e a química das substâncias radioativas".
Sua contribuição foi, com certeza, para além da física e da química. Suas proposições, experimentações e métodos sobre radioatividade trouxeram inúmeras ferramentas e esse advento da radioatividade auxiliou muito áreas como geologia, arqueologia e paleontologia por meio da possibilidade de estimar a idade de rochas, espécimes ou fósseis. A motivação para isso, de acordo Arthur S. Eve, biógrafo de Rutherford, foi a idade da Terra. Certa vez, quando andava pelos arredores de Cambridge com um fragmento de pechblenda (minério oriundo do urânio) perguntou a um geólogo a idade da Terra e obteve como resposta uma estimativa de 100 milhões de anos, mas Rutherford argumentou que aquela amostra de minério possuía certamente 700 milhões de anos de idade.
Rutherford foi o primeiro cientista a propor que era possível usar a radioatividade para datação de rochas e em 1905 suas contribuições deram origem às técnicas de datação de materiais. E a genialidade foi a ideia de determinar a meia-vida de substâncias, e assim sua idade precisa. Meia-vida é o tempo necessário para metade de dada quantidade de material radioativo decair. A meia-vida de um material é bem determinada e não depende de condições físicas como pressão ou temperatura. Mais tarde, como resultado da datação radiométrica, geólogos, físicos e astrônomos concordaram que a Terra tinha idade na ordem bilhões de anos, bem próxima da estimativa atual que é 4,5 bilhões de anos.
Rutherford realizou sua obra mais famosa após ter recebido esse prêmio. Em 1911, ele defendeu que os átomos têm sua carga positiva concentrada em um pequeno núcleo, e, desse modo, criou o modelo atômico de Rutherford, ou modelo planetário do átomo, através de sua descoberta e interpretação da dispersão de Rutherford em seu experimento da folha de ouro. A ele é amplamente creditada a primeira divisão do átomo, em 1917, liderando a primeira experiência de "dividir o núcleo" de uma forma controlada por dois alunos sob sua direção, John Cockcroft e Ernest Walton.
Dedicada à sua memória, a Medalha e Prêmio Rutherford foi instituída pelo Conselho da Sociedade de Física em 1939. A primeira palestra ocorreu em 1942. A palestra foi convertida em uma medalha e prêmio em 1965, sendo a primeira Medalha e Prêmio Rutherford concedida no ano seguinte.
Biografia.
Ernest Rutherford nasceu em Spring Grove (atual Brightwater), cidade portuária da ilha sul da Nova Zelândia, o quarto filho e segundo homem de uma família de sete filhos e cinco filhas. Seu pai, James Rutherford, um mecânico escocês, emigrou para a Nova Zelândia com toda a família em 1842. Sua mãe, nascida Martha Thompson, uma professora de inglês, com sua mãe viúva, também se mudou em 1855.
Ernest recebeu a sua educação em escolas públicas. Aos 16 anos entrou em Nelson Collegiate School. Graduou-se em 1893 em Matemática e Ciências Físicas na Universidade da Nova Zelândia. Após ter concluído os estudos, ingressou no Trinity College, Cambridge, como um estudante na investigação do Laboratório Cavendish sob a coordenação de J. J. Thomson. Foi na Inglaterra que Rutherford estudou as radiações de Urânio em pesquisas feitas em colaboração com o Frederick Soddy. Em 1902, ambos distinguem os raios alfa e beta e desenvolvem a teoria das desintegrações radioativas espontâneas. Uma oportunidade surgiu quando o lugar de professor de Física na Universidade McGill, em Montreal ficou vago. Em 1898 partiu para o Canadá, para assumir o posto. No mesmo ano, foi nomeado professor de Física da Universidade McGill, em Montreal, e em 1907 na Universidade Victoria em Manchester. Nessa época, Ernest formulou a hipótese de que a radiatividade não se tratava de um fenômeno comum a todos os átomos, mas somente de uma certa categoria. Esses estudos resultaram o livro Radiatividade, verdadeiro marco na história do progresso científico.
Apesar de ser um físico, recebeu o Nobel de Química de 1908, por suas investigações sobre a desintegração dos elementos e a química das substâncias radioativas.
Ainda em Manchester, trabalhando em conjunto com Hans Geiger e Thomas Royds, Rutherford elucidou a natureza da chamada radiação alfa. Após comprovar que esta é formada por partículas com o dobro da carga elétrica de um elétron, em 1907 Rutherford e seus colegas elaboraram um experimento engenhoso no qual partículas alfa foram acumuladas em um tubo de vidro evacuado. Ao passar uma corrente elétrica pelo tubo, puderam observar claramente o espectro do gás hélio, provando assim que as partículas alfa eram na verdade átomos de hélio ionizados, mais tarde identificados como núcleos de hélio.
Rutherford realizou seus trabalhos mais famosos depois de receber o prêmio Nobel de 1908. Sob sua direção, em 1909 Hans Geiger e Ernest Marsden realizaram o famoso experimento (muitas vezes chamado no Brasil de "Experimento de Rutherford"), o qual demonstrou a natureza nuclear dos átomos através da deflexão de partículas alfa atravessando uma fina folha de ouro. Nesse experimento, Rutherford pediu a Geiger e Marsden que procurassem por partículas alfa refletidas por ângulos muito grandes, algo que não seria esperado dadas as teorias atômicas da época. Embora raras, tais deflexões foram de fato observadas, algo que Rutherford mais tarde descreveu como "... o evento mais incrível que aconteceu comigo em toda a minha vida. Foi quase tão incrível quanto se você atirasse um projétil de 15 polegadas num lenço de papel e ele ricocheteasse de volta e o atingisse". Para conseguir explicar a forma precisa com que as deflexões dependiam do ângulo, Rutherford foi levado em 1911 a formular o modelo atômico que leva seu nome - no qual concebeu o átomo como constituído de um núcleo minúsculo de carga positiva, contendo quase toda a massa do átomo, e orbitado por elétrons. Baseado na concepção de Rutherford, o físico dinamarquês Niels Bohr idealizaria mais tarde um novo modelo atômico.
Em 1919, antes de deixar Manchester para assumir a direção do Laboratório Cavendish em Cambridge, Rutherford se tornou a primeira pessoa a deliberadamente transmutar um elemento em outro. Bombardeando nitrogênio puro com radiação alfa, ele foi capaz de converter núcleos de nitrogênio em oxigênio. Nos produtos dessa reação nuclear, identificou partículas idênticas a núcleos de hidrogênio, demonstrando que estes eram partes constituintes do núcleo de nitrogênio - e, por inferência, provavelmente de outros núcleos também. Tal construção já havia sido suspeitada há tempos devido ao fato de a massa atômica de todos os elementos serem aproximadamente um múltiplo da do hidrogênio (Hipótese de Prout). Por conta dessas considerações, em 1920 Rutherford postulou então que o núcleo de hidrogênio deveria ser uma partícula fundamental, que ele denominou próton, a qual seria o elemento constituinte de todos os demais núcleos. Tais fatos levaram a que Rutherford fosse considerado como o fundador da física nuclear.
Rutherford dirigiu o Laboratório Cavendish desde 1919 até à sua morte, período em que foi Professor Cavendish de Física. Sua liderança e trabalho inspiraram duas gerações de cientistas.
Foi presidente da Royal Society de 1925 a 1930.
Recebeu a Ordem de Mérito em 1925 e em 1931 foi condecorado Barão Rutherford de Nelson, Cambridge, um título que foi extinto depois da sua inesperada morte, enquanto aguardava uma cirurgia de hérnia umbilical. Após tornar-se um Lord, ele só poderia ser operado por um médico também nobre (uma exigência do protocolo britânico) e essa demora custou-lhe a vida. Morreu em 19 de outubro de 1937 em Cambridge, e suas cinzas foram enterradas na Abadia de Westminster, perto das tumbas de Isaac Newton e outros grandes cientistas.
Participou da 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 7ª Conferência de Solvay.
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787 | Enrico Fermi | Enrico Fermi
Enrico Fermi (Roma, 29 de setembro de 1901 — Chicago, 28 de novembro de 1954) foi um físico italiano naturalizado estadunidense. Destacou-se pelo seu trabalho sobre o desenvolvimento do primeiro reator nuclear, e pela sua contribuição ao desenvolvimento da teoria quântica, física nuclear e de partículas, e mecânica estatística. Doutorou-se na Universidade de Pisa e recebeu o Nobel de Física de 1938.
Foi um dos poucos físicos da era moderna a combinar a teoria com a experiência. Após alguns anos na Alemanha, regressou à Universidade de Roma, onde, em 1926, dedicou-se à mecânica estatística de partículas que obedecem ao princípio de exclusão de Pauli, como os electrões. O resultado é a chamada estatística de Fermi-Dirac, uma vez que Dirac chegou independentemente às mesmas conclusões. Em 1933 Fermi introduziu o conceito de interação fraca, que em conjunto com o recém postulado neutrino, entrariam na teoria do decaimento beta. Juntamente com um grupo de colaboradores, Fermi começou uma série de experiências nas quais foram produzidos artificialmente núcleos radioativos, pelo bombardeamento com neutrões de vários elementos. Alguns dos seus resultados sugeriram a formação de elementos transuranianos. De facto, o que eles observaram, e que mais tarde foi comprovado por Otto Hahn, foi a fissão nuclear, feito que, em 1938, lhe rendeu o Prêmio Nobel de Física. Foi então para os Estados Unidos, onde viria a participar no projeto Manhattan. Dirigiu o projecto de construção do primeiro reator nuclear na Universidade de Chicago. Depois da Segunda Guerra Mundial, Fermi dedicou-se à Física de partículas, a que deu contribuições importantes. O elemento químico de número atômico 100, criado sinteticamente em 1952, recebeu o nome de Férmio em sua honra.
Biografia.
Primeiros anos.
Enrico Fermi nasceu em Roma, Itália. Ele era o terceiro filho de Alberto Fermi, inspetor-chefe do Ministério das Comunicações da Itália, e sua mãe era Ida de Gattis, professora de uma escola primária. Sua irmã, Maria, era dois anos mais velha que ele, enquanto seu irmão, Giulio, era um ano mais velho. Desde jovem Fermi gostava de estudar física e matemática, interesses também de seu irmão mais velho. Sua família nunca foi muito religiosa, e Fermi foi um agnóstico sua vida inteira. Quando Giulio morreu inesperadamente de um abcesso na garganta em 1915, Enrico ficou emocionalmente arrasado, e refugiou-se em estudos científicos para se distrair. De acordo com ele mesmo, todos os dias caminhava em frente ao hospital onde Giulio morreu, até se acostumar com a dor. Numa banca do Campo de' Fiori, Fermi comprou e leu o livro intitulado "Elementorum physicae mathematicae" (900 páginas), escrito em latim pelo padre Andrea Caraffa, professor do Collegio Romano, que abordava matemática, mecânica clássica, astronomia, óptica e acústica. Mais tarde, Fermi e seu melhor amigo, outro estudante inclinado para a ciência, chamado Enrico Persico, empenharam-se em projetos científicos, tais como construir giroscópios e medir o campo magnético da Terra. O interesse de Fermi pela física foi ainda mais incentivado quando um amigo de seu pai, o engenheiro Adolfo Amidei, lhe deu vários livros sobre física e matemática, que Fermi leu e assimilou rapidamente.
Faculdade em Pisa.
Em 1918 Fermi matriculou-se na "Escola Normal Superior" em Pisa, onde mais tarde recebeu o seu diploma de graduação e de doutorado. Para entrar na prestigiada instituição, havia um exame para os candidatos, que incluía um ensaio. Pelo seu ensaio sobre o tema dado, "Características do som", Fermi, com 17 anos de idade, escolheu derivar e resolver a transformada de Fourier baseada na equação diferencial parcial das ondas numa corda. O examinador, professor Giulio Pittato, entrevistou Fermi e concluiu que o seu ensaio teria sido digno de louvor mesmo para um doutorado. Enrico Fermi ficou com o primeiro lugar na classificação do exame de entrada. Durante os anos na Scuola Normale Superiore, Fermi formou equipe com um colega estudante Franco Rasetti, que mais tarde, se tornou o mais próximo amigo e colaborador de Fermi.
Além de frequentar as aulas, Enrico Fermi encontrou tempo para trabalhar nas suas atividades extracurriculares, particularmente com a ajuda de seu amigo Enrico Persico, que permaneceu em Roma para estudar numa universidade. Entre 1919 e 1923 Fermi estudou, por si mesmo, relatividade geral, mecânica quântica e física atômica.
Os seus conhecimentos de física quântica atingiram um nível tão elevado que o chefe do Instituto de Física, professor Luigi Puccianti, pediu-lhe para organizar seminários sobre o assunto. Durante esse tempo ele aprendeu cálculo tensorial, um instrumento matemático inventado por Gregorio Ricci-Curbastro e Tullio Levi-Civita, e necessário para demonstrar os princípios da relatividade geral.
Em setembro de 1920, Fermi ingressou no Instituto de Física. Como só havia, além de Fermi, mais dois estudantes nesse departamento, Puccianti deixava-os usar o laboratório livremente para os fins que desejassem. Fermi decidiu então que deviam começar a pesquisar a cristalografia de raios-X. Os três estudantes trabalharam para produzir uma Fotografia de Laue - uma fotografia de um cristal feita por raios-X.
Em 1921, seu terceiro ano na universidade, publicou os seus primeiros trabalhos científicos no periódico italiano "Il Nuovo Cimento". O primeiro foi intitulado: "Sobre a dinâmica de um rígido sistema de cargas elétricas em condições transientes"; o segundo: "Sobre a eletrostática de um campo gravitacional uniforme de cargas eletromagnéticas e sobre o peso de cargas eletromagnéticas". Um sinal de que as concepções na Física estavam mudando foi que a massa começou, então, a ser expressa como um tensor, uma ferramenta matemática usada, geralmente, para descrever algo que se move e varia no espaço tridimensional. Na mecânica clássica, a massa é uma grandeza escalar, mas na relatividade ela muda com a velocidade. Usando a relatividade, Fermi provou que uma carga possui um peso igual a U/c², sendo U a energia do sistema e c a velocidade da luz. Porém, à primeira vista, a primeira publicação parecia apontar para uma contradição entre a teoria eletrodinâmica e a relativística em relação ao cálculo das massas eletromagnéticas, visto que o valor anteriormente previsto era de 4/3 U/c². Um ano depois, com um trabalho intitulado "Correção da discrepância entre a teoria eletrodinâmica e um relativista de cargas eletromagnéticas, Enrico Fermi mostrou que essa discrepância era consequência da relatividade. Esta publicação teve tanto sucesso que foi traduzida para o alemão e publicada no famoso periódico científico alemão "Physikalische Zeitschrift".
Em 1922 publicou o seu importante trabalho científico no periódico italiano "I Rendiconti dell'Accademia dei Lincei" intitulado "Sobre os fenômenos que ocorrem nas proximidades de uma linha de mundo"). Nesse artigo, Fermi examinou o Princípio da Equivalência e introduziu as chamadas Coordenadas de Fermi. Ele provou que, para uma linha de mundo próxima a uma linha do tempo, o espaço comporta-se como um Espaço Euclidiano. Finalmente, em 1922, Fermi recebeu o seu diploma de graduação na Scuola Normale Superiore ao apresentar a sua tese chamada "Um teorema de probabilidade e suas aplicações", obtendo laurea com impressionantes 21 anos. Nessa época, a física teórica ainda não era considerada uma disciplina na Itália, portanto a única tese aceita seria de física experimental. Por isso, Fermi usou imagens de difração de raios-X para enriquecer seu trabalho. Os físicos italianos também levaram algum tempo para assimilar as ideias da relatividade geral vindas da Alemanha.
Enquanto escrevia um apêndice para a versão italiana do livro "The Mathematical Theory of Relativity, "de August Kopff em 1923, Fermi descobriu um enorme potencial energético nuclear escondido na famosa equação de Einstein (E=mc²), e que podia ser explorado. "Não parece possível, pelo menos num futuro próximo", ele escreveu, "achar uma maneira de liberar essas enormes quantidades de energia - o que é algo bom, pois a primeira consequência desse fenômeno seria reduzir a pó o físico que tivesse o azar de realizá-lo".
O orientador de doutorado de Fermi foi Luigi Puccianti. Em 1924, Fermi passou um semestre em Göttingen estudando com Max Born, onde também conheceu Werner Heisenberg e Pascual Jordan. Fermi então foi para Leiden para estudar com Paul Ehrenfest de setembro a dezembro de 1924, conhecendo Albert Einstein, Hendrik Lorentz e também Samuel Goudsmit e Jan Tinbergen, que se tornaram seus bons amigos. Do início de 1925 ao final de 1926, Fermi lecionou física matemática e mecânica teórica na Universidade de Florença, onde se juntou com Rasetti para conduzir uma série de experimentos sobre os efeitos do campo magnético no vapor de mercúrio. Fermi também participou de seminários na Sapienza University of Rome, dando palestras sobre mecânica quântica e física dos estados sólidos.
Depois que Wolfgang Pauli anunciou seu princípio da exclusão, em 1925, Fermi respondeu-o com um artigo "Sobre a quantização do gás perfeito monoatômico", no qual ele aplicou o princípio de Pauli a um gás ideal. O mesmo raciocínio desse artigo foi desenvolvido independentemente por outro físico chamado Paul Dirac. Juntos e, ao mesmo tempo, separados, os dois cientistas formaram a famosa estatística de Fermi-Dirac. De acordo com Dirac, as partículas que obedecem ao princípio da exclusão são chamadas de "férmions" e as que não obedecem são denominadas "bósons".
Professor em Roma.
Os cargos de professores, na Itália, eram concedidos via concurso, sendo as publicações dos candidatos avaliadas por um comitê de professores. Fermi se inscreveu para a cadeira de física matemática na Universidade de Cagliari, na Sardenha, mas foi dispensado em favor de Giovanni Giorgi.
Com 24 anos, Fermi tornou-se professor da Universidade de Roma em uma nova cadeira de física teórica criada pelo Ministério da Educação a pedido do professor Orso Mario Corbino, que era professor de física experimental, diretor do Instituto de Física e membro do gabinete de Benito Mussolini. Corbino esperava que a nova cadeira conferisse um maior prestígio à física na Itália. Ele também ajudou Fermi a selecionar sua equipe, que logo foi ingressada por mentes notáveis como Edoardo Amaldi, Bruno Pontecorvo, Franco Rasetti e Emilio Segrè. Para os estudos teóricos apenas, Ettore Majorana também participou do que logo foi apelidado de "Rapazes da Via Panisperna" (em relação ao nome da rua em que o instituto tinha seus laboratórios).
Fermi se casou com Laura Capon, uma estudante de ciência da Universidade, em 19 de julho de 1928. Eles tiveram dois filhos: Nella, nascida em janeiro de 1931 e Giulio, nascido em fevereiro de 1936. Em 18 de março de 1929, Fermi se tornou membro da Academia Real da Itália, indicado por Mussolini, e se tornou membro do Partido Fascista em 27 de abril, embora tenha se oposto à ideologia em 1938 quando Mussolini criou as leis raciais de forma a aproximar mais o fascismo do nazismo de Hitler. Essas leis ameaçavam Laura, esposa do cientista, que era judia, e tiraram o trabalho de muitos de seus assistentes de laboratório.
O grupo continuou com os experimentos que vieram a ficar famosos, no entanto, o grupo se desmantelou, em 1933 Rasetti deixou a Itália e foi para o Canadá, Pontecorvo foi para a França, e Segrè partiu para lecionar em Palermo.
Durante seu tempo em Roma, Fermi e seu grupo fizeram importantes contribuições a muitos aspectos práticos e teóricos da física. Essas incluem a teoria do decaimento beta, com a inclusão do postulado do neutrino em 1930 por Wolfgang Pauli, e a descoberta dos nêutrons lentos, que foi fundamental para o funcionamento dos reatores nucleares. Em 1928, ele publicou um trabalho chamado Introdução à Física Atômica, que apresentava uma abordagem mais acessível e atualizada para os estudantes. Fermi também produziu palestras e artigos públicos para professores e cientistas para promover e divulgar a nova física tanto quanto possível. Parte do seu método de ensino era se reunir com estudantes de graduação e professores ao final do dia para trabalhar num problema, geralmente sobre uma pesquisa do grupo. Um sinal de que o trabalho de divulgação estava dando resultado era que estudantes estrangeiros estavam indo à Itália. Um deles foi Hans Bethe, que colaborou com Fermi num artigo de 1932 sobre a interação entre dois elétrons.
Os físicos, na época, ainda possuíam muitas dúvidas acerca do decaimento beta, no qual um elétron é emitido de um núcleo atômico. Para satisfazer a lei da conservação da energia, Pauli postulou a existência de uma partícula invisível com carga zero e uma massa muito pequena que era emitida ao mesmo tempo que o elétron. Fermi pegou essa ideia e, em 1934, escreveu um artigo que decretava a existência do neutrino. Essa teoria, que também pode ser chamada de interação de Fermi ou fraca interação, descrevia uma das quatro forças fundamentais da natureza. O neutrino só foi detectado após a morte de Fermi, pois é uma partícula extremamente difícil de detectar. Quando o cientista submeteu seu artigo à renomada revista britânica "Nature", o editor a rejeitou pois achava que suas especulações eram "muito afastadas da realidade para serem interessantes aos leitores". Fermi então viu a teoria ser publicada em italiano e alemão antes de ser publicada em inglês.
Em janeiro de 1934, Irène Joliot-Curie e Frédéric Joliot anunciaram que eles haviam bombardeado elementos com partículas alfa e, com isso, induzido radioatividade. Em março, Gian-Carlo Wick (integrante do "Rapazes da Via Panisperna") formulou uma explicação teórica para isso usando a teoria do decaimento beta. Fermi, então, recorreu à física experimental e usou o nêutron, descoberto em 1932. A partícula escolhida não possuía carga e, portanto, não seria defletida pelo núcleo. Isso causou uma grande redução nos custos do experimento (caso contrário ele seria inviável) pois eliminou a necessidade de se ter um acelerador de partículas, o que era (e ainda é) muito custoso. Para criar uma forte fonte de nêutrons, Fermi encheu um bulbo de vidro com pó de berílio, evacuando todo o ar, e então adicionando 50mCi de radônio gasoso. Porém, a eficiência da fonte decaía com a meia-vida do radônio (3,8 dias). Era sabido também que a fonte iria emitir raios-gama, mas isso não iria afetar muito os resultados do experimento. O que Fermi fez foi bombardear diferentes elementos (ao todo 22) e, em todos eles, conseguiu induzir radioatividade. A descoberta foi rapidamente reportada para a revista italiana "La Ricerca Scientifica "em 25 de março de 1934.
A radioatividade natural de elementos como tório e urânio tornou difícil a determinação do que estava acontecendo durante o bombardeamento desses elementos. Porém, após ter removido corretamente a presença de elementos mais leves que urânio e mais pesados que chumbo, Fermi concluiu que eles haviam criado novos elementos, e os denominou espério e ausônio. Seu trabalho, no entanto, foi criticado pela química Ida Noddack, que sugeriu que esses experimentos poderiam ter criado elementos mais leves ao invés de elementos novos mais pesados, mas Fermi e sua equipe não levaram a sério a crítica, pois a equipe da química ainda não havia feito nenhum experimento com urânio. Naqueles anos, a fissão nuclear era tomada como improvável (senão impossível) nos campos teóricos, e ninguém esperava que nêutrons tivessem energia o suficiente para quebrar um núcleo em dois fragmentos mais leves da maneira que Noddack havia sugerido.
O "Rapazes da Via Panisperna" também descobriu outras coisas interessantes. Fazendo o experimento em diferentes superfícies, eles notaram que a colisão com átomos de hidrogênio atrasava os nêutrons. Quanto menor o número atômico do núcleo que a partícula colide, mais energia ela perde por colisão, e portanto menos colisões são necessárias para desacelerá-la. Fermi descobriu que isso produzia uma maior indução de radioatividade, visto que nêutrons com baixa velocidade são mais facilmente capturados. Ele, então, desenvolveu uma equação de difusão para descrever isso.
Fermi era bem conhecido por sua simplicidade na solução de problemas. Suas aptidões de formidável cientista, combinando física nuclear teórica e aplicada, foram amplamente reconhecidas. Ele influenciou muitos físicos que trabalharam com ele, como Hans Bethe, que passou dois semestres trabalhando com Fermi no início da década de 1930.
Fermi permaneceu em Roma até 1938.
Professor em Columbia.
Em 1938, com 37 anos, Fermi foi laureado com o Nobel de Física, por suas "demonstrações da existência de novos elementos radioativos produzidos pela irradiação de nêutrons, e por sua descoberta relacionada de reações nucleares provocadas por nêutrons lentos".
Depois que Fermi recebeu o Prêmio Nobel em Estocolmo, ele, sua esposa Laura e seus filhos emigraram para Nova Iorque. Isso foi principalmente por causa das leis anti-semitas promulgadas pelo regime fascista de Benito Mussolini que ameaçavam Laura, que era judia. Além disso, as novas leis colocaram a maior parte dos assistentes de pesquisa de Fermi fora de trabalho.
Logo após sua chegada em Nova Iorque, Fermi começou a trabalhar na Universidade de Columbia.
Fermi se mudou para o Laboratório Nacional de Los Alamos, em etapas posteriores do Projeto Manhattan, para servir de consultor geral.
Durante a explosão da primeira bomba atômica, realizada em Alamogordo, Fermi estava presente. Na ocasião, como se era esperado, havia muitos equipamentos de ponta para mensurar a energia liberada pela bomba na atmosfera. Havia cálculos para isso, porém a bomba real teria perdas consideráveis de rendimento. Entretanto, como esta foi a primeira bomba atômica testada na história, não era certo que os equipamentos de medição funcionariam. Pensando nisso Fermi fez um pequeno experimento para medir a energia liberada: no momento da explosão jogou no chão alguns pedaços de papel. "...no ar parado, os pedacinhos de papel cairiam aos seus pés, mas quando a onda de choque chegou (alguns segundos após o clarão), foram transportados por alguns centímetros na direção da onda. "Como era conhecida a distância entre o centro da explosão e onde ele estava, Fermi poderia calcular a energia.
Tornou-se cidadão naturalizado dos Estados Unidos em 1944.
Projeto Manhattan.
Fermi chegou a Nova York em 2 de janeiro de 1939. Foram imediatamente oferecidas a ele posições em cinco universidades, e somente aceitou uma na Universidade de Columbia, onde ele já tinha dado aulas de verão em 1936. Ele recebeu a notícia que em dezembro de 1938, os químicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann detectaram o elemento bário depois de bombardear urânio com nêutrons, e que Lise Meitner e seu sobrinho Otto Frisch interpretaram corretamente como o resultado da fissão nuclear. Frisch confirmou isso experimentalmente em 13 de janeiro de 1939. A notícia da interpretação de Meitner e Frisch da descoberta de Hahn e Strassmann cruzou o Atlântico com Niels Bohr, que faria uma palestra na Universidade de Princeton. Isidor Isaac Rabi e Willis Lamb, dois físicos da Universidade de Columbia trabalhando em Princeton, descobriram e levaram-no de volta para Columbia. Rabi disse que contou a Enrico Fermi, mas Fermi mais tarde deu o crédito a Lamb:Lembro-me muito bem do primeiro mês, janeiro de 1939, em que comecei a trabalhar nos Laboratórios Pupin porque as coisas começaram a acontecer muito rápido. Naquele período, Niels Bohr estava dando uma palestra na Universidade de Princeton e lembro que uma tarde Willis Lamb voltou muito animado e disse que Bohr havia vazado uma ótima notícia. A grande notícia que vazou foi a descoberta da fissão e pelo menos o esboço de sua interpretação. Então, um pouco mais tarde naquele mesmo mês, houve uma reunião em Washington onde a possível importância do fenômeno da fissão recém-descoberto foi discutida pela primeira vez a sério como uma possível fonte de energia nuclear.Afinal, Noddack estava certo. Fermi descartou a possibilidade de fissão com base em seus cálculos, mas não levou em consideração a energia de ligação que apareceria quando um nuclídeo com um número ímpar de nêutrons absorvesse um nêutron extra. Para Fermi, a notícia veio como um constrangimento profundo, já que os elementos transurânicos pelos quais ele havia recebido o Prêmio Nobel por descobrir não eram elementos transurânicos, mas produtos de fissão. Ele acrescentou uma nota de rodapé a esse respeito em seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel.
Os cientistas da Columbia decidiram que deveriam tentar detectar a energia liberada na fissão nuclear do urânio quando bombardeado por nêutrons. Em 25 de janeiro de 1939, no porão do Pupin Hall em Columbia, uma equipe experimental incluindo Fermi conduziu o primeiro experimento de fissão nuclear nos Estados Unidos. Os outros membros da equipe eram Herbert L. Anderson, Eugene T. Booth, John R. Dunning, G. Norris Glasoe e Francis G. Slack. No dia seguinte, a Quinta Conferência de Física Teórica de Washington começou em Washington, DC, sob os auspícios conjuntos da Universidade George Washington e do Instituto Carnegie de Washington. Lá, as notícias sobre a fissão nuclear se espalharam ainda mais, fomentando muito mais demonstrações experimentais.
Os cientistas franceses Hans von Halban, Lew Kowarski e Frédéric Joliot-Curie demonstraram que o urânio bombardeado por nêutrons emitia mais nêutrons do que absorvia, sugerindo a possibilidade de uma reação em cadeia. Fermi e Anderson também o fizeram algumas semanas depois. Leó Szilárd obteve 200 quilogramas (440 lb) de óxido de urânio do produtor canadense de rádio Eldorado Gold Mines Limited, permitindo que Fermi e Anderson conduzissem experimentos com fissão em uma escala muito maior. Fermi e Szilárd colaboraram no projeto de um dispositivo para obter uma reação nuclear autossustentável - um reator nuclear. Devido à taxa de absorção dos nêutrons pelo hidrogênio na água, era improvável que uma reação autossustentável pudesse ser alcançada com urânio natural e água como moderador de nêutrons. Fermi sugeriu, com base em seu trabalho com nêutrons, que a reação poderia ser alcançada com blocos de óxido de urânio e grafite como moderador em vez de água. Isso reduziria a taxa de captura de nêutrons e, em teoria, tornaria possível uma reação em cadeia autossustentável. Szilárd apresentou um projeto viável: uma pilha de blocos de óxido de urânio intercalados com tijolos de grafite. Szilárd, Anderson e Fermi publicaram um artigo sobre "Neutron Production in Uranium". Mas seus hábitos de trabalho e personalidades eram diferentes, e Fermi teve problemas para trabalhar com Szilárd.
Fermi foi um dos primeiros a alertar os líderes militares sobre o impacto potencial da energia nuclear, dando uma palestra sobre o assunto no Departamento da Marinha em 18 de março de 1939. A resposta ficou aquém do que ele esperava, embora a Marinha concordasse em fornecer US$ 1 500 para pesquisas futuras em Columbia. Mais tarde naquele ano, Szilárd, Eugene Wigner e Edward Teller enviaram a famosa carta assinada por Einstein ao presidente dos Estados Unidos Roosevelt, avisando que a Alemanha nazista provavelmente construiria uma bomba atômica. Em resposta, Roosevelt formou o Comitê Consultivo sobre Urânio para investigar o assunto.
O Comitê Consultivo sobre Urânio forneceu dinheiro para Fermi comprar grafite, e ele construiu uma pilha de tijolos de grafite no sétimo andar do laboratório Pupin Hall. Em agosto de 1941, ele tinha seis toneladas de óxido de urânio e trinta toneladas de grafite, que usou para construir uma pilha ainda maior em Schermerhorn Hall em Columbia.
A Seção S-1 do Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico, como agora era conhecido o Comitê Consultivo sobre Urânio, reuniu-se em 18 de dezembro de 1941, com os Estados Unidos agora engajados na Segunda Guerra Mundial, tornando seu trabalho urgente. A maior parte do esforço patrocinado pelo Comitê havia sido direcionada para a produção de urânio enriquecido, mas membro da Comissão de Arthur Compton determinou que uma alternativa viável foi o plutónio, o que poderia ser em reatores nucleares produzido em massa até o final de 1944. Ele decidiu concentrar o trabalho de plutônio na Universidade de Chicago. Fermi mudou-se com relutância e sua equipe passou a fazer parte do novo Laboratório Metalúrgico de lá.
Os possíveis resultados de uma reação nuclear autossustentável eram desconhecidos, por isso parecia desaconselhável construir o primeiro reator nuclear no campus da Universidade de Chicago, no meio da cidade. Compton encontrou um local na Argonne Woods Forest Preserve, a cerca de 20 milhas (32 km) de Chicago. A Stone & Webster foi contratada para desenvolver o local, mas o trabalho foi interrompido por uma disputa industrial. Fermi então convenceu Compton de que ele poderia construir o reator na quadra de squash sob as arquibancadas do Stagg Field da Universidade de Chicago. A construção da pilha começou em 6 de novembro de 1942, e Chicago Pile-1 tornou-se crítica em 2 de dezembro. A forma da pilha deveria ser aproximadamente esférica, mas à medida que o trabalho avançava, Fermi calculou que a criticidade poderia ser alcançada sem terminar a pilha inteira conforme planejado.
Esse experimento foi um marco na busca por energia e foi típico da abordagem de Fermi. Cada etapa foi cuidadosamente planejada, cada cálculo executado meticulosamente. Quando a primeira reação em cadeia nuclear autossustentada foi alcançada, Compton fez uma chamada telefônica codificada para James B. Conant, o presidente do Comitê de Pesquisa de Defesa Nacional.Peguei o telefone e liguei para Conant. Ele foi contatado no gabinete do presidente da Universidade de Harvard. "Jim", eu disse, "você ficará interessado em saber que o navegador italiano acaba de desembarcar no novo mundo." Então, meio que me desculpando, porque eu havia levado o Comitê Sl a acreditar que levaria mais uma semana ou mais antes que a pilha pudesse ser concluída, eu acrescentei, "a terra não era tão grande quanto ele havia estimado, e ele chegou ao novo mundo mais cedo do que ele esperava. "
"É mesmo", foi a resposta entusiasmada de Conant. "Os nativos eram amigáveis?"
"Todos pousaram seguros e felizes."
Para continuar a pesquisa onde não representaria um perigo para a saúde pública, o reator foi desmontado e movido para o local de Argonne Woods. Lá Fermi dirigiu experimentos sobre reações nucleares, deleitando-se com as oportunidades oferecidas pela abundante produção de nêutrons livres no reator. O laboratório logo se ramificou da física e engenharia para o uso do reator para pesquisas biológicas e médicas. Inicialmente, Argonne era dirigido por Fermi como parte da Universidade de Chicago, mas se tornou uma entidade separada com Fermi como seu diretor em maio de 1944.
Quando o Reator de Grafite X-10 refrigerado a ar em Oak Ridge ficou crítico em 4 de novembro de 1943, Fermi estava à disposição para o caso de algo dar errado. Os técnicos o acordaram cedo para que ele pudesse ver acontecer. Colocar o X-10 em operação foi outro marco no projeto do plutônio. Forneceu dados sobre o projeto do reator, treinamento para a equipe da DuPont na operação do reator e produziu as primeiras pequenas quantidades de plutônio gerado no reator. Fermi tornou-se cidadão americano em julho de 1944, a data mais antiga permitida por lei.
Em setembro de 1944, Fermi inseriu o primeiro cartucho de urânio combustível no Reator B em Hanford Site, o reator de produção projetado para produzir plutônio em grandes quantidades. Como o X-10, ele tinha sido projetado pela equipe de Fermi no Laboratório Metalúrgico e construído pela DuPont, mas era muito maior e era refrigerado a água. Nos dias seguintes, 838 tubos foram carregados e o reator ficou crítico. Pouco depois da meia-noite de 27 de setembro, os operadores começaram a retirar as hastes de controle para iniciar a produção. A princípio tudo parecia estar bem, mas por volta das 03h00, o nível de energia começou a cair e às 06h30 o reator desligou completamente. O Exército e a DuPont recorreram à equipe de Fermi para obter respostas. A água de resfriamento foi investigada para verificar se havia vazamento ou contaminação. No dia seguinte, o reator ligou repentinamente, apenas para desligar novamente algumas horas depois. O problema foi atribuído ao envenenamento por nêutrons do xenônio-135, um produto de fissão com meia-vida de 9,2 horas. A DuPont se desviou do projeto original do Laboratório Metalúrgico, no qual o reator tinha 1 500 tubos dispostos em um círculo, e adicionou 504 tubos para preencher os cantos. Os cientistas haviam considerado originalmente esse excesso de engenharia uma perda de tempo e dinheiro, mas Fermi percebeu que, se todos os 2 004 tubos fossem carregados, o reator poderia atingir o nível de energia necessário e produzir plutônio com eficiência.
Em meados de 1944, Robert Oppenheimer convenceu Fermi a se juntar ao seu Projeto Y em Los Alamos, Novo México. Chegando em setembro, Fermi foi nomeado diretor associado do laboratório, com ampla responsabilidade pela física nuclear e teórica, e foi colocado no comando da Divisão F, que recebeu seu nome. A Divisão F tinha quatro ramos: F-1 Super e Teoria Geral sob Teller, que investigava a bomba "Super" (termonuclear); F-2 Water Boiler sob LDP King, que cuidou do reator de pesquisa homogêneo aquoso "water boiler"; Super Experimentação F-3 sob Egon Bretscher; e F-4 Fission Studies sob Anderson. Fermi observou o Teste Trinity em 16 de julho de 1945, e conduziu um experimento para estimar o rendimento da bomba jogando tiras de papel na onda de explosão. Ele mediu a distância em que foram destruídos pela explosão e calculou o rendimento em dez quilotons de TNT; o rendimento real foi de cerca de 18,6 quilotons.
Junto com Oppenheimer, Compton e Ernest Lawrence, Fermi fez parte do painel científico que assessorou o Comitê Interino na seleção de alvos. O painel concordou com o comitê que as bombas atômicas seriam usadas sem aviso contra um alvo industrial. Como outros no Laboratório de Los Alamos, Fermi soube dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki através do sistema de som na área técnica. Fermi não acreditava que as bombas atômicas impediriam as nações de iniciar guerras, nem achava que era hora de um governo mundial. Ele, portanto, não se juntou à Associação de Cientistas de Los Alamos.
Trabalho pós-guerra.
Em seus últimos anos, Fermi fez trabalhos importantes em física de partículas, especialmente a relacionada com mésons pi, e múons. Ele também era conhecido por ser um professor inspirador na Universidade de Chicago (embora não tenha deixado o Laboratório de Los Alamos até dezembro de 1945), e era conhecido por sua atenção aos detalhes, simplicidade e preparação cuidadosa das aulas. A curta distância entre Argonne e Chicago permitia a participação ativa do cientista tanto nas aulas da universidade quanto na física experimental em Argonne, estudando dispersão de nêutrons com Leona Marshall. Mais tarde, suas notas de aula, especialmente as de mecânica quântica, física nuclear, e termodinâmica, foram transcritas em livros que ainda são impressos. Enrico Fermi também discutiu aspectos em física teórica com Maria Mayer, ajudando-a em seu trabalho sobre a interação spin-órbita, o que a levaria ao Prêmio Nobel.
O Projeto Manhattan foi substituído pela Comissão de Energia Atômica (CAE) no primeiro dia de janeiro de 1947. Fermi fez parte de uma importante subdivisão científica da CAE encabeçada por Robert Oppenheimer. Ele também gostava de passar algumas semanas de cada ano no Laboratório de Los Alamos, onde ajudou Nicholas Metropolis e John von Neumann na instabilidade de Rayleigh-Taylor, a ciência do que ocorre na fronteira entre dois fluidos de diferentes densidades.
Logo após a detonação da primeira bomba nuclear soviética em agosto de 1949, Fermi, junto com Isidor Rabi, escreveu um forte manifesto ao comitê, se opondo fortemente ao desenvolvimento de uma bomba de hidrogênio tanto em aspectos morais quanto técnicos. Mesmo assim, continuou trabalhando no desenvolvimento dessa bomba como consultor.
Nos anos que se seguiram, Fermi continuou lecionando na Universidade de Chicago. Seus alunos de PhD no período pós-guerra incluíam Owen Chamberlain, Geoffrey Chew, Jerome Friedman, Marvin Goldberger, Tsung-Dao Lee, Arthur Rosenfeld e Sam Treiman. Jack Steinberger era seu aluno de graduação. Fermi conduziu importantes experimentos na física de partículas, especialmente os relacionados a píons e múons. Ele fez as primeiras predições da ressonância píon-núcleon, se baseando em métodos estatísticos, pois achava que resultados exatos não eram necessários para uma teoria que não estava completamente correta. Em um artigo com a co-autoria de Chen Ning Yang, ele especulou que píons poderiam ser partículas compostas, uma ideia anteriormente formulada por Shoichi Sakata. Foi então postulado, após anos de estudo, que os píons eram feitos de quarks, que completava o modelo de Fermi e criava o modelo quark.
Fermi também escreveu um artigo "Sobre a origem da Radiação Cósmica" no qual ele propôs que os raios cósmicos provinham de um material acelerado por campos magnéticos no espaço interestelar, o que levou a uma divergência de opiniões entre ele e Teller. O cientista italiano também examinou assuntos relacionados a campos magnéticos nos braços de uma galáxia espiral. Ele também criou o paradoxo de Fermi, um raciocínio muito interessante sobre civilizações extraterrestres.
Perto de sua morte, Fermi questionou sua fé na sociedade e também a capacidade de tomarmos uma decisão prudente em relação às armas nucleares. Ele disse:
Impacto e legado.
Fermi recebeu vários prêmios em reconhecimento por suas realizações, incluindo a Medalha Matteucci em 1926, o Prêmio Nobel de Física em 1938, a Medalha Hughes em 1942, a Medalha Franklin em 1947 e o Prêmio Rumford em 1953. Ele recebeu a em 1946 por sua contribuição para o Projeto Manhattan. Fermi foi eleito . A Basílica de Santa Cruz, em Florença, conhecida como o "Templo das Glórias Italianas" por seus muitos túmulos de artistas, cientistas e figuras proeminentes da história italiana tem uma placa comemorativa de Fermi. Em 1999, a "Time" nomeou Fermi em sua lista das 100 melhores pessoas do século XX. Fermi foi amplamente considerado como um caso incomum de um físico do século XX que se destacou tanto teórica quanto experimentalmente. O historiador da física, CP Snow, escreveu que "se Fermi tivesse nascido alguns anos antes, seria possível imaginá-lo descobrindo o núcleo atômico de Rutherford e, em seguida, desenvolvendo a teoria do átomo de hidrogênio de Bohr. Se isso soa como uma hipérbole, qualquer coisa sobre Fermi provavelmente soará como uma hipérbole".
Fermi era conhecido como um professor inspirador e era conhecido por sua atenção aos detalhes, simplicidade e preparação cuidadosa de suas palestras. Mais tarde, suas notas de aula foram transcritas em livros. Seus papéis e cadernos estão hoje na Universidade de Chicago. Victor Weisskopf observou como Fermi "sempre conseguiu encontrar a abordagem mais simples e direta, com o mínimo de complicação e sofisticação". Ele não gostava de teorias complicadas e, embora tivesse grande habilidade matemática, nunca a usaria quando o trabalho poderia ser feito de maneira muito mais simples. Ele era famoso por obter respostas rápidas e precisas para problemas que confundiam outras pessoas. Mais tarde, seu método de obter respostas rápidas por meio de cálculos aproximados tornou-se informalmente conhecido como Método de Fermi, e é amplamente ensinado.
Fermi gostava de apontar que quando Alessandro Volta estava trabalhando em seu laboratório, Volta não tinha ideia de onde o estudo da eletricidade o levaria. Fermi é geralmente lembrado por seu trabalho com energia nuclear e armas nucleares, especialmente a criação do primeiro reator nuclear e o desenvolvimento das primeiras bombas atômicas e de hidrogênio. Seu trabalho científico resistiu ao teste do tempo. Isso inclui sua teoria do decaimento beta, seu trabalho com sistemas não lineares, sua descoberta dos efeitos de nêutrons lentos, seu estudo de colisões píon-nucleon e suas estatísticas Fermi-Dirac. Sua especulação de que um píon não era uma partícula fundamental apontou o caminho para o estudo de quarks e léptons.
Fermi morreu prematuramente, aos 53 anos de idade, vítima de câncer no estômago, provavelmente causado pela exposição a materiais radioativos. Foi sepultado no "Oak Woods Cemetery", Chicago, Illinois, Estados Unidos.
Publicações.
Para obter uma lista completa de seus papéis, consulte as páginas 75-78 na ref.
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788 | Efeito fotoelétrico | Efeito fotoelétrico
O efeito fotoelétrico é a emissão de elétrons por um material, geralmente metálico, quando exposto a uma radiação eletromagnética (como a luz) de frequência suficientemente alta, que depende do material, como por exemplo a radiação ultravioleta. Ele pode ser observado quando a luz incide numa placa de metal, arrancando elétrons da placa. Os elétrons ejetados são denominados "fotoelétrons".
Observado pela primeira vez por A. E. Becquerel em 1839 e confirmado por Heinrich Hertz em 1887, o fenômeno é também conhecido por "efeito Hertz", não sendo porém este termo de uso comum, mas descrito pela primeira vez por Albert Einstein, o efeito fotoelétrico explica como a luz de alta frequência libera elétrons de um material.
De acordo com a teoria eletromagnética clássica, o efeito fotoelétrico poderia ser atribuído à transferência de energia da luz para um elétron. Nessa perspectiva, uma alteração na intensidade da luz induziria mudanças na energia cinética dos elétrons emitidos do metal. Além disso, de acordo com essa teoria, seria esperado que uma luz suficientemente fraca mostrasse um intervalo de tempo entre o brilho inicial de sua luz e a emissão subsequente de um elétron. No entanto, os resultados experimentais não se correlacionaram com nenhuma das duas previsões feitas pela teoria clássica.
Em vez disso, os elétrons são desalojados apenas pelo impacto dos fótons quando esses fótons atingem ou excedem uma frequência limite (energia). Abaixo desse limite, nenhum elétron é emitido do material, independentemente da intensidade da luz ou do tempo de exposição à luz (raramente, um elétron irá escapar absorvendo dois ou mais quanta; no entanto, isso é extremamente raro porque ao absorver quanta suficiente para escapar, o elétron provavelmente terá emitido o resto dos quanta absorvidos). Para dar sentido ao fato de que a luz pode ejetar elétrons mesmo que sua intensidade seja baixa, Albert Einstein propôs que um feixe de luz não é uma onda que se propaga através do espaço, mas uma coleção de pacotes de ondas discretas (fótons), cada um com energia. Isso esclareceu a descoberta anterior de Max Planck da relação de Planck ("E = hν"), ligando energia ("E") e frequência ("ν") como decorrentes da quantização de energia. O fator "h" é conhecido como a constante de Planck. Em 1921 o alemão Albert Einstein recebeu o prêmio Nobel de Física por "suas contribuições para a física teórica e, especialmente, por sua descoberta da lei do efeito fotoelétrico."
Descrição.
Tomemos um exemplo: a luz vermelha de baixa frequência estimula os elétrons para fora de uma peça de metal; na visão clássica, a luz é uma onda contínua cuja energia está espalhada sobre a onda. Todavia, quando a luz fica mais intensa, mais elétrons são ejetados, contradizendo, assim a visão da física clássica que sugere que os mesmos deveriam se mover mais rápido (energia cinética) do que as ondas incidentes.
Quando a luz incidente é de cor azul, essa mudança resulta em elétrons muito mais rápidos. A razão é que a luz pode se comportar não apenas como ondas contínuas, mas também como feixes discretos de energia chamados de fótons. Um fóton azul, por exemplo, contém mais energia do que um fóton vermelho. Assim, o fóton azul age essencialmente como uma "bola de bilhar" com mais energia, desta forma transmitindo maior movimento a um elétron. Esta interpretação corpuscular da luz também explica por que a maior intensidade aumenta o número de elétrons ejetados - com mais fótons colidindo no metal, mais elétrons têm probabilidade de serem atingidos.
Aumentar a intensidade de radiação que provoca o efeito fotoelétrico não aumenta a velocidade dos fotoelétrons, mas aumenta o número de fotoelétrons. Para se aumentar a velocidade dos fotoelétrons, é necessário excitar a placa com radiações de frequências maiores e, portanto, energias mais elevadas.
Einstein e o efeito fotelétrico.
Por volta dos meses superprodutivos de 1905-1906, quando Einstein formulou não apenas a sua teoria da capacidade de calor, mas também a teoria da relatividade, ele encontra um espaço de tempo, para dar outra contribuição fundamental à física moderna. A sua realização foi vincular a hipótese quântica de Planck ao fenômeno do efeito fotoelétrico, a emissão dos elétrons de metais quando são expostos à radiação ultravioleta.
Einstein apontou que todas as observações se encaixavam caso o campo eletromagnético fosse quantificado, e que consistia em feixes de energia de magnitude formula_1. Estes pacotes foram mais tarde nomeados de fótons por G.N. Lewis, e esse termo passou a ser utilizado. Einstein viu o efeito fotoelétrico como resultado de uma colisão entre um projétil de entrada, um fóton de energia formula_1, e um elétron presente no metal. Esta imagem explica o carácter instantâneo do efeito, porque até mesmo um fóton pode participar numa colisão. Também foi responsável pelo limite de frequência porque uma energia mínima (que normalmente é denotada por formula_3 e chamada 'função trabalho' para o metal, o análogo da energia de ionização de um átomo) deve ser fornecida em uma colisão antes que a ejeção do fóton possa ocorrer; por conseguinte, apenas radiação para a qual formula_4 pode ser bem-sucedida. A dependência linear da energia cinética, formula_5, do fotoelétron da frequência da radiação é uma consequência simples da conservação de energia, o que implica que:
formula_6
Se os fótons tiverem um caráter semelhante a uma partícula, então eles devem possuir um momento linear, p. A expressão relativista que relaciona a energia de uma partícula com à sua massa e momento é
formula_7
onde c é a velocidade da luz. No caso de um fóton, formula_8 e formula_9, então:
formula_10
Esse momento linear deve ser detectável se a radiação cair em um elétron, pois uma transferência parcial do momento durante a colisão deve aparecer como uma alteração do comprimento de onda dos fótons.
Experimentos que evidenciaram o efeito fotoelétrico.
Hertz (1887).
Em 1887, Heinrich Hertz usou um circuito em conjunto com um centelhador. Ele observou que quando a luz incidia no centelhador do receptor era facilitada a produção de centelhas.
Philipp von Lenard (1900).
Em 1900, Philipp von Lenard fez um experimento com raios catódicos, no qual no catodo faz-se incidir luz ultravioleta. Um potenciostato controlava a diferença de potencial entre o catodo e o anodo, medindo a corrente do sistema. Com esse experimento, Lenard observou que a corrente máxima era proporcional a intensidade da luz o que era esperado, no entanto, não havia uma intensidade mínima para que a corrente fosse nula gerando conflito com a teoria clássica.
Mais tarde, quando Einstein propôs que a luz se comportava de maneira localizada no espaço e possuía energia hformula_11 (fóton), os experimentos anteriores foram justificados e comprovaram a teoria quântica. No experimento de Lenard, por exemplo, a intensidade da luz diretamente proporcional a corrente gerada, é justificado pelo fato de que uma luz de maior intensidade significa maior quantidade de fótons e mais elétrons sendo ejetados da superfície do metal, o que consequentemente significa mais elétrons em movimento e por isso a corrente observada era maior.
Equações.
Analisando o efeito fotoelétrico quantitativamente usando o método de Einstein, as seguintes equações equivalentes são usadas:
Energia do fóton = Energia necessária para remover um elétron + Energia cinética do elétron emitido
Algebricamente:
Onde:
"Nota"s:
Aplicações.
Os controles remotos, "games" e artifícios digitais estão cada vez mais presentes nessa era considerada digital, então é viável e interessante que o efeito fotoelétrico seja observado, para uma melhor a compreensão, através de um simulador. O controle remoto, por exemplo, pode ser associado à fonte de luz presente no simulador, pois emite um feixe de luz de determinada frequência que aciona o dispositivo fotossensível presente nos aparelhos controlados por ele.
Graças ao efeito fotoelétrico, tornou-se possível o cinema falado, assim como a transmissão de imagens animadas (televisão). O emprego de aparelhos fotoelétricos permitiu construir uma maquinaria capaz de produzir peças sem intervenção alguma do homem. Os aparelhos cujos funcionamentos se assentam no aproveitamento do efeito fotoelétrico controlam o tamanho das peças melhor do que pode fazer qualquer operário, permitem acender e desligar automaticamente a iluminação de ruas, os faróis, etc. Tudo isto se tornou possível devido à invenção de aparelhos especiais, chamados células fotoelétricas, em que a energia da luz controla a energia da corrente elétrica ou se transforma em corrente elétrica
O equipamento de visão noturna economicamente mais acessível, mais leve, menor, mais ergonométrico, mais confiável, com campo de visão maior, com alto desempenho sob baixas condições de iluminação e que possa ser utilizado tanto de noite quanto de dia atualmente é feito com Tubos Intensificadores de Imagem (TII). Os intensificadores de luz baseiam-se no efeito fotoelétrico demonstrado por Albert Einstein em 1905, no qual um fóton ao incidir sobre determinados materiais é capaz de provocar a emissão de um elétron, denominado fotoelétron. Este efeito fotoelétrico ocorre justamente no fotocatodo. Portanto, a luz (fótons) que chega(m) ao fotocatodo é(são) convertida(os) em fotoelétrons. Estes fotoelétrons são acelerados pelo campo elétrico e para os TIl da 2ª geração em diante são multiplicados na placa de microcanais. Esta multiplicação de elétrons ocorre da seguinte forma: o campo elétrico existente entre o fotocatodo e a placa de microcanais direciona os elétrons para a placa, de modo que ao entrarem nos microcanais colidem com as paredes semicondutoras. Esta colisão gera elétrons secundários que caminham dentro dos microcanais sob influência de um intenso campo elétrico aplicado ao longo dos microcanais. Mais colisões geram mais elétrons e este efeito de avalanche produz o ganho (amplificação) do TIl. Quando alcançam o final da placa de microcanais, os elétrons são acelerados através de uma pequena separação até atingirem a tela de fósforo. Na tela de fósforo os elétrons multiplicados colidem com alta energia e são convertidos em fótons, gerando uma imagem. Após a tela de fósforo está a janela de fibras ópticas, que conduz a imagem gerada para a posição focal desejada pelo restante do sistema óptico, e, quando necessário, inverte a imagem.
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Os Estados Unidos da América (EUA; — USA; ), ou simplesmente Estados Unidos ou América, são uma república constitucional federal composta por 50 estados e um distrito federal. A maior parte do país situa-se na região central da América do Norte, formada por 48 estados e o Distrito de Colúmbia, o distrito federal da capital. Banhado pelos oceanos Pacífico e Atlântico, faz fronteira com o Canadá ao norte e com o México ao sul. O estado do Alasca está no noroeste do continente, fazendo fronteira com o Canadá no leste e com a Rússia a oeste, através do estreito de Bering. O estado do Havaí é um arquipélago no Pacífico Central. O país também possui vários outros territórios no Caribe e no Oceano Pacífico. Com 9,37 milhões de km² de área e uma população de mais de 330 milhões de habitantes, o país é o quarto maior em área total, o quinto maior em área contígua e o terceiro em população. Os Estados Unidos são uma das nações mais multiculturais e etnicamente diversas do mundo, produto da forte imigração vinda de muitos países. Sua geografia e sistemas climáticos também são extremamente diversificados, com desertos, planícies, florestas e montanhas que abrigam uma grande variedade de espécies.
Os paleoindígenas, que migraram da Ásia há quinze mil anos, habitam o que é hoje o território dos Estados Unidos até os dias atuais. Esta população nativa foi muito reduzida após o contato com os europeus devido a doenças e guerras. Os Estados Unidos foram fundados pelas treze colônias do Império Britânico localizadas ao longo da sua costa atlântica. Em 4 de julho de 1776, foi emitida a Declaração de Independência, que proclamou o seu direito à autodeterminação e a criação de uma união cooperativa. Os estados rebeldes derrotaram a Grã-Bretanha na Guerra Revolucionária Americana, a primeira guerra colonial bem-sucedida da Idade Contemporânea. A Convenção de Filadélfia aprovou a atual Constituição dos Estados Unidos em 17 de setembro de 1787; sua ratificação no ano seguinte tornou os estados parte de uma única república com um forte governo central. A Carta dos Direitos, composta por dez emendas constitucionais que garantem vários direitos civis e liberdades fundamentais, foi ratificada em 1791.
Guiados pela doutrina do destino manifesto, os Estados Unidos embarcaram em uma vigorosa expansão territorial pela América do Norte durante o século XIX que resultou no deslocamento de tribos indígenas, aquisição de territórios e na anexação de novos Estados. Os conflitos entre o sul agrário e o norte industrializado do país sobre os direitos dos estados e a expansão da instituição da escravatura provocaram a Guerra de Secessão, que decorreu entre 1861 e 1865. A vitória do Norte impediu a separação do país e levou ao fim da escravatura nos Estados Unidos. No final do século XIX, sua economia tornou-se a maior do mundo e o país expandiu-se para o Pacífico. A Guerra Hispano-Americana e a Primeira Guerra Mundial confirmaram o estatuto do país como uma potência militar. A nação emergiu da Segunda Guerra Mundial como o primeiro país com armas nucleares e como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética deixaram-no como a única superpotência restante.
Os Estados Unidos são um país desenvolvido e formam a maior economia nacional do mundo, com um produto interno bruto que em 2012 foi de de dólares, equivalente a 19% do PIB mundial por paridade do poder de compra (PPC) de 2011. Sua renda "per capita" era a sexta maior do mundo em 2010, no entanto o país é o mais desigual dos membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conforme calculado pelo Banco Mundial. Sua economia é alimentada pela abundância de recursos naturais, por uma infraestrutura bem desenvolvida e pela alta produtividade e, apesar de ser considerado uma economia pós-industrial, o país continua a ser um dos maiores fabricantes do mundo. Os Estados Unidos respondem por 39% dos gastos militares do planeta e são um forte líder econômico, político e cultural.
Etimologia.
Em 1510, o cartógrafo alemão Martin Waldseemüller elaborou um planisfério, onde denominou as terras do hemisfério ocidental de "América", em honra ao cartógrafo italiano Américo Vespúcio. As antigas colônias britânicas usaram pela primeira vez o nome do país moderno na Declaração de Independência — "unânime declaração de independência dos Estados Unidos da América", adotada pelos "representantes dos Estados Unidos da América", em 4 de julho de 1776. Seu nome atual foi formalmente adotado em 15 de novembro de 1777, quando o Segundo Congresso Continental aprovou os Artigos da Confederação, que estipulavam "O nome desta confederação será "Estados Unidos da América"". A forma "Estados Unidos" também é padronizada; outra forma comum é EUA. "Colúmbia", derivado do nome de Cristóvão Colombo, em tempos um nome popular para os Estados Unidos, ainda permanece no nome distrito de Colúmbia. Ocasionalmente o país é referido de forma incorreta como "Estados Unidos da América do Norte". Na escrita, também é comum o uso das abreviaturas EUA, US ou USUS. As formas padrão para se referir a um cidadão dos Estados Unidos são "americano" (mais usual), "estadunidense" (ou "estado-unidense") ou "norte-americano". Também é utilizado o adjetivo "ianque" (do inglês "yankee"). Originalmente e em sentido estrito, "yankee" é um habitante da região de Nova Inglaterra, mas o uso generalizou-se, passando a designar todos os nativos dos estados do Norte; pode ainda designar especificamente os soldados nortistas durante a Guerra da Secessão ou, mais genericamente, qualquer nativo dos Estados Unidos.
História.
Nativos americanos.
É geralmente aceito que os primeiros habitantes da América do Norte migraram da Sibéria por meio da ponte terrestre de Bering e chegaram há pelo menos anos; no entanto, evidências crescentes sugerem uma chegada ainda mais precoce. Depois de atravessar a ponte terrestre, os primeiros nativos americanos se moveram para o sul ao longo da costa do Pacífico e por um corredor interior sem gelo. A Cultura Clóvis apareceu por volta de a.C. e é considerada um ancestral da maioria das culturas indígenas posteriores das Américas. Esta cultura era considerada o primeiro assentamento humano do continente americano. Ao longo dos anos, no entanto, mais e mais evidências apontam a ideia de culturas "pré-Clóvis", incluindo ferramentas que datam de anos atrás. É provável que eles representem a primeira das três principais ondas de migração para a América do Norte.
Com o tempo, as culturas indígenas na América do Norte tornaram-se cada vez mais complexas, e algumas, como a cultura mississipiana pré-colombiana no sudeste, desenvolveram agricultura avançada, arquitetura grandiosa e sociedades complexas. A cultura mississipiana floresceu no sul entre os anos 800 a 1600, estendendo-se da fronteira mexicana até a Flórida. Sua cidade-Estado, Cahokia, é considerada o maior e mais complexo sítio arqueológico pré-colombiano dos Estados Unidos modernos.
Na região dos Quatro Cantos, a cultura ancestral dos Anasazi se desenvolveu como o culminar de séculos de experimentação agrícola, que produziram maior dependência da agricultura. Três locais considerados Patrimônio Mundial pela UNESCO são creditados a este povo: o Parque Nacional Mesa Verde, o Parque Histórico Nacional da Cultura Chaco e Pueblo de Taos. As obras de terraplenagem construídas pelos nativos americanos da cultura de Poverty Point, no nordeste da Louisiana, também foram designadas como Patrimônio da Humanidade. Na região sul dos Grandes Lagos, a Confederação Iroquesa foi estabelecida em algum momento entre os séculos XII e XV.
A data dos primeiros assentamentos das ilhas havaianas é um tópico de contínuo debate. A evidência arqueológica parece indicar assentamentos por volta do ano 124.
Colonos europeus.
Em 1492, o explorador Cristóvão Colombo sob contrato com a coroa espanhola chegou a várias ilhas do Caribe, fazendo o primeiro contato com os povos indígenas. Em 2 de abril de 1513, o conquistador espanhol Juan Ponce de León desembarcou no local em que ele chamou de "La Florida" — a primeira visita europeia documentada no que viria a ser os Estados Unidos Continentais. Às colônias espanholas na Flórida seguiram-se outras no que é hoje o sudoeste dos Estados Unidos, que atraíram milhares de colonos através do México. Os comerciantes de peles franceses estabeleceram postos da Nova França em torno dos Grandes Lagos; a França acabou por reivindicar a maior parte do interior da América do Norte até o Golfo do México.
O primeiro assentamento inglês bem sucedido foi a Colônia da Virgínia em Jamestown, em 1607, e a Colônia de Plymouth, dos chamados "Peregrinos" (em inglês: "Pilgrim Fathers" [pais peregrinos] ou simplesmente "Pilgrims"), em 1620. O fretamento de 1628 da Colônia da Baía de Massachusetts resultou em uma onda de migração; por volta de 1634, a Nova Inglaterra tinha sido povoada por cerca de puritanos. Entre o final dos anos 1610 e a Revolução Americana, cerca de prisioneiros foram enviados para as colônias americanas da Grã-Bretanha. A partir de 1614, os holandeses se estabeleceram ao longo do rio Hudson, nomeadamente na colônia de Nova Amsterdã na ilha de Manhattan.
Em 1674, os holandeses cederam seu território norte-americano à Inglaterra; a província da Nova Holanda foi renomeada para Nova Iorque. Muitos dos novos imigrantes, especialmente do Sul (cerca de dois terços de todos os imigrantes da Virgínia) foram contratados como trabalhadores temporários entre 1630 e 1680. A partir do final do , os escravos africanos foram se tornando a principal fonte de trabalho forçado. Com a divisão das Carolinas em 1729 e a colonização da Geórgia em 1732, foram estabelecidas as treze colônias britânicas que se tornariam os Estados Unidos. Todas contavam com um governo local eleito, estimulando o apoio ao republicanismo. Todas as colônias legalizaram o comércio de escravos africanos.
Com taxas de natalidade altas, taxas de mortalidade baixas e imigração constante, a população colonial cresceu rapidamente. O movimento cristão revivalista das décadas de 1730 e 1740, conhecido como o Grande Despertar, incentivou o interesse na religião e na liberdade religiosa. Durante a Guerra Franco-Indígena, as forças britânicas tomaram o Canadá dos franceses, mas a população francófona permaneceu isolada política e geograficamente das colônias do sul.
À exceção dos nativos americanos (popularmente conhecidos como "índios americanos"), que estavam sendo deslocados, as treze colônias tinham uma população de 2,6 milhões de habitantes em 1770, cerca de um terço da Grã-Bretanha; cerca de um em cada cinco norte-americanos eram escravos negros. Embora sujeitos aos impostos britânicos, os colonos americanos não tinham representação no Parlamento da Grã-Bretanha.
Independência e expansão territorial.
As tensões entre colonos americanos e os britânicos durante o período revolucionário dos anos 1770 e início dos anos 1780 levaram à Guerra Revolucionária Americana, travada de 1775 até 1781. Em 14 de junho de 1775, o Congresso Continental, em convocação na Filadélfia, criou um Exército Continental sob o comando de George Washington. Proclamando que "todos os homens são criados iguais e dotados de certos direitos inalienáveis", em 4 de julho de 1776 o Congresso aprovou a Declaração de Independência, redigida em grande parte por Thomas Jefferson. Essa data é hoje comemorada como o Dia da Independência dos Estados Unidos. Em 1777, os Artigos da Confederação estabeleceram um fraco governo confederado que operou até 1789.
Após a derrota britânica por forças americanas apoiadas pelos franceses, na Batalha de Yorktown, a Grã-Bretanha reconheceu a independência dos Estados Unidos e a soberania dos estados sobre o território americano a oeste do rio Mississippi. Uma convenção constitucional foi organizada em 1787 por aqueles que desejavam estabelecer um governo nacional forte, com poderes de tributação. A Constituição dos Estados Unidos foi ratificada em 1788. Em 1789 tomaram posse o primeiro Congresso dos Estados Unidos e o primeiro presidente (George Washington) da Nova República. Em 1791 foi adotada a "Bill of Rights" (Declaração dos Direitos dos Cidadãos), que proíbe restrições federais das liberdades pessoais e garante uma série de proteções legais.
As atitudes em relação à escravidão foram sendo alteradas; uma cláusula na Constituição protegia o comércio de escravos africanos apenas até 1808. Os estados do Norte aboliram a escravidão entre 1780 e 1804, deixando os estados escravistas do Sul como defensores dessa "instituição peculiar". O Segundo Grande Despertar, iniciado por volta de 1800, fez do evangelicalismo uma força por detrás de vários movimentos de reforma social, entre as quais o abolicionismo.
A ânsia americana de expansão para o oeste levou a uma longa série de Guerras Indígenas e ao genocídio dos indígenas. A compra da Louisiana, o território francês a sul, sob a presidência de Thomas Jefferson em 1803, quase duplicou o tamanho da nação.
A Guerra de 1812, travada contra a Grã-Bretanha acabou num empate, reforçando o nacionalismo americano. Uma série de incursões militares americanas na Flórida levaram a Espanha a ceder esse e outros territórios na Costa do Golfo do México em 1819. A Trilha das Lágrimas em 1830 exemplificou a política de remoção dos índios, que retirava os povos indígenas de suas terras nativas. Os Estados Unidos anexaram a República do Texas em 1845. O conceito de "Destino Manifesto" foi popularizado durante essa época.
O Tratado de Oregon, assinado com a Grã-Bretanha em 1846, levou ao controle norte-americano do atual Noroeste dos Estados Unidos. A vitória americana na Guerra Mexicano-Americana resultou na cessão da Califórnia e de grande parte do atual Sudoeste dos Estados Unidos em 1848. A corrida do ouro na Califórnia de 1848–1849 estimulou a migração ocidental. As ferrovias construídas, no entanto, tornaram a deslocalização mais fácil para os colonos e provocaram o aumento dos conflitos com os nativos americanos. Depois de meio século, até 40 milhões de bisões americanos foram abatidos para peles e carne e para facilitar a disseminação do transporte ferroviário. A perda do bisão, um recurso fundamental para os Índios das Planícies, constituiu rude golpe para a subsistência de muitas culturas nativas. A compra do Alasca do Império Russo em 1867 completou a expansão continental do país.
Guerra civil, industrialização e imigração em massa.
As tensões entre os estados ditos livres e os estados escravistas tiveram origem sobretudo em discussões sobre a relação entre os governos estadual e federal e em conflitos violentos acerca da propagação da escravidão em novos estados. Abraham Lincoln, candidato do Partido Republicano, em grande parte abolicionista, foi eleito presidente em 1860. Antes da sua tomada de posse, sete estados escravistas declararam sua secessão, o que o governo federal sempre considerou ilegal, e formaram os Estados Confederados da América.
Com o ataque confederado em Fort Sumter, a Guerra de Secessão começou, e mais quatro estados escravistas aderiram à Confederação. A Proclamação da Emancipação de Lincoln, em 1863, declarou livres os escravos da Confederação. Após a vitória da União em 1865, três emendas à Constituição americana garantiam a liberdade para quase quatro milhões de afro-americanos que tinham sido escravos, fizeram-nos cidadãos e lhes deram direito ao voto. A guerra e a sua resolução levaram a um aumento substancial do poder federal.
Após a guerra, o assassinato de Lincoln radicalizou as políticas republicanas da Reconstrução na reinserção e reconstrução dos estados do sul, assegurando os direitos dos escravos recém-libertos. A resolução da disputada eleição presidencial de 1876 pelo compromisso de 1877 terminou com a Era da Reconstrução; as Leis de Jim Crow iniciaram um período de perseguição aos afro-americanos.
No Norte, a urbanização e um afluxo de imigrantes sem precedentes da Europa meridional e oriental apressou a industrialização do país. A onda de imigração, que durou até 1929, proveu trabalho e transformou a cultura americana. O desenvolvimento da infraestrutura nacional estimulou o crescimento econômico.
O massacre de Wounded Knee, em 1890, foi o último grande conflito armado das Guerras Indígenas. Em 1893, a monarquia indígena do Reino do Havaí, no Pacífico, foi derrubada em um golpe de Estado liderado por residentes norte-americanos; os Estados Unidos anexaram o arquipélago em 1898. A vitória no mesmo ano da Guerra Hispano-Americana demonstrou que os Estados Unidos eram uma grande potência mundial e levou à anexação de Porto Rico, Guam e as Filipinas. As Filipinas conquistaram a independência meio século depois, Porto Rico e Guam permanecem como territórios americanos.
Primeira Guerra Mundial, Grande Depressão e Segunda Guerra Mundial.
Durante os primeiros anos da Primeira Guerra Mundial, que eclodiu em 1914, os Estados Unidos mantiveram-se neutros. Apesar da maioria dos americanos simpatizarem com os britânicos e com os franceses, muitos eram contra uma intervenção. Em 1917, os Estados Unidos se juntaram aos Aliados, ajudando a virar a maré contra as Potências Centrais. Após a guerra, o Senado não ratificou o Tratado de Versalhes, que estabelecia a Liga das Nações. O país seguiu uma política de unilateralismo, beirando o isolacionismo.
Em 1920, o movimento pelos direitos das mulheres conseguiu a aprovação de uma emenda constitucional que concedia o sufrágio feminino. A prosperidade dos "Roaring Twenties" ("anos 20 florescentes, alegres, ruidosos ou vívidos") terminou com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, que desencadeou a Grande Depressão. Após sua eleição como presidente em 1932, Franklin Delano Roosevelt respondeu à crise social e econômica com o "New Deal" ("novo acordo"), uma série de políticas de crescente intervenção governamental na economia. O "Dust Bowl" de meados da década de 1930 empobreceu muitas comunidades agrícolas e estimulou uma nova onda de imigração ocidental.
Os Estados Unidos, neutros durante as fases iniciais da Segunda Guerra Mundial, iniciada com a invasão da Polônia pela Alemanha Nazista em setembro de 1939, começaram a fornecer material para os Aliados em março de 1941 através do programa "Lend-Lease" ("Lend-Lease Act"; "Lei de empréstimo e arrendamento"). Em 7 de dezembro de 1941, o Império do Japão lançou um ataque surpresa a Pearl Harbor, o que levou os Estados Unidos a se juntar aos Aliados contra as potências do Eixo e ao internamento compulsivo de milhares de americanos de origem japonesa. A participação na guerra estimulou o investimento de capital e a capacidade industrial do país. Entre os principais combatentes, os Estados Unidos foram o único país a se tornar muito mais rico, ao contrário dos restantes aliados, que empobreceram por causa da guerra.
As conferências dos aliados em Bretton Woods e Yalta delinearam um novo sistema de organizações internacionais que colocou os Estados Unidos e a União Soviética no centro da política geoestratégica mundial. Como a vitória foi conquistada na Europa, uma conferência internacional realizada em 1945 em São Francisco produziu a Carta das Nações Unidas, que se tornou ativa depois da guerra. Tendo desenvolvido as primeiras armas nucleares, os Estados Unidos, usaram-nas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. O Japão se rendeu em 2 de setembro do mesmo ano, marcando o fim da guerra.
Guerra Fria e protestos políticos.
Os Estados Unidos e a União Soviética disputaram a supremacia mundial após a Segunda Guerra Mundial, durante o período chamado de Guerra Fria, cujos principais atores a nível militar na Europa foram Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o Pacto de Varsóvia. Os Estados Unidos promoviam a democracia liberal e o capitalismo, enquanto a União Soviética promovia o comunismo e uma economia planificada. Ambos apoiavam ditaduras e estavam envolvidos em guerras por procuração. As tropas americanas combateram as forças comunistas chinesas na Guerra da Coreia de 1950–53. O Comitê de Atividades Antiamericanas seguiu uma série de investigações sobre suspeitas de subversões de esquerda, enquanto o senador Joseph McCarthy tornou-se a figura emblemática do sentimento anticomunista.
O lançamento soviético de 1961 do primeiro voo tripulado fez com que o presidente John F. Kennedy lançasse o repto dos Estados Unidos serem o primeiro país a aterrissar um homem na lua, o que foi realizado em 1969. Kennedy também enfrentou uma tensa crise motivado pela presença de forças soviéticas em Cuba que por pouco não provocou um confronto nuclear. Entretanto, os Estados Unidos experimentaram uma expansão econômica sustentada. Ao mesmo tempo, cresceu o movimento dos direitos civis, simbolizado e liderado por afro-americanos, como Rosa Parks e Martin Luther King Jr, usando a não violência para enfrentar a segregação e a discriminação.
Após o assassinato de Kennedy em 1963, as leis de direitos civis (1964) e direito ao voto (1965) foram sancionadas pelo presidente Lyndon B. Johnson. Johnson e seu sucessor, Richard Nixon, expandiram uma guerra por procuração no sudeste da Ásia para a mal sucedida Guerra do Vietnã. Um amplo movimento de contracultura cresceu, alimentado pela oposição à guerra, o nacionalismo negro e a revolução sexual. Betty Friedan, Gloria Steinem e outros levaram uma nova onda de feminismo que buscava a igualdade política, social e econômica das mulheres.
Como consequência do escândalo de Watergate, em 1974 Nixon se tornou o primeiro presidente americano a renunciar, para evitar sofrer um "impeachment" (impugnação do mandato) sob as acusações de obstrução da justiça e abuso de poder, sendo sucedido pelo vice-presidente Gerald Ford. A administração de Jimmy Carter da década de 1970 foi marcada pela estagflação e a crise dos reféns do Irã. A eleição de Ronald Reagan como presidente em 1980 anunciou uma virada à direita na política norte-americana, refletida em grandes mudanças na tributação e nas prioridades dos gastos. Seu segundo mandato foi marcado pelo escândalo Irã-Contras e pelo significativo progresso diplomático com a União Soviética. O posterior colapso soviético pôs fim à Guerra Fria.
Era contemporânea.
Temendo a propagação da instabilidade internacional regional a partir da invasão iraquiana do Kuwait, em agosto de 1991, o presidente George H. W. Bush lançou e liderou a Guerra do Golfo contra o Iraque, expulsando as forças iraquianas e dissolvendo o Estado fantoche apoiado pelo Iraque no Kuwait. Durante a administração do presidente Bill Clinton em 1994, os EUA assinaram o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), fazendo com que o comércio entre os Estados Unidos, Canadá e México disparasse. Devido à bolha da Internet, política monetária estável e gastos reduzidos com o bem-estar social, a década de 1990 viu a mais longa expansão econômica da história moderna dos Estados Unidos.
Em 11 de setembro de 2001, sequestradores terroristas da Al-Qaeda lançaram aviões de passageiros contra o World Trade Center na cidade de Nova York e o Pentágono perto de Washington, D.C., matando quase 3 mil pessoas. Em resposta, o presidente George W. Bush lançou a Guerra ao Terror, que incluiu uma ocupação de quase 20 anos no Afeganistão de 2001 a 2021 e a Guerra do Iraque de 2003 a 2011. A política do governo projetada para promover habitação acessível, falhas generalizadas na governança corporativa e regulatória, e taxas de juros historicamente baixas estabelecidas pelo Federal Reserve levaram a uma bolha imobiliária em 2006. Isso culminou na crise financeira de 2007–2008 e a Grande Recessão, a maior contração econômica do país desde a Grande Depressão.
Barack Obama, o primeiro presidente multirracial com ascendência afro-americana, foi eleito em 2008 em meio à crise financeira. No final de seu segundo mandato, o mercado de ações, a renda média e o patrimônio líquido familiar e o número de pessoas com empregos estavam todos em níveis recordes, enquanto a taxa de desemprego estava bem abaixo da média histórica. Sua principal conquista legislativa foi o Affordable Care Act (ACA), popularmente conhecido como "Obamacare". Isso representou a revisão regulatória mais significativa do sistema de saúde dos EUA e a expansão da cobertura desde o Medicare em 1965. Como resultado, a parcela da população sem seguro de saúde foi cortada pela metade, enquanto o número de estadunidenses recém-segurados foi estimado entre 20 e 24 milhões. Depois que Obama cumpriu dois mandatos, o republicano Donald Trump foi eleito o 45º presidente em 2016. Sua eleição é vista como uma das maiores reviravoltas políticas da história estadunidense e mundial. Trump ocupou o cargo durante as primeiras ondas da pandemia de COVID-19 e a subsequente recessão causada pela pandemia a partir de 2020, que excedeu até a Grande Recessão no início do século.
A polarização política aumentou a partir da década de 2010, com acesso ao aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, movimento pelos direitos dos transgêneros, racismo sistêmico persistente, brutalidade policial, imigração ilegal, tiroteios em massa e uso recreativo de maconha se tornando tópicos centrais de debate. Desde então, vários protestos estão entre os maiores da história dos Estados Unidos. Em 6 de janeiro de 2021, apoiadores do presidente Trump invadiram o Capitólio dos Estados Unidos em uma tentativa malsucedida de interromper a contagem de votos do Colégio Eleitoral que confirmaria o democrata Joe Biden como o 46º presidente. Em 2022, a Suprema Corte decidiu que não há direito constitucional ao aborto, causando outra onda de protestos. Os Estados Unidos responderam à Rússia e à Belarus após a invasão da Ucrânia com o país aplicando duras sanções e enviando dezenas de bilhões de dólares em ajuda militar e humanitária à Ucrânia.
Geografia.
A área dos Estados Unidos contíguos é de aproximadamente sendo que são terra emersa. O Alasca, separado dos Estados Unidos contíguos pelo Canadá, é o maior estado com . O Havaí, um arquipélago no Pacífico central, a sudoeste da América do Norte, tem cerca de
A seguir à Rússia e ao Canadá, os Estados Unidos são a quarta maior nação do mundo em área total (terra e água), posição abaixo da China. A classificação varia conforme a estimativa da área total dos Estados Unidos utilize as águas territoriais marítimas, porém, pelo padrão de agrimensura, que considera apenas terra e águas internas a posição é a quarta. Assim, segundo o "CIA World Factbook", que contabiliza as águas costeiras e territoriais, segundo Divisão de Estatísticas das Nações Unidas, que considera as águas costeiras e territoriais dos grandes lagos. e segundo a Encyclopædia Britannica, que considera as águas territoriais dos grandes lagos. Incluindo apenas a área terrestre, os Estados Unidos são o terceiro maior país do mundo em superfície, atrás da Rússia e da China e à frente do Canadá.
O território nacional conta com múltiplas formas de acidentes geográficos e é comum dividir-se a parte dos Estados Unidos na América do Norte excluindo o Alasca em três grandes regiões orográficas: a ocidental, a central e a oriental. À medida que se avança para o interior, a planícies costeiras do litoral Atlântico dão lugar a bosques caducifólios e à meseta de Piedmont. Os Apalaches separam a costa oriental dos Grandes Lagos das pradarias do centro-oeste.
As montanhas de Serra Nevada e a Cordilheira das Cascatas ("Cascade Range") se encontram próximas à costa do Pacífico. O Monte McKinley, no Alasca, com metros de altitude, é o ponto mais alto do país e de todo o continente. Os vulcões ativos são comuns ao longo do Alasca e nas Ilhas Aleutas e no estado do Havaí só existem ilhas vulcânicas. O supervulcão localizado no Parque Nacional de Yellowstone, nas Montanhas Rochosas, é o maior vulcão do continente.
Hidrografia e clima.
O principal sistema hidrográfico do país, formado pelos rios Mississipi e Missouri e o terceiro maior sistema fluvial do mundo, percorre o centro dos Estados Unidos de norte a sul. A pradaria plana e fértil das Grandes Planícies se estende até ao oeste, até ser interrompida por uma região de terras altas no sudoeste. As Montanhas Rochosas, na borda ocidental das Grandes Planícies, atravessam a nação do norte até o sul, chegando a altitudes superiores a metros. Ainda na região oeste encontram-se a Grande Bacia do Nevada ("Great Basin") e desertos, como o de Mojave, Sonora e Chihuahua.
Sua grande extensão e variedade geográficas incluem a maioria dos tipos de clima. A leste do meridiano 100 oeste, o clima varia de continental úmido no norte, a subtropical úmido no sul. A ponta sul da Flórida é tropical, assim como o Havaí. As Grandes Planícies a oeste do meridiano 100 são semiáridas.
Grande parte das montanhas ocidentais são alpinas. O clima é árido na Grande Bacia, desértico no sudoeste, mediterrânico na costa da Califórnia e oceânico nas costas do Oregon e de Washington e sul do Alasca. A maior parte do Alasca é subártico ou polar. Climas extremos não são incomuns; os países do Golfo do México são propensos a furacões e a maioria dos tornados do mundo ocorrem no interior do país, principalmente na "Tornado Alley" ("Alameda dos Tornados"), no Centro-Oeste.
Meio ambiente.
Os Estados Unidos são considerados um "país megadiverso": cerca de espécies de plantas vasculares ocorrem nos Estados Unidos Continentais e no Alasca, e mais de espécies de plantas são encontradas no Havaí, algumas das quais ocorrem no continente. Os Estados Unidos são o lar de mais de 400 espécies de mamíferos, 750 de aves e 500 de répteis e anfíbios. Cerca de espécies de insetos têm sido registradas.
A "Endangered Species Act" de 1973 protege espécies ameaçadas e seus "habitats", que são monitorados pelo "United States Fish and Wildlife Service". Há 58 parques nacionais e centenas de outros parques, florestas e áreas naturais geridas pelo governo federal, sendo que a porcentagem de área florestal é de 33,1% (2005). No total, o governo detém 28,8% da área terrestre do país. A maior parte desta área está protegida, apesar de algumas serem alugadas para perfuração de poços de petróleo e gás natural, mineração, exploração madeireira ou pecuária; 2,4% são usados para fins militares.
Demografia.
A população dos Estados Unidos foi estimada pelo "United States Census Bureau" em novembro de 2020 em habitantes, incluindo 11,2 milhões de imigrantes ilegais. Os Estados Unidos são a terceira nação mais populosa do mundo, a seguir à China e a Índia, e são o único país industrializado em que há perspectivas de aumento em grande parte da população. Com uma taxa de natalidade de 13,82 por mil, 30% abaixo da média mundial, a sua taxa de crescimento populacional é de 0,98%, significativamente superior às da Europa Ocidental, Japão e Coreia do Sul.
Composição étnica.
Os Estados Unidos têm uma população muito diversificada: trinta e um grupos étnicos têm mais de um milhão de membros. Os estadunidenses brancos são o maior grupo racial; descendentes de alemães, irlandeses e ingleses constituem três dos quatro principais grupos étnicos do país. Os afro-americanos são a maior minoria racial da nação e o terceiro maior grupo étnico.
Os asiático-americanos são a segunda maior minoria racial do país; os dois maiores grupos étnicos asiático-americanos são chineses americanos e filipinos americanos. Em 2008, a população americana incluía um número estimado de 4,9 milhões de pessoas com alguma ascendência de nativos americanos ou nativos do Alasca (3,1 milhões exclusivamente de tal ascendência) e 1,1 milhões com alguma ascendência de nativos do Havaí ou das ilhas do Pacífico (0,6 milhões exclusivamente). De acordo com o censo de 2010, os hispânicos já são mais de 62 milhões nos Estados Unidos. No ano fiscal de 2009, foi concedida residência legal a 1,1 milhões de imigrantes. O México foi a principal fonte de novos residentes por mais de duas décadas; desde 1998, China, Índia e as Filipinas foram os quatro principais países de origem de imigrantes a cada ano.
O crescimento populacional dos hispânicos e latino-americanos é uma grande tendência demográfica. Os 46,9 milhões de americanos de ascendência hispânica são identificados como uma etnia "distinta" pelo "Census Bureau"; 64% dos hispano-americanos são de origem mexicana. Entre 2000 e 2008, a população hispânica do país aumentou 32%, enquanto a população não hispânica cresceu apenas 4,3%. Grande parte deste crescimento populacional vem da imigração. Em 2007, 12,6% da população era constituída por indivíduos nascidos em outros países, 54% deles na América Latina. A fertilidade é também um fator importante; o número médio de filho por mulher latino-americana (taxa de fecundidade é de três, de 2,2 para as mulheres não hispânicas negras e 1,8 para as mulheres não hispânicas brancas (abaixo da taxa de substituição populacional, que é de 2,1). Minorias (conforme definido pelo "Census Bureau", ao lado de todos os não hispânicos, não multirraciais brancos) constituem 34% da população. Estima-se que os não brancos constituirão a maioria da população em 2042.
Idiomas.
O inglês é a língua nacional "de facto". Embora não haja nenhuma língua oficial em nível federal, algumas leis, como os requisitos para naturalização, padronizam o inglês. Em 2006, cerca de 224 milhões de pessoas, ou 80% da população com idades entre cinco anos ou mais, falava apenas inglês em casa. O espanhol, falado em casa por 12% da população, é o segundo idioma mais comum e a segunda língua estrangeira mais ensinada. Alguns americanos defendem o inglês como a língua oficial do país, como é em, pelo menos, vinte e oito estados do país. Tanto o havaiano quanto o inglês são as línguas oficiais no Havaí por lei estadual.
Enquanto não tenha uma língua oficial, o Novo México tem leis que preveem a utilização dos idiomas inglês e espanhol, a Louisiana tem leis para o inglês e o francês. Outros estados, como a Califórnia, obrigam a publicação de versões em espanhol de alguns documentos do governo, incluindo de tribunais. Vários territórios insulares concedem o reconhecimento oficial para suas línguas nativas, juntamente com o inglês: samoano e chamorro são reconhecidas pela Samoa Americana e Guam, respectivamente; caroliniano e o chamorro são reconhecidos pelas Ilhas Marianas do Norte, assim como o espanhol é uma língua oficial de Porto Rico.
Religião.
Os Estados Unidos são oficialmente uma nação secular; a Primeira Emenda da Constituição do país garante o livre exercício da religião e proíbe a criação de um governo religioso.
Em um estudo de 2002, 59% dos americanos disseram que a religião teve um papel "muito importante em suas vidas", um número muito maior do que qualquer outra nação desenvolvida. O nível de religiosidade do povo varia bastante regionalmente: segundo pesquisa de 2009, 63% dos habitantes do Mississippi frequentavam a igreja semanalmente, ao passo que em Vermont esse número cai para 23%.
O perfil religioso dos Estados Unidos vem mudando consideravelmente nos últimos anos. De acordo com uma pesquisa de 2017, 73% dos adultos se identificaram como cristãos, sendo que em 2007 esse número era de 78,4% e em 1990, de 86,4%. Na década de 2010, os protestantes deixaram de ser maioria pela primeira vez na história, constituindo 48,5% dos americanos.
O grupo que mais cresce nos Estados Unidos são as pessoas sem religião (21,3%), número parecido com o de católicos romanos (22,7%). Em 2007, o estudo classifica os protestantes brancos, 26,3% da população, como o maior grupo religioso do país; outro estudo estima protestantes de todas as raças em 30–35%.
O total de religiões não cristãs em 2007 foi de 4,7%, acima dos 3,3% em 1990. Os maiores credos não cristãos foram o judaísmo (1,7%), budismo (0,7%), islamismo (0,6%), hinduísmo (0,4%) e o Unitário-Universalismo (0,3%). 8,2% da população em 1990, contra 16,1% em 2007 e 21,3% em 2017, descreveu-se como agnóstico, ateu, ou simplesmente sem-religião.
Urbanização.
Cerca de 82% dos americanos vivem em áreas urbanas; cerca de metade são residentes de cidades com populações superiores a . Em 2008, 273 cidades tinham populações superiores a habitantes, nove cidades tinham mais de um milhão de habitantes e quatro cidades globais tinham mais de 2 milhões de habitantes (Nova Iorque, Los Angeles, Chicago e Houston).
Política.
Governo.
Os Estados Unidos são a federação ainda existente mais antiga do mundo. O país é uma república constitucional e uma democracia representativa, "em que a regra da maioria é temperada por direitos das minorias protegidos por lei". O governo é regulado por um sistema de separação de poderes definido pela Constituição, que serve como documento legal supremo do país. No sistema federalista estado-unidense, os cidadãos são geralmente sujeitos a três níveis de governo: federal, estadual e local; funções de governo local são geralmente divididas entre os condados e os governos municipais. Em quase todos os casos, funcionários do executivo e do legislativo são eleitos pelo voto da maioria dos cidadãos do distrito. Não há representação proporcional no nível federal e isso é muito raro em níveis inferiores.
O governo federal é composto de três ramos:
A Câmara dos Representantes tem 435 membros votantes, cada um representando um distrito do Congresso para um mandato de dois anos. Cadeiras na Câmara são distribuídas entre os estados pela população a cada dez anos. De acordo com o censo de 2000, sete estados têm um mínimo de um representante, enquanto a Califórnia, o estado mais populoso, tem cinquenta e três. O Senado tem 100 membros com cada estado tendo dois senadores, eleitos para mandatos de seis anos, um terço das cadeiras do Senado estão acima para a eleição a cada ano.
O presidente não é eleito pelo voto direto, mas por um sistema de colégio eleitoral indireto em que os votos são distribuídos de forma determinada por estado, para um mandato de quatro anos, podendo ser reeleito uma vez, consecutiva ou não. Cada estado recebe uma determinada quantidade de votos de acordo com o número de congressistas dentro do poder legislativo: senadores (dois por cada estado) e representantes (que variam de acordo com a população de cada estado); dando um total de 538 membros. O sistema bipartidarista permite que um dos candidatos à presidência, seja do Partido Republicano ou do Democrata, precise de apenas duzentos e setenta votos para assegurar a vitória. A Suprema Corte, liderada pelo Chefe de Justiça dos Estados Unidos, tem nove membros.
Os governos estaduais estão estruturados de forma mais ou menos semelhante. O estado de Nebraska, excepcionalmente, tem uma legislatura unicameral. O governador (chefe executivo) de cada estado é eleito por sufrágio direto. Alguns juízes estaduais e agentes do gabinete são nomeados pelos governadores dos respectivos estados, enquanto outros são eleitos pelo voto popular.
Todas as leis e procedimentos governamentais são passíveis de recurso judicial e a que foi julgada em desacordo com a Constituição é anulada. O texto original da Constituição estabelece a estrutura e as responsabilidades do governo federal e sua relação com os estados. O artigo primeiro protege o direito ao "grande decreto" do "habeas corpus" e o Artigo Terceiro garante o direito a um julgamento com júri em todos os casos criminais. Emendas à Constituição exigem a aprovação de três quartos dos estados. A Constituição foi alterada vinte e sete vezes; as dez primeiras emendas, que constituem a Carta dos Direitos, e a décima quarta emenda formam a base central dos direitos individuais dos americanos.
Forças armadas.
O presidente detém o título de comandante-em-chefe das forças armadas do país e nomeia seus dirigentes, o secretário de defesa e o Chefe do Estado-Maior Conjunto. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos administra as forças armadas, incluindo o Exército, Marinha, Corpo de Fuzileiros Navais e da Força Aérea. A Guarda Costeira é executada pelo Departamento de Segurança Interna em tempos de paz e pelo Departamento da Marinha em tempos de guerra. Em 2008, as forças armadas tinham 1,4 milhões de pessoas na ativa. As Reservas da Guarda Nacional elevam o número total de tropas para 2,3 milhões. O Departamento de Defesa também empregou cerca de civis, não incluindo empreiteiros.
O serviço militar é voluntário, embora a conscrição possa ocorrer em tempos de guerra através do chamado Sistema de Serviço Seletivo. As forças estado-unidenses podem ser rapidamente implantadas pela grande frota de aviões de transporte da Força Aérea, onze porta-aviões ativos da Marinha e "Marine Expeditionary Unit" no mar com frotas da Marinha no Atlântico e no Pacífico. O país mantém 865 bases e instalações militares ao redor do mundo, com pessoal destacado para mais de 150 países.
A extensão da presença militar global tem levado alguns estudiosos a descrever os Estados Unidos como a manutenção de um "império de bases".
O total de gastos militares dos Estados Unidos em 2008 foi de mais de 600 bilhões de dólares, superior a 41% da despesa militar mundial e maior do que todos os próximos quatorze maiores gastos militares nacionais somados. O gasto per capita de 1 967 dólares foi cerca de nove vezes superior à média mundial; com 4% do PIB, a taxa foi a segunda mais alta entre os quinze maiores gastadores militares, depois da Arábia Saudita.
A base proposta pelo Departamento de Defesa para o orçamento de 2010, 533,8 bilhões de dólares, foi um aumento de 4% em relação a 2009 e 80% maior que em 2001, um adicional de 130 bilhões de dólares foi proposto para as campanhas militares no Iraque e no Afeganistão. Em setembro de 2009, havia cerca de 130 mil soldados americanos enviados ao Iraque e 62 mil mobilizados para o Afeganistão. Até 9 de outubro de 2009, os Estados Unidos haviam sofrido com militares mortos durante a Guerra do Iraque e 869 durante a Guerra no Afeganistão. Entre os anos de 1890 e 2012, o país invadiu ou bombardeou outras 149 nações ao redor do planeta.
Relações internacionais.
Os Estados Unidos exercem uma forte influência econômica, política e militar em todo o mundo. O país é um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e Nova Iorque hospeda a sede das Nações Unidas. Quase todos os países têm embaixadas em Washington, D.C. e muitos consulados em todo o país. Da mesma forma, quase todas as nações acolhem missões diplomáticas americanas. No mundo, apenas Butão, Coreia do Norte e Irã não têm relações diplomáticas com os Estados Unidos.
Os Estados Unidos mantêm laços fortes com o Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Coreia do Sul e Israel. Trabalha em estreita colaboração com outros membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobre questões militares e de segurança e com seus vizinhos por meio da Organização dos Estados Americanos (OEA) e tem acordos de livre comércio trilateral, como o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio com o Canadá e o México. Em 2008, os Estados Unidos gastaram 25,4 bilhões de dólares líquidos em assistência oficial ao desenvolvimento em grande parte do mundo. Em percentagem do produto nacional bruto (PNB), no entanto, a contribuição americana de 0,18% ficou em último lugar entre os vinte e dois Estados doadores. Em contraste, as doações particulares ao exterior dos americanos são relativamente generosas, particularmente com Israel.
Crime e aplicação da lei.
A aplicação da lei nos Estados Unidos é sobretudo da responsabilidade da polícia local e dos departamentos de xerifes, com polícias estaduais que prestam serviços mais amplos. As agências federais, como o Escritório Federal de Investigação (FBI) e os "U.S. Marshals Service", têm funções especializadas. No nível federal e em quase todos os estados, a jurisprudência opera em um sistema de "common law". Tribunais estaduais julgam a maioria dos crimes; tribunais federais julgam certos crimes designados, bem como apelos de alguns sistemas estaduais.
Entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos têm níveis acima da média de crimes violentos e níveis particularmente altos de violência armada e de homicídio. Em 2007, havia 5,6 homicídios por 100 mil pessoas, três vezes a taxa do vizinho Canadá. A taxa de homicídios do país, que diminuiu 42% entre 1991 e 1999, permaneceu aproximadamente constante desde então. O direito de civis possuírem armas é objeto de um controverso debate político.
Os Estados Unidos têm a maior taxa registrada de encarceramento e a maior população carcerária total do mundo. No início de 2008, mais de 2,3 milhões de pessoas foram presas, mais de um em cada 100 adultos. A taxa é de cerca de sete vezes o valor de 1980. As prisões de afro-americanos são em cerca de seis vezes maior que a taxa de prisão de homens brancos e três vezes a taxa de homens latinos. Em 2015, o país concentrava 5% da população mundial, mas 25% da população carcerária do planeta. E 60% dos presidiários eram de origem hispânica e africana.
Em 2006, a taxa de encarceramento americano foi mais de três vezes o valor da taxa da Polônia, país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com a segunda taxa mais alta. A elevada taxa de encarceramento do país deve-se, em grande parte, à condenação e às políticas de drogas.
Embora tenha sido abolida na maioria das nações ocidentais, a pena capital é sancionada nos Estados Unidos para certos crimes federais e militares, e em trinta e seis estados. Desde 1976, quando a Suprema Corte dos Estados Unidos restabeleceu a pena de morte depois de uma moratória de quatro anos, houve mais de mil execuções. Em 2006, o país teve o sexto maior número de execuções no mundo, na sequência de China, Irã, Paquistão, Iraque e Sudão. Em 2007, Nova Jérsei se tornou o primeiro estado a abolir legislativamente a pena de morte desde a decisão de 1976 da Suprema Corte, seguida do Novo México em 2009.
Subdivisões.
Os Estados Unidos são uma união federal de cinquenta estados. Os originais treze estados foram os sucessores das treze colônias que se rebelaram contra o domínio britânico. No início da história do país, três novos estados foram organizados em território separados das reivindicações dos estados existentes: Kentucky da Virgínia; Tennessee da Carolina do Norte e Maine de Massachusetts. A maioria dos outros estados foi esculpida a partir de territórios obtidos através de guerras ou por aquisições do governo americano. Um conjunto de exceções compreende Vermont, Texas e Havaí: cada um era uma república independente antes de ingressar na união. Durante a Guerra Civil Americana, a Virgínia Ocidental se separou da Virgínia. O Havaí, o mais recente estado do país, foi anexado em 1898 e foi elevado à categoria de estado em 21 de agosto de 1959. Os estados não têm o direito de se separar da união.
Os estados compõem a maior parte da massa terrestre americana, as duas outras áreas consideradas partes integrantes do país são o Distrito de Colúmbia, o distrito federal, onde a capital, Washington, está localizada, e o Atol Palmyra, um território integrado, mas desabitado no Oceano Pacífico. Os Estados Unidos também possuem cinco grandes territórios ultramarinos: Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas, no Caribe, e Samoa Americana, Guam e as Ilhas Marianas do Norte, no Pacífico. As pessoas nascidas nos territórios (exceto na Samoa Americana) possuem cidadania americana. Cidadãos americanos residentes nos territórios têm muitos dos mesmos direitos e responsabilidades dos cidadãos residentes nos estados, no entanto, eles geralmente são isentos do imposto de renda federal, não podem votar para presidente e têm apenas uma representação sem direito a voto no Congresso.
Economia.
Os Estados Unidos têm uma economia mista capitalista, que é abastecida por recursos naturais abundantes, uma infraestrutura bem desenvolvida e pela alta produtividade. Entre as décadas de 1830 e 1860, período conhecido com "free banking era", o país permitia a emissão de moeda privada e possuía um sistema bancário livre de regulamentações. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, o PIB dos Estados Unidos de 14,4 trilhões de dólares representa 24% do produto interno bruto mundial no mercado de câmbio e quase 21% do produto interno bruto mundial em paridade do poder de compra (PPC). O maior PIB nacional do mundo era cerca de 5% menor do que o PIB combinado da União Europeia em PPC, em 2008. O país ocupa a décima sétima posição no mundo em termos de PIB nominal per capita e a sexta posição em PIB per capita PPC.
Os Estados Unidos são o maior importador e terceiro maior exportador de bens, embora as exportações per capita sejam relativamente baixas. Em 2008, o déficit comercial total do país foi de 696 bilhões de dólares. Canadá, China, México, Japão e Alemanha são os seus principais parceiros comerciais. A China é o maior detentor da dívida externa pública dos EUA. Depois de uma expansão que durou pouco mais de seis anos, a economia americana entrou em recessão desde dezembro de 2007, recuperando-se em 2010. Os Estados Unidos ocupam o segundo lugar no "Global Competitiveness Report".
Em 2009, estimou-se que o setor privado constituía 55,3% da economia do país; a atividade do governo federal, 24,1%; e as atividades dos estados e de administrações locais (incluindo as transferências federais), os restantes 20,6%. A economia é pós-industrial, com o setor de serviços contribuindo com 67,8% do PIB, embora os Estados Unidos continuem a ser uma potência industrial.
Os Estados Unidos são o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, bem como o seu maior importador. É o maior produtor do mundo de energia elétrica e nuclear, assim como de gás natural liquefeito, enxofre, fosfatos e sal. Enquanto a agricultura representa menos de 1% do PIB, os Estados Unidos são o maior produtor mundial de milho e soja. A Bolsa de Valores de Nova Iorque é a maior do mundo em volume de dólares. Coca-Cola e McDonald's são as duas marcas do país mais reconhecidas no mundo.
No terceiro bimestre de 2009, a força de trabalho do país era composta por 154,4 milhões de pessoas. Desses trabalhadores, 81% tinham emprego no setor de serviços. Com 22,4 milhões de pessoas, o governo é o principal campo de trabalho. Cerca de 12% dos trabalhadores são sindicalizados, contra 30% na Europa Ocidental. O Banco Mundial classifica os Estados Unidos em primeiro lugar na facilidade de contratação e demissão trabalhadores. Entre 1973 e 2003, um ano de trabalho para o norte-americano médio cresceu 199 horas.
Em parte como resultado disto, os Estados Unidos mantêm a maior produtividade do trabalho no mundo. Em 2008, ele também levou a produtividade por hora do mundo, ultrapassando a Noruega, França, Bélgica e Luxemburgo, que havia superado os Estados Unidos durante a maior parte da década anterior. Em relação à Europa, a propriedade e as taxas de imposto de renda americanas são geralmente mais elevadas, enquanto trabalho e, particularmente, as taxas de imposto sobre o consumo são menores.
Infraestrutura.
Ciência e tecnologia.
Os Estados Unidos têm sido um líder em pesquisa científica e em inovação tecnológica desde o . Em 1876, Alexander Graham Bell registou a primeira patente americana para o telefone. O laboratório de Thomas Edison desenvolveu o primeiro fonógrafo, a primeira lâmpada incandescente, a primeira câmera de vídeo viável. Nikola Tesla foi o pioneiro da corrente alternada, do motor AC e do rádio. No início do , as empresas de automóveis de Ransom E. Olds e Henry Ford promoveram a linha de montagem. Os irmãos Wright, em 1903, fizeram o primeiro objeto sustentado e controlado mais pesado que o ar voar.
A ascensão do nazismo na década de 1930 levou muitos cientistas europeus, incluindo Albert Einstein e Enrico Fermi, a imigrar para os Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Projeto Manhattan desenvolveu armas nucleares, dando início à Era Atômica. A Corrida Espacial produziu rápidos avanços no desenvolvimento de foguetes, da ciência dos materiais e de computadores. Os Estados Unidos também tiveram grande contribuição no desenvolvimento da ARPANET e de sua sucessora, a Internet. Hoje, a maior parte do financiamento para pesquisa e desenvolvimento, 64%, vem do setor privado. Os Estados Unidos lideram no mundo em trabalhos de pesquisa científica e fator de impacto. Os americanos possuem níveis de consumo tecnologicamente avançados, e quase metade dos lares têm acesso à banda larga. O país é o principal desenvolvedor e produtor de alimentos geneticamente modificados. Mais da metade das terras cultivadas com culturas transgênicas do mundo está nos Estados Unidos.
Educação.
A educação pública americana é operada por governos estaduais e municipais, sendo regulada pelos Departamento de Educação dos Estados Unidos através de restrições sobre as subvenções federais. Crianças são obrigadas na maioria dos estados a frequentar a escola desde os seis ou sete anos (em geral, pré-escola ou primeira série) até os dezoito (geralmente até o décimo segundo grau, ao final do ensino médio); alguns estados permitem que os estudantes deixem a escola aos dezesseis ou dezessete anos. Cerca de 12% das crianças estão matriculadas em escolas paroquiais ou escolas privadas não sectárias. Pouco mais de 2% das crianças fazem ensino doméstico.
Os Estados Unidos têm muitas instituições públicas e privadas de ensino superior competitivas, bem como faculdades de comunidades locais com políticas abertas de admissão. Dos americanos com 25 anos ou mais, 84,6% concluíram o ensino superior, 52,6% frequentavam alguma faculdade, 27,2% recebiam um diploma de bacharel e 9,6% frequentavam uma pós-graduação. A taxa de alfabetização é de cerca de 99% da população. A Organização das Nações Unidas atribui aos Estados Unidos um índice de educação de 0,97, classificando-o na 12ª posição no mundo.
De acordo com a Unesco, os Estados Unidos são o segundo país com o maior número de instituições de educação superior no mundo, com um total de , com um ponto médio de quinze por cada estado. O país conta com o maior número de estudantes universitários do mundo, ascendendo a , correspondente a 4,5% da população total. Lá encontram-se algumas das universidades mais prestigiosas e de maior fama no mundo. Harvard, Berkeley, Stanford e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts são consideradas como as melhores universidades por muitas de suas publicações.
Transportes.
Sendo um país desenvolvido, os Estados Unidos contam com uma avançada infraestrutura de transportes: quilômetros de autoestradas, quilômetros de vias férreas e quilômetros de vias fluviais. A maior parte dos seus habitantes utiliza o automóvel como o principal meio de transporte. Em 2003, havia 759 automóveis para cada americanos, em comparação com os 472 automóveis para cada habitantes da União Europeia no ano seguinte. Cerca de 40% dos veículos pessoais são vans, utilitários esportivos ou caminhões leves. O americano adulto médio (contabilização de todos os que dirigem e não dirigem) gasta 55 minutos dirigindo por dia, viajando 47 km.
A indústria da aviação civil é totalmente privada, enquanto a maioria dos grandes aeroportos são de propriedade pública. As quatro maiores companhias aéreas do mundo em passageiros transportados são americanos; "Southwest Airlines" é a número um. Dos trinta aeroportos mais movimentados por passageiros do mundo, dezesseis estão nos Estados Unidos, sendo o mais movimentado deles o Aeroporto Internacional de Atlanta Hartsfield-Jackson, o maior do mundo. Enquanto o transporte ferroviário de mercadorias é extenso, relativamente poucas pessoas usam transporte ferroviário em viagens, dentro ou entre as cidades. O transporte de massa contabiliza 9% do total de viagens de trabalho dos Estados Unidos, comparado aos 38,8% na Europa. O uso de bicicletas é mínimo, bem abaixo dos níveis europeus.
Energia.
O consumo energético total do país é de 3,873 bilhões lWh anuais, equivalente a um consumo per capita de 7,8 toneladas de petróleo ao ano. Em 2005, 40% da energia provinha do petróleo, 23% do carvão e 22% de gás natural; o resto provinha de centrais nucleares e de fontes de energia renovável. Os Estados Unidos são o maior consumidor de petróleo e gás natural: anualmente são utilizados 19,15 milhões de barris de petróleo/dia e 683,3 mil milhões de metros cúbicos/dia de gás natural (2010). Por outro lado, no país são encontradas 27% das reservas mundiais de carvão. Durante décadas, a energia nuclear teve um papel julgado na produção de energia, em comparação à maioria dos países desenvolvidos, devido em parte à reação após o acidente de Three Mile Island. Em 2007, o governo recebeu múltiplas petições para a construção de novas centrais nucleares, o que poderia significar uma diminuição considerável no consumo de combustíveis fósseis e mudanças na política energética.
Em 2021, os Estados Unidos tinham, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica (3º maior do mundo), em energia eólica (2º maior do mundo), em energia solar (2º maior do mundo), e em biomassa, além de em energia geotérmica (maior do mundo).
Saúde.
A expectativa de vida dos Estados Unidos é de 77,8 anos ao nascer, um ano menor do que o valor global da Europa Ocidental. Ao longo das últimas duas décadas, a classificação do país em expectativa de vida caiu de 11ª posição para a 42ª no mundo. Aproximadamente um terço da população adulta do país é obesa e um terço adicional tem excesso de peso; a obesidade relacionada com o diabetes tipo 2 é considerada uma epidemia.
A taxa de mortalidade infantil é de 6,37 por mil, colocando o país também na 42ª posição entre 221 países, atrás de toda a Europa Ocidental. A taxa de gravidez na adolescência no país é de 53 por mulheres. Apesar de a taxa de aborto estar caindo, elas permanecem superiores aos da maioria das nações ocidentais.
Os Estados Unidos são sede dos melhores hospitais do mundo. Grande parte das instalações médicas são de propriedade privada que contam com alguns subsídios do governo local. Apesar de serem associações sem fins lucrativos, muitos dos hospitais mais importantes estão afiliados a grandes corporações ou faculdades de medicina, que têm feito o possível para albergarem 70% de todos os pacientes médicos do país. O sistema de saúde americano gasta muito mais que qualquer sistema de saúde de outra nação, seja em gastos "per capita" ou em percentagem do PIB. A Organização Mundial de Saúde classificou o sistema de saúde americano, em 2000, como o primeiro em capacidade de resposta, mas o 37º em desempenho global. Os Estados Unidos são um líder em inovação médica.
No entanto, ao contrário de todos os outros países desenvolvidos, os Estados Unidos são o único país do mundo ocidental que não tem um sistema de saúde pública universal e seus indicadores de saúde serem considerados os piores entre os países mais industrializados. A questão de americanos não segurados é uma importante questão política. Um estudo de 2009 estimou que a falta de seguro está associada com cerca de mortes por ano. Uma legislação federal aprovada no início de 2010 determinou a criação de um sistema de seguro de saúde quase universal no país.
Cultura.
Os Estados Unidos são uma nação multicultural, lar de uma grande variedade de grupos étnicos, tradições e valores. Além das já pequenas populações nativas americanas e nativas do Havaí, quase todos os americanos ou os seus antepassados emigraram nos últimos cinco séculos. A cultura em comum pela maioria dos americanos é a cultura ocidental em grande parte derivada das tradições de imigrantes europeus, com influências de muitas outras fontes, tais como as tradições trazidas pelos escravos da África. A imigração mais recente da Ásia e especialmente da América Latina adicionou uma mistura cultural que tem sido descrita tanto como homogeneizada quanto heterogênea, já que os imigrantes e seus descendentes mantêm especificidades culturais.
De acordo com a análise de dimensões culturais de Geert Hofstede, os Estados Unidos têm maior pontuação de individualismo do que qualquer país estudado. Apesar da cultura dominante de que os Estados Unidos sejam uma sociedade sem classes, estudiosos identificam diferenças significativas entre as classes sociais do país, que afetam a socialização, linguagem e valores. A classe média e profissional americana iniciou muitas tendências sociais contemporâneas como o feminismo moderno, o ambientalismo e o multiculturalismo. A autoimagem dos americanos, dos pontos de vista social e de expectativas culturais, é relacionada com as suas profissões em um grau de proximidade incomum. Embora os americanos tendam a valorizar muito a realização socioeconômica, ser parte da classe média ou normal é geralmente visto como um atributo positivo. Embora o sonho americano, ou a percepção de que os americanos gozam de uma elevada mobilidade social, desempenhe um papel fundamental na atração de imigrantes, alguns analistas acreditam que os Estados Unidos têm menos mobilidade social que a Europa Ocidental e o Canadá.
As mulheres na sua maioria trabalham fora de casa e recebem a maioria dos diplomas de bacharel. Em 2007, 58% dos americanos com dezoito anos ou mais eram casados, 6% eram viúvos, 10% eram divorciados e 25% nunca haviam sido casados. O casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido em todos os estados desde 26 de junho de 2015, quando, ao final do caso "Obergefell v. Hodges", decidiu-se que era inconstitucional a proibição da união homoafetiva.
Culinária.
As principais artes culinárias americanas são semelhantes às de outros países ocidentais. O trigo é o principal cereal. A cozinha tradicional americana utiliza ingredientes como peru, veado, carne de cervo de rabo branco, batata, batata doce, milho, abóbora e xarope de bordo, alimentos utilizados pelos povos nativos americanos e pelos colonizadores europeus. Carne de porco lentamente cozida e churrasco de carne, "crabcakes", batata frita e "cookies" de chocolate são pratos distintamente americanos. A "soul food", desenvolvida por escravos africanos, é popular em todo o Sul e entre muitos afro-americanos em todo o país. O sincretismo, como o presente nas culinárias crioula da Louisiana, Cajun e Tex-Mex, é regionalmente importante.
Pratos característicos como a torta de maçã, frango frito, pizza, hambúrgueres e cachorros-quentes decorrem das receitas de diversos imigrantes. Batatas fritas, pratos mexicanos como tacos e burritos e pratos de massas livremente adotados a partir de fontes italianas são amplamente consumidos. Americanos geralmente preferem café a chá. O "marketing" feito por indústrias do país é largamente responsável pela onipresença de suco de laranja e leite no café da manhã. Durante os anos 1980 e 1990, a ingestão calórica dos americanos aumentou 24%; as frequentes refeições de "fast-food" estão associadas com o que as autoridades de saúde chamam a "epidemia de obesidade" nos Estados Unidos. Refrigerantes adoçados são amplamente populares; bebidas adoçadas são responsáveis por 9% da ingestão calórica do americano médio.
Mídia.
A primeira exposição comercial de filme do mundo foi feita em Nova Iorque em 1894, usando o cinetoscópio de Thomas Edison. No ano seguinte foi feita a primeira exibição comercial de um filme projetado, também em Nova Iorque, e os Estados Unidos estavam na vanguarda do desenvolvimento do cinema sonoro nas décadas seguintes. Desde o início do , a indústria cinematográfica americana tem sido largamente sediada nos arredores de Hollywood, na Califórnia. O diretor D. W. Griffith foi central para o desenvolvimento da gramática cinematográfica, e o filme "Cidadão Kane" (1941) de Orson Welles é frequentemente citado como o melhor filme de todos os tempos. Atores cinematográficos americanos como John Wayne e Marilyn Monroe se tornaram figuras icónicas, enquanto o produtor/empresário Walt Disney foi um líder em filmes animados e de "merchandising". Os grandes estúdios cinematográficos de Hollywood têm produzido os filmes de maior sucesso comercial da história, como "Star Wars" (1977) e "Titanic" (1997), e os produtos de Hollywood hoje dominam a indústria cinematográfica mundial.
Os americanos são os maiores espectadores de televisão do mundo, e o tempo médio de visualização continua a aumentar, chegando a cinco horas por dia em 2006. As quatro grandes redes de televisão do país são todas entidades comerciais. Americanos ouvem programas de rádio, também largamente comercializado, em média, pouco mais de duas horas e meia por dia. Além de portais e motores de busca, os sites mais populares no país são o Facebook, YouTube, Wikipédia, Blogger, eBay, Google e Craigslist.
Os estilos rítmicos e vocais da música negra americano influenciaram profundamente a música americana em geral, distinguindo-a das tradições europeias. Elementos da música folclórica, como o "blues" e o que é agora conhecido como "old-time music", foram aprovadas e transformadas em gêneros populares com público global. O "jazz" foi desenvolvido por artistas inovadores, tais como Louis Armstrong e Duke Ellington no início do . A música country foi desenvolvida na década de 1920, e o "rhythm and blues" na década de 1940. Elvis Presley e Chuck Berry foram um dos pioneiros do "rock and roll" em meados dos anos 1950. Em 1960, Bob Dylan surgiu a partir do "american folk music revival" para se tornar um dos compositores mais célebres do país e James Brown liderou o desenvolvimento do "funk". Mais recentes criações musicais americanas incluem o "rap" e a "house music". Astros "pop" americanos como Elvis Presley, Michael Jackson, Madonna e Mariah Carey, tornaram-se celebridades globais.
Literatura, filosofia e artes.
No e início do , a arte e a literatura americana tinham a maioria das suas influências da Europa. Escritores como Nathaniel Hawthorne, Edgar Allan Poe e Henry David Thoreau estabeleceram uma voz literária americana distinta em meados do . Mark Twain e o poeta Walt Whitman foram figuras importantes na segunda metade do século; Emily Dickinson, praticamente desconhecida durante sua vida, é agora reconhecida como uma poetisa americana fundamental. Algumas obras são consideradas sínteses dos aspectos fundamentais da experiência nacionais e caráter, como "Moby Dick" (1851) de Herman Melville, "As Aventuras de Huckleberry Finn" (1885) de Mark Twain e "The Great Gatsby" (1925) de F. Scott Fitzgerald, obra apelidada de "Great American Novel".
Doze cidadãos americanos ganharam o Prêmio Nobel de Literatura, os mais recentes deles Toni Morrison, em 1993, e Bob Dylan, em 2016. Ernest Hemingway, Prêmio Nobel de 1954, é muitas vezes apontado como um dos escritores mais influentes do . Gêneros literários populares, como a ficção ocidental e a "Hard Boiled" foram desenvolvidas nos Estados Unidos. Os escritores da Geração Beat abriram novas abordagens literárias, assim como os autores pós-modernos, tais como John Barth, Thomas Pynchon e Don DeLillo.
Os transcendentalistas, liderados por Thoreau e Ralph Waldo Emerson, estabeleceram o primeiro grande movimento filosófico americano. Após a Guerra Civil, Charles Sanders Peirce e William James e John Dewey foram os líderes no desenvolvimento do pragmatismo. No , o trabalho de W. V. O. Quine e Richard Rorty, construído em cima de Noam Chomsky, trouxe a filosofia analítica à frente dos acadêmicos americanos. John Rawls e Robert Nozick levaram o renascimento da filosofia política.
Nas artes visuais, a Escola do Rio Hudson foi um movimento de meados do , na tradição do naturalismo europeu. O "Armory Show" de 1913, em Nova Iorque, uma exposição de arte moderna europeia, chocou o público e transformou a cena artística americana. Georgia O'Keeffe, Marsden Hartley e outras experiências com novos estilos, exibindo uma sensibilidade muito individualista. Importantes movimentos artísticos como o expressionismo abstrato de Jackson Pollock e Willem de Kooning e da arte pop de Andy Warhol e Roy Lichtenstein foram desenvolvidos em grande parte nos Estados Unidos. A maré do modernismo e pós-modernismo trouxe fama para arquitetos estadunidenses, como Frank Lloyd Wright, Philip Johnson e Frank Gehry.
Um dos primeiros promotores principais do teatro americano foi o empresário P. T. Barnum, que começou um complexo de entretenimento em Manhattan em 1841. A equipe de Harrigan e Hart produziu uma série de comédias musicais populares em Nova Iorque no final dos anos 1870. No , a forma moderna de musicais surgiu na Broadway, as canções de compositores de teatro musical, como Irving Berlin, Cole Porter e Stephen Sondheim, tornaram-se padrões pop. O dramaturgo Eugene O'Neill ganhou o Prêmio Nobel de literatura em 1936. Outros dramaturgos americanos aclamados incluem vários vencedores do Prêmio Pulitzer como Tennessee Williams, Edward Albee e August Wilson.
Apesar de largamente ignorado na época, o trabalho de Charles Ives na década de 1910 estabeleceu-o como o primeiro grande compositor americano na tradição clássica; outros experimentalistas, tais como Henry Cowell e John Cage, criaram uma abordagem americana de composição clássica. Aaron Copland e George Gershwin desenvolveram uma síntese única de música popular e clássica. As coreógrafas Isadora Duncan e Martha Graham ajudaram a criar a dança moderna, enquanto George Balanchine e Jerome Robbins eram líderes no balé do . Os americanos têm sido importantes no meio artístico da fotografia moderna, com grandes fotógrafos, incluindo Alfred Stieglitz, Edward Steichen e Ansel Adams. As tirinhas de jornais e os "comics" são inovações americanas. Superman, o super-herói dos quadrinhos por excelência, tornou-se um ícone americano.
Esportes.
Desde finais do , o beisebol é considerado como o esporte nacional, enquanto o futebol americano, o hóquei no gelo e o basquete são outros três grandes esportes de equipe profissionais. As ligas universitárias também atraem grandes audiências. O futebol americano é o esporte mais popular no país.
O boxe e a corrida de cavalo foram uma vez os esportes individuais mais vistos, mas foram substituídos pelo golfe e o automobilismo. O futebol vem crescendo de popularidade desde a criação da MLS.
A maioria dos esportes mais importantes do país evoluíram de práticas europeias, como o basquete, o voleibol, a animação e o snowboarding são esportes criados dentro do território nacional. O lacrosse e o surfe surgiram de povos ameríndios e nativos do Havaí. O Comitê Olímpico dos Estados Unidos organizou, em 1904, os Jogos Olímpicos de Verão, em St. Louis, Missouri; os Jogos de Los Angeles em 1932 e 1984 e mais recentemente os Jogos de Atlanta em 1996.
Em 2004, os Estados Unidos conseguiram um total de 103 medalhas, das quais 35 eram de ouro. O país conquistou, ao total, 2 301 medalhas em Jogos Olímpicos de Verão, onde é o país que mais venceu, e 216 nos Jogos Olímpicos de Inverno, onde é o segundo país no ranking total, atrás apenas da Noruega.
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791 | Exposição Mundial de 1998 | Exposição Mundial de 1998
A EXPO'98, Exposição Mundial de 1998, ou, oficialmente, Exposição Internacional de Lisboa de 1998, cujo tema foi "Os oceanos: um património para o futuro", realizou-se em Lisboa, Portugal de 22 de maio a 30 de setembro de 1998. Teve o propósito de comemorar os 500 anos dos Descobrimentos Portugueses.
A zona escolhida para albergar o recinto foi o limite oriental da cidade junto ao rio Tejo. Foram construídos diversos pavilhões, alguns dos quais ainda permanecem ao serviço dos habitantes e visitantes, integrados no agora designado "Parque das Nações", destacando-se o Oceanário (o maior aquário do Mundo com a reprodução de 5 oceanos distintos e numerosas espécies de mamíferos e peixes, do arquiteto Peter Chermayeff) um pavilhão de múltiplas utilizações (o Pavilhão Atlântico, do arquiteto Regino Cruz, posteriormente renomeado para Altice Arena) e um complexo de transportes com metropolitano e ligações ferroviárias (Estação do Oriente, do arquiteto Santiago Calatrava).
A EXPO'98 atraiu cerca de 11 milhões de visitantes, apesar das previsões iniciais apontarem para cerca de 15 milhões, o que veio a justificar algumas opções de gestão de carácter duvidoso, e, acima de tudo, ruinosas para a empresa e seus acionistas. Parte do seu sucesso ficou a dever-se à vitalidade cultural que demonstrou - por exemplo, os seus cerca de 5000 eventos musicais constituíram um dos maiores festivais musicais da história da humanidade. Arquitetonicamente, a Expo revolucionou esta parte da cidade e influenciou as estratégias de requalificação urbana do panorama português - pode dizer-se que o Parque das Nações é um exemplo de requalificação bem-sucedida dum espaço urbano.
A utilização pioneira de ferramentas de design para grandes projetos de arquitetura, engenharia e construção transformou a EXPO'98 num caso de estudo internacional na área do desenho assistido por computador (CAD). O exemplo pegou e outras obras seguiram também a mesma metodologia desta experiência transformada já em «case study».
O pioneirismo da EXPO foi, aliás, ressaltado por um trabalho de reportagem intitulado 'A Tale of Two Cities' publicado na edição de Junho de 1999, da Computer Graphics World (volume 22, n.º 6), a revista de referência internacional do sector.
Antes da exposição.
A ideia de organizar uma Exposição Internacional em Portugal surgiu em 1989 da parte de António Mega Ferreira e Vasco Graça Moura. Ambos estavam à frente da comissão para as comemorações dos 500 anos dos Descobrimentos portugueses liderada Por Francisco Faria Paulino, director do Pavilhão de Portugal na Exposição de Sevilha.
Uma vez obtido o apoio do Governo, Mega Ferreira apresentou o projecto ao Bureau International d'Expositions. A candidatura de Lisboa ganhou à de Toronto. Criou-se uma empresa, ParqueExpo' 98, com vista a criar um evento auto-sustentável que obtivesse receitas de bilhetes vendidos e pela venda de terrenos adjacentes à exposição.
O primeiro comissário da EXPO'98 foi António Cardoso e Cunha. Foi substituído em 1997 por José de Melo Torres Campos, já sob o governo do Partido Socialista.
Construção.
Decidiu-se construir a exposição na zona oriental de Lisboa, que vira através dos anos uma degradação crescente. A antiga Doca dos Olivais fora nos anos 40 um contacto privilegiado com o rio onde atracavam hidroaviões, tendo sido denominada de Aeroporto de Cabo Ruivo. Quando os aviões a jacto de longo curso tornaram os hidroaviões obsoletos, a zona passou a ser um terreno industrial que conheceu uma degradação constante ao longo das décadas seguintes. A zona de 50 hectares onde hoje está o recinto era, no fim dos anos oitenta, um campo de contentores, matadouros e indústrias poluentes. Toda a exposição foi construída do zero. A torre da refinaria da Petrogal, única estrutura conservada, ficou como lembrança do espaço antes da intervenção. Houve um grande cuidado para que quase todos os equipamentos do recinto tivessem utilização posterior, evitando assim o seu abandono e a degradação, como aconteceu em Sevilha em 1992.
Em paralelo, lançaram-se grandes obras públicas. Entre as maiores estão a Ponte Vasco da Gama (a maior da Europa à data), uma nova linha de metro com sete estações e um interface rodo-ferroviário, a Gare do Oriente.
A 9 de Maio de 1998 realiza-se, o ensaio geral, com a presença de cerca de 40 mil pessoas. A iniciativa procurou simular um dia em pleno funcionamento da exposição. A maioria das instalações e pavilhões encontrava-se com obras a decorrer e no espaço público, devido às sugestões dos visitantes, foram colocados mais bebedouros e locais com sombra, sendo visíveis, as alterações no dia 22 de Maio de 1998, aquando do primeiro dia oficial da exposição.
Bilhetes.
Foram emitidos bilhetes de um dia (5.000$00–25 euros), três dias (12.500$00–62,35 euros), e bilhetes diários apenas para a parte da noite (2500$00–12,50 euros). Existia também um passe livre com acesso ilimitado à exposição durante três meses (50.000$00–250 euros).
A Swatch lançou alguns meses antes da exposição o modelo Adamastor, que continha um chip carregado com um bilhete de um dia. Para entrar, bastava encostar o relógio ao sensor presente em todos os molinetes de entrada.
Música, logótipo e mascote.
O tema musical da exposição foi composto em 1996 por Nuno Rebelo. A peça, de seu nome "Pangea" (o nome do super-continente pré-histórico de onde derivaram os continentes actuais), partia de uma base sinfónica de cariz épico (orquestração de Nuno Rebelo e João Lucas, interpretação pela Orquestra Metropolitana de Lisboa) sobre a qual desfilavam apontamentos de várias sonoridades representativas dos quatro cantos do mundo. Entre os músicos que participaram contam-se Pedro Caldeira Cabral (que tocou a guitarra portuguesa, rebab e xiao), Isabel Silvestre (voz), Pedro Joia (guitarra flamenco), José Silva (voz flamenco), Jovens do Hungu (vozes e percussões angolanas), Netos do N'gumbé (vozes e percussões guineenses), Cramol (coro feminino), João Lucas (acordeão), António Duarte (guzheng), Nuno Patrício (didjeridoo), Takile de los Andes (flautas andinas, charango), José Salgueiro (percussões) e o próprio Nuno Rebelo (balafon e outros instrumentos de percussão). Este tema foi usado nos filmes publicitários de promoção da Expo, era tocado diariamente na abertura da Expo 98 e foi ouvido também durante o fogo de artifício que marcou o encerramento da Expo 98.
O logótipo da EXPO'98, representando o mar e o sol, foi concebido por Augusto Tavares Dias, diretor criativo de publicidade.
A mascote foi concebida pelo pintor António Modesto e pelo escultor Artur Moreira. Foi selecionada entre 309 propostas e batizada de Gil (em homenagem a Gil Eanes) por José Luís Coelho, um estudante do ciclo, num concurso que envolveu escolas de todo o país.
Pavilhões e países participantes.
Pavilhões.
Durante a EXPO'98 houve dois tipos de pavilhões; os temáticos da responsabilidade do Parque EXPO (Departamento de Conteúdos), e os pavilhões das Regiões Autónomas, entidades convidadas e patrocinadores.
Pavilhões temáticos:
Outros pavilhões:
Países participantes.
África do Sul; Angola; Argélia; Benim; Botsuana; Cabo Verde; Comores; Congo; Costa do Marfim; Jibuti; Egito; Eritreia; Guiné-Bissau; Lesoto; Madagáscar; Maláui; Mali; Marrocos; Maurícia; Mauritânia; Moçambique; Namíbia; Nigéria; Quénia; República Democrática do Congo; São Tomé e Príncipe; Senegal; Seicheles; Essuatíni; Sudão; Tanzânia; Tunísia; Uganda; Zâmbia; Zimbábue.
Antígua e Barbuda; Argentina; Bahamas; Barbados; Belize; Bolívia; Brasil; Canadá; Chile; Colômbia; Cuba; Dominica; El Salvador; Equador; Estados Unidos; Granada; Guatemala; Guiana; Honduras; Jamaica; México; Nicarágua; Panamá; Paraguai; Peru; República Dominicana; Santa Lúcia; São Vicente e Granadinas; São Cristóvão e Névis; Suriname; Trinidad e Tobago; Uruguai; Venezuela.
Arábia Saudita; Arménia; Bangladexe; Cazaquistão; China; Chipre; Coreia do Sul; Emirados Árabes Unidos; Filipinas; Iémen; Índia; Irão; Israel; Japão; Jordânia; Cuaite; Líbano; Mongólia; Nepal; Palestina; Paquistão; Quirguistão; Sri Lanca; Turquia; Vietname.
Albânia; Alemanha; Andorra; Áustria; Bélgica; Bielorrússia; Bósnia e Herzegovina; Bulgária; Croácia; Dinamarca; Eslováquia; Eslovénia; Espanha; Estónia; Finlândia; França; Grécia; Holanda; Hungria; Islândia; Itália; Jugoslávia; Letónia; Lituânia; Luxemburgo; Macedónia (atual Macedónia do Norte); Mónaco; Noruega; Ordem de Malta; Polónia; Portugal; Reino Unido; Roménia; Rússia; Santa Sé; São Marino; Suécia; Suíça; Ucrânia.
Estados Federados da Micronésia; Ilhas Cook; Ilhas Salomão; Quiribati; Papua-Nova Guiné; Samoa Ocidental; Tonga; Tuvalu.
Depois da EXPO'98.
A exposição fechou as portas já ao nascer do dia 1 de Outubro de 1998. A última noite viu a maior enchente da sua história, tendo entrado no recinto depois das 20 horas cerca de 215 mil pessoas. A certo ponto da noite, e por razões de segurança, tiveram de ser destrancados os molinetes de acesso, o que faz com que nunca tenha havido um número certo para a quantidade de gente que se concentrou para ver o fogo-de-artifício de encerramento, o maior alguma vez realizado em Portugal.
De 1 a 15 de Outubro de 1998, o recinto esteve fechado ao público. Reabriu, já como Parque das Nações, recebendo nesse primeiro fim-de-semana mais de 100 mil visitantes. O Oceanário, o Pavilhão do Futuro, do Conhecimento dos Mares, permaneceram com as exposições que exibiram durante a EXPO'98 até ao dia 31 de Dezembro de 1998.
Em Fevereiro de 1999 já era possível encontrar algumas alterações no Parque das Nações, tais como:
Muitas zonas do Parque das Nações foram sendo gradualmente vendidas para habitação e escritórios. No fim do processo de venda de terrenos, as receitas tinham superado o custo da exposição em oito vezes.
A zona oriental de Lisboa é hoje o bairro mais moderno da cidade, concentrando áreas comerciais, culturais e de lazer com uma vista privilegiada do rio Tejo. A zona atraiu uma série de instituições e empresas de grande nome, que aí basearam as suas sedes ou representações (Vodafone, Microsoft, Sonaecom SGPS, Sony, etc.). Cerca de 28 mil pessoas habitam nas suas áreas residenciais Norte e Sul, integrando a freguesia do Parque das Nações.
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792 | Euro | Euro
Euro (símbolo: €; código: EUR) é a moeda oficial da zona Euro, a qual é constituída por 20 dos 27 estados-membros da União Europeia: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Portugal e Polônia. A moeda é também usada de forma oficial pelas instituições da União Europeia e por quatro outros países europeus e, de forma unilateral, pelo Cosovo e Montenegro. Em 2018, a moeda foi usada diariamente por cerca de 343 milhões de europeus. A moeda é também usada oficialmente em diversos territórios ultramarinos da UE.
A moeda é ainda usada por mais 240 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais 190 milhões em África, que usam moedas de câmbio fixo em relação ao euro. O euro é a segunda maior moeda de reserva e a segunda moeda mais transacionada no mundo a seguir ao dólar dos Estados Unidos. Com mais de 1,2 biliões de euros em circulação em 2018, o euro tem o maior valor combinado de notas e moedas em circulação no mundo, ultrapassando o dólar norte-americano. Com base em estimativas do Fundo Monetário Internacional do PIB e da paridade do poder de compra, a zona euro é a segunda maior economia do mundo.
O nome "euro" foi oficialmente adotado em 16 de dezembro de 1995. O euro foi introduzido nos mercados financeiros mundiais como unidade de conta a 1 de janeiro de 1999, em substituição da antiga Unidade Monetária Europeia (ECU), a um câmbio de 1:1 (1,1743 USD). As moedas e notas físicas de euro entraram em circulação a 1 de janeiro de 2002, tornando-a a moeda de uso corrente entre os membros originais. Embora nos primeiros dois anos a cotação do euro tenha descido para 0,8252 USD (26 de outubro de 2000), a partir do fim de 2002 começou a ser transacionada a valores superiores ao dólar, atingindo um máximo de 1,6038 USD em 18 de julho de 2008. A partir do fim de 2009, a crise da dívida pública da Zona Euro levou à criação do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e à adoção de várias reformas de estabilização monetária.
História do Euro.
A ideia do estabelecimento de uma moeda única na CEE nasceu já na década de 70. Teve como principais defensores os Economistas Fred Arditti, Neil Dowling, Wim Duisenberg, Robert Mundell, Tommaso Padoa-Schioppa e Robert Tollison. No entanto, só pelo Tratado de Maastricht, de 1992 esta ideia passou da teoria para o Direito. Este tratado foi celebrado pelos doze países que à data faziam parte da Comunidade Económica Europeia. O Reino Unido e a Dinamarca optaram neste tratado por ficar de fora da moeda única. Os países que aderissem posteriormente à União estão legalmente obrigados a aderir à moeda única. A Suécia aderiu à União em 1995 mas negociou entrar numa fase posterior. Os critérios para adesão à nova moeda única foram estabelecidos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento de 1997.
O primeiro nome para o sistema de conversão entre as moedas que se uniriam foi o ECU (European Currency Unit em Inglês). O nome de Euro é atribuído ao Belga German Pirloit que assim o sugeriu a Jacques Santer em 1995. O valor da nova moeda foi ancorado ao do ECU por resolução do Conselho da União Europeia de 31 de dezembro de 1998. Esta entrou em vigor a 1 de janeiro de 1999 em forma não material (transferências, cheques, etc.) e a 1 de janeiro de 2002 em notas e moedas.
Moeda de Reserva.
A Zona Euro.
A Zona Euro é composta pelos seguintes países da União Europeia, que adotaram a moeda comum: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Portugal e Polônia. prevendo-se que com a expansão da União Europeia alguns dos aderentes mais recentes possam nos próximos anos partilhar também o euro como moeda oficial.
O governo dinamarquês anunciou no seu programa de 22 de novembro de 2007 a sua intenção de organizar um referendo sobre a entrada do país na Zona Euro.
Alguns países pequenos que não praticam políticas de moeda própria usam também o euro: Andorra, Mónaco, São Marino e Vaticano. Montenegro também utiliza o euro como moeda oficial. Também no Cosovo, o euro passou a circular mesmo antes da sua declaração de independência.
Outros países tinham a sua moeda fixada a uma antiga moeda europeia. Este era o caso do escudo cabo-verdiano, que estava ligado ao escudo português, e do franco CFA, que era indexado ao franco francês, em circulação em diversos países africanos, e o Franco CFP, dos territórios franceses no Pacífico.
O banco que controla as emissões do euro e executa a política cambial da União Europeia é o Banco Central Europeu, com sede em Frankfurt am Main, na Alemanha.
Acumulação internacional de moedas de reserva
Convenções de escrita.
Com a implementação da nova moeda no quotidiano, decidiu-se que as regras para a formação do plural da palavra (p.ex. "euro", "euros", "euri", "eurok"), o género, o uso da vírgula ou ponto para separação das casas decimais, e da posição do símbolo da unidade monetária manter-se-iam segundo as convenções nacionais de cada país.
Convenções para Portugal e para a língua portuguesa (e para a generalidade das línguas que não o inglês):
Possibilidade de extinção da moeda.
Em finais de 2011, foi enunciado em vários parlamentos europeus, mais notavelmente no Parlamento da França e no próprio Parlamento Europeu, a possibilidade de extinção do euro como moeda. Foi referido por François Fillon, primeiro-ministro francês, que o fim da moeda única seria catastrófico para o continente europeu, ao desvalorizar em 25% as economias mais fortes e em 50% as mais frágeis. Várias empresas, como a Autoeuropa, que tem um peso importante na economia portuguesa, avaliam já o cenário próximo de fim do Euro. Embora seja garantido por vários governantes um contínuo esforço de manutenção da moeda, as pressões de "rating" por parte dos mercados financeiros têm credibilizado a possibilidade de tal acontecer.
Futuras entradas na União Económica e Monetária.
Para adotar o euro os Estados-membros terão de verificar os critérios de convergência, que impõem limites ao valor percentual do défice público e da taxa de inflação, entre outras condições.
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793 | EUA | EUA
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796 | Engenharia do ambiente | Engenharia do ambiente
A engenharia do ambiente, engenharia ambiental ou engenharia ambiental e sanitária estuda os problemas ambientais de forma integrada nas suas dimensões ecológica, social, econômica e tecnológica, com vista a promover o desenvolvimento sustentável. O engenheiro ambiental deverá saber reconhecer, interpretar e diagnosticar impactos ambientais negativos e positivos, avaliar o nível de danos ocorridos no meio ambiente e propor soluções integradas de acordo com o direito do ambiente vigente.
No Brasil. Em 2009, o MEC instituiu a lista de convergência no Referencial Nacional das Engenharias, onde os 258 nomes de cursos de engenharia no Brasil se tornaram apenas 22 nomenclaturas.
É o ramo da engenharia que atua nas áreas da avaliação ambiental, gestão ambiental, abastecimento e tratamento de água, drenagem e tratamento de águas pluviais e residuais, gestão de resíduos, gestão de ecossistemas, gestão de recursos hídricos, clima e qualidade do ar, acústica e vibrações, plano e ordenamento do território, energia, saúde ambiental e segurança e saúde no trabalho, gestão de solos, subsolos, geotecnia ambiental, projeto de aterro sanitários, geologia ambiental, avaliação de impacto ambiental em águas subterrâneas e superficiais, hidrogeoquímica ambiental, hidrogeologia ambiental, estudos hidrológicos, plano geotécnico de monitoramento de barragem, plano geotécnico ambiental de aterro sanitário, avaliação de riscos geotécnicos ambientais, avaliação de qualidade dos procedimentos de monitoramento de barragem de rejeito, de água, investigação do subsolo nas atividades ambientais, geofísica ambiental, remediação ambiental de águas superficiais e subterrâneas, dimensionamento de sistema de tratamento de efluente atmosférico, dispersão de emissão atmosférica, engenharia urbana, zoneamento socioeconômico ambiental.
Atuação do engenheiro ambiental.
O Engenheiro Ambiental tem por função resolver problemas concretos de prevenção e remediação (atividade corretiva) diante das ações antrópicas mediante aplicações da tecnologia disponível, pontual e localmente apropriada. De modo geral, tanto no âmbito público como privado, sua atuação deve atender às preocupações ambientais mais amplas, consideradas em tratados internacionais como exigências relativas ao clima da Terra, entre outros.
São exemplos as determinações das Cartas de Estocolmo (1972), do Rio de Janeiro (ECO-92), a Convenção de Viena (1985), o Protocolo de Montreal (1987), relativo à camada de Ozônio, o Protocolo de Quioto (1997), o Protocolo de Annapolis e a Conferência promovida pela ONU em Bali (2007) quanto às mudanças climáticas.
De modo geral, sua atuação tem em vista condições de contorno ambientais próprias do entorno circundante. Deve também preocupar-se com o efeito abrangente por sobre a extensão territorial afetada - exemplificada pela bacia hidrográfica quanto às águas e, o potencial da emissão atmosférica potencialmente carregada pelos ventos para local distante. Evidentemente também prevenir sobre possibilidade de outros vetores capazes de provocar alterações de natureza diversa.
De outra parte, o planejamento e a antevisão dos impactos ambientais expandem a responsabilidade da análise prospectiva (atividade preventiva) por sobre o "vir a ser" das coisas. E torna-se agente do próprio desenvolvimento econômico em termos da ética vinculada ao progresso e bem estar da coletividade. Por este motivo, o seu mercado de trabalho é bastante heterogêneo e distribuí-se por: administração central, seus serviços descentralizados a nível regional, administração local, empresas industriais, empresas de consultoria, empresas de serviços, ONGs, instituições de investigação e ensino superior.
Uma das aptidões que devem ser desenvolvidas pelo engenheiro ambiental é a avaliação da duração, magnitude e reversibilidade das alterações causadas pela atividade humana no meio ambiente, independentemente de sua natureza adversa ou benéfica.
Lista de áreas de atuação.
Algumas das áreas de atuação do engenheiro ambiental são¹:
Estudo de Impacto Ambiental - EIA
Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto
Outorgas Superficias e Subterrânea
Planejamento Urbano
Relatório de Impacto Ambiental - RIMA
Zoneamento Ecológico
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797 | Eletrons | Eletrons
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802 | Estado físico da matéria | Estado físico da matéria
Fases ou estados da matéria são conjuntos de configurações que objetos macroscópicos podem apresentar. O estado físico tem relação com a velocidade do movimento das partículas de uma determinada substância. Canonicamente e segundo o meio em que foram estudados, são cinco os estados ou fases considerados:
Outros tipos de fases da matéria, como a Água superiônica, Supersólido e Superfluidez, estudados em níveis mais avançados de Física. As características de estado físico são diferentes em cada substância e dependem da temperatura e pressão em que ela se encontra.
Os estados físicos clássicos.
Há muitas discussões sobre quantos estados da matéria existem, porém as versões mais populares atualmente são de que a matéria somente tem três estados: sólido, líquido e gasoso. Mas há também outros que, ou são intermediários ou pouco conhecidos. Por exemplo: os vapores, que nada mais são uma passagem do estado líquido para o gasoso na mesma fase em que o gás, porém quando está em estado gasoso, não há mais possibilidade de voltar diretamente ao estado líquido; já quando em forma de vapor, pode ir ao estado líquido, desde que exista as trocas de energia necessárias para tal fato. Por isto que diz comumente "vapor d´água".
Se colocarmos os estados físicos clássicos da matéria em ordem crescente, conforme a quantidade de energia interna que cada um possui, teremos:
Sólido → Líquido → Gasoso → Plasma
Os estados físicos modernos.
Condensados de Bose-Einstein.
Em 1924, Albert Einstein e Satyendra Nath Bose previram o "condensado de Bose-Einstein", por vezes referido como o quinto estado da matéria. Trata-se de uma coleção de milhares de partículas ultrafrias ocupando um único estado quântico, ou seja, todos os átomos se comportam como um único e gigantesco átomo. Possui características, de ambos, estado sólido e estado líquido, como supercondutividade e super-fluidez, porém, é encontrado em temperaturas extremamente baixas (próximas ao zero absoluto), o que faz com que suas moléculas entrem em colapso. É particularmente estudado na área da mecânica quântica.
Na fase gasosa, o condensado de Bose-Einstein manteve uma previsão teórica não verificada durante muitos anos. Em 1995, os grupos de pesquisa de Eric Cornell e Carl Wieman, de JILA na Universidade do Colorado em Boulder, produziram pela primeira vez esse condensado experimentalmente. Um condensado Bose-Einstein é "mais frio" do que um sólido. Pode ocorrer quando os átomos têm níveis quânticos muito semelhantes (ou o mesmo), em temperaturas muito perto do zero absoluto (-273,15 °C).
Superfluidos.
Perto do zero absoluto, alguns líquidos formam um segundo estado líquido descrito como superfluido porque tem viscosidade zero ou fluidez infinita. Isso foi descoberto em 1937 para o hélio, que constitui um superfluido abaixo da temperatura lambda de 2,17 K. Neste estado, ele vai tentar "subir" para fora do recipiente. Também tem condutividade térmica infinita, de modo que nenhum gradiente de temperatura pode se formar em um superfluido.
Essas propriedades são explicadas pela teoria de que o isótopo comum hélio-4 faz um condensado de Bose-Einstein (ver próxima seção), no estado superfluido. Mais recentemente, superfluidos de condensado fermiônico tem sido formados a temperaturas ainda mais baixas pelo raro isótopo hélio 3 e lítio-6.
Dois tipos conhecidos são:
Outros estados da matéria.
Existem outros possíveis estados da matéria, alguns destes só existem sob condições extremas, como no interior de estrelas mortas, ou no começo do universo depois do Big Bang:
Transições de fase.
Como a cada uma destas fases de uma substância corresponde determinado tipo de estrutura corpuscular, há vários tipos de mudanças de estruturas dos corpos quando muda a fase, ou de estado de aglomeração, da substância que são feitos. A mudança de fases ocorre conforme o diagrama de fases da substância. Mudando a pressão ou a temperatura do ambiente onde um objeto se encontra, esse objeto pode sofrer mudança de fase.
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803 | Engenharia de software | Engenharia de software
Engenharia de "software" é uma área da engenharia e da computação voltada à especificação, desenvolvimento, manutenção e criação de "software", com a aplicação de tecnologias e práticas de gerência de projetos e outras disciplinas, visando organização, produtividade e qualidade. Atualmente, essas tecnologias e práticas englobam linguagens de programação, banco de dados, ferramentas, plataformas, bibliotecas, padrões de projeto de software, processo de software e qualidade de software. Além disso, a engenharia de software deve oferecer mecanismos para se planejar e gerenciar o processo de desenvolvimento de um sistema computacional de qualidade e que atenda às necessidades de um requisitante de software.
Os fundamentos científicos para a engenharia de software envolvem o uso de modelos abstratos e precisos que permitem ao engenheiro especificar, projetar, implementar e manter sistemas de software, avaliando e garantindo suas qualidades. A área que estuda e avalia os processos de engenharia de software, propondo a evolução dos processos, ferramentas e métodos de suporte a engenharia de software é a Engenharia de Software Experimental.
= Histórico =
O termo foi criado na década de 1960 e utilizado oficialmente em 1968 na "NATO Science Committee". Sua criação surgiu numa tentativa de contornar a crise do software e dar um tratamento de engenharia (mais sistemático, controlado e de qualidade mensurável) ao desenvolvimento de sistemas de "software" complexos. Um sistema de "software" complexo se caracteriza por um conjunto de componentes abstratos de "software" (estruturas de dados e algoritmos) encapsulados na forma de algoritmos, funções, módulos, objetos ou agentes interconectados, compondo a arquitetura do software, que deverão ser executados em sistemas computacionais.
= Definição =
Friedrich Ludwig Bauer definiu-a como: Engenharia de "Software é a criação e a utilização de sólidos princípios de engenharia a fim de obter software de maneira econômica, que seja confiável e que trabalhe em máquinas reais". Margaret Hamilton é creditada por ter criado o termo "engenharia de software". O próprio significado de engenharia já traz os conceitos de criação, construção, análise, desenvolvimento e manutenção.
A Engenharia de "Software" se concentra nos aspectos práticos da produção de um sistema de "software", enquanto a ciência da computação estuda os fundamentos teóricos dos aspectos computacionais.
Os fundamentos científicos envolvem o uso de modelos abstratos e precisos que permitem ao engenheiro especificar, projetar, implementar e manter sistemas de "software", avaliando e garantindo sua qualidade. Além disto, deve oferecer mecanismos para se planejar e gerenciar o processo de desenvolvimento. Empresas desenvolvedoras de "software" passaram a empregar esses conceitos sobretudo para orientar suas áreas de desenvolvimento, muitas delas organizadas sob a forma de Fábrica de Software.
A engenharia de sistemas é uma área ampla por tratar de aspectos de sistemas baseados em computadores, incluindo "hardware" e engenharia de processos para construção de "software".
A Universidade Federal de Goiás foi pioneira no Brasil quando criou o curso de graduação em Engenharia de Software, hoje o curso ganha popularidade e já é adotado por outras universidades como Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade de Brasilia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal do Amazonas, Universidade Federal do Pampa, Universidade Estadual de Ponta Grossa, PUC-Campinas, PUC-RS, Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Universidade do Estado de Santa Catarina, Faculdade Damas da Instrução Cristã, entre outras.
= Resolução de Problemas em Engenharia de Software =
= Princípios =
Os princípios da Engenharia de Software constituem a base dos métodos, tecnologias, metodologias e ferramentas adotadas na prática e que norteiam a prática de desenvolvimento de soluções de software. Os princípios se aplicam ao processo e ao produto de software se tornando em prática de desenvolvimento de software através da adoção de métodos e técnicas. Geralmente, métodos e técnicas constituem uma metodologia, as quais, são apoiadas pela utilização de ferramentas
Os princípios-chave são:
Considerando o Rigor e Formalidade, deve-se considerar que a engenharia de software é uma atividade criativa, mas que deve ser realizada de maneira sistemática; o Rigor é um complemento necessário a criatividade que visa aumentar a confiança dos desenvolvimentos de software. A Formalidade é o Rigor no seu nível mais elevado. Exemplos: Análise matemática (formal) da corretude do Programa, Análises sistemáticas de dados de testes, Documentação rigorosa dos passos de desenvolvimento e os passos de gerenciamento bem como a avaliação dos prazos de entrega.
A Separação de Interesses envolve dominar a complexidade, separando os problemas principais e concentrando-se em um de cada vez ( dividir e conquistar ) suporte a paralelização de atividades e separação das responsabilidades. Exemplo: Desenvolvimento por fases de maneira incremental ( como no processo Ágil ) fazendo a separação dos interesses por atividades e respeitando o tempo. Outro exemplo relacionado a um software relaciona-se a manter os requisitos de funcionalidade, performance e interface e usabilidade de usuário em separado.
A Modularidade considera que um sistema complexo pode ser divido em peças mais simples, chamadas de módulos. Um sistema composto pode módulos é chamado de modular. Se faz fundamental que o suporte a separação de interesses seja suportada, quando lidamos com um modulo em específico deve ser possível ignorar os detalhes dos outros módulos da solução. Cada modulo deve ter alto nível de coesão, sendo entendido como uma unidade significativa, os componentes de um modulo são fortemente relacionados entre si. O baixo acoplamento remete a baixa interação de um modulo com outros do sistema possibilitando que eles sejam compreendidos como unidades em separado.
A Abstração é um conceito que visa a identificação de aspectos importantes de um fenômeno, ignorando os seus detalhes. O tipo de abstração a ser aplicado depende do propósito. Por exemplo: Os botões de um relógio são a sua interface com o usuário, eles podem ser usados como uma abstração para o propósito interno de ajustar o horário, equações que descrevem um circuito (por exemplo, um amplificador) permitem a um designer pensar sobre amplificação de sinal. Uma abstração deve tornar possível pensar sobre um sistema através do raciocínio sobre os modelos. A abstração pode ser útil para realizar uma estimativa de custos de um projeto de software através de analise de similaridade com projetos passados.
A Antecipação a Mudanças é diretamente relacionada ao suporte a evolução de um software considerando na arquitetura do software aspectos relacionados ao processo de evolução e compatibilidade com mudanças futuras relacionadas ao domínio de aplicação do software.
A Generalidade é um principio que visa durante a resolução de um problema, descobrir se ele é uma instância de um problema mais geral, no qual a solução pode ser reutilizada em outros casos. O desafio da generalidade está no balanço entre custo e performance.
A Incrementação é relacionada a evolução de um software através de incrementos estruturados. Pode ser realizado através da entrega de subconjuntos de um sistema desde cedo, visando coletar o feedback dos usuários e adicionar funcionalidades de forma incremental. O processo incremental deve focar inicialmente na funcionalidade, para então, pensarmos na performance da solução, naturalmente o protótipo amadurecerá e se tornará um produto.
= Áreas de conhecimento =
Segundo o SWEBOK (Corpo de Conhecimento da Engenharia de Software), versão 2004, as áreas de conhecimento da Engenharia de Software são:
= Processo de software =
Processo de "software", ou processo de engenharia de software, é uma sequência coerente de práticas que objetiva o desenvolvimento ou evolução de sistemas de "software". Estas práticas englobam as atividades de especificação, projeto, implementação, testes e caracterizam-se pela interação de ferramentas, pessoas e métodos.
SEE e PSEE são os ambientes voltados ao desenvolvimento e manutenção de processos. O projeto ExPSEE é uma continuação dos estudos de processos, principalmente do ambiente PSEE.
Devido ao uso da palavra projeto em muitos contextos, por questões de clareza, há vezes em que se prefira usar o original em inglês design.
Modelos de processo de software.
Um modelo de processo de desenvolvimento de software, ou simplesmente modelo de processo, pode ser visto como uma representação, ou abstração dos objetos e atividades envolvidas no processo de software. Além disso, oferece uma forma mais abrangente e fácil de representar o gerenciamento de processo de software e consequentemente o progresso do projeto.
Exemplos de alguns modelos de processo de software;
Modelos de maturidade.
Os modelos de maturidade são um metamodelo de processo. Eles surgiram para avaliar a qualidade dos processos de "software" aplicados em uma organização (empresa ou instituição). O mais conhecido é o "Capability Maturity Model Integration" (CMMi), do Software Engineering Institute - SEI.
O CMMI pode ser organizado através de duas formas: Contínua e estagiada.
Pelo modelo estagiado, mais tradicional e mantendo compatibilidade com o CMM, uma organização pode ter sua maturidade medida em 5 níveis:
O (MPS.BR), ou Melhoria de Processos do Software Brasileiro, é simultaneamente um movimento para a melhoria e um modelo de qualidade de processo voltada para a realidade do mercado de pequenas e médias empresas de desenvolvimento de software no Brasil. O MPS.BR contempla 7 níveis de maturidade, de A a G, sendo a primeira o mais maduro. Até agosto/2012, no Brasil, há somente 2 empresas neste nível.
= Metodologias e métodos =
O termo metodologia é bastante controverso nas ciências em geral e na Engenharia de Software em particular. Muitos autores parecem tratar metodologia e método como sinônimos, porém seria mais adequado dizer que uma metodologia envolve princípios filosóficos que guiam uma gama de métodos que utilizam ferramentas e práticas diferenciadas para realizar algo.
Assim teríamos, por exemplo, a Metodologia Estruturada, na qual existem vários métodos, como Análise Estruturada e Projeto Estruturado (muitas vezes denominados SA/SD, e Análise Essencial).
Dessa forma, tanto a Análise Estruturada quanto a Análise Essencial utilizam a ferramenta Diagrama de Fluxos de Dados para modelar o funcionamento do sistema.
Segue abaixo as principais Metodologias e Métodos correspondentes no desenvolvimento de software:
Modelagem.
A abstração do sistema de "software" através de modelos que o descrevem é um poderoso instrumento para o entendimento e comunicação do produto final que será desenvolvido.
A maior dificuldade nesta atividade está no equilíbrio ("tradeoff") entre simplicidade (favorecendo a comunicação) e a complexidade (favorecendo a precisão) do modelo.
Para a modelagem podemos citar 3 métodos:
= Ferramentas, tecnologias e práticas =
A engenharia de software aborda uma série de práticas e tecnologias, principalmente estudadas pela ciência da computação, enfocando seu impacto na produtividade e qualidade de "software".
Destacam-se o estudo de linguagem de programação, banco de dados e paradigmas de programação, como:
Ferramenta.
Outro ponto importante é o uso de ferramentas CASE (do inglês "Computer-Aided Software Engineering"). Essa classificação abrange toda ferramenta baseada em computadores que auxiliam atividades de engenharia de "software", desde a análise de requisitos e modelagem até programação e testes.
Os ambientes de desenvolvimento integrado (IDEs) têm maior destaque e suportam, entre outras coisas:
= Gerência de projetos =
A gerência de projetos se preocupa em entregar o sistema de "software" no prazo e de acordo com os requisitos estabelecidos, levando em conta sempre as limitações de orçamento e tempo.
A gerência de projetos de software se caracteriza por tratar sobre um produto intangível, muito flexível e com processo de desenvolvimento com baixa padronização.
Planejamento.
O planejamento de um projeto de desenvolvimento de "software" inclui:
Essas atividades sofrem com dificuldades típicas de desenvolvimento de "software". A produtividade não é linear em relação ao tamanho da equipe e o aumento de produtividade não é imediato devido aos custos de aprendizado de novos membros. A diminuição de qualidade para acelerar o desenvolvimento constantemente prejudica futuramente a produtividade.
A estimativa de dificuldades e custos de desenvolvimentos são muito difíceis, além do surgimento de problemas técnicos. Esses fatores requerem uma análise de riscos cuidadosa.
Além da própria identificação dos riscos, há que ter em conta a sua gestão. Seja evitando, seja resolvendo, os riscos necessitam ser identificados (estimando o seu impacto) e devem ser criados planos para resolução de problemas.
Análise de requisitos.
As atividades de análise concentram-se na identificação, especificação e descrição dos requisitos do sistema de "software". De acordo com a ISO/IEC/IEEE 24765 requisito é:
(1) condição ou capacidade necessária por um usuário para resolver um problema ou alcançar um objetivo;
(2) condição ou capacidade que deve ser atingida ou possuída por um sistema ou componente de um sistema para satisfazer um contrato, padrão, especificação ou outro documento formalmente imposto;
(3) representação documentada de uma condição ou capacidade como em (1) ou (2);
(4) condição ou capacidade que deve ser alcançada ou possuída por um sistema, produto, serviço, resultado ou componente para satisfazer um contrato, padrão, especificação ou outro documento formalmente imposto. Requisitos incluem as necessidades quantificadas e documentadas, desejos e expectativas do patrocinador, clientes e outras partes
interessadas.
Há várias classificações sobre requisitos, o PMBOK e o BABOK utilizam a seguinte classificação hierárquica:
É comum que o cliente não saiba o que ele realmente deseja, que haja problemas na comunicação e ainda que haja mudança constante de requisitos. Todos esses fatores são recrudescidos pela intangibilidade sobre características de sistemas de "software", principalmente sobre o custo de cada requisito.
A Engenharia de requisitos é um processo que envolve todas as atividades exigidas para criar e manter o documento de requisitos de sistema (SOMMERVILLE). Segundo RUMBAUGH, alguns analistas consideram a Engenharia de requisitos como um processo de aplicação de uma metodologia estruturada combinada com a metodologia orientada a objetos. No entanto, a Engenharia de requisitos possui muito mais aspectos do que os que estão abordados por esses métodos.
Abaixo um pequeno Processo de Engenharia de Requisitos (SOMMERVILLE):
Estudo da viabilidade → "Relatório de Viabilidade"
Obtenção e Análise de Requisitos → "Modelos de Sistema"
Especificação de Requisitos → "Requisitos de Usuário e de Sistema"
Validação de Requisitos → "Documento de Requisitos"
O primeiro processo a ser realizado num Sistema novo é o Estudo de Viabilidade. Os resultados deste processo devem ser um relatório com as recomendações da viabilidade técnica ou não da continuidade no desenvolvimento do Sistema proposto. Basicamente um estudo de viabilidade, embora seja normalmente rápido, deverá abordar fundamentalmente as seguintes questões:
Gestão.
Existem cinco tipos de gestão: pessoal, produto, processo, projeto e material.
= Engenharia de Software no presente e tendências =
Atualmente existe um destaque todo especial para a Engenharia de Software na Web. É o processo usado para criar WebApps (aplicações baseadas na Web) de alta qualidade. Embora os princípios básicos da WebE sejam muito próximos da Engenharia de Software clássica, existem peculiaridades específicas e próprias.
Com o advento do B2B (e-business) e do B2C (e-commerce), e ainda mais com aplicações para a Web 2.0, maior importância ficou sendo esse tipo de engenharia. Normalmente adotam no desenvolvimento a arquitetura MVC (Model-View-Controller).
Outra área de tendência em Engenharia de Software trata da aplicação de técnicas otimização matemática para a resolução de diversos problemas da área. A área, denominada Search-based software engineering, ou Otimização em engenharia de software em Português, apresenta vários resultados interessantes. Para mais detalhes em Português, ver texto com aplicações da otimização em engenharia de software.
O Brasil atualmente conta com diversos cursos de nível superior em Engenharia de Software nas seguintes instituições reconhecidas pelo MEC: UnB, UFMS, UFRN, Universidade do Estado de Santa Catarina, Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal de Goiás, Universidade de Rio Verde, Unipampa, UniCesumar, UTFPR, PUC-PR e PUCRS
Eventos acadêmicos também mostram tópicos interessantes sobre futuras tendências de engenharia de software. O Brasil em 2013 sedia grandes eventos de engenharia como a Conferência Internacional de Engenharia de Requisitos e a Escola Latino Americana de Engenharia de Software.
= Bibliografia =
= Ver também =
= Ligações externas =
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805 | Engenharia civil | Engenharia civil
A engenharia civil é o ramo da engenharia que planeja, projeta, executa e faz a gestão de obras de infraestrutura e empreendimentos. A engenharia civil transforma e adapta a natureza, com o objetivo de otimizar a qualidade de vida das pessoas. Desta forma, esta área dedica-se à construção de edifícios, pontes, túneis, usinas geradoras de energia, indústrias e inúmeros outros tipos de estrutura, utilizando como ferramentas as ciências, a matemática, instrumentos, tecnologias e técnicas diversas, experiências anteriores, o cabedal normativo e as práticas locais, levando em conta os contextos social, econômico e ambiental.
Desde o início da história, os humanos passaram a construir seus próprios abrigos utilizando os elementos naturais ao seu redor. Posteriormente, as estruturas adquiriram características cada vez mais complexas, reflexo do desenvolvimento das técnicas. Passou-se então, a utilizar conhecimentos científicos nesta área, de forma que as dimensões, a resistência e outros atributos de uma determinada obra podiam ser estimados. Novos materiais passaram a ser utilizados, sobretudo ferro e cimento, que possibilitaram o surgimento das grandes estruturas que hoje compõem o cenário do mundo moderno.
Desta forma, a formação de um engenheiro civil é fortemente ligada às ciências exatas. Contudo, um bom profissional deve conter muitos outros atributos, principalmente habilidades em comunicação e de análise racional dos fatos, além de seguir um código de ética, visto que suas obras influenciam significativamente em todos os segmentos da sociedade. Dada a vasta abrangência, a engenharia civil divide-se em vários campos específicos, desde geotecnia, mapeamento, até transportes, construção e estrutural, dentre muitas outras.
A designação "engenharia civil" foi inicialmente utilizada por oposição à de "engenharia militar". Designava assim, toda a engenharia não militar. Com o passar do tempo e na maioria dos países, o termo passou a ser utilizado num âmbito mais restrito, referindo-se apenas ao ramo da construção, com os outros ramos da engenharia a receberem designações distintas (ex., industrial, agrícola, posteriormente outras). Contudo, em alguns países como a Bélgica, a Dinamarca, a França, a Noruega e a Suécia, os engenheiros não militares são ainda genericamente referidos como "engenheiros civis", independentemente da sua especialidade ser a construção ou outra (mecânica, química, eletricidade, etc.).
O engenheiro civil ou a engenheira civil desenvolve a sua profissão ou atividade utilizando o conhecimento de ciências matemáticas, físicas e dos materiais, adquirido através do estudo, da experiência e da prática, com o fim de desenvolver o projeto, a construção e a manutenção de infraestruturas, de forma económica e em respeito pelo meio ambiente, materializadas em edifícios, pontes, barragens, vias de comunicação, sistemas de abastecimento e tratamento de águas, aeroportos, portos e sistemas de produção de energia, numa lógica funcional, estética e de segurança de pessoas e bens.
História.
Engenheiro é uma palavra que surgiu no século XIV, e significava “construtor de engenhos (máquinas) militares”. Veio do antigo francês "engigneor", que por sua vez provinha da palavra latina "ingenium", isto é, qualidade, talento, genialidade, habilidade.
Desde o início da existência humana, conhecimentos e habilidades de engenharia tem sido necessários para evolução do padrão de vida. A partir do momento em que tribos deixaram de ser nômades, surgiram assentamentos que necessitavam de estrutura necessária para abrigo e proteção que, ao longo do tempo, cresceram em complexidade. Ao decorrer dos séculos, a grande demanda por estruturas cada vez maiores e mais eficientes impulsionava o surgimento de novas técnicas e a formação de profissionais habilitados para assumir tal responsabilidade. Entretanto, a profissão de engenheiro civil só foi reconhecida oficialmente a partir da Revolução Industrial.
Antiguidade.
São diversas as obras remanescentes que atestam o desenvolvimento da engenharia civil ao longo de milênios. Os registros escritos destas construções, contudo, se perderam no tempo. Grandes obras de engenharia surgiram há mais de cinco mil anos na Mesopotâmia, embora haja poucos edifícios remanescentes. Os sumérios que habitavam a região construíram muros e templos e criaram canais para irrigação. Ainda na mesma região surgiu a pavimentação, feita com pedras achatadas colocadas nos trajetos mais movimentados das cidades. Ainda na Mesopotâmia há registro da primeira ponte feita de pedra, que se estendia sobre o rio Eufrates. Até então, as pontes eram feitas somente com madeira.
Os pérsios, ao longo do tempo e de seus vastos domínios, foram responsáveis por criar novas e eficientes técnicas de irrigação, além de inovarem nas técnicas construtivas de pontes, especialmente para fins militares. No Antigo Egito, dentre as mais notáveis obras de engenharia destacam-se as Pirâmides de Gizé, feitas há mais de quatro mil anos, e a cidade de Alexandria (durante a era de Alexandre, o Grande), na qual foi concebido um grande farol, não mais existente. Contudo, na Grécia Antiga, houve, pela primeira vez, a conexão entre a engenharia e a ciência pura, sendo um dos primeiros trabalhos considerando aplicações práticas de princípios físicos e matemáticos atribuído à Arquimedes, que criou um sistema capaz de transportar água para diferentes elevações.
Durante a expansão do Império Romano, houve o surgimento de novas técnicas construtivas, especialmente a partir da grande oferta de matérias-primas e trabalho escravo. Embora não tenha grande ligação com a ciência, a engenharia praticada pelos romanos estava fortemente ligada ao pragmatismo. As grandes estruturas eram voltadas sobretudo para bens públicos, como aquedutos, portos, mercados, pontes, barragens e estradas. Vitrúvio foi o autor de um dos manuscritos mais antigos sobre engenharia, no qual descreve as técnicas e habilidades que um profissional deve dominar, como conhecimentos científicos, filosóficos e éticos, dentre outros. Os romanos também foram os primeiros a utilizar concreto em suas obras, quando descobriu-se que uma mistura formada principalmente por cinzas vulcânicas solidificava-se e dava origem a um material tão duro quanto as rochas.
Na Índia a maior parte das construções eram feitas com madeira. Contudo, a partir do surgimento do budismo, novos e grandes templos e monastérios foram construídos no topo e nas bordas das montanhas, o que exigiu novas técnicas que faziam o uso de pedras e rochas. De forma similar, o hinduísmo motivou o surgimento de grandes templos construídos com pedras. As técnicas de engenharia na China, por outro lado, desenvolveram-se de forma quase independente àquelas do mundo ocidental. Os chineses utilizavam-se da grande variedade de matérias primas existentes em seu território para construção das fundações de pedra e casas de tijolos e telhados de argila. Destaca-se, ainda o surgimento de pontes suspensas antes feitas com fibras de bambu e posteriormente com correntes de ferro, além dos pagodes, templos em forma de torres. Contudo, a mais notável obra ainda remanescente é a Muralha da China, que se estende por milhares de quilômetros e cuja construção iniciou-se em 220 a.C..
No continente africano ao sul do deserto do Saara, as obras com estilos mais simples utilizavam-se dos materiais existentes e dependiam da cultura das milhares de etnias diferentes do continente. Destaca-se, contudo, um local de cunho religioso, o Grande Zimbabwe, cuja origem remonta ao século XI. Na América, por fim, as grandes civilizações inovaram em técnicas que os permitiram criar grandes templos, especialmente de cunho religioso. Durante a civilização Maia, muitas grandes obras foram realizadas, das quais destaca-se a cidade de Teotihuacan. Os Incas, séculos depois, estenderam seus domínios na cordilheira dos Andes e criaram elementos de infraestrutura como pontes, estradas e complexos urbanos, centralizados na então capital, Cusco. Dentre os principais feitos dos Astecas, contemporâneos dos Incas, destaca-se a cidade de Tenochtitlán, capital do império dotada de complexos componentes urbanos, localizada numa região pantanosa no centro de um lago.
Período medieval.
O Império Romano, devido à sua grande extensão e falta de governo central, não conseguiu se manter unido e chegou ao fim no ano de 476. Muitas das obras de infraestrutura, inclusive estradas, aquedutos e portos então existentes, foram demolidas para construção de fortificações. Durante todo o período medieval, quase não houve avanços científicos, o que afetou também o desenvolvimento de técnicas de engenharia, que passaram a se restringir a conceitos práticos pouco estruturados. Os árabes, sobretudo durante o período da expansão islâmica, incorporaram técnicas romanas sobretudo utilizadas em fortificações, embora já possuíssem conhecimentos na construção de grandes mesquitas.
Não havia método científico nas construções, pelo que eram baseadas no sistema de tentativa e erro, sendo numerosos os exemplos de colapso de estruturas. Neste período nota-se, ainda, a criação de grandes fortificações em castelos, para prevenir invasões. Houve um avanço na utilização de rodas de água para transportar água e mover moinhos. Ocorreram também avanços na construção de canais navegáveis.
Era moderna.
A partir da Renascença, o profissional engenheiro passou a ganhar importância e reconhecimento, ao contrário do período medieval em que projetos eram criados por artesãos. Um dos pioneiros do período foi Filippo Brunelleschi, que projetou o domo da catedral de Santa Maria del Fiore em Florença. Ainda com o surgimento da impressão de livros, começaram a surgir os primeiros manuais com técnicas de projeto e construção.
Posteriormente, a Revolução Industrial começava a mudar radicalmente o perfil da Inglaterra, o que posteriormente viria a acontecer no restante da Europa. A população começou a migrar da zona rural para as cidades para trabalharem nas indústrias. As obras estruturais necessárias para o desenvolvimento industrial era geralmente conduzida por engenheiros militares. No entanto, em 1768, o inglês John Smeaton se autodenominou 'engenheiro civil' para diferenciar-se dos profissionais militares, criando assim uma nova e distinta profissão. Poucos anos depois criou a Sociedade dos Engenheiros Civis, com a finalidade de reunir profissionais para conceber e executar grandes projetos.
A Revolução Industrial trouxe consigo novas técnicas e materiais pertinentes à engenharia. A Ponte de Ferro, no Reino Unido, foi a primeira ponte de arco construída somente com ferro fundido, o que é considerado um marco na história. Conforme ocorria o crescimento econômico, era cada vez maior a necessidade de se acelerar os transportes. Por isso, houve grande ampliação do sistema de canais e posteriormente surgiu a primeira ferrovia. A utilização do ferro como elemento estrutural causou grandes mudanças, especialmente por conta de sua resistência, capacidade de pré-fabricação e facilidade de montagem. Os engenheiros civis, a partir de então, puderam inovar no formato dos prédios, além de agilizar sua construção. Houve ainda inovação no que se refere à construção de túneis, a partir do primeiro construído sob o rio Tâmisa em Londres para a criação do sistema metroviário londrino.
A partir do século XX, a engenharia como um todo passou a se desenvolver e se especializar sobretudo por conta dos avanços científicos e fundamentações teóricas do comportamento dos materiais. A partir de então surgiram grandes estruturas antes inimagináveis, como o Viaduto de Millau, na França, a mais alta ponte para veículos do mundo, e o Burj Khalifa, o mais alto edifício do mundo, com mais de oitocentos metros de altura. A Sociedade Americana de Engenheiros Civis compilou uma lista com as sete maravilhas do mundo moderno, das quais destacam-se o Eurotúnel, sob o estreito de Dover entre o Reino Unido e a França, o canal do Panamá, que liga o oceano Pacífico ao Atlântico e a Usina Hidrelétrica de Itaipu entre o Brasil e o Paraguai.
Formação.
A demanda de profissionais especializados logo demandou o surgimento de centros de ensino voltados para a engenharia. O primeiro deles foi a École Polytechnique em Paris, criada no ano de 1794. Várias décadas depois academias surgiram pela Europa e Estados Unidos, onde, em 1835, formaram-se os primeiros engenheiros civis pela Instituto Politécnico Rensselaer.
É necessária para a formação de um engenheiro civil uma forte base na área de ciências exatas, especialmente matemática e física, além da análise de dados, concepção, planejamento e execução de sistemas, identificação e solução de problemas e uso prático de técnicas e habilidades. Desta forma, o curso geralmente apresenta uma combinação de várias especialidades científicas, como mecânica, hidráulica, geotécnica, ciências dos materiais e análises estatísticas. Estes conhecimentos passam a ser aplicados para o desenvolvimento de projetos, especialmente com o uso de ferramentas de desenho assistido por computador (CAD). O período de formação em engenharia civil leva entre três anos para o grau de licenciatura ou cinco anos para o grau de mestrado. São grandes ainda as opções de especialização, dada a vasta gama de temas que um curso de engenharia civil abrange. Deve haver ainda uma preocupação durante a formação no que se refere a conceitos de legislação, economia e ética, uma vez que as atividades de um engenheiro civil afetam grande parte dos segmentos da sociedade.
Curso.
No grande geral as universidades oferecem aos acadêmicos cursos com dez períodos semestrais (cinco anos) quando estes são lecionados em dois períodos diários (p.ex. matutino e vespertino), também é possível encontrar cursos apenas noturnos, que são ofertados para que os acadêmicos possam trabalhar, mas estes duram em média sete a oito anos.
Formação em T.
O Engenheiro Civil do século XXI é assim um ser com formação e conhecimento em forma de T (T-shape), onde a barra vertical representa o conhecimento específico de uma especialidade (engenharia civil) e a barra horizontal refere-se ao conhecimento transversal de outras especialidades e áreas de intervenção (mecânica, eletrotécnica, ciência computacional, gestão e comunicação). Quanto maior a barra vertical, mais profundo é o conhecimento no campo da engenharia civil. Por outro lado, quanto mais larga a barra horizontal, maior o conhecimento generalista e a habilidade de se relacionar com outros campos do saber, fomentando assim a criatividade individual, a inovação e o sucesso profissional.
Atuação profissional.
Um engenheiro civil é um profissional capacitado para conceber, projetar e construir os mais diversos componentes da infraestrutura necessários para o bem-estar e desenvolvimento da sociedade. O local de trabalho de um engenheiro varia conforme a especialidade escolhida, embora a maioria trabalhe em firmas de consultoria, que criam projetos e soluções para construção de determinada estrutura. Existem ainda muitas possibilidades no setor público, desde o âmbito municipal até federal, além da possibilidade de atuar em carreira militar ou no setor industrial. Tipicamente o engenheiro precisa visitar os locais de obra e trabalhar com diferentes equipes técnicas especializadas. A Associação Americana de Engenheiros Civis define engenharia civil como sendo:
Em geral, um engenheiro civil deve ser um profissional devidamente preparado com base em aspectos teóricos que lhe conferem uma habilidade de análise racional das situações. Desta forma, é necessária uma sólida formação em ciências exatas, especialmente matemática e física. Além disso, o profissional deve seguir um código de ética, dada a importância de sua função na sociedade, que inclui realizar seu trabalho de forma responsável, buscando sempre contribuir ao máximo para o bem estar da sociedade. Um atributo indispensável de um engenheiro civil é a sua capacidade de comunicação e liderança, visto que frequentemente é necessária a coordenação entre diversos tipos de profissionais para uma determinada finalidade.
Existem na maioria dos países associações de engenheiros civis que buscam a troca de conhecimento e a divulgação e aperfeiçoamento de técnicas. As pioneiras e atualmente mais importantes são o Instituto Britânico de Engenheiros Civis e a Sociedade Americana de Engenheiros Civis. Para exercer a profissão, o engenheiro civil precisa obter certificação e licença formal, tipicamente fornecida por estas associações. No Brasil, a certificação é fornecida pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, através de seus conselhos regionais. Em Portugal, a validação do diploma é feita pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior.
As tendências atribuídas para a engenharia civil estão diretamente relacionadas às transformações naturais, sociais e econômicas que o mundo tem experimentado nas últimas décadas. Com a migração da população para as cidades será necessário a utilização racional dos recursos naturais, utilizando meios sustentáveis de desenvolvimento. Será necessário o aumento, melhoria e manutenção da infraestrutura urbana, além da maior preocupação no fornecimento de água, energia aliados à correta disposição dos resíduos gerados. Desta forma, o engenheiro tem papel fundamental na determinação dos rumos do desenvolvimento, tendo em vista os benefícios à sociedade e a proteção do ambiente.
A engenharia civil, por sua própria natureza, é uma área na qual erros causam grandes consequências. Desta forma, o profissional deve desenvolver com o máximo de atenção para evitar erros atribuídos a omissões, falta de planejamento, erros durante o processo de construção e relacionados à qualidade dos componentes. Há a necessidade de avaliação cuidadosa do ambiente na qual determinada estrutura será instalada, a fim de garantir sua durabilidade a longo prazo. Um engenheiro precisa, ainda, ser capaz de aprender com erros anteriores relatados em outras obras, de forma que haja minimização dos riscos. Dentre os exemplos notáveis de falhas estão o desabamento do teto do terminal 2 do Aeroporto de Paris-Charles de Gaulle em 2004 e a Ponte Tacoma Narrows que, em 1940, entrou em colapso por ação do vento.
Áreas do conhecimento.
Um engenheiro civil tipicamente interage com a interface dos projetos e seu ambiente de implantação. Em geral é capaz de aplicar os princípios básicos de construção, estruturais, geotécnicos, hidráulicos e de transporte para a construção de edifícios residenciais, industriais ou outras obras públicas de diferentes tipos e finalidades. Contudo, há a necessidade de se interagir em diversas ocasiões com profissionais especializados em uma determinada área, dada a abrangência desta profissão.
Construção civil
Sistemas estruturais
Geotecnia
Transportes
Hidrotecnia
Recursos Energéticos.
Dentre as áreas de atuação de um engenheiro civil, está a de Recursos Energéticos. Esse profissional pode se relacionar com fontes de energia relacionadas com Engenharia ambiental, como as tradicionais, alternativas e renováveis, com sistemas e métodos de conversão e conservação de energia, com impactos energéticos ambientais e com a eficientização ambiental de sistemas energéticos vinculados ao campo de atuação da engenharia ambiental.
Como é característica da área de engenharia civil, há diversas funções que podem ser desempenhadas por esse engenheiro que envolve recursos energéticos. O mercado de trabalho é constituído por Empresas Públicas, Privadas ou de Economia Mista, Órgãos Governamentais nas três esferas de governo, além de organizações sociais de interesse público e Organizações não Governamentais.
As atividades desenvolvidas são várias, dentre elas o diagnóstico do melhor tipo e melhores condições de uso de energia, planejar e coordenar o processo de implantação de usinas e analisar os impactos (sociais, econômicos e ambientais) no local de instalação, desenvolver tecnologia para a geração, uso e transformação de energia e a otimização do consumo de energia nas indústrias, com o objetivo de reduzir gastos.
Os locais de atuação podem ser em escritórios ou em campo, fixo ou variável, dependendo da atividade desenvolvida pelo profissional. Por exemplo, para analisar impactos de instalação de usinas, o trabalho envolve pesquisa em campo e em escritório.
Construção.
Este ramo lida com a execução e gerenciamento de obras, levando em conta custos, eficiência e segurança. Dentre as atividades desenvolvidas, destacam-se a criação de fundações, concretagem, acabamento, construção de pontes e túneis, dentre muitos outros exemplos. O profissional especializado nesta área deve possuir domínio sobre as técnicas e equipamentos modernos disponíveis. Dentre as funções de gerenciamento busca-se a economia e a utilização racional dos recursos disponíveis com o objetivo principal de aumentar a eficiência. O profissional é responsável ainda pela utilização dos materiais de qualidade que visem a segurança e a durabilidade da obra a longo prazo, além de organizar toda a logística necessária para o transporte e a utilização dos materiais, funcionários e equipamentos. Este segmento lida ainda com os aspectos legais de uma obra, como a criação e revisão de contratos e concordância com a legislação vigente.
Transportes.
Esta subdisciplina tem como fundamento o estudo das infraestruturas relacionadas direta ou indiretamente com sistemas de transportes e seu possível desenvolvimento e manutenção. O princípio básico desta área é o transporte de pessoas e mercadorias de forma rápida, econômica e segura. Desta forma, esta especialidade lida com o desenho, planificação e manutenção de rodovias, ferrovias, sistemas hidroviários e aeroviários e as suas interações, de forma a criar uma rede eficiente. Desta forma, o engenheiro de transportes pode atuar desde a concessão de uma via de transporte e sua construção até ao planejamento e gerenciamento do tráfego.
Estruturas.
Focada no projeto de estruturas em edificações, a engenharia estrutural busca a concepção de elementos seguros e econômicos para fornecer rigidez e resistência a um edifício. Portanto, são necessários o uso de princípios físicos, conhecimento das características dos materiais e ferramentas computacionais para realizar o dimensionamento correto de vigas, colunas e outros elementos, inclusive a fundação. O engenheiro estrutural pode escolher dentre os diversos materiais disponíveis no mercado, de acordo com a necessidade de cada projeto. Pode atuar nos mais diversos segmentos de obras, desde prédios, pontes e túneis até plataformas de petróleo e gás em alto mar.
Recursos hídricos.
O campo dos recursos hídricos incluem uma série de métodos e conhecimentos relacionados a processos hidrológicos e hidráulicos utilizados como base para o planejamento e dimensionamento de estruturas para realizar o fornecimento de água, prevenção de enchentes, criação de redes de irrigação e geração de energia, dentre muitas outras aplicações. Em geral, este ramo engloba todos os campos do conhecimento que, de alguma forma, relacionam-se com a água, desde o subsolo, rios, lagos e oceanos até o gerenciamento de água da chuva. Além de sistemas de distribuição de água, um engenheiro hidráulico atua na construção de canais, usinas hidroelétricas, sistemas de proteção costeiros, dentre inúmeros outros exemplos. Um engenheiro hídrico também deve preocupar-se com os impactos ambientais de suas obras, especialmente sobre a vida aquática, além de aspectos dos arredores como estética e utilização pública.
Geotécnica.
A engenharia geotécnica é o ramo que se preocupa com os componentes que se encontram na superfície terrestre, como o solo e as rochas, e sua principal aplicação refere-se ao comportamento e a capacidade destas estruturas ao receberem sobre si a fundação das demais obras de infraestrutura, especialmente suas fundações. Dentre os atributos analisados na mecânica dos solos e das rochas, incluem sua origem, distribuição granulométrica, capacidade de drenagem, resistência à compressão e capacidade de cargas, dentre outros.
A análise destas variáveis é necessária para que se obtenha segurança e firmeza duradouras, uma vez que todo o peso de uma determinada estrutura é transferido para o solo, e este deve ser capaz de suportar tal estrutura. Um dos exemplos mais notáveis de erros relacionados ao mal planejamento geotécnico é a Torre de Pisa, inclinada porque o solo sob sua base não suportou o peso e afundou, de forma que a torre perdesse seu alinhamento. Reforços na estrutura são responsáveis por mantê-la ainda de pé.
Ambiental.
Lida com a interação entre os elementos abióticos e a biosfera, especialmente no que se refere à proteção ambiental, manejo de recursos e minimização dos impactos ambientais. Destaca-se nesta área de atuação a distribuição de água e criação de infraestruturas para o saneamento básico. Com a crescente urbanização, tornou-se cada vez maior a demanda de componentes hidrossanitários e, consequentemente, manutenção da saúde pública. Os resíduos gerados também precisam ser tratados para que não haja poluição dos rios ou de qualquer outro local de despejo. Muitos locais, contudo, ainda enfrentam problemas severos com a poluição, especialmente provocada por detritos industriais, além do despejo incorreto de lixo, dentre outros. Desta forma, a engenharia ambiental procura entender todos os impactos provocados no ambiente e suas consequências, inclusive, para a população, além de propor possíveis soluções para que as atividades humanas causem o menor prejuízo possível para os ecossistemas.
Mapeamento.
Para que haja a criação de uma nova infraestrutura é imprescindível que haja um levantamento detalhado da área a ser ocupada, o que é feito por meio de mapeamentos conforme o futuro da construção. O profissional especializado é responsável pela coleta de dados em campo e confecção de mapas que servirão de base para o planejamento. Desta forma, são efetuadas medidas em determinados pontos, cujos dados são reunidos de forma a criar um modelo do terreno. Estes dados podem ser coletados com uma vasta gama de equipamentos existentes, desde instrumentos rústicos como teodolitos e fitas métricas para a determinação de ângulos e distâncias, até estações totais e o Sistema de Posicionamento Global (GPS), cada um de acordo com as circunstâncias. Existe ainda a possibilidade de atuação em áreas como planejamento urbano, gerenciamento de situações de desastre e manejo ambiental, utilizando técnicas modernas como os sistemas de informações geográficas, sensoriamento remoto e fotografias aéreas, dentre outras.
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806 | Edgar Allan Poe | Edgar Allan Poe
Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, em Massachusetts, nos Estados Unidos, 19 de janeiro de 1809 – Baltimore, em Maryland, nos Estados Unidos, 7 de outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico em seu país. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores norte-americanos de contos e é, geralmente, considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difíceis.
Ele nasceu como Edgar Poe, em Boston, em Massachusetts. Quando jovem, ficou órfão de mãe, a qual morreu pouco depois de seu pai abandonar a família. Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido John Allan, de Richmond, na Virgínia, mas nunca foi formalmente adotado. Ele frequentou a Universidade da Virgínia por um semestre, passando a maior parte do tempo entre bebidas e mulheres. Nesse período, teve uma séria discussão com seu pai adotivo e fugiu de casa para se alistar nas forças armadas, onde serviu durante dois anos antes de ser dispensado. Depois de falhar como cadete em West Point, deixou a sua família adotiva. Sua carreira começou humildemente com a publicação de uma coleção anônima de poemas, "Tamerlane and Other Poems" (1827).
Poe mudou seu foco para a prosa e passou os anos seguintes trabalhando para revistas e jornais, tornando-se conhecido por seu estilo próprio de crítica literária. Seu trabalho obrigou-o a se mudar para diversas cidades, incluindo Baltimore, Filadélfia e Nova Iorque. Em Baltimore, casou-se com Virginia Clemm, sua prima de 13 anos de idade. Em 1845, Poe publicou seu poema "The Raven", o qual foi um sucesso instantâneo. Sua esposa morreu de tuberculose dois anos após a publicação. Ele começou a planejar a criação de seu próprio jornal, "The Penn" (posteriormente renomeado para "The Stylus"), porém, em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, morreu antes que o jornal pudesse ser produzido. A causa de sua morte é desconhecida e foi, por diversas vezes, atribuída ao álcool, congestão cerebral, cólera, drogas, doenças cardiovasculares, raiva, suicídio, tuberculose, entre outros agentes.
Suas obras influenciaram a literatura nos Estados Unidos e ao redor do mundo, bem como em campos especializados, tais como a cosmologia e a criptografia. Poe e seu trabalho aparecem ao longo da cultura popular na literatura, música, filmes e televisão. Várias de suas casas são dedicadas como museus atualmente.
História.
Edgar Allan Poe nasceu no seio de uma família escocesa-irlandesa, em 19 de janeiro de 1809, na cidade de Boston, no estado de Massachusetts, na região americana da Nova Inglaterra, no nordeste do país. Segundo filho dos atores David Poe Jr. (1784-1811), americano, e Elizabeth Arnold Hopkins Poe (1787-1811), inglesa, ele teve, ainda, um irmão mais velho, William Henry, nascido em 1808, e uma irmã, a mais nova, Rosalie, nascida em 1811. Seu pai abandonou-os quando Edgar tinha cerca de um ano e meio de vida, em 1810, deixando ele, o irmão Henry e Elizabeth, esta grávida novamente, desamparados. Ela morreu poucas semanas depois de dar, à luz, Rosalie, já em 1811, devido tanto a complicações no parto quanto à tuberculose, deixando os três filhos órfãos.
Depois da morte da mãe, o irmão mais velho de Edgar, Henry, foi mandado para casa de parentes no interior do país, enquanto sua irmã, Rosalie, foi enviada formalmente para a adoção. Já Edgar foi acolhido, embora não formalmente adotado, pelo empresário John Allan e sua esposa, Francis Allan, que residiam na época na cidade de Richmond, no estado da Virgínia, no sudeste do país. O casal nunca o adotou legalmente, embora John tenha lhe dado o seu sobrenome, fazendo com que Edgar se chamasse, a partir de então, Edgar Allan Poe. No entanto, John Allan e Edgar nunca conseguiram desenvolver uma boa relação, sendo que algumas fontes afirmam que Allan só acolheu o menino para criá-lo por insistência de sua esposa, Francis. De fato, Edgar se mostrou desde pequeno mais apegado à mãe adotiva do que ao pai, que permanecia sempre distante, o que fomentou, direta e indiretamente, a difícil relação estabelecida entre os dois a partir da adolescência e fase adulta do escritor, permeada por constantes brigas e discussões que ambos teriam ao longo da vida de Poe.
Com os pais adotivos de boa situação financeira, Edgar recebeu uma educação formal de qualidade em sua infância. Em 1815, aos seis anos de idade, se mudou com eles para a Inglaterra, onde seu pai adotivo esperava expandir seus negócios. Lá, eles se estabeleceram por alguns anos no coração da capital, Londres. Na capital britânica, depois de frequentar a "Misses Duborg School" e a "Manor School", Poe regressou com a família de Allan a Richmond em 1820, aos onze anos, tendo sido então matriculado em um colégio interno localizado nos arredores de Charlottesville, na Virgínia. Mais tarde, já adolescente, em 1826, foi admitido na Universidade da Virgínia, também em Charlottesville. Desta, viria a ser expulso depois de cerca de um ano de frequência, graças ao seu estilo aventureiro e boêmio.
Na sequência de desentendimentos com o seu pai adotivo, relacionados com dívidas de jogo, Poe alistou-se nas forças armadas, sob o nome Edgar A. Perry, no ano de 1827. Nesse mesmo período, Poe publicou o seu primeiro livro, "Tamerlane and Other Poems". Depois de dois anos de serviço militar, acabaria por ser dispensado. Em 1829, a sua mãe adotiva, Francis, faleceu, e ele publicou o seu segundo livro, "Al Aaraf", reconciliando-se com o seu pai adotivo, John Allan, que o auxiliou a entrar na Academia Militar de "West Point". Em virtude da sua supostamente propositada desobediência a ordens, ele acabou por ser expulso desta academia, em 1831, fato pelo qual o seu pai adotivo o repudiou até a sua morte, em 1834.
Antes de entrar em "West Point", Poe mudou-se para Baltimore, no estado de Maryland, onde estabeleceu-se na casa da sua tia viúva, Maria Clemm, e da sua filha, Virgínia Clemm, sua prima em primeiro grau. Durante esta época, Poe usou a escrita de ficção como meio de subsistência e, no final de 1835, tornou-se editor do jornal "Southern Literary Messenger" em Richmond, tendo trabalhado nesta posição até 1837. Neste intervalo de tempo, Poe acabaria por casar-se, em segredo, com a sua prima Virgínia, de treze anos, em 1836.
Em 1837, Poe mudou-se para Nova Iorque, onde passaria quinze meses aparentemente improdutivos, antes de se mudar em definitivo para a Filadélfia, na Pensilvânia, pouco depois de publicar "The Narrative of Arthur Gordon Pym". No verão de 1839, tornou-se editor assistente da "Burton's Gentleman's Magazine", onde publicou um grande número de artigos, histórias e críticas literárias e teatrais. Nesse mesmo ano, foi publicada, em dois volumes, a sua coleção "Tales of the Grotesque and Arabesque" (traduzido para o francês por Baudelaire como "Histoires Extraordinaires" e para o português como "Histórias Extraordinárias"), que, apesar do insucesso financeiro, é apontada como um marco da literatura norte-americana.
Durante este período, sua esposa Virgínia Clemm-Poe, começou a sofrer de tuberculose, que a tornaria inválida e acabaria por levá-la à morte. A doença da mulher acabou por levar Poe ao consumo excessivo de álcool. Algum tempo depois, Poe deixou a "Burton's Gentleman's Magazine" para procurar um novo emprego. Regressou a Nova Iorque, onde trabalhou brevemente no periódico "Evening Mirror", antes de se tornar editor do mais renomado "Broadway Journal". Foi no "Evening Mirror", porém, no início de 1845, publicado o seu popular poema "The Raven" (em português, "O Corvo").
Em 1846, o "Broadway Journal" faliu, e Poe mudou-se para uma casa no Bronx, hoje conhecida como "Poe Cottage" e aberta ao público, onde Virgínia morreu no ano seguinte. Biógrafos e críticos costumam sugerir que o tema de "morte de mulheres bonitas" que aparece frequentemente em suas obras decorre da perda de mulheres ao longo de sua vida, incluindo sua esposa.
Cada vez mais instável, após a morte da mulher, Poe tentou cortejar a poeta Sarah Helen Whitman. No entanto, o seu noivado com ela acabaria por falhar, alegadamente em virtude do comportamento errático e alcoólico de Poe, mas bastante provavelmente também devido à intromissão da mãe de Sarah, que não via Edgar com bons olhos. Nesta época, segundo ele mesmo relatou, Poe tentou o suicídio por superdosagem de láudano, e acabou por regressar a Richmond, onde retomou a relação com uma paixão de infância, Sarah Elmira Royster, já viúva.
Morte.
No dia 3 de outubro de 1849, Poe foi encontrado nas ruas de Baltimore, com roupas que não eram as suas, em estado de "delirium tremens", e levado para o Washington College Hospital, onde veio a morrer apenas quatro dias depois. Poe nunca conseguiu estabelecer um discurso suficientemente coerente, de modo a explicar como tinha chegado à situação na qual foi encontrado. As suas últimas palavras teriam sido, de acordo com determinadas fontes, "Lord, please, help my poor soul", em português, "Senhor, por favor, ajude minha pobre alma".
Nunca foram apuradas as causas precisas da morte de Poe, sendo bastante comum, apesar de não comprovada, a ideia de ter sido causada por embriaguez. Por outro lado, muitas outras teorias têm sido propostas ao longo dos anos, entre as quais estão presentes: diabetes, sífilis, raiva, e doenças cerebrais raras.
Estilo literário e temas.
Gêneros.
As obras mais conhecidas de Poe são góticas, um gênero que ele seguiu para satisfazer o gosto do público. Seus temas mais recorrentes lidam com questões da morte, incluindo sinais físicos dela, os efeitos da decomposição, interesses por pessoas enterradas vivas, a reanimação dos mortos e o luto. Muitas das suas obras são geralmente consideradas partes do gênero do romantismo sombrio, uma reação literária ao transcendentalismo, do qual Poe fortemente não gostava.
Além do horror, Poe também escreveu sátiras, contos de humor e embustes. Para efeito cômico, ele usou a ironia e a extravagância do ridículo, muitas vezes na tentativa de liberar o leitor da conformidade cultural. De fato, "Metzengerstein", a primeira história que Poe publicou, e sua primeira incursão em terror, foi originalmente concebida como uma paródia satirizando o gênero popular. Poe também reinventou a ficção científica, respondendo na sua escrita às tecnologias emergentes como balões de ar quente em ""The Balloon-Hoax".
Poe escreveu muito de seu trabalho usando temas especificamente oferecidos para os gostos do mercado em massa. Para esse fim, sua ficção incluiu, muitas vezes, elementos da pseudociência popular, como frenologia e fisiognomia.
Poe ainda escreveu teatro, publicando entre 1835 e 1836 o drama incompleto "Politian."
Teoria literária.
A escrita de Poe reflete suas teorias literárias, que ele apresentou em sua crítica e também em peças literárias como "The Poetic Principle"".
Ele não gostava de didatismo e alegoria, pois acreditava que os significados na literatura deveriam ser uma subcorrente sob a superfície. Trabalhos com significados óbvios, ele escreveu, deixam de ser arte. Acreditava que o trabalho de qualidade deveria ser breve e concentrar-se em um efeito específico e único. Para isso, acreditava que o escritor deveria calcular cuidadosamente todos os sentimentos e ideias.
Em "The Philosophy of Composition", uma peça na qual Poe descreve seu método de escrita em "The Raven", ele afirma ter seguido estritamente este método. Porém, foi questionado se ele realmente seguiu esse sistema.
T. S. Eliot disse: "É difícil para nós lermos esta peça sem pensar se Poe escreveu seu poema com tanto cálculo, ele poderia ter pensado um pouco mais sobre isto: o resultado dificilmente pode ser creditado ao método". O biógrafo Joseph Wood Krutch descreveu a peça como "um exercício um tanto engenhoso na arte de racionalização".
Legado.
Influência Literária.
Durante sua vida, Poe era sobretudo conhecido como um crítico literário. James Russell Lowell, também crítico, dizia que ele era "o mais distinto, filosófico e destemido crítico de obras que tem escrito na América", sugerindo – retoricamente – que ele ocasionalmente usava ácido prússico ao invés de tinta. As críticas cáusticas de Poe fizeram com que ele ganhasse o apelido de "Homem da Machadinha". Seu alvo favorito era o poeta de Boston, aclamado em sua época, Henry Wadsworth Longfellow, que era frequentemente defendido por seus companheiros literários no que seria mais tarde chamada de "A Guerra de Longfellow". Poe acusava Longfellow de "a heresia da didática", escrevendo poesias enfadonhas, derivativas e tematicamente plagiadas.
Poe também era conhecido como um escritor de ficção e se tornou um dos primeiros escritores americanos do século XIX a se tornar mais popular na Europa do que nos Estados Unidos. Poe era respeitado especialmente na França, em parte devido às traduções sem demora de Charles Baudelaire, que vieram a se tornar as edições definitivas das obras de Poe pela Europa.
Os contos de detetive de Poe com o personagem C. Auguste Dupin acabariam por se tornar a base para as futuras histórias de detetive da literatura. Segundo "sir" Arthur Conan Doyle: "Cada uma [das estórias de detetive de Poe] é uma raiz da qual toda uma literatura se desenvolveu... Onde estavam as estórias de detetives antes de Poe soprar o sopro da vida nelas?". A associação "Mystery Writers of America" nomeou seus prêmios para a excelência no gênero de "Edgars". Poe também influenciou o gênero de ficção científica, especialmente Jules Verne, que escreveu uma continuação para o romance de Poe "A Narrativa de Arthur Gordon Pym" chamada "Le Sphinx des glaces" ("A esfinge dos gelos"). Segundo o autor de ficção científica H. G. Wells, ""Pym" conta o que uma mente muito inteligente poderia imaginar sobre o polo sul há um século atrás".
Assim como diversos artistas famosos, as obras de Poe geraram diversos imitadores. Uma interessante tendência entre os imitadores de Poe, no entanto, eram as alegações de clarividentes ou pessoas com poderes paranormais de estarem canalizando poemas do espírito de Poe. O mais notável destes casos foi o de Lizzie Doten, que em 1863 publicou "Poems from the Inner Life", no qual ela alega ter "recebido" novas obras pelo espírito do autor. Estas obras constituíam-se de retrabalhos de poemas famosos de Poe como The Bells (poema) refletindo uma nova perspectiva, mais positiva.
No entanto, Poe também era alvo de criticismo. Isto era parcialmente devido à visão negativa que existia devido ao seu caráter pessoal e à influência que este tinha em sua reputação. William Butler Yeats, ocasionalmente, criticava Poe e, uma vez, chegou a chamá-lo de "vulgar". Transcendentalista Ralph Waldo Emerson reagiu ao poema "O Corvo" dizendo que "não via nada de mais nele", referindo-se a Poe de modo zombeteiro como "o homem do chocalho". Aldous Huxley escreveu que a composição literária de Poe "cai na vulgaridade" por ser "muito poética" – o equivalente a usar um anel de diamantes em cada dedo.
Acredita-se que apenas doze cópias do primeiro livro de Poe, "Tamerlane and Other Poems", ainda existem. Em dezembro de 2009, foi vendida uma cópia na sociedade de leilões Christie's, em Nova Iorque, por 662 500 dólares estadunidenses, um preço recorde pago por uma obra da literatura americana.
Física e Cosmologia.
"Eureka: Um poema em prosa", dissertação escrita em 1848, contém uma teoria cosmológica que previu a teoria do "Big Bang" oitenta anos antes do seu surgimento, assim como uma solução plausível para o paradoxo de Olbers. Poe ignorou o método científico em "Eureka" e, ao invés disso, escreveu utilizando apenas sua intuição. Por esta razão, ele a considerou uma obra de arte ao invés de um trabalho científico, mas insistiu que, ainda assim, era verdadeiro, e a considerou ser a obra-prima de sua carreira. Ainda assim, "Eureka" está repleta de erros científicos. Em particular, as sugestões de Poe ignoram as leis de Newton relacionadas à densidade e rotação de planetas.
Criptografia.
Poe tinha um grande interesse em criptografia. Ele notou pela primeira vez suas habilidades no periódico da Filadélfia "Alexander's Weekly (Express) Messenger", que estava convidando leitores a submeterem cifras, o qual ele procedeu a resolver. Em julho de 1841, Poe escreveu um artigo chamado "Algumas palavras sobre Escrita Secreta" no periódico "Graham's Magazine". Se aproveitando do interesse público no tópico, ele escreveu "O Escaravelho de Ouro", incorporando cifras como parte essencial da estória. O sucesso de Poe com criptografia não dependia muito de seu conhecimento profundo do campo (seu método era limitado a simples cifra de substituição), mas sim no conhecimento adquirido da cultura de jornais e periódicos. Sua afiada habilidade analítica, tão evidente em suas estórias de detetive, permitia que ele visse que o público em geral não possuía o conhecimento necessário para saber como um simples criptograma de substituição podia ser resolvido, e ele usava isso a seu favor. A comoção criada por suas façanhas criptográficas desempenhou um papel importante em popularizar criptogramas em jornais e revistas.
Poe teve uma influência na criptografia, além de incrementar o interesse público por ela durante sua vida. William F. Friedman, um dos principais criptologistas da América, foi profundamente influenciado por Poe. O interesse inicial de Friedman por criptografia veio após ele ler "O Escaravelho de Ouro" quando criança, interesse este que, mais tarde, seria posto em uso para decifrar códigos da máquina "Púrpura", pertencente ao Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.
Obras.
Contos
Poesia
Outras obras
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807 | Ernst Weiss | Ernst Weiss
Ernst Weiss ou Ernst Weiß (Weinberg perto de Brno, 28 de outubro de 1882 - Paris, 15 de junho de 1940), foi um médico e escritor judeu do Império Austríaco.
Franz Kafka, amigo de Weiss, ajudou-o a publicar a sua primeira obra "Die Galeere" que tinha sido rejeitada por diversos editores.
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808 | Ernest Hemingway | Ernest Hemingway
Ernest Miller Hemingway (Oak Park, 21 de julho de 1899 — Ketchum, 2 de julho de 1961) foi um escritor norte-americano. Trabalhou como correspondente de guerra em Madrid durante a Guerra Civil Espanhola . Esta experiência inspirou uma de suas maiores obras, "Por Quem os Sinos Dobram". Ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), se instalou em Cuba. Em 1953, ganhou o Prémio Pulitzer de Ficção, e, em 1954, ganhou o prêmio Nobel de Literatura. Suicidou-se em Ketchum, em Idaho, em 1961.
Biografia.
Ainda muito jovem, quando a Grande Guerra (1914-1918) assombrava o mundo, decidiu ir à Europa pela primeira vez. Hemingway havia terminado o segundo grau em Oak Park e trabalhado como jornalista no jornal "The Kansas City Star". Tentou alistar-se no exército, mas foi preterido por ter um problema na visão. Decidido a ir à guerra, conseguiu uma vaga de motorista de ambulância na Cruz Vermelha. Na Itália, apaixonou-se pela enfermeira Agnes Von Kurowsky, que viria a ser sua inspiração para a criação da heroína de Adeus às Armas (1929) – a inglesa Catherine Barkley. Atingido por uma bomba, retornou para Oak Park, que, no entanto, depois do que havia visto na Itália, tornara-se monótona demais para ele.
Voltou então à Europa (Paris) em 1921, recém-casado com Elizabeth Hadley Richardson, seu primeiro casamento, com quem teve um filho. Na ocasião, trabalhava para a revista canadense "Toronto Star Weekly" e, em início de carreira, se aproximou de outros principiantes: Ezra Pound , e Gertrude Stein . Hemingway era parte da comunidade de escritores expatriados em Paris conhecida como "Geração Perdida", nome inventado e popularizado por Gertrude Stein.
A vida e a obra de Hemingway têm intensa relação com a Espanha, país onde viveu por quatro anos. Uma breve mas marcante passagem para o escritor americano, que estabeleceu uma relação emotiva e ideológica com os espanhóis. Em Pamplona, em meados do , fascinou-se pela tauromaquia, chegando a tourear como amador, experiência que abordaria no seu livro "O Sol Também Se Levanta" (1926).
O seu segundo casamento (1927) foi com a jornalista de moda Pauline Pfeiffer, com quem viria a ter dois filhos. Em 1928, o casal decidiu morar em Key West, na Flórida. Em Key West, no entanto, o escritor sentiu falta da vida de jornalista e correspondente internacional. Ao mesmo tempo, o casamento com Pauline se tornou instável. Nessa época, conheceu Joe Russell, dono do "Sloppy Joe's Bar" e companheiro de farra.
Já na década de 1930, resolveu partir com o amigo para uma pescaria. Dois dias em alto-mar que terminaram em Havana, capital cubana, para onde passou a voltar anualmente na época da pesca ao marlim (entre os meses de maio e julho). Na cidade, hospedava-se no Hotel Ambos Mundos, em plena "Habana Vieja", bairro mais antigo da cidade, que se tornou o lar do escritor e o cenário que comporia sua história e a da própria ilha pelos próximos 23 anos. Duas décadas de turbulências que teriam, como desfechos, a revolução socialista e o suicídio do escritor.
Em Cuba, o escritor se apaixonou por Jane Mason, que era casada com o diretor de operações da Pan American Airways. Hemingway e Jane se tornaram amantes. Em 1936, novamente se apaixonou: desta feita pela destemida jornalista Martha Gellhorn, motivo do segundo divórcio, confirmando o que predissera seu amigo, Scott Fitzgerald, quando eles se conheceram em Paris: "Você vai precisar de uma mulher a cada livro". Assim, Hemingway partiu para a Espanha, onde Martha já estava, e, em meio à guerra, os dois viveram um romance que resultou no seu terceiro casamento. Ao cobrir a Guerra Civil Espanhola como jornalista do "North American Newspaper Alliance", não hesitou em se aliar às forças republicanas contra o fascismo, o que viria a ser o tema do livro "Por Quem os Sinos Dobram" (1940), considerada sua obra-prima. Quando a república espanhola caiu e a Europa vivia o prenúncio de um conflito generalizado, Hemingway retornou para Cuba com Martha.
Em Cuba, durante a Segunda Guerra Mundial, Hemingway montou uma rede de informantes com a finalidade de fornecer, ao governo dos Estados Unidos, informações sobre os espanhóis simpatizantes do fascismo na ilha. Também passou a patrulhar o litoral a bordo de seu iate Pilar na busca de possíveis submarinos alemães. Porém a Agência Federal de Investigação estadunidense via com desconfiança a colaboração de Hemingway, por considerá-lo um simpatizante do comunismo.
Em 1946, o escritor casou-se pela quarta e última vez: desta vez com Mary Welsh, também jornalista mas tímida e disposta a viver ao lado de um Hemingway cada vez mais instável emocionalmente. Levando uma vida turbulenta, Hemingway casou-se quatro vezes, além de ter tido vários relacionamentos românticos. Em 1952, publicou "O Velho e o Mar", com o qual ganhou o Prémio Pulitzer de Ficção (1953). Foi laureado com o Nobel de Literatura de 1954 devido ao seu ""domínio da arte da narrativa, mais recentemente demonstrado em "O Velho e o Mar", e pela influência que exerceu no estilo contemporâneo".
Suicídio.
Ao longo da vida do escritor, o tema suicídio aparece em escritos, cartas e conversas com muita frequência. Seu pai suicidou-se em 1929 por problemas de saúde e financeiros. Sua mãe, Grace, dona de casa e professora de canto e ópera, enviou-lhe, pelo correio, a pistola com a qual o seu pai havia se matado.
Aos 61 anos e enfrentando problemas de hipertensão, diabetes, depressão e perda de memória, na manhã de 2 de julho de 1961, em Ketchum, em Idaho, tomou um fuzil de caça e disparou contra si mesmo. Encontra-se sepultado no Cemitério de Ketchum, em Ketchum, no Condado de Blaine, em Idaho, nos Estados Unidos.
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809 | Entre Douro e Vouga | Entre Douro e Vouga
Localização doEntre Douro e Vouga
O Entre Douro e Vouga foi uma sub-região estatística portuguesa, já extinta, parte da Região Norte e da Área Metropolitana do Porto, integrados na nova NUTS III da Área Metropolitana do Porto. Todos os concelhos estão integrados no Distrito de Aveiro, na parte do seu extremo noroeste. Confina com o Grande Porto e o Tâmega, a leste com o Dão-Lafões e a sul e a oeste com o Baixo Vouga. Tem uma área de 859 km² e uma população de 274 859 habitantes (INE 2011).
Compreende 5 concelhos:
Notas.
Existem algumas diferenças entre os municípios do Entre Douro e Vouga, sendo que a área mais dinâmica e industrial corresponde aos concelhos da faixa ocidental, i.e., o eixo urbano constituído por Santa Maria da Feira, Oliveira de Azeméis e São João da Madeira. Esta é, de facto, uma região com uma densidade populacional elevada convergindo progressivamente para uma integração urbana cada vez mais efectiva. Em contraponto aparecem os municípios de Vale de Cambra e Arouca, com povoamento mais disperso, menores densidades populacionais e uma dinâmica industrial menos evidente.
Existe uma grande interacção socio-económica entre todos os concelhos do Entre Douro e Vouga e também destes com todos os municípios do Grande Porto.
Turismo.
O Entre Douro e Vouga está, ao nível turístico, abrangido pelo região de Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Lojas interativas de turismo:
- Arouca
- Oliveira de Azeméis
- Santa Maria da Feira
- São João da Madeira
Desporto.
Clubes de Futebol.
Existem diversos clubes no Entre Douro e Vouga, sendo que 3 disputam atualmente a Liga de Honra:
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810 | EEPROM | EEPROM
EEPROM (também escrita E2PROM, e pronunciada "e-e-prom"), sigla do inglês de "Electrically-Erasable Programmable Read-Only Memory", é um tipo de memória não-volátil usada em computadores e outros dispositivos eletrônicos para armazenar pequenas quantidades de dados que precisam ser salvos quando a energia é removida, por exemplo, dados de configuração do dispositivo. Apesar de no nome se declarar Read-Only, esse foi classificado incorretamente, pois é tanto Read/Ler, quanto Write/Escrever, pelo fato de que códigos de erro no OBD-II poderem ser removidos independentemente, dentre outras características. Este se assemelha à denominação incorreta de ROM dos smartphones, conforme a Ciência da Computação.
Ao contrário da maioria dos outros tipos de memória não-volátil, bytes individuais em uma EEPROM tradicional pode ser lidos, apagados e re-escrita de forma independente.
Atualmente já existe uma memória não-volátil mais moderna, derivada da EEPROM, a memória flash. Quando grandes quantidades de dados estáticos devem ser armazenados (por exemplo, em unidades flash USB) a memória flash é mais econômica do que os dispositivos tradicionais de EEPROM.
Enquanto uma EPROM é programada por um dispositivo eletrônico que dá tensões maiores do que os usados normalmente em circuitos elétricos e pode ser apagada apenas por exposição a uma forte luz ultravioleta, a EEPROM pode ser programada e apagada dentro do próprio circuito, eletricamente, pela aplicação de sinais de programação especiais. Originalmente, EEPROMs foram limitados a operações de byte único que os fizeram mais lento, mas EEPROMs modernos permitem operações com múltiplos bytes.
Embora uma EEPROM possa ser lida, um número praticamente ilimitado de vezes, ela possui uma vida útil limitada - isto é, o número de vezes que pode ser reprogramada (apagada e programada novamente) foi limitado a dezenas ou centenas de milhares de vezes, devido a contínua deterioração interna do "chip" durante o processo de exclusão que requer uma tensão elétrica mais elevada. Essa limitação foi estendido para um milhão de operações de gravação em EEPROM modernos. Entretanto essa vida útil da EEPROM, se torna uma importante consideração a ser feita, quando seu uso em um computador, por exemplo, tenha uma previsão de frequentes reprogramações. É por esta razão que EEPROMs foram utilizados para informações de configuração, ao invés de memória de acesso aleatório.
Como cada novo dado gravado no "chip" requer o apagamento do anterior, considera-se apagamento e gravação como uma só operação, porém seria possível gravar o mesmo endereço de memória um bit de cada vez, fazendo então oito gravações com um só prévio apagamento. Entretanto a maioria das memórias EEPROM faz o apagamento do conteúdo do endereço automaticamente antes da gravação.
Tecnologias mais novas como FRAM e MRAM estão aos poucos substituindo as EEPROMs em algumas aplicações
História.
Eli Harari na Hughes Aircraft, inventou a EEPROM em 1977 utilizando, o tunelamento de Fowler-Nordheim, esse processo utiliza de uma tensão elétrica, geralmente entre 10 a 13 volts, aplicados à porta flutuante, para mudar o valor da célula para "0", corrente essa que vem da coluna, ou bitline (linha de bits), entra na porta flutuante e é drenada para a fonte. E com uma tensão mais alta é possível fazer com que os elétrons nas células do chip de mémoria se tornem "1". A "Hughes" passou a produzir os primeiros dispositivos EEPROM. Em 1978, George Perlegos na Intel desenvolveu o Intel 2816, que foi construído anteriormente com a tecnologia EPROM, mas passou a utilizar uma camada de óxido de porta flutuante permitindo que o chip pudesse apagar seus próprios dados sem uma fonte de UV. Perlegos e outros desenvolvedores, deixaram a Intel para formar Seeq Technology, que utilizou novos dispositivos de carga para abastecer as altas voltagens necessárias para a programação de EEPROMs.
Funcionalidades da EEPROM.
Existem diferentes tipos de interfaces elétricas para dispositivos EEPROM . Principais categorias de estes tipos de interface são:
Como o dispositivo é operado depende da sua interface elétrica.
Barramento serial.
Os tipos de interface seriais mais comuns são , I²C, , , e 1-Wire. Estas interfaces requerem entre um e quatro sinais de controle para o funcionamento, resultando em um dispositivo de memória de oito pinos (ou menos) de pacote.
A EEPROM serial (ou SEEPROM) opera tipicamente em três fases: Fase de Código de Operação("OP-Code"), Fase de Endereçamento e Fase de Dados. O OP-Code é geralmente os 8 primeiros bits de entrada no pino serial do dispositivo EEPROM (ou com a maioria dos dispositivos I²C , está implícito); seguido de 8 a 24 bits de endereçamento, dependendo da profundidade do dispositivo, em seguida, os dados a serem lidos ou escritos.
Cada dispositivo EEPROM normalmente não tem o seu próprio conjunto de OP-Codes de instruções para mapear diferentes funções. Algumas das operações comuns em dispositivos EEPROM SPI são:
Outras operações suportadas por alguns dispositivos EEPROM são:
Barramento paralelo.
Dispositivos EEPROM paralelos normalmente têm um barramento de dados de 8 bits e um barramento de endereços grande o suficiente para cobrir o restante da memória. A maioria dos dispositivos têm seletor de chips e pinos com escrita protegida. Alguns microcontroladores também têm integrado EEPROM paralelo.
Operação de uma EEPROM paralela é simples e rápido quando comparado a EEPROM serial, mas estes dispositivos são maiores devido à maior quantidade de pinos (28 pinos ou mais) e sua popularidade têm vindo a diminuir em relação a EEPROM serial ou Flash.
Outros dispositivos.
Memória EEPROM, também é usada para habilitar recursos em outros tipos de produtos que não são estritamente produtos de memória. Produtos como relógios em tempo real, potenciômetros digitais, sensores de temperatura digital, entre outros, podem ter pequenas quantidades de EEPROM contendo informação para a calibração desses dispositivos ou outros dados que precisam estar disponíveis em caso de perda de energia. Ela também foi usada em cartuchos de jogos de vídeo game para salvar o progresso do jogo e configurações, antes do uso de memórias flash externo e interno.
Casos de falhas.
Existem duas limitações quanto ao armazenamento de dados, a resistência e a retenção de dados.
Durante regravações, a camada de óxido em transistores de porta flutuante gradualmente acumula elétrons presos. O campo elétrico dos elétrons presos acrescenta aos elétrons na porta flutuante, baixando a janela entre as tensões de zeros e uns. Depois de um número suficiente de ciclos de reescrita, a diferença torna-se demasiada pequena para ser reconhecível, a célula é presa no estado programado, e a falha de resistência ocorre. Os fabricantes normalmente especificam o número máximo de reescritas sendo 1 milhão ou mais.
Durante o armazenamento, os elétrons injetados na porta flutuante pode ser movimentado através do isolador, aumentando a temperatura e causando perda de carga, revertendo a célula ao estado apagado. Os fabricantes normalmente garante a retenção de dados de 10 anos ou mais.
Tipos relacionados.
A memória flash é uma variação moderna da EEPROM, mas existe na indústria uma convenção para reservar o termo EEPROM para as memórias de escrita bit a bit, não incluindo as memórias de escrita bloco a bloco, como as memórias flash. As EEPROM necessitam de maior área que as memórias flash, pois como são organizadas como matrizes de transistores de porta flutuante, cada célula geralmente necessita de um transistor de leitura e outro de escrita, ao passo que as ,células da memória flash só necessitam de um, justamente por utilizarem blocos.
Tecnologias de memória não-volátil, mais recentes como FeRAM e MRAM estão substituindo lentamente as EEPROMs em algumas aplicações, mas todavia uma fração do mercado deverá manter o uso de EEPROM em um futuro próximo.
Comparação entre EPROM e EEPROM/Flash.
A diferença entre EPROM e EEPROM está na maneira que as memórias são programadas e apagadas. EEPROM pode ser programada e apagada eletricamente usando emissão de elétrons de campo (mais comumente conhecida na indústria como "o tunelamento de Fowler-Nordheim").
As EPROMs não pode ser apagadas eletricamente, e são programados através de um mecanismo conhecido como aplicado na porta flutuante, e a exclusão é através de uma fonte de luz ultravioleta, embora na prática, muitas EPROM são encapsuladas em plástico que é opaco a luz UV, tornando-os "programável apenas uma vez ". Já a memória Flash é um estilo de programação híbrida e a exclusão,embora mais abrangente, se baseia na exclusão da EEPROM.
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811 | Eletromagnetismo | Eletromagnetismo
O eletromagnetismo, na física, é uma interação que ocorre entre partículas com carga elétrica por meio de campos eletromagnéticos. A força eletromagnética é uma das quatro forças fundamentais da natureza. É a força dominante nas interações de átomos e moléculas. O eletromagnetismo pode ser pensado como uma combinação de eletrostática e magnetismo, dois fenômenos distintos, mas intimamente interligados. As forças eletromagnéticas ocorrem entre quaisquer duas partículas carregadas, causando uma atração entre partículas com cargas opostas e repulsão entre partículas com a mesma carga, enquanto o magnetismo é uma interação que ocorre exclusivamente entre partículas carregadas em movimento relativo. Esses dois efeitos se combinam para criar campos eletromagnéticos nas proximidades de partículas carregadas, que podem acelerar outras partículas carregadas por meio da força de Lorentz. Em alta energia, a força fraca e a força eletromagnética são unificadas como uma única força eletrofraca.
A força eletromagnética é responsável por muitos dos fenômenos químicos e físicos observados na vida cotidiana. A atração eletrostática entre os núcleos atômicos e seus elétrons mantém os átomos juntos. As forças elétricas também permitem que diferentes átomos se combinem em moléculas, incluindo as macromoléculas, como as proteínas que formam a base da vida. Enquanto isso, as interações magnéticas entre os momentos magnéticos de e momento angular dos elétrons também desempenham um papel na reatividade química; tais relações são estudadas na . O eletromagnetismo também desempenha um papel crucial na tecnologia moderna: produção, transformação e distribuição de energia elétrica; produção e detecção de luz, calor e som; fibra ótica e comunicação sem fio, sensores; computação; eletrólise; galvanoplastia; e motores e atuadores mecânicos.
O eletromagnetismo tem sido estudado desde os tempos antigos. Muitas civilizações antigas, incluindo os gregos e os maias, criaram teorias abrangentes para explicar raios, eletricidade estática e a atração entre pedaços magnetizados de minério de ferro. No entanto, não foi até o final do século XVIII que os cientistas começaram a desenvolver uma base matemática para entender a natureza das interações eletromagnéticas. Nos séculos XVIII e XIX, cientistas e matemáticos proeminentes como Coulomb, Gauss e Faraday desenvolveram leis homônimas que ajudaram a explicar a formação e a interação dos campos eletromagnéticos. Este processo culminou na década de 1860 com a descoberta das equações de Maxwell, um conjunto de quatro equações diferenciais parciais que fornecem uma descrição completa dos campos eletromagnéticos clássicos. Além de fornecer uma base matemática sólida para as relações entre eletricidade e magnetismo que os cientistas vêm explorando há séculos, as equações de Maxwell também preveem a existência de ondas eletromagnéticas autossustentáveis. Maxwell postulou que tais ondas constituem a luz visível, o que mais tarde se provou verdadeiro. De fato, raios gama, raios X, radiação ultravioleta, visível, infravermelha, micro-ondas e ondas de rádio foram todos determinados como sendo radiação eletromagnética diferindo apenas em sua faixa de frequências.
Na era moderna, os cientistas continuaram a refinar o teorema do eletromagnetismo para levar em conta os efeitos da física moderna, incluindo a mecânica quântica e a relatividade. De fato, as implicações teóricas do eletromagnetismo, particularmente o estabelecimento da velocidade da luz com base nas propriedades do "meio" de propagação (permeabilidade e permissividade), ajudaram a inspirar a teoria da relatividade especial de Einstein em 1905. Enquanto isso, o campo da eletrodinâmica quântica (E.D.Q.) modificou as equações de Maxwell para serem consistentes com a natureza quantizada da matéria. Na eletrodinâmica quântica (E.D.Q.), o campo eletromagnético é expresso em termos de partículas discretas conhecidas como fótons, que também são os quanta físicos da luz. Hoje, existem muitos problemas no eletromagnetismo que permanecem sem solução, como a existência de monopolos magnéticos e o mecanismo pelo qual alguns organismos podem sentir campos elétricos e magnéticos.
História da teoria.
Originalmente, a eletricidade e o magnetismo eram considerados duas forças separadas. Essa visão mudou com a publicação de James Clerk Maxwell em 1873, "Tratado sobre electricidade e magnetismo", no qual as interações de cargas positivas e negativas mostraram ser mediadas por uma força. Existem quatro efeitos principais resultantes dessas interações, todos os quais foram claramente demonstrados por experimentos:
Em abril de 1820, Hans Christian Ørsted observou que uma corrente elétrica em um fio fazia com que a agulha de uma bússola próxima se movesse. Na época da descoberta, Ørsted não sugeriu nenhuma explicação satisfatória para o fenômeno, nem tentou representar o fenômeno em uma estrutura matemática. No entanto, três meses depois, ele iniciou investigações mais intensivas. Logo depois ele publicou suas descobertas, provando que uma corrente elétrica produz um campo magnético ao fluir através de um fio. A unidade CGS de indução magnética (oersted) é nomeada em homenagem a suas contribuições para o campo do eletromagnetismo.
Suas descobertas resultaram em intensa pesquisa em toda a comunidade científica em eletrodinâmica. Eles influenciaram os desenvolvimentos do físico francês André-Marie Ampère de uma única forma matemática para representar as forças magnéticas entre condutores portadores de corrente. A descoberta de Ørsted também representou um grande passo em direção a um conceito unificado de energia.
Essa unificação, observada por Michael Faraday, ampliada por James Clerk Maxwell e parcialmente reformulada por Oliver Heaviside e Heinrich Hertz, é uma das principais realizações da física matemática do século XIX. Teve consequências de longo alcance, uma das quais foi a compreensão da natureza da luz. Ao contrário do que foi proposto pela teoria eletromagnética da época, a luz e outras ondas eletromagnéticas são vistas atualmente como tendo a forma de perturbações oscilatórias e autopropagadas do campo eletromagnético quantizadas chamadas fótons. Diferentes frequências de oscilação dão origem a diferentes formas de radiação eletromagnética, desde ondas de rádio nas frequências mais baixas, até luz visível em frequências intermediárias, até raios gama nas frequências mais altas.
Ørsted não foi a única pessoa a examinar a relação entre eletricidade e magnetismo. Em 1802, , um jurista italiano, desviou uma agulha magnética usando uma pilha voltaica. A configuração factual do experimento não é completamente clara, nem se a corrente fluiu pela agulha ou não. Um relato da descoberta foi publicado em 1802 em um jornal italiano, mas foi amplamente ignorado pela comunidade científica contemporânea, porque Romagnosi aparentemente não pertencia a essa comunidade.
Uma conexão anterior (1735), e muitas vezes negligenciada, entre eletricidade e magnetismo foi relatada pelo Dr. Cookson. A descrição declarou:
Um comerciante em Wakefield em Yorkshire, tendo colocado um grande número de facas e garfos em uma grande caixa... e tendo colocado a caixa no canto de uma grande sala, aconteceu uma repentina tempestade de trovões, relâmpagos, etc. ... O proprietário esvaziando a caixa em um balcão onde estavam alguns pregos, as pessoas que pegaram as facas, que deitaram nos pregos, observaram que as facas pegaram os pregos. Nisso todo o número foi testado e descobriu-se que fazia o mesmo, e isso, a ponto de pegar pregos grandes, agulhas de embalagem e outras coisas de ferro de peso considerável ...
E. T. Whittaker sugeriu em 1910 que este evento particular foi responsável por um raio ser "creditado com o poder de magnetizar o aço; e foi sem dúvida isso que levou Franklin em 1751 a tentar magnetizar uma agulha de costura por meio da descarga de frascos de Leyden."
Forças fundamentais.
A força eletromagnética é uma das quatro forças fundamentais conhecidas e a segunda mais forte (depois da força nuclear forte), operando com alcance infinito; As outras forças fundamentais são:
a força gravitacional é a única das quatro forças fundamentais que não faz parte do Modelo padrão da física de partículas; enquanto de longe a mais fraca das quatro forças fundamentais, a força gravitacional, junto com a força eletromagnética, opera em alcance infinito.
Todas as outras forças (por exemplo, fricção, forças de contato) são derivadas dessas quatro forças fundamentais e são conhecidas como .
Grosso modo, todas as forças envolvidas nas interações entre os átomos podem ser explicadas pela força eletromagnética atuando entre os núcleos atômicos eletricamente carregados e os elétrons dos átomos. As forças eletromagnéticas também explicam como essas partículas carregam momento por meio de seu movimento. Isso inclui as forças que experimentamos ao "empurrar" ou "puxar" objetos materiais comuns, que resultam das forças intermoleculares que agem entre as moléculas individuais de nossos corpos e as dos objetos. A força eletromagnética também está envolvida em todas as formas de fenômenos químicos.
Uma parte necessária da compreensão das forças intraatômicas e intermoleculares é a força efetiva gerada pelo momento do movimento dos elétrons, de modo que, à medida que os elétrons se movem entre os átomos em interação, eles carregam o momento com eles. À medida que uma coleção de elétrons se torna mais confinada, seu momento mínimo aumenta necessariamente devido ao princípio de exclusão de Pauli. O comportamento da matéria na escala molecular, incluindo sua densidade, é determinado pelo equilíbrio entre a força eletromagnética e a força gerada pela troca de momento realizada pelos próprios elétrons.
Eletrodinâmica clássica.
Em 1600, William Gilbert propôs, em seu "De magnete", que a eletricidade e o magnetismo, embora ambos fossem capazes de causar atração e repulsão de objetos, eram efeitos distintos. Os marinheiros notaram que os raios tinham a capacidade de perturbar a agulha de uma bússola. A ligação entre raios e eletricidade não foi confirmada até que os experimentos propostos por Benjamin Franklin em 1752 fossem conduzidos em 10 de maio de 1752 por Thomas-François Dalibard da França usando uma barra de ferro de 12 m de altura em vez de uma pipa e ele extraiu com sucesso faíscas elétricas de uma nuvem.
Um dos primeiros a descobrir e publicar uma ligação entre a corrente elétrica produzida pelo homem e o magnetismo foi , que em 1802 notou que conectar um fio através de uma pilha voltaica desviava a agulha de uma bússola próxima. No entanto, o efeito não se tornou amplamente conhecido até 1820, quando Ørsted realizou um experimento semelhante. O trabalho de Ørsted influenciou Ampère a conduzir ainda mais experimentos, que acabaram dando origem a uma nova área da física: a eletrodinâmica. Ao determinar uma lei de força para a interação entre elementos de corrente elétrica, Ampère colocou o assunto em uma sólida base matemática.
Uma teoria do eletromagnetismo, conhecida como eletromagnetismo clássico, foi desenvolvida por vários físicos durante o período entre 1820 e 1873, quando foi publicado o tratado de James Clerk Maxwell, que unificou os desenvolvimentos anteriores em uma única teoria, propondo que a luz seria uma onda eletromagnética propagando-se no "éter luminífero". No eletromagnetismo clássico, o comportamento do campo eletromagnético é descrito por um conjunto de equações conhecidas como equações de Maxwell, e a força eletromagnética é dada pela lei da força de Lorentz.
Uma das peculiaridades do eletromagnetismo clássico é que é difícil de conciliar com a mecânica clássica, mas é compatível com a relatividade restrita. De acordo com as equações de Maxwell, a velocidade da luz no vácuo é uma constante universal que depende apenas da permissividade elétrica e da permeabilidade magnética do espaço livre. Isso viola a invariância de Galileu, uma pedra angular de longa data da mecânica clássica. Uma forma de conciliar as duas teorias (eletromagnetismo e mecânica clássica) é assumir a existência de um éter luminífero através do qual a luz se propaga. No entanto, esforços experimentais subsequentes falharam em detectar a presença do éter. Após importantes contribuições de Hendrik Lorentz e Henri Poincaré, em 1905, Albert Einstein resolveu o problema com a introdução da relatividade especial, que substituiu a cinemática clássica por uma nova teoria da cinemática compatível com o eletromagnetismo clássico. (Para obter mais informações, consulte História da relatividade especial.)
Além disso, a teoria da relatividade implica que em quadros de referência em movimento, um campo magnético se transforma em um campo com um componente elétrico diferente de zero e, inversamente, um campo elétrico em movimento se transforma em um componente magnético diferente de zero, mostrando assim firmemente que os fenômenos são dois lados da mesma moeda. Daí o termo "eletromagnetismo". (Para obter mais informações, consulte Eletromagnetismo clássico e relatividade especial e .)
Extensão para fenômenos não lineares.
As equações de Maxwell são "lineares", pois uma mudança nas fontes (as cargas e correntes) resulta em uma mudança proporcional dos campos. A dinâmica não linear pode ocorrer quando os campos eletromagnéticos se acoplam à matéria que segue as leis dinâmicas não lineares. Isso é estudado, por exemplo, no assunto de magnetohidrodinâmica, que combina a teoria de Maxwell com as equações de Navier – Stokes.
Quantidades e unidades.
Aqui está uma lista de unidades comuns relacionadas ao eletromagnetismo:
No sistema C.G.S. eletromagnético, a corrente elétrica é uma quantidade fundamental definida pela lei de Ampere e considera a permeabilidade como uma quantidade adimensional (permeabilidade relativa) cujo valor no vácuo é a unidade. Como consequência, o quadrado da velocidade da luz aparece explicitamente em algumas das equações que relacionam quantidades neste sistema.
As fórmulas para as leis físicas do eletromagnetismo (como as equações de Maxwell) precisam ser ajustadas dependendo do sistema de unidades usado. Isso ocorre porque não há correspondência biunívoca entre as unidades eletromagnéticas do S.I. e as do C.G.S., como é o caso das unidades mecânicas. Além disso, dentro do C.G.S., existem várias opções plausíveis de unidades eletromagnéticas, levando a diferentes "subsistemas" de unidade, incluindo , "ESU", "EMU" e Heaviside – Lorentz. Entre essas opções, as unidades gaussianas são as mais comuns hoje em dia e, de fato, a frase "unidades C.G.S." é frequentemente usada para se referir especificamente às unidades C.G.S. – Gaussianas.
Aplicações.
O estudo do eletromagnetismo informa a construção de circuitos elétricos e dispositivos semicondutores.
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812 | Encíclica | Encíclica
Uma Encíclica (do latim tardio "encyclĭcus,a,um", -- kyklos significa 'um círculo', mesma raiz da palavra enciclopédia—adaptado do grego εγκyκλιος, transl. "enkyklios": 'circular, que circula') ou, mais propriamente, carta encíclica (do latim "littĕrae encyclĭcae", 'uma carta circular') é uma comunicação escrita papal, um documento pontifício, endereçados explicitamente aos Primazes, Patriarcas, Arcebispos, Bispos, Presbíteros e aos "Filhos e Filhas da Igreja", os fiéis, isto é, a toda a Igreja Universal em comunhão com a Sé Apostólica; todavia, o círculo pode alargar-se para compreender todo o "homem de boa vontade".
Pela sua natureza, as encíclicas estão geralmente preocupadas com assuntos que afetam o bem-estar da Igreja em geral. Condenam alguma forma predominante de erro, apontam perigos que ameaçam a fé ou a moral, exortam os fiéis à constância ou prescrevem remédios para males previstos ou já existentes. O termo "epistola encyclica" parece ter sido introduzido pelo Papa Bento XIV (1740-1758), embora seu uso remonte às origens do cristianismo.
História.
Embora seja apenas durante nos últimos duzentos anos que as declarações mais importantes da Santa Sé foram dadas ao mundo na forma de encíclicas, essa forma de Carta Apostólica tem sido usada ocasionalmente pelos papas desde o início do cristianismo.
Os papas começaram desde de cedo, em virtude da Primazia Papal, a emitir leis ou exortações, tanto para toda a Igreja quanto para os indivíduos em particular. Isso foi feito na forma das chamadas letras apostólicas. Tais cartas foram enviadas pelos papas por vontade própria ou quando a solicitação foi feita por sínodos, bispos ou fiéis cristãos individuais.
Além das duas epístolas do apóstolo Pedro, o primeiro exemplo de uma carta papal na história eclesiástica é a Carta do Papa Clemente I aos Coríntios, em cuja comunidade estavam acontecendo graves dissensões. No entanto apenas algumas cartas papais dos três primeiros séculos da era cristã sobreviveram preservadas no todo ou em partes, ou são conhecidas por serem mencionadas nas obras dos primeiros apologistas católicos ou nos pais da Igreja.
Tão logo, porém, a Igreja foi reconhecida pelo Estado, em 13 de junho de 313 e pode se espalhar livremente em todas as direções do Império Romano, o papa passou a ser consultado sobre os mais diversos assuntos e chamado a afirmar assertivamente o primado papal frente as mais diferentes heresias que se espalhavam pelo orbe católico e, a partir desse momento, aumentou consideravelmente o número de cartas papais. Nenhuma parte da Igreja e nenhuma questão de fé ou moral deixaram de atrair a atenção paterna papal.
Embora no seu conteúdo as cartas indicassem suficientemente seu caráter jurídico e vinculativo, deve-se notar que os papas exigiam repetidamente em termos explícitos a observância de seus decretos ou exortações, do mesmo modo que exigiam repetidamente das pessoas a quem eles escreveram que estes deveriam levar a carta em questão ao conhecimento de outras pessoas como, por exemplo, a carta do Papa Sirício, do ano 385, a Himerius de Tarragona, o Papa Inocêncio I em sua carta do ano 416 dirigida a Decentius, bispo da Diocese de Gubbio, na Itália e o Papa Zósimo, no ano 418, a Hesíquio de Sabona.
A fim de assegurar pleno e amplo conhecimento das leis papais, várias cópias das cartas dos papas eram ocasionalmente feitas e despachadas ao mesmo tempo. Seguindo o exemplo dos imperadores romanos, os papas logo estabeleceram arquivos em que cópias de suas cartas foram colocadas como memoriais para uso posterior e como provas de autenticidade. A primeira menção dos arquivos papais é encontrada nos Atos de um sínodo, realizada por volta de 370 sob o Papa Dâmaso I. O Papa Zósimo também faz menção no ano 419 desses arquivos.
Mesmo assim, o maior número de cartas papais do primeiro milênio foi perdido. Somente as cartas do Papa Leão I, do Papa Gregório I e do Papa Gregório VII, foram completamente preservadas. Como condizia com sua importância legal, as cartas papais também foram logo incorporadas às coleções de direito canônico. O primeiro a coletar as epístolas dos papas de maneira sistemática e abrangente foi o monge Dionísio, o Exíguo, no início do século VI. Dessa maneira, as cartas papais se classificaram com os cânones dos sínodos recebendo igual valor e igual obrigação. O exemplo de Dionísio foi seguido posteriormente por quase todos os compiladores dos cânones, como os Decretos de Pseudo-Isidoro, de Anselmo de Lucca, Deusdédito (cardeal), etc.
Com o desenvolvimento do primado na Idade Média, as cartas papais cresceram enormemente em número. Os papas, seguindo o costume anterior, insistiam em que seus rescritos, emitidos para casos individuais, fossem observados em todos os casos análogos. De acordo com os ensinamentos dos canonistas, sobretudo de Graciano (jurista), todas as cartas papais de caráter geral eram autorizadas para toda a Igreja sem notificação adicional.
Nesse período, assim como na Igreja primitiva, as cartas dos papas foram depositadas nos arquivos papais no original ou em cópia. Eles ainda existem, e quase estão completos em número, desde a época do Papa Inocêncio III que pontificou de 1198 a 1216. Muitas cartas papais também foram incorporadas, conforme sua natureza legal, no Corpus Juris Canonici, o Código de Direito Canónico. No entanto, a falsificação de cartas papais foi ainda mais frequente na Idade Média do que na Igreja primitiva. O Papa Inocêncio III refere-se a não menos de nove métodos de falsificação. Desde o século XIII até o século XIX, bastava, para dar força legal a um documento papal, colocá-lo em Roma nas portas da Basílica de São Pedro, Basílica do Latrão, da Chancelaria dos Breves Apostólicos e na Praça Campo de' Fiori. Desde 1 de janeiro de 1909, eles adquirem força por publicação no Acta Apostolicae Sedis.
Nos tempos modernos, o uso do termo Encíclica restringiu-se quase exclusivamente a certos documentos papais que diferem em sua forma técnica do estilo comum das bulas ou outros tipos de documentos pontifícios. As encíclicas também são às vezes endereçadas aos arcebispos e bispos de um país em particular. Assim, esse nome é dado à carta de Pio X (6 de janeiro de 1907) aos bispos da França, apesar de ter sido publicada, não em latim, mas em francês; enquanto, por outro lado, a carta "Longinqua Oceani" (5 de janeiro de 1895) dirigida por Leão XIII aos arcebispos e bispos dos Estados Unidos não é denominada oficialmente encíclica, embora em todos os outros aspectos ela observe exatamente as formas de uma.
Em 1700 o proeminente historiador e monge beneditino Pierre Coustant durante mais de 20 anos debruçou-se sobre todas as possíveis cartas papais, desde o Apóstolo Pedro até o Papa Inocêncio III, distinguindo as autênticas das espúrias, morrendo deixando o trabalho inacabado até o ano 440. Alguns historiadores estimam que ao longo da história os papas enviaram mais de duas mil cartas ao clero e ao povo católico. Só do Papa Bento XIV foram quase 300 cartas.
Em 1854 o teólogo católico Heinrich Denzinger publicou o famoso Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral, em denso volume que, dentre outros documentos, traz o conteúdo de todas as principais cartas papais atualmente conhecidas, desde o século I. Pela prolífica quantidade de cartas pontifícias dos últimos 100 anos, as últimas edições em língua portuguesa do Denzinger, como é conhecido, não traz inúmeras cartas dos primeiros séculos e da Idade Média, o que só é possível consultar em edições mais antigas, da primeira metade do século XX.
Listas de Encíclicas do Papa Bento XIV.
Estas são as Encíclicas do Papa Bento XIV, considerado o primeiro papa a usar as encíclicas no sentido moderno do termo:
Uso católico.
As encíclicas tratam de matéria doutrinária em variados campos: fé, costumes, culto, doutrina social, etc. A matéria nela contida não é formalmente objeto de fé. Mas, a ela, se deve o religioso obséquio do assentimento exterior e interior. Logo, uma ""encíclica não define, e nem altera um dogma, mas atualiza a doutrina católica através de um ensinamento ou um tema da atualidade e é vista como a posição da Igreja Católica sobre um determinado tema. É usada pelo Papa para exercer o seu magistério ordinário. Normalmente, uma encíclica é designada pelas suas primeiras palavras a partir do texto em latim."
Exemplos de encíclicas notáveis:
O Papa Francisco escreveu, até o momento, as encíclicas "Lumen fidei", "Laudato si"' e "Fratelli tutti".
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813 | Esoterismo | Esoterismo
Esoterismo é o nome genérico que evidencia um conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões - ou mesmo das Fraternidades Iniciáticas - que buscam transmitir um rol acerca de determinados assuntos que dizem respeito a aspectos da natureza da vida que estão sutilmente ocultos. Um sentido popular do termo é a percepção de que transmitem um conhecimento enigmático ou incomum, sempre com vetor oculto. Segundo alguns, o esoterismo é o termo para as doutrinas cujos princípios e conhecimentos não podem ou não devem ser “vulgarizados”, sendo comunicados a um restrito número de partidários adeptos.
Tais escolhas de partidários acontecem da instituição (de caráter esotérico) para indivíduo - ao manifestar interesse - para a instituição esotérica, não havendo, a rigor, um âmbito secreto, mas ritos tradicionais e burocracias internas que acontecem tanto de forma discreta e privada quanto aberta, pois a filiação não está à margem de qualquer lei. No entanto, é possível entrar em contato com o esoterismo por conta própria, isto é, desvinculado de qualquer instituição. Encontra-se esse tipo de conhecimento em leituras; e costumeiramente as bibliotecas e livrarias oferecem este gênero de acervo.
No tempo presente, com a despreocupação da sociedade para com arregimentação de conceitos variados, o esoterismo, enquanto característica sobre assuntos das coisas ocultas, tem adquirido uma deturpação na conexão com o misticismo. Não são, naturalmente, sinônimos, uma vez que o esoterismo contém variadas correntes ocultistas, ciências ocultas e mesmo correntes místicas dentro de seu rol. Logo, não são, a rigor, a mesma coisa; o misticismo desce do plano do esoterismo (que é um termo genérico), e tem a sua especificidade, onde se apresenta, costumeiramente, com práticas de ensinamento místico que conduzem à experiência empírica e comprovações fenomenológicas pessoais do que é estudado pelos seus adeptos. O considerado 'místico', como se reconhece, tem um propósito a alcançar e não se limita aos estudos. Portanto, temos que esoterismo é o termo que afunila e comporta toda e qualquer ciência oculta.
Em suma, esoterismo evidencia a característica do conhecimento "das verdades e leis últimas que regem todo o universo", porém ligando ao mesmo tempo o natural com o que chamam de 'sobrenatural'.
Há doutrinas, nomeadamente as espiritualistas, que são também chamadas esotéricas. Há também, com o fenômeno da globalização e o conhecimento mútuo entre as nações e suas culturas, a percepção da compatibilidade do esoterismo com as religiões mais famosas do Oriente; a saber, o budismo, o taoismo, etc., uma vez que elas têm muitos pontos de afinidade conceitual e consonância na aplicabilidade.
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814 | António Egas Moniz | António Egas Moniz
António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, nascido António Caetano de Abreu Freire de Resende, conhecido popularmente como António Egas Moniz (Avanca, Estarreja, — São Sebastião da Pedreira, Lisboa, ) foi um médico, neurocirurgião, pesquisador, professor, político e escritor português.
Responsável pelo desenvolvimento da arteriografia, ou angiografia cerebral em 1927, descoberta que revolucionou a medicina e a neurocirurgia, permitindo o diagnóstico dos tumores cerebrais e o diagnóstico e tratamento do aneurisma cerebral e da MAV (malformação arteriovenosa). Foi três vezes indicado ao prémio Nobel por esta descoberta (1928, 1929, 1930). Inventor do procedimento neurocirúrgico denominado leucotomia pré-frontal, também conhecido como lobotomia, que possibilitou o surgimento da psicocirurgia, por esta última descoberta foi galardoado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1949, partilhado com o fisiologista suíço Walter Rudolf Hess.
José Saramago, Carlos Filipe Ximenes Belo, José Ramos-Horta e António Egas Moniz são os únicos lusófonos detentores de Prémios Nobel.
Biografia.
Nascido António Caetano de Abreu Freire de Resende, a 29 de novembro de 1874, na freguesia de Avanca, concelho de Estarreja, no seio de uma família aristocrata rural, era filho único de Fernando de Pina de Resende de Abreu Freire (Idanha-a-Nova, Idanha-a-Nova, 15 de abril de 1828 - Lourenço Marques, 29 de março de 1890) e de sua mulher Maria do Rosário de Oliveira de Almeida e Sousa (Anadia, Vilarinho do Bairro, 19 de junho de 1840 - Estarreja, Pardilhó, 19 de novembro de 1896).
O seu tio paterno e padrinho, o padre Caetano de Pina Resende Abreu e Sá Freire, insistiu que adoptasse o apelido Egas Moniz, em virtude de estar convencido de que a família Resende descenderia em linha directa de Egas Moniz, o aio de Dom Afonso Henriques.
Em Lobão da Beira conheceu Elvira de Macedo Dias (Rio de Janeiro, Sacramento, 14 de julho de 1884 - 1965), filha de José Joaquim Dias e de sua mulher Matilde Flora de Macedo, com quem se casou a 7 de fevereiro de 1901, em Canas de Sabugosa. O casal não teve filhos. Era cunhado da feminista Estefânia de Macedo Dias Macieira, casada com o advogado e político António Macieira.
A 14 de março de 1939, aos 64 anos, sofreu um atentado no seu consultório, por parte de um doente mental, engenheiro agrónomo de 28 anos, que, no culminar de uma crise de paranóia, o alvejou com oito tiros, dos quais cinco o atingiram na mão direita, no tórax e na coluna vertebral. Foram-lhe retiradas três balas, mas uma ficou alojada na coluna dorsal. Apesar da gravidade dos ferimentos, Egas Moniz recuperou por completo, sem qualquer sequela física, ao contrário do que algumas vezes se tem escrito.
Faleceu aos 81 anos, na sua residência, em Lisboa, freguesia de São Sebastião da Pedreira, no prédio número 73 da Avenida Cinco de Outubro, vítima de anemia aguda. Encontra-se sepultado na sua terra natal, no cemitério de Avanca, em Estarreja.
Formação e atividade académica.
Completou a instrução primária na Escola do Padre José Ramos, em Pardilhó, e o Curso Liceal noColégio de S. Fiel, dos Jesuítas, em Louriçal do Campo, concelho de Castelo Branco. Formou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, onde começou por ser lente substituto, leccionando anatomia e fisiologia. Em 1911 foi transferido para a recém-criada Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa onde foi ocupar a cátedra de neurologia como professor catedrático. Jubilou-se em 1944.
Em 1950 é fundado, no Hospital Júlio de Matos, o Centro de Estudos Egas Moniz, do qual é presidente. O Centro de Estudos é, em 1957, transferido para o serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria onde existe ainda hoje compreendendo, entre outros, o Museu Egas Moniz (onde se encontra uma restituição do seu gabinete de trabalho com as peças originais, vários manuscritos, entre outros).
Egas Moniz contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da medicina ao conseguir pela primeira vez dar visibilidade às artérias do cérebro. A Angiografia Cerebral, que descobriu após longas experiências com raios X, tornou possível localizar neoplasias, aneurismas, hemorragias e outras mal-formações no cérebro humano e abriu novos caminhos para a cirurgia cerebral.
A 5 de Outubro de 1928 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Benemerência e a 3 de Março de 1945 com a Grã-Cruz da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.
Atividade política e literária.
Egas Moniz teve também papel ativo na vida política. Foi fundador do Partido Republicano Centrista, dissidência do Partido Evolucionista; apoiou o breve regime de Sidónio Pais, durante o qual exerceu as funções de Embaixador de Portugal em Madrid (1917) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1918); viu entretanto o seu partido fundir-se com o Partido Sidonista. Foi ainda um notável escritor e autor de uma notável obra literária, de onde se destacam as obras "A nossa casa" e "Confidências de um investigador científico". É também autor de um notável ensaio de crítica literária, "Júlio Dinis e a sua obra" (1924), onde demonstra que o escritor Júlio Dinis se inspirou em personagens reais oriundas de Ovar na criação das figuras principais dos seus romances "A Morgadinha dos Canaviais" e "Pupilas do Senhor Reitor". Egas Moniz também escreveu sobre pintura e reuniu uma notável colecção de pintura naturalista, atualmente aberta ao público na Casa-Museu Egas Moniz, em Estarreja, onde se destacam obras de Silva Porto, José Malhoa e Carlos António Rodrigues dos Reis, além de peças de louça, prata e mobiliário de variada proveniência, testemunho o seu grande interesse e apurado gosto pelas artes plásticas e decorativas.
Pacientes famosos.
Fernando Pessoa, consultou-o em 1907, queixando-se de neurastenia e de medo de enlouquecer, à semelhança de Dionísia, a sua avó paterna. Egas Moniz, não lhe encontrando nada de anormal, recomendou-lhe aulas de ginástica sueca com Luís Furtado Coelho, treinador pessoal do infante D. Manuel. "Para ser cadáver, só me faltava morrer. Em menos de três meses e três lições por semana, Furtado Lima pôs-me em tal estado de transformação que, diga-se com modéstia, ainda hoje existo – com vantagem para a civilização europeia, não me compete a mim dizer.", diria Pessoa mais tarde.Também Mário de Sá-Carneiro consultou Egas Moniz, queixando-se de sofrer de desdobramento físico e psicológico. Egas Moniz lembrou-se então de um poema que lera e que descrevia aquele estado. E, surpreendentemente, respondeu-lhe Sá-Carneiro ser ele precisamente o autor desse poema. Egas Moniz confidenciaria a um aluno seu que o poema denotava ter sido escrito por um esquizofrénico.
Obra.
Atividade científica.
Como investigador, Egas Moniz, contando com a preciosa colaboração de Pedro Almeida Lima, gizou duas técnicas: a leucotomia pré-frontal e a angiografia cerebral. Deve-se ainda a este autor a descrição do trajeto da artéria carótida interna no interior do osso temporal, tomando o mesmo a designação de Sifão carotídeo ou Sifão de Egas Moniz.
Prémio Nobel.
António Egas Moniz foi proposto cinco vezes (1928, 1933, 1937, 1944 e 1949) ao Nobel de Fisiologia ou Medicina, sendo galardoado em 1949. A primeira delas acontece alguns meses depois de ter publicado o primeiro artigo sobre a encefalografia arterial e, subsequentemente, ter feito, no Hospital de Necker, em Paris, uma demonstração da técnica encefalográfica. Este imediatismo não era uma coisa absolutamente ridícula pois, na verdade, «a vontade de Alfred Nobel era precisamente a de galardoar trabalhos desenvolvidos no ano anterior ao da atribuição do Prémio».
Controvérsia.
A técnica desenvolvida por Egas Moniz foi a leucotomia pré-frontal – correspondente a um corte controlado de ligações na massa branca profunda de ambos os lados do córtex pré-frontal. Embora esta operação seja distinta da denominada lobotomia (a operação concebida por Moniz provocava lesões cerebrais limitadas, ao passo que a lobotomia frontal era normalmente um trabalho de talho que provocava lesões extensas ), a verdade é que foi muitas vezes com ela confundida. A lobotomia deixou de ser praticada na década de 1960, após forte controvérsia. Devido à associação que frequentemente era feita entre a lobotomia e o inventor da leucotomia pré-frontal, familiares de pacientes que sofreram aquela intervenção cirúrgica exigiram que fosse anulada a atribuição do Prémio Nobel feita a António Egas Moniz.
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815 | Embriologia | Embriologia
A embriologia é a especialidade da biologia que estuda a formação dos órgãos e sistemas de um animal, a partir de uma célula. Faz parte da biologia do desenvolvimento. O desenvolvimento embrionário dos animais inicia-se pela relação sexual, gerando o zigoto ou ovo, que passará por três fases sucessivamente: mórula, blástula e gástrula.
Formação dos espermatozoides e a fecundação (no ser humano).
Os espermatozoides são formados nos testículos, sendo depois armazenados nos epidídimos, estruturas em formas de C que ficam à volta dos testículos, onde ocorre a maturação dos espermatozoides. Estes são levados pelos funículos espermáticos, e em seguida ao ducto deferente até a parte final da uretra, a fossa navicular de onde é expelido durante a ejaculação. É importante lembrar que a cada ejaculação o homem produz em média de 200 a 500 milhões de espermatozoides, sendo somente 15 por cento são perfeitos, com chances de chegar ao seu objetivo. E desses um só consegue penetrar no ovócito II.
Já dentro do trato genital feminino, o espermatozoide, com seu flagelo, vai ao encontro do ovócito II, por atração química. Durante esse percurso é quando acontece a capacitação, onde o espermatozoide, juntamente com substâncias genitais femininas, das quais retira algumas propriedades, o que faz com que ele seja atraído pelo ovócito II e consiga fecundá-lo.
Chegando ao encontro do gameta feminino, esse espermatozoide, cuja célula tem grande número de lisossomas, libera algumas substâncias para digerir a camada de células (teca) e a zona pelúcida, que envolve o ovócito II. É importante lembrar que essa camada é um pouco espessa, e portanto o primeiro espermatozoide a chegar nunca entra no ovócito II, mas os outros aproveitam-se do caminho feito pelos primeiros.
Bloqueio direto.
Quando o espermatozoide atinge o ovócito II, há uma despolarização química desse ovócito II, o que a enrijece e impede que outros gametas adentrem o ovócito II, o que dura aproximadamente 15 segundos, fazendo desencadear o bloqueio lento. Esse bloqueio lento é o processo pelo qual ocorre a diferenciação sexual.
Bloqueio indireto.
Dentro do ovócito II, existem algumas estruturas chamadas vesículas corticais, que "estouram" depois do bloqueio lento, liberando substâncias que tornam o ovócito II não mais atrativo ao espermatozoide.
Então depois de todo esse trajeto e algum tempo, o ovócito II e o espermatozoide, já fundidos, passam a se chamar ovo, uma única célula com 46 cromossomas, 23 do pai e 23 da mãe, que dará origem a um novo ser.
Desenvolvimento.
Portanto, a fecundação dá-se quando um espermatozoide fecunda um ovócito II e forma uma Célula-ovo que se divide por mitoses sucessivas em 2,4,8..16..32... células.
Atualmente há um interesse crescente em torno do desenvolvimento humano desde o período que precede o nascimento (chamado de desenvolvimento embrionário). Este é um processo contínuo que tem seu início quando um ovócito (óvulo) é fertilizado por um espermatozoide. Algumas fases se combinam e transformam o ovócito fertilizado (totipotente) em um organismo multicelular, são elas: a divisão, a migração e a morte celular junto à diferenciação, ao crescimento e ao rearranjo celular. Apesar da maioria das mudanças ocorrerem nos períodos embrionários e fetais, acontecem também muitas mudanças significativas e igualmente importantes no período posterior ao nascimento, na sequência das fases de infância, adolescência e início da fase adulta.
Com isso é fácil dizer que o desenvolvimento não termina ao nascimento, aliás se inicia com a fertilização, pois a partir de então ocorre mudanças que vão além do crescimento, como por exemplo o desenvolvimento dos dentes e das mamas. O cérebro triplica seu peso entre o nascimento e os 16 anos de idade, contudo o desenvolvimento estará completo por volta dos 25 anos, podendo variar de indivíduo para indivíduo.
Veremos a seguir as etapas do desenvolvimento do indivíduo, dividindo-o em dois períodos: pré-natal e pós-natal.
Período pré-natal.
Ficheiro:
No quadro esquemático acima pode-se acompanhar as principais alterações ocorridas antes do nascimento. Vários estudos realizados sobre a cronologia pré-natal mostram que muitos dos avanços perceptíveis ocorrem entre a terceira e a oitava semana de gestação, ainda que se saiba que o embrião inicia todo seu desenvolvimento a partir da fertilização do ovócito. Para entender melhor este quadro esquemático, faz-se necessário conhecer as terminologias embriológicas a seguir:
Gametogénese.
É o processo de formação e desenvolvimento das células germinativas, os gametas, preparando-os para a fertilização. Durante a gametogênese, o número de cromossomos é reduzido para metade e a forma das células é alterada. A gametogênese masculina é chamada espermatogênese e a feminina Ovogênese.
Na espermatogênese, ainda no período fetal são formadas as espermatogônias, células diploides, que ficam nos tubos seminíferos. Ao atingir a puberdade, estas células irão começar a desenvolver-se, aumentando de número por meio de sucessivas mitoses. Após sofrerem mitoses e modificações, transformam-se em espermatócitos primários. Estas células sofrerão uma meiose reducional. Assim formam-se dois espermatócitos secundários, haploides, que sofrem uma 2° divisão meiótica que formará quatro espermatidíos haploides. Esses espermatidíos sofrerão a espermiogênese, um processo de maturação das espermatidíos até se transformarem em espermatozoides. Todo o processo da espermatogênese é sustentado pelas células de Sertoli, que revestem o túbulo seminífero, nutrindo os espermatidíos.
A ovogênese é mais complicada. Consiste, muito resumidamente, na transformação das ovogônias em ovócitos maduros. Antes de nascer, no período fetal, as ovogônias, células diploides, começam a proliferar-se por divisões mitóticas. Ainda no período fetal, as ovogônias desenvolvem-se e formam os ovócitos primários (ovócito I), que consistem em células esféricas cobertas pela zona pelúcida e por um folículo primordial, células do tecido conjuntivo achatadas. Na puberdade este folículo primordial cresce, e o ovócito primário também. As células foliculares sofrem modificações até formarem o Folículo Primário. Depois com a formação de mais camadas foliculares, forma-se o folículo secundário. E assim o desenvolvimento destas células fica parado na prófase da Meiose I (estágio de dictióteno), que seria até mais ou menos os 11 anos.
Após o nascimento , não se forma mais nenhum ovócito I. Ou seja, a mulher nasce com um número certo de células reprodutoras, enquanto o homem têm uma contínua produção de espermatócitos, pois o ciclo mitótico e meiótico é constante nos homens.
Assim os ovócitos I permanecem em repouso nos folículos ovarianos até a puberdade (em prófase, no dictióteno). O ovócito I aumenta de tamanho na maturação imediatamente antes da ovulação.
É nos túbulos seminíferos, que são produzidos os espermatozoides. Dentro deles encontra-se o epitélio germinativo, que são células que se diferenciam para formar o espermatozoide.
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817 | Exu (Pernambuco) | Exu (Pernambuco)
Exu é um município brasileiro do estado de Pernambuco, situado à altura da Serra do Araripe, na divisa entre os estados de Pernambuco e Ceará.
Administrativamente, o município é composto por cinco distritos: Exu (sede), Tabocas, Timorante, Viração e Zé Gomes.
Clima.
O clima é tropical com estação seca, frio no inverno e quente no verão. O índice pluviométrico é 865 mm anuais de água.
História.
Nos primeiros anos do século XVIII teve início a povoação de Exu, decorrente dos contatos da tribo indígena Ançu, com a Fazenda da Torre, à margem do Rio São Francisco, habitada por proprietários baianos. Os índios, já amigos dos vaqueiros daquelas fazendas, levaram estes às suas tabas e ao regressar, os vaqueiros informaram aos patrões que as terras onde moravam os índios eram cheias de fontes de águas excelentes e os terrenos de muito boa qualidade para o cultivo e criar. Conhecida a região, os fazendeiros se transferiam para lá. Logo após chegaram alguns jesuítas, que ali permaneceram alguns anos e partiram, deixando apenas vestígio de sua estada, pois construíram uma capelinha ao Senhor Bom Jesus dos Aflitos, que tornou-se o padroeiro da cidade.
A denominação Exu, conforme os habitantes da terra, existem duas versões, uma decorrentes de uma corruptela do nome da tribo Ançu da nação Cariris e a outra, que os índios puseram o nome de Exu, devido a um tipo de abelhas de ferrão, denominadas "Inxu", que ao ferroar causava muita dor.
Conforme informações locais, a penetração do município, ocorreu no século XVIII, pelos portugueses, tendo à frente Joaquim Pereira de Alencar, avô do Barão do Exu.
Em 1734, era criada a freguesia do Senhor Bom Jesus dos Aflitos de Exu. No ano de 1846, o povoado de Exu era elevado à categoria de vila, em 1849, outra lei transferia a sede do termo para Ouricuri, seguindo-se várias outras leis como: a de 1858, restaurou-a na categoria de vila; a de 1862, anexando-a à comarca de Cabrobó; a de 1863, que transferiu a vila para Granito; a de 1872, que a considerava sede da freguesia; as de 1874, que restaurou-a na categoria de vila; a de 1881, elevou-se comarca e, a de 1883, tirava-lhe a classificação de comarca.
O município foi instalado em 7 de junho de 1885, passando a autônomo em 9 de julho de 1893, em face a lei n 52, de 3 de agosto de 1892, sendo seu primeiro prefeito Manoel da Silva Parente. Em 1895 o município foi suprimido, sendo restaurado em 1907, com nome de Novo Exu..
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818 | Entre Folhas | Entre Folhas
Entre Folhas é um município brasileiro no interior do estado de Minas Gerais, Região Sudeste do país. Localiza-se no Vale do Rio Doce e pertence ao colar metropolitano do Vale do Aço. Sua população estimada em 2018 era de habitantes.
História.
A exploração da área onde está situado o atual município foi iniciada em 1781. O nome recebido pela localidade, Entre Folhas, refere-se a um córrego coberto de folhas que corria em meio à mata. O local recebera a sede da Intendência do Império, tendo por muito tempo forte influência da política do coronelismo. Através do decreto estadual nº 16, de 6 de fevereiro de 1890, é criado o distrito, subordinado a Manhuaçu, mais tarde passando a pertencer a Caratinga.
Em 1900, houve a destituição da função de intendência, deixando de possuir influência regional. A Igreja da Matriz Nossa Senhora do Rosário ainda mantém o sino doado por Dom Pedro II, trazendo o selo da Casa de Bragança, no entanto quase todo o acervo histórico, que era mantido no templo, foi perdido em um incêndio acidental. O distrito chegou a ser extinto pela lei nº 336, de 27 de dezembro de 1948, sendo recriado pela lei estadual nº 1.039, de 12 de dezembro de 1953. A emancipação é decretada pela lei estadual nº 10.704, 27 de abril de 1992.
Geografia.
Localiza-se na vertente ocidental do Caparaó e tem como vizinhas as cidades de Vargem Alegre, recém-emancipada, Bom Jesus do Galho, Inhapim, Ubaporanga e Caratinga, estando a uma altitude de 495 metros. A principal atividade econômica desenvolvida no município é a agropecuária, sobretudo o cultivo do café e hortifrutigranjeiras que influenciam a demanda escolar, sendo que anualmente há um índice de evasão por alunos que se dedicam à colheita.
De acordo com a divisão regional vigente desde 2017, instituída pelo IBGE, o município pertence às Regiões Geográficas Intermediária de Ipatinga e Imediata de Caratinga. Até então, com a vigência das divisões em microrregiões e mesorregiões, fazia parte da microrregião de Caratinga, que por sua vez estava incluída na mesorregião do Vale do Rio Doce.
Saúde e educação.
Entre Folhas é dotada de um Posto de Saúde Municipal que oferece a toda população um atendimento básico, tais como: Consulta, Exames laboratoriais mais simples, equipe de PSF(Programa Saúde da Família), Programas de vacinação, Fisioterapia, Saúde Bucal, Funasa, Programa de Saúde Mental, Assistência Social, CRAS, Conselho Tutelar.
Em Entre Folhas, durante sua história, já existiram vários colégios. O primeiro foi o "Externato", fundado pelo Padre Caetano e pelo Sr. José Cristiano Júnior, por volta de 1916.
Atualmente, Entre Folhas conta com 6 escolas municipais e 1 estadual.
Religião.
A cidade de Entre Folhas de 1998 a 1999 foi sede do Seminário Propedêutico São José de Ubaporanga. Durante a fundação e os primeiros anos a instituição de formação inicial de seminaristas da Diocese de Caratinga teve sua sede na paróquia situada na cidade.
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820 | Embu das Artes | Embu das Artes
Embu das Artes, ou simplesmente Embu, é um município da Região Metropolitana de São Paulo, na Microrregião de Itapecerica da Serra, no estado de São Paulo, no Brasil. Localiza-se na Zona Sudoeste da Grande São Paulo, em conformidade com a lei estadual nº 1.139, de 16 de junho de 2011 e, consequentemente, com o "Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana de São Paulo (PDUI)". Sua população estimada em 2020 foi de habitantes. A sua área é de 70,398 km², o que resulta em uma densidade demográfica de . É considerado, oficialmente, uma estância turística.
Também há grandes sociedades esportivas, tal como o Clube de Futebol Vasco do Embu.
A comunicação é forte. O município e a região contam com jornais relevantes, tais como o Jornal SP Repórter
Sua história curiosa lhe trouxe uma especialização contemporânea imprevista: ser uma cidade especialmente vocacionada para acolher artistas. Isto aporta dividendos turísticos à cidade. Por causa disso, em 2011, a denominação oficial da cidade foi alterada de Embu para "Embu das Artes".
Topônimo.
Conforme Eduardo Navarro em seu "Dicionário de Tupi Antigo" (2013), "Embu" é uma corruptela do nome da aldeia jesuítica que deu origem à cidade: Mboy. Há duas possíveis etimologias para o topônimo Mboy:
Estância Turística.
Embu das Artes é um dos 29 municípios paulistas considerados estâncias turísticas pelo Estado de São Paulo, por cumprirem determinados pré-requisitos definidos por lei estadual. Tal "status" garante a esses municípios uma verba maior por parte do estado para a promoção do turismo regional. Também, o município adquire o direito de agregar junto a seu nome o título de estância turística, termo pelo qual passa a ser designado tanto pelo expediente municipal oficial quanto pelas referências estaduais.
História.
A região do município de Embu das Artes era originalmente habitada por povos indígenas das etnias tupiniquins e guaranis e o surgimento da cidade está intimamente ligado à catequese indígena.
Na segunda metade do século XVII, sítios começaram a se formar na região do município, com plantações de mandioca, legumes e algodão.
Em 1607, Fernão Dias Paes (tio do bandeirante Fernão Dias, o "caçador de esmeraldas"), Pero Dias e Braz Esteves adquirem terras na região do município. Em 24 de janeiro de 1624, Fernão e sua esposa, Catarina Camacho, doam terras para os padres jesuítas.
Em 1690, o jesuíta Belchior de Pontes transfere a missão jesuítica de Bohi ou M´Boy, criado em 1554, para o local que hoje é a sede do município e inicia a construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a velha matriz. O Padre Belchior faleceu em 1719 e seu substituto no aldeamento, Domingos Machado, ordena a construção da residência anexa dos religiosos, concluída em 1740.
Em 1759, o Marquês de Pombal, chefe de governo do Reino de Portugal, ordenou a expulsão de todos os jesuítas da América Portuguesa. Com isso, o aldeamento de M´Boy entra em declínio e os indígenas que ali habitavam acabaram o deixando ou se misturando com os não-indígenas que viviam no povoado.
O povoamento, antigo aldeamento, tinha uma economia agrícola, com lavradores e fabricantes de cachaça, e os produtos eram vendidos em São Paulo, sobretudo na região de Pinheiros. O desenvolvimento era lento, pelas dificuldades de comunicação e transportes. Entre o final do século XIX e a década de 1940, os carros de bois eram o principal meio de transporte.
Em 1880, foi criado, dentro da Vila de Itapecerica, o distrito de M'Boy.
No final do século XIX, a Diocese de São Paulo contrata o engenheiro Henrique Bocolini, responsável pelas primeiras obras de restauração da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Nesta época e no início do século XX, a cafeicultura, principal fonte econômica do Brasil e praticada em todo o Estado de São Paulo, não pôde ser praticada em M'Boy, pois suas terras eram impróprias.
Nas décadas de 1920 e 1930, as olarias de M'Boy contribuíram muito para a produção de tijolos para o crescente distrito e também para a cidade de São Paulo, em pleno crescimento. Nesta época, chegam no distrito os primeiros imigrantes japoneses, hoje numerosa em Embu.
Em 1938, o distrito de M'Boi teve sua denominação alterada para "Embu", uma corruptela do antigo nome do distrito. Anos mais tarde, surge o movimento emancipacionista.
Em 18 de fevereiro de 1959, a Lei Estadual n° 5285 eleva o distrito de Embu à categoria de município, desmembrado de Itapecerica da Serra. O município foi instalado em 1° de janeiro do ano seguinte.
O município começa a ganhar destaque na década de 1960, quando vários artistas, entre pintores, escultores, músicos e cantores, acabam encontrado no município de Embu o local perfeito para praticar sua arte. Dentre os principais artistas de Embu das Artes estão: Cássio M'Boy, professor de vários artistas e conhecido de membros da Semana de Arte Moderna de 1922; Tadakiyo Sakai, escultor e ceramista e discípulo de Cássio; Solano Trindade, fez produção artística da cultura afro-brasileira e introduziu a tradição dos orixás; Assis do Embu e Ana Moysés. A arte embuense ganha destaque em 1964, com o Primeiro Salão das Artes.
No final do anos 1960, outros artistas e hippies se fixam em Embu. Seus trabalhos eram expostos nos finais de semana, originando a Feira de Artes de Embu das Artes, que ocorre todos os fins de semana desde 1969 e é um motor turístico da cidade.
Mudança de nome.
Em 23 de outubro de 2009, o Prefeito de Embu, Chico Brito, deu início ao processo para que o município fosse, oficialmente, chamado de "Embu das Artes". Em 25 de novembro, o prefeito e o vice deram início ao ato a favor da realização de um plebiscito para a coleta de assinaturas.
Para que fosse acrescentado ao nome do município a denominação "das Artes", foi necessário a realização de um plebiscito em que pelo menos um por cento dos eleitores do município deveriam participar. O plebiscito foi anexado a um projeto de lei que foi enviado pelos poderes executivo e legislativo embuense para sanção do prefeito. Em seguida, o documento foi protocolado no Tribunal Regional Eleitoral, que convocou uma eleição para mudança do nome.
Segundo o prefeito, a oficialização do município para "Estância Turística de Embu das Artes" foi para que a cidade tivesse sua identidade e que não fosse mais confundida com Embu-Guaçu.
As três primeiras assinaturas do abaixo-assinado foram do prefeito Chico Brito, de Annis Neme Bassith, um dos líderes do processo de emancipação do município, e do Presidente da Câmara Municipal Silvino Bomfim. O prefeito declarou:
O abaixo-assinado passou por toda a cidade através da campanha "Embu das Artes - Todo Mundo Quer", lançada pela prefeitura.
O plebiscito ocorreu em 1 de maio de 2011 e 66,48% dos eleitores optaram pela nova denominação.
Em 6 de setembro de 2011, o então Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin sancionou a Lei Estadual 14.537/11, que, oficialmente, passou a denominar o município como "Embu das Artes".
Geografia.
Situado no oeste da Grande São Paulo, o município tem os seguintes limites: a sudoeste, oeste e norte, com Cotia; a noroeste, Taboão da Serra; a sul, com o Itapecerica da Serra e o bairro paulistano de Capão Redondo.
Hidrografia.
O sistema hidrográfico de Embu é dividida em áreas de três bacias principais, todas afluentes do Rio Tietê:
Estima-se que 59% do território encontra-se sob área de proteção aos mananciais, sendo o Rio Embu-Mirim (trata-se de uma extensão do Rio M'Boi Mirim) um dos principais contribuintes da Represa Guarapiranga.
Clima.
O clima é tipo "C", segundo a Classificação de Köppen, subtropical ou mesotérmico de latitudes médias e com grande quantidade de chuvas no verão. A região possui altitude média, juntamente com ilhas de vegetação de Mata Atlântica, que amenizam a temperatura. O índice pluviométrico é de aproximadamente milímetros por ano e a temperatura média anual gira em torno dos , e.
Infraestrutura.
Abastecimento de água.
Segundo a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o município é abastecido por dois sistemas: o Guarapiranga e o Alto Cotia, este último contribui com o seu subsistema principal, utilizando águas do Rio Cotia, localizado a oeste de Embu.
Comunicações.
A cidade foi atendida pela Companhia Telefônica Brasileira (CTB) até 1973, quando passou a ser atendida pela Telecomunicações de São Paulo (TELESP), que construiu a central telefônica utilizada até os dias atuais. Em 1998 esta empresa foi privatizada e vendida para a Telefônica, sendo que em 2012 a empresa adotou a marca Vivo para suas operações de telefonia fixa.
Transportes.
O Embu é servido de redes rodoviárias. A malha prevê as ligações da cidade com a capital e demais municípios da sub-região. Composta por rodovias, vias arteriais urbanas e estradas (municipais/estaduais), tem a principal dentre essas vias a BR116 - Rodovia Régis Bittencourt, cruzando o território municipal de nordeste a sudoeste por uma extensão de 9,2 km.
Patrimônio Histórico-cultural.
Capela de São Lázaro.
Sua origem está ligada a uma imagem do santo São Lázaro esculpida em madeira pelo artista Cássio M'Boy nos anos 1920. A imagem atraiu grande número de devotos e, em 1934, foi construída uma capela para abrigá-la. Em 1969, a capela foi restaurada, aproximando-se das linhas da arquitetura jesuítica da igreja do Conjunto Nossa Senhora do Rosário.
Museu de Arte Sacra.
Sua arquitetura apresenta características do estilo barroco paulista e um acervo rico em imagens de anjos, santos e personagens bíblicos, quase todos entalhados em madeira, modelados em terracota ou em armações em roca, produzidas entre os séculos XVII e XIX.
A principal obra do museu é o "Senhor Morto", esculpido em uma tora de madeira, bem como as imagens de Nossa Senhora das Dores e da Santa Ceia, em roca, de autoria do Padre Macaré. As demais obras foram esculpidas pelos jesuítas e índios.
Foi a primeira construção arquitetônica tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) no Estado de São Paulo em 1938, passando por restauração posterior, pela mesma instituição nos anos de 1939 e 1941. O arquiteto responsável pelo projeto de restauro foi Luís Saia, sendo um arquiteto de destaque para o estudo e compreensão das primeiras intervenções de restauro no Brasil. O edifício também é protegido pelo CONDEPHAAT desde 1974.
Conjunto Nossa Senhora do Rosário.
É formado pela igreja e pela antiga residência dos padres, conjugadas numa mesma edificação. Trata-se de uma das mais importantes construções jesuítas em São Paulo, caracterizadas pela simplicidade das linhas retas.
A igreja começou a ser construída por volta de 1700 pelo Padre Belchior de Pontes. A intenção era a de que ela tivesse capacidade para que os índios e vizinhos pudessem comodamente observar os preceitos a que estavam obrigados, como registrou o Padre Manuel da Fonseca no livro "A Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes", diferentemente da antiga capela da fazenda de Catarina Camacho situada não muito longe dali.
Centro Histórico.
No Centro Histórico, encontra-se grande quantidade de galerias de arte, lojas de móveis rústicos e lojas de artesanato, bem como uma grande variedade gastronômica de comida típica brasileira e culinária internacional. No local é possível encontrar diversos monumentos históricos que ajudam a contar um pouquinho da história e cultura da cidade.
Centro Cultural Mestre Assis do Embu.
O Centro Cultural Mestre Assis do Embu oferece ao público, gratuitamente, acesso à arte, cultura e ao conhecimento. Ocupa, hoje, o histórico prédio da prefeitura. Nele, o público tem à disposição três salas para exposições e o auditório Cássio M’Boy, com capacidade para 150 pessoas destinado a palestras, recitais, espetáculos musicais e teatrais.
Instalada em frente ao Centro, fica a tenda Embu das Artes ao Vivo, onde artistas do município montaram uma extensão de seus ateliês, possibilitando ao público acompanhar em tempo real todo o processo criativo de pintores, escultores, ceramistas e forjadores da cidade.
Símbolos.
O Brasão de armas da cidade de Embu foi instituído em 19 de novembro de 1962, pela lei N°130. Abaixo, estão as características explicadas e justificadas segundo as leis:
Administração.
Câmara municipal.
A Câmara Municipal de Embu das Artes é constituída por 12 vereadores, nomeados a seguir:
Eleição Municipal em 2020.
A eleição municipal de 2020 tem início no dia 4 de outubro, quando serão eleitos candidatos para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereadores.
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821 | Eduard von Steinle | Eduard von Steinle
Eduard Jakob von Steinle (Viena, 2 de Julho de 1810 - Frankfurt am Main, 19 de Setembro de 1886) foi um pintor austríaco e membro do movimento nazareno.
Vida.
Nasceu em 2 de julho de 1810 em Viena. Steinle foi sucessivamente influenciado pelos pintores Leopold Kupelwieser, Johann Overbeck e Peter von Cornelius, e foi assim introduzido nos métodos dos pintores alemães que formaram uma escola em Roma, os nazarenos. Steinle foi várias vezes a Roma, mas preferiu trabalhar na Alemanha. Ele recebeu sua primeira grande encomenda, a pintura da capela do Castelo de Rheineck, enquanto vivia em Frankfurt; um segundo foi para trabalhar no Salão dos Imperadores ("Kaisersaal") em Frankfurt, onde pintou os quadros de Alberto I e Fernando III. Essas comissões e sua amizade com Philipp Veit e a família Brentano decidiu que ele fixaria residência permanente em Frankfurt. A partir de 1850, ele foi professor de pintura histórica no Städel Art Institute de Frankfurt.
Como seu amigo Schwind, ele foi um dos pintores da Escola Romântica maiores em sua extensão. Como Schwind, ele provavelmente era mais adepto da arte de pintar temas comuns. Ainda assim, Constant von Wurzbach foi capaz de escrever uma apreciação de Steinle com o título "Ein Madonnamaler unserer Zeit" (Viena, 1879), pois Steinle deixou mais de cem quadros de painéis religiosos, além de numerosos cartuns para janelas de igrejas. Ele também foi considerado um mestre da pintura de afrescos monumentais nos distritos do Reno.
Além de seu trabalho em Rheineck, ele pintou ciclos de quadros no Castelo de Kleinheubach, na Igreja de St. Aegidius em Münster e na Igreja de Nossa Senhora em Aachen. Ele também pintou os grupos de anjos no coro da catedral de Colônia, e fez parte da obra na abside do coro da Catedral de Estrasburgo e na catedral imperial de Frankfurt. Ele também pintou afrescos mostrando o desenvolvimento histórico da civilização na escadaria do Museu Wallraf-Richartz em Colônia.
Entre as pinturas religiosas menores de Steinle estão a "Madona" entronizada "segurando o Menino" enquanto um anjo toca um instrumento musical na frente deles, a "Visitation", a "Holy Family at the Spring", "Mary Magdalen seeking Christ", "Christ Walking with His Disciples", e "Legend of St. Euphrosyne", e a "Great Penitentiary". Entre suas pinturas que não são diretamente religiosas estão: o "Warder of the Tower", "Fiddler", "Sibyl", "Lorelei" e as fotos da história de Parsifal; não menos notáveis são suas ilustrações de Shakespeare, e especialmente aqueles que acompanham os escritos de Brentano.
Steinle morreu em Frankfurt em 19 de setembro de 1886.
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822 | Estrutura algébrica | Estrutura algébrica
Em álgebra abstracta, uma estrutura algébrica consiste num conjunto associado a uma ou mais operações sobre o conjunto que satisfazem certos axiomas. Caso não existam ambiguidades, geralmente identifica-se o conjunto com a estrutura algébrica. Por exemplo, um grupo ("G",*) refere-se geralmente apenas como grupo "G".
Em algumas estruturas algébricas além do conjunto principal existe mais um conjunto, denominado conjunto de escalares. Neste caso a estrutura terá dois tipos de operações: operações internas, que operam os objetos principais entre si e operações externas, que representam ações dos escalares sobre elementos do conjunto principal. Por exemplo, um espaço vectorial tem dois conjuntos, um conjunto de vectores e outro de escalares. Assim, se v1 e v2 são dois vetores e k é um escalar v1 * v2 seria o produto (interno) de vetores e k * v1 seria o produto (externo) de um escalar por um vetor.
O conceito de estrutura algébrica pode ser considerado sinônimo de Álgebra e Álgebra universal.
Notação.
É comum representar uma estrutura algébrica por uma "n-upla" do tipo "(G,F,+,-,f,<,1)". Nesta notação, são enumerados os conjuntos que fazem parte da estrutura, seguido de constantes, funções e relações.
Exemplos.
Dependendo das operações e axiomas, as estruturas algébricas ganham os seus nomes específicos.
O que se segue é uma lista parcial de estruturas algébricas:
Nas estruturas seguintes, temos dois conjuntos, um deles (auxiliar), chamado de "conjunto de escalares" e outro, o conjunto principal. Além das operações internas sobre o conjunto principal, podemos ter operações conectando os dois conjuntos:
As proposições que se aplicam colectivamente a todas as estruturas algébricas são investigadas no ramo da matemática conhecido como álgebra universal.
As estruturas algébricas também podem ser definidas em conjuntos com estruturas não-algébricas adicionais, como os espaços topológicos. Por exemplo, um grupo topológico é um espaço topológico com uma estrutura de grupo tal que as operações de multiplicação e inversão são contínuas; um grupo topológico possui quer uma estrutura topológica, quer uma estrutura algébrica. Outros exemplos comuns são espaços vectoriais topológicos e grupos de Lie.
Cada estrutura algébrica tem a sua própria noção de homomorfismo, uma função que é compatível com a operação ou as operações dadas. Desta forma, cada estrutura algébrica define uma categoria. Por exemplo, a categoria dos grupos tem como objectos todos os grupos e como morfismos todos os homomorfismos desses grupos. Esta categoria, uma vez que é uma categoria concreta, pode ser vista como uma categoria de conjuntos com estrutura extra, no sentido teórico das categorias. Analogamente, a categoria dos grupos topológicos (com os homomorfismos contínuos de grupo como morfismos) é uma categoria de espaços topológicos com estrutura extra.
Além das estruturas algébricas, existem mais duas estruturas fundamentais na matemática. São elas:
A partir destas três estruturas podem ser definidas estruturas mistas, quando para um conjunto são considerados operações, relações e partes de forma combinada. Por exemplo, um grupo topológico é um espaço topológico com uma estrutura de grupo tal que as operações de multiplicação e inversão são contínuas; um grupo topológico possui quer uma estrutura topológica, quer uma estrutura algébrica. Outros exemplos comuns são espaços vectoriais topológicos e grupos de Lie.
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824 | Espaço percorrido | Espaço percorrido
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825 | Engenharia metalúrgica | Engenharia metalúrgica
A Engenharia Metalúrgica é um ramo da engenharia, mais precisamente da Engenharia de Materiais, que é dedicado ao estudo dos materiais metálicos, englobando sua caracterização estrutural, propriedades mecânicas, produção e processamento.
O engenheiro metalurgista é o profissional que desenvolve, executa e coordena projetos de tratamento e de produção de metais, é responsável por todo processo de beneficiamento de minérios, por sua transformação em ligas metálicas com propriedades físicas, químicas e metalúrgicas adaptadas a usos diversos, e estuda a utilização desses metais na confecção de máquinas, estruturas ou peças. Na indústria, determina a composição química dos metais e seu modo de industrialização. O engenheiro metalúrgico é também responsável pelo desenvolvimento de novas ligas metálicas, com propriedades físicas, químicas e metalúrgicas adaptadas a usos diversos.
A depender da ênfase, um engenheiro de materiais pode assinar como engenheiro metalurgista, devido esta ser considerada como parte da Engenharia de Materiais e muitos optam em assinar como metalurgistas, visto que é a área mais procurada entre os estudantes.
O curso de Engenharia Metalúrgica.
Os dois primeiros anos são de aulas básicas de cálculo, física e química, em dois turnos. Boa parte das disciplinas específicas, do 5º ao 10º semestre, ocorrem em laboratórios. Os estudantes se envolvem em pesquisas, projetos e trabalhos como a certificação de materiais e perícias. Professores e alunos estudam em dez áreas: metalurgia física, processamento mineral, siderurgia, estudos ambientais para metalurgia, fundição, processos eletroquímicos e corrosão, transformação mecânica, termodinâmica computacional e fundamentos de economia e administração.
O mercado.
O mercado está aquecido para o profissional na metalurgia e mineração, pois a demanda ainda é maior que a oferta de formados. Engenheiros metalúrgicos encontram boa chance de emprego em empresas dos setores mecânico, metalurgia de metais não ferrosos, automobilísticas, de mineração, de armamento, de base, áreas de extração mineral. Outro campo promissor está nas indústrias aeronáuticas e siderúrgicas. De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o Brasil é o nono maior produtor e o 13º exportador mundial do aço. Novos investimentos garantem perspectivas positivas de emprego na área para os próximos dez anos. Nas mineradoras, especialmente as dos setores de alumínio e cobre, o profissional trabalha na área de metalurgia primária, que inclui a laminação e a fundição dos produtos. Os empregadores concentram-se principalmente em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Pernambuco, Ceará, Pará e Maranhão. Os engenheiros metalúrgicos também são requisitados em setores públicos, empresas de projetos e de consultoria, indústrias de autopeças, além de bancos para fazer análise de projetos e centros de pesquisa. Outro campo em crescimento é o do ensino, já que a tendência é de aumento no número de cursos oferecidos no país.
O parque siderúrgico brasileiro compõe-se hoje de 27 usinas, administradas por oito grupos empresariais. São eles: Aperam South America, Gerdau, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Arcelor Mittal, Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), Usiminas, Siderúrgica Norte Brasil(SINOBRAS), Vallourec, Villares Metals S.A e Votorantim Siderurgia. A privatização trouxe ao setor uma concorrência expressiva de capitais. Assim, muitas empresas produtoras ampliaram o interesse na siderurgia. O parque produtor brasileiro é novo e passa por um processo de atualização tecnológica. O parque metal-mecânico do Brasil está aquecido com novas unidades.
A Petrobras é a empresa que mais contrata engenheiros metalúrgicos no país. Eles atuam em inspeção, pesquisa, dutos, refinarias e apoio nas plataformas. O profissional também trabalha em bioengenharia (uso de próteses para o corpo humano), controle ambiental e em processos de indústrias automobilísticas, mecânicas, instituições de ensino e pesquisa.
O piso salarial do engenheiro é oito salários mínimos, variando de estado e por função exercida.
FEAMIG,IFMG,UEMG,FASAR, UFRGS, UFOP, UFC, UFF, UFMG, UFRJ, UEZO, USP, PUC-RJ, PUC-MG, IFES (antigo CEFET-ES), UENF, Mackenzie, Sociesc, UVV, UnilesteMG
A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) oferece o curso de Engenharia de Materiais dando ênfase na área da Metalurgia.
Os laboratórios da faculdade funcionam como porta para o mercado. O aluno deve buscar oportunidades e caprichar no trabalho de conclusão.
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826 | Física | Física
Física (do grego antigo: φύσις "physis" "natureza") é a ciência que estuda a natureza e seus fenômenos em seus aspectos gerais. Analisa suas relações e propriedades, além de descrever e explicar a maior parte de suas consequências. Busca a compreensão científica dos comportamentos naturais e gerais do mundo em nosso entorno, desde as partículas elementares até o universo como um todo. Com o amparo do método científico e da lógica, e tendo a matemática como linguagem natural, esta ciência descreve a natureza por meio de modelos científicos. É considerada a ciência fundamental, sinônimo de ciência natural: as ciências naturais, como a química e a biologia, têm raízes na física. Sua presença no cotidiano é muito ampla, sendo praticamente impossível uma completíssima descrição dos fenômenos físicos em nossa volta. A aplicação da física para o benefício humano contribuiu de uma forma inestimável para o desenvolvimento de toda a tecnologia moderna, desde o automóvel até os computadores quânticos.
Historicamente, a afirmação da física como ciência moderna está intimamente ligada ao desenvolvimento da mecânica, que tem como pilares principais de estudo a energia mecânica e os momentos linear e angular, suas conservações e variações. Desde o fim da Idade Média havia a necessidade de se entender a mecânica, e os conhecimentos da época, sobretudo aristotélicos, já não eram mais suficientes. Galileu centrou seus estudos nos projéteis, pêndulos e movimentos dos planetas; Isaac Newton, mais tarde, elaborou os princípios fundamentais da dinâmica ao publicar suas leis e a gravitação universal em seu livro "Principia," que se tornou a obra científica mais influente de todos os tempos. A termodinâmica, que estuda as causas e os efeitos de mudanças na temperatura, pressão e volume em escala macroscópica, teve sua origem na invenção das máquinas térmicas durante o século XVIII. Seus estudos levaram à generalização do conceito de energia. A ligação da eletricidade, que estuda cargas elétricas, com o magnetismo, que é o estudo das propriedades relacionadas aos ímãs, foi percebida apenas no início do século XIX por Hans Christian Ørsted. As descrições físicas e matemáticas da eletricidade e magnetismo foram unificadas por James Clerk Maxwell. A partir de então, estas duas áreas, juntamente com a óptica, passaram a ser tratadas como visões diferentes do mesmo fenômeno físico, o eletromagnetismo. No início do século XX, a incapacidade da descrição e explicação de certos fenômenos observados, como o efeito fotoelétrico, levantou a necessidade de abrir novos horizontes para a física. Albert Einstein publicou a teoria da relatividade geral em 1915, propondo a constância da velocidade da luz e suas consequências até então inimagináveis. A teoria da relatividade de Einstein leva a um dos princípios de conservação mais importantes da física, a relação entre massa e energia, geralmente expressa pela famosa equação E=mc². A relatividade geral também unifica os conceitos de espaço e tempo: a gravidade é apenas uma consequência da deformação do espaço-tempo causado pela presença de massa. Max Planck, ao estudar a radiação de corpo negro, foi forçado a concluir que a energia está dividida em "pacotes", conhecidos como quanta. Einstein demonstrou fisicamente as ideias de Planck, fixando as primeiras raízes da mecânica quântica. O desenvolvimento da teoria quântica de campos trouxe uma nova visão da mecânica das forças fundamentais. O surgimento da eletro e cromodinâmica quânticas e a posterior unificação do eletromagnetismo com a força fraca a altas energias são a base do modelo padrão, a principal teoria de partículas subatômicas, capaz de descrever a maioria dos fenômenos da escala microscópica que afetam as principais áreas da física.
A física é uma ciência significativa e influente e suas evoluções são frequentemente traduzidas no desenvolvimento de novas tecnologias. O avanço nos conhecimentos em eletromagnetismo permitiu o desenvolvimento de tecnologias que certamente influenciam o cotidiano da sociedade moderna: o domínio da energia elétrica permitiu o desenvolvimento e construção dos aparelhos elétricos; o domínio sobre as radiações eletromagnéticas e o controle refinado das correntes elétricas permitiu o surgimento da eletrônica e o consequente desenvolvimento das telecomunicações globais e da informática. O desenvolvimento dos conhecimentos em termodinâmica permitiu que o transporte deixasse de ser dependente da força animal ou humana graças ao advento dos motores térmicos, que também impulsionou toda uma Revolução Industrial. Nada disso seria possível, entretanto, sem o desenvolvimento da mecânica, que tem suas raízes ligadas ao próprio desenvolvimento da física. Porém, como qualquer outra ciência, a física não é estática. Físicos ainda trabalham para conseguir resolver problemas de ordem teórica, como a "catástrofe do vácuo", gravitação quântica, termodinâmica de buracos negros, dimensões suplementares, flecha do tempo, inflação cósmica e o mecanismo de Higgs. Ainda existem fenômenos observados empiricamente e experimentalmente que ainda carecem de explicações científicas, como a possível existência da matéria escura, raios cósmicos com energias teoricamente muito altas e até mesmo observações cotidianas como a turbulência. Para tal, equipamentos sofisticadíssimos foram construídos, como o "Large Hadron Collider", o maior acelerador de partículas já construído do mundo, situado na Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN).
História.
Antiguidade pré-clássica.
As pessoas, desde a Antiguidade, estavam conscientes da regularidade da Natureza. Desde tempos remotos sabia-se que o ciclo lunar era de aproximadamente 28 dias, e que os objetos, na ausência de suporte, caíam. Inicialmente, tentaram explicar tais regularidades usando a metafísica e a mitologia; tais regularidades eram obras de deuses e deusas, que controlavam o mundo ao seu bel prazer. Entretanto, a física, conhecida desde a antiguidade até o século XVIII como filosofia natural, iniciou-se como uma tentativa de se obter explicações racionais para os fenômenos naturais, evitando-se sobremaneira as infiltrações religiosas ou mágicas.
Povos de diferentes partes da Terra começaram a desenvolver ciência, sempre em torno da filosofia natural, em épocas e com ênfases diferentes. Os Indianos já refletiam sobre questões físicas desde o terceiro milênio antes de Cristo. Entre o nono e o sexto século a.C. os filósofos indianos já defendiam o heliocentrismo e o atomismo. No quarto século a.C., os chineses já haviam enunciado o que é conhecido hoje como a Primeira lei de Newton. No primeiro século a.C. os povos maias já haviam elaborado a noção de zero, antes mesmo dos europeus.
Grécia Antiga.
As primeiras tentativas ocidentais de prover uma explicação racional para os fenômenos naturais vieram com os gregos. Tales de Mileto foi historicamente o primeiro filósofo ocidental a recusar explicações sobrenaturais, religiosas ou mitológicas para os fenômenos naturais, defendendo que todo evento físico tem uma causa natural. Pitágoras e seus seguidores acreditavam que o mundo, assim como o sistema numérico inteiro, era dividido em elementos finitos, concebendo, assim, as noções de atomismo. Demócrito de Abdera, Leucipo de Mileto e Epicuro, entre o quinto e o terceiro séculos a.C., impulsionaram a filosofia do atomismo, onde propuseram que toda matéria seria constituída de pequenos átomos indivisíveis. Aristarco de Samos foi um dos primeiros defensores do heliocentrismo, embora na Grécia Antiga prevalecesse o paradigma geocentrista. A experiência, assim como todo trabalho braçal, na Grécia Antiga, eram ignorados, pois as explicações sobre o mundo físico eram baseadas em um pequeno número de princípios filosóficos. Arquimedes, entretanto, prezava a experiência: os fundamentos da estática e da hidrostática têm suas origens em Arquimedes. Os princípios do conceito de empuxo foram primeiramente formulados por ele. Tal conceito ficou conhecido como o princípio de Arquimedes.
Aristóteles é considerado um dos principais filósofos naturais da Grécia Antiga. Para ele e seguindo a ideia de Empédocles, o Universo era formado de quatro elementos básicos: o ar, a terra, a água e o fogo, além de um quinto elemento, o éter, elemento perfeito, que preencheria o restante do Universo para além da órbita da Lua. Para Aristóteles, era inconcebível a noção de vácuo e infinito. Cada elemento teria lugar próprio dentro do Universo, sendo que a terra tenderia a permanecer no centro do Universo e o fogo tenderia a fugir dele. No seu livro, "Física", Aristóteles diz que a causa do movimento é a força atuante; assim que cessa a força, cessa o movimento. A continuação do movimento após a perda de contato com o causador do movimento seria a "tendência" do ar em preencher o vazio que um projétil deixa em seu rastro. Este "preenchimento" resultaria em uma força que impulsionaria o projétil para frente, mas tal efeito não seria perpétuo, findando em algum instante.
Para explicar o movimento planetário, Eudoxo de Cnido, no quarto século a.C., elaborou as primeiras observações quantitativas para montar um modelo matemático dos movimentos planetários. Eudoxo desenvolveu um sistema de esferas concêntricas, sendo que cada esfera carrega um planeta. Este sistema foi se sofisticando ao longo dos séculos, com a crença dos gregos em um sistema geocêntrico. Todas as anomalias observadas, como a regressão aparente dos planetas e até mesmo a precessão do eixo da Terra, descoberta por Hiparco, foi explicada através do aumento da complexidade do sistema de esferas geocêntricas. Ptolomeu, no século II a.C. havia elaborado um sistema esférico dos planetas com mais de 80 esferas e epiciclos e seu trabalho, resumido em uma coleção de 13 livros que ficaram conhecidos como "Almagesto", foi utilizado amplamente pelos árabes e europeus até a Alta Idade Média.
Idade Média e filosofia natural Islâmica.
Com a queda do Império Romano, no século IV d.C., a maior parte da filosofia natural grega, assim como toda a educação em geral, perde importância. Esta época ficou conhecida como a "idade das trevas" para a evolução do conhecimento natural. Entretanto, o conhecimento natural dos gregos não foi totalmente perdido, migrou para o Oriente Médio e para o Egito. Os árabes, que já viviam naquela região, traduziram a literatura grega para o árabe. Assim, os árabes não só adquiriram o conhecimento grego, mas também o refinaram. Al-Khwarizmi é considerado o fundador da álgebra que hoje conhecemos. O astrolábio, presumidamente inventado por Ptolomeu, foi aperfeiçoado pelos persas.
No século XI, após a reconquista espanhola sobre os árabes, boa parte dos textos gregos que os árabes possuíam começou a ser traduzido para o latim. Assim, a Europa medieval voltou a apreciar a filosofia natural após longos séculos de escuridão. Uma vez traduzidos, todos os documentos foram estudados primeiramente por escolas estabelecidas juntamente a igrejas e catedrais. Tais escolas transformaram-se nas primeiras universidades medievais posteriormente. As universidades de Cambridge e Oxford foram fundadas no século XIII. Apesar de oferecerem ainda um ensino escolástico, tais universidades começaram a dar suporte para os primeiros desenvolvimentos científicos.
Guilherme de Ockham foi um dos mais importantes filósofos naturais da Idade Média. Rejeitou a explicação aristotélica do movimento e a teoria do "impetus", desenvolvida ainda na Grécia Antiga e retomada por Jean Buridan. Ockham afirmava que um objeto em movimento, após ter perdido contato com o seu lançador, já não é "portador" de qualquer força, segundo a teoria do "impetus", pois não se pode mais distinguir o objeto em movimento: o objeto em movimento pode ser o projétil, sob a perspectiva do lançador, ou o próprio lançador, sob o ponto de vista do projétil. A "Navalha de Ockham" diz que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à explicação deste e eliminar todas as que não causariam qualquer diferença aparente nas predições da hipótese ou teoria.
Renascimento, revolução científica e desenvolvimento do método científico.
O renascimento foi a época do redescobrimento do conhecimento na Europa. Vários acontecimentos revolucionaram a forma de pensar da sociedade europeia. Em 1543, Nicolau Copérnico publica "De revolutionibus orbium coelestium", apresentando um modelo matemático completo de um sistema heliocêntrico. Galileu Galilei é considerado o fundador da ciência moderna. Segundo Galileu, o cientista não tem o papel de explicar porque os fenômenos acontecem na Natureza, apenas pode descrevê-los. Em uma de suas obras, Galileu não afirmou que estava explicando a queda livre, apenas estava descrevendo-o. Galileu também foi o primeiro a conceber o conceito de inércia na Europa e foi o fundador da física como conhecemos hoje ao empregar a matemática na descrição de fenômenos naturais, que eram endossados pela experimentação. A sua contribuição para o desenvolvimento do telescópio contribuiu para a gradual consolidação do heliocentrismo, com a descoberta dos satélites galileanos.
Os métodos científicos de Galileu já eram uma derivação da nova forma de filosofia que vinha sendo desenvolvida por Francis Bacon e René Descartes, formulando as bases do método científico, que vinha sendo ensaiado desde a "era dourada" da filosofia natural Islâmica. Segundo Bacon, a ciência é experimental, qualitativa e indutiva. Rejeita assunções "a priori" e se houver uma quantidade suficiente de observações, estas seriam usadas para se induzir ou generalizar os princípios fundamentais envolvidos.
René Descartes propôs uma lógica diferente: em vez de se iniciar as observações com fatos "crus", Descartes acreditava que os princípios básicos que regem a Natureza podiam ser obtidos por uma combinação da pura razão com lógica matemática. Sua abordagem era analítica; os problemas deveriam ser "partidos" e rearranjados logicamente. Os fenômenos podem ser reduzidos e analisados aos seus componentes fundamentais. Se os componentes fundamentais fossem entendidos, o fenômeno também seria. A congruência entre os pensamentos de Bacon e de Descartes, mesmo que entrassem em conflito em certas discussões, dominou as investigações científicas nos três séculos seguintes.
A filosofia cartesiana, ou cartesianismo, rejeita toda e qualquer autoridade na obtenção do conhecimento. Os princípios básicos que regem a Natureza podiam ser obtidos por uma combinação da pura razão com lógica matemática. Em outras palavras, a busca pela verdade está baseada apenas na razão. Desse paradigma os dogmas religiosos, os preconceitos sociais, as censuras políticas e os aspectos fornecidos pelos sentidos são excluídos. A matemática passou a ser o modelo e a linguagem de todo conhecimento relacionado à ciência. Várias correntes de pensamento surgiram da filosofia cartesiana, como o racionalismo e o empirismo, e destas surgiriam o determinismo, o reducionismo e o mecanicismo.
Desenvolvimento da mecânica, termodinâmica e eletromagnetismo.
Após Galileu, Isaac Newton foi um dos cientistas mais importantes para o desenvolvimento da mecânica clássica. Suas três leis serviram de base para toda a mecânica até o início do século XX. Sua mecânica tornou-se modelo para a construção de teorias científicas futuras. Em seu livro "Philosophiae Naturalis Principia Mathematica", considerado a publicação mais influente de toda a história, descreveu a universalidade de suas leis e concluiu a primeira grande unificação da História da física, já iniciada por Galileu, ao unir Céus e Terra sob as mesmas leis físicas, a gravitação universal.
A invenção da máquina a vapor, aprimorada por Thomas Newcomen e James Watt, levou a um grande interesse científico no estudo do calor. O francês Sadi Carnot, já no século XIX, formulou as bases para o entendimento de máquinas térmicas. Joseph Black começou a quantificar o calor através da medida da capacidade térmica das substâncias. James Prescott Joule estabeleceu uma equivalência numérica entre trabalho e calor e mostrou que o calor produzido por uma corrente elétrica I em um condutor de resistência R era dado por I²R, conhecido atualmente como Lei de Joule. Os trabalhos de Joule estabeleceram o princípio da conservação da energia, que se tornou a base para a primeira lei da termodinâmica, formulada por Rudolf Clausius e William Thomson (Lord Kelvin). Clausius também formulou o conceito de entropia, que é a base para a segunda lei da termodinâmica. Assim como a mecânica Newtoniana se apoia em três leis fundamentais, as quatro leis da termodinâmica apoiam todo o conhecimento nesta área.
As forças magnética e elétrica já eram conhecidas desde a antiguidade. Entretanto, o estudo científico da eletricidade e do magnetismo foi iniciado no século XVII por William Gilbert, em seu livro "De Magnete". Otto von Guericke produziu o primeiro gerador eletrostático. Pieter van Musschenbroek construiu a primeira garrafa de Leiden, que acumula cargas elétricas. Alessandro Volta construiu a primeira pilha voltaica, que podia fornecer uma corrente elétrica contínua.
Benjamin Franklin foi um dos primeiros a propor que os relâmpagos eram uma forma de eletricidade. Também propôs que as cargas elétricas eram divididas em dois tipos, negativa e positiva, com cargas elétricas idênticas se repelindo e cargas contrárias se atraindo. Hans Christian Ørsted argumentou que a corrente elétrica gera magnetismo em torno do fio condutor. André-Marie Ampère forneceu os primeiros apoios matemáticos para o magnetismo em função da corrente elétrica. Michael Faraday postulou que o inverso também era válido, sendo que a variação do campo magnético induz a geração de corrente elétrica. Faraday elaborou um modelo qualitativo de como as forças elétrica e magnética agem. Também elaborou os conceitos de campos magnético e elétrico. James Clerk Maxwell unificou as teorias elétricas e magnéticas de Ampère, Faraday e de Gauss, resultando no nascimento da teoria eletromagnética, resumindo matematicamente o trabalho experimental de seus antecessores em quatro equações, conhecidas como as Equações de Maxwell. Maxwell propôs a existência de ondas eletromagnéticas, e sugeriu que a própria luz seria um exemplo de onda eletromagnética. A existência de tais ondas foi comprovada por Heinrich Hertz, em 1888, e a constatação da luz como onda eletromagnética completou outra grande unificação da física, fundindo a eletricidade, o magnetismo e a óptica dentro da teoria eletromagnética.
Física moderna.
No final do século XIX, as teorias clássicas da física estavam firmemente estabelecidas. Restavam aos físicos realizar medidas mais precisas para as constantes universais e aplicar o conhecimento obtido em tecnologias vindouras. Os "fenômenos rebeldes" consistiam um problema, embora fosse "uma questão de tempo" adequá-las às teorias vigentes. Entretanto, tais "fenômenos rebeldes" se tornaram um imenso desafio para física no final do Século XIX e no início do Século XX.
Entre os "fenômenos rebeldes", destacavam-se a radiação de corpo negro, o efeito fotoelétrico e o espectro de raias dos elementos. Max Planck, em 1900, em uma tentativa de dar suporte matemático à radiação de corpo negro, propôs a tese de que havia uma limitação energética na vibração dos osciladores causadores da radiação; um oscilador não poderia vibrar com qualquer energia, mas apenas com algumas energias "demarcadas", ou seja, discretas, sendo que seus valores seriam múltiplos de números naturais. As regiões discretas de energia ficaram conhecidas como "quanta" de energia. A energia desses "quanta" seria dada pelo produto de um número natural pela frequência e por uma constante universal, que ficou conhecida como a constante de Planck.
Em 1905, Albert Einstein publica cinco artigos no periódico alemão "Annalen der Physik", onde apresenta ao mundo todo o início da relatividade e da mecânica quântica. Alcançando o mesmo resultado para a constante de Planck, Einstein explicou também o efeito fotoelétrico e deu argumentações físicas para a existência dos "quanta" de energia. Postulou também que a velocidade da luz é constante em qualquer referencial inercial. Dez anos mais tarde, Einstein publicou a sua teoria da relatividade geral, estendendo a relatividade para referenciais não-inerciais e para a gravitação.
Em 1924, Louis de Broglie propõe a dualidade onda-partícula para o elétron, e dois anos mais tarde, Erwin Schrödinger publica a sua equação, que é a base da mecânica quântica moderna. No ano seguinte, Werner Heisenberg defende que não se pode mensurar a posição e a velocidade de uma partícula subatômica ao mesmo tempo, estabelecendo o Princípio da Incerteza. No final da década de 40, Richard Feynman desenvolveu a eletrodinâmica quântica, uma das teorias mais precisas já inventadas pelo homem atualmente. Feynman desenvolveu uma das primeiras teorias quânticas de campo e com a idealização e descoberta dos quarks, a cromodinâmica quântica foi elaborada. A eletrodinâmica e a cromodinâmica quântica são as bases de um conjunto de teorias quânticas de campo chamada de modelo padrão, que descreve três das quatro forças fundamentais da Natureza.
Entretanto, o Modelo Padrão não é capaz de descrever a gravitação, alvo de estudos desde o início da ciência moderna, quando Galileu realizou o experimento da queda livre. A gravitação ainda não tem um suporte teórico-experimental enraizado pela física moderna sobre a sua verdadeira causa. A relatividade geral de Einstein entra em conflito com a mecânica quântica e constitui um dos maiores desafios para os Físicos Teóricos e Experimentais atualmente.
Escopo e objetivos.
A física estuda a natureza e seus fenômenos em seus aspectos mais essenciais e gerais. Analisa suas relações e propriedades, além de descrever e explicar a maior parte de suas consequências, mas não a sua totalidade, pois a física não é um objeto pronto e acabado, mas sim uma ciência que busca obter respostas para os inúmeros problemas em aberto. Tem como pilares fundamentais o estudo da matéria, energia, espaço e tempo, e deriva destes entes fundamentais e de suas propriedades e relações todo o vasto escopo da física.
Nesta busca por respostas e generalizações, a física tem o apoio do método científico, um conjunto de técnicas e procedimentos com o objetivo de tornar científico o conhecimento produzido, que deve ser validado, corroborado e verificável experimentalmente. Nesse processo há também o apoio da lógica, que permeia o conhecimento produzido e em produção como um conjunto de regras de raciocínio comum a todos e permite que o conhecimento esteja disponível a todos que queiram compreendê-lo e utilizá-lo, validando-o desta forma. O uso da lógica implica o uso de sua linguagem e escrita, a matemática. As regularidades encontradas no conhecimento e fundamentadas pela lógica devem ser expressadas matematicamente, pois os argumentos que as sustentam devem ser corroborados por outros que também utilizam a mesma lógica para a compreensão do conhecimento.
O escopo da física não se restringe às dimensões, pois tudo o que está contido no Universo é seu objeto de estudo, desde as partículas elementares que constroem a matéria até as estrelas, galáxias e o próprio Universo como um todo. Porém, está ciência não é exclusiva na abordagem dos fenômenos naturais, pois suas especificidades e complexidades requerem uma maior atenção de estudo. Os fenômenos mais restritos são geralmente estudados por outras ciências naturais, como a química e a biologia. A física, porém, é conhecida como a ciência fundamental por buscar a essência primordial da natureza e muitas vezes torna-se sinônimo da própria ciência natural.
Constrói modelos científicos que descrevem o funcionamento da natureza e permitem compreender e prever com a precisão requerida os comportamentos e fenômenos naturais. Porém, tais modelos não conseguem descrever e explicar a natureza em toda sua complexidade, fato inerente aos limites do conhecimento humano. Por ser uma ciência com um escopo tão amplo, costuma-se dividi-la em áreas mais restritas. Tais divisões são históricas e muitas vezes uma área desenvolve-se historicamente de forma independente, como a astronomia. Historicamente, a afirmação da física como ciência moderna está intimamente ligada ao desenvolvimento da mecânica clássica, pois desde o advento do Renascimento havia a necessidade de se entender os fenômenos físicos relacionados aos movimentos e forças, e os conhecimentos da época, sobretudo aristotélicos, já não eram mais suficientes. Este panorama começou a ser superado com os estudos de Galileu Galilei e finalizado com a publicação científica mais influente de todas as épocas, o "Philosophiae Naturalis Principia Mathematica", de Isaac Newton. A termodinâmica teve sua origem na invenção das máquinas térmicas e sua consolidação veio com a formulação de seus princípios e a generalização do conceito de energia. A ligação da eletricidade com o magnetismo foi percebida apenas no início do século XIX por Hans Christian Ørsted. As descrições físicas e matemáticas da eletricidade e magnetismo foram unificadas por James Clerk Maxwell, e a partir de então estas duas áreas, juntamente com a óptica, passaram a ser tratadas como visões diferentes do mesmo fenômeno físico, o eletromagnetismo. O início do século XX marca a fronteira entre a física clássica e a física moderna, com as profundas alterações do entendimento científico da época. A incapacidade da descrição e explicação de certos fenômenos observados levantou a necessidade de abrir novos horizontes para a física. Albert Einstein publicou a teoria da relatividade geral em 1915 afirmando a constância da velocidade da luz e suas consequências até então imagináveis. Max Planck, ao estudar a radiação de corpo negro, foi forçado a concluir que a energia está dividida em "pacotes", conhecidos como quanta. Einstein demonstrou fisicamente as ideias de Planck, fixando as primeiras raízes da mecânica quântica, a física que descreve e explica fenômenos de dimensões subatômicas. Mesmo estes campos de atuação são muito amplos e são, por sua vez, subdividios em áreas mais restritas.
Os fenômenos naturais apresentam quase sempre naturezas mais complexas e implicam, portanto, em investigações mais específicas. Surge, então, a necessidade de outras ciências naturais. Tais ciências têm necessariamente a física como ponto de partida, mas o estudo completo das complexidades físicas envolvidas nestes fenômenos torna-se inviável se estas forem abordadas apenas pela física. Por exemplo, a química se dedica ao estudo da matéria e suas mudanças, enquanto a biologia estuda os seres vivos. Para que o estudo de áreas mais específicas fossem aprofundadas, várias ciências mais especializadas se separaram da física com o decorrer dos séculos, para formar campos de estudos autônomos com conhecimentos e metodologias próprios. Embora a física esteja particularmente preocupada com os aspectos da natureza que possam ser entendidos fundamentalmente na forma de leis ou princípios elementares, o advento destas novas ciências não removeu da física o seu objetivo original: entender e explicar a estrutura da natureza e seus fenômenos mesmo em escala de maior complexidade. A teoria da termodinâmica e o consequente desenvolvimento da física estatística é um notório exemplo disto, e conceitos como o de temperatura são indissociáveis ao estudo de qualquer sistema natural, seja complexo ou não.
Um dos principais escopos da física é o estudo das quatro forças fundamentais. Dentro do cotidiano, apenas duas das quatro forças fundamentais são influentes: o eletromagnetismo, que rege praticamente todas as forças que conhecemos e seus respectivos trabalhos, e a gravidade, que age como uma simples força conservativa na superfície terrestre, sendo vertical e apontada para baixo. As forças nucleares forte e fraca praticamente não estão presentes em nosso cotidiano, embora sejam fundamentais para a constituição do próprio Universo. O estudo das quatro forças fundamentais constitui a maior aproximação fundamental para o entendimento da Natureza e de seus fenômenos que a ciência oferece.
As divisões clássicas da física foram baseadas em classes gerais de fenômenos naturais para os quais uma determinada metodologia da física aplica-se de forma comum. Estas divisões ainda são atuais e tendem a ser usadas cotidianamente. O ensino de física a nível secundário geralmente inicia-se com o estudo da mecânica clássica, seguindo para termodinâmica e para o eletromagnetismo, embora áreas como a cosmologia, a óptica e a física moderna também sejam tratadas. Por outro lado, as divisões ou ramos da física moderna são feitas em acordo com os tipos particulares de estruturas da natureza com qual cada ramo está preocupado. Costuma-se também dividir a física em aplicada e pura. Enquanto a física pura busca produzir conhecimentos sobre os princípios mais fundamentais da natureza sem a intenção de produzir conhecimentos práticos imediatos, a física aplicada busca dar resposta a problemas práticos. As engenharias se aproximam da física aplicada quando buscam resolver problemas de ordem prática, como na aeronáutica, computação, automação, mineralogia, eletrônica, fotônica, acústica, biofísica, topografia, geociências, resistência dos materiais, telecomunicações, hidráulica, metalurgia, entre outras. Entretanto, as fronteiras entre física pura e aplicada podem não ser claras. Enquanto a biofísica se preocupa em produzir conhecimentos de como o olho humano reconhece e codifica a luz visível, tentando produzir sensores que possam substituir a retina para aqueles que não são mais ou nunca foram capazes de enxergar, produz conhecimentos sobre os comportamentos físicos e biológicos de nanopartículas sem ainda ter, entretanto, alguma utilidade prática.
A física se preocupa com o estudo da matéria, energia, espaço e tempo, buscando sempre uma maior precisão e uma maior profundidade no entendimento dos elementos e princípios fundamentais. Também tem, contudo, o objetivo de construir uma teoria unificada expressada em linguagem matemática precisa e corroborada experimentalmente de forma universal, que apresente uma estrutura e um comportamento que permitam que seus modelos científicos sejam capazes de descrever e prever os fenômenos naturais na maneira mais compreensiva e detalhada possível, sejam estes quais forem. Em sintonia com este objetivo, a física está caracterizada por uma instrumentação e medições altamente precisas. Outras ciências naturais estão preocupadas em descrever e relatar os fenômenos em seus conceitos peculiares restritos às suas próprias disciplinas, mas a física sempre busca entender o mesmo fenômeno como uma manifestação especial de uma estrutura uniforme e superior da natureza como um todo.
Divisões.
O escopo muito amplo da física é abordado por vários campos de estudo que podem se diferir muito entre si. Tais divisões têm fundamentações históricas, e muitas áreas surgiram de forma independente. O próprio início da física clássica, durante a revolução científica está grandemente associada ao início da mecânica clássica.
Existem várias formas de dividir esta ciência tão ampla. Considera-se o início da física clássica e independente os estudos de Galileu Galilei. O paradigma de René Descartes, uma visão mecanicista da ciência onde o mundo natural é uma maquina sem espiritualidade e, portanto, deve ser dominada pela inteligência humana e ser posta a seu serviço, permeou a produção e desenvolvimento científicos até o início do século XX, quando o entendimento científico foi modificado profundamente pelo advento dos fundamentos da relatividade e da mecânica quântica, em um mundo onde o tempo pode se dilatar e as partículas elementares não são mais pontuais e locais e comportam ora como onda, ora como partícula. Esta época delimita a fronteira entre a física clássica e a física moderna.
As divisões clássicas da física, antes do início do século XX, foram baseadas em classes gerais de fenômenos naturais para os quais uma determinada metodologia da física aplica-se de forma comum. É a forma de divisão mais tradicional, pois considera-se as propriedades dos fenômenos estudados: os movimentos e forças são objeto de estudo da mecânica, a curiosidade acerca do calor e suas propriedades criou um plano de fundo para o surgimento da termodinâmica. A eletricidade, o magnetismo e a óptica surgiram de forma independente, mas foram integradas durante meados do século XIX ao serem consideradas apenas visões diferentes de um mesmo fenômeno muito mais amplo, o eletromagnetismo.
As divisões da física moderna são feitas em acordo com os tipos particulares de estruturas da natureza com qual cada ramo está preocupado. As implicações até então imagináveis de afirmações aparentemente simples, como a constância das leis da física para qualquer referencial e a constância da velocidade da luz, são a base da relatividade. A mecânica quântica é a física das dimensões subatômicas.
Ainda existem numerosas divisões interdisciplinares da física. Tem um papel crucial dentro da ciência dos materiais ao fornecer subsídios para o estudo de relações, estruturas, performance, formas de caracterização e processamento dos materiais. A biofísica surge quando a biologia necessita resolver problemas que pertencem ao escopo da física. Da mesma forma a física médica surge quando a medicina necessita da física para resolver problemas, especialmente notáveis em radiologia. Destacam-se ainda a metalurgia, que necessita da física, especialmente da mecânica, na produção de produtos metálicos; a geofísica, que busca o compreensão da estrutura, composição e dinâmica do planeta Terra sob a ótica da física; a físico-química, quando a química necessita de conceitos físicos, como o movimento, energia, força, tempo, termodinâmica, mecânica quântica e física estatística, para a resolução de problemas; a física matemática, quando a física requer a utilização da metodologia da matemática para a aplicação de problemas físicos; e a meteorologia física, a área da meteorologia que investiga os fenômenos atmosféricos do ponto de vista da física, descrevendo-os e explicando-os a partir de teorias e da análise de resultados experimentais.
Física clássica.
Mecânica clássica.
A mecânica clássica descreve o movimento de objetos macroscópicos, desde projéteis a partes de máquinas, além de corpos celestes, como espaçonaves, planetas, estrelas e galáxias. A mecânica clássica em si também é muito ampla e várias especializações são derivadas dela. Referente aos conceitos abordados, pode ser dividida em Cinemática, que estuda os movimentos sem se preocupar com suas causas, a Estática, que aborda sistemas sob ação de forças que se equilibram, e a Dinâmica, que estuda o movimento considerando suas causas, em outras palavras, aborda sistemas sob ação de forças que não se equilibram.
Surgiu durante a revolução científica, juntamente com a consolidação da física como ciência moderna. Galileu Galilei pode ser considerado o marco inicial da mecânica clássica, mas sua consolidação definitiva veio com a publicação dos "Philosophiae Naturalis Principia Mathematica", de Isaac Newton, considerada a obra científica mais influente de todos os tempos. Entretanto, em certos sistemas, a mecânica de Newton passa a ser pouco eficiente para ser usado na resolução de problemas. No final do século XVIII e durante o século XIX a mecânica foi reformulada por Joseph-Louis Lagrange e William Rowan Hamilton, para que abarcasse a resolução analítica de um maior número de problemas com um ferramental matemático mais refinado.
A mecânica não se limita à análise de partículas discretas, mas estuda também meios contínuos. O momento de inércia de um disco rígido com centro de rotação coincidente com o seu próprio centro é diferente de uma partícula isolada que orbita um centro de rotação qualquer. A mecânica de meios contínuos é a mecânica que aborda o estudo dos materiais de massa contínua, em oposição de materiais de partículas discretas ou isoladas. A mecânica dos fluidos e a Dinâmica de corpo rígido são exemplos de divisões da mecânica de meios contínuos.
É considerada a divisão base da física, pois as outras divisões são derivadas dela. Seu escopo continua sendo o estudo dos entes fundamentais da física: espaço, tempo, matéria e energia. De suas relações e consequências, surgem outros conceitos, como as leis de Newton, posição, dimensão, invariância de Galileu, velocidade, aceleração, força, torque, momento linear, momento angular, energia mecânica, trabalho, potência, massa, inércia, momento de inércia, referencial, entre outros.
Ondulatória.
A ondulatória, na física clássica, estuda as características e as propriedades das ondas e seus movimentos e relações. A onda consiste-se de perturbações, pulsos ou oscilações ocorridas em um determinado meio, que pode ser material ou não. Transporta energia cinética da fonte para o meio, sendo incapaz de transportar matéria.
Seu estudo clássico também iniciou-se com Galileu Galilei e Isaac Newton inclui seu estudo em seu "Principia Mathematica" ao analisar a mecânica dos fluidos, a mecânica dos corpos que não possuem rigidez ou volume próprios. A acústica é a parte da Ondulatória que estuda especificamente a propagação das ondas sonoras pelo ar. A luz foi considerada um fenômeno ondulatório a partir da experiência da dupla fenda de Thomas Young. Seus conceitos principais são ondas (transversais e longitudinais) comprimento de onda, oscilação, amplitude, frequência, fase, reflexão, refração, difração, interferência, polarização, efeito Doppler, entre outros.
Termodinâmica.
Precedendo a termodinâmica pode-se encontrar a Termologia, que é basicamente o estudo do calor, ou seja, o estudo da energia térmica em trânsito, que se diferencia de temperatura, que é o grau de agitação das moléculas. Porém, os conceitos mais arraigados desta área encontram-se na termodinâmica, que estuda as relações entre o calor trocado e o trabalho realizado.
Máquinas térmicas tinham sido inventadas e aperfeiçoadas ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX. No entanto, a atenção científica sobreveio apenas em meados do século XIX com Sadi Carnot. Seus estudos foram aprimorados ao longo daquele século por James Prescott Joule, Lord Kelvin e Rudolf Clausius. Seus princípios ajudaram no estabelecimento da teoria cinética e no consequente desenvolvimento da física estatística. Seus principais conceitos são calor, temperatura, pressão, volume, energia térmica, entalpia, entropia, capacidade térmica, calor específico, entre outros.
Eletromagnetismo.
O eletromagnetismo é basicamente a unificação da eletricidade, que é o estudo das cargas elétricas, estáticas ou em movimento, com o magnetismo, que é basicamente o estudo dos ímãs. A luz é uma radiação eletromagnética, e seu campo de estudo, a óptica, também faz parte do eletromagnetismo.
William Gilbert foi o pioneiro no estudo do magnetismo e da eletrostática, parte da eletricidade que aborda o estudo das propriedades físicas das cargas elétricas estacionárias, em oposição à eletrodinâmica, que estuda a relação da força eletromagnética entre cargas e correntes elétricas. Otto von Guericke, Benjamin Franklin e Alessandro Volta contribuíram para o desenvolvimento desta área, mas Hans Christian Ørsted foi o primeiro a perceber, em 1820, a ligação entre o magnetismo e eletricidade, até então áreas independentes e sem conexões. Michael Faraday descobriu a indução eletromagnética e James Clerk Maxwell unificou as descrições matemáticas da eletricidade e magnetismo em um grupo de quatro equações, conhecidas como Equações de Maxwell.
Seus principais conceitos são capacitância, carga elétrica, corrente elétrica, condutividade elétrica, campo elétrico, permissividade elétrica, potencial elétrico, resistência elétrica, indução eletromagnética, radiação eletromagnética, campo magnético, fluxo magnético, monopolo magnético, permeabilidade magnética, entre outros.
Embora a maior parte da física clássica esteja englobada na mecânica clássica, Ondulatória, termodinâmica e eletromagnetismo, outras especializações também podem ser consideradas clássicas, pois não utilizam a princípio conceitos modernos, ou seja, conceitos que recorrem à relatividade ou a física quântica, embora não estejam delimitados exclusivamente dentro das concepções clássicas. Destaca-se a teoria do caos nesta área.
Física moderna.
No final do século XIX, permeava no pensamento científico a satisfação de que todos os fenômenos naturais poderiam ser descritos pela ciência já desenvolvida até então. Restava apenas a conquista de uma maior precisão do valor das constantes universais e da resolução de alguns "pequenos" problemas. Estes se tornaram uma grande dor de cabeça com o passar dos anos, pois continuariam insolúveis. Entre estes fenômenos "problemas" destacam-se a radiação de corpo negro e a catástrofe do ultravioleta, o espectro de raias dos elementos e o efeito fotoelétrico. As contribuições iniciais de Max Planck e sobretudo Albert Einstein abriram novos campos para a explicação destes fenômenos e abriram margens para descobertas e ponderações até então inimagináveis.
Relatividade.
Em 1905, Albert Einstein publicou os fundamentos da relatividade restrita, afirmando constância da velocidade da luz em qualquer referencial inercial e postulando que as leis da física são as mesmas para qualquer referencial. Isso implica efeitos e consequências que não são previstas pela mecânica clássica, como a dilatação do tempo e a contração do comprimento. Dez anos mais tarde Einstein publica a teoria da relatividade geral, que generaliza, através da equações de campo de Einstein, os efeitos descritos pela relatividade restrita para referenciais não-inerciais. Também engloba a mais completa descrição da gravidade disponível atualmente, sendo esta meramente um efeito da curvatura do espaço-tempo provocada pela presença de grande quantidade de massa.
Mecânica quântica.
Max Planck, em 1900, durante seus estudos sobre radiação de corpo negro, apresentou uma descrição matemática do fenômeno que coincidia com os resultados experimentais. Esta descrição tentava fugir da descrição clássica, que levava ao que foi conhecido como catástrofe do ultravioleta. Nesta descrição, Planck argumentou que a distribuição energética era discreta, não contínua, como na descrição clássica. Cinco anos mais tarde, Einstein apresentou argumentações físicas para os resultados de Planck, elucidando também o efeito fotoelétrico. Planck e Einstein fundamentaram os princípios da mecânica quântica, que é basicamente a física das dimensões subatômicas. Seu desenvolvimento foi impulsionado, entre outros, por Niels Bohr, Louis de Broglie, Werner Heisenberg e Erwin Schrödinger.
A teoria mais precisa elaborada pela ciência é a eletrodinâmica quântica de Richard Feynman, onde é utilizado as noções da mecânica quântica para a descrição e explicação de campos eletromagnéticos. Feynman elaborou uma das primeiras e a mais famosa teoria quântica de campos e foi sucedido pela elaboração da cromodinâmica quântica, a teoria quântica do campo da força forte, que levou à previsão e a posterior descoberta dos quarks. Após a fusão das descrições da força fraca com o eletromagnetismo em altas energias, três das quatro forças fundamentais são descritas por teorias quânticas de campos. Entretanto, a gravidade ainda não é descrita por nenhuma teoria quântica de campos corroborada experimentalmente.
A física moderna não está limitada apenas à relatividade e à mecânica quântica. Destacam-se também a física das partículas elementares, que estuda as propriedades das partículas elementares que constituem a matéria; a física nuclear, que estuda as propriedades dos núcleos atômicos; a física atômica e molecular, que estuda as propriedades físicas da associação dos núcleos e elétrons; a física da matéria condensada, que aborda o entendimento do comportamento da matéria composta por um grande número de átomos; e a física do plasma, que estuda as propriedades da matéria cuja temperatura é suficientemente alta para que elétrons e núcleos consigam se manter separados. A óptica, que é uma área da física ligada ao eletromagnetismo, também tem pilares na Mecânica quântica, pois a luz visível, uma faixa de toda a radiação eletromagnética, exibe propriedades duais: comporta-se como ora como partícula ora como onda. As disciplinas físicas da astronomia, como a astrofísica, utilizam grandemente a mecânica clássica em seus estudos, mas a relatividade geral encontra a sua maior aplicação nesta cadeira, especialmente na cosmologia.
Física pura e física aplicada.
A física pura está preocupada com a obtenção do conhecimento básico e preciso, sem se preocupar com pesquisas que tenham utilidade prática imediata. Almeja a obtenção de conhecimentos para a resolução de problemas de caráter mais geral, embora não tenha um objetivo bem delineado. Busca atender demandas exigidas pela própria comunidade científica, como a necessidade de se propor novas teorias para problemas que são insolúveis para a teoria vigente. Em 1916, Albert Einstein propôs o modelo de emissão estimulada, onde a colisão de um átomo excitado com um fóton de mesma energia provoca a emissão de um fóton idêntico ao primeiro, que se propaga na mesma direção e sincroniza sua onda com a do estimulador, somando sua intensidade e aumentando, dessa forma, a intensidade da luz emitida. Este conceito é a base do funcionamento do laser, que viria a ser inventado apenas em 1960.
A física aplicada é o termo geral para pesquisas em física com objetivo de uso particular. Está associada à engenharia. Um físico aplicado, que pode ser ou não um engenheiro, está projetando algo em particular usando a física ou conduzindo uma pesquisa física com o objetivo de desenvolver novas tecnologias ou de resolver problemas.
A abordagem é semelhante à abordagem da matemática aplicada. Os físicos aplicados também podem estar interessados no uso da física para pesquisas científicas no desenvolvimento tecnológico ou em aplicações práticas, que podem não estar relacionados à própria engenharia. Os cientistas que trabalham em um acelerador de partículas buscam desenvolver detectores de partículas mais eficazes para permitir um maior progresso da física teórica, mas podem estar trabalhando na miniaturização de circuitos eletrônicos para que a própria tecnologia avance.
A física é muito usada na engenharia. A estática, uma subdisciplina da mecânica, é muito usada na engenharia civil. A física também pode ser utilizada na interdisciplinaridade em outras ciências, inclusive utilizando seus métodos em ciências não-naturais.
Física teórica e física experimental.
Uma teoria física é um modelo de eventos físicos, uma aproximação construída por humanos para descrever a Natureza. É endossado segundo a concordância de suas predições com as observações empíricas. Uma teoria física também é endossada pela sua habilidade de realizar novas previsões que podem ser verificadas através de novas observações. Uma teoria física difere de um teorema matemático; ambos são baseados em axiomas ou postulados, mas aplicabilidade matemática não é baseada com a concordância de resultados experimentais. Uma teoria física envolve uma ou mais relações entre as várias grandezas físicas. Em certas ocasiões, a visão provida por sistemas matemáticos puros podem prover pistas de como um sistema físico deve ser modelado.
Os avanços teóricos existem quando velhos paradigmas são postos de lado; a mecânica Newtoniana foi suplantada pela mecânica relativística, mas a mecânica Newtoniana é um de seus casos particulares. O conjunto de teorias físicas, dentro de um paradigma, é aceito quando é capaz de realizar previsões corretas, embasados pela experimentação, suplantando outro velho conjunto de teorias físicas que já não é capaz de descrever os novos fenômenos observados. O método científico existe para testar as consequências de uma teoria física.
A física experimental está preocupada com a aquisição de dados, seus métodos e conceitualizações detalhados, além da realização de experimentos laboratoriais, em contraste com os experimentos mentais. Está preocupada em obter conhecimentos da Natureza, em contraste com a física teórica, que está preocupada em entender como a Natureza se comporta. Apesar da física experimental e a física teórica terem objetivos distintos, a física experimental depende da física teórica. A maioria dos experimentos elaborados pela física experimental têm o propósito de confirmar ou contradizer as conclusões feitas pela física teórica, que, por sua vez, não pode evoluir sem o conhecimento produzido pela física experimental. Experimentos podem ser formulados para fornecerem fatos completamente novos sobre sistemas nunca estudados ou modelados, mas mesmo nestes casos não se pode negar que o ponto de partida é diretamente influenciado pelas teorias e conhecimentos até a corrente data já produzidos.
Filosofia.
Tendo em consideração que a física sempre esteve associada à filosofia natural desde a antiguidade até o século XVIII, a filosofia da física pode ser considerada a mais antiga disciplina filosófica da história. A reflexão humana sobre o mundo físico precedeu historicamente a reflexão sobre a natureza de nossos próprios pensamentos e nossas interações sociais com outros seres humanos. No entanto, filosofia da física, como disciplina moderna, surge durante o Renascimento e começa a ser aprofundada durante o Iluminismo, tendo um caráter mais epistemológico com o avançar dos séculos.
A filosofia natural é debatida desde a antiguidade pré-clássica. As primeiras reflexões vieram sobre discussões de ordem prática acerca da mecânica, óptica e astronomia. Babilônicos e egípcios eram capazes de prever eclipses solares e lunares. Porém, os debates acerca do mundo natural estavam sempre associados a geometria. Os gregos foram os primeiros a desenvolver uma filosofia natural sem pretensões práticas. Tales de Mileto é às vezes referido como "pai da ciência", pois recusou-se aceitar explicações sobrenaturais, mitológicas e religiosas para os fenômenos naturais. Leucipo de Mileto e posteriormente Demócrito de Abdera desenvolveram o atomismo, onde tudo o que há na natureza é formado por átomos indivisíveis e eternos. Para Aristóteles, as mudanças na natureza podem ser explicadas através de quatro causas: a causa material, aquilo do qual é feita alguma coisa; a causa formal, a coisa em si e o que lhe dá a forma; a causa eficiente, aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge; e a causa final, aquilo para o qual a coisa é feita. Aristóteles foi pioneiro em construir uma teoria altamente coerente e elaborada para a explicação do mundo natural, com base filosófica bem muito bem fundamentada, registrada em seu livro "Física". Para ele, os elementos naturais buscavam seu lugar próprio no Universo: a terra buscaria seu centro, onde a Terra está situada, enquanto o fogo tenderia a fugir. Aristóteles também relacionou o movimento como algo provocado por uma força. Embora Aristarco de Samos tenha defendido o heliocentrismo, o auge da astronomia grega vem com o geocentrista, Ptolomeu que aperfeiçoou e complexificou a mecânica celeste grega baseada em esferas e epiciclos para englobar todos os movimentos dos astros observados, incluindo a precessão dos equinócios.
Na visão de vários cientistas atuais, as considerações filosóficas sobre a ciência e a física não influenciam diretamente suas atividades ou métodos de trabalho como cientistas no dia-a-dia, mas a filosofia da física envolve uma combinação de assuntos conceituais, metodológicos, epistemológicos e até mesmo metafísicos. Os filósofos da física colaboram juntamente com os físicos para entenderem os conceitos que empregam em suas pesquisas. Um dos primeiros estudos modernos da filosofia da física foi a reflexão sobre os componentes mais fundamentais do Universo. O Renascimento abalou profundamente as bases filosóficas medievais, fazendo que o ser humano voltasse para si próprio e a busca para uma nova postura diante do mundo precisava de verdades diferentes e de outros modos de reflexão. René Descartes recusava o pensamento tradicionalista medieval e concebia que o pensador tinha por objetivo construir um sistema filosófico semelhante à matemática. Surgia o paradigma cartesiano, com um método de investigação do mundo que rejeitava qualquer conhecimento baseado na sensibilidade, apresentando como critério verídico sua argumentação de que todas as coisas que concebemos são verdadeiras e, portanto, não passíveis de serem contestadas.
Emerge deste pensamento, dessa mentalidade reducionista e mecanicista do Universo levou o ser humano a uma visão fragmentada da verdade, tendo como consequência a quebra da ciência nas várias especialidades, o determinismo científico, onde tudo que existe não passa de partículas e que os movimentos dessas partículas são para sempre determinados quando se mensuram as posições e as velocidades de todas as partículas no momento atual. Em outras palavras, conhecendo-se as posições de todas as partículas do Universo e as suas respectivas velocidades em um dado instante, poder-se-ia conhecer com exatidão todo o passado e o futuro, fosse qual fosse o instante desejado. Esta forma de pensar liga-se diretamente ao reducionismo. Segundo essa linha de pensamento, é possível escrever leis básicas que descrevem completamente o comportamento do Universo. Nestes termos, todo o conhecimento pode ser reduzido a essas leis básicas. Por exemplo, tem-se que todos os fenômenos químicos possam ser deduzidos da mecânica quântica se o número de cálculos envolvidos for viável. O principal objetivo da física seria então encontrar essas leis básicas que regem o Universo. O reducionismo coloca a física na posição de ciência a mais básica de todas pois, a partir dela, seria possível, em princípio, chegar-se ao mesmo conhecimento produzido em todas as outras. Isso não implica o descarte das demais, pois essas tratariam com as suas próprias metodologias os fenômenos naturais mais complexos, consolidando-se em áreas que, por questões práticas, estariam fora do alcance da física.
A crise científica no início do século XX, causada pelos seus próprios progressos, abalou o paradigma reducionista-mecanicista cartesiano. O surgimento da relatividade e da mecânica quântica e outras áreas da física moderna redefiniu conceitos como ordem, posição, tempo, espaço, momento, continuidade e separabilidade, referencial e localidade. Os métodos reducionistas já não são compatíveis com novas formas da lógica e a complexidade surge em primeiro plano. O caos, a complexidade, a probabilidade e a incerteza passaram a integrar uma nova forma da percepção da realidade.
Com a física em posição de ciência mais fundamental, certas questões metafísicas, como especulações sobre o tempo, a existência e as origens do Universo, entre outras, deveriam ser enviadas à física para se obter respostas segundo os moldes dessa ciência. Nestes termos, seja qual for a resposta que a física apresente para conceitos como tempo, causa e ação, ou mesmo identidade, estas deveriam ser consideradas em princípio corretas. Entretanto, se as noções tradicionais metafísicas entrarem em confronto com uma física bem enraizada, então essas noções metafísicas deixariam de ter significado ou dever-se-ia questionar a validade dos conhecimentos sobre o mundo físico providos pela física. Para isso, filósofos da física têm se esforçado para investigar qualquer confronto possível entre a Metafísica e a física.
A física tem sido considerada historicamente o modelo de ciência para todas as outras ciências, naturais ou não, tanto por filósofos quanto por cientistas. Por exemplo, a Sociologia, ainda nos seus primórdios com Auguste Comte, na primeira metade do século XIX, era chamada de física Social. Dentro da construção do senso comum, a física detém os melhores métodos que a ciência pode conceber. Mas também é argumentável que a física tem os seus próprios métodos, diferentes daqueles de outras ciências, e particularmente aplicáveis à própria disciplina e incomparáveis a outras. Mesmo dentro da física, os métodos podem variar e serem incomparáveis.
Esta ciência ocupa uma posição privilegiada dentre as ciências, já que lida com os mais arraigados conceitos cotidianos. O próprio conceito de cotidiano já foi várias vezes abalado com as mudanças de paradigma da física. Por exemplo, a revolução copernicana, trazendo o heliocentrismo ao primeiro plano, quebrando o paradigma geocentrista defendido pela Igreja Católica na Idade Média, a unificação da física dos Céus e da Terra com a gravitação universal de Newton, a unificação dos conhecimentos de eletricidade e magnetismo por Maxwell. As viagens no tempo e os buracos negros começaram a ganhar espaço dentro do imaginário a partir da relatividade geral de Albert Einstein.
Física, lógica e matemática.
A física tem o apoio da lógica, pilar central do conhecimento humano para a sua fundamentação, estruturação e expressão. Está ligada ao pensamento humano e distingue interferências e argumentos falsos e verdadeiros. É basicamente um conjunto de regras rígidas para que argumentações e conclusões pudessem ser aceitas como logicamente válidas. O uso da lógica leva a um raciocínio baseado em premissas e conclusões. Tem sido binária, pois aceita duas assunções, falso ou verdadeiro e nega a existência da simultaneidade de conclusões, como por exemplo, conclusões que ao mesmo tempo são parcialmente verdadeiras e parcialmente falsas. Tal conclusão e suas leis da identidade (X deve ser X), da impossibilidade da contradição (X nunca é Y), e da exclusão do terceiro elemento (X deve ser X e, portanto, nunca deverá ser Y) abordam todas as possibilidades e são a base do pensamento lógico. Define as leis ideais do pensamento e estabelece as regras do pensamento correto, sendo uma arte de pensar. E como o raciocínio é a atividade intelectual que leva a todas as outras atividades humanas, define-se a lógica como a ciência do raciocínio correto. Para tanto, a lógica é necessária para tornar o pensamento humano mais eficaz e ajuda-o a justificar suas atividades recorrendo aos princípios que baseiam a sua legitimidade. A lógica é arte, ciência que nos guia ordenadamente, facilmente e sem erros, dentro dos princípios da razão.
A lógica matemática oferece ao conhecimento humano a capacidade de esclarecer e de argumentar conceitos. Em outras palavras, permite adquirir e transmitir certezas com o propósito da validação de certas afirmações partindo-se do reconhecimento da validação de outras argumentações que são geralmente mais simples. Essa capacidade de esclarecer conceitos, apresentar definições e de argumentá-los através da exibição de demonstrações são a base do raciocínio matemático e da própria matemática e que, por sua vez, oferece o suporte lógico para os conceitos físicos.
A Natureza pode ser entendida por meio de ferramentas matemáticas. As noções de números e outras estruturas matemáticas não precisam da física para serem justificadas. Entretanto, novas afirmações matemáticas podem ser usadas, muito tempo mais tarde, para descrever um fenómeno físico. Os números complexos, que são uma das bases da mecânica quântica, já tinham sido pensados no século XVI. No entanto, a matemática é mais do que uma ferramenta da física, é a sua própria linguagem.
O próprio desenvolvimento da física está intimamente ligado com o desenvolvimento da matemática, sendo a recíproca também certamente verdadeira. Desde que os chamados "Calculatores de Merton College", no século XIV, começaram a descrever a cinemática utilizando a matemática, passando por Johannes Kepler e por Galileu Galilei, esta "simbiose" ocorre. Isaac Newton necessitava de um aparato matemático para dar apoio aos seus estudos em física, e em função desta necessidade, foi um dos criadores do Cálculo, disciplina com inegável relevância na matemática e na física, juntamente com Gottfried Leibniz.
Método científico e epistemologia.
Os cientistas em física usam o método científico, um conjunto de técnicas e procedimentos com o objetivo de tornar científico o conhecimento produzido, para validar uma teoria, usando uma aproximação metodológica para comparar as implicações da teoria com as conclusões obtidas de experimentos e observações especialmente conduzidas para testar a teoria. Os experimentos e observações são feitos em princípio com propósito pré-definido, para se coletar e se comparar os dados obtidos por estes com as previsões e teses feitos por um físico teórico, assim ajudando na validade ou não de uma teoria.
Para um cientista moderno, o método de trabalho que ele emprega geralmente apresenta-se bem definido e claro. Nesta visão, o método científico apresenta passos bem delineados e objetivos. A observação e a experimentação são o ponto de partida e o mais importante teste para a formulação das leis naturais. A abstração é o primeiro passo para a compreensão de um fenômeno natural, concentrando-se em seus aspectos mais importantes. Assim que se atinge o estágio durante o desenvolvimento de conceitos e modelos, pode-se procurar através do processo indutivo, a formulação das leis fenomenológicas obtidas diretamente dos fenômenos que foram observados e apresentá-los de forma sintética possível. Decorre então a formulação de leis de teorias físicas, que deve ser capaz de reduzir numerosos fenômenos naturais em um pequeno número de leis simples, que devem ter a natureza preditiva, ou seja, a partir das leis básicas deve ser possível prever fenômenos novos que possam ser comparados com a experiência. Finalmente, determina-se o domínio de sua validade.
Entretanto, a natureza do método científico também é motivo para vários debates filosóficos. Vários filósofos apoiam a ideia da inexistência de um único método científico "inscrito em pedra", e até mesmo a sua inexistência. Portanto, se opõem a qualquer tentativa de estruturação do método científico, que inclui a enumeração rígida dos passos, visto frequentemente na educação de ciências. Alguns filósofos, como Karl Popper, negam a existência do método científico elaborado; para Popper existe apenas um método universal, a tentativa e erro, embora para os defensores do método científico moderno a tentativa e erro fazem parte de sua definição.
As hipóteses integrantes de uma teoria que são suportadas por dados confiáveis, geralmente de natureza abrangente e que suportam as várias tentativas de falseabilidade, segundo Karl Popper, são chamadas de leis científicas ou leis naturais. Naturalmente, todas as teorias, inclusive aquelas integradas por leis naturais, bem como estas mesmas, podem ser modificadas ou substituídas por outras mais precisas, quando uma anomalia que falsifica a teoria for encontrada. Entretanto, isto não é absolutamente linear. Uma teoria ou um conjunto de teorias podem ser mantidos mesmo que haja anomalias que os invalidem. Segundo Imre Lakatos, um conjunto de teorias, que é chamado por ele de "programas de pesquisa", é mantido mesmo com várias anomalias. Para que o programa de pesquisa se mantenha, tais anomalias são "encaixadas" em um "cinturão protetor" de hipóteses e teses, que podem ser modificados conforme o advento das anomalias encontradas pela física experimental, embora o "núcleo central", ou seja, a tese básica do programa de pesquisa, deve ser mantida integralmente. Um programa de pesquisa é superado apenas quando o cinturão protetor já não é capaz de suportar novas anomalias. Para Lakatos, a substituição de programas de pesquisa coincide com revoluções na história da ciência. Os programas de pesquisa vencedores podem englobar ou não programas de pesquisa superados. A evolução dos "programas de pesquisa" de Lakatos é semelhante à tese de revoluções científicas associadas a mudanças de paradigma, defendida por Thomas Kuhn, como base do desenvolvimento da ciência. Os paradigmas científicos, que englobam toda uma linha de teorias científicas, métodos e valores, contém convicções científicas que não podem ser explicadas segundo as teorias existentes sobre racionalidade.
Para Kuhn, o paradigma estabelece algumas questões sobre o mundo físico. Estas são então investigadas na tentativa de se obter respostas, mas nunca conseguem responder todas as questões que propõe, pois, para Kuhn, a física e a ciência em geral não é um empreendimento para a construção de respostas. Quanto mais respostas sobre determinado fenômeno são obtidas, mais perguntas surgem, embora não seja exatamente um problema inicialmente. Para esse processo de pesquisas Kuhn chamou de ciência normal, ou seja, o período onde determinados paradigmas são aceitos e investigados. Entretanto, as questões ou anomalias que não podem ser resolvidas com o paradigma estabelecido pode atingir níveis insuportáveis. A partir de então, inicia-se o período conhecido como "crise". Novos paradigmas tentam responder de forma mais eficaz as anomalias que o paradigma vigente não consegue mais responder. O período de crise é marcado pela cisão da comunidade científica entre o paradigma vigente e o paradigma em afloramento. Finalmente o novo paradigma ganha a preferência e substitui o antigo. Este momento Kuhn chama de "revolução científica".
As Leis de Newton, por exemplo, estão embebidas dentro da relatividade, assim como toda a mecânica Newtoniana, e, mesmo que suas aplicabilidades não sejam mais universais, os três princípios de Newton ainda são chamados de "leis" e a mecânica newtoniana ainda é ensinada nas escolas de ensino médio de todo o mundo.
Tempo e espaço.
Os filósofos de física discutem os assuntos tradicionais referentes ao espaço e ao tempo com base nas teorias historicamente concebidas, desde Aristóteles à relatividade geral de Einstein.
Segundo Isaac Newton, o espaço é um ente físico separado e independente dos objetos que estão contidos no seu interior. Esse ente físico, com realidade física comparável a de uma substância, determina um referencial absoluto totalmente inercial. Newton também defende que o tempo é contínuo e infinito e existe mesmo com a ausência de objetos e eventos. Newton estabeleceu, assim, a filosofia física do Substantivalismo. No entanto, Gottfried Leibniz, um dos desenvolvedores do Cálculo ao lado do próprio Newton, argumentava que o espaço contém propriedades estritamente relacionais. Se não existissem objetos, seria impossível a definição de espaço. De modo semelhante, se não existissem objetos ou eventos, também não se poderia definir o tempo. Leibniz desenvolveu, assim, a filosofia física do Relacionalismo. O Relacionalismo ganhou fôlego com o advento da relatividade geral, embora o Substantivalismo ainda tenha seguidores atualmente.
As discussões sobre a natureza do tempo e sobre simultaneidade se iniciaram com a diferença de seus significados dentro da mecânica clássica e da relatividade restrita. Dentro da teoria de Einstein, a simultaneidade deixa de ser absoluta. Os eventos que são simultâneos dentro de sistema de referências podem não sê-lo em outro. Entretanto, o alemão e filósofo da física Adolf Grünbaum argumenta que a simultaneidade dentro da relatividade restrita é apenas fruto de uma convenção, pois a velocidade da luz na relatividade restrita é sempre a mesma, constante quando medida em qualquer referencial inercial, não importando para tal seus estados relativos de movimento; não há referências, portanto, para estabelecer uma velocidade da luz em um referencial absoluto ou específico, que, segundo a teoria de Einstein, não existe: todos os referenciais inerciais são igualmente equivalentes.
Mecânica quântica.
A evolução da mecânica quântica trouxe consigo inevitáveis considerações sobre a definição de medida e quais são as implicações de seu processo experimental. Considerações científicas e filosóficas importantes levam não só ao "Gato de Schrödinger" quanto a um debate em relação à impossibilidade de simultaneidade de medidas com precisão absoluta para determinadas grandezas na mecânica quântica. Segundo Werner Heisenberg, em 1925, existe uma incerteza na determinação da posição de uma partícula subatômica. O produto da incerteza da posição pela incerteza de seu momento nunca será menor do que uma certa constante numérica. Não se pode, por exemplo, medir a posição e o momento de um elétron ao mesmo tempo; ao se medir a sua posição, comprometemos seu momento, e vice-versa. As relações de incerteza, à primeira vista, parecem derivar da impossibilidade inerente à natureza humana em obter tais grandezas físicas. Entretanto, Heisenberg afirmou que a incerteza é uma propriedade intrínseca à partícula; se não há meios de se definir com precisão uma grandeza física, então tal grandeza não está precisamente definida por natureza.
Isto compromete profundamente o paradigma cartesiano, a mentalidade reducionista e mecanicista do Universo, que levou o ser humano a uma visão fragmentada e demasiadamente simplória da verdade. Segundo o determinismo científico, tudo que existe não passa de partículas pontuais e seus movimentos são para sempre estritamente determinados quando se mensuram as posições e as velocidades de todas as partículas no momento atual. Não considerando a incerteza, é possível conhecer as posições de todas as partículas do Universo e as suas respectivas velocidades em um dado instante e poder-se-ia conhecer com exatidão todo o passado e o futuro, fosse qual fosse o instante desejado. Admitindo-se a incerteza como algo intrínseco às partículas subatômicas, seria impossível saber o passado e o futuro de forma absoluta, quebrando, assim, os pilares de sustentação do reducionismo e do determinismo. A complexidade e a probabilidade deixariam de ser vistos como algo inerente à incapacidade do ser humano em estabelecer grandezas físicas estritamente precisas, mas passariam a ser conceitos válidos e incontestáveis dentro da física moderna.
Defensores do paradigma cartesiano afirmam que se o Princípio da Incerteza é válido e, portanto, não há mais possibilidades de se obter com precisão estrita a posição e a velocidade, então não há mais condições de afirmar seu estado físico momentâneo. Sem a possibilidade de conhecer seu estado físico, as experiências físicas são incapazes em mensurar qualquer grandeza física, o que põe em cheque todo o conhecimento físico e a própria física. Segundo esse pensamento, portanto, o conhecimento sobre o mundo físico não passa de um simples blefe, abrindo margem para a validação de pseudociências. Porém, esta afirmação, além de radical, é falsa. De fato, o princípio da incerteza impõe restrições às medidas estritamente precisas, mas tal incerteza é observável apenas no mundo subatômico e pode ser desprezada no mundo macroscópico.
Albert Einstein foi um dos defensores do paradigma cartesiano. Embora tenha sido um dos fundadores da mecânica quântica, não aceitava a visão de Heiseberg e a interpretação de Copenhague, afirmando que a teoria quântica estava incompleta: a incerteza na verdade seria a falta de conhecimento sobre variáveis ocultas. Segundo Einstein, "Deus não joga dados com o Universo". Juntamente com Boris Podolsky e Nathan Rosen, publicaram um artigo, que ficou conhecido como paradoxo EPR, onde afirmavam que: 1) se em um sistema que não for perturbado onde pode-se prever com precisão o valor de uma grandeza física, então existe um elemento da realidade física correspondente a esta grandeza física e 2) dois sistemas não podem influenciar-se mutuamente quando estão grandemente distanciados, todas as interações são portanto "locais". Porém, em um artigo publicado em 1964, John Stewart Bell afirmou que as possíveis "variáveis ocultas" de Einstein, Podolsky e Rosen não são compatíveis empiricamente com a mecânica quântica. Se as possíveis variáveis ocultas fossem verdadeiras, existiria uma série de desigualdades, conhecidas como as desigualdades de Bell. Se a mecânica quântica ortodoxa for verdadeira, tais desigualdades não ocorrem. A discussão sobre a existência de variáveis ocultas determinísticas e locais saiu do campo filosófico e foi passado para o campo experimental, mas tais debates ainda não cessaram.
Deste modo, os filósofos da física encaram questões filosóficas que abordam questões mais gerais, como o paradigma cartesiano e o positivismo. Filosoficamente e historicamente, a mecânica quântica nega o determinismo estrito e pontual, apoiando-se na interpretação de Copenhague, onde o mensuramento e o determinismo para partículas subatômicas ganham um novo sentido filosófico, não podendo ser generalizados para a física clássica, isto é, para sistemas macroscópicos de partículas, onde a visão mecanicista do mundo ainda vigora e é essencial para a manutenção dos conhecimentos físicos já alcançados. Filósofos mais moderados defendem a continuação das bases da mecânica quântica, mas defendem que as mecânicas clássica e quântica tenham ontologias totalmente independentes, isto é, as ontologias das duas mecânicas devem ser incomensuráveis. Porém, os defensores do paradigma cartesiano e do positivismo sugerem que a própria mecânica quântica encontre uma solução; alguns defendem a superação da Equação de Schrödinger, que é a base fundamental de toda a mecânica quântica moderna, para outra que consiga garantir suas posições filosóficas tanto na mecânica quântica quanto na física clássica, ou seja, a precisão e a certeza nas medidas deveriam ser válidas, seja no mundo microscópico quanto no macroscópico, negando assim a existência do Princípio da Incerteza.
Física estatística.
A física estatística tem por objetivo o estudo dos sistemas constituídos por "incontáveis" partículas, tão numerosas que se torna impraticável a sua descrição através da consideração de cada uma das suas partículas isoladamente. Tais sistemas não são raros e uma simples amostra de gás confinado em uma garrafa seria um exemplo. As ferramentas para solução dessa questão residem nos conceitos de probabilidade e de estatística.
Surge, então, um problema filosófico em relação ao questionamento sobre a exata definição de probabilidade. Alguns filósofos sugerem que a probabilidade seja a medida da "ignorância" sobre um número real. Entretanto, esta definição é bastante subjetiva e não explica o sentido de probabilidade usada pela física estatística ou pela mecânica quântica. Em termos físicos, a probabilidade ganha um sentido mais concreto. A probabilidade é uma propriedade intrínseca a alguns processos físicos e não depende do "nível de conhecimento" do físico experimental. Um átomo pode decair radioativamente sob certa probabilidade entre 0 e 1 e isso não depende da quantidade de "ignorância" do observador. Isso é fundamental para a própria existência da física estatística, que é a teoria dos processos físicos probabilísticos.
Dentro dos processos probabilísticos está arraigada a noção de entropia, conceito fundamental também em termodinâmica. Ludwig Boltzmann propôs que a direção da "flecha do tempo" é determinada pela entropia. Desde então, os filósofos debatem contra e a favor da tese de Boltzmann. Para alguns, a entropia, em termodinâmica, não pode ser generalizada para eventos universais. É necessário que haja determinismo estrito e pontual, inconcebível dentro da mecânica quântica; a direção do tempo determinado pela entropia não passaria de um ponto de vista metafísico. Entretanto, outros afirmam que é absolutamente possível conciliar as duas teorias e que a direção do tempo é realmente determinada pela entropia. A segunda corrente de ideias está grandemente relacionada ao relacionalismo de Leibniz, onde o tempo existiria apenas se existissem objetos e eventos em constante complexidade, que pode ser traduzida como a própria entropia.
Física experimental.
Os filósofos da física tradicionalmente se preocupam com a natureza das teorias científicas, isto devido em grande parte ao papel central que a epistemologia da ciência teve na filosofia, principalmente após o início do século XX. Em vista do advento das teorias modernas na física, foi a partir de então que os filósofos e historiadores de física começaram a ficar mais atentos à física experimental e têm argumentado que o experimento tem seus próprios métodos e práticas, que podem se diferenciar e serem incomensuráveis dentro da diversidade do escopo da física experimental.
Para Thomas Kuhn, a ciência normal é realizada dentro de um determinado paradigma científico praticamente estável, mesmo com a presença de anomalias que contrariam tal paradigma. Analisando-se as revoluções científicas, Kuhn percebeu que estas estão associadas a mudanças de paradigma. Um paradigma não é banido imediatamente quando a física experimental encontra uma anomalia, mas apenas quando o próprio paradigma já não mais suporta a quantidade de anomalias. Segundo Imre Lakatos, que usa um conceito semelhante conhecido como programa de pesquisa, tais mudanças de ponto de visão não ocorrem abruptamente. Consequentemente, não existem experimentos cruciais na História da física. A concepção de Éter, para Lakatos, não foi abandonada abruptamente com a Experiência de Michelson-Morley, mas sim abandonada lentamente e historicamente.
Física e sociedade.
A física e as outras ciências naturais são o motor de propulsão de numerosas instituições científicas de grande importância. Tais instituições, como a Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN) demandam não apenas imensos investimentos, mas também o mais refinado contingente humano que se pode disponibilizar. Os países desenvolvidos e em desenvolvimento aplicam uma significativa parcela de seu produto interno bruto (PIB) na investigação científica em geral. Deste montante, uma parte importante é destinada para a física, suas divisões e e aplicações à Engenharia e à Indústria. Tais países também mantêm um aparelho burocrático para a administração desses investimentos. Tais aparelhos constituem-se de órgãos executivos e de assessoria especializada na condução e organização dos assuntos relacionados à pesquisa científica pura e aplicada. A criação dessa máquina pública foi resultado de uma lentíssima evolução, dependente do amadurecimento de numerosos fatores e demandas que não necessariamente estavam ligados à pesquisa científica, mas sim originados no amplo processo de substituição da cultura durante a revolução científica.
Essa evolução na física ganhou ares de uma revolução autêntica; o sistema heliocêntrico de Copérnico e a introdução do experimento como argumento para provar afirmações, tendo Galileu Galilei como pioneiro, abalaram definitivamente o paradigma aristotélico dominante no pensamento filosófico até a Idade Média. A astronomia tornou-se também uma ciência moderna com a primeira grande unificação da física, quando Isaac Newton uniu a física dos Céus e da Terra sob a gravitação universal e com a considerável evolução na navegação, primeiramente com a utilização do astrolábio e posteriormente com a invenção de relógios mais precisos que marcaram um fim nos problemas da navegação, problema que a filosofia natural Medieval não foi capaz de encontrar uma solução. A destruição do sistema filosófico e religioso herdado da cultura medieval e as conquistas práticas das grandes navegações libertaram a filosofia natural de sua posição de contemplação e especulação, e pavimentaram o caminho para uma era em que a ciência passou a ser encarada como instrumento de transformação.
Durante o renascimento italiano, as primeiras universidades ditas modernas foram criadas. Essas universidades abriram a oportunidades para novas atividades intelectuais. Embora o paradigma aristotélico ainda fosse uma herança medieval até meados do século XIX, permitiram a divulgação de obras de grandes pensadores, como Galileu Galilei. As primeiras sociedades científicas são italianas, como a Accademia Nazionale dei Lincei, fundada em 1603 em Roma, e a Accademia del Cimento, fundada em Florença em 1651. Em seguida foi fundada na Inglaterra em 1662 a Royal Society e a Académie des Sciences, na França em 1666. No final do século XVIII, havia aproximadamente duzentas sociedades científicas na Europa.
Essas sociedades, ou academias, originaram-se com o intuito de dar à ciência, e sobretudo à física, um novo panorama. Segundo Robert Hooke, em 1663, ao redigir os estatutos da Royal Society, os objetivos da sociedade científica eram o aperfeiçoamento do conhecimento dos componentes da Natureza e de todos os artefatos úteis, produtos e práticas mecânicas, invenções e engenhos por meio da experimentação. Deve-se também observar a não-especulação sobre assuntos referentes a divindades, metafísica, moral, política, gramática, retórica ou lógica. As sociedades científicas tinham por objetivo aprimorar o conhecimento científico, mas eram organizações muito fechadas e excludentes, mantidas por seus membros, que eram pessoas de renda própria e alta posição social. Não havia remuneração ou recompensas financeiras pelo trabalho científico. John Harrison, inventor do relógio mais preciso até então, levou praticamente toda a sua vida para reclamar o prêmio oferecido pela Royal Society para tal feito. Essa situação continuou até a segunda metade do século XIX, quando as universidades começaram a incorporar que forma institucional a ciência. Apenas a partir dessa época o cientista pôde utilizar uma sólida estrutura para a sua formação. Antes disso, praticamente todos os cientistas eram autodidatas.
O Observatório de Paris, fundada como anexo da Académie Royale des Sciences, e o Observatório Real de Greenwich, fundada em 1675, foram as primeiras instituições dedicadas à áreas relacionadas à física e amparadas pelo poder central das respectivas nações. Suas criações dependeram intensamente do crédito científico obtido na solução de problemas de astronomia necessários ao desenvolvimento da navegação. Foram também as primeiras organizações, e as únicas durante muito tempo, a oferecer uma cadeira regular a um especialista de alguma área da física. Entretanto, nos séculos XVIII e XIX, houve a ausência grandes desenvolvimentos na organização social da física. Quase todo o desenvolvimento nesta área está confinada ao século XX, especialmente devido às Primeira e Segunda guerras mundiais, onde era necessário o desenvolvimento de armas sofisticadas que exigiam conhecimentos avançados de física, como na Aerodinâmica, física nuclear, entre outros.
Pesquisas físicas atuais.
A pesquisa em física está progredindo continuamente em várias frentes. Na física da matéria condensada, um importante problema em aberto é a supercondutividade a alta temperatura. Na física aplicada, muitos experimentos de matéria condensada estão objetivando a fabricação de aparelhos e computadores magnetoeletrônicos e quânticos.
Na física de partículas, as primeiras evidências experimentais de física além do modelo padrão começaram a aparecer, como a possibilidade do neutrino ter massa. Atualmente, os aceleradores de partículas são capazes de operar em energias da ordem de tera-elétrons-volt. Os físicos teóricos e experimentais, no CERN e no Fermilab, tentam encontrar o bóson de Higgs, a única partícula ainda a ser descoberta segundo o Modelo Padrão. Para tal, equipamentos sofisticadíssimos foram construídos, como o "Large Hadron Collider", o maior acelerador de partículas já construído do mundo.
A gravidade representa uma das mais importantes questões abertas na física moderna. As tentativas teóricas de unificar a mecânica quântica e a relatividade geral em uma única teoria da gravitação quântica, um programa de pesquisas que perdura por mais de cinquenta anos, ainda não foi resolvido. Existem modelos matemáticos que tentam conciliá-los, como a teoria das cordas e a gravidade quântica em loop. Muitos fenômenos astronômicos e cosmológicos, a assimetria bariônica, a aceleração da expansão do Universo e o problema da maior velocidade angular das galáxias ainda carecem de descrições satisfatórias. Embora se tenha feito progresso na mecânica quântica de altas energias e na Astrofísica, muitos fenômenos cotidianos ainda são fracamente entendidos, como a turbulência, sistemas complexos e o caos.
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França (; ), oficialmente República Francesa (; []), é um país, ou, mais especificamente, um Estado unitário localizado na Europa Ocidental, com várias ilhas e territórios ultramarinos noutros continentes. A França Metropolitana estende-se do Mediterrâneo ao Canal da Mancha e Mar do Norte, e do rio Reno ao Oceano Atlântico. É muitas vezes referida como "L'Hexagone" ("O Hexágono") por causa da forma geométrica do seu território e partilha fronteiras com a Bélgica e Luxemburgo a norte; Alemanha a nordeste; Suíça e Itália a leste; Espanha ao sul e com os microestados de Mônaco e Andorra. A nação é o maior país da União Europeia em área e o terceiro maior da Europa, atrás apenas da Rússia e da Ucrânia (incluindo seus territórios ultramarinos, como a Guiana Francesa, o país torna-se maior que o território ucraniano).
Por cerca de meio milênio, o país tem sido uma grande potência, com forte influência econômica, cultural, militar e política no âmbito europeu e global. Durante muito tempo a França exerceu um papel de liderança e hegemonia na Europa (principalmente a partir da segunda metade do e parte do XVIII). Ao longo daqueles dois séculos, a nação iniciou a colonização de várias áreas do planeta e, durante o e início do , chegou a constituir o segundo maior império da história, o que incluía grande parte da América do Norte, África Central e Ocidental, Sudeste Asiático e muitas ilhas do Pacífico. É conhecida como a terra natal da primeira grande enciclopédia do mundo, a chamada "Encyclopédie", formada por 35 volumes e publicada entre 1751 e 1766, em pleno iluminismo do .
O país tem seus principais ideais expressos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. A República Francesa é definida como indivisível, laica, democrática e social pela sua constituição. A França é um dos países mais desenvolvidos do mundo, possui a sétima maior economia do mundo por produto interno bruto (PIB) nominal, a nona maior por paridade do poder de compra e a segunda maior de toda a Europa. O país goza de um alto padrão de vida, bem como um elevado nível de escolaridade pública, além de ter uma das mais altas expectativas de vida do mundo. A França foi classificada como o melhor provedor de saúde pública do mundo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). É o país mais visitado no mundo, recebendo 82 milhões de turistas estrangeiros por ano.
O país tem o terceiro maior orçamento militar do mundo, a terceira maior força militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o maior exército da União Europeia (UE), além de ser um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e possuir o terceiro maior número de armas nucleares do mundo. O país é um dos membros fundadores da UE e possui a maior área e a segunda maior economia do bloco. É também membro fundador da Organização das Nações Unidas, além de ser membro da Francofonia, do G8, do G20, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da União Latina.
Etimologia.
Originalmente aplicado a todo o Império Franco, o nome "França" vem do latim "Francia", ou "terra dos francos". Existem várias teorias quanto à origem do nome francos. Seguindo os precedentes de Edward Gibbon e Jacob Grimm, o nome dos francos foi associado à palavra "frank" (livre) em inglês. Sugeriu-se que o significado de "livre" fosse adotado porque, após a conquista da Gália, apenas os francos estavam livres da tributação romana. Outra teoria é que ela é derivada da palavra protogermânica "frankon", que se traduz como "dardo" ou "lança", visto que o machado usado pelos francos era conhecido como "francisca". No entanto, determinou-se que essas armas foram nomeadas devido à sua utilização pelos francos, ao invés do contrário.
História.
Pré-história.
Os vestígios mais antigos de hominídeos no território que é agora a França datam de aproximadamente há 1,8 milhões de anos. Tendo sido confrontados por um clima severo e variável, marcado por várias eras glaciais, esses primeiros hominídeos levavam uma vida nômade de caçadores-coletores. A França tem um grande número de cavernas decoradas da era paleolítica, incluindo uma das mais famosas e melhor preservadas: Lascaux (aproximadamente ).
No final do último período glacial (), o clima tornou-se mais suave. Por volta de , esta parte da Europa Ocidental entrou na era neolítica e seus habitantes se tornaram sedentários, após um forte desenvolvimento demográfico e agrícola entre o quarto e o terceiro milênios. A metalurgia apareceu no final do terceiro milênio, inicialmente com trabalhos em ouro, cobre e bronze e, mais tarde, ferro. A França possui inúmeros sítios megalíticos do período neolítico, incluindo o local excepcionalmente denso das Rochas de Carnac (aproximadamente ).
Antiguidade.
Em , os gregos jônicos, originários de Foceia, fundaram a colônia de Massália (atual Marselha), nas margens do Mar Mediterrâneo, o que a torna a cidade mais antiga da França. Ao mesmo tempo, algumas tribos celtas gaulesas penetraram em partes do território da atual da França e esta ocupação se espalhou para o resto da França entre os séculos IV e
Por volta de , o sul da Gália foi conquistado pela República Romana, que chamou esta região "Provincia Nostra" ("Nossa Província"), que ao longo do tempo evoluiu para o nome "Provence" em francês. Júlio César conquistou o restante da Gália e superou uma revolta realizada pelo chefe gaulês Vercingetórix em A Gália foi dividida por Augusto em várias províncias romanas.
Muitas cidades foram fundadas durante o período galo-romano, incluindo Lugduno (atual Lião), que é considerada a capital dos gauleses. Estas cidades foram construídas em estilo romano tradicional, com um fórum, um teatro, um circo, um anfiteatro e banhos termais.
Os gauleses se misturaram com colonos romanos e eventualmente adotaram a cultura e o idioma romano (o latim, do qual a língua francesa evoluiu). O politeísmo romano se fundiu com o paganismo gálico no mesmo processo de sincretismo.
Desde os anos 250 até os anos 280, a Gália romana sofreu uma grave crise, com as fronteiras fortificadas atacadas em várias ocasiões por bárbaros. No entanto, a situação melhorou na primeira metade do , que foi um período de reavivamento e prosperidade para a Gália romana.
Em 312, o imperador Constantino converteu-se ao cristianismo. Posteriormente, os cristãos, que haviam sido perseguidos até então, aumentaram rapidamente em todo o Império Romano. Mas, desde o início do , as invasões bárbaras recomeçaram e as tribos germânicas, como os vândalos, suevos e alanos, cruzaram o rio Reno e se estabeleceram na Gália, na Hispânia e em outras partes do Império Romano em colapso.
Idade Média.
No final do período da Antiguidade, a antiga Gália estava dividida em vários reinos germânicos e um território galo-romano restante, conhecido como o Reino de Soissons. Simultaneamente, os celtas britanos, ao fugirem da invasão anglo-saxã da Grã-Bretanha, estabeleceram-se na parte ocidental de Armórica. Como resultado, a península armórica foi renomeada para Bretanha, a cultura celta foi revivida e vários reinos pequenos independentes surgiram nessa região. Os francos pagãos, de quem derivou o nome antigo de "Francie", estabeleceram-se originalmente na parte norte da Gália, mas sob a liderança de Clóvis conquistaram a maioria dos outros reinos no norte e no centro da região. Em 498, Clóvis se tornou o primeiro conquistador germânico após a queda do Império Romano a converter-se ao cristianismo católico, em vez do arianismo; assim, a França recebeu o título de "filha mais velha da Igreja" () pelo papado.
Os francos abraçaram a cultura galo-romana cristã e a Gália antiga foi finalmente renomeada para "Frância" ("Terra dos Francos"). Os francos germânicos adotaram as línguas românicas, exceto no norte da Gália, onde os assentamentos romanos eram menos densos e onde surgiram línguas germânicas. Clóvis fez de Paris a sua capital e estabeleceu a dinastia merovíngia, mas seu reino não sobreviveria à sua morte. Os francos tratavam a terra puramente como uma possessão privada e a dividiam entre seus herdeiros; então quatro reinos surgiram depois de Clóvis: Paris, Orléans, Soissons e Reims. Os últimos reis merovíngios perderam poder para seus mordomos do palácio. Um deles, Carlos Martel, derrotou uma invasão islâmica da Gália na Batalha de Tours (732) e obteve respeito e poder dentro dos reinos francos. Seu filho, Pepino, o Breve, usurpou a coroa da Frância dos merovíngios enfraquecidos e fundou a dinastia carolíngia. O filho de Pepino, Carlos Magno, reuniu os reinos francos e construiu um vasto império em toda a Europa ocidental e central.
Carlos Magno foi proclamado Imperador Romano-Germânico pelo e, assim, restabeleceu a antiga associação histórica entre o governo francês e a Igreja Católica, Ele tentou reviver o Império Romano do Ocidente e sua grandeza cultural. O filho de Magno, , manteve o império unido; no entanto, o império carolíngio não sobreviveria à sua morte. Em 843, sob o Tratado de Verdun, o império foi dividido entre os três filhos de Luís: a Frância Oriental ficou com Luís, o Germânico; a Frância Média ficou com , enquanto que a Frância Ocidental foi para o domínio de Carlos, o Calvo. A Frância Ocidental aproxima-se da área ocupada pela França moderna e é a sua precursora.
A dinastia carolíngia governou a França até 987, quando Hugo Capeto, Duque da França e Conde de Paris, foi coroado o Rei dos Francos. Os seus descendentes — os capetianos, a Casa de Valois e a Casa de Bourbon — unificaram progressivamente o país através das guerras e da herança dinástica no Reino da França, que foi totalmente declarado em 1190 por . A nobreza francesa desempenhou um papel proeminente na maioria das Cruzadas, a fim de restaurar o acesso cristão à Terra Santa. Os cruzados franceses constituíam a maior parte do fluxo constante de reforços ao longo do período de 200 anos das Cruzadas, de tal forma que os árabes se referiam uniformemente aos cruzados como "franj", sendo que pouco se importavam se realmente vinham da França. Os cruzados franceses também importaram a língua francesa para o Levante, que se tornou a língua franca dos Estados cruzados. Os cavaleiros franceses também eram maioria nas ordens do Hospitalários e dos Templários. Estes últimos, em particular, possuíam várias propriedades em toda a França e, no , eram os principais banqueiros da coroa francesa, até que aniquilasse a ordem em 1307. A Cruzada Albigense foi lançada em 1209 para eliminar os cátaros, considerados hereges, da região sudoeste da França moderna. No final, os cátaros foram exterminados e o autônomo Condado de Toulouse foi anexado às terras da coroa francesa.
morreu sem um herdeiro em 1328. De acordo com as regras da lei sálica, a coroa da França não podia passar para uma mulher nem a linhagem real poderia passar pela linhagem feminina. Consequentemente, a coroa passou para Filipe de Valois, um primo de Carlos, e não através da linha feminina para o sobrinho de Carlos, Eduardo, que logo se tornaria . Durante o reinado de Filipe de Valois, a monarquia francesa atingiu o auge de seu poder medieval.
O assento de Filipe no trono foi contestado por Eduardo III e, em 1337, na véspera da primeira onda da Peste Negra, Inglaterra e França entraram em guerra, conflito que posteriormente seria conhecido como Guerra dos Cem Anos. Os limites exatos mudaram muito ao longo tempo, mas as propriedades francesas dos reis ingleses permaneceram extensas por décadas. Com líderes carismáticos, como Joana d'Arc e La Hire, fortes contra-ataques franceses conquistaram territórios continentais dos ingleses. Como o resto da Europa, a França foi fortemente atingida pela Peste Negra; metade dos 17 milhões de habitantes da França morreu no período.
Era Moderna.
O renascimento francês proporcionou um desenvolvimento cultural espetacular e a primeira padronização da língua francesa, que se tornaria a língua oficial da França e a língua da aristocracia europeia. Também criou um longo conjunto de conflitos militares, conhecidos como as Guerras Italianas, entre o Reino da França e o poderoso Sacro Império Romano-Germânico. Os exploradores franceses, como Jacques Cartier ou Samuel de Champlain, reivindicaram terras na América para a França, preparando o caminho para a expansão do Primeiro Império Colonial Francês. O surgimento do protestantismo na Europa levou a França a uma guerra civil conhecida como Guerras Religiosas, onde, no incidente mais notório, milhares de huguenotes foram assassinados no massacre da noite de São Bartolomeu, em 1572.
Sob o governo de , o energético Cardeal de Richelieu promoveu a centralização do Estado e reforçou o poder real ao desarmar os detentores de poder doméstico na década de 1620. Ele sistematicamente destruiu castelos de senhores que desafiaram o poder central e denunciou o uso da violência privada (duelos, transporte de armas e manutenção de um exército privado). No final de 1620, Richelieu estabeleceu o "monopólio real da força" como doutrina.
A monarquia atingiu seu pico no e no reinado de . Ao transformar os poderosos senhores feudais em cortesãos no Palácio de Versalhes, o poder pessoal de Luís XIV se tornou incontestável. Lembrado por suas numerosas guerras, ele fez da França a principal potência europeia. O país tornou-se o mais populoso da Europa e teve uma tremenda influência sobre a política, a economia e a cultura do continente. O francês tornou-se a língua mais utilizada na diplomacia, ciência, literatura e relações internacionais e permaneceu com tal estatuto até o .
Sob , o bisneto de Luís XIV, a França perdeu a Nova França e a maioria da Índia Francesa após a derrota na Guerra dos Sete Anos, que terminou em 1763. Seu território europeu continuou crescendo, no entanto, com aquisições notáveis, como Lorena (1766) e Córsega (1770). O fraco governo do impopular Luís XV, com suas decisões financeiras, políticas e militares mal planejadas — assim como a devastação de sua corte — desacreditaram a monarquia, o que indiscutivelmente abriu o caminho para a Revolução Francesa, que ocorreria 15 anos após sua morte.
Revolução.
Diante de problemas financeiros, o rei Luís XVI convocou os Estados-Gerais (reunindo as três estamentos do reino) em maio de 1789 para propor soluções para o governo. Na sequência de um impasse, os representantes do terceiro estado formaram-se numa Assembleia Nacional, sinalizando o surgimento da Revolução Francesa. No início de agosto de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte aboliu os privilégios da nobreza, como a servidão pessoal e os direitos exclusivos de caça. Através da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (27 de agosto de 1789), a França estabeleceu direitos fundamentais para os homens. A Declaração afirma "os direitos naturais e imprescritíveis do homem à liberdade, propriedade, segurança e resistência à opressão". A liberdade de expressão e de imprensa foram declaradas e as prisões arbitrárias foram proibidas. Ela solicitou a destruição de privilégios aristocráticos e proclamou a liberdade e a igualdade de direitos para todos os homens, bem como o acesso a cargos públicos com base em talentos e não nascimento.
Em novembro de 1789, a Assembleia decidiu nacionalizar e vender todos os bens da Igreja Católica Romana, que era o maior proprietário do país. Em julho de 1790, uma Constituição Civil do Clero reorganizou a Igreja Católica Francesa, cancelando a autoridade da Igreja para cobrar impostos e assim por diante. Isto provocou um grande descontentamento em partes da França, o que contribuiria para a guerra civil que acabou alguns anos depois. Apesar do rei Luís XVI ainda gozar de popularidade entre a população, sua desastrosa fuga de Varennes (junho de 1791) parecia justificar rumores de que ele amarrava as suas esperanças de salvação política às perspectivas de invasão estrangeira. Sua credibilidade foi tão profundamente minada que a abolição da monarquia e o estabelecimento de uma república tornaram-se uma possibilidade crescente.
Em 10 de agosto de 1792, uma multidão irritada ameaçou o palácio do rei Luís XVI, que se refugiava na Assembleia Legislativa. Um exército prussiano invadiu a França em agosto de 1792. No início de setembro, os parisienses, enfurecidos pelo exército prussiano capturar Verdun e pelas revoltas contrarrevolucionárias no oeste da França, assassinaram entre e prisioneiros ao atacar as prisões parisienses. A Assembleia e o conselho da cidade de Paris pareciam incapazes de parar esse derramamento de sangue. A Convenção Nacional, escolhida nas primeiras eleições sob sufrágio universal masculino, em 20 de setembro de 1792, sucedeu a Assembleia Legislativa e, em 21 de setembro, aboliu a monarquia proclamando a Primeira República Francesa. O ex-rei, Luís XVI, foi condenado por traição e guilhotinado em janeiro de 1793. A França declarou guerra à Inglaterra e à República Holandesa em novembro de 1792 e fez o mesmo em relação à Espanha em março de 1793; na primavera de 1793, a Áustria, a Grã-Bretanha e a República Holandesa invadiram a França; em março, a França criou uma "república irmã" na "República de Mainz".
Napoleão e.
Napoleão Bonaparte tomou o controle da República em 1799 ao tornar-se Primeiro Cônsul e depois Imperador do Império Francês (1805–1814/1815). Como uma continuação das guerras desencadeadas pelas monarquias europeias contra a República Francesa, os conjuntos de coligações europeias declararam guerra ao Império de Napoleão. Os exércitos franceses, no entanto, conquistaram a maior parte da Europa continental com vitórias rápidas, como as batalhas de Jena-Auerstadt ou Austerlitz. Os membros da família Bonaparte foram nomeados como monarcas em alguns dos reinos recentemente estabelecidos. Essas vitórias levaram à expansão mundial dos ideais e das reformas revolucionárias francesas, como o sistema métrico, o Código Napoleônico e a Declaração dos Direitos do Homem. Após a catastrófica Campanha da Rússia e o levante das monarquias europeias contra o seu governo, Napoleão foi derrotado e a monarquia Bourbon foi restaurada. Cerca de um milhão de franceses morreram durante as Guerras Napoleônicas.
Após o seu breve retorno do exílio, Napoleão foi finalmente derrotado em 1815 na Batalha de Waterloo, a monarquia foi restabelecida , com novas limitações constitucionais. A desacreditada dinastia Bourbon foi derrubada pela Revolução de Julho de 1830, que estabeleceu a Monarquia de Julho, que durou até 1848, quando a Segunda República Francesa foi proclamada, na sequência das revoluções europeias de 1848. A abolição da escravidão e o sufrágio universal masculino, ambos brevemente promulgados durante a Revolução Francesa, foram reeditados em 1848.
Em 1852, o presidente da República Francesa, Louis-Napoléon Bonaparte, sobrinho de Napoleão I, foi proclamado imperador do Segundo Império, como Napoleão III. Ele multiplicou as intervenções francesas no exterior, especialmente na Crimeia, no México e na Itália, o que resultou na anexação do Ducado de Saboia e do Condado de Nice, então parte do Reino da Sardenha. Napoleão III foi deposto após a derrota na Guerra Franco-Prussiana de 1870 e seu regime foi substituído pela Terceira República Francesa.
A França tinha possessões coloniais, em várias formas, desde o início do , mas nos séculos XIX e XX, seu império colonial global ultramarino se estendeu muito e se tornou o segundo maior do mundo, atrás apenas do Império Britânico. Incluindo a França metropolitana, a área total de terra sob soberania francesa atingiu quase 13 milhões de quilômetros quadrados nas décadas de 1920 e 1930, ou 8,6% da área terrestre do planeta. Conhecida como "Belle Époque", a virada do século foi um período caracterizado por otimismo, paz regional, prosperidade econômica e inovações tecnológicas, científicas e culturais. Em 1905, o secularismo estatal foi oficialmente estabelecido.
Séculos XX e XXI.
A França era membro da Tríplice Entente quando a Primeira Guerra Mundial estourou. Uma pequena parte do norte da França estava ocupada, mas a França e seus aliados emergiram vitoriosos contra os Impérios Centrais com um tremendo custo humano e material. A Primeira Guerra Mundial deixou 1,4 milhão de soldados franceses mortos, ou 4% de sua população. Entre 27% e 30% dos soldados recrutados de 1912 a 1915 foram mortos. Os anos do Entreguerras foram marcados por intensas tensões internacionais e uma variedade de reformas sociais introduzidas pelo governo da Frente Popular (férias anuais, dias úteis de oito horas, mulheres no governo, etc.).
Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, a França foi invadida e ocupada pela Alemanha nazista. A França metropolitana foi dividida em uma zona de ocupação alemã no norte e França de Vichy, um regime autoritário recém-criado no sul e que era um Estado fantoche dos nazistas, enquanto a França Livre, governada em exílio e liderada por Charles de Gaulle, foi criada em Londres. De 1942 a 1944, cerca de 160 mil cidadãos franceses, incluindo cerca de 75 mil judeus, foram deportados para campos de extermínio e campos de concentração na Alemanha e na Polônia ocupada. Em 6 de junho de 1944, os Aliados invadiram a Normandia e, em agosto, invadiram Provença. No ano seguinte, os Aliados e a Resistência Francesa emergiram vitoriosos sobre as Potências do Eixo e a soberania francesa foi restaurada com o estabelecimento do Governo Provisório da República Francesa (GPRF).
O GPRF estabeleceu as bases para uma nova ordem constitucional que resultou na Quarta República Francesa, que passou por um crescimento econômico espetacular ("les Trente Glorieuses"). A França foi um dos membros fundadores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949. O país tentou recuperar o controle da Indochina francesa, mas foi derrotada pelo Viet Minh em 1954 na Batalha de Dien Bien Phu. Apenas alguns meses depois, a França enfrentou outro conflito anticolonial na Argélia. Tortura e execuções ilegais foram cometidas por ambos os lados e o debate sobre o controle da Argélia, então casa de mais de um milhão de colonos europeus, dividiu o país e quase levou a um golpe e a uma guerra civil. Em 1958, a fraca e instável Quarta República deu lugar à Quinta República Francesa, que incluiu uma Presidência fortalecida.
A França permaneceu como uma das economias mais desenvolvidas do mundo, mas enfrentou várias crises econômicas que resultaram em altas taxas de desemprego e aumento da dívida pública. No final do e início do XXI, a França esteve na vanguarda do desenvolvimento de uma União Europeia (UE) supranacional ao assinar o Tratado de Maastricht (que criou a UE) em 1992, ao estabelecer a Zona do Euro em 1999 e ao assinar o Tratado de Lisboa em 2007. O país também gradualmente reintegrou-se à OTAN e desde então participou da maioria das guerras patrocinadas pela organização.
Desde os ataques ao metrôs de Paris em 1995, a França tem sido esporadicamente atacada por organizações terroristas islâmicas, em particular o ataque ao "Charlie Hebdo" em janeiro de 2015, que provocou as maiores manifestações públicas na história da França (4,4 milhões de pessoas), e os ataques de novembro de 2015 em Paris, que resultaram em 130 mortes. Estes foram os atentados mais mortais em solo francês desde a Segunda Guerra Mundial e os mais mortíferos na União Europeia desde os atentados de Madri em 2004.
Geografia.
A França metropolitana está situada na faixa entre as latitudes de 41 e 51 graus no hemisfério norte (Dunquerque está um pouco a norte da latitude de 51 graus) e entre as longitudes de 6 graus no hemisfério ocidental e 10 graus no hemisfério oriental. Está ainda localizada na parte ocidental da Europa e, portanto, situada na zona de clima temperado do hemisfério norte. Enquanto a França metropolitana está localizada na Europa Ocidental, a França também tem territórios na América do Norte, América Central, América do Sul, sul do Oceano Índico, Oceano Pacífico e uma reivindicação na Antártida. Estes territórios têm diferentes formas de governo que vão desde departamento de ultramar à coletividade de ultramar. Os departamentos e coletividades ultramarinas da França e partilham fronteiras terrestres com o Brasil e Suriname (a partir da Guiana Francesa) e com as antigas Antilhas Holandesas (a partir de São Martinho).
A França metropolitana abrange quilômetros quadrados e tem a maior área territorial entre os membros da União Europeia. A França possui uma grande variedade de paisagens, desde as planícies costeiras no norte e oeste, as cordilheiras dos Alpes no sudeste, o Maciço Central da região centro-sul até aos Pirenéus no sudoeste. Com metros de altitude acima do nível do mar, o Mont Blanc é o ponto mais alto da Europa Ocidental, situado nos Alpes, sobre a fronteira França-Itália. A França Metropolitana também tem sistemas fluviais extensos como o Sena, o Loire, Garona e o Ródano, que divide o Maciço Central dos Alpes e deságua no Mar Mediterrâneo. A Córsega está ao largo da costa do Mediterrâneo.
A área total terrestre da França, com seus departamentos e territórios ultramarinos (excluindo Terra de Adélia), é de , 0,45% da área total da Terra. Contudo, a França possui a segunda maior zona econômica exclusiva (ZEE) do mundo, que abrange , cerca de 8% da superfície total de todos as ZEE do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos () e à frente da Austrália ().
Clima.
A França tem temperaturas amenas o ano todo. As chuvas são abundantes, o sol generoso. É mais fresco e úmido a norte e a oeste; mais quente e seco nas cidades do Mediterrâneo.
O norte e o noroeste do país têm um clima temperado, enquanto que uma combinação de influências marítimas, latitude e altitude produzem um clima variado no resto da França metropolitana. No sudeste prevalece o clima mediterrâneo. No oeste, o clima é predominantemente oceânico, com um elevado nível de pluviosidade, invernos suaves e verões quentes. No interior o clima torna-se mais continental, com verões quentes e tempestuosos, invernos mais frios e menos chuva. O clima dos Alpes e de outras regiões montanhosas é principalmente alpino, com o número de dias com temperaturas abaixo de zero passando de 150 por ano e com uma cobertura de neve com duração de até seis meses.
No inverno, a neve nas montanhas possibilita a prática de esportes de inverno. A neve é rara nas planícies, caindo essencialmente a norte do rio Loire e, esporadicamente, em Paris. Na primavera, as temperaturas são acima de 20 graus Celsius (°C) no sul, como em Nice e Cannes. De junho em diante, pode-se andar pelas ruas sem agasalho. Os dias são mais longos, época para viagens ao campo, montanhas e para atividades ao ar livre. O verão é quente e calmo. O sol predomina em todo o país. A temperatura chega, muitas vezes, a 30 °C em Marselha e a 25 °C em Brest. No outono regressa a chuva, depois as temperaturas amenas no mês de dezembro. Nas ruas, as pessoas se agasalham e os dias vão ficando mais curtos.
Demografia.
A população estimada da França em janeiro de 2023 era de aproximadamente 68,1 milhões de pessoas, das quais 66 milhões habitavam a França Metropolitana, com uma densidade de 118 habitantes por quilômetros quadrado, habitam a França ultramarina, incluindo uma comunidade de dois mil cientistas e investigadores destacados na Antártida.
Segundo dados do "CIA World Factbook", 77% da população francesa vivem em áreas urbanas. Paris, junto à sua área metropolitana (correspondente à região conhecida como Ilha de França), concentra habitantes, o que a converte em uma das maiores do mundo, e a mais povoada da União Europeia. Outras áreas metropolitanas como mais de um milhão de habitantes são Marselha e Lyon, com mais de um milhão e meio habitantes cada.
A esperança de vida ao nascer é de 85,2 anos para as mulheres e 79,3 anos para os homens. Os homens tendem a ter empregos a tempo completo, enquanto nas mulheres tende a ser parcial. Na França, as férias legais pagas somam cinco semanas para cada ano de trabalho. A França é considerada como um dos países com melhor qualidade de vida do planeta. Sua população desfruta de um alto grau de serviços e o índice de saúde é um dos melhores do mundo.
Grupos étnicos e imigração.
A população é composta por descendentes de vários grupos étnicos, principalmente de origem celta (mas também lígure e ibero), fundamentalmente gauleses aglutinados com a população precedente, que deram à região o nome de Gália (que hoje é a França), que incluía também o que é hoje a Bélgica, Suíça e Luxemburgo. Cronologicamente, foram-se somando outros grupos étnicos: no processo histórico formativo da França atual, são também significativas as populações de origem grega, romana, basca, germânica (principalmente de francos, como também de burgúndios), viquingue (na Normandia) e, em menor medida, os sarracenos.
Os estudos da população francesa mostram que a maioria dos cidadãos são de origem europeia (91,6%), entre os quais franceses (85%) os outros 6,5% provêm de outros países. 5,75% vêm de países da África, 3% da Ásia e 0,6% da América. Esta composição é consequência da evolução migratória e da presença significativa da população nascida na França, porém estrangeira, geralmente imigrantes que através dos anos foram obtendo a cidadania francesa. A população de origem judia era estimada em 550 mil habitantes, a princípios dos anos 2000, ainda que não existam dados estatísticos, pois a lei francesa proíbe coletar dados sobre etnias ou religiões, bem como filiação política.
Desde o , a França é um país de imigração. Mais de 90% da população nasceu dentro do próprio país. Entre os estrangeiros que vêm se integrando, predominam os magrebinos, italianos e espanhóis, portugueses, polacos, subsaarianos, chineses (um milhão em 2007), turcos (entre 400 e 500 mil), vietnamitas (250 mil) e ciganos (entre 200 e 300 mil). A maior parte de imigrantes nos últimos anos provêm do Magrebe. No total, existem 4,5 milhões de imigrantes no país.
Religião.
França é um país secular e a liberdade de religião é um direito constitucional. O governo francês não mantém estatísticas sobre adesão religiosa, no entanto existem algumas estimativas não oficiais. O catolicismo romano tem sido a religião predominante na França há mais de um milênio, embora não seja tão ativamente praticado hoje como era antes. Uma pesquisa realizada pelo jornal católico "La Croix" descobriu que, enquanto em 1965, 81% dos franceses se declaravam como católicos, em 2009 essa proporção era de 64%. Além disso, embora 27% dos franceses ia à missa uma vez por semana ou mais em 1952, apenas 4,5% o fizeram em 2006; 15,2% assistiam à missa pelo menos uma vez por mês. O mesmo estudo constatou que os protestantes responderam por 3% da população, um aumento em relação às pesquisas anteriores e 5% seguiam outras religiões, sendo que os restantes 28% declarando que não tinham nenhuma religião.
De acordo com uma sondagem de janeiro de 2007 realizada pela "Catholic World News", apenas 5% da população francesa frequentava a igreja regularmente (ou 10% frequentam os serviços da igreja regularmente entre os entrevistados que se identificaram como católicos). A pesquisa mostrou que 51% dos entrevistados se identificou como católicos, 31% se identificou como agnósticos ou ateus (outra pesquisa define a proporção de ateus como igual a 27%), 10% se identificou como sendo de outras religiões ou sem opinião, 4% identificados como muçulmanos, 3% se identificaram como protestantes, 1% se identificaram como budistas e 1% se identificaram como judeus. Enquanto isso, uma estimativa independente do politologista Pierre Bréchon, em 2009, concluiu que a proporção de católicos havia caído para 42% enquanto o número de ateus e agnósticos havia subido para 50%. Os valores mais recentes da World Christian Database datados de 2010 e divulgados pelo "site" The ARDA mostram que 68,23% dos franceses são seguidores do cristianismo, 16,41% são agnósticos, 8,55% são muçulmanos, os ateus são 4,13%, os judeus 1% e outras religiões são seguidas por 1,67% da população. De acordo com o Fórum Pew, "na França, os defensores de uma lei de 2004 que proíbe o uso de símbolos religiosos nas escolas dizem que protegem as meninas muçulmanas de serem forçadas a usar um lenço na cabeça, mas a lei também restringe aqueles que querem usar o véu — ou qualquer outro símbolo "conspícuo" religioso, incluindo grandes cruzes cristãs e turbantes do siquismo — como expressão de sua fé."
De acordo com pesquisa do Eurobarômetro, de 2005, 34% dos cidadãos franceses responderam que "acreditam que existe um deus", enquanto 27% responderam que "acreditam que existe algum tipo de espírito ou força vital e 33% que "não acredito que haja qualquer tipo de espírito, deus, ou força vital." Um outro estudo mostra 32% de pessoas na França se declaram como ateus e outros 32% declaram-se como "cético sobre a existência de Deus, mas não um ateu." Segundo pesquisa de 2010, também do Eurobarômetro, a França é o país mais ateu da Europa, com 40% da sua população não acreditando na existência de um deus; 27% dos franceses disseram crer em algum deus, ao passo que 27% acreditavam em algum tipo de espírito ou força vital.
As estimativas do número de muçulmanos na França variam amplamente. De acordo com o censo francês de 1999, havia 3,7 milhões de pessoas "provavelmente de fé muçulmana" na França (6,3% da população total). Em 2003, o Ministério do Interior francês estimou que o número total de muçulmanos estava entre cinco e seis milhões (8–10%).
Desde 1905 o governo francês tem seguido o princípio da laicidade, em que é proibido de reconhecer qualquer direito específico de uma comunidade religiosa. Em vez disso, o governo apenas reconhece as organizações religiosas, de acordo com critérios formais legais que não tratam a doutrina religiosa. Por outro lado, as organizações religiosas devem abster-se de intervir na elaboração de políticas.
Idioma.
O idioma oficial na França é o francês, proveniente do "franciano", variante linguística falada na Ilha de França que nos princípios da Idade Média e, ao longo dos séculos, se impôs ao resto das línguas e variantes linguísticas que se falam em quaisquer partes da França. Também há línguas minoritárias, como o catalão, o bretão, o corso, o occitano, o provençal, o franco-provençal, o basco e o alsaciano.
Apesar disto, esta imposição do francês tem sido fruto de decisões políticas tomadas ao longo da história, com o objetivo de criar um Estado uniformizado linguisticamente. Feito isto, o artigo segundo da constituição francesa de 1958 disse textualmente que «"La langue de la République est le français"».
Do a meados do XX, o francês serviu como língua internacional preeminente da diplomacia e das relações internacionais, bem como uma língua franca entre as classes cultas da Europa. A posição dominante da língua francesa nas relações internacionais tem apenas sido desafiada recentemente pelo inglês, desde o surgimento dos Estados Unidos como uma grande potência.
Governo e política.
A República Francesa é uma república unitária semipresidencialista com fortes tradições democráticas. A constituição da V República foi aprovada por referendo em 28 de setembro de 1958. É extremamente reforçada a autoridade do executivo em relação ao Parlamento. O poder executivo em si tem dois dirigentes: o presidente da República, atualmente Emmanuel Macron (Renascimento) que é chefe de estado e é eleito diretamente por sufrágio universal para um mandato de cinco anos (até 2000, eram sete anos) e o Governo, liderado pelo primeiro-ministro nomeado pelo presidente. Após a eleição legislativa de 2017, o primeiro-ministro do país passou a ser Édouard Philippe.
O parlamento francês é uma legislatura bicameral, composto por uma Assembleia Nacional ("Assemblée Nationale") e um Senado. Os deputados da Assembleia Nacional representam círculos eleitorais locais e são diretamente eleitos para mandatos de cinco anos.
A Assembleia tem o poder de demitir o gabinete e, assim, a maioria na Assembleia determina a escolha do governo. Os senadores são escolhidos por um colégio eleitoral para mandatos de seis anos (inicialmente nove termos homólogos), e metade dos assentos são submetidos à eleição três cada três anos. Os poderes legislativos do Senado são limitados; em caso de desacordo entre as duas câmaras, a Assembleia Nacional tem a palavra final, exceto para as leis constitucionais e "lois organiques" (leis que são diretamente previstas pela Constituição), em alguns casos.
Até as eleições de 2017, disputada entre o Em Marcha! e a Frente Nacional, a política francesa caracterizava-se por dois grupos políticos opostos: um de esquerda, centrada em torno do Partido Socialista Francês, e os outros da ala direita, anteriormente centrada em torno do Reagrupamento para a República (RPR) e seu sucessor, o União por um Movimento Popular (UMP).
Lei.
Na França usa-se o sistema romano-germânico, isto é, a lei surge principalmente a partir de estatutos escritos. Os juízes não fazem leis, mas apenas as interpretam, embora a quantidade de interpretação judicial em determinadas áreas faça com que seja equivalente à jurisprudência. Os princípios básicos do Estado de direito foram estabelecidas no Código de Napoleão, que era, por sua vez, em grande parte, baseado na lei real codificada no reinado de . De acordo com os princípios da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão a lei só deve proibir as ações prejudiciais à sociedade.
A lei francesa é dividida em duas áreas principais: o direito privado e o direito público. O direito privado inclui, na lei, nomeadamente o direito penal e civil. O direito público inclui, na lei, designadamente o direitos administrativo e constitucional. No entanto, em termos práticos, a lei francesa compreende três principais áreas do direito: direito civil, direito penal e direito administrativo.
A França não reconhece a lei religiosa, nem reconhece crenças religiosas ou a moralidade como uma motivação para a promulgação de proibições. Como consequência, a França há muito tempo não tem qualquer lei de blasfêmia nem leis contra a sodomia (a última sendo abolida em 1791). No entanto, "os crimes contra a decência pública" ("moeurs contraires aux bonnes") ou perturbação da ordem pública ("rouble à l'ordre public") foram usados para reprimir manifestações públicas de homossexualidade ou a prostituição de rua. Leis penais só podem abordar o futuro e não o passado criminal (leis "ex post facto" são proibidas), e para serem aplicáveis, as leis devem ser oficialmente publicadas no "Journal Officiel de la République française". Em 2010, a França aprovou uma lei que proíbe véus de rosto em público, incluindo aqueles usados pelas mulheres muçulmanas. A Anistia Internacional condenou a lei como uma violação da liberdade de expressão. Em setembro de 2011, duas mulheres muçulmanas foram multadas por usar o nicabe, mas elas recorreram das multas.
A França é tolerante com a comunidade de lésbicas, "gays", bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT). Desde 1999, as uniões civis para casais homossexuais são permitidas, embora o casamento homossexual tenha sido legalizado no país somente em 2013. Leis de condenação ao racismo, sexismo ou o antissemitismo são antigas e, por exemplo, leis que proíbem o discurso discriminatório na imprensa datam de 1881.
Relações internacionais.
A França é um membro da Organização das Nações Unidas (ONU) e é um dos membros permanentes do seu Conselho de Segurança, com direito a veto. O país também é membro do G8, Organização Mundial do Comércio (OMC), do Secretariado da Comunidade do Pacífico (SCP) e também da União Latina e Comissão do Oceano Índico (COI), além de ser membro fundador da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), membro associado da Associação dos Estados do Caribe (AEC) e um dos principais participantes da Organização Internacional da Francofonia (OIF), que reúne 51 países de língua francesa.
Como um polo importante para as relações internacionais, a França abriga o segundo maior conjunto de missões diplomáticas em todo o mundo e a sede de diversas organizações internacionais, como a OCDE, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), o Escritório Internacional de Pesos e Medidas e a OIF. A política externa francesa do pós-guerra tem sido amplamente moldada pela adesão à União Europeia (UE), da qual foi um dos membros fundadores. Desde 1960, a França desenvolveu laços estreitos com a Alemanha reunificada para se tornar a força motriz mais influente da UE.
O país ainda mantém forte influência política e econômica em suas antigas colônias africanas e fornece ajuda econômica e tropas para missões de manutenção da paz na Costa do Marfim e no Chade. Recentemente, após a declaração unilateral de independência do norte do Mali pelo Movimento Nacional de Libertação do Azauade (MNLA), durante a rebelião tuaregue, e do subsequente conflito regional com vários grupos islâmicos, como Ansar Dine, a França e outros países africanos intervieram militarmente para ajudar o exército do Mali a retomar o controle. Em 2009, a França foi o segundo maior (em números absolutos) financiador de ajuda humanitária no mundo, atrás dos Estados Unidos e à frente de Alemanha, Japão e Reino Unido, o que representa apenas 0,5% do PIB francês. A organização que administra a ajuda francesa ao exterior é a Agência Francesa de Desenvolvimento, que financia projetos humanitários, principalmente na África subsaariana. Os principais objetivos desta ajuda são "o desenvolvimento de infraestrutura, o acesso a assistência médica e educação, a implementação de políticas econômicas adequadas e a consolidação do Estado de direito e da democracia".
Forças armadas.
As Forças Armadas Francesas ("Armées françaises") são as forças militares e paramilitares (como a Gendarmaria Nacional) do governo francês, sendo o presidente seu comandante-em-chefe. Elas são compostas pelo Exército Francês ("Armée de Terre"), pela Marinha Francesa ("Marine Nationale"), pela Força Aérea Francesa ("Armée de l' Air") e por uma força paramilitar auxiliar, a Gendarmaria Nacional ("Gendarmerie Nationale"), e estão entre as maiores forças armadas em todo o mundo. Embora administrativamente as forças armadas francesas estejam sob o comando do Ministério da Defesa, a Gendarmeria é operacionalmente ligada ao Ministério do Interior. A França é membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e é um Estado nuclear reconhecido desde 1960. O país assinou e ratificou o Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares e aderiu ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. As despesas militares anuais da França em 2011 foram de 62,5 bilhões de dólares, ou 2,3% de seu PIB, o quinto maior gasto militar do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China, Rússia e Reino Unido.
A dissuasão nuclear francesa conta com total independência. A corrente de força nuclear francesa é composta por quatro submarinos da classe "Triomphant" equipados com mísseis balísticos. Além da frota de submarinos, estima-se que a França tenha cerca de sessenta mísseis ar-superfície "ASMP" de médio alcance equipados com ogivas nucleares, dos quais cerca de 50 são usados pela Força Aérea em caças Dassault Mirage 2000N, de longo alcance e com capacidade nuclear, enquanto que cerca de dez estão implantados em aeronaves de ataque Dassault-Breguet Super Étendard da Marinha, que operam a partir do porta-aviões de propulsão nuclear "Charles de Gaulle". A nova aeronave Rafale F3 irá substituir gradualmente todos os Mirage 2000N e SEM no uso nuclear com a melhoria do míssil "ASMP-A" com uma ogiva nuclear.
A França tem grandes indústrias militares, além de uma das maiores indústrias aeroespaciais do mundo. Suas plantas industriais produziram equipamentos como o caça Rafale, o porta-aviões "Charles de Gaulle", o míssil Exocet e o tanque Leclerc, entre outros. Apesar de se retirar do projeto de aeronave Eurofighter, a França está investindo ativamente em projetos europeus conjuntos, como o helicóptero Eurocopter Tiger, fragatas multiusos, veículos aéreos não tripulados (VANT) e as aeronaves nEUROn e Airbus A400M Atlas. A França é um dos maiores vendedores de armas do mundo, sendo que a maior parte de seu arsenal está disponível para o mercado de exportação, com exceção dos dispositivos de propulsão nuclear.
Divisões administrativas.
Desde 2016, França está dividida em 18 regiões, cinco coletividades de ultramar, um território de ultramar, uma coletividade especial — Nova Caledônia e uma ilha inabitada diretamente sobre a autoridade do Ministro de Ultramar — Clipperton.
Destas 18 divisões administrativas, 13 regiões estão na França metropolitana (incluindo a coletividade Corsica), e cinco regiões estão localizadas na França ultramarina. As regiões são subdivididas em 101 departamentos, que são, em sua maioria, numeradas alfabeticamente. Esse número é usado em códigos postais e já foi usado em números de placas de veículos. Entre os 101 departamentos da França, cinco (Guiana Francesa, Guadalupe, Martinica, Mayotte e Reunião) estão em regiões de ultramar (ROMs) que estão, simultaneamente, em departamentos de ultramar (DOMs).
Os 101 departamentos são subdivididos em 335 "arrondissements", que estão subdivididos em cantões. Esses cantões são subdivididos em comunas, que são municípios com um conselho municipal eleito. Três comunas (Paris, Lyon e Marseille) — são subdivididas em 45 "arrondissements" municipais.
As regiões, departamentos e comunas são todas conhecidas como coletividades territoriais, o que significa que eles possuem assembleias locais, bem como um executivo. Arrondissements e cantões são meramente divisões administrativas. Porém, esse nem sempre foi o caso. Até 1940, os "arrondissements" eram coletividades territoriais com uma assembleia eleita, mas esses foram suspendidos pelo Regime de Vichy e definitivamente abolidos pela Quarta República Francesa em 1946.
Economia.
Um membro G8, grupo líder dos principais países industrializados, o país é classificado como a sétima maior economia do mundo e segunda maior da Europa é por PIB nominal; com 39 das 500 maiores empresas do mundo em 2010, a França ocupava o quarto lugar no mundo e o primeiro na Europa na lista Fortune Global 500, à frente da Alemanha e do Reino Unido. A França se juntou aos onze outros membros da União Europeia para criar o euro em 1 de janeiro de 1999, substituindo completamente o franco francês no início de 2002.
A França tem uma economia mista que combina a iniciativa privada extensa (cerca de 2,5 milhões de empresas registradas) com substanciais (embora em declínio) empresas estatais e intervenção do governo. O governo mantém considerável influência sobre segmentos-chave dos setores de infraestrutura, com participação majoritária em estradas de ferro, eletricidade, aviões, usinas nucleares e telecomunicações.
O país vem relaxando gradualmente o controle sobre estes setores desde o início dos anos 1990. O governo está lentamente corporatizando o setor estatal e vendendo participações na France Télécom, Air France, assim como ações, seguros e indústrias de defesa. A França tem uma importante indústria aeroespacial liderada pelo consórcio europeu Airbus e tem o seu próprio espaçoporto nacional, o Centro Espacial de Kourou. Em 2019, a França tinha a 8.ª indústria mais valiosa do mundo (266,6 bilhões de dólares), de acordo com o Banco Mundial.
Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2020, a França foi sexto maior exportador do mundo e o sétimo maior importador de produtos manufaturados. Em 2008, o país foi o terceiro maior destinatário de investimentos estrangeiros diretos nos países da OCDE em 117,9 bilhões de dólares, atrás de Luxemburgo (onde o investimento estrangeiro direto foi de transferências essencialmente monetárias aos bancos localizados no país) e dos Estados Unidos (316,1 bilhões de dólares), mas acima do Reino Unido (96,9 bilhões de dólares), Alemanha (24,9 bilhões de dólares) e Japão (24,4 bilhões de dólares). No mesmo ano, as empresas francesas investiram milhões de dólares fora do país, classificando-o como o segundo mais importante investidor externo direto no âmbito da OCDE, atrás dos Estados Unidos (311,8 bilhões de dólares) e à frente do Reino Unido (111,4 bilhões de dólares), Japão (128 bilhões de dólares) e Alemanha (156,5 bilhões de dólares).
Serviços financeiros, bancários e do setor de seguros são uma parte importante da economia francesa. A Bolsa de Valores de Paris é uma instituição antiga, criada por em 1724. Em 2000, as bolsas de valores de Paris, Amsterdã e Bruxelas foram incorporadas à Euronext. Em 2007, a Euronext se fundiu com a Bolsa de Nova Iorque para formar NYSE Euronext, a maior bolsa de valores do mundo.
As empresas francesas mantiveram posições-chave na indústria de seguros e bancária: a AXA é a maior empresa do mundo seguro e está classificada pela revista "Fortune" como a nona empresa mais lucrativa do mundo. Os principais bancos franceses são BNP Paribas e o Crédit Agricole, classificados como primeiro e sexto maiores bancos do mundo em 2010.
Turismo.
Com 81,9 milhões de turistas estrangeiros em 2007, a França é classificada como o maior destino turístico do mundo, à frente da Espanha (58,5 milhões em 2006) e Estados Unidos (51,1 milhões em 2006). Este valor de 81,9 milhões de pessoas exclui aquelas que ficam menos de 24 horas na França, como europeus do norte cruzando a França a caminho de Espanha ou da Itália durante o verão.
A França tem 41 locais classificados como Patrimônio Mundial da UNESCO e apresenta cidades de interesse cultural elevado (principalmente Paris, além de Toulouse, Estrasburgo, Bordéus, Lyon e outros), praias e balneários, estâncias de esqui e regiões rurais. O país e, especialmente a sua capital, tem alguns dos maiores e mais renomados museus do mundo, incluindo o Louvre, que é o museu de arte mais visitado no mundo, além do Musée d'Orsay, principalmente dedicado ao impressionismo, e o Beaubourg, dedicado à arte contemporânea. A Disneyland Paris é o parque temático mais popular da França e de toda a Europa, com mais visitantes em 2009.
Com mais de 10 milhões de turistas por ano, a Riviera Francesa (ou "Côte d'Azur"), no sudeste da França, é o segundo principal destino turístico no país, após a região parisiense. De acordo com a Agência de Desenvolvimento Econômico "Côte d'Azur", a região é beneficiada por 300 dias de sol por ano, 115 quilômetros de litoral, 18 campos de golfe, 14 estações de esqui e três mil restaurantes. Todos os anos a "Côte d'Azur" hospeda 50% da frota mundial de iates luxuosos, sendo que 90% desses iates visitam costa da região pelo menos uma vez na vida.
Um outro destino principal são os castelos do Vale do Loire, classificado como Patrimônio Mundial e notável pela qualidade do seu patrimônio arquitetônico, pelas suas cidades históricas, como Amboise, Angers, Blois, Chinon, Nantes, Orléans, Saumur e Tours, mas em particular pelos seus castelos. Os locais turísticos mais populares incluem (de acordo com uma classificação de 2003 por visitantes por ano): Torre Eiffel (6,2 milhões), Museu do Louvre (5,7 milhões), Palácio de Versalhes (2,8 milhões), Museu de Orsay (2,1 milhões), Arco do Triunfo (1,2 milhões), Centro Pompidou (1,2 milhão), Monte Saint-Michel (1 milhão), o Castelo de Chambord (711 mil), Sainte-Chapelle (683 mil), Castelo de Haut-Koenigsbourg (549 mil), Puy de Dôme (500 mil), Museu Picasso (441 mil), Carcassonne (362 mil).
Infraestrutura.
Energia e transportes.
A França é o menor emissor de dióxido de carbono entre os sete países mais industrializados do mundo, devido ao seu forte investimento em energia nuclear. Como resultado de grandes investimentos em tecnologia nuclear, a maior parte da eletricidade produzida no país é gerada por 59 usinas nucleares (78% em 2006, a partir de apenas 8% em 1973, 24% em 1980, e 75% em 1990). Em 2021, a França tinha, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica (10.º maior do mundo), em energia eólica (8.º maior do mundo), em energia solar (11.º maior do mundo), e em biomassa.
A rede ferroviária da França, que se estende por 29.213 quilômetros, é a mais extensa da Europa Ocidental. É operada pela SNCF, e os trens de alta velocidade incluem o Thalys, Eurostar e TGV, que viaja a 320 quilômetros por hora em uso comercial. O Eurostar, juntamente com o Serviço de Transferência do Eurotúnel, conecta-se com o Reino Unido através do Túnel da Mancha. As ligações ferroviárias estendem-se para todos os outros países vizinhos na Europa, com exceção de Andorra. Ligações intra-urbanas também são bem desenvolvidas, com os serviços de metrô e bondes complementando os serviços de ônibus.
Há aproximadamente quilômetros de rodovias utilizáveis na França. A região de Paris está envolvida com uma rede densa de estradas e rodovias que a ligam com praticamente todas as partes do país. Estradas francesas também lidam com um importante tráfego internacional, conectando-se com cidades da vizinha Bélgica, Espanha, Andorra, Mônaco, Suíça, Alemanha e Itália. Não há taxa de matrícula anual ou estrada fiscal, entretanto, o uso da auto-estrada é através de pedágios, exceto nas imediações dos municípios de grandes dimensões. O mercado de carros novos é dominado por marcas domésticas como a Renault (27% dos carros vendidos na França, em 2003), Peugeot (20,1%) e Citroën (13,5%). Mais de 70% dos carros novos vendidos em 2004, tinham motores a diesel, muito mais do que continha gasolina ou a GPL. A França também possui a ponte mais alta estrada do mundo: o Viaduto de Millau, e construiu muitas pontes importantes, como a Ponte da Normandia.
Há cerca de 478 aeroportos na França, incluindo campos de pouso. O Aeroporto de Paris-Charles de Gaulle, situado nos arredores de Paris, é o maior e mais movimentado aeroporto do país, e manipula grande maioria do tráfego popular e comercial do país e liga Paris com praticamente todas as grandes cidades em todo o mundo. A Air France é a companhia aérea nacional, apesar de numerosas companhias aéreas privadas que fornecem serviços de viagens domésticas e internacionais. Há dez principais portos na França, a maior das quais é, em Marselha, que também é a maior fronteira com o Mar Mediterrâneo. quilômetros de canais atravessam a França, incluindo o Canal du Midi, que liga o Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico através do rio Garona.
Educação.
Em 1802, Napoleão Bonaparte criou o "lycée". No entanto, é Jules Ferry que é considerado o pai da moderna escola francesa, que é gratuita, laica e obrigatória até aos 13 anos de idade desde 1882 (o comparecimento escolar na França agora é obrigatório até os 16 anos de idade).
Atualmente, o sistema de ensino na França é centralizado e é composto de três fases, o ensino primário, secundário e ensino superior. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos, coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), classifica a educação da França como a 25.ª melhor do mundo, não sendo nem significativamente superior nem inferior à média da OCDE.
A educação primária e secundária são predominantemente públicas, administradas pelo Ministério da Educação Nacional. O sistema educacional francês é subdividido em cinco diferentes níveis: "École Maternelle" (pré-escola, de 2 a 5 anos); "École Primaire ou Élementaire" (5 primeiros anos do ensino fundamental, de 6 a 10 anos); "Collège" (4 últimos anos do ensino fundamental, entre 11 e 15 anos); "Lycée" (Ensino médio, entre 16 e 18 anos) e "Université" (Universidade).
Ciência e tecnologia.
Desde a Idade Média, a França tem sido um dos principais contribuintes para a produção científica. Por volta do início do o Papa Silvestre II reintroduziu o ábaco e a esfera armilar e apresentou os algarismos indo-arábicos e os relógios para a Europa do norte e ocidental. A Universidade de Paris, fundada em meados do , ainda é uma das mais importantes universidades do mundo ocidental.
No , René Descartes definiu um método para a aquisição de conhecimento científico, enquanto Blaise Pascal tornou-se famoso por seu trabalho sobre a probabilidade e a mecânica de fluidos. Ambos foram figuras-chave da revolução científica que eclodiu na Europa durante este período. A Académie des Sciences foi fundada por para incentivar e proteger o espírito de pesquisa científica francesa. Esteve na vanguarda dos progressos científicos na Europa nos séculos XVII e XVIII. É uma das primeiras academias de ciências.
O período do Iluminismo foi marcado pelo trabalho do biólogo Buffon e do químico Lavoisier, que descobriu o papel do oxigênio na combustão, enquanto Diderot e D'Alembert publicaram a "Encyclopédie", que tinha como objetivo dar acesso ao "conhecimento útil" para o povo, um conhecimento que possam aplicar à sua vida cotidiana.
Com a Revolução Industrial, no , desenvolvimentos científicos espetaculares aconteceram na França com cientistas como Augustin Fresnel, fundador da óptica moderna; Nicolas Léonard Sadi Carnot, que lançou as bases da termodinâmica; ou Louis Pasteur, um dos pioneiros da microbiologia. Outros cientistas franceses eminentes do têm seus nomes inscritos na Torre Eiffel, em Paris.
Cientistas franceses famosos do incluem o matemático e físico Henri Poincaré, os físicos Henri Becquerel e Pierre e Marie Curie tornaram-se famosos por seus trabalhos sobre a radioatividade, o físico Paul Langevin ou o virologista Luc Montagnier, codescobridor do HIV/AIDS. Até 2012, 65 franceses ganharam o Prêmio Nobel e 11 receberam a Medalha Fields.
Saúde.
O sistema de saúde francês ficou em primeiro lugar a nível mundial de acordo com a Organização Mundial de Saúde em 1997 e depois novamente em 2000. O sistema de saúde é geralmente livre para as pessoas afetadas por doenças crônicas ("Affections de longues durées"), tais como câncer, AIDS ou fibrose cística. A expectativa de vida média ao nascer é de 77 anos para homens e 84 anos para as mulheres, uma das mais altas da União Europeia. Existem 3,22 médicos para cada habitantes na França, enquanto que o gasto médio "per capita" de saúde foi de de dólares em 2008. Em 2007 existiam cerca de 140 mil habitantes (0,4%) da França que viviam com HIV/AIDS.
Apesar dos franceses terem a reputação de ser um dos povos mais magros entre os países desenvolvidos, a França, como outros países ricos, enfrenta uma epidemia crescente e recente de obesidade, principalmente devido à substituição da culinária tradicional francesa saudável por "junk food" nos hábitos alimentares franceses. No entanto, a taxa de obesidade francesa é muito inferior a dos Estados Unidos (por exemplo, taxa de obesidade na França é a mesma que a estadunidense era na década de 1970) e ainda é a mais baixa da Europa, mas agora é considerada pelas autoridades como um dos principais problemas de saúde pública e é ferozmente combatida; taxas de obesidade infantil estão a abrandar na França, enquanto continua a crescer em outros países.
Cultura.
A França tem sido um centro de criação cultural por séculos. Muitos artistas franceses estiveram entre os mais famosos de seu tempo e a França ainda é reconhecida no mundo pela sua rica tradição cultural. Os sucessivos regimes políticos que sempre promoveram a criação artística e a criação do Ministério da Cultura em 1959 ajudaram a preservar o patrimônio cultural do país e torná-lo disponível ao público. O Ministério da Cultura tem sido muito ativo desde a sua criação na concessão de subsídios aos artistas, promovendo a cultura francesa no mundo, apoiando festivais e eventos culturais, além de proteger monumentos históricos. O governo francês também conseguiu manter uma exceção cultural para defender produtos audiovisuais feitos no país.
A França recebe o maior número de turistas por ano, em grande parte graças aos inúmeros estabelecimentos culturais e edifícios históricos implantados em todo o seu território. Dispõe de museus que recebem mais de 50 milhões de pessoas anualmente.
Os locais culturais mais importantes são mantidos pelo governo, por exemplo, através da agência pública do Centro Nacional de Monumentos, que tem cerca de uma centena de monumentos históricos nacionais sob seu cuidado. Os edifícios protegidos como monumentos históricos incluem principalmente residências (muitos castelos) e edifícios religiosos (catedrais, basílicas, igrejas, etc), mas também estátuas, memoriais e jardins. A UNESCO inscreveu 37 locais na França como Patrimônios Mundiais.
Belas artes.
As primeiras manifestações artísticas vêm do período pré-histórico, em estilo franco-cantábrico. A época carolíngia marca o nascimento de uma escola de iluminadores que se prolongará ao longo de toda a Idade Média, culminando nas ilustrações do livro "As Horas Muito Ricas do duque de Berry". Os pintores clássicos do francês são: Poussin e Lorrain.
No predomina o rococó, com Watteau, Boucher e Fragonard. Nos finais do século começa o classicismo de Jacques-Louis David. O romanticismo está dominado pelas figuras de Géricault e Delacroix. A paisagem realista da Escola de Barbizon tem sua continuação em artistas de um realismo mais testemunhal sobre a realidade social de seu tempo, como Millet e Courbet. Na França, a escultura evoluiu por diversos estilos, se sobressaindo em todos eles: pré-histórico, romano, cristão, românico, gótico, renascentista, barroco e rococó, neoclássico (Frédéric Auguste Bartholdi: "Estátua da Liberdade"), romântico (Auguste Rodin: "O pensador"), e os contemporâneos.
Na segunda parte do , a influência da França sobre a pintura tornou-se ainda mais importante, com o desenvolvimento de novos estilos de pintura como o impressionismo e o simbolismo. Os pintores impressionistas mais famosos da época foram Camille Pissarro, Édouard Manet, Edgar Degas, Claude Monet e Auguste Renoir. A segunda geração de pintores de estilo impressionista, Paul Cézanne, Paul Gauguin, Toulouse-Lautrec e Georges Seurat, também estavam na vanguarda das evoluções artísticas, bem como os artistas fauvistas Henri Matisse, André Derain e Maurice de Vlaminck.
Muitos museus na França são inteiramente ou parcialmente dedicados a esculturas e obras de pintura. Uma enorme coleção de obras antigas criadas antes ou durante o são exibidas no Museu do Louvre, como a "Mona Lisa", também conhecido como "La Joconde". Enquanto o Palácio do Louvre tem sido durante muito tempo um museu, o Museu d'Orsay foi inaugurado em 1986 na antiga estação ferroviária Gare d'Orsay, em uma grande reorganização de coleções de arte nacionais, para reunir pinturas francesas da segunda parte de o (principalmente movimentos de impressionismo e fauvismo). As obras modernas são apresentadas no Musée National d'Art Moderne, que se mudou em 1976 para o Centro Georges Pompidou. Esses três museus estatais recebem cerca de 17 milhões de pessoas por ano. Outros museus nacionais que hospedam pinturas incluem o Grand Palais (1,3 milhão de visitantes em 2008), mas também há muitos museus pertencentes a cidades, sendo o mais visitado o Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris (800 mil visitantes em 2008), que hospeda obras contemporâneas.
Literatura.
A literatura francesa mais antiga data da Idade Média, quando o que agora é conhecido como a França moderna ainda não tinha uma linguagem única e uniforme. Um importante escritor do foi François Rabelais, cujo romance "Gargantua e Pantagruel" permaneceu famoso e apreciado até os dias atuais. Michel de Montaigne foi a outra grande figura da literatura francesa durante esse século. O seu trabalho mais famoso, "Ensaios", criou o gênero literário do ensaio.
Durante o , Madame de La Fayette publicou anonimamente "La Princesse de Clèves", uma novela que é considerada um dos primeiros romances psicológicos de todos os tempos. Jean de La Fontaine é um dos fabulistas mais famosos da época, autor de obras como "A Cigarra e a Formiga". Gerações dos alunos franceses tiveram que aprender suas fábulas, que eram vistas como ajudando a ensinar sabedoria e senso comum aos jovens. Alguns de seus versos entraram no idioma popular para se tornarem provérbios, como "À l'oeuvre, on connaît l'artisan". [No trabalho, conhecemos o artesão].
Jean Racine, cujo incrível domínio do verso alexandrino e da língua francesa tem sido elogiado há séculos, criou peças como "Phèdre" ou "Britannicus". Ele é, junto com Pierre Corneille ("Le Cid") e Molière, considerado como um dos três grandes dramaturgos da época dourada da França. Molière, que é considerado um dos maiores mestres da comédia da literatura ocidental, escreveu dezenas de peças, incluindo "Le Misanthrope", "L'Avare", "Le Malade imaginaire" e "Le Bourgeois Gentilhomme". Suas peças de teatro têm sido tão populares em todo o mundo que a língua francesa às vezes é apelidada como "linguagem de Molière".
A literatura francesa e a poesia floresceram ainda mais nos séculos XVIII e XIX. As obras mais conhecidas de Denis Diderot são "Jacques o Fatalista" e "O Sobrinho de Rameau". No entanto, ele é mais conhecido por ser o redator principal da "Encyclopédie", cujo objetivo era resumir todo o conhecimento de seu século (em campos como artes, ciências, línguas, filosofia) e apresentá-lo ao povo, a fim de lutar contra a ignorância e o obscurantismo. Durante esse mesmo século, Charles Perrault foi um prolífico escritor de famosos contos de fadas infantis, como "O Gato de Botas", "Cinderela", "A Bela Adormecida" e "Barba Azul". No início do , a poesia simbolista era um movimento importante na literatura francesa, com poetas como Charles Baudelaire, Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé.
No , surgiram muitos autores renomados franceses. Victor Hugo é muitas vezes descrito como "o maior escritor francês de todos os tempos" por se destacar em todos os gêneros literários. O prefácio de sua peça de teatro "Cromwell" é considerado o manifesto do movimento romântico. "Les Contemplations" e "La Légende des siècles" são considerados "obras-primas poéticas", o versículo de Hugo foi comparado ao de Shakespeare, Dante e Homero. Sua novela "Les Misérables" é amplamente vista como um dos maiores romances já escritos.
O Prix Goncourt é um prêmio literário francês criado em 1903. Importantes escritores do incluem Marcel Proust, Louis-Ferdinand Céline, Albert Camus e Jean-Paul Sartre. Antoine de Saint Exupéry escreveu "Le Petit Prince", que permaneceu popular há décadas entre crianças e adultos em todo o mundo. Os autores franceses tinham mais Prêmios Nobel de Literatura do que os de qualquer outro país. O primeiro Prêmio Nobel de Literatura foi para um autor francês, enquanto que o último Prêmio Nobel de Literatura da França foi recebido por Patrick Modiano, que recebeu o prêmio em 2014. Jean-Paul Sartre também foi o primeiro candidato na história do comitê a recusar o prêmio em 1964.
Música.
Na música francesa desde antes do ano 1000 se destaca o canto gregoriano empregado nas liturgias. Na França se criou a polifonia. Na denominada "Ars Antiqua", se atribui a Carlos Magno o "Scholae Cantorum" (783). Os "Juramentos de Estrasburgo", é a obra lírica francesa mais importante da Idade Média, período no que se desenvolvem as Canções de Gesto como a "A Canção de Rolando".
A França foi o berço dos trovadores no , assim como do "Ars Nova" dos séculos posteriores. Durante o Romantismo Paris se converte no centro musical do mundo e na atualidade, a França mantém um lugar privilegiado na criação musical graças a novas gerações de compositores. Dentro dos exponentes da música popular francesa, se encontram figuras como Edith Piaf, Mireille Mathieu, Dalida, Charles Aznavour, Serge Gainsbourg e Gilbert Becaud.
Arquitetura.
No que se refere à arquitetura, os celtas deixaram seus rastros também na construção de grandes monólitos ou megálitos, e a presença grega desde o que hoje é recordada na herança clássica de Marselha. O estilo românico tem exemplos na "Maison Carrée", templo romano edificado entre 161 e , ou no Pont du Gard construído entre os anos 40 e 60, em Nimes e declarado patrimônio universal em 1985. Na França se inventou o estilo gótico, plasmado em Catedrais como as de Chartres, Amiens, Notre-Dame ou Estrasburgo.
O Renascimento surgido na Itália, tem seu estilo arquitetônico representado magistralmente no Castelo de Blois ou no Palácio de Fontainebleau entre outros. A arte barroca (também de origem italiana), e o rococó (invenção francesa) têm obras extraordinárias na França. Tal é o caso do Palácio do Louvre e o Panthéon de Paris entre tantos outros.
O modernismo ou arte moderna na arquitetura engloba todo o e a primeira metade do XX, e Gustave Eiffel revolucionou a teoria e prática arquitetônica de seu tempo na construção de gigantescas pontes e no emprego de materiais como o aço. Sua obra mais famosa é a chamada Torre Eiffel. Outro grande ícone da arquitectura universal é Le Corbusier, um inovador e funcionalista celebrado especialmente por seus aportes urbanísticos nas edificações de vivendas e conjuntos habitacionais.
Mídia.
Os jornais mais vendidos no país são o "Le Parisien" (com 460 mil vendidos diariamente), o "Le Monde" e o "Le Figaro", com cerca de 300 mil cópias por dia, assim como o "L'Équipe", dedicado à cobertura esportiva. Nos últimos anos, jornais gratuitos, com o "Metro", o "20 minutes" e o "Direct Plus", distribuíram mais de 650 mil cópias, respectivamente. No entanto, as maiores taxa de vendas são alcançadas pelo jornal regional "Ouest-France", com mais de 750 mil exemplares vendidos, sendo que outros 50 jornais regionais também têm vendas elevadas. O setor de revistas semanais é mais forte e mais variado do que as 400 revistas especializadas publicadas no país.
As revistas semanais mais influentes são a "Le Nouvel Observateur", a "L'Express" e a "Le Point" (mais de 400 mil cópias), mas a maior circulação entre os semanários é alcançada por revistas de TV e por revistas femininas, como "Marie Claire" e "Elle", que possuem versões estrangeiras. Semanais influentes também incluem jornais investigativos e satíricos, como "Le Canard enchaîné" e "Charlie Hebdo", bem como "Paris Match". Como na maioria das nações industrializadas, a mídia impressa foi afetada por uma grave crise na última década. Em 2008, o governo lançou uma iniciativa importante para ajudar a reformar o setor e a deixá-lo financeiramente independente, mas em 2009 teve que dar 600 mil euros para ajudar a mídia impressa a lidar com a crise econômica, além dos subsídios já existentes.
Em 1974, após anos de monopólio centralizado na rádio e televisão, a agência governamental Office de Radiodiffusion Télévision Française (ORTF) foi dividida em várias instituições nacionais, mas os três canais de TV já existentes e quatro estações de rádio nacionais permaneceram sob controle estatal. Foi apenas em 1981 que o governo permitiu a transmissão gratuita no território, acabando com o monopólio estatal no rádio.
Cinema.
A França tem ligações históricas e fortes com o cinema, sendo que foram dois franceses, Auguste e Louis Lumière (conhecidos como Irmãos Lumière) que criaram o cinema em 1895. Vários movimentos cinematográficos importantes, incluindo a "Nouvelle vague" dos anos 1950 e 1960, começaram no país. A França é conhecida por ter uma indústria cinematográfica forte, devido em parte às proteções oferecidas pelo governo francês. Em 2015, produziu mais filmes do que qualquer outro país europeu. A nação também acolhe o Festival de Cannes, um dos festivais de cinema mais importantes e famosos do mundo.
Embora o mercado cinematográfico francês seja dominado por Hollywood, a França é a única nação no mundo onde os filmes estadunidenses representam a menor parcela da receita total do filme, em 50%, contra 77% na Alemanha e 69% no Japão. Os filmes franceses representam 35% do total das receitas cinematográficas da França, que é a maior porcentagem de receitas cinematográficas nacionais no mundo desenvolvido fora dos Estados Unidos, contra 14% na Espanha e 8% no Reino Unido. Em 2013, o país era o segundo maior exportador de filmes no mundo, depois dos Estados Unidos.
Até recentemente, a França havia sido, durante séculos, o centro cultural do mundo, embora sua posição dominante tenha sido superada pelos Estados Unidos. Posteriormente, o país tomou medidas para proteger e promover a sua cultura, tornando-se um dos principais defensores da exceção cultural. A nação conseguiu convencer todos os membros da União Europeia a se recusarem a incluir a cultura e o audiovisual na lista de setores liberalizados da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1993. Além disso, esta decisão foi confirmada em uma votação na UNESCO em 2005 e o princípio da "exceção cultural" ganhou uma vitória irresistível: 198 países votaram a favor, apenas dois países, os Estados Unidos e Israel, votaram contra.
Culinária.
A culinária francesa é conhecida por ser uma das melhores do mundo. De acordo com as regiões, as receitas tradicionais são diferentes, o norte do país prefere usar manteiga como a gordura preferida para cozinhar, enquanto o azeite é mais usado no sul. Além disso, cada região da França tem especialidades tradicionais icônicas: cassoulet no sudoeste, choucroute na Alsácia, quiche na região de Lorena, bife borgonhesa na Borgonha, tapenade de Provença, etc. Os produtos mais renomados da França são vinhos, incluindo champagne, bordeaux, bourgogne e beaujolais, bem como uma grande variedade de queijos diferentes, como camembert, roquefort e brie. Existem mais de 400 variedades diferentes.
A culinária francesa também é considerada um elemento-chave da qualidade de vida e da atratividade da França. Uma publicação francesa, o guia Michelin, premia com "estrelas" alguns estabelecimentos selecionados pela excelência. A aquisição ou perda de uma estrela pode ter efeitos dramáticos no sucesso de um restaurante. Em 2006, o guia Michelin concedeu 620 estrelas aos restaurantes franceses, naquela época mais do que qualquer outro país, embora o guia também inspecione mais restaurantes na França do que em qualquer outro país (até 2010, o Japão recebeu várias estrelas Michelin como a França, apesar de ter metade do número de inspetores Michelin trabalhando lá).
Além da tradição do vinho, a França também é um importante produtor de cerveja e rum. As três principais regiões francesas de cerveja são a Alsácia (60% da produção nacional), Nord-Pas-de-Calais e Lorraine. Uma refeição geralmente consiste em três pratos: "hors d'oeuvre" ou "'entrée" (entrada, às vezes sopa), "plat principal" (prato principal) e "fromage" (queijo) ou "dessert" (sobremesa), às vezes com uma salada oferecida antes do queijo ou da sobremesa.
Esportes.
A França foi por duas vezes sede dos Jogos Olímpicos de Verão: a segunda edição, em 1900, e a oitava edição, em 1924. Também sediou os Jogos Olímpicos de Inverno três vezes: a primeira edição, em 1924; a décima edição, em 1968; e a décima-sexta edição, em 1992.
No futebol, a França sediou a Copa do Mundo FIFA por duas vezes, sendo a primeira delas em 1938, quando a Itália conquistou o título, e a segunda em 1998, quando a seleção nacional, após duas tentativas frustradas de chegar à fase final das Copas de 1958 e 1986, pôde finalmente chegar à final da competição. Durante o mundial, os jogos foram realizados nas cidades de Saint-Denis, Marselha, Paris, Lens, Lyon, Nantes, Toulouse, Saint-Étienne, Bordéus e Montpellier. O Mundial foi conquistado pela própria França, seleção anfitriã, sagrando-se pela primeira vez campeã na história, ao vencer o Brasil por 3 a 0 na final. Na edição de 2018, realizada na Rússia, a França sagrou-se bicampeã mundial, após derrotar a Croácia por 4 a 2.
Nos Jogos Olímpicos de Verão, a França já foi medalha de ouro na modalidade masculina, em 1984. No futebol feminino, a melhor posição da Seleção Francesa terminou no quarto lugar na Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2011 e nos Jogos Olímpicos de Verão de 2012. Em 2016 sediou a Eurocopa e chegou até a final, mas perdeu na prorrogação para Portugal.
A França também tem forte tradição no tênis. Sedia o Grand Slam de Roland Garros e já foi nove vezes campeã da Copa Davis. René Lacoste, no entanto, foi o único tenista francês a ser n.º 1 do mundo. Na atualidade o melhor tenista francês é Jo-Wilfried Tsonga, ex-n.º 5 do mundo. Um dos maiores esportistas da história da França foi Alain Prost, quatro vezes campeão do Mundial de Pilotos da Fórmula 1, considerado um dos mais bem sucedidos pilotos da categoria de todos os tempos.
A França vem tendo resultados expressivos na natação mundial com nomes como Alain Bernard, Frédérick Bousquet, Laure Manaudou e Camille Muffat (todos ex-recordistas mundiais e medalhistas olímpicos). O destaque histórico é Jean Boiteux, primeiro francês campeão olímpico na natação. No atletismo, a França tem como destaques históricos Alain Mimoun, Marie-José Perec e Renaud Lavillenie Outro destaque francês é o judoca Teddy Riner, tido como praticamente imbatível em sua categoria. Entre 2007 e 2012 ele foi pentacampeão mundial na categoria +100 kg e em 2012 se tornou campeão olímpico.
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828 | Ficção científica | Ficção científica
Ficção científica (normalmente abreviado para SF, FC, sci-fi ou scifi) é um gênero da ficção especulativa, que normalmente lida com conceitos ficcionais e imaginativos, relacionados ao futuro, ciência e tecnologia, e seus impactos e/ou consequências em uma determinada sociedade ou em seus indivíduos, desenvolvido no século XIX. Conhecida também como a "literatura das ideias", evita utilizar-se do sobrenatural, tema mais recorrente na Fantasia, baseando-se em fatos científicos e reais para compor enredos ficcionais.
A ação pode girar em torno de um grande leque de possibilidades como: viagem espacial, viagem no tempo, viagem mais rápida que a luz, universos paralelos, mudanças climáticas, totalitarismo e/ou vida extraterrestre.
Definição.
Devido aos seus vários sub-gêneros e temas tratados, ficção científica não é fácil de definir. Muitos autores, ao longo do tempo, tentaram definir de maneira sucinta o que a ficção científica é e faz. O escritor Mark C. Glassy definiu que ficção científica é como pornografia: não sabemos o que é com certeza, até que vemos uma.
Um dos primeiros a utilizar o termo "ficção científica", foi o criador da revista Amazing Stories, Hugo Gernsback:
Uma das definições mais completas foi feita por Rod Serling, criador da série Twilight Zone.
É consenso entre escritores e leitores, que a ficção científica deva conter uma extrapolação cuidadosa e bem informada de fatos, princípios ou tendências científicas, mesmo que a ciência apresentada nos enredos seja irreal, ainda não exista ou seja improvável. A ciência não precisa ser da área de Exatas ou Biológicas, podendo conter análises e estruturas antropológicas, sociológicas e filosóficas para se basear. A obra precursora do gênero, o romance de Mary Wollstonecraft Shelley, "Frankenstein ou o Prometeu Moderno" (1818), foi o primeiro a utilizar-se da separação entre ciência e misticismo para aplicar em um enredo. Outros como e O Último Homem (1826), ou a obra de Robert Louis Stevenson, "O Médico e o Monstro" (1886) são também considerados ficção científica. A ausência deste componente científico classificaria obras em Fantasia ou Horror, como enquanto "Drácula", de Bram Stoker (1897).
Há, evidentemente, muitos tipos de ficção científica. Os dois principais tipos são a ficção científica soft como por exemplo as séries televisivas "Star Trek" ("Jornada nas Estrelas"), "Battlestar Galactica" e Doctor Who, e também a ficção científica hard como por exemplo os filmes "", "Blade Runner" e "Solaris". Há também alguns filmes que se utilizam de temas recorrentes na ficção científica embora tenham mais características do gênero fantasia, como por exemplo a série de filmes "Star Wars", classificada como fantasia científica e space opera.
Características.
A ficção científica se baseia em grande parte em escrever sobre mundos, futuros e cenários alternativos possíveis e de maneira racional. Diferentemente da fantasia, no contexto narrativo da FC encontramos elementos imaginários, inspirados em fatos reais ou do passado, que estão cientificamente estabelecidos ou postulados por leis e princípios científicos, ainda que o enredo permaneça imaginativo.
Uma boa parte da ficção científica se baseia no conceito da suspensão de descrença, que possibilita ao leitor em acreditar nas explicações, soluções e postulados ficcionais baseados em ciência que estão em uma determinada obra.
Alguns elementos tratados com frequência na ficção científica são:
História.
Proto-ficção científica.
Os antecedentes da ficção científica podem ser traçados até um momento em que mitologia, religião, ou misticismo e história estavam intimamente entrelaçados e não havia ainda a ciência cartesiana tal como a conhecemos hoje e que foi e ainda é utilizado por autores de ficção científica ao compor seus enredos. "História verdadeira", de Luciano de Samósata, e considerada a obra mais antiga que pode ser chamada de "proto-ficção científica", sido escrita no século II d.C., que contém muitos temas que caracterizam a ficção científica moderna, como viagem a outros mundos, formas de vida extraterrestres, vida artificial e guerra interplanetárias. Apesar de ser considerada por alguns como o primeiro livro de ficção científica, ele foi escrito em um contexto onde a ciência moderna não existia, sendo assim realocado no grupo de obras precursoras. Algumas histórias como o "Conto do Cortador de Bambu", alguns contos de "As Mil e Uma Noites", do século X e o conto do "Teólogo Autodidata", de Ibn al-Nafis, do século XIII também são obras precursoras.
Era da Razão.
Com o início do desenvolvimento da ciência e a construção da chamada Era da Razão, obras foram desenvolvidas por Johannes Kepler, com seu livro "Somnium" (1620–1630), Francis Bacon' "The New Atlantis" (1627), Cyrano de Bergerac, com "Comical History of the States and Empires of the Moon" (1657) e "The States and Empires of the Sun" (1662), e Margaret Cavendish, Duquesa de Newcastle-upon-Tyne, com "The Blazing World" (1666).
Século XIX.
Com o desenvolvimento, ao longo do século XIX do romance como forma literária e com o surgimento de inovações tecnológicas como a eletricidade e o telégrafo e novas formas de transporte, e avanços nas áreas de biologia, física, química e astronomia, os livros de Mary Shelley "Frankenstein" (1818) e "The Last Man" (1826) estabeleceram as bases do que viriam a ser chamados os livros de ficção científica deste século em diante, como argumento Brian Aldiss. Outros autores, como H. G. Wells e Jules Verne criaram livros que também se tornaram extremamente populares em várias camadas da sociedade. Em "A Guerra dos Mundos" (1898), H. G. Wells descreve uma invasão marciana, no final da era vitoriana, na Inglaterra, onde os invasores usavam máquinas (tripods) e um avançado arsenal bélico. No final do século XIX, o termo "romance científico" foi usado na Inglaterra para designar a ficção científica e continuou em uso no começo do século XX por autores como Olaf Stapledon.
Destacam-se também os livros dos astrônomos Percival Lowell e Camille Flammarion, publicados entre o final do século XIX e início do século XX que conjecturavam a existência de dos canais de Marte e de vida extraterrestre, que inspiraram diversos autores.
Na América Latina, os primeiros exemplos são "Páginas da história do Brasil, escritas no ano 2000" de Joaquim Felício dos Santos, uma sátira política publicada entre 1868 a 1872 no jornal "O Jequitinhonha", em 1875, surgem três obras em países diferentes: "El maravilloso viaje del Señor Nic-Nac" de Eduardo Holmberg (Argentina), "O Doutor Benignus" de Augusto Emílio Zaluar (Brasil) e "Historia de un Muerto" de Francisco Calcagno (Cuba).
Século XX.
O que desenvolveu e impulsionou a ficção científica no século XX foram as revistas pulp, que ajudaram a criar alguns dos principais autores de ficção científica do século, influenciados pelo fundador da revista "Amazing Stories", Hugo Gernsback. Em 1905, Roquia Sakhawat Hussain publicou o conto "O Sonho da Sultana", na revista "The Indian Ladies Magazine", ficção científica feminista envolvendo uma utopia onde os papéis de gênero foram invertidos. Em 1912, Edgar Rice Burroughs publicou "Uma Princesa de Marte", a primeira de uma longa série livros Barsoom, situados em Marte e tendo John Carter como protagonista.
Em 1920, Karel Čapek escreveu R.U.R. ("Rossumovi Univerzální Roboti"), peça de teatro onde a palavra "robô" surge pela primeira vez. A palavra robô (derivada do tcheco "robota" = "trabalho forçado"), foi criada por Josef Čapek, irmão do autor ("ver: Irmãos Čapek"). Em 11 de fevereiro de 1938, uma adaptação de 35 minutos da peça R.U.R., transmitida pela BBC, foi a primeira obra de ficção científica a ser exibida na televisão.
Em 1928, Philip Francis Nowlan publicou seu aclamado "Armageddon 2419 A.D.", na "Amazing Stories", trazendo o personagem Buck Rogers, que gerou quadrinhos que rapidamente fizeram sucesso entre o público. Quando Hugo Gernsback publicou a primeira revista pulp de ficção científica, Amazing Stories, em 1926, permitiu que a seção de cartas divulgasse endereços de leitores, que passaram a trocar correspondências, os fãs passaram a criar suas próprias histórias publicando em revistas independentes, chamadas de fanzine, o primeiro fanzine reconhecido é "The Comet" do "Science Correspondence Club" de Chicago, A primeira versão do Superman (um vilão careca) apareceu em 1933 na terceira edição do fanzine "Science Fiction: The Advance Guard of Future Civilization", de Jerry Siegel e Joe Shuster, num conto ilustrado chamado The Reign of the Superman, tempo depois, foi reformulado como um super-herói de histórias em quadrinhos.
Em 30 de Outubro de 1938, Orson Welles narrou o rádio-teatro "A Guerra dos Mundos" dramatizando a invasão alienígena de Marte na Terra. A dramatização causou pânico em massa, já que muitos ouvintes do rádio acreditaram tratar-se de uma invasão real ("ver: Era do Rádio").
No final dos anos 1930, John W. Campbell tornou-se o editor da revista "Astounding Science Fiction", gerando uma grande massa de leitores e escritores, principalmente em Nova Iorque. O grupo dos chamados futuristas incluíam Isaac Asimov, Damon Knight, Donald A. Wollheim, Frederik Pohl, James Blish, Judith Merril e vários outros, como Robert A. Heinlein, Arthur C. Clarke, Olaf Stapledon, e A. E. van Vogt. Fora da influência editorial de Campbell, outros autores vinham se destacando, como Ray Bradbury, Stanisław Lem e Yevgeny Zamyatin. O trabalho de John Campbeel é considerado o começo da Era de Ouro da ficção científica, caracterizada principalmente por histórias de ficção científica que celebram o progresso e o avanço científico. Esta era durou até o pós-Segunda Guerra Mundial e seus avanços tecnológicos e científicos, com o surgimento de novas revistas, como a "Galaxy", editada por H. L. Gold, e com novos autores escrevendo enredos com ênfase nas ciências sociais ao invés das ciências exatas.
Anos 1950 em diante.
No início dos anos 1950, escritores como William S. Burroughs, inauguraram a chamada Geração beat, o embrião do movimento hippie. Durante as duas décadas seguintes, muitos escritores ousados exploraram novas fronteiras ou fronteiras pouco navegadas pelos escritores anteriores, como Ursula K. Le Guin, Samuel Delany, Octavia Butler, Frank Herbert, Harlan Ellison, Roger Zelazny, enquanto que na Inglaterra, muitos escritores ficaram conhecidos como a chamada New Wave, por seus graus de experimentação, em forma, contexto e sensibilidade artística. Em 1950, Isaac Asimov criou as "Três Leis da Robótica" com o propósito de normatizar o comportamento dos robôs dotados de inteligência artificial, impedindo-os da fazerem qualquer mal aos humanos ("ver: Rebelião das máquinas"). As Três Leis surgiram no livro "I, Robot", publicado naquele mesmo ano, enquanto o termo "inteligência artificial" foi criado pelo cientista da computação John McCarthy (1927-2011) em 1956.
Nos anos 1980, o cyberpunk quebrou a longa tradição otimista de grande parte da ficção científica, ao trazer um novo olhar sobre o gênero, sobre sociedade e sua interação com ciência e tecnologia, em especial através das obras de William Gibson. Visões distópicas do futuro passaram a se tornar bastante comuns, em especial com os trabalhos de Philip K. Dick, como "Do Androids Dream of Electric Sheep?" and "We Can Remember It for You Wholesale", que viriam a ser adaptadas para o cinema como "Blade Runner" e "Total Recall". A franquia "Star Wars" ajudou a expandir o interesse pela space opera e autoras como C. J. Cherryh escreveram obras com riqueza de detalhes sobre a vida alienígena, com desafios científicos que inspiraram uma geração inteira de autores.
O surgimento de uma maior preocupação com o meio ambiente e com o planeta, as implicações para a sociedade do desenvolvimento da internet e a expansão da tecnologia da informação, biotecnologia e nanotecnologia, bem como um interesse em sociedades pós-Guerra Fria a partir dos anos 1990, alimentou toda uma geração de autores, como Neal Stephenson, Lois McMaster Bujold e sua "Vorkosigan Saga". O retorno de "Star Trek" para a televisão, com "" em 1987, trouxe uma nova torrente de séries de ficção científica para a televisão, como , , and ) and "Babylon 5", grandes influenciadoras do gosto do público fã. Seguindo o sucesso de séries derivadas, a década de 1990 viu surgir "Stargate SG-1", em 1997, derivada do filme de 1994, que durou dez temporadas, com 214 episódios, uma das mais longas da televisão, superando "Arquivo X" como a mais longa do gênero, recorde quebrado em seguida por "Smallville". Temas como as rápidas mudanças propiciadas pela tecnologia se cristalizaram em torno do conceito da singularidade tecnológica, popularizada pelo livro "Marooned in Realtime", de Vernor Vinge, trabalhada por outros autores nos anos seguintes.
Uma das características únicas do gênero é a sua forte comunidade de fãs, da qual muitos autores também fazem parte. Existem grupos locais de fãs um pouco por todo o mundo que fala inglês, e também no Japão, Europa e em outros locais. É frequente que estes grupos publiquem os seus próprios trabalhos. Existem muitas revistas de fãs (e também algumas profissionais) que se dedicam apenas a informar o fã de ficção científica de todas as vertentes do género. Os principais prémios da ficção científica, os Prémios Hugo, são atribuídos pelos participantes da convenção anual Worldcon, que é organizada quase exclusivamente por fãs voluntários.
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830 | Falácia | Falácia
O termo falácia deriva do verbo latino "fallere", que significa "enganar". Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente incoerente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso.
Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar a argumentação alheia. As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por paralogismos e as que são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas.
É importante observar que o simples fato de alguém cometer uma falácia não invalida toda a sua argumentação. Ninguém pode dizer: "Li um livro de Rousseau, mas ele cometeu uma falácia, então todo o seu pensamento deve estar errado". A falácia invalida imediatamente o argumento no qual ela ocorre, o que significa que só esse argumento específico será descartado da argumentação, mas pode haver outros argumentos que tenham sucesso. Por exemplo, se alguém diz:
"O fogo é quente e sei disso por dois motivos:
Nesse exemplo, foi de fato comprovado que o fogo é quente por meio da premissa 2. A premissa 1 deve ser descartada como falaciosa, mas a argumentação não está de todo destruída. O básico de um argumento é que a conclusão deve decorrer das premissas. Se uma conclusão não é consequência das premissas, o argumento é inválido. Deve-se observar que um raciocínio pode incorrer em mais de um tipo de falácia, assim como que muitas delas são semelhantes.
Lista de falácias por categoria.
Estas são as falácias formais e informais mais comuns.
Falácias da ambiguidade.
Equívoco.
Usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao contexto.
Ex.: Os assassinos de crianças são desumanos. Portanto, os humanos não matam crianças.
Joga-se com os significados das palavras. A palavra "humanos" possui vários sentidos, pode ser um tipo de primata (sentido biológico) ou uma boa pessoa (sentido moral), mas a falácia usa a palavra sem considerar a diferença de sentido.
Anfibologia.
Ocorre quando as premissas usadas no argumento são ambíguas devido a sua má elaboração sintática.
Ex.:
1. Quem venceu? 2. No carro de quem?
Nesse caso, toda a frase possui sentidos diversos a depender do contexto.
Ênfase.
Enfatizar uma palavra para sugerir o contrário.
Ex.: Hoje o capitão estava sóbrio (sugerindo embriaguez).
Pronuncia-se a palavra "hoje" com muita força para sugerir que ele é um alcoólatra.
É uma ironia.
Apelo a motivos.
"Argumentum ad baculum" (apelo à força).
Utilização de algum tipo de privilégio, força, poder ou ameaça para impor a conclusão.
Ex.: Acredite no que eu digo, não se esqueça de quem é que paga o seu salário.
O oponente pode perder a coragem de enfrentar seu chefe porque pode perder o emprego.
"Argumentum ad consequentiam" (apelo à consequência).
Considerar uma premissa verdadeira ou falsa conforme sua consequência é desejada.
Ex.: "Papai Noel existe, porque eu ficaria muito triste se não existisse."
A premissa é tida como válida somente porque a conclusão é desejada.
"Argumentum ad metum (a"pelo ao medo")".
Apelar ao medo para validar o argumento. É uma variação do apelo à consequência.
Ex: Se você se converter à minha religião, irá para o céu; de contrário, irá para o inferno.
"Argumentum ad misericordiam" (apelo à misericórdia).
Também chamado "apelo à piedade". Consiste no recurso à piedade ou a sentimentos relacionados, tais como solidariedade e compaixão, para que a conclusão seja aceita, embora a piedade não esteja relacionada ao assunto ou à conclusão do argumento. Do argumento "ad misericordiam" deriva o "argumentum ad infantium" — "Faça isso pelas crianças" e também o argumento "ad sinistram" — "Faça isso pelo proletário". A emoção é usada para persuadir as pessoas a apoiar (ou intimidá-las a rejeitar) um argumento com base na emoção, mais do que em evidências ou razões.
Apelo à emoção.
Recorrer à emoção para validar o argumento.
Ex.: Apelo ao júri para que contemple a condição do réu, um homem sofrido, que agora passa pelo transtorno de ser julgado em um tribunal.
O advogado quer que o júri absolva o réu por compaixão. É semelhante ao apelo à misericórdia.
"Argumentum ad antiquitatem" (apelo à antiguidade).
Afirmar que algo é verdadeiro ou bom somente porque é antigo ou porque "sempre foi assim".
Ex.: Os homens da caverna já faziam assim, esta é a maneira correta de se fazer.
Ex. 2: Nossos avós educavam dessa maneira, assim é o jeito certo de educar.
"Argumentum ad novitatem" (apelo à novidade).
Argumentar que o novo é sempre melhor, sem uma justificativa.
Ex.: Na filosofia, Sócrates já está ultrapassado. É melhor Sartre, pois é mais recente.
"Argumentum ad ignorantiam" (apelo à ignorância).
Tentar provar algo a partir da ignorância quanto à sua validade. Só porque não se sabe se algo é verdadeiro, não quer dizer que seja falso, e vice-versa.
Ex.: Ninguém conseguiu provar que Deus existe, logo ele não existe.
Ou o contrário.
Ex.: Ninguém conseguiu provar que Deus não existe, logo ele existe.
Apelo ao preconceito.
Associar valores morais, políticos, sociais ou culturais a uma pessoa para convencer o adversário ou desmerecer suas opiniões.
Ex.: Uma pessoa religiosa como você não é capaz de argumentar racionalmente comigo.
A pessoa é estigmatizada por ser religiosa, considerada inferior ao oponente.
"Argumentum ad superbiam" (apelo à vaidade).
Provocar a vaidade do oponente para vencê-lo.
Ex.: Não acredito que uma pessoa culta como você acredita nessa teoria.
O oponente, por ser muito culto, pode se sentir envergonhado de defender essa teoria "absurda". É o contrário do apelo ao preconceito.
"Argumentum ad populum" (apelo à popularidade).
Também chamado "apelo ao povo". É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas. Por vezes é chamada de "apelo à emoção", pois os apelos emocionais tentam atingir toda a população.
Ex.: Inúmeras pessoas acreditam em Deus, portanto Deus existe.
"Argumentum ad ridiculum" (apelo ao ridículo).
Ridicularizar um argumento como forma de derrubá-lo.
Ex.: Se a teoria da evolução fosse verdadeira, significaria que o seu tataravô seria um gorila.
Espera-se que o oponente desista da sua convicção porque ela parece ridícula.
Erros categoriais e de regras gerais.
Composição.
É o fato de concluir que uma propriedade das partes deve ser aplicada ao todo.
Ex.: Todas as peças deste caminhão são leves; logo, o caminhão é leve.
Perceba que o termo "leve" aplicado ao exemplo tem sentido vago, diferentemente de na frase "todas as peças têm 1 kg; logo, o caminhão tem 1 kg", onde o valor sugerido é inequivocamente especificado, tornando óbvia a invalidade do argumento.
Divisão.
É o oposto da falácia de composição. Supõe que uma propriedade do todo é aplicada a cada parte.
Ex.: Você deve ser rico, pois estuda num colégio de ricos.
Acidente.
Trata-se de querer aplicar uma regra geral a todos os casos, ignorando as exceções.
Ex.: Devemos usar um protetor solar por causa da radiação UV, então devemos usá-lo hoje à noite, na praia.
Inversão do acidente.
Trata-se de querer usar uma exceção como se fosse uma regra geral.
Ex.: Se deixarmos os doentes terminais usarem maconha, deveremos deixar todas as pessoas a usarem.
É chamada de generalização precipitada e se assemelha à amostra limitada.
Falácias causais.
"Cum hoc ergo propter hoc" (com isso, logo, por causa disso).
Afirma que apenas porque dois eventos ocorreram juntos, eles estão relacionados.
Ex: Ao apontar para um gráfico complicado, Rogério mostra que as temperaturas vêm aumentando nos últimos séculos, enquanto o número de piratas vem diminuindo; logo, os piratas causam resfriamento global e, portanto, o aquecimento global é uma farsa.
"Post hoc ergo propter hoc" (depois disso, logo, por causa disso).
Consiste em dizer que, pelo simples fato de um evento ter ocorrido logo após o outro, eles têm uma relação de causa e efeito. Porém, correlação não implica causalidade.
Ex.: O Sol nasce porque o galo canta.
Inversão de causa e efeito.
Considerar um efeito como uma causa.
Ex.: O investimento na educação sexual causou a propagação da SIDA (AIDS).
Na verdade, foi exatamente o contrário. A epidemia de SIDA (AIDS) levou ao incremento da educação sexual como forma de prevenção.
Terceira causa.
Ignorar a existência de uma terceira causa, não levada em conta nas premissas.
Ex.: Estamos vivendo uma fase de elevado desemprego, que é provocado por um baixo consumo.
Há uma causa tanto para o desemprego como para o baixo consumo.
Ex.: A Alemanha está em crise, que é provocada pelos banqueiros judeus.
Existem outros motivos para a crise (ter perdido a Primeira Guerra pode ser uma terceira causa).
Causa diminuta.
Apontar uma causa pouco importante.
Ex.: Fumar causa a poluição do ar em Edmonton.
A causa maior é a poluição industrial e dos automóveis.
Causa complexa.
Supervalorizar uma causa quando há várias ou um sistema de causas.
Ex.: O menino não teria sido atingido pela bola se não houvesse acabado o recreio.
Mas também não teria sido atingido se o colega não tivesse chutado a bola para cima, quando o recreio acabou.
Houve muitas outras causas.
"Non-sequitur".
"Non sequitur" (não se segue que).
Tipo de falácia no qual a conclusão não se sustenta nas premissas. Há uma violação da coerência textual.
Ex.: Que nome complicado tem este futebolista! Deve jogar muita bola.
A conclusão de que ele joga muito bem nada tem a ver com a premissa de seu nome complicado.
É o modelo básico de uma falácia porque as premissas não levam à conclusão e podem até levar ao sentido contrário.
Afirmação do consequente.
Essa falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional da seguinte forma:
Se A, então B.
B
Então A.
Ex.: Se há carros, então há poluição. Há poluição. Logo, há carros.
Afirma-se o consequente e depois se afirma o antecedente da proposição condicional. O antecedente é o que vem depois de "se" (A) e o consequente é o que vem depois de "então" (B).
A poluição não é causada somente por carros.
Negação do antecedente.
Essa falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional da seguinte forma:
Se A, então B.
Não A
Então não B.
Ex.: Se há carros, então há poluição. Não há carros. Logo, não há poluição.
Nega-se o antecedente e depois se nega o consequente.
A falta de carros não acarreta necessariamente a falta de poluição.
OBS: Os modos certos de argumentar são os contrários, afirmar o antecedente e depois afirmar o consequente ou negar o consequente e depois negar o antecedente.
Inconsistência.
Construir um raciocínio com premissas contraditórias.
Ex.: João é maior do que José e José é maior do que Frederico, enquanto Frederico é maior do que João.
Esta frase não faz sentido lógico, pois se A > B e B > C, logo A > C.
Falácias da explicação.
Invenção de fatos.
Consiste em mentir, dar falsa resposta ou apresentar informações imprecisas.
Ex.: A causa da gripe é o consumo de arroz.
Distorção de fatos.
Também chamada de "omissão de dados". Mascarar os verdadeiros fatos.
Ex.: O segredo da minha força são os cabelos.
É omissão de informação.
Teoria irrefutável.
Informar um argumento com uma hipótese que não pode ser testada ou inferida logicamente. Em outros termos, afirmar algo que não pode ser provado, e nem refutado, como verdadeiro.
Ex.: Ganhei na loteria porque Deus quis assim.
Uma proposição que não pode ser testada e refutada não possui valor.
Deus das lacunas.
Responder a questões sem solução com explicações sobrenaturais e/ou que não podem ser comprovadas.
Ex.: Os passageiros do avião sobreviveram porque Deus interveio no acidente.
Deus supre a falta de explicações, as lacunas. É uma teoria irrefutável.
Explicação incompleta.
Ex.: As pessoas tornam-se esquizofrênicas porque as diferentes partes dos seus cérebros funcionam separadas.
O fato de partes diferentes do cérebro funcionarem separadamente é só um dos aspectos da esquizofrenia, mas que por si só não qualifica a doença.
Explicação superficial.
Usar classificações para tirar conclusões.
Ex.: A minha gata Elisa gosta de atum porque é uma gata.
O gato deve gostar de atum somente porque é um gato, é uma questão de categoria.
"Petitio principii" (petição de princípio).
Demonstrar uma tese partindo do princípio de que já é válida.
Ex.: É fato que a Bíblia é verdadeira, portanto todos devem buscar nela a verdade.
Trata-se de usar uma premissa que é igual à conclusão e forma com esta um raciocínio circular. A Bíblia é verdadeira porque contém a verdade e contém a verdade porque é verdadeira.
De fato, a informação de veracidade da Bíblia foi usada na premissa e na conclusão, não se usou uma premissa que levasse a uma conclusão de veracidade.
Conclusão irrelevante.
Obter uma conclusão que não decorre das premissas.
Ex.: A lei deve estipular um sistema de cotas nas eleições para que as mulheres possam ocupar mais cargos políticos. Os cargos são dominados por homens e não fazer algo para mudar essa situação é inaceitável. Necessitamos de uma sociedade mais igualitária.
As cotas não são a solução única e obrigatória do problema, o que se requer em um raciocínio dedutivo. A conclusão irrelevante ou sofismática é do tipo "non sequitur", as premissas não justificam a conclusão.
Erros de definição.
Definição muito ampla.
A definição muito ampla consiste em definir algo com características que não lhe são exclusivas.
Ex.: Uma maçã, que é uma fruta, é um objeto vermelho e redondo. O planeta Marte também é vermelho e redondo, logo, Marte é uma fruta.
Definição muito restrita.
A definição muito restrita consiste em definir uma coisa de modo muito restrito, deixando de lado características importantes.
Ex.: Uma maçã é um objeto vermelho e redondo. Há maçãs que não são vermelhas, portanto, elas não são maçãs.
Definição circular.
Definir um termo usando o próprio termo que está sendo definido.
Ex.: A Bíblia é a palavra de Deus porque foi inspirada por Deus.
A circularidade consiste em repetir a premissa na conclusão.
Definição contraditória.
Definir algo com termos que se contradizem.
Ex.: Para serem livres, submetam-se a mim.
Definição obscura.
Definir algo em termos imprecisos ou incompreensíveis.
Ex.: Vida é a borboleta sublime que bate suas asas dentro de nós.
Falácias da dispersão.
Falsa dicotomia.
Também conhecida como falácia do branco e preto ou do falso dilema. Ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas alternativas, quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.
Ex.: Se o sapato não é preto, ele é branco. O sapato não é preto. Logo, ele é branco.
É uma falacia pois sapatos podem ser de outras cores além de preto e branco, e não se segue logicamente que se ele não é uma especifica, logo seria outra especifica(se não-preto, branco; se não-branco, preto).
Porém, obviamente a falacia se aplica apenas a quanto a dicotomia é de fato falsa, o que dependo da afirmação. Levando em conta também as existências dos válidos e tradicionais Princípio da bivalência e Lei do terceiro excluído, dos quais são verdadeiros principalmente em casos de existência factual, pois não há um meio termo entre existência e inexistência.
"Reductio ad absurdum" (redução ao absurdo).
Consiste em averiguar uma hipótese, chegando a um resultado absurdo, para depois tentar invalidar essa hipótese.
Essa técnica é utilizada muitas vezes sem ter o caráter falacioso, inclusive para provar teorias. Por exemplo, matemáticos gregos da Antiguidade provaram que a raiz quadrada de 2 é um número irracional, demonstrando que a hipótese contrária (a de ser um número racional, na forma p/q onde p e q são inteiros) leva a um absurdo. Só é falaciosa quando o raciocínio desenvolvido pela pessoa utiliza falsas premissas.
Ex.:
Aparentemente B mostrou que a afirmação de A é contraditória, porém A possivelmente quis dizer apenas que todas as crenças são subjetivamente válidas, ou seja, B fez uso de uma premissa falsa, uma premissa que não foi lançada por A.
Bola de neve.
Também chamada de derrapagem, ou declive escorregadio. Elaborar uma sucessão de premissas e conclusões que conduzem ao absurdo.
Ex.: Se legalizarmos o aborto de bebês anencéfalos, logo iremos legalizar o aborto em bebês com síndrome de Down e, no final, começam a aumentar o número de aborto, e com o aumento de abortos deixa de existir crianças, deixando de existir crianças deixa de existir humanos, deixando de existir humanos deixa de existir vida na terra.
Pergunta complexa.
Insinuação por meio de pergunta.
Ex.: Por que você bate na sua esposa?
São duas peguntas numa só:
Insinua-se que o homem bate na sua esposa.
"Reductio ad Hitlerum" (redução ao hitlerismo).
Invalidar um argumento pela comparação com Hitler ou com o nazismo. Sua validade, porém, é questionada por alguns historiadores, pois a comparação com o nazismo é uma forma de entender as origens do holocausto e evitar novos casos de extremismo.
Ex.:
A: Você bebe água?
B: Sim.
A: Sabe quem também bebia água? Hitler! Ou seja, você é um nazista!
"Argumentum ad nauseam" (repetição nauseante).
É a aplicação da repetição constante e a crença incorreta de que, quanto mais se diz algo, mais correto isso está.
Ex.: Se Joãozinho diz tanto que sua ex-namorada é uma mentirosa, então ela é.
Espera-se convencer o oponente com a saturação da sua mente pelo argumento.
"Argumentum verbosium" (prova por verbosidade).
Tentativa de esmagar os envolvidos pelo discurso prolixo, apresentando um enorme volume de material. Superficialmente, o argumento parece plausível e bem pesquisado, mas é tão trabalhoso desembaraçar e verificar cada fato comprobatório que pode acabar por ser aceito sem ser contestado.
É mais uma tentativa de saturar a mente do oponente.
"Argumentum ad temperantiam" (meio-termo).
Recorrer ao meio-termo sem razão.
Ex.: Não temos relógio, mas alguns dizem que são dez horas e outros dizem que são seis horas, então é mais acertado supor que são oito horas.
O meio-termo pode ou não ser falacioso, depende do contexto. Além disso, a exclusão do meio-termo pode também ser uma falácia.
Inversão do ônus da prova.
O argumentador transfere ao seu opositor a responsabilidade de comprovar o argumento contrário, eximindo-se de provar a base do seu argumento original.
O ônus da prova inicial cabe sempre a quem faz a afirmação primária positiva.
Ex.: Dragões existem porque ninguém conseguiu provar que eles não existem.
No caso acima, o ônus da prova recairá sobre quem fez a afirmação de que dragões existem.
Ex.: Extraterrestres não existem porque ninguém conseguiu provar que eles existem.
Ausência de prova não significa prova de ausência, não sendo necessário que alguém prove a existência de algo para demonstrar a invalidade dos argumentos que defendem a inexistência.
Falácia genética.
Consiste em aprovar ou desaprovar algo baseando-se unicamente em sua origem.
Ex.: Você gosta de chocolate porque seu antepassado do século XVIII também gostava.
Aponta-se a causa remota como o fator de validade.
"Dicto Simpliciter" (generalização inadequada).
Ocorre quando o tamanho da amostra é pequeno demais para sustentar uma generalização. Também referido como compreensão errônea da natureza da estatística, ou estatística de números pequenos.
Ex.: Minha namorada me traiu. Logo, as mulheres tendem à traição.
"Argumentum ad Personam".
"Argumentum ad hominem" (ataque pessoal).
Em vez de o argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o enunciado, ou uma característica da mesma.
Ex.: Se foi um burguês quem disse isso, certamente é engodo.
O argumento acima está errado pois ele ser ou não burguês, não tira a plausibilidade do argumento. Não se critica o julgador, e sim o julgamento.
"Argumentum ad crumenam" (apelo ao rico")".
Essa falácia consiste em pregar que a riqueza ou o sucesso material torna as pessoas corretas.
Ex.: O barão é um homem bem-sucedido na vida. Se ele diz que isto é bom, há de ser.
"Argumentum ad pauper" (apelo ao pobre).
Oposto ao "ad crumenam". Essa é a falácia de assumir que, apenas porque alguém é mais pobre, então é mais virtuoso e verdadeiro.
Ex.: Joãozinho é pobre e deve ter sofrido muito na vida. Se ele diz que isso é uma cilada, eu acredito.
"Argumentum ad verecundiam" (apelo à autoridade).
Argumentação baseada no apelo a alguma autoridade reconhecida para comprovar a premissa.
Ex.: Se Aristóteles disse que o Sol gira ao redor da Terra em uma das esferas celestes, então é certamente verdade.
É como se um especialista pudesse acertar em tudo o que diz, mesmo sendo algo fora da sua área de especialidade. Essa falácia consiste em usar as opiniões de especialistas em áreas nas quais eles são leigos, como um físico se pronunciando sobre antropologia. A opinião dele só vale dentro da física. No caso acima, Aristóteles não tinha meios de testar essa teoria astronômica, no tempo dele não havia recursos para isso. Entretanto, as teses dele em metafísica certamente podem ser consideradas porque não dependem de instrumentos e experimentação, somente do raciocínio típico de um filósofo. Ademais, quaisquer formas de tentar se provar uma argumentação, usando-se como único e exclusivo pilar de fundamento, a autoridade do autor, por si só já é incorreto, visto que por maior que seja o grau de autoridade, todos estão sujeitos à erros, logo sempre deve-se acompanhar de uma argumentação, seja do autor, ou própria. Também é incorreto negar qualquer argumentação, usando meramente o fato de um especialista (seja lá em qual área) discordar, sem refutar a argumentação em si. A autoridade de uma entidade em certa área, realmente pode dar credibilidade a algum argumento, apenas se houver uma apropriada razão para isso, como ele mesmo ter argumentado sobre isto.
Apelo à autoridade anônima.
Trata-se de fazer afirmações recorrendo a supostas autoridades, mas sem citar as fontes.
Ex.: Os peritos dizem que a melhor maneira de prevenir uma guerra nuclear é estar preparado para ela.
Que peritos?
"Argumentum ad lapidem (a"rgumento da Pedra")".
Caracterizar uma afirmação como absurda, mas sem provas.
Ex.: João, ministro da educação, é acusado de corrupção e defende-se dizendo: "Esta acusação é um disparate".
Baseado em quê? Onde estão as evidências em contrário?
Estilo sem substância.
Validar um argumento por sua beleza estética ou pela elegância do argumentador.
Ex.: Trudeau sabe dirigir as massas com muita habilidade. Ele deve ter razão.
Expulsão do grupo (falácia do escocês).
Fazer uma afirmação sobre uma característica de um grupo e, quando confrontado com um exemplo contrário, afirmar que esse exemplo não pertence realmente ao grupo.
Ex.:
A falácia não ocorre se há uma justificativa para o argumento.
Espantalho.
Consiste em criar ideias reprováveis ou fracas, atribuindo-as à posição oposta.
Ex.:
O outro é convertido num monstro, num espantalho, uma figura fácil de odiar e na qual todos querem bater visto que sua maldade foi "comprovada". É dessa forma que se faz uma pessoa odiar alguém ou alguma coisa, basta associá-los a outra pessoa ou coisa que todos odeiam. Leva-se a pessoa a odiar o outro por associação.
É uma demonização do oponente.
Inversão dos fatos.
O argumentador rebate o ataque de seu adversário usando o mesmo argumento.
Ex.:
Egocentrismo ideológico.
Realizar um argumento de forma parcial e tendenciosa.
Ex.:
A pessoa só consegue pensar de seu ponto de vista.
Bulverismo.
Argumentar partindo do pressuposto de que o oponente já está comprovadamente errado.
Ex.:
É um egocentrismo ideológico, não se consegue considerar os pontos de vista do outro.
Falácia da falsa proclamação de vitória.
Proclamar vitória, dando a entender que venceu a discussão, sem ter conseguido realmente apresentar bons argumentos.
É uma bravata contra o oponente para intimidá-lo.
Falácia do Hater ou da inveja
Consiste em alegar que o interlocutor é um hater e desse modo busca-se invalidar seus argumentos ou lhes infligir uma conotação negativa, mesmo que tais argumentos estejam perfeitamente em ordem e devidamente evidenciados. O mesmo ocorre quando para invalidar um argumento adversário, ataca-lhe diretamente o seu interlocutor inferindo que este sofre de "inveja" e sendo assim, os argumentos deste devam ser considerados inconsistentes.
Argumentum ad contradictorium (Argumento do Contraditório).
Você sugere ao seu oponente a beber de outras fontes mas não diz que fontes são essas
Ex.:
Falácias indutivas.
Comete-se quando não se respeitam um dos seguintes critérios dos argumentos indutivos.
Generalização precipitada.
Uma pequena amostra, enumeração insuficiente ou imperfeita, conduzem a uma conclusão tendenciosa.
1.° Critério violado.
Ex:
(1) O LeBron James é negro e é bom jogador de basquetebol.
(2) O Kevin Durant é negro e é bom jogador de basquetebol.
(3) O James Harden é negro e é bom jogador de basquetebol.
(4) Logo, todos os negros são bons jogadores de basquetebol.
Refutação: Mostrar que o número de casos em que o argumento se baseia não é significativo ou mostrar que existem contraexemplos.
Amostra limitada/não-representativa.
A amostra não representa toda a população, a parte é tomada como sendo o todo. É uma generalização precipitada.
2.° Critério violado.
Ex:
(1) Na região Sul do Brasil, faz muito frio.
(2) Logo, em todo o Brasil faz frio.
Ou
(1) Num estudo realizado à saída da missa, em várias capitais de distrito portuguesas, todos os inquiridos afirmaram que o aborto é inaceitável.
(2) Logo, todos os portugueses acham que o aborto é inaceitável.
Omissão de dados
Quando se omitem dados significativos.
3.° Critério violado.
Ex:
(1) Até aos oito anos de idade, o Simão teve sempre uma voz aguda.
(2) Logo, o Simão nunca terá uma voz grave.
Refutação: Apresentar os dados em falta e mostrar de que forma eles afetam a conclusão.
Outros casos:
Franco-atirador texano.
A hipótese é confirmada somente pelos argumentos do interlocutor que se mostraram corretos, sendo os outros descartados pelo próprio.
Falácias por analogia.
Falsa Analogia.
De uma semelhança parcial conclui-se uma semelhança total; em outras situações, duas coisas dissimiles ou sem relação são comparadas.
Exs.: Marte, tal como a Terra, é um planeta; ora, esta é habitada; portanto Marte também o é. Os empregados são como pregos: temos que martelar a cabeça para que cumpram suas funções.
Comete-se a falsa analogia quando se violam um dos seguintes critérios dos argumentos por analogia.
Falsa analogia (1.° Critério violado)
Ex:
(1) A Beatriz gosta de discutir e gosta da disciplina de Filosofia.
(2) Tal como a Beatriz, também o João gosta de discutir.
(3) Logo, tal como a Beatriz, também o Joâo irá gostar da disciplina de Filosofia.
Refutação: Mostrar que o número de semelhanças nâo é suficiente para a conclusão que se quer retirar.
Falsa analogia (2.° Critério violado)
Ex:
(1) A Beatriz tem uma camisola vermelha e uma caneta azul, usa óculos e gosta da disciplina de Filosofia.
(2) Tal como a Beatriz, também o João tem uma camisola vermelha e uma caneta azul e usa óculos.
(3) Logo, tal como a Beatriz, também o João irá gostar da disciplina de Filosofia.
Refutação: Mostrar que as semelhanças consideradas não são relevantes para a conclusão que se quer retirar.
Falsa analogia (3.° Critério violado)
Ex:
(1) A Beatriz gosta de lógica, gosta de discutir, gosta de argumentar corretamente e gosta da disciplina de Filosofia (além disso, adora a escola).
(2) Tal como a Beatriz, também o João gosta de lógica, gosta de discutir e gosta de argumentar corretamente (além disso, deteta a escola).
(3) Logo, tal como a Beatriz, também o João irá gostar da disciplina de Filosofia (que é uma disciplina escolar).
Refutação: Mostrar que existem diferenças relevantes entre os dois elementos da comparação e mostrar de que forma essas diferenças afetam a conclusão.
Outras falácias.
Círculo vicioso.
É a tentativa de provar uma conclusão com base em uma retroalimentação, o efeito reforçando a causa. Em outros termos, é uma dupla petição de princípio, que consiste em demonstrar, uma por outra, duas proposições que carecem igualmente de prova.
Ex.:
Uma coisa leva à outra.
Complexo do pombo enxadrista.
Proclamar vitória, dando a entender que venceu a discussão, sem ter conseguido realmente apresentar bons argumentos.
É uma bravata contra o oponente para intimidá-lo. É parecida com a falsa proclamação de vitória.
Esnobismo cronológico.
Ocorre quando o pensamento, a arte ou a ciência de um período histórico anterior é tido como inevitavelmente inferior ou superior, quando comparado com os equivalentes do tempo presente.
Ex.: A é um argumento antigo, da época em que as pessoas também acreditavam em B. Se B é claramente falso, A também é falso.
É um apelo à tradição ou à antiguidade.
Evidência anedótica.
Refere-se a uma evidência informal na forma de anedota (não no sentido de chiste) ou episódio (conto, narrativa curta, episódio, derivado do grego "anékdota", significando "coisas não publicadas") ou de "ouvir falar". A evidência anedótica é chamada de testemunho.
Ex.: Há provas abundantes de que Deus existe e de que continua produzindo milagres hoje. Na semana passada, li sobre uma menina que estava morrendo de câncer. Sua família inteira foi à igreja e rezou e ela se curou.
É um mero boato.
Falácia da pressuposição.
Consiste na inclusão de uma pressuposição que não foi previamente esclarecida como verdadeira, ou seja, na falta de uma premissa.
Ex.: Você já parou de bater na sua esposa?
É uma pergunta maliciosa porque se divide em duas. A primeira seria "Você bate na sua esposa?", é isso o que se pretende dizer aos ouvintes.
É semelhante à pergunta complexa.
Falácia da probabilidade condicionada.
Ocorre quando se expõem estatísticas e probabilidades sem oferecer o contexto necessário para sua interpretação, confundem-se probabilidades condicionais, invertendo-as ou tratando-as como se fossem incondicionais.
Ex.: Os jurados foram expostos à chance de o marido vir a matar a mulher porque ele a espancava, quando o dado relevante, diante do fato consumado (a esposa já tinha sido assassinada), era "Qual a chance de a mulher ter sido morta pelo marido, dado que ele a espancava?". A chance de ser morta por um marido espancador é de 1 em 1 000, de qualquer forma é muito mais alta que o risco de uma mulher ser morta por um marido que não a espanca ou por um estranho qualquer na rua, mas era a pergunta errada.
Falácia de validação pessoal (efeito Forer).
Avaliar algo ou alguém com critérios genéricos, dando a entender que essa avaliação é individual.
É como reduzir alguém, simplesmente pelo fato de que o mesmo anda com pessoas de caráter duvidoso.
Falácia nomotética.
Consiste na crença de que uma questão pode ser resolvida simplesmente dando-lhe um novo nome, quando, na realidade, a questão permanece sem solução.
Falácias tipo "A" baseado em "B" (conclusão sofismática).
Ocorrem dois fatos. São colocados como similares por serem derivados ou similares a um terceiro fato.
Ex.:
É uma falsa aplicação do princípio do silogismo. Pode-se visualizar como três conjuntos, o cristianismo e o islamismo são dois conjuntos dentro do conjunto fé, mas isso não significa que aqueles dois conjuntos são iguais, eles apenas compartilham o elemento fé.
"Ignoratio elenchi" (ignorância da questão, conclusão sofismática).
Consiste em utilizar argumentos que podem ser válidos para chegar a uma conclusão que não tem relação alguma com os argumentos utilizados. Tenta-se provar uma coisa diferente daquela de que se trata.
Ex.: Os astronautas do Projeto Apollo eram bem preparados, todos eram excelentes aviadores e tinham boa formação acadêmica e intelectual, além de apresentarem boas condições físicas. Logo, foi um processo natural os Estados Unidos ganharem a corrida espacial contra a União Soviética, pois o povo americano é superior ao povo russo.
O advogado tenta provar a inocência do cliente, afirmando que ele é um bom pai, um bom filho, etc..
Só a conclusão é discutível, as premissas são verdadeiras.
É uma falácia de conclusão irrelevante. Esse é o modelo de falácia porque as premissas não levam à conclusão exposta.
"Plurium interrogationum".
Ocorre quando se exige uma resposta simples a uma questão complexa, isto é, uma questão que contém a resposta a uma pergunta anterior, não formulada, e cuja resposta é assumida como pressuposto. Exemplo:
"Red herring" (arenque vermelho).
Falácia cometida quando material irrelevante é introduzido no assunto discutido, para desviar a atenção e chegar a uma conclusão diferente.
Ex.: Será que o palhaço é o assassino? No ano passado, um palhaço matou uma criança.
O fato de um palhaço ter matado uma criança não significa nada, não interfere no caso em questão.
As premissas usadas devem ser relevantes para a conclusão.
"Argumentum ad lucrum" (Apelo ao lucro).
Considerar uma conclusão verdadeira ou falsa conforme suas premissas financeiras.
Ex.:
A conclusão é válida ou inválida porque querem que haja lucro ou prejuízo financeiro. É uma insinuação maliciosa de que as teorias são feitas para causar lucros ou prejuízos às pessoas.
É uma forma de ataque pessoal porque insinua que o oponente busca ganhar algo pessoal com seu argumento. Esse ganho pessoal pode não ser financeiro, é comum insinuar que o oponente tem motivos pessoais para defender um argumento, mas todo argumento deve ser analisado conforme a adequação da conclusão às premissas.
Falso axioma.
Consiste em fazer uma afirmação duvidosa parecer uma verdade incontestável.
Ex.: Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.
Exigência de perfeição.
Pede-se mais do que o necessário para resolver um problema.
Ex.: A egiptóloga Fulana de Tal é uma principiante, obteve o doutorado há pouco tempo, tem limitada experiência: não pode julgar um descobrimento tão importante.
É um ataque pessoal.
"Tu quoque" (tu também).
Consiste em desacreditar a fala por um comportamento anterior ao invés do argumento em si.
Ex.: Pessoa A afirma: "Não acredito que você está comendo doces… Doces provocam cáries!"
Pessoa B responde: "Você sempre comeu doces."
Ex2.: Pessoa A: O seu candidato X está sendo acusado de corrupção!
Pessoa B: Mas o seu candidato Y também foi acusado no passado. E ele ainda roubou muito mais!
A pessoa B foge da questão, tentando diminuir o ocorrido ao evocar uma situação semelhante que supostamente é/foi mais forte/grave. Um erro maior não serve como justificativa para um erro menor, o ideal seria que nenhum dos erros acontecesse em primeiro lugar.
Falácia da conversão.
Ex.:
Não respeita as leis da oposição. Pode-se imaginar o conjunto mendigos dentro do conjunto pedintes, mas pode haver pessoas dentro do conjunto pedintes que não fazem parte do conjunto mendigos. Além disso, a negação de que todo mendigo pede é que algum mendigo não pede.
Falácia da oposição.
Ex.:
Não respeita as leis da oposição. A conclusão pretende ser a negação da premissa, portanto a sentença certa é "Algum homem não é sábio".
OBS: Algum é a negação (oposição, contrário) tanto de todo como de nenhum.
Teoria da Conspiração.
Ex.:
Consiste em atribuir verdade aos fatos, exclusiva ou principalmente por conta de seu caráter supostamente secreto ou sigiloso. A impossibilidade de verificar os fatos torna a falácia mais persuasiva, convencendo o interlocutor da capacidade dos conspiradores de esconder a própria existência.
Falácia do holofote.
Presume que o aumento da atenção da mídia ou da imprensa sobre determinado assunto signifique um aumento da ocorrência ou frequência de ocorrência do evento tratado. O raciocínio é falho, pois a atenção da mídia pode ser direcionada por diversos outros motivos, além da frequência de ocorrências do evento tratado.
Ex.:
Falácia do apostador.
Consiste em acreditar que se, durante um sorteio aleatório, um resultado pouco provável é obtido muitas vezes, os sorteios seguintes irão talvez compensar este desvio e dar várias vezes o resultado oposto. Por exemplo, se ao fazer "cara ou coroa" um jogador obtiver um grande número de "caras", acreditará ter mais probabilidades de obter "coroas" nos sorteios seguintes.
Falácia da falácia.
Consiste em supor que uma afirmação está errada só porque ela foi construída de uma forma ruim, ou uma falácia cometida no meio do raciocínio, não alterando na inferência principal.
Relacionados.
Navalhas (filosóficas).
Navalhas filosóficas são axiomas amplamente utilizados na Lógica e Epistemologia que permitem eliminar explicações improváveis e/ou impossíveis. Não são falácias, embora não possam ser provados facilmente (por isso são axiomas).
São elas:
- Navalha de Occam: "Ao confrontar diferentes hipóteses para explicar um mesmo fenómeno, há de se selecionar as que envolvem menos ações e entidades."
- Navalha de Grice: Princípio da parcimônia. "Implicações práticas devem ser preferidas frente a contextos semânticos abstratos pra explicações linguísticas."
- Navalha de Hanlon: "Nunca atribua à malícia o que pode ser adequadamente explicado pela estupidez."
- Navalha de Hume (ou Lei de Hume): "Se a causa atribuída a qualquer efeito não for suficiente para explicá-lo completamente, devemos rejeitar a causa ou adicionar a ela qualidades que deem uma justa proporção ao efeito."
- Navalha de Hitchens: "O que pode ser afirmado sem provas pode ser rejeitado sem provas."
- Navalha de Alter (ou Navalha de Newton): "Se algo não pode ser testado ou observado, não é digno de debate."
- Navalha de Popper (ou Princípio da Falseabilidade de Popper): "Para uma teoria ser considerada científica, ela deve ser falseável."
- Navalha de Rand: "Conceitos não devem ser multiplicados além da necessidade."
Quando mal empregadas, podem estar associadas à Falácia do Falso Axioma.
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832 | Conteúdo livre | Conteúdo livre
Conteúdo livre ou informação livre é qualquer tipo de trabalho funcional, obras de arte, ou outro conteúdo criativo que satisfaça a definição de um trabalho cultural livre. A obra cultural livre é aquele que não tem significativa restrição legal sobre a liberdade do povo:
Embora haja um grande número de definições diferentes de uso diário regular, conteúdo livre é juridicamente muito semelhantes, se não gosta de um gêmeo idêntico para conteúdo aberto. Uma analogia é o uso dos termos rivais de software livre e de código aberto, que descrevem as diferenças ideológicas, em vez das legais.
Conteúdo livre engloba todas as obras no domínio público e também os direitos de autor de obras cujas licenças honram e defendem as liberdades mencionados acima. Como a lei de direitos autorais na maioria dos países por padrão concedem aos detentores dos direitos autorais; controle monopolista sobre suas criações, o conteúdo de direitos autorais deve ser explicitamente declarados livres, geralmente pela referência ou inclusão de declarações de licenciamento dentro do trabalho.
Apesar de ser um trabalho que está em domínio público porque os respectivos direitos de autor expiraram é considerada livre, ele pode tornar-se não livre, novamente, caso ocorra mudanças na lei de direitos autorais.
Questões jurídicas.
Copyright tradicional.
O direito autoral é um conceito jurídico, o que dá ao autor ou criador de um controle legal de trabalho sobre a duplicação e execução pública de seu trabalho. Em muitas jurisdições, esta é limitada por um período de tempo após o qual as obras, em seguida, entram em domínio público. Durante o período de tempo de copyright da obra do autor só podem ser copiados, modificados ou executada publicamente com o consentimento do autor, a menos que o uso é um uso justo. Controle tradicional copyright limita o uso da obra do autor para quem quer pagar royalties ao autor para utilização do conteúdo autores, ou limitar a sua utilização para uso justo. Em segundo lugar, limita a utilização de conteúdos cujo autor não pode ser encontrado. Por fim, cria uma barreira percebida entre autores, limitando obras derivadas, tais como mashups e conteúdo colaborativo.
Domínio público.
O domínio público é uma gama de trabalhos criativos cujos direitos autorais expiraram, ou nunca foi estabelecido; bem como ideias e fatos que são inelegível de direito autoral. A obra de domínio público é uma obra cujo autor tem ou renunciou ao público, ou já não pode reivindicar o controle sobre a distribuição e uso do trabalho. Como tal, qualquer pessoa pode manipular, distribuir ou utilizar de outra forma do trabalho, sem ramificações legais. Uma obra em domínio público ou liberado sob uma licença permissiva pode ser referido como "copycenter".
Copyleft.
Copyleft é uma brincadeira com a palavra copyright e descreve a prática de usar leis de direitos autorais para remover restrições à distribuição de cópias e versões modificadas de uma obra. O objetivo do copyleft é usar a estrutura legal dos direitos de autor para permitir que as partes não autoras sejam capaz de reutilizar em muitos regimes de licenciamento, modificar o conteúdo que é criado por um autor. Ao contrário de obras em domínio público, o autor ainda mantém direitos autorais sobre o material, no entanto, o autor concedeu uma licença não-exclusiva para qualquer pessoa distribuir, modificar e muitas vezes o trabalho. Licenças copyleft exigem que quaisquer obras derivadas seja distribuída sob os mesmos termos, e que os avisos de direitos autorais originais ser mantido. Um símbolo comumente associado com copyleft é uma inversão do símbolo de copyright, de frente para o outro lado; a abertura dos pontos C a esquerda em vez da direita. Ao contrário do símbolo de copyright, o símbolo copyleft não tem um significado codificado.
Copyfree.
Copyfree é um tipo de licença permissiva. O termo é uma brincadeira com a palavra copyleft, bem como a palavra de direitos de autor, descrevendo uma prática que contrasta ambos do uso da lei de copyright para remover restrições a cópias distribuídas e versões modificadas de um trabalho imposta por ambos licenciamentos de copyleft e do próprio autor. Onde licenciamento copyleft geralmente requer que todas as obras derivadas ser distribuído nos termos da mesma licença, licenciar copyfree geralmente requer apenas que o trabalho original e modificações diretas dele continuar a ser distribuído nos termos da mesma licença. O Copyfree Initiative mantém a Definição Copyfree Padrão, que estabelece uma especificação para qualificar uma licença para a certificação Copyfree Initiative de uma licença copyfree.
Um símbolo geralmente associado com a política copyfree é uma modificação do símbolo de copyright, substituindo o C com um F capital para produzir o logotipo copyfree.
Uso.
Projetos que oferecem conteúdo livre existem em várias áreas de interesse, tais como software, literatura acadêmica, literatura em geral, música, imagens, vídeo e engenharia.
A tecnologia tem reduzido o custo de publicação e reduziu a barreira de entrada forma suficiente para permitir a produção de materiais amplamente divulgados por indivíduos ou pequenos grupos. Projetos para fornecer literatura livre e conteúdos multimédia tornaram-se cada vez mais importantes devido à facilidade de disseminação de materiais que está associado com o desenvolvimento da tecnologia informática. Essa divulgação pode ter sido muito cara antes destes desenvolvimentos tecnológicos.
Mídia.
Nos meios de comunicação, que inclui textual, áudio e conteúdo visual, sistemas livres de licenciamento, como algumas das licenças feitas pela Creative Commons, têm permitido a divulgação de obras no âmbito de um conjunto claro de permissões legais. Nem todas as licenças Creative Commons são totalmente livres: suas permissões podem variar de muito liberal na redistribuição geral e modificar o trabalho a um licenciamento somente na redistribuição mais restritiva. Desde fevereiro de 2008, as licenças Creative Commons, que são inteiramente livres levam um crachá indicando que estão "aprovado para trabalhos culturais livres". Repositórios existem que exclusivamente apresentam material livre de fornecer conteúdo, tais como fotografias, clipart, música, e literatura.
Enquanto grande reutilização de conteúdo livre de um site em outro site é legal, não é geralmente sensível por causa do problema de conteúdo duplicado.
Software.
O software livre, que é muitas vezes também software de código aberto, é um amadurecimento tecnológico com grandes empresas que utilizam software livre para prestar serviços e tecnologia para usuários finais e consumidores técnicos. A facilidade de difusão permitiu uma maior modularidade, o que permite pequenos grupos possam contribuir com projetos, bem como simplificando a colaboração.
Modelos de desenvolvimento de código aberto foram classificados como tendo um incentivo de pares de reconhecimento e de prestações colaborativas similares que são tipificados por mais campos clássicos, como a investigação científica, com as estruturas sociais que resultam desse modelo de incentivo a diminuir o custo de produção.
Dado o interesse suficiente em um componente de software, usando métodos de distribuição peer-to-peer, os custos de distribuição de software pode ser reduzido, retirando o peso da manutenção da infra-estrutura dos desenvolvedores. Como os recursos de distribuição são simultaneamente fornecida pelos consumidores, estes modelos de distribuição de software podem se adaptar, isto é, o método é viável, independentemente do número de consumidores. Em alguns casos, os fornecedores de software livres podem usar a tecnologia peer-to-peer como um método de difusão.
Em geral, hospedagem projeto e distribuição de código não é um problema para a maioria dos projetos livres como um número de prestadores oferecer-lhes esses serviços gratuitamente.
Engenharia e Tecnologia.
Princípios de conteúdo livre foram traduzidos em campos como engenharia, onde os projetos e conhecimentos de engenharia pode ser facilmente compartilhado e duplicado, a fim de reduzir as despesas gerais associadas com o desenvolvimento do projeto. Princípios de design aberto podem ser aplicados em aplicações de engenharia e tecnológicas, com projetos em telefonia móvel, produção em pequena escala, a indústria automotiva, e até áreas agrícolas.
Tecnologias como a manufatura distribuída pode permitir manufatura auxiliada por computador e técnicas desenho assistido por computador para ser capaz de desenvolver a produção em pequena escala de componentes para o desenvolvimento de novos, ou reparação de dispositivos existentes. Tecnologias de fabricação rápidas apoiam estes desenvolvimentos, que permitem que os usuários finais de tecnologia possam ser capazes de construir dispositivos a partir de esquemas pré-existentes, utilizando hardware manufaturado e software para converter as informações em objetos físicos.
Academia.
Em um trabalho acadêmico, a maioria dos trabalhos não são livres, embora o percentual de obras que estão sobre acesso aberto está crescendo rapidamente. Os autores podem ver a publicação de acesso aberto como forma de ampliar o público que é capaz de acessar o seu trabalho para permitir maior impacto da publicação, ou podem apoiá-lo por razões ideológicas. editores de acesso aberto, tais como o Public Library of Science e Biomed Central fornecem capacidade para avaliação e publicação de obras livres; embora tais publicações são atualmente mais comum em ciência do que humanas. Algumas universidades, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), aprovaram a publicação de acesso aberto por padrão através da introdução de mandatos. Em revistas tradicionais, alternativas, tais como publicações gratuitas atrasadas ou carregamento de pesquisas para a publicação de acesso aberto são usadas ocasionalmente.. Algumas agências de financiamento, como Institutos Nacionais da Saúde, exigem trabalho acadêmico a ser publicado no domínio público como requisito de subvenção. O conteúdo aberto publicado tem sido visto como um método de redução de custos associado com a recuperação de informação em pesquisa, como universidades normalmente pagam para se inscrever para o acesso ao conteúdo que é publicado pelos meios tradicionais melhorando simultaneamente a qualidade revista, desencorajando a submissão de artigos de qualidade reduzida de pesquisa.
As subscrições de revistas de conteúdo não livres podem ser caras para as universidades para comprarem, embora os artigos são escritos e revisada por pares por acadêmicos, sem nenhum custo para a editora. Isto levou a disputas entre editores e algumas universidades mais custos de subscrição, como ocorreu entre a Universidade da Califórnia e da Nature Publishing Group.
Para fins de ensino, algumas universidades, incluindo MIT, fornecer conteúdo do curso livremente disponíveis, tais como notas de aula, recursos de vídeo e tutoriais. Este conteúdo é distribuído através de recursos da internet para o público em geral. Publicação de tais recursos podem ser tanto por um programa formal de toda a instituição, ou alternativamente via conteúdo informal fornecida por acadêmicos individuais ou departamentos.
Governança.
Obras do governo dos Estados Unidos não são elegíveis para direitos de autor. Isso permitiu que a sua utilização do domínio público, e levou a lucrar no setor privado, por exemplo, Garmin que é baseado no GPS gratuito da Nasa (existem outros, mas só recentemente, como o russo totalmente funcional GLONASS), e dados do mapa USGS.
A ascensão ao longo da última década do internet tornou mais viável para distribuir documentação inacessíveis de governos diretamente aos cidadãos de qualquer lugar a um custo mínimo. Isso permite que informações sobre legislação, local e governo do estado possam ser analisados pelos constituintes de um governo. Embora anteriormente informação tem sido na forma de comunicados de imprensa para relações públicas afins, documentação que possa ser de utilidade para os cidadãos e as empresas, em algumas jurisdições, foram mandatados para ser lançado por padrão. Isto está em contraste com as leis tais como a legislação sobre liberdade de informação, ou seu equivalente local, o que pode tornar a documentação disponível apenas mediante pedido, ao invés de mandato de publicação explícito. De acordo com o Jornal da Administração Pública, tal postura tem sido citado como uma ajuda para a redução da complexidade associada com os processos de governo, bem como auxiliando a redução da corrupção.
Wikipédia e conteúdo livre.
A Wikipédia está entre as bases de dados mais conhecidas de usuários que enviam conteúdo livre na web.
Embora a definição estrita requer conteúdo livre para ter qualquer restrição de direitos autorais em qualquer lugar, as políticas de conteúdo da Wikipédia, necessariamente, tem uma abordagem de senso comum para evitar o ônus de considerar a situação dos direitos autorais de um item em todos os mais 190 estados no planeta.
Enquanto a grande maioria dos conteúdos na Wikipédia é de conteúdo livre, algum material de copyright está hospedado sob critérios justos de uso e em poucos casos o conteúdo é permitido que as leis de direitos autorais do país de origem são fora de sintonia com a maioria dos países.
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843 | Felídeos | Felídeos
Felídeos (latim científico: "Felidae") são uma família de animais mamíferos digitígrados, da ordem dos carnívoros. Existem muitas espécies selvagens, como os grandes felinos.
Existem duas subfamílias de felídeos: Pantherinae (que inclui tigres, leões, onças-pintadas, leopardo-das-neves e leopardos) e felíneos (que inclui guepardos, suçuaranas, linces, jaguatiricas e gatos domésticos).
Os primeiros exemplares da família surgiram durante o Oligoceno, há cerca de 25 milhões de anos. Na pré-história, também existia uma terceira subfamília denominada Machairodontinae, em que faziam parte os felídeos dentes-de-sabre como o "Smilodon". Apesar das semelhanças superficiais, os também extintos "Thylacosmilus" e "Nimravidae" não estão incluídos na família dos felídeos.
Evolução.
Existem atualmente 41 espécies de felídeos. De acordo com cientistas, os felídeos evoluíram no Eoceno a partir do grupo Viverravidae, que também deu origem às civetas, hienas e aos extintos nimravídeos. O primeiro verdadeiro felídeo foi o "Proailurus" que viveu na Europa há cerca de 30 milhões de anos, segundo teorias. Este animal tinha corpo longo, patas curtas e um dente molar adicional em cada mandíbula, por comparação aos felídeos modernos. Já no Miocénico, o "Proailurus" deu origem ao gênero "Pseudaelurus" que se diversificou em dois grupos: a sub-família Machairodontinae, que inclui os tigres-dente-de-sabre e o "Schizailurus", o ancestral da família dos felídeos, que surgiu há mais de 18 milhões de anos.
O primeiro grupo moderno de felídeos a surgir foi a sub-família Acinonychinae, que inclui as chitas modernas (género "Acionyx") e a chita norte-americana (género "Miracionyx"), atualmente extinta.
A sub-família dos felíneos, que agrupa os gatos domésticos, surgiu há cerca de 12 milhões de anos. Os linces surgiram na América do Norte há cerca de 6,7 milhões de anos e daí expandiram-se para a Europa e a Ásia. A primeira espécie reconhecida do género "Lynx" na Europa é o "L. issiodorensis", que viveu há 4 milhões de anos e era maior que os linces atuais, mas com patas relativamente mais curtas.
Características.
Todos os felídeos, sem exceção, são carnívoros obrigatórios. As espécies selvagens são naturalmente solitárias, com algumas exceções como os leões. Gatos domésticos que vivem em condições selvagens também podem formar colônias. Todos os felídeos são normalmente discretos, comumente apresentam hábitos noturnos e gostam de viver em habitats relativamente inacessíveis. No entanto, eles podem ser encontrados em qualquer ambiente e existem espécies conhecidas em quase todos os continentes do planeta, com exceção da região da Australásia e da Antártida.
Apresentação física.
Em geral possuem corpos ágeis e flexíveis com pernas musculosas. Na maioria das espécies a cauda mede entre um terço e a metade do comprimento do resto do corpo, embora existam algumas exceções para mais ou para menos, como a lince-pardo (curta) e o gato-maracajá (mais longa do que o resto do corpo). Todos são digitígrados com almofadas nos pés e garras retráteis. O crânio possui arcos zigomáticos amplos e uma grande crista sagital que permitem a fixação dos fortes músculos próximos da mandíbula.
Quanto ao tamanho geral, é variado. A menor espécie é o gato-bravo-de-patas-negras (cerca de 35 cm de comprimento), enquanto a maior é o tigre (cerca de 350 cm de comprimento) e 300 kg.
A pelagem assume forma distinta nas diferentes espécies, podendo ser muito fina até muito grossa, como é o caso do leopardo-das-neves. A cor também é bastante variada, embora tons de marrom e laranja geralmente marcados com listras ou pintas de cores escuras são as apresentações mais comuns. As únicas espécies que não possuem nenhuma marca na pelagem são os caracais e jaguarundis. Leões e suçuaranas possuem manchas quando jovens perdendo essa característica quando adultos. Em algumas sub-especies de leões as manchas, ou rosetas, de um tom mais claro, permanecem até a vida adulta. Muitas espécies apresentam melanismo, sendo possível encontrar animais de coloração inteiramente preta.
A língua dos felídeos é coberta por papilas salientes que raspam a carne e ajudam a retirar ossos e degustar grandes pedaços, também contribuindo na autolimpeza.
Todos os felinos possuem garras retrateis ou semi-retráteis (Guepardo) ligadas ao osso terminal dos pés, podendo "guardá-las" dentro dos dedos em posição de descanso ou prolonga-las para frente para um ataque.
Sentidos.
Os felídeos possuem olhos relativamente grandes, situados para fornecer visão binocular. A visão noturna de todas as espécies da família é excelente, devido a existência de uma membrana chamada tapetum lucidum, que reflete a luz de volta ao globo ocular e dá aos felídeos o famoso brilho em seus olhos. Por isso, os olhos são cerca de seis vezes mais sensíveis à luz do que os dos humanos e quase todas as espécies possuem hábitos ao menos parcialmente noturnos. Além disso, a retina possui uma proporção elevada de bastonetes, a fim de distinguir objetos em movimento em condições de baixa luminosidade, que são complementados com a presença de células cone para distinguir as cores. Isso os faz bons caçadores noturnos, capazes de perceber com clareza alvos em movimento em diferentes condições de luz. No entanto, ainda assim a percepção de cores dos felídeos é relativamente pobre em relação aos humanos, o que prejudica a visão de objetos estáticos.
As orelhas dos felídeos são grandes, e, no caso das espécies menores, bastante sensíveis a sons de alta frequência, o que os permite identificar pequenos roedores.
Eles também possuem um olfato extremamente apurado e desenvolvido, embora não tão bom quanto os canídeos. Esta característica é complementada pela presença do órgão vomeronasal no céu da boca, que permite ao animal sentir o "gosto" do ar. A utilização desse órgão está associada ao reflexo flehmen. A maioria das espécies da família é incapaz de sentir o sabor doce devido a um gene mutante em suas papilas gustativas.
Os felídeos possuem vibrissas ("bigodes") altamente sensíveis fincados profundamente dentro da pele que fornecem ao animal informação sensorial a respeito de qualquer movimento mínimo do ar, sendo muito úteis na caça noturna. Os felídeos também possuem um apurado senso de equilíbrio e respondem rapidamente a situações de risco, o que sustentou a criação do mito de que todos os gatos caem sempre de pé.
Dentição.
Os felídeos possuem um número relativamente pequeno de dentes em comparação aos outros carnívoros, uma característica que está associada ao fato de seus focinhos serem curtos. Com algumas exceções, como nas linces, os felídeos possuem todos a seguinte fórmula dentária: . Os dentes caninos são grandes em todas as espécies atuais e nos extintos tigres-dentes-de-sabre eram destacadamente maiores. O terceiro pré-molar superior e o molar inferior são adaptados como carniceiros, adequados para cortar, rasgar e triturar carne. A mandíbula dos felídeos só consegue se movimentar verticalmente, o que prejudica uma mastigação eficiente, porém contribui para que os poderosos músculos masseter ajudem a imobilizar a presa.
Vocalização.
Todos os felídeos compartilharam um conjunto semelhante de vocalizações, mas com alguma variação entre as espécies. As espécies maiores produzem sons mais profundos e a frequência das vocalizações dos felídeos variam de 50 a 1000 Hz.
A maioria das espécies de felídeos consegue produzir sons de "escarrada", "chiar", rosnar e miar. Os três primeiros são usados num contexto agressivo, podendo indicar posturas defensivas e de ataque contra espécies diferentes ou em disputas entre a mesma espécie. O miado é usado como um chamado de curta distância, normalmente entre a mãe e os filhotes, ou como um chamado de média distância durante a época de acasalamento. Os gatos domésticos miam com mais frequência e normalmente o fazem para chamar a atenção de humanos.
A maioria dos felídeos é capaz de ronronar, vibrando os músculos de sua laringe para produzir um ruído característico. Nas espécies selvagens, as mães costumam ronronar exclusivamente enquanto cuidam de seus filhotes. Já os gatos domésticos ronronam com maior frequência e em diversas situações. Existem debates acerca de quais espécies ronronam e quais não, mas sabe-se que todos os pequenos felídeos o fazem, com controvérsias a respeito da existência ou não dessa capacidade entre os grandes felinos, suçuaranas e guepardos.
Outras vocalizações de saudação também são encontradas em pequenos felídeos e existem algumas vocalizações exclusivas das espécies grandes, como um som semelhante a de um espirro (chamado em inglês de "prusten") utilizado como cumprimento entre animais amigáveis; o rugido, outro som exclusivo das espécies maiores, possui sonoridade alta e é comumente usado em disputas territoriais. A capacidade de rugir vem da laringe e osso hioide, especialmente adaptados para este fim. Somente leões, leopardos, tigres e onças são capazes de rugir verdadeiramente, embora algumas espécies, como o leopardo-das-neves, consigam emitir um miado/grunhido de sonoridade alta e semelhante, porém menos estruturado. Também é comum em felídeos o som de sibilos e silvos, que podem ser emitidos em variadas situações.
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844 | Filosofia | Filosofia
Filosofia (do grego Φιλοσοφία, "philosophia," literalmente "amor pela sabedoria") é o estudo de questões gerais e fundamentais sobre a existência, conhecimento, valores, razão, mente, e linguagem; frequentemente colocadas como problemas a se resolver. O termo provavelmente foi cunhado por Pitágoras ( 495 a.C.). Os métodos filosóficos incluem o questionamento, a discussão crítica, o argumento racional e a apresentação sistemática. As questões filosóficas clássicas incluem: É possível saber qualquer coisa e provar que se sabe? O que é mais real? Os filósofos também colocam questões mais práticas e concretas, como: Existe uma maneira melhor de se viver? É melhor ser justo ou injusto (se houver como se safar)? Os seres humanos têm livre-arbítrio?
Historicamente, a "filosofia" englobava qualquer corpo de conhecimento. Desde o tempo do filósofo grego antigo Aristóteles até o século XIX, a "filosofia natural" abrangia a astronomia, a biologia, a medicina e a física. Por exemplo a obra de Newton, "Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica" (1687) mais tarde classificada como um livro de física. No século XIX, o crescimento dasuniversidades de pesquisa modernas levou a filosofia acadêmica e outras disciplinas a se profissionalizar e se especializar.
Outras investigações intimamente relacionadas à arte, ciência, política ou outras atividades continuaram parte da filosofia. Por exemplo, a beleza é objetiva ou subjetiva? Existem muitos métodos científicos ou apenas um? A utopia política é um sonho esperançoso ou apenas fantasia? Os principais subcampos da filosofia acadêmica incluem a metafísica ("preocupa-se com a natureza fundamental da realidade e do ser"), epistemologia (sobre a "natureza e bases do conhecimento [e] ... seus limites e validade"), ética, estética, filosofia política, lógica e filosofia da ciência.
Definição de filosofia.
Etimologia.
A palavra "filosofia" (do grego) é uma composição de duas palavras: "philos" (φίλος) e "sophia" (σοφία). A primeira é uma derivação de "philia" (φιλία) que significa amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda significa sabedoria ou simplesmente saber. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber; e o filósofo, por sua vez, seria aquele que ama e busca a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos (c. 570-495 a.C.) a criação da palavra. Conforme essa tradição, Pitágoras teria criado o termo para modestamente ressaltar que a sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas dos deuses; os homens, no entanto, poderiam venerá-la e amá-la na qualidade de filósofos.
A palavra "philosophía" não é uma invenção moderna a partir de palavras gregas, mas um empréstimo tomado da própria língua grega; os termos φιλοσοφος ("philosophos") e φιλοσοφειν ("philosophein") já teriam sido empregados por alguns pré-socráticos (Heráclito, Pitágoras e Górgias) e pelos historiadores Heródoto e Tucídides. No período clássico da Grécia antiga, em que viveram Sócrates e Platão, é enfatizada a diferença entre σοφία (sofia) e φιλοσοφία (filosofia), sendo que o último termo expressa uma certa modéstia e ceticismo em relação ao conhecimento humano.
Perspectiva histórica.
Em um sentido geral, a filosofia é associada à sabedoria, cultura intelectual e à busca de conhecimento. Nesse sentido, todas as culturas e sociedades letradas fazem perguntas filosóficas como "como viver" e "qual é a natureza da realidade". Como uma concepção ampla e imparcial, a filosofia serve de investigação fundamentada em assuntos como realidade, moralidade e vida em todas as civilizações do mundo.
Filosofia ocidental.
A Filosofia ocidental é a tradição filosófica do mundo ocidental e data de pensadores pré-socráticos que eram ativos na Grécia Antiga no século VI a.C., como Tales (c. 624-546 a.C.) e Pitágoras (c. 570-495 a.C.) que praticavam um "amor à sabedoria" ("philosophia") e também foram denominados "physiologoi" (estudantes de "physis", ou natureza). Sócrates era um filósofo muito influente, que insistia em dizer que não possuía "sabedoria", mas sim que era um "perseguidor da" sabedoria.
A era antiga foi dominada pelas escolas filosóficas gregas que surgiram dos vários alunos de Sócrates, como Platão, que fundou a Academia Platônica e seu aluno Aristóteles, fundando a Escola peripatética, ambos extremamente influentes na tradição ocidental. Outras tradições incluem o cinismo, o estoicismo, o ceticismo e o epicurismo. Os tópicos importantes abordados pelos gregos incluíam a metafísica (com teorias concorrentes como atomismo e monismo), cosmologia, a natureza da vida bem vivida ("eudaimonia"), a possibilidade do conhecimento e a natureza da razão ("logos"). Com a ascensão do Império Romano, a filosofia grega também foi cada vez mais discutida em latim por romanos como Cícero e Séneca. Toda a teologia e filosofia cristã, judaica e islâmica posterior foi influenciada por platonismo e aristotelismo.
O início da filosofia ocidental moderna começa com pensadores como Thomas Hobbes e René Descartes (1596-1650). Após o surgimento das ciências naturais, a filosofia moderna se preocupou em desenvolver uma base secular e racional para o conhecimento e afastou-se das estruturas tradicionais de autoridade como a religião, o pensamento escolástico e a Igreja. Os principais filósofos modernos incluem Spinoza, Leibniz, Locke, Berkeley, Hume e Kant.
Grécia Antiga.
A filosofia grega antiga teve início no século VI a.C. e se estendeu até a decadência do Império Romano no século V d.C. Pode-se dividi-la em quatro períodos: (1) o período dos pré-socráticos; (2) um período humanista, em que Sócrates e os sofistas trouxeram as questões morais para o centro do debate filosófico; (3) o período áureo da filosofia em Atenas, em que despontaram Platão e Aristóteles; (4) e o período helenístico. Às vezes, se distingue um quinto período, que compreende os primeiros filósofos cristãos e os neoplatonistas.
Os primeiros filósofos gregos, geralmente chamados de pré-socráticos, dedicaram-se a especulações sobre a constituição e a origem do mundo. O principal intuito desses filósofos era descobrir um elemento primordial, eterno e imutável que fosse a matéria básica de todas as coisas. Essa substância imutável era chamada de "physis" (palavra grega cuja tradução literal seria natureza, mas que na concepção dos primeiros filósofos compreendia a totalidade dos seres, inclusive entidades divinas), e, por essa razão, os primeiros filósofos também foram conhecidos como os "physiologoi" (literalmente “fisiólogos”, isto é, os filósofos que se dedicavam ao estudo da "physis").
Na transição do século IV para o século III a.C., durante o período helenístico, formam-se duas escolas filosóficas cujos ensinamentos representam uma clara mudança de ênfase em relação à Academia de Platão e à escola peripatética de Aristóteles. Sua preocupação é principalmente a redenção pessoal. Tanto para Epicuro (ca. 341-270 a.C.) e seus seguidores como para Zenão de Cítio e demais estoicos o principal objetivo da filosofia deveria ser a obtenção da serenidade de espírito. As duas escolas também se assemelham na crença de que esse objetivo passa por uma espécie de harmonização entre o indivíduo e a natureza, mas divergem quanto à forma de se realizar essa harmonização. Para Epicuro, a sintonia com a natureza supõe a aceitação das necessidades e desejos naturais e dos prazeres sensoriais. Dessa forma, ele preconiza a fruição moderada dos prazeres e a comedida gratificação dos desejos. Os estoicos, por outro lado, sustentavam a crença de que o cosmos e os seres humanos partilhavam do mesmo "logos" divino. O ideal filosófico de vida seria, na concepção dos estoicos, a adesão à necessidade racional da natureza e o desenvolvimento de uma absoluta imperturbabilidade ("ataraxia") em relação aos fatos e eventos do mundo.
Mito e filosofia.
Originalmente, a palavra grega "mythos" significava simplesmente palavra ou fala; mas o termo remetia também à noção de uma palavra proferida com autoridade. As histórias épicas de Homero, permeadas de intervenções sobrenaturais, ou a teogonia de Hesíodo eram "mythos" no sentido de serem anúncios revestidos de autoridade, dignos de crédito e reverência.
Gradualmente, o termo foi assumindo outro sentido e já à época de Platão e Aristóteles o "mythos" era empregado para caracterizar histórias fictícias ou absurdas que se afastariam do "logos" — isto é, do discurso racional. Aristóteles, por exemplo, considerava a filosofia como um empreendimento intelectual completamente distinto das elaborações mitológicas. Na "Metafísica", ao tratar do problema da incorruptibilidade, Aristóteles menciona Hesíodo e, logo em seguida, descarta suas opiniões, pois, segundo ele, “não precisamos perder tempo investigando seriamente as sutilezas dos criadores de mitos.”
Os mitos de Prometeu e mito de Pandora narram não só a descoberta do fogo e seu manuseio pelo homens mas demonstra como no período pré-socrático todos os eventos terrenos decorrem das intenções dos deuses, incluindo todos os males, felizmente, o mito de Pandora é reescrito pela filosofia socrática/platônica, essa revolução permitiu reconstruir a estória e tornou possível fazer do homem o sujeito de sua própria História.
Roma Antiga.
Roma conheceu e assimilou a literatura, a filosofia e o teatro da Grécia mas logo desenvolveu o próprio estilo; os romanos adotaram o hábito da leitura e da escrita influenciados pelos gregos, assim, a arte de ler, escrever e falar em público (oratória) se tornou essencial na educação dos cidadãos.
Na filosofia, adoram valores éticos gregos e voltaram-se para a valorização da moral. Os principais filósofos romanos são Cícero, Marco Aurélio, Sêneca, Horácio e Macróbio.
Filosofia medieval.
A filosofia medieval é a filosofia da Europa ocidental, oriental (Império Bizantino) e do Oriente Médio durante a Idade Média. Começa, aproximadamente, com a cristianização do Império Romano e encerra-se com a Renascença. A filosofia medieval pode ser considerada, em parte, como prolongamento da filosofia greco-romana e, em parte, como uma tentativa de conciliar o conhecimento secular e a doutrina sagrada. As filosofias judaica, cristã e islâmica se derivaram principalmente do platonismo, junto com discussões aristotélicas e outros discursos do raciocínio grego, como o estoicismo. Antes do início da era medieval, Agostinho de Hipona foi o principal expoente da patrística e, com outros neoplatônicos, influenciou toda a filosofia no pensamento cristão ocidental.
A Idade Média carregou por muito tempo o epíteto depreciativo de "idade das trevas" ou "período obscura", atribuído pelos humanistas renascentistas; e a filosofia desenvolvida nessa época padeceu do mesmo desprezo. No entanto, essa era de aproximadamente mil anos foi o mais longo período de desenvolvimento filosófico na Europa e um dos mais ricos. Jorge Gracia defende que “em intensidade, sofisticação e aquisições, pode-se corretamente dizer que o florescimento filosófico no século XIII rivaliza com a época áurea da filosofia grega no século IV a. C.”.
Entre os filósofos medievais do ocidente, merecem destaque, como Boécio, João Escoto Erígena, Anselmo de Cantuária, Pedro Abelardo, Alberto Magno, Roger Bacon, Boaventura de Bagnoregio, Tomás de Aquino, João Duns Escoto, Guilherme de Ockham, Hugo de São Vitor, Eckhart de Hochheim e Raimundo Lúlio; no oriente os bizantinos Prisco de Pânio, Leão, o Matemático e Miguel Pselo; na civilização islâmica, Avicena, Averróis, Avempace, Alfarábi, Algazali, Alquindi e Surauardi; entre os judeus, Moisés Maimônides e Salomão ibne Gabirol.
Tomás de Aquino (1225-1274), fundador do tomismo, exerceu influência inigualável na filosofia e na teologia medievais. Em sua obra, ele deu grande importância à razão e à argumentação, e procurou elaborar uma síntese entre a doutrina cristã e a filosofia aristotélica. A filosofia de Tomás de Aquino representou uma reorientação significativa do pensamento filosófico medieval, até então muito influenciado pelo neoplatonismo e sua reinterpretação agostiniana.
A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada pelo Renascimento e pelo Humanismo. Nesse período de transição, a redescoberta de textos da Antiguidade contribuiu para que o interesse filosófico saísse dos estudos técnicos de lógica, metafísica e teologia e se voltasse para estudos ecléticos nas áreas da filologia, da moralidade e do misticismo. Os estudos dos clássicos e das letras receberam uma ênfase inédita e desenvolveram-se de modo independente da escolástica tradicional. A produção e disseminação do conhecimento e das artes deixam de ser uma exclusividade das universidades e dos acadêmicos profissionais, e isso contribui para que a filosofia vá aos poucos se desvencilhando da teologia. Em lugar de Deus e da religião, o conceito de homem assume o centro das ocupações artísticas, literárias e filosóficas.
O renascimento revigorou a concepção da natureza como um todo orgânico, sujeito à compreensão e influência humanas. De uma forma ou de outra, essa concepção está presente nos trabalhos de Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, Bernardino Telesio e Galileu Galilei. Essa reinterpretação da natureza é acompanhada, em muitos casos, de um intenso interesse por magia, hermetismo e astrologia — considerados então como instrumentos de compreensão e manipulação da natureza.
À medida que a autoridade eclesial cedia lugar à autoridade secular e que o foco dos interesses voltava-se para a política em detrimento da religião, as rivalidades entre os Estados nacionais e as crises internas demandavam não apenas soluções práticas emergenciais, mas também uma profunda reflexão sobre questões pertinentes à filosofia política. Desse modo, a filosofia política, que por vários séculos esteve dormente, recebeu um novo impulso durante o Renascimento. Nessa área, destacam-se as obras de Nicolau Maquiavel e Jean Bodin.
Filosofia do Oriente Médio.
As regiões do Crescente Fértil, Irã e Arábia abrigam a literatura sapiencial filosófica mais antiga que se conhece e hoje são dominadas principalmente pela cultura islâmica; a literatura sapiencial primitiva do Crescente Fértil era um gênero que procurava instruir as pessoas sobre ação ética, vida prática e virtude através de histórias e provérbios. No Egito antigo, esses textos eram conhecidos como "sebayt" ('ensinamentos') e são fundamentais para nosso entendimento da filosofia egípcia antiga. A astronomia babilônica também incluiu muitas especulações filosóficas sobre cosmologia que podem ter influenciado os gregos antigos. A filosofia judaica e a filosofia cristã são tradições religio-filosóficas que se desenvolveram no Oriente Médio e na Europa, que compartilham certos textos judaicos antigos (principalmente os "Tanakh") e crenças monoteístas. Pensadores judeus, como os Gueonim das Academias Talmúdicas da Babilônia e Maimônides, se envolveram com a filosofia grega e islâmica. Mais tarde, a filosofia judaica passou por fortes influências intelectuais ocidentais e inclui as obras de Moisés Mendelssohn, que inaugurou a "Haskalah" (o Iluminismo Judaico), o existencialismo judaico e o judaísmo reformista.
A filosofia iraniana pré-islâmica começa com o trabalho de Zoroastro, um dos primeiros promotores do monoteísmo e do dualismo entre o bem e o mal. Essa cosmogonia dualista influenciou desenvolvimentos iranianos posteriores, como o maniqueísmo, o mazdaismo e o zurvanismo.
Após as conquistas muçulmanas, a filosofia islâmica primitiva desenvolveu as tradições filosóficas gregas em novas direções inovadoras. Esta Idade de ouro islâmica (Filosofia islâmica clássica) influenciou os desenvolvimentos intelectuais europeus. As duas principais correntes do pensamento islâmico primitivo são: Kalam, que se concentra na teologia islâmica e Falsafa, baseada no aristotelianismo e no neoplatonismo. O trabalho de Aristóteles foi muito influente entre os falsafa, como Alquindi (), Avicena (980 – junho de 1037) e Averroes (século XII). Outros, como Algazali, criticaram profundamente os métodos do falsafa aristotélico. Os pensadores islâmicos também desenvolveram um método científico, a medicina experimental, uma teoria da ótica e uma filosofia jurídica. Ibne Caldune foi um pensador influente na filosofia da história.
Filosofia indiana.
A Filosofia indiana (; 'visão de mundo', 'ensinamentos') refere-se às diversas tradições filosóficas que surgiram desde os tempos antigos no subcontinente indiano. O jainismo e o budismo se originaram no final do período védico, enquanto o hinduísmo emergiu como uma fusão de diversas tradições, começando após o final do período védico.
Os hindus geralmente classificam essas tradições como ortodoxas ou heterodoxas — āstika ou nāstika — dependendo se aceitam a autoridade dos Vedas e as teorias de Brâman (absoluto) e Atman (alma, eu) contida nelas. As escolas ortodoxas incluem as tradições hindus do pensamento, enquanto as escolas heterodoxas incluem as tradições budista e jainista. Outras escolas incluem o Ajñana, Ajivika e Cārvāka que se extinguiu ao longo de sua história.
Os importantes conceitos filosóficos indianos compartilhados pelas filosofias indianas incluem Dharma, Karma, Artha, Kama, Dukkha ("Duhkha", sofrimento), Anicca ("Anitya", impermanência), Dhyana (J"hana", meditação), renúncia (com ou sem monasticismo ou ascetismo), vários Samsara com ciclos de renascimento, Moksha (Nirvana, kivali, libertação de renascimento) e virtudes como Ahimsa.
Filosofia budista.
A filosofia budista começa com o pensamento de Gautama Buda (fl. entre o sexto e o quarto séculos a.C.) e é preservada nos primeiros textos budistas. Originou-se na Índia e depois se espalhou para o Leste Asiático, o Tibete, a Ásia Central e o Sudeste Asiático, desenvolvendo tradições sincréticas nessas regiões. Os ramos Mahayana de pensamento budista são as tradições filosóficas dominantes nas regiões do Leste Asiático, como China, Coréia do Sul e Japão. As formas Theravada são dominantes em países do Sudeste Asiático, como Sri Lanka, Birmânia e Tailândia.
A "avidyā" (ignorância) à verdadeira natureza das coisas é considerada uma das raízes do sofrimento ("dukkha"), A filosofia budista preocupa-se com a epistemologia, a metafísica, a ética e a psicologia. Os textos filosóficos budistas também devem ser entendidos no contexto de práticas meditativas que supostamente devem causar certas mudanças cognitivas. Os principais conceitos inovadores incluem as Quatro Nobres Verdades como uma análise do sofrimento, anicca (impermanência) e anatta (não-eu).
Após a morte de Buda, vários grupos começaram a sistematizar seus principais ensinamentos, eventualmente desenvolvendo sistemas filosóficos abrangentes denominados 'Abhidharma'. Seguindo as escolas de Abhidharma, filósofos Mahayana como Nagarjuna e Vasubandhu desenvolveu as teorias de "shunyata" (vazio de todos os fenômenos) e "vijñapti-matra" (apenas aparência), uma forma de fenomenologia ou idealismo transcendental. A escola Dignāga do "pramaṇa" (literalmente. meios de conhecimento) promoveu uma forma sofisticada de lógica budista.
Havia inúmeras escolas, sub-escolas e tradições da filosofia budista na Índia. Segundo o professor de filosofia budista de Oxford Jan Westerhoff, as principais escolas indianas de 300 a.C. a 1000 d.C. foram:
Filosofia hindu.
As escolas ortodoxas baseadas nos Vedas fazem parte das tradições hindus e são tradicionalmente classificadas em seis "darsanas": Nyaya, Vaisheshika, Samkhya, Yoga, Mimāṃsā e Vedanta. Os Vedas como fonte de conhecimento foram interpretados de maneira diferente por essas seis escolas de filosofia hindu, com graus variados de sobreposição. Eles representam uma "coleção de visões filosóficas que compartilham uma conexão textual", segundo Chadha. Eles também refletem uma tolerância a uma diversidade de interpretações filosóficas dentro do hinduísmo, compartilhando o mesmo fundamento.
Alguns dos primeiros textos místicos e filosóficos hindus sobreviventes são os Upanishads de período védico tardio (1000–500 a.C.). Filósofos hindus das seis escolas desenvolveram sistemas de epistemologia (pramana) e investigaram tópicos como metafísica, ética, psicologia ("guna"), hermenêutica e soteriologia dentro da estrutura do conhecimento védico, apresentando uma diversificada coleção de interpretações. Essas escolas de filosofia aceitavam os Vedas e o conceito védico de "Atman " e " Brahman ", diferente das seguintes religiões indianas que rejeitavam a autoridade dos Vedas:
As seis escolas ortodoxas comumente nomeadas ao longo do tempo levaram ao que foi chamado de "síntese hindu", como exemplificado por suas escrituras: "Bhagavad Gita".
Filosofia jainista.
A filosofia jainista aceita o conceito de alma permanente ("jiva") como uma das cinco "astikayas", ou infinitas categorias eternas que compõem a substância da existência. As outras quatro sendo "dharma", "adharma", "akasha" (espaço) e "pudgala" (matéria). O pensamento jainista separa completamente a matéria da alma. Possui duas subtradições principais: Digambara (vestido de céu, nu) e Svetambara (vestido de branco), juntamente com várias outras tradições menores, como Terapanthis. O asceticismo é uma grande virtude monástica no jainismo.
Os textos jainistas como o "Tattvartha Sutra" declare que a fé correta, o conhecimento correto e a conduta correta são o caminho para a libertação.
O pensamento jainista sustenta que toda a existência é cíclica, eterna e não criada.
O "Tattvartha Sutra" é a primeira compilação conhecida, mais abrangente e autorizada da filosofia Jain.
Filosofia do Leste Asiático.
O pensamento filosófico do leste asiático começou na China antiga e a filosofia chinesa começou durante a dinastia Zhou ocidental e nos seguintes períodos após sua queda, quando a "cem escolas de pensamento" floresceram (século VI a 221 a.C.). Esse período foi caracterizado por importantes desenvolvimentos intelectuais e culturais e viu o surgimento das principais escolas filosóficas da China, o Confucionismo, o Legalismo e o Daoísmo, além de numerosos outras escolas menos influentes. Essas tradições filosóficas desenvolveram teorias metafísicas, políticas e éticas, como o Tao, o Yin e yang, Ren e Li que, juntamente com o Budismo chinês, influenciaram diretamente a filosofia coreana, a filosofia vietnamita e a filosofia japonesa (que também inclui a tradição nativa xintoísta). O budismo começou a chegar à China durante a dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.), através da Rota da Seda e por influências nativas desenvolveram formas chinesas distintas (como Chan/Zen) que se espalharam por toda a esfera cultural do Leste Asiático. Durante as dinastias chinesas posteriores como a Dinastia Ming (1368-1644), bem como na Coréia do Norte (dinastia Joseon) (1392-1897), um ressurgente Neo-Confucionismo liderado por pensadores como Wang Yangming (1472-1529) tornou-se a escola dominante de pensamento e era promovida pelo estado imperial.
Na era moderna, os pensadores chineses incorporaram ideias da filosofia ocidental. A filosofia marxista chinesa se desenvolveu sob a influência de Mao Zedong, enquanto um pragmatismo chinês sob a ascensão de Hu Shih e o neoconfucionismo foi influenciado por Xiong Shili. Enquanto isso, o pensamento japonês moderno se desenvolveu sob fortes influências ocidentais, como o estudo das ciências ocidentais (Rangaku) e a sociedade intelectual modernista (Meirokusha) que se inspirou no pensamento iluminista europeu. O século XX viu a ascensão do Xintoísmo estatal e também do Fascismo japonês e do nacionalismo japonês. A Escola de Kyoto, a escola filosófica japonesa influente e única, desenvolvida a partir da fenomenologia ocidental e da filosofia budista medieval japonesa, como a de Dogen.
Filosofia africana.
A filosofia africana é aquela produzida pelo povo africano, filosofia que apresenta visões de mundo, ideias e temas africanos, ou filosofia que usa métodos filosóficos africanos distintos. O pensamento africano moderno foi ocupado com Etnofilosofia, definindo o próprio significado da filosofia africana e suas características únicas e o que significa ser africano. Durante o século XVII, a filosofia etíope desenvolveu uma tradição literária robusta, como exemplificado por Zera Yacob. Outro filósofo africano antigo foi Anton Wilhelm Amo (c. 1703-1759), que se tornou um respeitado filósofo na Alemanha. Acadêmicos consideram que Yacob e Amo investigaram questionamentos filosóficos similares a alguns encontrados no Iluminismo, antecedendo Descartes e Kant. Ideias filosóficas africanas distintas incluem Ujamaa, a ideia Bantu de Força, a Negritude, o Pan-Africanismo e oUbuntu. O pensamento africano contemporâneo também viu o desenvolvimento da filosofia profissional e da filosofia africana, a literatura filosófica da diáspora africana, que inclui correntes como o existencialismo negro dos afro-americanos. Os pensadores africanos modernos são influenciados pelo marxismo, literatura afro-americana, teoria crítica, teoria crítica da raça, pós-colonialismo e feminismo.
Filosofia moderna.
A Filosofia moderna é a filosofia desenvolvida na era moderna e associada à modernidade. Não é uma doutrina ou escola específica (e, portanto, não deve ser confundida com Modernismo), embora existam certas suposições comuns a grande parte dela, o que ajuda a distingui-la da filosofia anterior; é caracterizada pela preponderância da epistemologia sobre a metafísica. A justificativa dos filósofos modernos para essa alteração estava, em parte, na ideia de que, antes de querer conhecer tudo o que existe, seria conveniente conhecer o que se pode conhecer.
Filosofia moderna ocidental.
Geralmente considerado como o fundador da filosofia moderna, o cientista, matemático e filósofo francês René Descartes (1596-1650) redirecionou o foco da discussão filosófica para o sujeito pensante; Descartes acreditava ser necessário um procedimento prévio de avaliação crítica e severa de todas as fontes do conhecimento disponível, num procedimento que ficou conhecido como dúvida metódica. Segundo Descartes, ao adotar essa orientação, constatamos que resta como certeza inabalável a ideia de um eu pensante: mesmo que o sujeito ponha tudo em dúvida, se ele duvida, é porque pensa; e, se pensa, é porque existe. Essa linha de raciocínio foi celebrizada pela fórmula “penso, logo existo” ("cogito ergo sum").
Filosofia renascentista.
O Renascimento foi um período da história europeia que marca a transição da Idade Média para a Modernidade e abrange os séculos XV e XVI. Além da periodização padrão, os defensores de uma "Renascença longa" colocam seu início no século XIV e seu fim no século XVII. A visão tradicional concentra-se mais nos aspectos da Renascença e argumenta que foi uma ruptura com o passado, mas muitos historiadores hoje se concentram mais em seus aspectos medievais e argumentam que foi uma extensão da Idade Média. Ainda se discute quando da história intelectual da Renascença faz parte de fato da filosofia moderna. Estimulada por novos textos disponíveis, uma das características mais importantes da filosofia renascentista é o crescente interesse nas fontes primárias do pensamento grego e romano que antes eram desconhecidas ou pouco lidas; o estudo renovado do neoplatonismo, estoicismo, epicurismo e o ceticismo corroeu a fé na verdade universal da filosofia aristotélica e ampliou o horizonte filosófico, fornecendo um rico solo a partir do qual a ciência moderna e a filosofia moderna emergiram gradualmente. As principais filosofias da época são o Aristotelismo, o Humanismo, o Platonismo e as Filosofias helenísticas como o Estoicismo, o Epicurismo e o Ceticismo.
Há certa dificuldade em mapear os assuntos de interesse dos filósofos do Renascimento em relação aos interesses dos filósofos contemporâneos, especialmente porque a principal forma de escrita da época permaneceu sendo o comentário, seja sobre Aristóteles ou Tomás de Aquino. Entre alguns do temas comentados nessa época pode-se citar a lógica e a linguagem que eram a base das instituições educacionais, a metafísica e a filosofia da mente, a imortalidade, o livre arbítrio, a ciência e a filosofia da natureza, a filosofia moral e a filosofia política e o ser humano incluindo a distinção entre microcosmo e macrocosmo.
O Renascimento não usava a apalavra "humanismo", em vez disso, usava a frase latina "studia humanitatis" (literalmente "os estudos da humanidade") frase emprestada da antiguidade clássica. Os humanistas renascentistas entendiam pelo "studia humanitatis" um ciclo de cinco assuntos: gramática, retórica, poesia, história e filosofia moral, todas baseadas nos clássicos gregos e latinos. Um humanista era um especialista nos "studia humanitatis". A disciplina dominante era a retórica, a eloquência era a mais alta realização profissional dos humanistas renascentistas e os interesses retóricos coloriram a abordagem dos humanistas em relação às outras partes do "studia humanitatis", os humanistas renascentistas foram os sucessores da tradição retórica medieval e os ressuscitadores da tradição retórica clássica.
Racionalismo × Empirismo.
O racionalismo é a visão de que a razão, em oposição a por exemplo, experiência sensorial, a revelação divina ou confiança na autoridade institucional, desempenha um papel dominante na nossa tentativa de obter conhecimento; é o oposto ao empirismo, que é a visão de que a experiência sensorial é suficiente para se ter o conhecimento.
O "racionalismo continental" é uma categoria retrospectiva usada para agrupar certos filósofos da Europa continental nos séculos XVII e XVIII, em particular Descartes, Spinoza e Leibniz porque afirmavam o contrário do “empirismo britânico”, notavelmente de Locke, Berkeley e Hume; os empiristas britânicos sustentavam que todo conhecimento tem sua origem e são limitados pela experiência, já os racionalistas continentais diziam que o conhecimento tem sua base no escrutínio e na implantação ordenada de ideias e princípios próprios da mente; os racionalistas não rejeitaram a experiência, como às vezes é erradamente afirmado; eles estavam completamente imersos nos rápidos desenvolvimentos da nova ciência e, em alguns casos, lideraram esses desenvolvimentos, eles apenas reforçavam que só a experiência, embora útil em questões práticas, não era o suficiente para o conhecimento genuíno.
No projeto cartesiano de Descartes estão presentes três pressupostos básicos: (1) a matemática, ou o método dedutivo adotado pela matemática, é o modelo a ser seguido pelos filósofos; (2) existem ideias inatas, absolutamente verdadeiras, que de alguma forma estão desde sempre inscritas no espírito humano; (3) a descoberta dessas ideias inatas não depende da experiência — elas são alcançadas exclusivamente pela razão. Esses três pressupostos também estão presentes nas filosofias de Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), Christian Wolff (1679-1754) e Baruch Spinoza (1632-1677), e constituem a base do movimento filosófico denominado racionalismo.
Se os racionalistas priorizavam o modelo matemático, a filosofia antagônica — o empirismo — enfatizava os métodos indutivos das ciências experimentais. O filósofo John Locke (1632-1704) propôs a aplicação desses métodos na investigação da própria mente humana. Em patente confronto com os racionalistas, Locke argumentou que a mente chega ao mundo completamente vazia de conteúdo — é uma espécie de lousa em branco ou "tabula rasa"; e todas as ideias com que ela trabalha são necessariamente originárias da experiência. Esse pressuposto também é adotado pelos outros dois grandes filósofos do empirismo britânico, George Berkeley (1685-1753) e David Hume (1711-1776). John Locke influenciou também a filosofia política, sendo um dos principais teóricos na base do conceito moderno de democracia liberal.
Filosofia política.
A filosofia política é um ramo da filosofia que se preocupa, no nível mais abstrato, com os conceitos e argumentos envolvidos na opinião política, o significado do termo "político" é, em si, um dos principais problemas da filosofia política; de maneira geral, pode-se caracterizar como política todas as práticas e instituições que se preocupam com o governo, o problema central da filosofia política é como implantar ou limitar o poder público, a fim de manter a sobrevivência e melhorar a qualidade da vida humana. A filosofia política é a tentativa de se saber verdadeiramente tanto a natureza das coisas políticas quanto a boa ou correta ordem política; hoje, a filosofia política está em um estado de decadência, não só há desacordo completo sobre o seu tema, seus métodos e sua função: sua própria existência, em quaisquer de suas formas, tornou-se questionável.
O primeiro trabalho elaborado sobre filosofia política europeia é a "A República" de Platão, uma obra-prima em forma de diálogo provavelmente destinado à recitação. Um maior desenvolvimento dessas ideias é realizado em seu "Político" e "Leis", este último prescrevendo os métodos cruéis pelos quais elas podem ser impostas; Platão cresceu durante a grande guerra do Peloponeso entre Atenas e Esparta e, como muitos filósofos políticos, tentou encontrar remédios para a injustiça e o declínio políticos prevalecentes.
Na Idade Média, depois de Agostinho de Hipona, nenhum trabalho especulativo completo de filosofia política apareceu no Ocidente até o "Policraticus" (1159), de João de Salisbury, com base na ampla leitura clássica de João, ele se concentra no governante ideal, que representa um "poder público"; a "Suma Teológica" de são Tomás de Aquino pretende responder a todas as principais questões da existência, incluindo as da filosofia política que para ele deve ter um propósito ético; em sua obra "De Monarchia", Dante cria a mais completa teoria política do império universal e secular formulada no Ocidente medieval e insiste que somente através da paz universal as faculdades humanas podem atingir sua plena capacidade.
Do século XVI ao século XVIII, a filosofia política foi assunto e tema de estudos de vários pensadores como Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, Spinoza, Richard Hooker, John Locke, Edmund Burke, Giambattista Vico, Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau.
No século XIX, o utilitarismo foi uma força importante no pensamento político e social, a doutrina de que as ações dos governos deveriam ser julgadas simplesmente pela extensão em que promovam “mais felicidade ao maior número de pessoas”, o fundador da escola utilitarista foi Jeremy Bentham, um excêntrico inglês formado em Direito. Enquanto isso, Alexis de Tocqueville se preocupava em como se manteriam os padrões e a criatividade da civilização diante da democracia de massa.
Marx e Engels pensavam que o dinamismo da história era gerado por inevitáveis conflitos de classe economicamente determinados, essa era uma ideia ainda mais dinâmica que a de Hegel e mais relevante para as revoltas sociais que foram uma consequência da Revolução Industrial, Marx era um humanista profundamente instruído, e seu ideal era o desenvolvimento completo da personalidade humana, enquanto Platão se preocupava com uma elite, Marx se importava apaixonadamente com a elevação de povos inteiros. A primeira e de longe a mais significativa interpretação da doutrina de Marx foi realizada na União Soviética por Lenin e desenvolvida por Josef Stalin e era totalmente autoritária e adotou a ideia de Leon Trotsky de uma "revolução permanente" por uma pequena elite revolucionária.
Idealismo.
Idealismo alemão é o nome de um movimento na filosofia alemã que começou na década de 1780 e durou até a década de 1840; os representantes mais famosos desse movimento são Kant, Fichte, Schelling e Hegel; embora existam diferenças importantes entre eles, todos compartilham um compromisso com o idealismo; o idealismo transcendental de Kant era uma doutrina filosófica modesta sobre a diferença entre aparências e as coisas em si, que alegava que os objetos da cognição humana são aparências e não coisas em si. Fichte, Schelling e Hegel radicalizaram essa visão, transformando o idealismo transcendental de Kant em idealismo absoluto, que sustenta que as coisas em si mesmas são uma contradição em termos, porque uma coisa deve ser um objeto de nossa consciência para que seja um objeto.
Embora o sentido exato em que Hegel era um idealista seja problemático, sua influência no idealismo absoluto ou monístico subsequente foi enorme. Nos EUA e no Reino Unido, o idealismo, especialmente do tipo absoluto, foi a filosofia dominante do final do século XIX e início do século XX, recebendo sua expressão mais vigorosa em Francis Herbert Bradley. Declinou, sem morrer, sob a influência de George Edward Moore e Bertrand Russell, e mais tarde dos positivistas lógicos.
Geralmente se considera que depois da filosofia de Kant tem início uma nova etapa da filosofia, que se caracterizaria por ser uma continuação e, simultaneamente, uma reação à filosofia kantiana. Nesse período desenvolve-se o idealismo alemão (Fichte, Schelling e Hegel), que leva as ideias kantianas às últimas consequências. A noção de que há um universo inteiro (a realidade em si mesma) inalcançável ao conhecimento humano, levou os idealistas alemães a assimilar a realidade objetiva ao próprio sujeito no intuito de resolver o problema da separação fundamental entre sujeito e objeto. Assim, por exemplo, Hegel postulou que o universo é espírito. O conjunto dos seres humanos, sua história, sua arte, sua ciência e sua religião são apenas manifestações desse espírito absoluto em sua marcha dinâmica rumo ao autoconhecimento. Enquanto na Alemanha, o idealismo apoderava-se do debate filosófico, na França, Auguste Comte retomava uma orientação mais próxima das ciências e inaugurava o positivismo e a sociologia. Na visão de Comte, a humanidade progride por três estágios: o estágio teológico, o estágio metafísico e, por fim, o estágio positivo. No primeiro estágio, as explicações são dadas em termos mitológicos ou religiosos; no segundo, as explicações tornam-se abstratas, mas ainda carecem de cientificidade; no terceiro estágio, a compreensão da realidade se dá em termos de leis empíricas de “sucessão e semelhança” entre os fenômenos. Para Comte, a plena realização desse terceiro estágio histórico, em que o pensamento científico suplantaria todos os demais, representaria a aquisição da felicidade e da perfeição.
Existencialismo.
Existencialismo é um termo genérico para os filósofos que consideram a natureza da condição humana como um problema filosófico essencial e que compartilham da visão de que esse problema é melhor abordado por meio da ontologia; essa definição engloba temas-chave que os pensadores existencialistas abordam como a existência, o absurdo e a irracionalidade, a facticidade, a ansiedade e a autenticidade e outros temas.
O termo "existencialismo" foi explicitamente adotado como autodescrição por Jean-Paul Sartre e através da ampla divulgação da produção literária e filosófica pós-guerra de Sartre e seus associados - notavelmente Simone de Beauvoir, Maurice Merleau-Ponty e Albert Camus - o existencialismo tornou-se identificado com um movimento cultural que floresceu na Europa nas décadas de 1940 e 1950.
Os filósofos existencialistas mais importantes são Søren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Nietzsche (1844-1900), Martin Heidegger (1889-1976), Jean-Paul Sartre (1905-1980), Simone de Beauvoir (1908-1986) e Albert Camus (1913-1960). Karl Jaspers, Martin Buber na Alemanha, Jean Wahl e Gabriel Marcel na França, os espanhóis José Ortega y Gasset e Miguel de Unamuno e os russos Nikolai Berdyaev e Lev Shestov.
Fenomenologia.
Fora dos países de língua inglesa, floresceram diferentes movimentos filosóficos. Entre esses destacam-se a fenomenologia, a hermenêutica, o existencialismo e versões modernas do marxismo. Para Edmund Husserl, o traço fundamental dos fenômenos mentais é a intencionalidade. A estrutura da intencionalidade é constituída por dois elementos: "noesis" e "noema". O primeiro elemento é o ato intencional; e o segundo é o objeto do ato intencional. A ciência da fenomenologia trata do significado ou da essência dos objetos da consciência. A fim de revelar a estrutura da consciência, o fenomenólogo deve pôr entre parêntesis a realidade empírica. Segundo Husserl, os procedimentos fenomenológicos desvelam o ego transcendental — que é a própria base e fonte de unidade do eu empírico.
Pragmatismo.
O pragmatismo é uma tradição filosófica que começou nos Estados Unidos por volta de 1870 suas origens são frequentemente atribuídas aos filósofos Charles Sanders Peirce, William James e John Dewey. Mais tarde, Peirce a descreveu em sua máxima pragmática: "Considere os efeitos práticos dos objetos de sua concepção. Então, sua concepção desses efeitos é a totalidade de sua concepção do objeto".
O pragmatismo tentou encontrar um conceito científico de verdade que não dependa do "insight" pessoal (revelação) ou referência a algum domínio metafísico e interpretava o significado de uma declaração pelo efeito que sua aceitação teria na prática. A investigação levada longe o suficiente é, portanto, o único caminho para a verdade.
Filosofia analítica.
A filosofia analítica, também chamada filosofia linguística, é um conjunto de abordagens vagamente relacionadas aos problemas filosóficos dominantes na filosofia anglo-americana do início do século XX que enfatiza o estudo da linguagem e a análise lógica de conceitos. Embora a maior parte do trabalho em filosofia analítica tenha sido realizado na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, também há contribuições significativas de outros países, principalmente Austrália, Nova Zelândia e nos países da Escandinávia.
A filosofia analítica originou-se por volta da virada do século XX, quando G. E. Moore e Bertrand Russell se separaram do que era a escola dominante nas universidades britânicas, o Idealismo absoluto; muitos também incluem Gottlob Frege como fundador da filosofia analítica; quando Moore e Russell articularam sua alternativa ao Idealismo, eles usaram um idioma linguístico, frequentemente baseando seus argumentos nos "significados" de termos e proposições. Além disso, Russell acreditava que a gramática da linguagem natural é frequentemente filosoficamente enganosa, e que a maneira de dissipar a ilusão é re-exprimir proposições na linguagem formal ideal da lógica simbólica, revelando assim sua verdadeira forma lógica.
Para Ludwig Wittgenstein, discípulo de Russell, os recursos da lógica matemática serviriam para revelar as formas lógicas que se escondem por trás da linguagem comum, a lógica é a própria condição de sentido de qualquer sistema linguístico. Sob a inspiração dos trabalhos de Russell e de Wittgenstein, o Círculo de Viena passou a defender uma forma de empirismo que assimilasse os avanços realizados nas ciências formais, especialmente na lógica. Essa versão atualizada do empirismo tornou-se universalmente conhecida como neopositivismo ou positivismo lógico. O Círculo de Viena consistia numa reunião de intelectuais oriundos de diversas áreas (filosofia, física, matemática, sociologia, etc.) que tinham em comum uma profunda desconfiança em relação a temas de teor metafísico. Para esses filósofos e cientistas, caberia à filosofia elaborar ferramentas teóricas aptas a esclarecer os conceitos fundamentais das ciências e revelar os pontos de contatos entre os diversos ramos do conhecimento científico. Nessa tarefa, seria importante mostrar, entre outras coisas, como enunciados altamente abstratos das ciências poderiam ser rigorosamente reduzidos a frases sobre a nossa experiência imediata.
Filosofia moderna asiática.
Historicamente, a filosofia chinesa passou por quatro períodos: o clássico, o neotaoísta e budista, o neoconfucionista e o moderno. O período moderno começa no século XX e passa da ocidentalização, através de uma reconstrução da filosofia tradicional, para o triunfo do marxismo. Na segunda e terceira décadas, as obras de Darwin, Spencer e outras foram traduzidas, e as doutrinas de Haeckel, Kropotkin, Nietzsche, Schopenhauer, Bergson, Rudolf Eucken, Descartes e James, além de Platão, Kant e Hegel, foram apresentados, cada um com seus advogados especiais. Mais tarde, Whitehead, Josiah Royce, Carnap e outros foram promovidos por pequenos e sinceros grupos. Esse movimento revelou às novas perspectivas filosóficas chinesas em metafísica, lógica e epistemologia; o tom geral era científico, positivista e pragmático. De todos os sistemas ocidentais, o mais influente foi o pragmatismo, introduzido e promovido por Hu Shi (1891-1962), líder da revolução intelectual de 1917. Na “polêmica da ciência "versus" vida” na década de 1920, os principais intelectuais chineses debateram a questão se a ciência pode ou não formar a base de uma filosofia de vida, o debate serviu para questionar a supremacia da filosofia ocidental, que, como entendida pelos chineses, era considerada essencialmente científica por oposição à metafísica. Na China contemporânea, o marxismo é a filosofia oficial, o pensamento marxista vinha crescendo na China desde meados da década de 1920 e, na época do estabelecimento da República Popular em 1949, havia passado pelo leninismo ao maoísmo.
No século XIX, a Índia não foi marcada por conquistas filosóficas notáveis, mas foi um período marcado por grandes movimentos de reforma social e religiosa, as universidades recém-fundadas introduziram os intelectuais indianos no pensamento ocidental, particularmente nas filosofias empirista, utilitária e agnóstica da Inglaterra, e John Stuart Mill, Jeremy Bentham e Herbert Spencer se tornaram os pensadores mais influentes das universidades indianas até o final do século. As ideias do Ocidente serviram para gerar um ponto de vista secular e racional além de estimular movimentos sociais e religiosos, dentre os quais o mais notável é o movimento Brahmo Samaj fundado por Ram Mohan Roy. Nas últimas décadas do século, são Ramakrishna Paramahamsa de Calcutá renovou o interesse pelo misticismo, e muitos jovens racionalistas e céticos foram convertidos na fé exemplificada em sua pessoa. Ramakrishna ensinou, entre outras coisas, uma diversidade essencial de caminhos religiosos que levam ao mesmo objetivo, e esse ensino recebeu uma forma intelectual de Swami Vivekananda, seu famoso discípulo.
O período moderno da filosofia japonesa começou com a Restauração Meiji em 1868 e a subsequente abertura do Japão às influências ocidentais, incluindo a filosofia ocidental. De fato, uma nova palavra, "tetsugaku" "sabedoria" ("tetsu") e "aprendizado" ("gaku") foi inventada para traduzir o termo ocidental "filosofia". Embora o "tetsugaku" tenha sido inicialmente se limitado à reflexão acadêmica sobre a filosofia ocidental, com exclusão da filosofia japonesa, logo abarcou uma gama mais ampla de estudos. Uma investigação sobre o bem (1911), de Kitaro Nishida (1870-1945), foi a primeira grande obra a construir um novo sistema filosófico no estilo ocidental. À medida que seu pensamento evoluiu em trabalhos posteriores, Nishida se concentrou nos fundamentos experimentais e lógicos do julgamento e da ação, que ele chamou de "Nada" ("mu"). A filosofia de Nishida se baseou nas ideias da Ásia Ocidental e Oriental (especialmente "Zen"). Por exemplo, sua preocupação com a "experiência pura" veio do pensamento ocidental do filósofo pragmatista americano William James, enquanto o termo "Nada" veio do budismo. Após a Segunda Guerra Mundial, enquanto alguns filósofos permaneceram dentro dos parâmetros demarcados pela filosofia ocidental, outros desenvolveram filosofias a partir das ideias asiáticas tradicionais. O último grupo inclui filósofos budistas modernos, como Koshiro Tamaki (1915–99) e Hajime Nakamura (1911–99). Outros ainda continuam engajando outras tradições - ocidentais e asiáticas - na esperança de desenvolver "insights" filosóficos adequados a uma perspectiva global, e não apenas monocultural. Esses filósofos incluem Yasuo Yuasa (1925–2005) e Shizuteru Ueda (1926-2019), um pensador que defendia a tradição da escola de Quioto.
Categorias.
As questões filosóficas podem ser agrupadas em categorias. Esses agrupamentos permitem que os filósofos se concentrem em um conjunto de tópicos semelhantes e interajam com outros pensadores interessados nas mesmas perguntas. Os agrupamentos também facilitam a filosofia para a abordagem dos alunos. Os alunos podem aprender os princípios básicos envolvidos em um aspecto do campo sem ficarem sobrecarregados com todo o conjunto de teorias filosóficas.
Várias fontes apresentam esquemas categóricos diferentes. As categorias adotadas neste artigo visam amplitude e simplicidade. Esses cinco ramos principais podem ser separados em sub-ramos e cada sub-ramo contém muitos campos específicos de estudo.
Essas divisões não são exaustivas nem mutuamente exclusivas. (Um filósofo pode se especializar em epistemologia kantiana, estética platônica ou filosofia política moderna). Além disso, essas investigações filosóficas às vezes se sobrepõem umas às outras e a outras, como ciência, religião ou matemática.
Metafísica.
Metafísica (do grego antigo μετα ("metà"), depois de, além de tudo; e Φυσις ["physis"], natureza ou física) é o estudo da realidade, do ser, da natureza real do que quer que seja, dos primeiros princípios, às vezes chamado ontologia (embora alguns filósofos definam ontologia como um ramo da metafísica).
Um ponto importante de debate é entre realismo, que sustenta que existem entidades que existem independentemente de sua percepção mental e o idealismo, que sustenta que a realidade é mentalmente construída ou imaterial. A metafísica lida com o tópico da identidade. A essência é o conjunto de atributos que tornam um objeto o que é fundamentalmente e sem o qual perde sua identidade, enquanto que o acidente é uma propriedade que o objeto possui, sem a qual o objeto ainda pode reter sua identidade. Os particulares são objetos que se diz existir no espaço e no tempo, em oposição aos objetos abstratos, como números e universais, que são propriedades mantidas por vários detalhes.
Epistemologia.
Epistemologia é o estudo do conhecimento (do grego "episteme", conhecimento e "logos", teoria). Os epistemólogos se preocupam com uma série de tarefas, que podemos classificar em duas categorias; primeiro, devemos determinar a natureza do conhecimento; isto é, o que significa dizer que alguém sabe ou deixa de saber algo? Segundo, devemos determinar a extensão do conhecimento humano; isto é, quanto sabemos, ou podemos saber?
Os assuntos pertencentes à epistemologia são essencialmente o conhecimento proposicional ou conhecimento descritivo que engloba a crença, a verdade e a justificação, a natureza da justificação (internalismo ou o externalismo), a extensão do conhecimento humano, as fontes de conhecimento, o ceticismo (cartesiano ou de Hume), fontes do conhecimento (percepção, introspecção, memória, razão, testemunho, etc.), os limites do conhecimento (ceticismo e fechamento) etc...
Outros assuntos ou ramos da epistemologia incluem a epistemologia da virtude, uma coleção de abordagens recentes da epistemologia que dão aos conceitos de virtude epistêmica ou intelectual um papel importante e fundamental; a epistemologia naturalizada que enfatiza a aplicação de métodos, resultados e teorias das ciências empíricas; a epistemologia religiosa, a epistemologia moral, a epistemologia social, a epistemologia feminista.
Teoria dos valores.
Teoria dos valores é usado de pelo menos de três maneiras diferentes na filosofia, em seu sentido mais amplo, é um rótulo genérico usado para abranger todos os ramos da filosofia moral, da filosofia social e política, da estética e, às vezes, da filosofia feminista e da filosofia da religião — quaisquer que sejam as áreas da filosofia que abrangem algum Aspecto "avaliativo"; em seu sentido mais restrito, teoria do valor é usada para uma área relativamente estreita da teoria ética normativa, particularmente, mas não exclusivamente, que preocupa os consequencialistas. Nesse sentido restrito, "teoria do valor" é aproximadamente sinônimo de "axiologia" que pode ser pensada como uma área da filosofia que se preocupa principalmente em classificar o que é bom e o quão bom é. Por exemplo, uma questão tradicional de axiologia diz respeito a se os objetos de valor são estados psicológicos subjetivos ou estados objetivos do mundo.
Ética.
A ética (ou filosofia moral) consiste em sistematizar, defender e recomendar conceitos de comportamento certo e errado; atualmente os filósofos geralmente dividem as teorias éticas em três áreas gerais: a metaética, a ética normativa e a ética aplicada, a metaética investiga de onde vêm nossos princípios éticos e o que eles significam; se são apenas invenções sociais ou não, se envolvem mais do que expressões de nossas emoções individuais. As respostas metéticas a essas dúvidas se concentram nas questões das verdades universais, na vontade de Deus, no papel da razão nos julgamentos éticos e no significado dos próprios termos éticos; a ética normativa assume uma tarefa mais prática, que é chegar a padrões morais que regulam a conduta certa e errada; isso pode envolver a articulação dos bons hábitos que devemos adquirir, dos deveres que devemos seguir ou das consequências de nosso comportamento para os outros; por fim, a ética aplicada envolve o exame de questões controversas específicas, como aborto, infanticídio, direitos dos animais, preocupações ambientais, homossexualidade, pena de morte ou guerras.
Estética.
A estética é o estudo filosófico da beleza e do gosto, é relacionada à filosofia da arte, que se preocupa com a natureza da arte e com os conceitos nos quais as obras de arte individuais são interpretadas e avaliadas. É mais precisamente definida como o estudo sensório ou valores senso-emocionais, às vezes chamados de julgamento de sentimento e gosto. Suas principais divisões são a teoria da arte, teoria literária, teoria do cinema e teoria da música. Um exemplo da teoria da arte é discernir o conjunto de princípios subjacentes ao trabalho de um determinado artista ou movimento artístico, como a estética cubista.
O mais completo e influente dos primeiros teóricos da estética foi Immanuel Kant, no final do século XVIII; Kant às vezes é considerado um formalista na teoria da arte; isto é, alguém que pensa que o conteúdo de uma obra de arte não é de interesse estético.
Sociedade.
Alguns dos que estudam filosofia tornam-se filósofos profissionais, normalmente trabalhando como professores que ensinam, pesquisam e escrevem em instituições acadêmicas. No entanto, a maioria dos estudantes de filosofia acadêmica contribui mais tarde para direito, jornalismo, religião, ciências, política, negócios ou artes. Por exemplo, figuras públicas com formação em filosofia incluem comediantes Steve Martin e Ricky Gervais, cineasta Terrence Malick, Papa João Paulo II, cofundador da Wikipedia Larry Sanger, empreendedor de tecnologia Peter Thiele candidato a vice-presidente Carly Fiorina.
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846 | Folclore | Folclore
Folclore (do inglês "folklore": "conhecimento popular") é um gênero da cultura de origem popular, que representa a identidade social de uma comunidade através de atividades culturais que nasceram, individualmente ou coletivamente, e se desenvolveram com o povo (costumes e tradições) transmitidos entre gerações.
Folclorismo é uma especialidade da ciência que tem como objeto o estudo sobre o homem, os costumes e as tradições, em paralelo a antropologia (ciência que estuda todas as dimensões do homem e da humanidade).
Este tipo de cultura não é um conhecimento cristalizado, embora se enraíze em tradições que podem ter grande antiguidade, mas transforma-se no contato entre culturas distintas, nas migrações, e através dos meios de comunicação, onde se inclui recentemente a internet. Uma das funções culturais da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) é orientar as comunidades no sentido de administrar sua herança folclórica, cientes de que o progresso e as mudanças que ele provoca podem tanto enriquecer uma cultura como destruí-la para sempre.
Etimologia.
O termo folclore é um neologismo de "folk-lore", onde os vocábulos da língua inglesa "folk" significa "gente" ou "povo" e "lore" significa "conhecimento", passando a ter o significado de conhecimento tradicional de um povo. Usada primeira vez na carta enviada por arqueólogo Ambrose Merton - pseudônimo de Willian Thoms - endereçada à revista londrina “The Atheneum”, que a publicou em agosto de 1845. Em comemoração instituiu-se mundialmente o Dia do Folclore em 22 de agosto.
História.
O interesse pelo folclore nasceu no fim do século XVIII, quando estudiosos como os Irmãos Grimm e Herder iniciaram pesquisas sobre a poesia tradicional na Alemanha e "descobriu-se" a cultura popular como oposta à cultura erudita cultivada pelas elites e pelas instituições oficiais. Logo esse interesse se espalhou por outros países e se ampliou para o estudo de outras formas literárias, músicas, práticas religiosas e outros fatos chamados na época de "antiguidades populares". Neste início de sistematização os pesquisadores procuravam abordar a cultura popular através de métodos aplicados ao estudo da cultura erudita.
O termo folclore passou a ser utilizado então para se referir às tradições, costumes e superstições das classes populares. Posteriormente, o termo passou a designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes, dando ao folclore o "status" de história não escrita de um povo. Mesmo que o avanço da ciência e da tecnologia tenha levado ao descrédito muitas dessas tradições populares, a influência do pensamento positivista do século XIX contribuiu para dignificá-las, entendendo-as como elos em uma cadeia ininterrupta de saberes que deveria ser compreendida para se entender a sociedade moderna. Assim, com a conscientização de que a cultura popular poderia desaparecer devido ao novo modo de vida urbano, seu estudo se generalizou, ao mesmo tempo em que ela passou a ser usada como elemento principal em obras artísticas, despertando o sentimento nacionalista dos povos.
Depois de iniciar e frutificar na Europa, o estudo do folclore se estendeu ao Novo Mundo, chegando ao Brasil na segunda metade do século XIX através dos precursores Celso de Magalhães e Sílvio Romero, e aos Estados Unidos, onde em em 1888, William Wells Newell, Mark Twain, Rutherford Hayes e um grupo de outros interessados fundaram a Sociedade Americana de Folclore (do inglês "American Folklore Society"), que publica um jornal em atividade até hoje, o "Journal of American Folklore". A contribuição dos folcloristas norte-americanos ocorreu através de pesquisas apoiadas por universidades, definindo novas fronteiras metodológicas e lançando as bases para a fundação do folclorismo como uma nova especialidade científica, paralela à antropologia.
A sociedade contemporânea.
Atualmente o folclorismo está bem estabelecido e é reconhecido como uma ciência, a ponto de tornar seu objeto, a cultura popular ou folclore, instrumento de educação nas escolas e um bem protegido genericamente pela UNESCO e especificamente por muitos países, que inseriram muitos de seus elementos constituintes em seus elencos de bens de patrimônio histórico e artístico a serem protegidos e fomentados.
Considera-se hoje o folclorismo um ramo das Ciências Sociais e Humanas, e seu estudo deve ser feito de acordo com a metodologia própria dessas ciências. Como parte da cultura de uma nação, o folclore deve ter o mesmo direito de acesso aos incentivos públicos e privados concedidos às outras manifestações culturais e científicas. Segundo Von Gennep,
Apesar de existir uma metodologia específica para o estudo contemporâneo do folclore, já existe a consciência de que o impacto dos novos meios de comunicação sobre as culturas, populares ou eruditas, está a exigir uma reformulação nos conceitos e sistemas de análise. Já não são raros os elementos do povo que usam gravadores, câmeras de vídeo, internet ou outros meios de alta tecnologia para o registro e difusão das manifestações folclóricas, tornando a delimitação do campo de estudo e a caracterização do fato folclórico cada vez mais difíceis. Roberto Benjamin, presidente da Comissão Nacional de Folclore do Brasil em 2001, declarou que
Classificação do folclore.
Pode-se dividir as manifestações folclóricas em oito categorias:
Características do fato folclórico.
Para ser considerado um fato é folclórico, deve apresentar as seguintes características: tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade e aceitação coletiva.
Pode-se acrescentar a esses o critério da "espontaneidade", já que o fato folclórico não nasce de decretos governamentais nem dentro de laboratórios científicos; é antes uma criação surgida organicamente dentro do contexto maior da cultura de uma certa comunidade. Mesmo assim, em muitos locais já estão sendo feitos esforços por parte de grupos e instituições oficiais no sentido de se recriar inteiramente, nos dias de hoje, fatos folclóricos já desaparecidos, o que deve ser encarado com reserva, dado o perigo de falsificação do fato folclórico. Também deve ser "regional", ou seja, localizado, típico de uma dada comunidade ou cultura, ainda que similares possam ser encontrados em países distantes, quando serão analisados como derivação ou variante.
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848 | Protocolo de Transferência de Arquivos | Protocolo de Transferência de Arquivos
Protocolo de Transferência de Arquivos (do inglês: File Transfer Protocol, abreviado FTP) é um protocolo padrão/genérico independente de hardware sobre um modo de transferir arquivos/ficheiros e também é um programa de transferência. (Servidor FTP, neste caso, tradicionalmente aparece em letras minúsculas, por influência do programa de transferência de arquivos do Unix).
A transferência de dados em redes de computadores envolve normalmente transferência de arquivos e acesso a sistemas de arquivos remotos (com a mesma interface usada nos arquivos locais). O FTP é baseado no TCP, mas é anterior à pilha de protocolos TCP/IP, sendo posteriormente adaptado a este. É o padrão da pilha para transferir arquivos.
Visão geral do protocolo.
O protocolo é especificado na RFC 959, resumida logo a seguir.
Um cliente realiza uma conexão TCP para a porta 21 do servidor. Essa conexão, chamada de "conexão de controle", permanece aberta ao longo da sessão enquanto uma segunda conexão, chamada "conexão de dados", é estabelecida na porta 20 do servidor e em alguma porta do cliente (estabelecida no diálogo entre ambos) como requisitado para a transferência de arquivos. A conexão de controle é utilizada para administração da sessão (comandos, identificação) entre cliente e servidor utilizando um protocolo semelhante ao Telnet. Por exemplo, "RETR filename" iria transferir o arquivo especificado de um servidor para um cliente. Devido a essa estrutura de duas portas, FTP é considerado out-of-band, ao contrário de protocolos in-band, tal como HTTP.
O servidor responde na conexão de controle com três dígitos de código de estado em ASCII com uma mensagem de texto opcional. Por exemplo, "200" ou "200 OK" significa que o último comando obteve sucesso. Os números representam o número do código e o texto opcional representa as explicações ou parâmetros necessários. Uma transferência de arquivo em progresso, sobre uma conexão de dados, pode ser abortada utilizando uma mensagem de interrupção enviada sobre a conexão de controle.
FTP pode ser executado em modo ativo ou passivo, os quais determinam como a conexão de dados é estabelecida. No modo ativo, o cliente envia para o servidor o endereço IP e o número da porta na qual ele irá ouvir e então o servidor inicia a conexão TCP. Em situações onde o cliente está atrás de um firewall e inapto para aceitar entradas de conexões TCP, o modo passivo pode ser utilizado. O cliente envia um comando PASV para o servidor e recebe um endereço IP e um número de porta como resposta, os quais o cliente utiliza para abrir a conexão de dados com o servidor. Ambos os modos foram atualizados em Setembro de 1998 para adicionar suporte ao IPv6 e feitas algumas mudanças no modo passivo, tornando-o modo passivo estendido.
Durante a transferência de dados sobre a rede, quatro representações de dados podem ser utilizadas:
Para arquivos texto, são fornecidas opções para diferentes controles de formato e estrutura de registros. Esses recursos foram projetados para suporte à formatação Telnet ou .
A transferência de dados pode ser feita em qualquer um dos três modos a seguir:
Como ocorre a transferência de arquivos.
A transferência de arquivos dá-se entre um computador chamado "cliente" (aquele que solicita a conexão para a transferência de dados) e um servidor (aquele que recebe a solicitação de transferência).
O utilizador, através de software específico, pode selecionar quais arquivos enviar ou receber do servidor. Para existir uma conexão ao servidor,caso o servidor exija, o utilizador informa um nome de utilizador (ou "username", em inglês) e uma senha "password", bem como o nome correto do servidor ou seu endereço IP. Se os dados foram informados corretamente, a conexão pode ser estabelecida.
Acesso aos servidores FTP.
O acesso a servidores FTP pode ocorrer de dois modos: através de uma interface ou através da linha de comando, tanto usuários LINUX como usuários Windows podem acessar através dos dois modos. O modo linha de comando está presente em qualquer distribuição LINUX-like e Windows, através do telnet.
A partir de qualquer navegador credenciado (Internet Explorer, Firefox, ou mesmo no Windows Explorer), conforme a norma RFC1738 também é possível aceder a um servidor FTP digitando na barra de endereço:
codice_1
ou
codice_2
Um servidor FTP é o servidor que oferece um serviço de acesso a um disco rígido ou servidor de arquivos criados através de um protocolo FTP. É ele que armazena as informações ou dados enviados por um usuário e que estarão acessíveis por qualquer membro da internet.
Servidores FTP são muito usados quando se trabalha com grandes volumes de dados compartilhados pela rede. E eles são bastante úteis para gerenciar essas informações entre diversos clientes que solicitam o acesso a eles.
Modos e interfaces.
O protocolo subjacente ao FTP pode rodar nos modos interativo ou "batch". O cliente FTP fornece uma interface interativa, enquanto que o MIME e o HTTP usam-no diretamente. O protocolo permite a gravação e obtenção de arquivos, a listagem da pasta e a alteração da pasta de trabalho.
Comandos do cliente FTP.
Os servidores de FTP raramente mudam, mas novos clientes FTP aparecem com bastante regularidade. Estes clientes variam no número de comandos que implementam, a maioria dos clientes FTP comerciais implementam apenas um pequeno subgrupo de comandos FTP. Mesmo que o FTP seja um protocolo orientado a linha de comandos, a nova geração dos clientes FTP esconde esta orientação num ambiente gráfico, muitas vezes, muito desenvolvido.
A interface cliente do FTP do BSD UNIX é um padrão por si mesma, possuindo muitos comandos arcaicos como codice_3 ou codice_4, que hoje não têm uso. Os comandos mais usados são o codice_5, codice_6, codice_7,codice_8 e codice_9.
O FTP tem particularidades que são hoje pouco comuns. Depois da ativação do codice_10, é estabelecida uma conexão ao host remoto. Esta conexão envolve o uso da conta do usuário no host remoto, sendo que alguns servidores FTP disponibilizam "anonymous FTP".
Certos comandos são os que fazem a transferência bidirecional de arquivos, são eles:
Nota: alguns comandos podem não funcionar com o usuário sendo "anonymous", pois tal conta tem limitações de direitos a nível do sistema operacional.
Tradução de nomes de arquivos.
A sintaxe dos nomes dos arquivos pode ser incompatível entre diferentes Sistemas Operacionais. O UNIX usa 128 caracteres, maiúsculas e minúsculas, enquanto que o DOS usa 8 + 3 caracteres e apenas maiúsculas. Certos nomes não podem ser usados em alguns sistemas. Devido a isto tudo o BSD ftp define regras para a tradução de nomes.
Mensagens FTP.
O FTP permite dois modos de transferência de mensagens FTP: "texto" (com traduções apropriadas) ou "binário" (sem tradução). Cada mensagem do servidor inclui um identificador decimal de 3 dígitos (exemplo:codice_15). Estas mensagens podem ser vistas ou não, usando para isso o modo "verbose" ou "quiet", respectivamente.
Modo cliente-servidor do FTP.
O servidor remoto aceita uma "conexão de controle" do cliente local. O cliente envia comandos para o servidor e a conexão persiste ao longo de toda a sessão (tratando-se assim de um protocolo que usa o TCP).
O servidor cria uma "conexão de dados" para a transferência de dados, sendo criada uma conexão para cada arquivo transferido. Estes dados são transferidos do servidor para o cliente e vice e versa.
Os comandos estão separados dos dados e o cliente pode enviar comandos durante a transferência de dados. O encerramento da conexão indica o fim do arquivo.
Lista de Comandos FTPs.
Os comandos abaixo podem ser executados no FTP através da linha de comando. Os comandos do FTP podem ser abreviados, desde que não formem expressões ambíguas.
Os comandos podem estar abreviados. Seguem os comandos:
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853 | Fascismo | Fascismo
Fascismo é uma ideologia política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia. Embora os partidos e movimentos fascistas apresentem divergências significativas entre si, é possível apontar várias características em comum, entre as quais nacionalismo extremo, desprezo pela democracia eleitoral e pela liberdade política e económica, crença numa hierarquia social natural e no domínio das elites e o desejo de criar uma comunidade do povo em que os interesses individuais sejam subordinados aos interesses da nação. Oposto ao liberalismo, ao marxismo, ao socialismo e ao anarquismo, o fascismo posiciona-se na extrema-direita do espectro político tradicional.
O fascismo defende ser necessária a mobilização da sociedade sob um estado totalitário de partido único para preparar a nação para o conflito armado e responder de forma eficaz às dificuldades económicas. Acreditam que tal estado deva ser comandado por um líder forte, como um ditador ou governo militarista constituído por membros do partido fascista, capaz de forjar a unidade nacional e manter a ordem e estabilidade sociais. O fascismo rejeita a afirmação de que a violência é automaticamente negativa por natureza e acredita que a violência, guerra ou imperialismo são meios pelos quais se pode chegar ao rejuvenescimento da nação. Os fascistas defendem uma economia mista com o principal objetivo de atingir a autossuficiência económica do país por meio de políticas económicas protecionistas e intervencionistas.
O fascismo ganhou destaque na Europa na primeira metade do século XX. Os primeiros movimentos fascistas surgiram em Itália durante a I Guerra Mundial, tendo-se posteriormente expandido para outros países europeus. Os fascistas viam a I Guerra Mundial como uma revolução que tinha trazido alterações massivas na natureza da guerra, da sociedade, do estado e da tecnologia. O advento da guerra total e da mobilização total da sociedade tinham diluído a distinção entre civis e combatentes, tendo-se desenvolvido uma "cidadania militarista" em que todos os cidadãos estavam envolvidos no esforço militar. A guerra tinha tido como consequência o nascimento de um estado poderoso, capaz de mobilizar milhões de pessoas para a linha da frente e de organizar a produção económica e logística para as sustentar, e com autoridade sem precedentes para intervir nas vidas dos cidadãos.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, poucos partidos se têm declarado abertamente fascistas. O termo é usado frequentemente de forma pejorativa para descrever opositores políticos. Os partidos contemporâneos de extrema-direita com ideologias semelhantes ou inspirados nos movimentos fascistas do são denominados neofascistas.
Etimologia e símbolo.
O termo "fascismo" é derivado da palavra em latim "fasces", que designava um feixe de varas amarradas em volta de um machado, e que foi um símbolo do poder conferido aos magistrados na República Romana de flagelar e decapitar cidadãos desobedientes. Eram carregados por lictores e poderiam ser usados para castigo corporal e pena capital a seu próprio comando. Mussolini adotou esse símbolo para o seu partido, cujos seguidores passaram a chamar-se fascistas.
O simbolismo dos fasces sugeria "a força pela união": uma única haste é facilmente quebrada, enquanto o feixe é difícil de quebrar. Símbolos semelhantes foram desenvolvidos por diferentes movimentos fascistas. Por exemplo, o símbolo da Falange Espanhola é composto de cinco flechas unidas por uma parelha.
Definições.
Historiadores, cientistas políticos e outros estudiosos têm debatido por muito tempo a natureza exata do fascismo. Cada forma de fascismo é diferente, deixando muitas definições amplas ou restritas demais. Contudo, um dos aspectos mais consensuais entre os historiadores é o entendimento de que no fascismo um nacionalismo militante ocupa um lugar de primeiro plano. Também é largamente aceita a noção de que o fascismo promove um Estado autoritário, tirânico ou totalitário, um dos seus aspectos mais criticados.
Uma definição comum de fascismo se concentra em três grupos de ideias:
Roger Griffin descreve o fascismo como "um gênero de ideologia política cujo núcleo mítico em suas várias permutações é uma forma palingenética de ultranacionalismo populista". Griffin descreve a ideologia como tendo três componentes principais: "(i) o mito do renascimento, (ii) ultra-nacionalismo populista e (iii) o mito da decadência". O fascismo é "uma forma verdadeiramente revolucionária, anti-liberal, multiclasse, e, em última análise, nacionalista anti-conservadora" construído sobre uma complexa gama de influências teóricas e culturais. Ele distingue um período entre-guerras quando se manifestou através de "partidos políticos armados" liderados por elites populistas se opondo ao socialismo e ao liberalismo e prometendo uma política radical para salvar o país da decadência.
Robert Paxton vê o fascismo como "uma forma de comportamento político marcado pela preocupação obsessiva com o declínio da comunidade, humilhação ou vitimização e pelo culto compensatório da unidade, energia e pureza, na qual um partido de massas de militantes nacionalistas comprometidos, trabalhando em inquieta, mas colaborativamente efetiva com as elites tradicionais, abandona as liberdades democráticas e persegue com violência redentora e sem restrições éticas ou legais de limpeza interna e expansão externa".
Para Umberto Eco, o fascismo se baseia no culto a tradição, a rejeição ao modernismo, o culto à ação pela ação, na comparação forçada entre dissidência e traição, o medo da diferença, o apelo a frustração social, a obsessão pelo golpismo, na alta expectativa quanto a força do adversário, na consideração do pacifismo como envolvimento com o inimigo, o desprezo pelo fraco, a educação para o heroísmo, o patriarcalismo bélico, um populismo seletivo e o uso de novilíngua.
Emilio Gentile descreve o fascismo com os seguintes dez elementos constitutivos:
Stanley G. Payne descreve o fascismo em três setores de características:
Dessa forma, o fascismo clássico apresenta cinco características: é chauvinista, antiliberal, antidemocrático, antissocialista e anti-operário. Ainda assim, formas do neofascismo podem se apresentar como economicamente liberais.
Posição no espectro político.
O fascismo é comumente descrito como extrema-direita embora alguns autores têm encontrado dificuldade em colocar o fascismo em um espectro político esquerda-direita convencional. O fascismo foi influenciado pela esquerda e pela direita, conservadores e anti-conservadores, nacionais e supranacionais, racionais e anti-racionais. Um número de historiadores têm considerado o fascismo ou como uma doutrina centrista revolucionária, ou uma doutrina que mistura filosofias da esquerda e da direita, ou como ambas as coisas, não existindo assim, um puro centro, indistinto e não adjetivado, nem uma pura posição extrema.
O fascismo é considerado por alguns estudiosos como de extrema-direita por causa de seu conservadorismo social e meios autoritários de oposição ao igualitarismo. Roderick Stackleberg coloca o fascismo, incluindo o nazismo, que ele diz ser "uma variante radical do fascismo", do lado direito, explicando que "quanto mais a pessoa considerar a igualdade absoluta entre todos os povos para ser uma condição desejável, mais à esquerda vai estar no espectro ideológico. Quanto mais uma pessoa considera a desigualdade como inevitável ou mesmo desejável, o mais para a direita será".
O fascismo italiano gravitou para a direita no início de 1920. Um elemento importante do fascismo, que tem sido considerado como claramente de extrema-direita é o seu objetivo de promover o direito das pessoas alegadamente superiores terem dominação enquanto removendo elementos ditos inferiores da sociedade.
Benito Mussolini em 1919 descreveu o fascismo como um movimento que atingiria "contra o atraso da direita e a destrutividade da esquerda". Mais tarde, os fascistas italianos descreveram o fascismo como uma ideologia de extrema-direita em seu programa político "A Doutrina do Fascismo", afirmando: "Somos livres para acreditar que este é o século da autoridade, um século tendendo para a 'direita', um século fascista". No entanto, Mussolini esclareceu que a posição do fascismo no espectro político não era um problema sério para os fascistas e declarou que:
"Fascismo, sentado à direita, também poderia ter sentado na montanha do centro... Estas palavras, de qualquer caso, não tem um significado fixo e imutável: eles têm um assunto variável em localização, tempo e espírito. Nós não damos a mínima para essas terminologias vazias e desprezamos aqueles que são aterrorizados por essas palavras." Benito Mussolini
A posição de direita política no movimento fascista italiano no início de 1920 levou à criação de facções internas. A "esquerda fascista" incluiu Michele Bianchi, Giuseppe Bottai, Angelo Oliviero Olivetti, Sergio Panunzio e Edmondo Rossoni, que estavam comprometidos com o avanço do sindicalismo nacional como um substituto para o liberalismo parlamentar a fim de modernizar a economia e avançar os interesses dos trabalhadores e do povo.
A "direita fascista" incluiu membros do paramilitar "Squadristi" e ex-membros da "Associazione Nazionalista Italiana (ANI)". Os "squadristi" queriam estabelecer o fascismo como uma ditadura completa, enquanto os ex-membros ANI, incluindo Alfredo Rocco, procuravam um estado corporativista autoritário para substituir o Estado liberal na Itália, mantendo as elites existentes. No entanto, após acomodar a direita política, surgiu um grupo de fascistas monarquistas, que procuraram usar o fascismo para criar uma monarquia absoluta sob o rei Vítor Emanuel III da Itália.
Depois que Vítor Emanuel III forçou Mussolini a renunciar como chefe de governo e o colocou na prisão, em 1943, Mussolini foi resgatado por forças alemãs e então passou a depender da Alemanha para ter apoio. Mussolini e os demais fascistas leais fundaram a República Social Italiana, com Mussolini como chefe de Estado. Mussolini procurou radicalizar o fascismo italiano, declarando que o Estado fascista havia sido derrubado porque o fascismo italiano tinha sido subvertido pelos conservadores e a burguesia italianos. Em seguida, o novo governo fascista propôs a criação de conselhos de trabalhadores e participação nos lucros da indústria, no entanto a autoridade alemã que efetivamente controlava o território da República Social (norte da Itália), neste ponto, ignorou estas medidas e não procurou aplicá-las.
Uma série de movimentos fascistas descreveram-se como uma "terceira posição" fora do espectro político tradicional. O líder falangista espanhol José António Primo de Rivera disse:
"Basicamente, a direita significa a manutenção de uma estrutura econômica, ainda que uma injusta, enquanto a esquerda tenta subverter essa estrutura econômica, embora a subversão da mesma implicaria a destruição de muita coisa que vale a pena."
Na análise política contemporânea, pode-se caracterizar o fascismo por uma "especificidade perturbadora". Por um lado, trata-se de doutrina claramente antimarxista, antidemocrática e que no regime italiano gerou a perseguição da classe operária. Por outro lado, professou o antiliberalismo com uma retórica revolucionária anticapitalista e antiburguesa. Emilio Gentile, define o fascismo como um sincretismo ideológico.
Características.
Apesar de não haver uma definição universalmente aceite de fascismo, é possível enumerar uma série de características comuns dos movimentos fascistas entre 1922 e 1945, nomeadamente a oposição violenta a todas as formas de marxismo, a oposição à democracia parlamentar, a oposição ao liberalismo cultural e económico, as ambições totalitárias, os programas económicos conservadores ou corporativistas, as ambições imperialistas, o militarismo, a subordinação do indivíduo à vontade da nação, a mobilização em massa da população, a crença num líder forte com poder absoluto, crença num Novo Homem e glorificação da juventude, educação para a obediência inquestionável à autoridade e desencorajamento do pensamento crítico, o uso da violência para repressão política, nacionalismo extremo, o recurso a bodes expiatórios e demonização de grupos sociais, populismo, anti-intelectualismo, anti-urbanismo, sexismo e misoginia.
Totalitarismo.
O fascismo é deliberadamente e inteiramente não-democrático e anti-democrático. Uma das críticas mais comuns e pertinentes do fascismo é a tirania a si inerente. O fascismo promove a implementação de um estado totalitário em oposição à democracia liberal, rejeitando o pluripartidarismo e defendendo o estado de partido único. Os estados fascistas promoviam políticas de doutrinação social através de propaganda na educação e na comunicação social, ambas totalmente controladas pelo estado. A educação era concebida para glorificar o movimento fascista e informar os estudantes da sua importância histórica e política para a nação. Ao mesmo tempo, dissuadia qualquer ideia que não fosse consistente com as crenças do movimento fascista e ensinava aos estudantes a importância da obediência inquestionável ao estado fascista.
Ultranacionalismo.
Um dos fundamentos do fascismo é o ultranacionalismo, geralmente associado a um mito de renascimento nacional. Os fascistas viam a nação como uma entidade única e orgânica que unia as pessoas em função da sua ancestralidade e que atuava como força unificadora natural. O fascismo procurava resolver os problemas económicos, sociais e políticos por via de um renascimento nacional milenarista, exaltando a nação ou a raça acima de tudo o resto e promovendo o culto à unidade, força e pureza.
A generalidade dos movimentos fascistas europeus tinha uma concepção racista de povos não-europeus, que considerava inferiores. No entanto, as formas de racismo eram diferentes entre os vários movimentos fascistas europeus. A maior parte dos movimentos fascistas promovia o imperialismo, embora para alguns dos movimentos isso não fosse relevante nem possuíssem novas ambições imperialistas.
Populismo.
A propaganda fascista enaltecia o "povo" e apelava ao anti-intelectualismo populista, alegando que o cidadão comum seria capaz de julgar temas complexos do âmbito de especialistas. A propaganda Nazi apresentava Hitler como um "homem novo" com origem no povo. Ao contrário do populismo de esquerda, o populismo fascista não atribuía as dificuldades dos trabalhadores às grandes empresas ou aos grandes latifundiários nem defendia medidas como impostos progressivos, melhoria de salários, proteção dos sindicatos ou direito à greve. Pelo contrário, o nazismo protegia a riqueza das elites económicas exceto a dos judeus. Muita da ideologia do fascismo italiano era simplesmente o resultado de oportunismo sem princípios por parte de Mussolini. As suas posições alteravam-se constantemente de forma a reforçar as suas ambições pessoais, apesar de ele as apresentar como benéficas para a população.
Violência e mobilização de massas.
Um dos fundamentos do fascismo é a ênfase na ação direta, incluindo apoio à legitimidade da violência política. O fascismo considerava a ação violenta na política uma necessidade, a qual denominava "luta eterna". Esta ênfase no uso de violência política teve como consequência a criação de milícias privadas na maior parte dos movimentos fascistas, como os "Sturmabteilung" nazis ou os camisas negras da Itália fascista.
A base para o apoio do fascismo à ação violenta está associada ao darwinismo social. Os movimentos fascistas tinham em comum uma visão darwinista das nações, raças e sociedades. Alegavam que as nações e as raças deviam eliminar os indivíduos mais fracos em termos sociais e biológicos e as pessoas que consideravam "degeneradas". Ao mesmo tempo, promoviam um ideal de pessoas fortes capazes de sobreviver num mundo que viam como em perpétuo conflito nacional e racial.
Economia.
Os programas económicos da grande maioria dos movimentos fascistas eram extremamente conservadores e favoreciam muito mais a elite económica do que as classes média e operária. Nos governos liderados por partidos fascistas, a distribuição de riqueza e a estrutura tradicional de classes mantiveram-se praticamente inalteradas e as poucas alterações favoreceram apenas as antigas elites e as lideranças partidárias. Do ponto de vista económico, a propaganda fascista que alegava anti-capitalismo e "socialismo" nacional era uma fraude. Embora o fascismo se opusesse ao socialismo marxista e internacionalista e denunciasse o capitalismo parasitário, no seu programa económico estava disposto a acolher o capitalismo produtivo.
Os fascistas opunham-se simultaneamente ao socialismo internacionalista e ao capitalismo de livre mercado, alegando que as suas ideias correspondiam a uma terceira posição. Os regimes fascistas favoreciam o corporativismo e a colaboração de classes. Ao contrário dos socialistas, os fascistas acreditavam que a existência de desigualdade e hierarquia social era benéfica e, ao contrário dos capitalistas liberais, acreditavam que cabia ao estado mediar as relações entre classes.
O fascismo chegou ao poder tirando partido da crise política e económica das décadas de 1920 e 1930, em particular da profunda polarização que existia em países democráticos como o Reino de Itália ou a República de Weimar. Os parlamentos destes países eram dominados pela oposição entre partidos apoiantes do capitalismo de livre mercado e apoiantes do socialismo marxista, o que tornava difícil a formação de governos estáveis. Os fascistas exploraram esta situação como argumento contra a democracia, que eles viam como fraca e ineficaz. Os regimes fascistas geralmente ascenderam ao poder em tempos de crise, quando as elites económicas, latifundiários e empresários temiam que estivesse iminente uma revolução ou revolta popular. Os fascistas aliaram-se às elites económicas, prometendo-lhes proteger o seu estatuto social e suprimir qualquer eventual revolução. Como contrapartida, pediam às elites que subordinassem os seus interesses a um ambicioso projeto nacionalista. Como resultado, as políticas económicas fascistas geralmente protegiam a desigualdade e os privilégios ao mesmo tempo que defendiam uma ampla intervenção do estado na economia.
"Terceira posição" e capitalismo produtivo.
O fascismo promovia-se como sendo uma terceira posição, alternativa tanto ao socialismo internacional como ao capitalismo de livre mercado. Em vez disso, apoiavam aquilo a que chamavam de "capitalismo produtivo".
Embora o fascismo se opusesse às correntes de pensamento socialistas, em algumas situações apresentava-se como sendo um tipo de socialismo nacionalista de forma a evidenciar perante o público o compromisso com a solidariedade e união nacional. Os governos fascistas alegavam que essa solidariedade poderia ser conseguida através da resolução do conflito de classes.
O conceito de capitalismo produtivo teve origem nas ideias de Henri de Saint Simon, que sublinhavam a necessidade de solidariedade entre classes em vez de luta de classes. A sua concepção de agentes produtivos na economia incluía trabalhadores e patrões produtivos, por oposição à influência da aristocracia e especuladores financeiros improdutivos. Saint Simon combinava as críticas tradicionalistas de direita da Revolução Francesa com uma posição de esquerda na necessidade de associação ou colaboração entre os agentes produtivos da sociedade. Enquanto o Marxismo condenava o próprio capitalismo como um sistema de relações de propriedade exploradoras, o fascismo via como abusiva a natureza do controlo do crédito e do dinheiro no sistema capitalista contemporâneo.
Ao contrário do Marxismo, o fascismo não via o conflito de classes entre o proletariado e a burguesia como causa do materialismo histórico. Em vez disso, via os trabalhadores e os capitalistas produtivos como fazendo parte do mesmo grupo de indivíduos produtivos e que estavam em conflito com elementos da sociedade que consideravam parasitários ou corruptos, como partidos políticos , capital financeiro e pessoas fracas. Os líderes fascistas como Mussolini ou Hitler salientavam a necessidade de criar uma nova elite administrativa constituída por engenheiros e capitães da indústria, mas livre da liderança parasitária das indústrias. Hitler afirmava que o Partido Nazi apoiava o "bodenständigen Kapitalismus" ("capitalismo produtivo"), que era baseado no lucro gerado pelo próprio trabalho, ao mesmo tempo que condenava o capitalismo financeiro, cujo lucro era derivado da especulação.
A economia fascista defendia a necessidade de dirigismo económico, em que o governo subsidia empresas favoráveis e exerce uma forte influência no investimento, em vez de ter um papel meramente regulador. Embora a economia fascista se baseasse na propriedade privada e livre iniciativa, estas deviam atuar num contexto de serviço à nação. Os governos fascistas encorajavam a obtenção de lucro e ofereciam diversos benefícios aos privados, exigindo em troca que toda a atividade económica servisse os interesses da nação.
Protecionismo.
A ideologia económica fascista aceitava a motivação pelo lucro, mas sublinhava a necessidade da indústria em defender o interesse nacional acima do lucro privado. O fascismo defendia uma economia controlada pelo estado que aceitava uma mistura de propriedade privada e pública dos meios de produção. O planeamento económico dos governos fascistas incidia tanto sobre o setor público como privado. A prosperidade da iniciativa privada dependia da sua aceitação em se alinhar com os objetivos económicos da nação.
Ao mesmo tempo que aceitava a importância da riqueza material e do poder, o fascismo condenava o materialismo que alegava estar presente no comunismo e no capitalismo, e que criticava por não ter em conta o papel do espírito. Os fascistas criticavam o capitalismo não por causa da sua natureza competitiva ou defesa da propriedade privada, que os fascistas também apoiavam, mas sim devido ao seu materialismo, individualismo, alegada decadência burguesa e alegada indiferença à nação. Ao mesmo tempo, os fascistas criticavam o Marxismo pela sua defesa de uma identidade de classes materialista e internacionalista, que os fascistas viam como um ataque às ligações emocionais e espirituais da nação e uma ameaça à obtenção de genuína solidariedade nacional.
Um dos principais objetivos da maior parte dos governos fascistas era atingir a autossuficiência económica, denominada autarquia.
Direitos laborais.
O fascismo operava a partir de uma visão de Darwinismo social das relações humanas, em que o objetivo era promover indivíduos superiores e erradicar os que considerava fracos. Em termos económicos, isto significava promover os interesses de empresários bem sucedidos ao mesmo tempo que se destruía sindicatos e outras organizações que promoviam o interesse dos trabalhares.
Os governos fascistas ilegalizaram os movimentos sindicais e substituíram-nos por organizações denominadas "sindicatos nacionais", controlados diretamente pelo governo, o que impedia os trabalhadores de realizar qualquer ação eficaz. A inscrição nestas organizações era obrigatória e os líderes eram nomeados pelo partido fascista, e não pelos associados. Os fascistas alegavam que estas organizações serviriam para harmonizar os interesses dos trabalhadores e patrões. No entanto, na prática estas organizações serviam apenas os interesses dos grandes empresários, que assim conseguiam pressionar o partido a nomear os líderes que pretendiam.
De forma a manter e aumentar os lucros da indústria, os estados fascistas eliminaram a possibilidade de protestos em massa e determinaram cortes salariais direta ou indiretamente. As greves foram estritamente proibidas e qualquer grupo de trabalhadores que parasse de trabalhar em simultâneo era condenado à prisão.
O governo fascista italiano posterior à I Guerra Mundial era vincadamente anti-socialista, tendo banido todas as organizações que considerava marxistas e substituído todos os sindicatos por uniões corporativas controladas pelo governo. Apesar da retórica anti-capitalista, aos grandes industriais era permitido gerir as empresas com um mínimo de interferência do estado, Mussolini reduziu os impostos para os mais ricos, foi decretada a redução salarial, foi abolido o limite de oito horas na jornada de trabalho e permitida a formação de cartéis. Entre 1928 e 1932 os salários reais em Itália diminuíram para metade. Da mesma forma, embora Hitler alegasse que o Partido Nazi era mais "socialista" que os rivais conservadores, na realidade opôs-se a qualquer nacionalização e aboliu os sindicatos. A retórica anti-capitalista aplicava-se apenas aos capitalistas judeus, enquanto aos não-judeus era permitido continuar a gerir as empresas e manter a sua riqueza. Embora o desemprego na Alemanha tenha diminuído durante o período nazi, esta diminuição foi conseguida com recurso ao recrutamento em massa para o exército, salários mais baixos, por mais horas e em piores condições. Embora muitos trabalhadores que habitualmente votavam à esquerda tenham sido enganados pela propaganda dos partidos fascistas antes de estes subirem ao poder, muitos mantiveram-se leais aos partidos antifascistas tradicionais à esquerda.
Alegada igualdade social.
Na retórica política do fascismo, os problemas económicos associados à grande disparidade de riqueza entre os ricos e os pobres eram considerados um problema apenas de preconceito social. Em vez de atacar a concentração de riqueza das elites e de promover a redistribuição de riqueza, os fascistas alegavam que estas diferenças eram subjetivas e pouco importantes. Para o fascismo, o conceito de "socialismo" consiste em haver convivência e camaradagem entre ricos e pobres, e não na distribuição de riqueza.
Os fascistas rejeitavam o igualitarismo, alegando que preservava os mais fracos, e promoviam ideias e políticas de Darwinismo social. Por princípio, o fascismo rejeitava a noção de assistência social, alegando que "encorajava a preservação dos degenerados e dos mais fracos". O Partido Nazi condenava não só a assistência social da República de Weimar, mas toda e qualquer filantropia e instituições de caridade, por apoiarem pessoas que eles viam como inferiores e fracas que deveriam ser erradicadas no processo de seleção natural. No entanto, face ao acentuado desemprego e pobreza gerados pela Grande Depressão, para manter o apoio popular os Nazis viram-se forçados a criar instituições de caridade para ajudar os alemães de raça ariana. Face à contradição, os nazis alegavam que isto se tratava de entreajuda racial, e não de caridade indiscriminada ou estado social universal. Desta forma, os programas nazis de assistência social eram organizados como instituições quase privadas que recebiam donativos privados, embora na prática quem se recusasse a doar enfrentasse graves consequências. Ao contrário da assistência social universal da República de Weimar e das instituições cristãs, a assistência social dos nazis discriminava explicitamente com base na raça e da adesão ou não ao ideais do partido nazi. Os nazis apoiavam apenas aqueles que consideravam racialmente puros, capazes de trabalhar, politicamente confiáveis e capazes de se reproduzir, excluindo os não-arianos e os que consideravam pouco trabalhadores, associais ou geneticamente fracos. Apesar do apoio a milhões de arianos, as organizações de apoio nazis eram temidas e impopulares por recorrerem a questionamentos e monitorização intrusivos para avaliarem quem era digno de apoio ou não.
Privatizações.
Os governos fascistas estiveram entre os primeiros em tempos modernos a levar a cabo privatizações em grande escala. Em várias ocasiões os governos fascistas italiano e alemão privatizaram empresas públicas. Estas privatizações representam uma inversão das políticas dos governos democráticos que os precederam. Os governos democráticos tinham nacionalizado uma série de empresas, que os fascistas decidiram privatizar. Ao fazê-lo, estavam a ir contra as principais tendências económicas do seu tempo, numa época em que a maior parte dos governos ocidentais estavam a aumentar a propriedade pública. As políticas fascistas de privatização eram motivadas pela necessidade de obter o apoio da elite industrial e aumentar as receitas do governo de forma a equilibrar os orçamentos.
Sexualidade.
O fascismo glorifica a juventude, tanto no sentido físico da idade como no sentido espiritual como associação à virilidade e compromisso com a ação. O fascismo identifica a juventude como o tempo fundamental para o desenvolvimento moral das pessoas que irão afetar a sociedade. O próprio hino político dos fascistas italiano era denominado "Giovinezza" ("Juventude").
O fascismo italiano procurava aquilo a que denominava a "higiene moral" da juventude, sobretudo no que diz respeito à sexualidade. A Itália fascista promovia aquilo que considerava comportamento sexual normal na juventude, ao mesmo tempo que denunciava aquilo a que considerava comportamentos sexuais desviantes. Condenava como comportamentos sexuais desviantes a pornografia, a maior parte das formas de controlo de natalidade e métodos contraceptivos (à exceção do preservativo), a homossexualidade e a prostituição. No entanto, a aplicação das leis que proibiam estes comportamentos era errática e em muitos casos as autoridades fechavam os olhos. A Itália fascista via a promoção da excitação sexual masculina antes a puberdade como a causa da criminalidade entre os jovens do sexo masculino, declarando a homossexualidade uma doença e criando uma campanha para diminuir a prostituição entre mulheres jovens.
Os nazis alegavam que a homossexualidade era degenerada, efeminada, pervertida e que subvertia a masculinidade por não permitir a reprodução. Alegavam que a homossexualidade podia ser curada através de terapia. Os homossexuais assumidos eram internados em campos de concentração nazis.
Papel da mulher.
Para Mussolini, o principal papel da mulher na sociedade era o da maternidade. De forma a aumentar a taxa de natalidade, o governo italiano oferecia incentivos financeiros às mulheres que criassem famílias numerosas e promulgou políticas destinadas a diminuir o número de mulheres em situação de emprego. O fascismo italiano consagrava o papel das mulheres como "reprodutoras da nação" e realizava cerimónias rituais para honorar esse papel na nação italiana. Em 1934, Mussolini declarou que o emprego das mulheres era um dos principais aspectos do problema do desemprego e que, para as mulheres, trabalhar era incompatível com a maternidade e chegou a afirmar que a solução para o desemprego dos homens era o êxodo da mulher da força de trabalho.
O governo da Alemanha Nazi incentivava firmemente a mulher a ficar em casa a cuidar dos filhos e governar a casa. O governo chegou a atribuir uma medalha às mães racialmente puras que tivessem quatro ou mais filhos. A taxa de desemprego diminuiu substancialmente, principalmente devido à produção de armas e ao facto das mulheres terem sido mandadas para casa de forma a que os homens pudessem ocupar o seu posto de trabalho. A propaganda Nazi por vezes promovia relações sexuais antes do casamento e extraconjugais, filhos fora do casamento e divórcio, embora em outras vezes se opusesse a tais comportamentos. Os nazis despenalizaram o aborto apenas para os casos em que os fetos possuíssem anomalias genéticas ou pertencessem a uma raça não aprovada pelo governo. Para os alemães arianos, o aborto era estritamente proibido. Para os não-arianos, o aborto era muitas vezes obrigatório.
História.
"Fin de siècle" a fusão do maurrasismo com sorelianismo (1880–1914).
As raízes ideológicas do fascismo foram traçados em 1880, e em particular o tema do "fin de siècle" da época. O tema foi baseado na revolta contra o materialismo, o racionalismo, o positivismo, a sociedade burguesa e a democracia. a geração do "fin-de-siècle" apoiou o emocionalismo, o irracionalismo, o subjetivismo e o vitalismo. A mentalidade do "fin-de-siècle" viu a civilização como em crise e que exigia uma solução massiva e total; as escolas intelectuais do "fin-de-siècle" considerava o indivíduo como apenas uma parte da colectividade maior, o que não deveria ser visto como uma soma numérica atomizada de indivíduos eles condenaram o individualismo racionalista da sociedade liberal e a dissolução dos laços sociais na sociedade burguesa.
O ponto de vista do "fin-de-siècle" foi influenciado por vários desenvolvimentos intelectuais, como o darwinismo; a estética de Wagner; o racialismo de Arthur de Gobineau; a psicologia de Gustave Le Bon; e filosofias de Friedrich Nietzsche, Fiódor Dostoiévski e Henri Bergson. O darwinismo social, que ganhou ampla aceitação, não fazia distinção entre a vida física e social, visto a condição humana como sendo uma luta incessante para atingir a sobrevivência do mais apto. O darwinismo social desafiou alegação de escolha deliberada e racional do positivismo como o comportamento determinante dos seres humanos, o darwinismo social concentrou-se em hereditariedade, raça e meio ambiente e a ênfase na identidade do biogrupo e o papel das relações orgânicas dentro das sociedades promoveram legitimidade e apelo para o nacionalismo. Novas teorias da psicologia social e política também rejeitaram a noção de comportamento humano de ser governado por escolha racional, e, em vez alegou que a emoção era mais influente em questões políticas do que a razão. O argumento de Nietzsche de que "Deus Está Morto" coincidiu com o ataque à "mentalidade de rebanho" do cristianismo, a democracia e o coletivismo moderno, o seu conceito de "übermensch" ("ver: Novo Homem") e sua defesa da vontade de poder como um instinto primordial, tiveram grandes influências sobre muitos da geração "fin-de-siècle". A afirmação de Bergson da existência de um "élan vital" ou instinto vital centrava-se na livre escolha e rejeitou os processos do materialismo e do determinismo, isto desafiou o marxismo.
Gaetano Mosca em sua obra "A classe dominante" (1896) desenvolveu a teoria que afirma que em todas as sociedades uma "minoria organizada" vai dominar e governar sobre a "maioria desorganizada". Mosca afirma que existem apenas duas classes na sociedade "o governo" (a minoria organizada) e os "governados" (a maioria desorganizada). Ele afirma que a natureza organizada da minoria organizada a torna irresistível a qualquer indivíduo da maioria desorganizada.
O conceito de propaganda da escritura do anarquista Mikhail Bakunin , salientou a importância da ação direta como o principal meio das políticas, incluindo a violência revolucionária, isso se tornou popular entre os fascistas que admirava o conceito e o adotaram como parte do fascismo.
O francês nacionalista e reacionário monárquico Charles Maurras influenciou o fascismo. Maurras promoveu o que chamou de "nacionalismo integral", apelando para a unidade orgânica de uma nação, Maurras insistiu que um poderoso monarca era um líder ideal de uma nação. Maurras desconfiava do que ele considerava a mistificação democrática da vontade popular que criaria um sujeito coletivo impessoal. Ele alegou que um poderoso monarca era um soberano personificada que poderia exercer a autoridade para unir as pessoas de uma nação. O "nacionalismo integral" de Maurras foi idealizado pelos fascistas, mas modificado para uma forma revolucionária modernizada.
O revolucionário francês e sindicalista Georges Sorel promoveu a legitimidade da violência política em sua obra "Reflexões sobre Violência" (1908) e outras obras em que defendeu a ação sindicalista radical para alcançar uma revolução e derrubar o capitalismo e a burguesia através de greve geral. Em "Reflexões sobre Violência", Sorel enfatizou a necessidade por uma religião política revolucionária. Além disso, em sua obra "As ilusões do progresso", Sorel denunciou a democracia como reacionária, dizendo que "nada é mais aristocrático do que a democracia". Em 1909, após o fracasso de uma greve geral sindicalista na França, Sorel e seus partidários deixaram a esquerda radical e foram para a direita radical, onde procuraram mesclar catolicismo militante e patriotismo francês, com seus pontos de vista - defendendo patriotas anti-republicanos cristão francês como ideais revolucionários. Inicialmente Sorel tinha sido oficialmente um revisionista do marxismo, mas em 1910 anunciou o seu abandono da literatura socialista e afirmou, em 1914, usando um aforismo de Benedetto Croce que "o socialismo está morto" por causa da "decomposição do marxismo". Maurras teve interesse em fundir seus ideais nacionalistas com o sindicalismo soreliano como um meio de enfrentar a democracia. Maurras afirmou "um socialismo liberado do elemento democrático e cosmopolita se encaixa no nacionalismo como uma bela luva se encaixa uma bela mão".
A fusão do nacionalismo maurassiano com o sindicalismo de Sorel influenciou o radical e nacionalista italiano Enrico Corradini. Corradini falou da necessidade de um movimento de sindicalismo nacional, liderado por aristocratas elitistas e anti-democratas que compartilhavam um compromisso sindicalista revolucionário para dirigir a ação e desejosos por lutar. Corradini falou da Itália como uma "nação proletária" que precisava perseguir o imperialismo, a fim de desafiar a "plutocracia" francesa e britânica. Pontos de vista de Corradini faziam parte de um conjunto mais amplo de percepções dentro da direita Associação Nacionalista Italiano (ANI), que alegou que o atraso econômico da Itália foi causado pela corrupção da sua classe política, o liberalismo e a divisão causada por um "socialismo ignóbil", a ANI manteve laços e influências entre os conservadores, os católicos e a comunidade empresarial. Sindicalistas nacionais italianos realizaram um conjunto de princípios comuns: a rejeição de valores burgueses , a democracia, o liberalismo, o marxismo, o internacionalismo e o pacifismo, bem como a promoção de heroísmo, vitalismo e violência. A ANI alegou que a democracia liberal não era mais compatível com o mundo moderno e defendeu um Estado forte e o imperialismo, afirmando que os seres humanos são naturalmente predatórios e que as nações estavam em uma luta constante, no qual apenas os mais fortes poderiam sobreviver.
O futurismo foi ao mesmo tempo um movimento artístico-cultural e, inicialmente, um movimento político na Itália, liderado por Filippo Tommaso Marinetti, fundador do Manifesto Futurista (1908), defendeu as causas do modernismo, a ação e a violência política como elementos necessários de política, enquanto denunciava o liberalismo e a política parlamentar. Marinetti rejeitou a democracia convencional com base na regra da maioria e igualitarismo, promovendo uma nova forma de democracia que descreveu em sua obra "A concepção futurista da democracia".
O futurismo influenciou o fascismo em sua ênfase em reconhecer a natureza viril da ação violenta e a guerra como sendo necessidades da civilização moderna. Marinetti promoveu a necessidade de treinamento físico aos jovens, dizendo que na educação masculina, a ginástica deve ter precedência sobre os livros, e defendia a segregação dos sexos sobre esta matéria, em que a sensibilidade feminina não deve entrar na educação de homens que Marinetti alegou devem ser "animados, belicosos, musculares e violentamente dinâmicos".
Primeira Guerra Mundial e após (1914-1929).
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial em agosto de 1914, a esquerda política italiana ficou gravemente dividida sobre sua posição a respeito da guerra. O Partido Socialista Italiano (PSI) se opôs à guerra por razões de internacionalismo, mas um número de sindicalistas revolucionários italianos apoiaram a intervenção contra a Alemanha e a Áustria-Hungria, alegando que os seus regimes reacionário precisavam ser derrotados para garantir o sucesso do socialismo. Corradini apresentou a mesma necessidade para a Itália como uma "nação proletária" de derrotar a Alemanha reacionária de uma perspectiva nacionalista. As origens do fascismo italiano resultou dessa divisão, primeiro com Angelo Oliviero Olivetti formando um pró-intervencionismo "fasci" chamado "Fasci d'Azione Internazionalista" em outubro de 1914. Benito Mussolini após ser expulso de sua posição como editor-chefe do jornal "Avanti!" do PSI por sua postura pró-Entente, aderiu à causa intervencionista em um "fasci" separado. O termo "fascismo" foi usado pela primeira vez em 1915 por membros do movimento de Mussolini, o "Fasci d'Azione Rivoluzionaria".
Os fascistas viram a Primeira Guerra Mundial como uma forma para trazer mudanças revolucionárias na natureza da guerra, da sociedade, do Estado e da tecnologia, como o advento da guerra total e da mobilização em massa havia quebrado a distinção entre civis e combatentes, assim como civis tiveram um papel crítico na produção econômica para o esforço de guerra e, assim, surgiu uma "cidadania militar", no qual todos os cidadãos estavam envolvidos com os militares, de alguma maneira durante a guerra. A Primeira Guerra Mundial resultou na ascensão de um Estado forte, capaz de mobilizar milhões de pessoas para servir na linha de frente, ou proporcionar a produção econômica e de logística para apoiar aqueles na linha de frente, bem como tendo autoridade precedente para intervir na vida dos cidadãos . Os fascistas viram o desenvolvimentos tecnológico do armamento e a mobilização total do estado de sua população na guerra como simbolizando o início de uma nova era de fusão do poder do Estado com a massa política, a tecnologia e particularmente o mito da mobilização que sustentavam havia triunfado sobre o mito do progresso e da era do liberalismo.
Um grande evento que muito influenciou o desenvolvimento do fascismo foi a Revolução de Outubro de 1917, em que bolcheviques comunistas liderados por Vladimir Lenin tomaram o poder na Rússia. Em 1917, Mussolini como líder da "Fasci d'Azione Rivoluzionaria" elogiou a Revolução de Outubro, no entanto Mussolini tornou-se menos impressionado com Lenin, ao considerá-lo como apenas uma nova versão do czar Nicolau II. Depois da Primeira Guerra, os fascistas comumente fizeram campanhas com agendas anti-marxistas, no entanto, tanto o bolchevismo e o fascismo mantiveram semelhanças ideológicas: ambos defendiam uma ideologia revolucionária, ambos acreditavam na necessidade de uma elite de vanguarda, ambos têm desprezo pelos valores burgueses e ambos tinham ambições totalitárias. Na prática, o fascismo e o bolchevismo comumente enfatizaram a ação revolucionária, as teorias de nação proletária, os estados de partido único e partidos-exércitos. Com o antagonismo entre os marxistas anti-intervencionistas e fascistas pró-intervencionistas completos até o final da guerra, os dois lados se tornaram irreconciliáveis. Os fascistas se apresentavam como anti-marxistas e ao contrário dos marxistas.
O evento seguinte a influenciar os fascistas na Itália foi o ataque a "Fiume" (atual Rijeka) pelo nacionalista italiano Gabriele d’Annunzio e da fundação da "Carta de Carnaro" em 1920.
Com a década de 1920, a atividade grevista de militantes por parte dos trabalhadores industriais atingiu o seu auge na Itália, onde 1919 e 1920 ficaram conhecidos como os "Anos Vermelhos". Mussolini e os fascistas se aproveitaram da situação, aliando-se com empresas industriais e atacando os trabalhadores e camponeses em nome da preservação da ordem e da paz interna na Itália.
Os fascistas identificaram seus principais adversários como uma maioria de socialistas de esquerda que se opunham a intervenção na Primeira Guerra Mundial. Os fascistas e a direita política italiana tinham em comum: o desprezo pelo marxismo, a consciência de descontentamento das classes e ambos acreditavam em um governo de elites; fascistas ajudaram a campanha anti-socialista se aliando a outros partidos e à conservadora direita em um esforço mútuo para destruir o Partido Socialista Italiano e organizações sindicais comprometidas com a identidade de classe acima da identidade nacional.
Antes da acomodação do fascismo na direita política, o fascismo foi um pequeno movimento urbano italiano que tinha cerca de mil membros; depois de sua associação com a direita, o número de membros passou de 250 000 por volta de 1921.
Aumento internacional do fascismo e a Segunda Guerra Mundial (1929-1945).
Os movimentos fascistas cresceram com força no resto da Europa. O fascista húngaro Gyula Gömbös subiu ao poder como primeiro-ministro da Hungria em 1932 e tentou consolidar seu Partido de Unidade Nacional em todo o país, ele criou a jornada de trabalho de oito horas/dia, uma semana de quarenta e oito horas de trabalho para a indústria e procurou consolidar uma economia corporativista e perseguiu reivindicações irredentistas nos vizinhos da Hungria. O movimento fascista Guarda de Ferro da Romênia cresceram em apoio político a partir de 1933, ganhando representatividade no governo romeno e um membro da Guarda de Ferro romena assassinou o primeiro-ministro Ion Duca. Em 6 de fevereiro de 1934, a França enfrentou a maior crise política interna desde o Caso Dreyfus, quando os fascistas do "Mouvement Franciste" e vários movimentos de extrema-direita se revoltaram "em massa" em Paris contra o governo francês, resultando em grande violência política. Uma variedade de governos para-fascistas que emprestavam elementos do fascismo foram formados durante a Grande Depressão, incluindo os da Grécia, Lituânia, Polônia e Iugoslávia.
Os movimentos fascistas chegaram ao poder de forma endógena (ou seja, sem imposição externa) em alguns países mas não em outros. Os diferentes níveis de desenvolvimento econômico e a consolidação de um regime político dentro de um sistema político são bons indicadores para isso: as democracias estáveis e economicamente desenvolvidas, com uma identidade nacional consolidada, não tiveram movimentos fascista em potencial e de sucesso. Em contraste, a Alemanha e a Itália tiveram fraquezas nessas áreas: as unificações nacionais eram muito recentes (1870), as economias industrializadas estavam atrasadas (em relação à Europa). A Itália era ainda um país relativamente atrasado. A Alemanha havia introduzido um desenvolvimento econômico e social marcadamente acelerado (cerca de 1914, às vésperas da Primeira Guerra Mundial) veio em condições particularmente duras através do Tratado de Versalhes, resultando em turbulência econômica séria durante todo o período entre guerras e um profundo ressentimento. No entanto, o triunfo do nazismo teve que esperar o pior da Grande Depressão depois da Terça-feira Negra de 1929.
Pós-Segunda Guerra Mundial (1945 - presente).
Na sequência da Segunda Guerra Mundial, a vitória dos Aliados sobre as potências do Eixo levou ao colapso vários regimes fascistas na Europa. O Julgamento de Nuremberg condenou vários líderes nazistas por crimes contra a humanidade, envolvendo o Holocausto. No entanto, ainda permaneceram várias ideologias e governos que foram ideologicamente ligados ao fascismo.
O Estado de um partido só do falangista Francisco Franco na Espanha ficou oficialmente neutro durante a Segunda Guerra Mundial e sobreviveu ao colapso das Potências do Eixo. A ascensão de Franco ao poder tinha sido assistida diretamente pelos militares da Itália fascista e da Alemanha nazista durante a Guerra Civil Espanhola, e tinha levado voluntários a lutar ao lado da Alemanha nazista contra a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Após a II Guerra Mundial e de um período de isolamento internacional, o regime de Franco normalizou as relações com as potências ocidentais durante a Guerra Fria, até a morte de Franco, em 1975, e a transformação da Espanha em uma democracia liberal.
O historiador Robert Paxton observa que um dos principais problemas na definição do fascismo é que ele foi amplamente imitado. Paxton diz: "No apogeu do fascismo, na década de 1930, muitos regimes que não eram funcionalmente fascistas pediam emprestados elementos de decoração fascista para se emprestarem uma aura de força, vitalidade, e mobilização de massas". Paxton observa que Oliveira Salazar "esmagou o fascismo português depois de ter copiado algumas das suas técnicas de mobilização popular". Segundo Paxton, enquanto Franco submeteu o partido fascista espanhol ao seu controlo pessoal, Salazar aboliu completamente, em Julho de 1934, o mais próximo que Portugal tinha de um autêntico movimento fascista, os nacional-sindicalistas de Rolão Preto ... Salazar preferiu controlar a sua população através de instituições tão "orgânicas" tradicionalmente poderosas em Portugal como a Igreja. O regime de Salazar não era apenas não-fascista, mas "voluntariamente não-totalitário", preferindo deixar aqueles dos seus cidadãos que se mantiveram fora da política "viver habitualmente". Vários historiadores tendem a ver o Estado Novo como para-fascista por natureza, possuindo tendências fascistas mínimas. Outros historiadores, como Fernando Rosas e Manuel Villaverde Cabral, pensam que o Estado Novo deve ser considerado fascista.
Em várias democracias europeias coincide com a presença de extrema direita ou personalidades com um passado nazista ou fascista ganharam posições políticas Kurt Waldheim para a presidência da Áustria (1996) ou a entrada no governo de Jörg Haider, do "Freiheitliche Partei Österreichs" (Partido Liberal de Austria, FPÖ), em 1999.
O Movimento Popular Nacional Hrisi Avgi ("Aurora Dourada" em grego) estando atualmente no parlamento grego. O "Aurora Dourada" opõe-se à imigração e conquistou 18 dos 300 assentos no parlamento em junho de 2012. Nas eleições municipais de novembro de 2010, a Aurora Dourada obteve 5,3% dos votos em Atenas. Em alguns bairros o partido chegou a obter 20% dos votos.
Outra ideologia fortemente influenciado pelo fascismo é o baathismo. O baathismo é uma ideologia árabe revolucionária que busca a unificação de todas as terras afirmadas árabes em um único Estado árabe. Zaki al-Arsuzi, um dos principais fundadores, foi fortemente influenciado e também solidário ao fascismo e ao nazismo. Vários colaboradores mais próximos do ideólogo chave do baathismo, Michel Aflaq, admitiram que Aflaq tinha sido inspirado diretamente por certos teóricos fascistas e nazistas.
O Iraque Baathista sob Saddam Hussein objetivou a limpeza étnica ou a liquidação das minorias, guerras expansionistas contra o Irã e Kuwait, e gradualmente substituiu o pan-arabismo por um nacionalismo iraquiano que enfatizava a conexão do Iraque às glórias dos antigos impérios da Mesopotâmia, incluindo a Babilônia. Abertamente promoveu o sentimento anti-persa e anti-semita, como o endosso da obra de Khairallah Talfah "O Partido Baath do Iraque Deus não deveria ter criado: os persas, os judeus e as moscas" (1940), durante a Guerra Irã-Iraque, incluindo outros trabalhos alegando uma conspiração judaico-persa contra o Iraque que remontaria aos tempos antigos, quando Nabucodonosor II perseguiu os judeus na Babilônia, enquanto a Pérsia permitiu que os judeus da Babilônia tivessem refúgio em suas terras. O historiador do fascismo Stanley Payne disse sobre o regime de Saddam Hussein: "Provavelmente nunca haverá uma reprodução do Terceiro Reich, mas Saddam Hussein chegou mais perto do que qualquer outro ditador desde 1945".
Fascismo no mundo.
Não existia uma completa homogeneidade entre os diferentes movimentos e regimes fascistas, que de fato insistiam em enfatizar peculiaridades nacionais, sua originalidade e suas raízes endógenas. Por outro lado, em algumas ocasiões facções nazistas e fascistas competiram violentamente dentro do mesmo país (como na Áustria, "ver: Austrofascismo"). Quanto às relações internacionais, as vicissitudes do equilíbrio europeu criaram um entendimento estratégico entre Hitler e Mussolini, mas poderia facilmente ter acontecido de outra forma, o que de fato tentou explicitamente a diplomacia britânica. Em outros casos, manteve-se uma neutralidade benevolente que não escondia as simpatias , ou o confronto aberto contra outro regime fascista (caso da Grécia).
A ideologia e os regimes fascistas ecoaram em quase todos os países europeus e latino-americanos ("ver: Fascismo na América do Sul").
Segundo Eric J. Hobsbawm:
De forma muito mais evidente, surgiram semelhanças entre a "Fascio" italiana e organizações caracterizadas pelo que pode ser chamado de liturgia ou parafernália fascista: movimentos de massa, organizados e disciplinados, a saudação romana com o braço levantado, símbolos e slogans, manifestações de rua agressivas, o uso de chicotes e uniformes paramilitares, incluindo camisas de uma cor: negra (Itália, SS na Alemanha, Inglaterra, Finlândia), parda (SA na Alemanha), azul (Espanha, Portugal, França, Irlanda, Canadá, China), verde (Romênia, Hungria, Brasil) dourada (México) ou prata ("Silver Legion of America", Estados Unidos). No Império do Japão, a "Kōdōha" ("facção do caminho imperial"), ainda que nunca chegasse a formar um partido, interveio politicamente e tentou, sem sucesso, tomar o poder mediante golpes de Estado entre 1934 e 1936. Durante o conflito mundial (guerra do Pacífico) ocorreu o aumento da influência política do exército ("ver: Fascismo japonês").
Cristianismo e fascismo.
Em 11 de fevereiro de 1929, Pietro Gaspari, Cardeal Secretário do Estado do Papa Pio XI e Mussolini, assinaram o Tratado de Latrão que colocava um fim na Questão Romana, a disputa de seis anos entre o papado e o reino da Itália.
O Tratado de Latrão de 1929 foi uma tentativa de acabar com um conflito que existia desde 1870-1871 entre o Estado italiano e a Igreja Católica Romana. Entre 1870 e 1929, os papas eram "prisioneiros do Vaticano", e eram opositores do "liberal" Estado italiano. A maioria dos políticos italianos eram abertamente anticlericais e procurou limitar o controle católico na educação e no casamento.
Desde que Mussolini sabia ele não deveria atacar a Igreja Católica ou os seus apoiantes camponeses, ele posou como o "protetor" dos católicos italianos. Ele abriu negociações com o papado, em 1926, para curar a ferida entre a Igreja e o "poder usurpador", como oficiais da Igreja que se referiam ao Estado italiano. As negociações não foram fáceis, mas Mussolini logo mostrou que tinha vantagem quando proibiu a organização da juventude católica "Exploratori cattolici". A hierarquia da Igreja foi dividida entre "católicos sociais" que se oponham ao fascismo, e os conservadores e pragmáticos que aceitaram o governo de Mussolini como desejável. A maioria dos católicos italianos não eram antifascistas, pois o nacionalismo os empurrou contra o fascismo e muitos viram a questão como dos males o menor, Mussolini era preferível à anarquia ou ao marxismo.
Achille Ratti, Cardeal Arcebispo de Milão, tornou-se o Papa Pio XI em 1922. Ele havia testemunhado a luta dos comunistas e dos anarco-sindicalistas na área industrial milanesa. Ele também testemunhou a ascensão do fascismo, já que Milão foi um dos principais centros de atividade fascista. Os fascistas milaneses serviram como fura-greves, espancavam adversários políticos e envolviam-se em brigas de rua com os comunistas. Mesmo assim, Pio XI, aparentemente, estava convencido de que o fascismo era uma força menos destrutiva do que o comunismo e que Mussolini seria um líder responsável. Depois de se tornar Papa, ele ativamente promoveu uma frente política unida contra a Esquerda, repreendendo o "Partito Popolari" que queria se aliar-se com socialistas e outros contra a rápida ascensão do partido fascista. Um pequeno número de líderes católicos - por exemplo, aqueles em torno da revisão jesuíta "La Civilità Cattolica" - clamou que o fascismo tinha efetivamente sintetizado os valores do "Popolari", tornado-o redundante.
Recentemente a relação da igreja católica com o fascismo italiano voltou a ser discutido após uma reportagem investigativa do jornal britânico "The Guardian". A reportagem revela que por trás de uma estrutura de paraíso fiscal disfarçada de empresa, o portfólio internacional da Igreja foi construído ao longo dos anos, usando o dinheiro originalmente entregue por Mussolini em troca do reconhecimento papal do regime fascista italiano em 1929, o jornal cita como fonte das pesquisas, arquivos públicos antigos e históricos de empresas, que indicariam que o início dos investimentos da Igreja aconteceu depois de milhões recebidos do regime fascista em troca da independência do Estado do Vaticano - e do reconhecimento do governo do ditador. Após anos, o capital se multiplicou e teria chegado a € 680 milhões, cerca de US$ 904 milhões. o Vaticano declarou que a reportagem como "um conjunto de notícias imprecisas ou infundadas, reunidas de forma tendenciosa e pouco rigorosa".
Conceito atual.
Neofascismo.
O fascismo em sua forma mais tradicional reapareceu nas décadas de 80 e 90 do século XX sob os nomes de fascismo e movimento neonazista, que em suas forma mais marginais reproduz uma estética "retrô" e atitudes similares a violência juvenil. Como movimento político de presença institucional, surgiu na Itália após a Segunda Guerra Mundial, sob a forma do partido político "Movimento Sociale Italiano" (Movimento Social Italiano), que eventualmente buscaria uma forma mais acessível para o regime político democrático, sob o nome de "Alleanza Nazionale" e foi redefinido como "pós-fascista", atingindo o governo italiano (Gianfranco Fini, sob a presidência de Silvio Berlusconi, 1994).
Desde o final do século XX, aumentaram as chances eleitorais dos partidos que baseiam sua propostas políticas em distintas ofertas de dureza contra a imigração e a favor de uma manutenção da personalidade nacional.
Além da Itália, em várias democracias europeias coincide com a presença de extrema direita ou personalidades com um passado nazista ou fascista têm chegado a causar inclusive problemas internacionais: como o caso do escândalo da chegada de Kurt Waldheim para a presidência da Áustria (1996) ou a entrada no governo de Jörg Haider, do "Freiheitliche Partei Österreichs" (Partido Liberal de Austria, FPÖ), em 1999, neste mesmo país. Na Holanda, um caso semelhante ocorreu com "Lijst Pim Fortuyn" (Lista Pim Fortuyn, LPF) em 2002. Na França, a inesperada possibilidade de que Jean-Marie Le Pen ("Front National", Frente Nacional) pudesse chegar a presidência da República, reuniu votos de todo o espectro político de esquerda e de direita contra ele nas Eleições presidenciais da França de 2002.
"Fascismo de esquerda".
""Fascismo de esquerda" foi uma expressão empregada originalmente durante o regime de Mussolini para descrever um grupo de intelectuais da esquerda italiana que se aproximaram do fascismo, por vezes chegando a se filiar ao partido único italiano. Um proeminente nome dessa corrente foi o escritor Elio Vittorini. Fora da Itália, movimentos parecidos foram vistos no círculo intelectual de Georges Bataille, acusado por André Breton de "sur-fascisme". Bataille explicaria a fascinação paradoxal pelo fascismo entre jovens pensadores de esquerda atribuindo-a à sua força mobilizadora e à sua violência aparentemente contra-hegemônica. Rapidamente confrontados com o caráter reacionário do regime mussoliniano, esses intelectuais viriam a se afastar dessa tendência.
A expressão foi posteriormente utilizada por Jürgen Habermas, um filósofo e sociólogo ligado à Escola de Frankfurt. Ele usou o termo para descrever movimentos terroristas de extrema esquerda dos anos sessenta, e também para criticar os métodos violentos de protesto empregados pelo grupo conhecido como "Sozialistischer Deutscher Studentenbund" (Liga de Estudantes Socialistas Germânicos), uma vez que, de acordo com o autor, tais movimentos utilizariam-se de táticas supostamente fascistas para lutar por seus ideais. Habermas, cujo trabalho enfatiza a importância do discurso racional, das instituições democráticas e da oposição à violência, deu importantes contribuições à teoria dos conflitos e era frequentemente associado à esquerda radical, por isso usou tal denominação de forma a distanciar a Escola de Frankfurt daqueles grupos em relação aos quais se opunha frontalmente.
Fundamentalismos religiosos.
O aparecimento do fundamentalismo islâmico no cenário internacional depois da Revolução Iraniana (1979), sua extensão a outras repúblicas islâmicas e o terrorismo internacional, revelaram a possibilidade de um totalitarismo religioso que emprega técnicas violentas comparável ao fascismo, sendo assim, tais movimentos têm sido qualificados pejorativamente pelo termo "Islamofascismo", embora tais movimentos ideológicos são muito distantes uns dos outros. Também é comum notar as semelhanças ao fascismo de movimentos chamado de fundamentalismo cristão, que em alguns casos têm vindo a chamar "cristofascismo".
"Fascista" como insulto.
Após a derrota das Potências do Eixo na Segunda Guerra Mundial, o termo "fascista" tem sido usado como pejorativo, muitas vezes referindo-se a grande variação de movimentos em todo o espectro político. George Orwell escreveu em 1944 que "a palavra 'fascismo' é quase inteiramente sem sentido... quase qualquer inglês aceitaria 'valentão' como sinônimo de 'fascista'". Richard Griffiths argumentou em 2005 que o "fascismo" é a "a palavra mais usada e mais mal usada dos nossos tempos". "Fascista" é às vezes aplicado a organizações do pós-guerra e formas de pensar que os acadêmicos mais comumente definem como "neofascista".
Ao contrário do uso comum do termo pelo "mainstream" acadêmico e popular, os estados comunistas têm sido por vezes referido como "fascistas", tipicamente como um insulto. A interpretação marxista do termo, por exemplo, foram aplicadas em relação a Cuba sob Fidel Castro e ao Vietnã sob Ho Chi Minh. Herbert Matthews, do "New York Times" perguntou: "Será que devemos agora colocar a Rússia stalinista na mesma categoria da Alemanha hitlerista? Devemos dizer que ela é fascista?". J. Edgar Hoover escreveu extensivamente "fascismo vermelho". Os marxistas chineses usaram o termo para denunciar a União Soviética durante a ruptura sino-soviética e, também, os soviéticos usaram o termo para identificar os marxistas chineses.
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854 | Filogenia | Filogenia
Em biologia, filogenia (ou filogênese) é o estudo da relação evolutiva entre grupos de organismos (por exemplo, espécies, populações), que é descoberto por meio de sequenciamento de dados moleculares e matrizes de dados morfológicos. O termo "filogenética" deriva dos termos gregos "File" (φυλή) e "Filon" (φῦλον), denotando "tribo" e "raça", e o termo "genético" (γενετικός), denotando "em relação ao nascimento", da gênese (γένεσις) "origem" ou "nascimento". O resultado dos estudos filogenéticos é a história evolutiva dos grupos taxonômicos, ou seja, sua filogenia.
Taxonomia, a classificação, identificação e designação dos organismos, é ricamente baseada em informações da filogenia, mas são metodologicamente distintas. Os campos de filogenia com sobreposição na taxonomia forma a sistemática filogenética - Uma metodologia cladística com características derivadas (sinapomorfias) usadas para encontrar o ancestral descendente na árvore (cladogramas e delimitam o taxon (clados). Na sistemática biológica como um todo, as análises "filogenéticas" tornaram-se essenciais na pesquisa da árvore evolucionária da vida.
Construção de uma árvore filogenética.
A evolução é considerada um processo de ramificação, onde as populações são alteradas ao longo do tempo e formam especiação em ramificações separadas, hibridizam juntas ou terminam em extinção. Isto pode ser visualizado em uma árvore filogenética.
O problema da filogenia é que os dados genéticos estão disponíveis apenas para taxons vivos e nos registros fósseis (dados osteométricos) contendo poucos dados e características morfológicas ambíguas. Uma árvore filogenética representa uma hipótese da ordem dos eventos evolucionários ocorridos.
Cladística é o atual método de escolha para inferir árvores filogenéticas. Os métodos mais comumente usados para inferir filogenias incluem máxima parcimônia, semelhanças e MCMC baseada em inferência bayesiana. Fenética, popular no século XX, mas agora em grande parte obsoleto, usa Matriz de distâncias, baseada em métodos para a construção de árvores baseadas em semelhanças globais, que muitas vezes assumem relações filogenéticas aproximadas. Todos os métodos dependem de um modelo matemático explícito ou implícito que descreve a evolução das características observadas nas espécies e são normalmente utilizados pela Filogenética molecular, na qual os caracteres são alinhados em sequências de nucleótidos ou aminoácidos.
Agrupamento de organismos.
Existem alguns termos que descrevem a natureza de um agrupamento em tais árvores. Por exemplo, acredita-se que todas as aves e os répteis descendem de um único ancestral comum, por isso este agrupamento taxonômico (amarelo no diagrama) é chamado monofilético. Os "Répteis Modernos" (ciano no diagrama) constituem um agrupamento que contém um ancestral comum, mas não contém todos os descendentes desse ancestral (aves são excluídas); este é um exemplo de um grupo parafilético. Um agrupamento como animais de sangue quente que incluem mamíferos e aves (vermelho / laranja no diagrama) é chamado polifilético, porque não inclui o mais recente ancestral comum de seus membros.
Filogenia molecular.
As conexões evolutivas entre organismos são representadas graficamente através de árvores filogenéticas. Devido ao fato de a evolução ocorrer durante longos períodos de tempo, algumas características não podem ser observadas diretamente, assim os biólogos devem reconstruir filogenias examinando marcadores genéticos comuns entre as espécies e inferir as relações evolutivas entre organismos. Fosseis podem ajudar com a reconstrução de filogenias, no entanto, os registros fósseis podem ter poucas informações para ajudar. Dessa forma, os biólogos normalmente estão restritos a análise de organismos atuais para identificar as suas relações evolutivas. As relações filogenéticas no passado foram reconstruídas olhando para fenótipos das características anatômicas. Hoje em dia, dados moleculares, que incluem sequências de proteínas e de DNA, são utilizados para a construção de árvores filogenéticas.
O objetivo da Fundação Nacional da Ciência é a montagem da árvore de atividade da vida e resolver as relações evolutivas dos grandes grupos de organismos ao longo da história da vida, com pesquisas que muitas vezes envolvem grandes equipes de trabalho entre as instituições e disciplinas.
Teoria da recapitulação de Ernst Haeckel.
No final do século XIX, a Teoria da recapitulação de Ernst Haeckel ou a lei biogenética, foi amplamente aceita. Esta teoria foi muitas vezes expressa como "ontogenia recapitula a filogenia", isto é, o desenvolvimento de um organismo reflete exatamente o desenvolvimento evolutivo da espécie. A primeira versão de Haeckel desta hipótese é "o embrião espelha os adultos ancestrais evoluído", e já foi rejeitada. A hipótese foi alterada para "o desenvolvimento do embrião é o espelhamento de seus ancestrais evolutivos". A maioria dos biólogos modernos reconhecem numerosas conexões entre a ontogenia e filogenia, e as apresentam usando a biologia evolutiva do desenvolvimento ou mostrando como evidência de apoio a essa teoria. Donald I. Williamson sugeriu que as larvas e embriões representam adultos em outros táxons que foram transferidos por hibridação (a teoria da transferência das larvas). A opinião de Williamson não representa o pensamento dominante na biologia molecular, e há muitas evidências significativas contra a teoria da transferência das larvas.
A transferência de genes.
Em geral, os organismos podem herdar genes de duas formas: pela "transferência vertical de genes" e pela transferência horizontal de genes. A transferência gênica vertical é a passagem de genes de pais para filhos e a transferência horizontal de genes ou "transferência lateral de genes" ocorre quando os genes saltam entre organismos não relacionados (fenômeno comum em procariontes, sendo um exemplo a resistência adquirida aos antibióticos como resultado do intercâmbio de gene entre algumas bactérias e o desenvolvimento de múltiplas drogas resistentes para essas bactérias).
A transferência horizontal de genes tem complicado a determinação da filogenia de organismos e inconsistências na filogenia foram relatadas entre grupos específicos de organismos, dependendo dos genes usados para a construção da árvore evolutiva.
"Carl Woese" surgiu com a teoria dos três domínios da vida (archaea, eubactérias e Eucariotos) com base na sua descoberta de que os genes que codificam o RNA ribossômico são antigos e seus ancestrais transferiram genes, havendo assim transferência de genes com pouca ou nenhuma horizontalidade. Portanto, rRNAs são comumente recomendados como relógios moleculares para reconstruir filogenias.
Isso é particularmente útil para a filogenia de microorganismos, para a qual o conceito de espécie não se aplica e que são morfologicamente simples de classificar com base em características fenotípicas.
Amostragem de taxon e sinal filogenético.
Devido ao desenvolvimento de técnicas avançadas de sequenciação em biologia molecular, tornou-se possível recolher grandes quantidades de dados (DNA ou sequências de aminoácidos) para inferir hipóteses filogenéticas. Não é raro encontrar estudos com matrizes de caracteres baseados em genomas mitocondriais (~ 16 mil nucleotídeos, em muitos animais). No entanto, tem sido proposto que isso aumenta do número de táxons na matriz do que aumenta o número de caracteres, porque quanto mais táxons mais robusta é a árvore filogenética resultante.
Isto pode ser em parte devido à ruptura de atração de ramificações longas. Tem sido argumentado que esta é uma razão importante para incorporar dados de fosseis em filogenias sempre que possível. Naturalmente, os dados que incluem os táxons filogenéticos fóssil são geralmente baseadas na morfologia, em vez de dados de DNA. Usando simulações, Derrick Zwickl e David Hillis descobriram que o aumento de amostragem de taxon em inferência filogenética tem um efeito positivo sobre a precisão das análises filogenéticas.
Outro fator importante que afeta a precisão da reconstrução da árvore consiste em saber se os dados analisados na verdade contêm um sinal "filogenético útil", um termo que é usado geralmente para indicar se os organismos relacionados tendem a assemelhar-se com o seu material genético ou características fenotípicas. Em última análise, não há nenhuma maneira de medir se uma hipótese filogenética é precisa ou não, a menos que as verdadeiras relações entre os táxons examinados já são conhecidas. O melhor resultado na sistemática pode ser alcançada na árvore com galhos bem suportados em evidências disponíveis.
Importância dos dados faltantes.
Quanto mais dados estão disponível na construção de uma árvore, o mais precisa será a árvore resultante. A falta de dados é mais prejudicial do que ter menos dados, embora o seu impacto é maior quando a maioria dos dados em falta é de um pequeno número de táxons. Concentrar os dados faltantes em um pequeno número de caráter produz uma árvore mais robusta.
O Papel dos fósseis.
Muitas características morfológicas embrionárias e tecidos moles não podem ser fossilizados e torna a interpretação dos fósseis mais difíceis do que os táxons vivos. Isso às vezes torna difícil incorporar dados de fósseis à filogenia. No entanto, apesar destas limitações, a inclusão dos fósseis é de valor inestimável, para fornecer informações em áreas esparsas da árvore. Quebrando galhos longos e restringindo estados de caráteres intermediários. Assim os táxons fósseis contribuem tanto para resolver a árvore como os táxons modernos vivos. Fósseis também pode restringir a idade das linhagens e demonstrar como uma árvore é consistente com o registro estratigráfico.
Filogenias moleculares podem revelar a quantidade da diversificação, mas para definir a quantidade de táxons que se originaram ou se extinguiram, os dados devem ser trazidos dos fósseis. As técnicas moleculares assumem uma quantidade constante de diversificação, que provavelmente e raramente seja verdade. No alguns casos, os pressupostos da interpretação do registro fóssil (por exemplo, um registro completo e imparcial) estão mais perto de ser verdadeiros que a hipótese de uma taxa constante, fazendo as descobertas dos fósseis mais precisas do que as reconstruções moleculares.
Ponderação homoplasicas.
Certos caracteres tem mais peso que outros e alguns caracteres devem ter menos pêso na reconstrução de uma árvore. Infelizmente, o único modo objetivo para determinar a importância é pela construção de uma árvore. Mesmo assim, os caracteres de ponderação homoplasicas conduzem a um melhor suporte nas árvores. Refinamento adicional pode ser trazido por mudanças de ponderação e alteração em outras. Por exemplo, a presença de asas torácicas quase garante a colocação de um inseto entre os pterygota, embora as asas sejam frequentemente perdidas, a sua ausência não exclui o taxon do grupo.
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855 | Ferry Corsten | Ferry Corsten
Ferry Corsten (Rotterdam, 4 de Dezembro de 1973) é um músico e DJ de trance dos Países Baixos, considerado um dos maiores produtores de música trance e uma das maiores influências no mundo da música electrónica.
Nascido e criado na cidade de Rotterdam, onde baseia todas as operações. Ferry Corsten para além do seu trabalho a tempo-inteiro como produtor é também conhecido pelas suas músicas editadas como System F e pelo seu projecto conjunto com o DJ Tiësto de nome Gouryella.
Usou também o nome System F em algumas das suas produções e remixes. Rotineiramente, toca para dezenas de milhares de pessoas em eventos por todo o mundo. Em 2009, foi classificado em 7º lugar pela DJ Magazine em seu Top 100 anual, caindo para 9º e 18º lugares, respectivamente, nos anos seguintes.
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856 | Física das partículas | Física das partículas
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857 | FDL | FDL
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859 | Filosofia da matemática | Filosofia da matemática
Filosofia da matemática é o ramo da filosofia que investiga os fenômenos da matemática. Portanto, o campo de estudo que analisa os fundamentos, estatutos e consequências das estruturas matemáticas, através das perspectivas da metafísica, da epistemologia, da lógica, da filosofia da linguagem e de demais áreas da filosofia. O objetivo da filosofia da matemática é fornecer um relato da natureza e metodologia da matemática e entender o lugar da matemática na vida das pessoas. A natureza lógica e estrutural da própria matemática torna este estudo amplo e único entre seus homólogos filosóficos.
Questões.
Algumas questões da filosofia da matemática:
Correntes.
Platonismo.
O "Platonismo Matemático" é uma corrente realista, que defende que os objetos matemáticos são entidades abstratas não presentes no espaço e nem no tempo, portanto também entidades não-causais, não-mentais e não-físicas.
Devido à negação da presença espaço-temporal das entidades matemáticos, este pensamento cria diversas questões epistemológicas, ou seja, questões a cerca da possibilidade de conhecimento destas entidades, já que se os objetos matemáticos não são conhecíveis através da experiência, que se dá através do espaço e do tempo. É importante ressaltar que as divisões desta corrente se dão acerca das respostas a estas questões.
Gottlob Frege dá um dos mais importantes argumentos pró-platonismo.
Clássico.
A versão clássica do "platonismo matemático" leva como pressupostos aceitar que o universo é dividido em dois planos, o sensível, da matéria, e o inteligível, das entidades abstratas, e aceitar alguma forma de inatismo, que é a crença de que existem conhecimentos que vem antes do nascimento, pois assim são justificadas parte das questões epistemológicas abertas. Em outras palavras, neste ponto de vista, os objetos matemáticos não são experimentados, pois estão em um outro plano de existência, mas sim lembrados. Entretanto o "platonismo matemático clássico" não descreve, em si, como conseguimos ver os números das coisas, isto varia dependendo da visão cosmológica do filósofo em questão.
Logicismo.
É uma corrente que defende que toda a matemática é redutível para a lógica. Um dos seus grandes marcos é a criação da Principia Mathematica por Russell e Whitehead.
Tem a necessidade de provar que a matemática é analítica, posição criticada por Kant.
Intuicionismo.
Corrente mais preocupada com a epistemologia da matemática, afirma que existem afirmações que não são nem verdadeiras, nem falsas.
Formalismo.
Corrente que acredita que a matemática é tem forma linguística autorreferencial, portanto a matemática é uma ficção formada por tautologias sem sentido algum.
Nominalismo.
Corrente que acredita que a matemática não faz sentido algum, pois ela não tem referências materiais.
Ficcionalismo.
Corrente que acredita que a matemática é uma ficção.
Construtivismo.
Corrente que acredita que a matemática é uma construção mental.
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861 | Francesco Algarotti | Francesco Algarotti
Conde Francesco Algarotti (Veneza, 11 de dezembro de 1712 — Pisa, 3 de maio de 1764) foi um polímata veneziano, filósofo, poeta, ensaísta, anglófilo, crítico de arte e colecionador de arte. Ele era um homem de amplo conhecimento, um especialista em newtonianismo, arquitetura e ópera. Ele era amigo de Frederico, o Grande, e dos principais autores de sua época: Voltaire, Jean-Baptiste de Boyer, Marquês de Argens, Pierre-Louis de Maupertuis e o ateu Julien Offray de La Mettrie. Lord Chesterfield, Thomas Gray, George Lyttelton, Thomas Hollis, Metastasio, Benento XIV e Heinrich von Brühl estavam entre seus correspondentes.
Juventude.
Algarotti nasceu em Veneza filho de um rico comerciante. Seu pai e tio eram colecionadores de arte. Ao contrário de seu irmão mais velho Bonomo, ele não entrou na empresa, mas decidiu se tornar um autor. Francesco estudou ciências naturais e matemática em Roma e Bolonha com Francesco Maria Zanotti e em 1728 ele fez experiências com óptica. (Zanotti se tornou um amigo de longa data.) Ele foi educado em sua Veneza natal e em Roma e Bolonha. Sua curiosidade juvenil o levou a viajar muito, e ele visitou Paris pela primeira vez em seus 20 anos. Lá, sua urbanidade, sua conversação brilhante, sua boa aparência e sua inteligência versátil prontamente impressionaram intelectuais como Pierre-Louis Moreau de Maupertuis e Voltaire. Dois anos depois, ele estava em Londres, onde foi nomeado membro da Royal Society. Ele se envolveu em um animado triângulo amoroso bissexual com o político John Hervey e Lady Mary Wortley Montagu. Algarotti partiu para a Itália e concluiu seu "Neutonianismo per le dame" ("Newtonism for Ladies") (1737 - dedicado a Bernard le Bovier de Fontenelle) - uma obra que consiste em informações sobre astronomia, física, matemática, mulheres e ciências e educação.
Vida pessoal e carreira.
Algarotti conheceu Antíoco Kantemir, diplomata, poeta e compositor da Moldávia. Ele foi convidado a visitar a Rússia para o casamento do duque Anthony Ulrich de Brunswick. IEm 1739 ele partiu com Lord Baltimore de Sheerness para Newcastle upon Tyne. Por causa de uma forte tempestade, o navio se protegeu em Harlingen. Algarotti estava descobrindo "esta nova cidade", que chamou de a grande janela... para a qual a Rússia olha para a Europa. Retornando de São Petersburgo, eles visitaram Frederico o Grande em Rheinsberg. Algarotti tinha obrigações na Inglaterra e voltou no ano seguinte. Em seguida, Algarotti foi com Frederico para Königsberg, onde foi coroado.
Frederico, que ficou impressionado com esta enciclopédia ambulante, fez dele e de seu irmão Bonomo condes prussianos em 1740. Algarotti acompanhou Frederico a Bayreuth, Kehl, Estrasburgo e o Castelo de Moyland, onde se encontraram com Voltaire, que tomava banho em Kleve para cuidar da saúde. Em 1741, Algarotti foi para Turim como seu diplomata. Frederico ofereceu-lhe um salário, mas Algarotti recusou. Primeiro, ele foi para Dresden e Veneza, onde comprou 21 pinturas, algumas de Jean-Étienne Liotard e Giovanni Battista Tiepolo para a corte de Augusto III da Polônia. Algarotti não conseguiu induzir o Reino da Sardenha a lançar um ataque traiçoeiro à Áustria.
Algarotti e as outras artes.
A escolha das obras de Algarotti reflete os interesses enciclopédicos da era neoclássica; ele não estava interessado em desenvolver uma única coleção estilística unitária e imaginou um museu moderno, um catálogo de estilos de todas as épocas. Para encomendas contemporâneas, ele escreveu uma lista de pinturas que recomendou para encomenda, incluindo pinturas históricas de Tiepolo, Pittoni, e Piazzetta; cenas com animais de Castiglione, e veduta com ruínas de Pannini. He wanted "suggetti graziosi e leggeri" from Balestra, Boucher, and Donato Creti. Outros artistas que ele apoiou foram Giuseppe Nogari, Bernardo Bellotto, e Francesco Pavona.
Em 1747, Algarotti voltou para Potsdam e tornou-se camareiro da corte, mas partiu para visitar as escavações arqueológicas em Herculano. Em 1749 mudou-se para Berlim. Algarotti participou do acabamento dos projetos arquitetônicos de Georg Wenzeslaus von Knobelsdorff, que adoeceu. Em fevereiro de 1753, após vários anos residindo na Prússia, ele retornou à Itália, passando a maior parte do tempo em Bolonha. Em 1759, Algarotti se envolveu em um novo estilo de ópera na cidade de Parma. Ele influenciou Guillaume du Tillot e o duque de Parma.
O "Ensaio sobre a Ópera de" Algarotti (1755) teve uma grande influência no libretista Carlo Innocenzo Frugoni e no compositor Tommaso Traetta, e no desenvolvimento da ideologia reformista de Gluck. Algarotti propôs um modelo bastante simplificado de "ópera séria", com o drama preeminente, em vez da música, balé ou encenação. A própria dramatização deve "deliciar os olhos e os ouvidos, para despertar e comover o coração do público, sem correr o risco de pecar contra a razão ou o bom senso". As ideias de Algarotti influenciaram Gluck e seu libretista Calzabigi, escrevendo seu "Orfeo ed Euridice".
Em 1762, Algarotti mudou-se para Pisa, onde morreu de tuberculose. Frederico, o Grande, que várias vezes precisou de Algarotti para escrever textos em latim, enviou um texto para um monumento à sua memória no Campo Santo Campo Santo.
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862 | Filatelia | Filatelia
Filatelia é o estudo e o colecionismo de selos postais e materiais relacionados. A filatelia tem várias áreas de estudo, a saber: filatelia tradicional, história postal, pré-filatelia, marcofilia, inteiros postais, filatelia temática, aerofilatelia, astrofilatelia, maximafilia, filatelia juvenil, literatura filatélica, selos fiscais, classe aberta e um quadro.
O objetivo deste "hobby" é selecionar selos para compor uma coleção, que pode ser geral ou temática. Existem coleções que além dos selos possui informações sobre o tema, parâmetro utilizado por muitas pessoas nas coleções temáticas.
Enquanto entre as coleções gerais, pode-se dizer que se dividem em mundo e país. É frequente encontrar coleções com apenas selos de um país, assim como de qualquer lugar do mundo. Quando não seguem nenhum critério este tipo de coleção é usual entre iniciantes.
Apesar de diferenças entre os vários tipos de coleções, além do que foi dito, um único ideal une os filatelistas de todo o mundo: a vontade de conhecer mais sobre um lugar, objeto, pessoa, país, etc. É o conhecimento que estimula os filatelistas a continuar com seu "hobby" apesar da diminuição das correspondências via Correios.
História.
A filatelia conta com mais de 40 milhões de adeptos (somente na China são 30 milhões de colecionadores, nos EUA são quase 2 milhões de pessoas, etc.) e movimenta aproximadamente U$ 16 bilhões de doláres por ano. No Brasil, segundo país do mundo que emitiu selos, essa atividade é tida como uma das mais ricas do planeta, onde o famoso Olho-de-boi, precursor da filatelia brasileira, foi impresso em 1843.
A Inglaterra, terra que criou o selo no século XIX, em 1840, também se destaca com a Exposição Filatélica Mundial, evento que acontece a cada dez anos. (A última exposição foi no ano de 2000). Em 1856, o selo, também em Londres, surgiu pela primeira vez como passatempo e atividade comercial, com a abertura da casa filatélica Stanley Gibbons considerada a equivalente ao Índice Dow Jones, uma vez que ela realiza avaliações de preços de selos em nível mundial.
A atividade não é apenas lúdica e continua cada vez mais valorizada: a quadra (quatro selos juntos) com a imagem do avião Jenny, o selo mais caro dos Estados Unidos, foi vendida há pouco por quase US$ 3 milhões. A popularidade do setor também anda de vento em popa, graças à internet: ao digitar-se a palavra filatelia no Google, pode-se contemplar mais de 2,6 milhões de páginas, fora a palavra "philately", que rende 2,1 milhões de sítios adicionais. Se a busca for restrita ao Brasil, chega-se ao número também significativo de 205 mil. Somente o site da Stanley Gibbons conta mensalmente com 30 milhões de visitas.
História em Portugal.
Em Portugal, a primeira emissão de selos teve lugar em 1853, com mais de sete milhões e quinhentas mil gravações, utilizando três cunhos diferentes do abridor da Casa da Moeda. Foi representado o busto da rainha D. Maria II, inspirado no modelo inglês, e os selos foram impressos um a um em folhas de 24 exemplares não denteados e dispostos irregularmente. As taxas associadas a estas emissões foram de 5, 25, 50 e 100 reis. As cores das emissões foram castanho avermelhado (5 reis), azul (25 reis), verde amarelado (50 reis) e lilás (100 reis).
O primeiro selo impresso sem relevo e pelo sistema tipográfico, emitido em massa (cerca de 98 milhões e 300 mil), foi o Legenda "JORNAES", com a franquia de 2,5 reis, em 1876 e reimpresso em 1885 e 1905.
Em 1884, surgiu um selo com o valor numa oval e, em 1894, o primeiro selo comemorativo, homenageando o 5º centenário do nascimento do Infante D. Henrique. No ano seguinte seria comemorado o sétimo centenário do nascimento de Santo António de Lisboa, que teria a curiosidade de no verso ter a seguinte inscrição: “Centenário de Santo António MCXCV * MDCCCXCV” “O língua benedicta, quae Dominum semper benedixisti et alios benedicere docuisti: nunc perspicue cernitur quanti meriti fueris apud deum” S. Boaventura (cuja tradução é: “Oh língua bendita, que sempre louvaste o Senhor e ensinaste os outras a louvar: agora claramente se vê quanto merecimento tiveste junto de Deus.”) S. Boaventura”. Em 1898, existiu nova emissão comemorativa com o tema do quarto centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Estes selos em 1910, com a implantação da República, seriam marcados com a sobrecarga "REPUBLICA", tendo sido Portugal o primeiro país do mundo a indicar num selo uma mudança de regime, com essa mesma sobrecarga.
O selo tipo "Ceres" foi o primeiro emitido pelo novo regime republicano, em 1912 e com a nova moeda, o escudo. Foram emitidos com taxa em centavos, com selos de 1/4 em sépia, de 1/2 em preto, de 1 em verde escuro, de 1-1/2 em castanho, de 2 em carmim, de 2-1/2 em violeta, de 5 em azul, de 7-1/2 em bistre, de 8 em ardósia, de 10 em tijolo, de 15 em lilás vermelho, de 20 em castanho s/ verde, de 30 em castanho s/ rosa, de 50 em laranja s/ salmão, e finalmente de 1 Escudo em verde escuro s/ azul.
Associativismo.
Em cada país existem inúmeras agremiações filatélicas (clubes, associações, núcleos, etc.), a maioria delas estruturadas em federações nacionais como é o caso da Federação Portuguesa de Filatelia (FPF) e da Federação Brasileira de Filatelia (FEBRAF). Por sua vez, as federações nacionais, estruturam-se em federações continentais. Assim a FPF integra a Federação Europeia de Sociedades Filatélicas (FEPA), a FEBRAF e a Federação Inter-Americana de Filatelia (FIAF). As federações continentais por sua vez, são membros associados da Federação Internacional de Filatelia (FIP), a qual coordena e superintende a nível mundial todas as atividades da filatelia organizada.
Em Portugal, o Clube Filatélico de Portugal fundado a 27 de outubro de 1943, é o clube mais antigo e com maior número de associados.
Federação Brasileira de Filatelia.
No Brasil, a Federação Brasileira de Filatelia (FEBRAF) foi fundada em 17 de dezembro de 1976. É uma sociedade civil de caráter cultural, sem fins lucrativos, destinada a promover e integrar as atividades filatélicas no país, assim como representá-lo internacionalmente. Tem sede na cidade do Rio de Janeiro e por foro administrativo na cidade de domicílio do presidente em exercício, (atualmente Brasília). Atende seus filiados por via postal, por telefone, pela internet, por fax e pessoalmente, quando dos eventos realizados. É filiada à Federação Internacional de Filatelia (FIP) e à Federação Interamericana de Filatelia (FIAF).
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863 | Francisco Alvarez | Francisco Alvarez
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Fidel Alejandro Castro Ruz, mais conhecido como Fidel Castro (Birán, 13 de agosto de 1926 – Havana, 25 de novembro de 2016) foi um político e revolucionário cubano que governou a República de Cuba como primeiro-ministro de 1959 a 1976 e depois como presidente de 1976 a 2008. Politicamente, era nacionalista e marxista-leninista. Também serviu como primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba de 1961 até 2011. Sob sua administração, Cuba tornou-se um Estado socialista unipartidário, a indústria e os negócios foram nacionalizados, e reformas socialistas foram implementadas em toda a sociedade. Castro morreu em Havana na noite de 25 de novembro de 2016, aos 90 anos.
Filho de um rico fazendeiro, Castro adotou a política anti-imperialista de esquerda enquanto estudava Direito na Universidade de Havana. Depois de participar de rebeliões contra os governos de direita na República Dominicana e na Colômbia, planejou a derrubada do ditador cubano Fulgencio Batista, lançando um ataque fracassado ao Quartel Moncada em 1953. Depois de um ano de prisão, viajou para o México onde formou um grupo revolucionário, o Movimento 26 de Julho, com seu irmão Raúl Castro e Che Guevara. Voltando a Cuba, Castro assumiu um papel fundamental na Revolução Cubana, liderando o movimento em uma guerrilha contra as forças de Batista na Serra Maestra. Após a derrota de Batista em 1959, Castro assumiu o poder militar e político como primeiro-ministro de Cuba. Os Estados Unidos ficaram alarmados com as relações amistosas de Castro com a União Soviética e tentaram sem êxito removê-lo através de tentativas de assassinato, bloqueio econômico e contrarrevolução, incluindo a invasão da Baía dos Porcos em 1961. Contra essas ameaças, Castro formou uma aliança com os soviéticos e permitiu que eles colocassem armas nucleares na ilha, o que provocou a Crise dos Mísseis de Cuba em 1962, um incidente determinante da Guerra Fria.
Adotando um modelo marxista-leninista de desenvolvimento, Castro converteu Cuba em uma ditadura do proletariado sob comando do Partido Comunista, a primeira no hemisfério ocidental. As reformas introduziram o planejamento econômico central e levaram Cuba a alcançar índices elevados de desenvolvimento humano e social, como a menor taxa de mortalidade infantil da América, além da erradicação do analfabetismo, através da campanha de alfabetização cubana, e da desnutrição infantil. Tais avanços sociais foram acompanhados pelo controle estatal, com a supressão da liberdade de imprensa e de expressão, segundo organizações ocidentais e pela inibição da dissidência interna. No exterior, Castro apoiou grupos anti-imperialistas revolucionários, apoiando o estabelecimento de governos marxistas no Chile, Nicarágua e Grenada, além de enviar tropas para ajudar os aliados na Guerra do Yom Kipur, da Guerra Etíope-Somali e da Guerra Civil Angolana. Essas ações, aliadas à liderança de Castro no Movimento Não Alinhado de 1979 a 1983 e ao internacionalismo médico cubano, melhoraram a imagem de Cuba no cenário mundial e conquistaram um grande respeito no mundo em desenvolvimento. Após a dissolução da União Soviética em 1991, Castro levou Cuba ao seu "Período Especial" e abraçou ideias ambientalistas e antiglobalização. Na década de 2000 ele forjou alianças na "onda rosa" da América Latina e assinou a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América. Em 2006, as suas responsabilidades foram transferidas para o vice-presidente e irmão Raúl Castro, que foi posteriormente eleito pelo comité central, onde assumiu formalmente a presidência em 2008.
Castro era uma figura mundial controversa e divisiva. Ele foi condecorado com vários prêmios internacionais e seus partidários o elogiam por ter sido um defensor do socialismo, do anti-imperialismo e do humanitarismo, cujo regime revolucionário garantiu a independência de Cuba do imperialismo estadunidense. Por outro lado, a "Human Rights Watch" acusa-o de ter liderado um regime cuja administração cometeu múltiplas violações de direitos humanos relacionadas com a dissidência, levou êxodo de mais de um milhão de cubanos, e ao o empobrecimento da economia do país durante o período especial. Através de suas ações e seus escritos, ele influenciou significativamente a política de vários indivíduos e grupos em todo o mundo.
Juventude e carreira.
Juventude: 1926–1947.
Castro nasceu num relacionamento extramatrimonial, na quinta do seu pai, a 13 de agosto de 1926. O seu pai, Ángel Castro y Argiz, um veterano da Guerra Hispano-Americana, era um migrante da Galiza, no noroeste de Espanha. Tinha-se tornado financeiramente bem-sucedido ao cultivar cana-de-açúcar na quinta de Las Manacas em Birán, província de Oriente. Após o colapso do seu primeiro casamento, levou a sua empregada doméstica, Lina Ruz González — de ascendência canária — como sua amante e mais tarde segunda esposa; juntos tiveram sete filhos, entre eles Fidel. Aos seis anos, Castro foi enviado para viver com o seu professor em Santiago de Cuba, antes de ser batizado na Igreja Católica Romana aos oito anos. Ser batizado permitiu a Castro frequentar o internato de La Salle em Santiago, onde se comportava regularmente mal; foi enviado a seguir para a Escola Dolores, gerida por Jesuítas, em Santiago, com financiamento privado.
Em 1945, Castro transferiu-se para o El Colegio de Belén, dirigido pelos Jesuítas, em Havana. Embora Castro se interessasse pela história, geografia e debate em Belén, não se distinguia academicamente, dedicando grande parte do seu tempo à prática de desporto. Em 1945, Castro começou a estudar Direito na Universidade de Havana. Admitindo ser "politicamente analfabeto", Castro envolveu-se no movimento estudantil e na violenta cultura do "gangsterismo" dentro da universidade. Após se ter apaixonado pelo anti-imperialismo e se ter oposto à intervenção dos EUA nas Caraíbas, fez campanha sem sucesso pela presidência da Federação de Estudantes Universitários numa plataforma de "honestidade, decência e justiça". Castro tornou-se crítico da corrupção e violência do governo do Presidente Ramón Grau, proferindo um discurso público sobre o assunto em novembro de 1946, que recebeu cobertura na primeira página de vários jornais.
Em 1947, Castro aderiu ao Partido do Povo Cubano (ou Partido Ortodoxo), fundado pelo político veterano Eduardo Chibás. Figura carismática, Chibás defendia a justiça social, um governo honesto, e a liberdade política, enquanto o seu partido expunha a corrupção e exigia reformas. Embora Chibás tenha ficado em terceiro lugar nas eleições gerais de 1948, Castro continuou empenhado em trabalhar em seu nome. A violência estudantil aumentou após Grau empregar líderes de gangues como agentes da polícia, e Castro recebeu rapidamente uma ameaça de morte, exortando-o a abandonar a universidade. Contudo, recusou-se a fazê-lo e começou a carregar uma arma e a rodear-se de amigos armados. Em anos posteriores, dissidentes antiCastro acusaram-no de cometer assassinatos relacionados com gangues na altura, mas estas acusações continuam sem fundamento.
Rebelião e Marxismo: 1947–1950.
Em junho de 1947, Castro tomou conhecimento de uma expedição planeada para derrubar o governo de direita de Rafael Trujillo, um aliado dos EUA, na República Dominicana. Sendo Presidente do Comité Universitário para a Democracia na República Dominicana, Castro juntou-se à expedição. A força militar consistia em cerca de 1.200 soldados, na sua maioria cubanos e dominicanos exilados, que pretendiam navegar a partir de Cuba em julho de 1947. O governo de Grau impediu a invasão sob pressão dos EUA, embora Castro e muitos dos seus camaradas tenham evitado a prisão. De regresso a Havana, Castro assumiu um papel de liderança nos protestos estudantis contra a morte de um aluno do ensino secundário por guarda-costas do governo. Os protestos, acompanhados por uma repressão contra os considerados comunistas, levaram a violentos confrontos entre ativistas e polícias em fevereiro de 1948, nos quais Castro foi severamente espancado. Nesta altura, os seus discursos públicos assumiram uma inclinação explicitamente de esquerda, condenando a desigualdade social e económica em Cuba. Em contraste, as suas anteriores críticas públicas tinham-se centrado na condenação da corrupção e do imperialismo americano.
Em abril de 1948, Castro viajou para Bogotá, Colômbia, liderando um grupo estudantil cubano patrocinado pelo governo argentino do Presidente Juan Perón. Ali, o assassinato do líder popular de esquerda Jorge Eliécer Gaitán Ayala levou a tumultos e confrontos generalizados entre os conservadores governantes — apoiados pelo exército — e os liberais de esquerda. Castro juntou-se à causa Liberal roubando armas a uma esquadra de polícia, mas as investigações policiais subsequentes concluíram que ele não esteve envolvido em quaisquer assassinatos. Em abril de 1948, a Organização dos Estados Americanos foi fundada numa cimeira em Bogotá, conduzindo a protestos, aos quais Castro aderiu.
De regresso a Cuba, Castro tornou-se uma figura proeminente nos protestos contra as tentativas do governo para aumentar as tarifas dos autocarros. Nesse ano, casou-se com Mirta Díaz-Balart, uma estudante de uma família rica, através da qual foi exposto ao estilo de vida da elite cubana. A relação foi um encontro amoroso, desaprovado por ambas as famílias, mas o pai de Díaz Balart deu-lhes dezenas de milhares de dólares, juntamente com Batista, para passarem numa lua de mel de três meses em Nova Iorque.
Nesse mesmo ano, Grau decidiu não se candidatar à reeleição, a qual foi ganha pelo novo candidato do seu "Partido Auténtico", Carlos Prío Socarrás. Prío enfrentou protestos generalizados quando membros do MSR, agora aliado à força policial, assassinaram Justo Fuentes, um amigo socialista de Castro. Em resposta, Prío concordou em reprimir as gangues, mas considerou-as demasiado poderosas para as controlar. Castro tinha-se deslocado mais para a esquerda, influenciado pelos escritos marxistas de Karl Marx, Friedrich Engels, e Vladimir Lenin. Ele passou a interpretar os problemas de Cuba como parte integrante da sociedade capitalista, ou a "ditadura da burguesia", em vez de falhas de políticos corruptos, e adotou a visão marxista de que uma mudança política significativa só poderia ser provocada pela revolução proletária. Visitando os bairros mais pobres de Havana, tornou-se ativo na campanha estudantil antirracista. Em setembro de 1949, Mirta deu à luz um filho, Fidelito, pelo que o casal mudou-se para um apartamento maior em Havana. Castro continuou a colocar-se em risco, mantendo-se ativo na política da cidade e aderindo ao Movimento 30 de Setembro, que continha dentro dele tanto comunistas como membros do "Partido Ortodoxo". O objetivo do grupo era opor-se à influência das gangues violentas dentro da universidade; apesar das suas promessas, Prío não conseguira controlar a situação, e ofereceu, em vez disso, a muitos dos seus membros superiores cargos nos ministérios do governo. Castro ofereceu-se para proferir um discurso para o Movimento a 13 de novembro, expondo os negócios secretos do governo com os gangues e identificando membros-chave. Atraindo a atenção da imprensa nacional, o discurso enfureceu as gangues e Castro escondeu-se, primeiro no campo e depois nos EUA. Regressando a Havana várias semanas mais tarde, Castro passou a agir de forma discreta e concentrou-se nos seus estudos universitários, graduando-se como Doutor em Direito em setembro de 1950.
Carreira em direito e política: 1950–1952.
Castro foi cofundador de uma parceria legal que atendia principalmente aos cubanos pobres, embora tenha provado ser um fracasso financeiro. Preocupando-se pouco sobre dinheiro ou bens materiais, Castro falhou no pagamento das suas contas; os seus móveis foram reapoderada e a eletricidade cortada, angustiando a sua esposa. Participou num protesto numa escola secundária em Cienfuegos em novembro de 1950, lutando com a polícia para protestar contra a proibição das associações estudantis pelo Ministério da Educação; foi preso e acusado de conduta violenta, mas o magistrado retirou as acusações. As suas esperanças para Cuba ainda se centravam em Chibás e no "Partido Ortodoxo", e esteve presente no suicídio de Chibás por motivos políticos, em 1951. Vendo-se herdeiro de Chibás, Castro quis candidatar-se ao Congresso nas eleições de junho de 1952, embora os membros seniores do "Ortodoxo" temessem a sua reputação radical e recusaram-se a nomeá-lo. Em vez disso, foi nomeado como candidato à Câmara dos Representantes por membros do partido nos distritos mais pobres de Havana, e começou a fazer campanha. O "Ortodoxo" teve um apoio considerável e previa-se que se saísse bem nas eleições.
Durante a sua campanha, Castro encontrou-se com o General Fulgencio Batista, o ex-presidente que tinha regressado à política com o Partido da Ação Unitária. Batista ofereceu-lhe um lugar na sua administração se tivesse êxito; embora ambos se opusessem à administração de Prío, a sua reunião nunca passou de generalidades formais. A 10 de março de 1952, Batista tomou o poder num golpe militar, com Prío a fugir para o México. Declarando-se presidente, Batista cancelou as eleições presidenciais planeadas, descrevendo o seu novo sistema como "democracia disciplinada"; Castro foi privado de ser eleito na sua candidatura pelo movimento de Batista, e como muitos outros, considerou-o uma ditadura de um só homem. Batista moveu-se para a direita, solidificando laços tanto com a elite rica como com os Estados Unidos, cortando relações diplomáticas com a União Soviética, suprimindo os sindicatos e perseguindo os grupos socialistas cubanos. Com a intenção de se opor a Batista, Castro intentou vários processos legais contra o governo, mas estes não deram em nada, e Castro começou a pensar em formas alternativas de derrubar o regime.
Início da carreira política.
Depois de graduado, dedicou-se de modo especial à defesa dos opositores ao governo, trabalhadores e sindicatos, denunciou as corrupções e atos ilegais do governo de Carlos Prío através do diário "Alerta" e das emissoras Radio Álvarez e COCO e se vinculou estreitamente ao Partido do Povo Cubano (Ortodoxo) que era liderado por Eduardo Chibás, partido pelo qual seria candidato a Representante nas eleições de 1952. O golpe de estado em 10 de março de 1952 por Fulgencio Batista, ao qual Fidel condenou no diário "La Palabra" e pretendeu levar aos tribunais, o convenceu da necessidade de buscar novas formas de ação para transformar a sociedade cubana.
Nos dias que se seguiram ao golpe, imprimiu em mimeógrafo e distribuiu clandestinamente sua denúncia. Uniu-se a jovens que editavam o periódico mimeografado clandestino, "Son los Mismos", sugeriu a troca de seu nome pelo de "El Acusador" e foi coeditor desse novo órgão, onde assinou seus trabalhos apenas com seu segundo nome, Alejandro. Este mesmo pseudônimo utilizaria mais tarde em suas correspondências e mensagens.
Daquele grupo sairia o núcleo inicial de jovens que sob seu comando atacariam de assalto ao quartel Moncada em Santiago de Cuba e de Céspedes, (Bayamo) em 26 de julho de 1953 e fundaria depois o Movimento Revolucionário 26 de Julho (M-26-7).
A história me absolverá.
No julgamento que se seguiu pelas ações, assumiu sua própria defesa e defendeu o direito dos povos de lutarem contra a tirania. Condenado a quinze anos de prisão, começou a cumprir a pena na prisão de Boniato (Santiago de Cuba) e depois foi transferido ao Presídio Modelo (Isla de Pinos), onde reelaborou sua autodefesa que levou o nome de "A História me Absolverá", e teve sua primeira publicação e distribuição clandestinas em 1954 e desde então foi editada numerosas vezes em Cuba, como em muitos outros países e traduzido nos mais diversos idiomas.
Anistia.
Após ser anistiado em maio de 1955 graças a um amplo movimento popular, ocorreu uma intensa tarefa periodística de caráter político através do diário "La Calle" e do semanário "Bohemia" e em aparições radio-auditivas e televisivas enquanto estruturava o movimento 26 de julho em escala nacional e internacional.
Novo exílio no México.
Porém, ao começarem a censurar seus artigos e cerrar as vias e meios legais de expressão de suas ideias, decidiu seguir, apenas dois meses depois ao seu exílio no México onde trabalhou na preparação dos homens que o acompanhariam em seu intento de iniciar a luta insurrecional em Cuba, participou em atividades políticas, escreveu o Manifesto número um do Movimento 26 de Julho ao povo de Cuba que circulou clandestinamente na Ilha e firmou, com José Antonio Echeverría, presidente da FEU, o Pacto do México a favor da unidade das forças que se opunham à ditadura de Fulgencio Batista.
Preparação da revolução.
Em 1955 viajou aos Estados Unidos em busca de apoio dos emigrados cubanos neste país. Pronunciou discursos em Nova Iorque e Miami. Ao fim de novembro de 1956, partiu do porto mexicano de Tuxpan, a bordo do Iate Granma, com várias dezenas de combatentes e em 2 de dezembro desembarcaram na praia Las Coloradas, próxima a Niquero (Oriente), e se abrigaram em Sierra Maestra onde permaneceu por mais de dois anos à frente do Exército Rebelde Cubano, do qual era comandante-em-chefe.
Neste ínterim, desenhou e guiou a tática e a estratégia da luta contra a ditadura batistiana, financiada e apoiada pela unidade de ação das forças opositoras revolucionárias. Comandou diversos combates que culminaram em vitórias de suas tropas, orientou a criação de novas frentes guerrilheiras em Oriente e Las Villas, trabalhou na preparação de leis fundamentais que deveriam promulgar-se uma vez alcançada a vitória e divulgou suas ideias nacional e internacionalmente, através de meios improvisados na própria Sierra Maestra como o periódico "El Cubano Libre", a emissora Radio Rebelde - ainda atuante - e mediante entrevistas realizadas por periodistas cubanos e estrangeiros.
Pós-revolução.
Depois do desmonte do regime ditatorial pela fuga de Batista em 1 de janeiro de 1959, convocou generais para consolidar a vitória da Revolução e marchou até Havana, onde entrou em 8 de janeiro. O Governo revolucionário instaurado o designou primeiramente Comandante em Chefe de todas as forças armadas e depois, em meados de fevereiro, Primeiro Ministro.
Fidel Castro visitou, após a vitória, os Estados Unidos. A URSS deu apoio econômico e militar ao novo governo de Castro, comprando a maioria do açúcar cubano. A partir de então, Cuba passou a sofrer um embargo econômico por parte dos Estados Unidos.
A este respeito Fidel Castro disse:
Imediatamente começou a impulsionar a criação de um novo aparato estatal, escreveu leis a favor dos setores mais desfavorecidos, entre essas leis encontra-se a lei de Reforma Agrária, que firmou ainda em Sierra Maestra em 17 de maio. Também fundou órgãos de novo tipo como o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INRA, do qual foi seu primeiro presidente) e instituições culturais como a Imprensa Nacional de Cuba e o Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica (ICAIC). O anúncio de sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro em meados de julho de 1959 pelos obstáculos colocados pelo presidente Manuel Urrutia às leis e medidas revolucionárias, motivou uma massiva exigência popular para que se reincorporasse ao mesmo e forçou a renúncia do presidente.
Em 26 de julho retomou o cargo. A partir de então pode levar adiante, desde os primeiros anos posteriores ao triunfo da Revolução, medidas e atividades de grande envergadura para o desenvolvimento ulterior do pais em todas as ordens, como a nacionalização de empresas estrangeiras, a Reforma Urbana, o desenvolvimento da indústria nacional e a diversificação agrícola, a campanha de alfabetização, a nacionalização e gratuidade do ensino em todos os níveis, a eliminação da saúde pública privada e do desporte profissional, a melhoria das condições de vida dos setores mais populares, o estabelecimento de vínculos com nações de todo o mundo e todos os sistemas sociais de governo, a incorporação de Cuba ao Movimento de Países Não Alinhados, a definição de uma política exterior independente, e a declaração do caráter socialista da revolução em abril de 1961.
Conseguiu, ademais, a unidade das forças revolucionárias e anti-imperialistas do país em organizações massivas como a Associação de Jovens Rebeldes (ARJ), os Comitês de Defesa da Revolução (CDR), as Milícias Nacionais Revolucionárias (MRN), a União de Pioneiros de Cuba (UCP), a Federação de Mulheres Cubanas (FMC) e outras de caráter mais seletivo e político. Escreveu textos fundamentais da história contemporânea de Cuba e da América Latina como os da Primeira (1960) e Segunda (1962) Declaração de Havana. Em abril de 1961 dirigiu pessoalmente as tropas que derrotaram a invasão mercenária em Playa Girón, financiada e organizada pelos Estados Unidos.
Sua intervenção em uma reunião com escritores e artistas na Biblioteca Nacional José Martí em junho de 1961, publicada depois sob o título Palavras aos Intelectuais, definiu aspectos da política cultural da Revolução ainda vigentes e facilitou a realização, em agosto deste mesmo ano, do Primeiro Congresso Nacional de Escritores e Artistas de Cuba. Foi membro do conselho de direção de Cuba Socialista (1961-1967). Desde outubro de 1965, quando o PURCS tomou o nome de Partido Comunista de Cuba, (PCC), têm sido membro de seu Comitê Central e seu Primeiro Ministro.
Assim mesmo, ao constituir-se a Assembleia Nacional do Poder Popular em 1977, esta o elegeu Presidente dos Conselhos de Estado e Ministros, cargos nos quais tem sido ratificado desde então. Por suas responsabilidades a frente do PCC, o Estado e o Governo cubanos tem sido o principal orientador e impulsor das estratégias de desenvolvimento do país em todos os sentidos, assim como o arquiteto da política internacional da Revolução Cubana.
Relações mundiais.
A partir de 1959 viajou a uma infinidade de países da América Latina, Europa, África e América do Norte, para representar Cuba em congressos e conferências dos mais diversos tipos e organizações, assim como em outras atividades oficiais e visitas amistosas. Em 1959 foi ao Brasil, onde foi recebido pelo presidente Juscelino Kubitschek. Anteriormente já havia se encontrado com o deputado Jânio Quadros (que depois viria a ser presidente do Brasil).
Foi durante a era Castro que houve oferecimento de tratamento gratuito de mais de 124 mil vítimas do acidente nuclear de Chernobil, participação direta na luta pelo fim do Apartheid na África do Sul, treinamento de médicos do Timor-Leste, entre outros.
Em 2012, o jornal alemão "Die Welt" noticiou que, no contexto na Crise dos Mísseis de Cuba, diante dos riscos de uma possível invasão à ilha, Fidel Castro teria contratado antigos soldados nazis das SS para treinar os militares cubanos. A partir da repercussão da matéria, o Jornal de Noticias informa que os serviços secretos alemães teriam como certa a presença em Cuba de pelo menos dois dos quatro membros das SS convidados pelo regime de Fidel Castro, que teriam ido para Cuba ganhar salários quatro vezes superiores ao que um alemão médio auferia naquela época. Ainda, segundo a mesma fonte, no mesmo ano Fidel Castro teria tentado comprar armamento belga através de intermediários da extrema-direita alemã.
Em 13 de março de 1995, Fidel faz sua primeira visita à França, a uma potência ocidental desde a revolução de 1959. Na ocasião, Fidel declarou que a visita significava o fim do "apartheid" imposto a Cuba pelo Ocidente e atacou o bloqueio comercial imposto pelos Estados Unidos há mais de três décadas.
De especial significado foi sua presença nas cúpulas do Movimento de Países Não-Alinhados. Documentos políticos, discursos, intervenções, artigos e entrevistas suas têm sido difundidos em livros próprios ou compilações, em filmes e nos mais importantes órgãos de imprensa escrita e emissoras de rádio e televisão de Cuba e de todo o mundo. Em 1961 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz.
Várias universidades da Europa e América Latina lhe conferiram o título de "Doctor Honoris Causa". Recebeu também múltiplas condecorações por seu labor em prol das relações com outros países, assim como o Prêmio Mijail Sholojov outorgado pela União de Escritores da Rússia em 1995.
Fidel esteve Portugal, pela primeira vez, em outubro de 1998 durante a VIII Cimeira Ibero-Americana, realizada no Porto, e rapidamente se tornaria a personagem central do encontro. Em Matosinhos, num comício-festa de solidariedade com o povo cubano, Fidel terá feito "o mais longo discurso político algumas vez proferido" em terras portuguesas: foi um improviso que durou duas horas e meia. E ouviu de José Saramago, que acabava de ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, as seguintes palavras: "Cuba dá-nos todos os dias uma lição de coragem. Cuba vive mais firme do que uma rocha, porque uma rocha desgasta-se, mas, até agora, a vontade do povo cubano não se desgastou." A presença de Fidel no Porto daria mais força ao protesto de rua contra o bloqueio norte-americano à ilha, num dos dias da cimeira. À frente da manifestação seguiam, entre outros, Vasco Gonçalves, António Rosa Coutinho e Mário Tomé. Em maio de 2001, o presidente cubano voltou a Portugal, mas a visita resume-se a uma passagem discreta por Lisboa.
Transferência inédita e retirada de poder.
Em 26 de julho de 2006, Fidel Castro ia a bordo de um avião que fazia a viagem entre as cidades cubanas de Holguín e Havana quando teve uma primeira hemorragia relacionada com a doença nos intestinos que o afastou da vida pública.
Não havia nenhum médico a bordo do avião, por isso o aparelho aterrou de emergência para que Fidel Castro fosse hospitalizado. A doença do líder histórico cubano foi então considerada segredo de Estado, mas foram mobilizados os melhores médicos e quatro meses depois, o médico espanhol José Luis Garcia Sabrido, chefe de cirurgia do hospital Gregório Marañón em Madrid, viajou até Cuba para acompanhar a situação.
Em 1 de agosto de 2006, Fidel Castro delegou em caráter provisório, por conta de uma doença intestinal que, segundo o próprio, seria grave, suas funções de comandante supremo das Forças Armadas, secretário-geral do Partido Comunista de Cuba e de presidente do Conselho de Estado (cargo máximo da República Cubana) ao seu irmão Raúl Castro, Ministro da Defesa. Inúmeras críticas surgiram, e em outubro de 2006 a imprensa mundial afirmou que ele teria câncer, fato não confirmado.
Em 19 de fevereiro de 2008, Castro anunciou ao jornal do Partido Comunista, o "Granma", que não se recandidataria ao cargo de presidente de Cuba, cinco dias antes de o seu mandato terminar.
O poder passou em definitivo para as mãos de seu irmão Raúl Castro após Fidel Castro decidir retirar-se do poder em 24 de fevereiro de 2008, após o parlamento definir a nova cúpula governamental. Cinco dias depois, Fidel anunciou que não aceitaria novamente, se eleito, o cargo de Chefe de Estado. Em uma mensagem publicada no jornal oficial Granma, ele escreveu e assinou:
Ele também escreveu que estaria traindo sua consciência ocupando uma responsabilidade que requer uma mobilidade que não estaria mais em condições físicas de exercer. Mesmo com a renúncia de Castro, o presidente americano, George Bush, não retirou as sanções americanas impostas a Cuba. Fidel Castro disse que continuará escrevendo sua coluna no jornal cubano e não pode continuar no poder por insuficiência em sua saúde. Ele permaneceu como membro do parlamento após a sua eleição como um dos 31 membros do Conselho de Estado. Também manteve o cargo de primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba.
Ideologia política.
Castro proclamou ser "um socialista, marxista e leninista" e se identificou publicamente como um iniciante marxista-leninista em dezembro de 1961. Como um marxista, Castro procurou transformar Cuba, que era um estado capitalista dominado pelo imperialismo estrangeiro, em uma sociedade socialista e consequentemente uma sociedade comunista. Influenciado por Guevara, sugeriu que Cuba poderia ultrapassar a maioria dos estágios do socialismo e progredir diretamente para o comunismo. O governo de Castro também era nacionalista, com Castro declarando: "Não somos apenas marxista-leninistas, mas também nacionalistas e patriotas". O historiador Richard Gott observou que uma das chaves do sucesso de Castro era sua capacidade de utilizar os "temas gêmeos do socialismo e do nacionalismo" e os manter "intermináveis no jogo". Castro descreveu Karl Marx e o nacionalista cubano José Martí como suas principais influências políticas, embora Gott acreditasse que Martí, em última instância, permaneceu mais importante do que Marx na política de Castro. Castro descreveu as ideias políticas de Martí como "uma filosofia da independência e uma filosofia humanista excepcional", e seus partidários e apologistas repetidamente alegaram que havia grandes semelhanças entre as duas figuras.
O biógrafo Volka Skierka descreveu o governo de Castro como um "sistema socialista-nacionalista "fidelista", altamente individualista", com Theodore Draper denominando seu enfoque de "castrismo", o encarando como uma mescla do socialismo europeu com a tradição revolucionária latino-americana. O cientista político Paul C. Sondrol descreveu a abordagem de Castro à política como "utopismo totalitário", com um estilo de liderança que se baseava no fenômeno latino-americano mais amplo do Caudilhismo. Castro assumiu uma posição relativamente conservadora em muitas questões sociais, opondo-se ao uso de drogas, jogos de azar e prostituição, que ele considerava males morais. Em vez disso, defendeu o trabalho árduo, os valores familiares, a integridade e a autodisciplina.
Vida pessoal.
Família.
Com sua primeira esposa, Mirta Díaz Balart, Fidel Castro teve um filho chamado Fidel "Fidelito" Castro Díaz-Balart em 1 de setembro de 1949. Mirta e Fidel divorciaram-se em 1955, tendo ela se casado novamente e, após uma temporada em Madrid, teria voltado a residir em Havana para viver com Fidelito e sua família. Fidelito cresceu em Cuba e por um período dirigiu a comissão para a energia atômica do país, tendo sido retirado do posto por seu pai. Em 1 de fevereiro de 2018, com 69 anos suicidou-se.
Fidel tem outros cinco filhos com sua segunda esposa, Dalia Soto del Valle: Alexis, Alexander, Alejandro, Antonio e Ángel.
Durante seu casamento com Mirta, Fidel teve uma amante, Naty Revuelta, que lhe deu uma filha, Alina Fernández-Revuelta, que deixou Cuba em 1993 fazendo-se passar por uma turista espanhola e pediu asilo nos Estados Unidos, onde foi uma ferrenha crítica das ações políticas de seu pai.
Uma irmã de Fidel, Juanita Castro, vive nos Estados Unidos desde o início da década de 1960, tendo sido retratada num documentário de Andy Warhol em 1965. Juanita disse, em Outubro de 2009, que trabalhou para a CIA de 1961 até sua saída de Cuba.
No total, pelo menos seis membros de sua família vivem nos Estados Unidos, no bairro de Little Havana, em Miami: sua irmã, duas filhas e três de seus netos, que levam, em geral, uma vida longe da mídia.
Patrimônio.
Em julho de 2014 foi publicado o livro "A vida Secreta de Fidel", escrito por Juan Reinaldo Sanchez um ex-guarda-costas de Fidel. Sanchez, que fora preso em Cuba e acusado de traição exilou-se nos Estados Unidos em 2008, onde conheceu o jornalista francês Axel Gyldén que o ajudaria a escrever o livro. O autor afirma que Fidel nunca abandonou o capitalismo e cita entre seus bens algumas extravagâncias como a posse de uma ilha particular, uma reserva pessoal de caça, uma marina com quatro iates de alto luxo, um barco de pesca e pelo menos 20 residências igualmente recheadas de conforto. O livro ainda afirma que Fidel teria um enorme aquário cheio de golfinhos e tartarugas, que gosta de exibir a familiares e a amigos mais próximos.
Em 2005 a revista "Forbes" especulou que o patrimônio de Fidel Castro atingiria aproximadamente 550 milhões de dólares. A Forbes chegou a esse número pela soma do patrimônio das empresas estatais do governo de Cuba. Com essa fortuna acumulada, especulou a revista, ele teria alcançado o décimo lugar na categoria "governantes e membros da realeza mais ricos do mundo".
A "Forbes" disse à BBC que, para estimar a presumível fortuna de Fidel, calculou o valor de mercado de várias empresas estatais cubanas, e atribuiu um percentual do valor assim obtido ao patrimônio pessoal de Fidel Castro. Um porta-voz da revista confirmou à BBC que a revista não tem nenhuma prova de que Fidel Castro tenha contas bancárias no exterior, embora a revista mantenha que Fidel teria "uma fortuna".
Tais dados foram negados por Fidel no ano seguinte, ao considerar a notícia como uma infâmia com o objetivo de desprestigiar a revolução cubana "anular Cuba e pintar Castro como um ladrão". Na oportunidade, Fidel Castro desafiou:
Fidel ainda alegou que a revista estaria ligada aos serviços de inteligência dos Estados Unidos, e afirmou que o próprio presidente Ronald Reagan teria nomeado o editor da revista para o cargo de coordenador das transmissões de rádio da Voz da América dirigidas à União Soviética durante a Guerra Fria. Ainda, segundo Fidel, muitos meios de comunicação, por todo o mundo, estariam buscando, "de maneira suja e baixa, desprestigiar a Revolução, anular Cuba e pintar Castro como um ladrão".
Morte.
Fidel Castro morreu em Havana na noite de 25 de novembro de 2016, aos 90 anos. A morte do líder cubano foi anunciada pela TV estatal cubana. Castro morreu às 22h29 e o corpo do ex-presidente de Cuba será cremado, "atendendo a seus pedidos", informou Raúl Castro, na TV estatal. A última vez que Fidel havia sido visto publicamente foi em 15 de novembro, quando recebeu o presidente do Vietnã, Tran Dai Quang. O governo de Cuba decretou nove dias de luto nacional pela morte do líder da Revolução Cubana e anunciou que o funeral de Fidel ocorreria no dia 4 de dezembro, no cemitério Santa Ifigenia, na cidade de Santiago de Cuba.
Reações.
A notícia da morte de Fidel Castro gerou reações variadas de personalidades e líderes mundiais.
O presidente Raúl Castro anunciou na televisão estatal: ""O comandante-em-chefe da revolução cubana morreu esta noite às 22h29." E no final de seu pronunciamento disse: "¡Hasta la victoria siempre!" A opositora Yoani Sánchez afirmou que Castro deixou "um país em ruínas onde os jovens não desejam viver"".
O presidente russo Vladimir Putin descreveu Fidel como o "símbolo de uma era" e afirmou que o líder cubano estaria sempre "no coração do povo russo".
Em nota, Michel Temer, presidente do Brasil, afirmou que ""Fidel Castro foi um líder de convicções. Marcou a segunda metade do século XX com a defesa firme das ideias em que acreditava". Ainda no Brasil, políticos de centro e de esquerda celebraram o legado do líder cubano. O senador Cristovam Buarque declarou que "ele foi o herói da minha geração na América Latina: tanto como líder de revolução, quanto como líder da resistência às forças imperialistas, e sobretudo como líder de um governo comprometido com a justiça social, sem perder o vigor transformador".
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu numa rede social: "Fidel Castro está morto!"" e posteriormente o classificou como "um ditador brutal". Barack Obama, presidente dos Estados Unidos nos momentos finais de seu mandato, foi neutro ao comunicar que ""a história registrará e julgará o enorme impacto dessa figura singular no povo e no mundo ao seu redor".
O presidente francês, François Hollande, relembrou as alegações de supostos abusos de direitos humanos em Cuba, mas também destacou a defesa de Fidel Castro contra pressões externas, em especial o embargo econômico norte-americano, classificado como “inaceitável”.
O presidente sul-africano Jacob Zuma saudou Cuba e agradeceu a Fidel pela “ajuda na luta contra o apartheid”, regime que imperou na África do Sul por décadas e que tratava negros como cidadãos de segunda classe.
O Papa Francisco, chefe de estado do Vaticano que mais se empenhou em apaziguar as relações de Cuba com os Estados Unidos, fez um pronunciamento sentido em telegrama enviado ao irmão de Fidel, Raúl Castro: "ao receber a triste notícia do falecimento do seu querido irmão, (...) expresso os meus sentimentos de pesar".
Garry Kasparov, presidente do Human Rights Foundation, afirmou: "Fidel Castro foi um dos muitos monstros do século XX"".
Logo após o anúncio da morte, exilados cubanos e cubano-americanos, contrários ao regime de Castro em Cuba comemoraram a morte do ex-presidente nas ruas do bairro de Little Havana em Miami. Em Cuba, centenas de milhares de pessoas criaram um corredor humano de 900 km que saudou o ex-presidente com gritos de "Yo soy Fidel" até o leito onde o seu corpo foi enterrado, em Santiago, cidade berço da revolução liderada por Fidel em 1959.
Críticas.
Opositores.
Milhares de cubanos deixaram o país durante e depois da revolução que levou Fidel Castro ao poder, fosse por razões políticas ou econômicas. Após 35 anos da instalação do governo revolucionário, estima-se que cerca de 32 mil cubanos deixaram a ilha em direção aos Estados Unidos. De acordo com o jornal francês "L'Humanité", a cada ano, 20 mil cubanos solicitam vistos de permanência em solo norte-americano. Milhares deles envolveram-se em menor ou maior grau em organizações apoiadas pelo governo dos EUA, a fim de derrubar ou pelo menos para desafiar o seu governo mas, as ações violentas dos anos 1960 falharam. Jacobo Machover estima em várias centenas de milhares o número de adversários de Fidel Castro.
Em 23 de abril de 2003, membros do grupo Repórteres sem Fronteiras (RSF), acompanhados por um repórter do jornal "20 minutes", do cineasta Romain Goupil, da escritora Zoé Valdés e do filósofo e colunista Pascal Bruckner manifestaram-se em frente da embaixada de Cuba em Paris contra a condenação de 78 cubanos acusados de "conspiração". Eles bloquearam as entradas com correntes e cadeados e confrontaram o pessoal da embaixada.
Dissidentes cubanos entraram com uma queixa perante o Supremo Tribunal da Espanha, a mais alta corte da justiça espanhola, em 14 de Outubro de 2005, acusando de Fidel Castro de genocídio, crimes contra a humanidade, tortura e terrorismo.
Presos políticos.
Opositores afirmam que presos políticos morrem em prisões cubanas, dentre os quais o mais famoso é o poeta católico Pedro Luis Boitel. Muitos escritores também foram perseguidos durante suas vidas sem poder sair livremente Cuba como o homossexual Reinaldo Arenas (que conseguiu fugir de Cuba, mas suicidou-se nos Estados Unidos), José Lezama Lima e Virgilio Piñera. No entanto, segundo a Anistia Internacional, a repressão continua a ser muito forte: ""Durante 2006, houve um aumento do assédio do público e intimidação dos críticos do regime e dissidentes políticos por grupos semioficiais em operações chamado de "repúdio"". Atos de repúdio ou manifestações de partidários do governo contra de dissidentes políticos ou críticos do regime aumentaram.
Alegadamente muitas prisões são feitas fundamentadas em uma suposta "periculosidade social", definida como uma "propensão a cometer um delito". Nestas medidas de prisão preventiva os termos embriaguez, toxicodependência seriam frequentemente aplicados aos opositores podendo resultar em condenações criminais.
De acordo com um relatório publicado em 10 de janeiro de 2005 por a Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, ainda existem 294 presos políticos em Cuba, contra 317 no início de 2004. De acordo com o relatório, em 2004, pelo menos 21 pessoas foram presas por razões políticas. Ele também lembrou que o governo cubano continua a negar o acesso a prisões ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Muitos adversários do regime foram presos, e um dos mais famosos é Armando Valladares que relatou suas experiências em "Against All Hope", condenado pelo uso de explosivos em Havana em 1960. Régis Debray, que foi enviado por François Mitterrand para a sua libertação, em 1980, escreveu mais tarde, que Armando Valladares tinha se passado por paralítico quando, na realidade, estava com a saúde perfeita. Este último também ganhou mais tarde a cidadania americana e tornou-se embaixador de Ronald Reagan na ONU.
Perseguição aos homossexuais.
Fidel admitiu que seu governo perseguiu homossexuais nas décadas de 1960 e 1970. Na época, gays e lésbicas foram exonerados de cargos públicos, presos ou enviados a campos de trabalho forçado. Questionado sobre se o Partido Comunista ou alguma entidade específica foi responsável pela injustiça, Fidel negou, e se assumiu como único responsável.
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867 | Ferro de passar | Ferro de passar
O é usado pelas pessoas para passar tecidos do vestuário, ou as de cama, mesa e banho, em geral, alisando-os através do seu aquecimento. Antigamente, esse aquecimento era conseguido graças à queima de óleo, carvão ou gasolina, atualmente esse aquecimento é gerado através da energia elétrica.
História.
O ferro de passar é um instrumento que começou a ser utilizado há centenas de anos.
Seus primórdios remetem aos brunidores, peças encontradas em escavações indicando que alguns povos, dentre eles os escandinavos, já praticavam o alisamento a frio com ossos, pedras e madeiras Os Vikings, entre o período de 800 e 1200, teriam sido os primeiros a utilizar alisadores de vidro. Nesse período usam-se também as calandras .
Desde o século IV já existiam meios de se passar as roupas principalmente as femininas. Os chineses foram os primeiros a utilizar uma forma rudimentar desse instrumento, consistia em uma panela cheia de carvão em brasa, e manuseada através de um cabo comprido (osso, marfim, madeira ou jade), passavam por cima do linho, algodão ou seda para alisar o tecido. Já na Europa, em torno do século XII, também se utilizava o carvão em brasa, porém ele era colocado em uma caixa fechada, que tinha uma pega por cima para se poder pressionar a roupa. Esta peça tinha orifícios como uma espécie de chaminé para manter o carvão queimando, porém sempre saía algum pó destes orifícios, sujando a roupa. Outra técnica utilizada eram caixas com pedaços de metal aquecido. A vantagem desta técnica era que já não largava pó, entretanto requeria a substituição constante das peças que iam arrefecendo.
Outra alternativa, foi a utilização de uma peça de ferro aquecida externamente e depois aplicada sobre a roupa. Desta última técnica é que surgiu o termo "ferro de passar" .
Nos séculos seguintes, no ocidente passaram a usar a madeira, o vidro ou o mármore como matéria-prima desse instrumento. Eles eram utilizados a frio, uma vez que até o século XV as roupas eram engomadas, o que impossibilitava o trabalho a quente.
No entanto, o ferro de passar roupa propriamente dito na forma mais parecida com o que temos hoje, tem suas primeiras referências a partir do século XVII, quando o ferro a brasa passou a ser usado por uma escala maior de pessoas. No século XIX surgiram outras variedades desse instrumento, como o ferro de lavadeira, o de água quente, a gás e a álcool. Em 1882, o americano Henry W. Seely criou a patente do ferro de passar elétrico, algum tempo depois em 1926 mais precisamente, surgiu o ferro a vapor.
Apesar de o ferro elétrico ter sido uma ótima invenção, na época de seu lançamento ele não obteve o sucesso esperado, pois a maioria das residências daquela época não dispunha de energia elétrica, e as que contavam com esse recurso somente podiam usar o novo instrumento à noite, porque durante o dia as empresas de distribuição de energia suspendiam seu fornecimento à população. Para não alterar os hábitos da atividade doméstica, a população preferia continuar usando os mesmos recursos utilizados até então. Porém, com a melhoria no fornecimento de energia elétrica, o produto se tornou um produto elétrico indispensável em qualquer residência. No Brasil a nacionalização desse produto ocorreu somente durante a década de 1950; antes disso, o abastecimento do nosso mercado interno era feito através da importação.
Outra invenção semelhante, mas que não agradou, pelo certo perigo que oferecia a quem o manuseasse, foi um modelo de ferro de passar aquecido por uma lâmpada. Em 1892 surgiram os ferros de passar com resistência. Eles eram mais práticos, eficientes e seguros, pois aliavam limpeza ao controle de temperatura, e podiam ser usados em qualquer lugar que dispusesse de eletricidade, além disso eram oferecidos aos interessados a preços acessíveis.
Com a expansão da rede de distribuição elétrica, e por sua facilidade de produção e montagem, o ferro elétrico continuou despertando o interesse das donas de casa em tê-lo e usá-lo em seus afazeres domésticos. Em 1924 surgiu o termostato regulável, que permitia adequar a temperatura do ferro ao tipo de tecido e assim evitava a queima das roupas. Em 1939, a popularidade do ferro elétrico levou-o ao segundo lugar como eletrodoméstico preferido, perdendo somente para os aparelhos de rádio. Dois anos mais tarde surgiria o ferro a vapor. A partir da década de 1950 os fabricantes começaram a abastecer o mercado com uma grande variedade de ferros de passar, disponibilizando modelos capazes de atender o gosto e preferência dos consumidores.
Shaker Museum.
Shaker Museum localizado no estado de Nova Iorque, EUA, também possui um histórico de ferros de passar e outros equipamentos similares utilizados em sua lavanderia entre o século XVIII e XIX. A lavanderia era para atender as necessidades da comunidade religiosa Shaker (protestantes cristãos) que chegaram aos EUA fugindo da perseguição religiosa da Inglaterra. Chegaram a ter setenta famílias na comunidade e lavar, passar era uma atividade diária na comunidade.
No museu encontra-se prensas de linho, onde as peças eram colocadas entre tábuas de madeira e uma prensa acima delas, fotos das pessoas da comunidade Shaker trabalhando nas lavanderias (os homens na prensa e as mulheres com os ferros de passar) e forno/estufa utilizado para esquentar o ferro de passar.
Acervo Museu da Casa Brasileira.
O MCB (Museu da Casa Brasileira) possui uma coleção pequena, de treze ferros de passar, cuja utilização presume-se entre os século XIX e XX. Cinco deles são elétricos, outros cinco alimentados por carvão, sendo um deles infantil, outros dois a cunha ou lingueta de ferro e um é aquecido por estufa. O ferro de estufa é de ferro fundido com dimensões de 8,9 x 13,3 x 9cm. Já os ferros de carvão são maiores (13,7 x 14,6 x 6,5) e feitos de ferro e madeira. O ferro de passar a cunha é de bronze e madeira. Os ferros elétricos são de metais, exemplares dos fabricantes Alfredo Villanova S/A e Tupy S/A, incluindo um modelo de ferro de viagem .
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868 | Feudalismo | Feudalismo
Feudalismo compreende o sistema político, económico e social que predominou na Europa Ocidental entre o início da Idade Média até a afirmação dos Estados modernos, tendo seu apogeu entre os séculos XI e XIII. O conceito teórico foi criado nos séculos XVII e XVIII por advogados franceses e ingleses, e popularizado pelo filósofo Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu.
O feudalismo deve a sua formação a uma série de fatores, entre eles a desagregação do Império Romano, o declínio da escravidão e do comércio, a ruralização da população, a formação de múltiplos senhorios e reinos bárbaros independentes, a incapacidade da maioria dos sacro-imperadores romano-germânicos em reconstituir uma unidade política abrangente e eficiente, a supressão do paganismo e o fortalecimento político da Igreja Católica e do movimento monástico. O feudalismo evoluiu lentamente até se tornar o modelo dominante na Europa, e se caracterizou, em sua forma madura, pela regionalização ou encelulamento do poder, ou seja, sua concentração em âmbito local nas mãos de uma aristocracia rural que dominava a terra com grande autonomia, e subjugava a maior parte da população através do poder de "dominium". O sistema era garantido pelo monopólio das forças militares pela elite, pelo apoio da Igreja, por uma progressiva sustentação jurídica e ideológica, e por uma forte rede de obrigações entre os senhores feudais e seus vassalos e súditos.
A partir do século XIII, com o surgimento de novas monarquias centralizadas e poderosas, a reurbanização da Europa, o reaquecimento e diversificação da economia, entre outros fatores, o sistema iniciou seu declínio, que se acelerou a partir do século XIV com a emergência do proto-capitalismo, a concorrência da burguesia, a substituição de grande parte dos servos por trabalhadores assalariados, a maior laicização da sociedade e grandes mudanças culturais, mas algumas instituições feudais, mais notadamente o feudo propriamente dito, perduraram na Europa até depois do fim do Antigo Regime. O sistema foi típico da Europa, onde se desenvolveu com características únicas, mas vários historiadores vêm tentando compará-lo com outros sistemas não-europeus, com resultados muito controversos.
Sua imagem pública foi profundamente manchada com as revoluções burguesas, atendendo ao interesse da burguesia em afirmar a legitimidade e superioridade do seu próprio modelo, dissolvendo-se entre os séculos XIX e XX as últimas instituições feudais ainda remanescentes em regiões isoladas da Europa. Devido à negativa propaganda burguesa, por muito tempo o feudalismo foi visto como um sistema autoritário, violento, opressor e explorador, cuja economia era estagnada, cuja política era caótica, e que não tinha flexibilidade para admitir mudanças. Hoje entende-se que precisa ser reavaliado e sua história entendida em suas próprias bases e contexto, e não a partir de projeções judiciosas modernas sobre uma época em que todo o pensamento era diferente. Reconhece-se hoje que o feudalismo foi, também, coerente, dinâmico e adaptável, manteve-se em um estado de contínuo rearranjo sem alterar sua essência, perdurando por muitos séculos, e propiciou o desenvolvimento de novas técnicas e métodos de produção e trocas que impulsionaram um reflorescimento econômico a partir dos séculos XI-XII, com um rico paralelo nas artes, na arquitetura, na literatura e na cultura em geral. Além disso, estudos mais recentes vêm mostrando que o sistema foi muito menos homogêneo do que se pensava, com uma ampla variedade de formas de articulação nas diferentes regiões e épocas, gerando um grande debate sobre sua definição e sobre a aplicabilidade dos conceitos antigamente propostos sobre o tema.
Introdução.
Com uma multiplicidade de problemas a afectá-lo, Teodósio viu-se na necessidade de dividir o Império Romano em duas partes distintas. Uma sediada no Ocidente e outra com sede em Bizâncio, depois Constantinopla, atual Istambul. Sortes distintas tiveram estes territórios. O do ocidente acossado pelas contradições internas mas também assoladas com várias vagas de invasores, sucumbiu não conseguindo mais manter o seu poderio que lhe deu fama e abriu a porta a uma nova realidade, a fragmentação do poder em vários senhores, em suma o Feudalismo.
A formação do feudalismo.
Os romanos, a exemplo dos gregos, chamavam de "bárbaros" a todos aqueles que não tinham seus costumes e que não falavam sua língua. Entre esses povos, estavam os germanos, cujas invasões provocariam a desestruturação do Império Romano do Ocidente.
A partir do fim do , com o enfraquecimento do poder de Roma, alguns povos que habitavam nas proximidades das fronteiras do Império começaram a se instalar pacificamente em seu território, como aliados, isto é, como "colonos" e, sobretudo, como soldados.
No final do , os hunos, povo guerreiro de origem asiática, chegaram a Europa oriental e mudaram esse quadro, acelerando o processo de desintegração do Império Romano. Praticamente empurrados pelas invasões dos hunos, os povos germânicos levariam de roldão as fragilizadas defesas das fronteiras romanas. Assim, francos, burgúndios, alamanos, ostrogodos, visigodos, anglo-saxões invadiam e pilhavam as cidades do Império.
Em 410, os visigodos ocuparam a península Itálica, tomando e saqueando Roma. Os vândalos, por sua vez, avançaram pela Península Ibérica, atravessaram o estreito de Gibraltar e estabeleceram-se no norte da África.
O golpe definitivo ocorreu em 476, quando Odoacro, chefe dos hérulos, destronou o imperador de Roma, pondo fim ao Império Romano do Ocidente. Esse acontecimento assinala a passagem entre Antiguidade e a Idade Média na Europa, mas também alguns historiadores acreditam em outras formas de passagem entre as mesmas, por exemplo: divisão do império em oriente e ocidente, deposição do último imperador no ocidente ou a liberdade de culto para os cristãos.
Assim, ao término do , toda a porção ocidental do Império Romano, agora sob o domínio dos germanos, começava a assumir uma configuração inteiramente diversa, do ponto de vista de sua organização social, política e econômica. Era o mundo feudal que começava a se formar.
Mas seriam necessários mais de três séculos para que as estruturas da nova sociedade estivessem plenamente consolidadas. Nesse período, a administração centralizada do Império Romano daria lugar a diversos reinos, como o dos ostrogodos, o dos francos e outros nos quais vigoravam formas descentralizadas de poder.
De todos os reinos feudais, o mais duradouro foi o dos francos. Por volta do , seu poder era tão grande que alguns acreditavam na possibilidade de o Império Romano do Ocidente voltar a surgir.
A base social dos reinos feudais se constituiria a partir do encontro e da combinação de tradições, costumes, crenças e estruturas sociais herdadas dos romanos e dos povos germânicos.
Vilas: uma tradição romana.
Ao longo de todo processo de desagregação do Império Romano do Ocidente, que durou cerca de duzentos anos, as cidades se despovoaram, enquanto o comércio e a produção artesanal entraram em declínio. Sem dinheiro para manter as fronteiras, o imperador não conseguia garantir a integridade do território. Para se proteger, a população abandonava as cidades, principais alvos dos povos invasores.
Ao mesmo tempo, com o fim das guerras de expansão do Império, a mão-de-obra escrava, base da economia romana, praticamente desapareceu. Com isso, as grandes propriedades rurais escravistas – os latifúndios – perderam importância.
No lugar dos latifúndios, começaram a surgir as "vilas", grandes propriedades rurais que tinham por objetivo a auto-suficiência, tendo em vista que o fluxo comercial diminuiu com as invasões. Nas vilas, a mão-de-obra principal passou a ser dos colonos, trabalhadores que entregavam parte do que produziam ao senhor, em troca da permissão de uso da terra do senhor. Com o passar do tempo, os pequenos agricultores também entregariam suas terras aos grandes proprietários em troca de proteção.
Essas vilas e as relações nelas estabelecidas contribuíram para a formação dos "feudos", unidade básica de todo o sistema feudal.
Feudo também era em benefício, muitas vezes uma área territorial, que o senhor doava a um nobre. Aquele que fazia a doação era chamado de suserano ou senhor, enquanto o que recebia a doação chamava-se vassalo.
O vassalo não era proprietário do feudo - ele podia apenas usufruir desse bem. Portanto, ele estava proibido de fazer qualquer negociação que envolvesse a venda da terra. A partir do , o feudo tornou-se um bem hereditário. Ao receber a doação, o vassalo tornava-se senhor das terras que recebia. Ele então podia doar parte dessas terras a outro homem e, assim, tornar-se também um suserano ou senhor.
A contribuição dos povos germânicos.
A intensificação das invasões germânicas na Europa ocidental trouxe mudanças e acrescentou novos elementos à sociedade que se formava.
Os povos germânicos trouxeram consigo certos costumes que se incorporaram à sociedade nascente, como o padrão de justiça, baseada na tradição (consuetudinário), e noções de honra e lealdade, que fundamentavam as relações entre o chefe guerreiro e seus comandados.
Prática comum entre os germânicos, o ato de conceder terras como recompensa aos homens que se destacavam nos combates foi consolidada nesse período. Assim, à medida que avançavam e se instalavam no território romano, os guerreiros tornavam-se senhores de terras. A união entre eles e seus comandantes baseava-se apenas na lealdade e na palavra. Assim, os novos senhores da terra passavam a ser praticamente independentes dentro de seus domínios, que agregavam germânicos e romanos. Com o tempo, eles se transformariam em senhores feudais, e a administração fortemente centralizada do Império Romano daria lugar a um poder descentralizado.
A nova organização social que despontava na Europa com a desagregação do Império Romano – o feudalismo – assumiu sua forma mais acabada por volta dos séculos VIII e IX. Nessa época, outra onda de invasões, desta vez empreendidas pelos povos árabes, húngaros, eslavos e normandos (ou viquingues), isolou a Europa ocidental do Oriente. O clima de insegurança e isolamento criado pela nova onda de invasões dificultava a circulação de pessoas, debilitando ainda mais as atividades comerciais e a força das cidades.
O crescimento populacional.
A população europeia era de aproximadamente 18 milhões de pessoas no ano 800. Em trezentos anos, até o ano 1100, esse número aumentou em cerca de 8 milhões de habitantes, saltando a população total para quase 26 milhões. Em 1200, foi atingida a marca de 34 milhões de habitantes. Isso quer dizer que em apenas quatrocentos anos a população da Europa praticamente dobrou.
A diminuição das invasões a partir do gerou um clima de estabilidade social sem precedentes no mundo feudal. O isolamento entre os feudos permitiu que o número de mortes por epidemia diminuísse consideravelmente. Sem disputas contra invasores e momentaneamente livres das epidemias, o número de nascimentos começou a superar o de mortes, ocasionando o aumento populacional.
Com esse crescimento, iniciou-se um processo de exploração agrícola das terras de florestas e de pântanos. Segundo Georges Duby, nobres em busca de expandir seus domínios, camponeses que criavam novas propriedades nos bosques senhoriais, a fundação de novas aldeias nas fronteiras de um principado ou iniciativas individuais, de pessoas em busca de mais pastos, faziam os arroteamentos (recuo de florestas, terrenos baldios, zonas pantanosas para criar áreas cultiváveis) na época. A ocupação dessas novas áreas e a introdução de algumas inovações nas técnicas de cultivo permitiram aumentar a produção agrícola. Entretanto, isso não foi suficiente para alimentar a população crescente dos feudos. Os senhores feudais começaram então a expulsar o excedente populacional. Banidos dos feudos geralmente sob a alegação de terem quebrado alguma regra, muitos servos viram-se obrigados a mendigar ou a saquear nas estradas.
Enquanto isso ocorria com a população mais pobre, os filhos de senhores feudais viram-se na contingência de abandonar a propriedade paterna. Para garantir a supremacia dos feudos e não dividir suas posses, os senhores feudais fizeram do seu filho primogênito o seu único herdeiro. Assim, os outros filhos eram praticamente expulsos das terras, tendo de encontrar novos meios para sobreviver. A consequência desse quadro foi o aparecimento de inúmeros grupos de bandoleiros nas estradas, que viviam de raptar algum senhor feudal poderoso para exigir o pagamento de resgate.
Essas circunstâncias acentuavam o clima de disputa entre os nobres cavaleiros. Durante esse período, efetuavam-se também combates e torneios que transformavam os campos em verdadeiras arenas. Foi necessária a intervenção da Igreja, instituindo dias para os torneios, como forma de regulamentá-los e evitar que a produção agrícola fosse prejudicada. Esse ambiente, dominado pelo espírito guerreiro, favoreceu o movimento das Cruzadas, promovido pela Igreja.
As ordens da sociedade feudal.
A sociedade feudal é dividida em três grandes ordens. A primeira compreendia os "oratores", "aqueles que rezam", os integrantes do clero, que cuidavam da fé cristã. Na prática, exercia grande poder político sobre uma sociedade bastante religiosa, onde o conceito de separação entre a religião e a política era desconhecido. Mantinham a ordem da sociedade evitando, por meio de persuasão e criação de justificativas religiosas, revoltas e contratações camponesas. A segunda reunia os "bellatores", "os que lutam", incluindo a nobreza por um todo, responsáveis pela guerra e pela segurança. Já a última ordem era a dos "laboratores", "aqueles que trabalham", constituída pelo povo (servos e súditos), que trabalhava para sustentar toda população.
O que determinava o status social era o nascimento, porém, não se pode dizer que a mudança de classe social não existisse, pois alguns camponeses tornavam-se padres e passavam a integrar o baixo clero, por exemplo, mas essa mudança era rara e um servo dificilmente ascenderia a outra posição.
Os homens livres formavam uma classe especial distinta do clero, dos servos e da nobreza. Não estavam sujeitos à servidão, eram geralmente donos de alódios e detinham diversos privilégios, como a isenção de alguns tributos, direito à Justiça do rei, capacidade de participar de tribunais e ser alistados entre os homens de armas, podendo eventualmente chegar a ser ordenados cavaleiros, e podiam ter servos e atuar como agentes administrativos de feudos, ou arrendá-los privadamente. Porém, podiam estar de alguma forma vinculados aos senhores feudais como clientes ou tutelados, embora essas relações geralmente fossem voluntárias. Muitos viveram nas cidades como membros da burguesia, e em algumas regiões da Europa eram vistos como o estrato inferior da nobreza.
Na sociedade feudal, a honra e a palavra tinham importância fundamental. Desse modo, os senhores feudais ligavam-se entre si por meio de um complexo sistema de obrigações e tradições. A fim de obter proteção, os senhores feudais geralmente procuravam por outro senhor mais poderoso, jurando-lhe fidelidade e obediência. Chamava-se vassalo, o senhor feudal que pedia proteção a outro. Essa aliança deveria ser consolidada pelo senhor mais poderoso, o suserano, por meio da concessão de um feudo, que podia ser constituído de terras ou de bens ou de ambos. Nesse sistema, o vassalo devia várias obrigações ao seu suserano, como o serviço militar, por exemplo. Por essa razão, quanto maior o número de vassalos, maior o prestígio e o poder de um suserano. O compromisso estabelecido nesse sistema tinha caráter sagrado e constituía falta grave sua violação.
Origem e natureza do poder feudal.
A partir do , o Império Romano conheceu um longo processo de desestruturação e um dos principais fatores desta foi a dificuldade de gerir e manter unido o seu vasto território. Depois da derrocada do Império Romano do Ocidente a Europa havia se fragmentado em uma multiplicidade de reinos e principados, e o Sacro Império, que pretendeu substituir Roma, só conseguiu manter sua coesão por pouco tempo, também ele fragmentando-se em ducados e condados largamente autônomos. Estes por sua vez, da mesma forma não conseguiram se sustentar no longo prazo, e o resultado é que no século XI o poder havia se pulverizado em uma infinidade de senhorios e feudos de dimensões relativamente reduzidas (áreas de apenas 150-200 hectares não eram raras, mas em geral eram maiores), e de administração largamente independente das autoridades maiores. Os imperadores, reis, príncipes, duques e condes continuaram a existir, mas sua capacidade de interferir diretamente nos senhorios declinou rapidamente e de forma generalizada, e seus titulares preservaram uma autoridade principalmente simbólica e cerimonial, exercendo um poder efetivo e obtendo seus rendimentos principais apenas em seus domínios privados.
O projeto unificador de Império foi assumido então pela Igreja, fundamentando-o numa dimensão espiritual. No século XII a Europa Ocidental estava praticamente livre do paganismo, e sua sociedade se tornou uma sociedade eminentemente cristã, homogeneizando em larga medida os valores e práticas das pessoas e instituições, a ponto de na Idade Média os conceitos de sociedade e de cristandade se tornarem praticamente sinônimos. Naquela época a religião era uma prática tida como indispensável para os interesses individuais e da sociedade, e ninguém questionava seriamente a realidade da verdade divina revelada através das Escrituras, cujos únicos intérpretes autorizados eram os clérigos. A salvação da alma era a preocupação principal de todo cristão, e essa salvação dependia inapelavelmente do conhecimento da doutrina, dos sacramentos celebrados pelos clérigos e de sua atividade como intercessores junto a Deus e os santos e distribuidores de suas graças. Entre os séculos IX e XIII a Igreja erigiu um vasto edifício doutrinal que estabelecia as práticas lícitas e ilícitas para todo o cristão seguir ou evitar em virtualmente todos os aspectos da vida, e o risco envolvido na transgressão das normas podia ser catastrófico, podendo significar a condenação eterna nas chamas e tormentos do Inferno. Sua organização hierárquica, no topo da qual estava o papa, era extremamente centralizada e rígida, e os membros do clero cumpriam um rigoroso regime de obediência e disciplina.
Entre outros meios de interferência de que dispunha, era ela que introduzia o indivíduo na sociedade cristã pelo batismo, regulava as práticas de casamento, os hábitos sexuais, formas de comércio e confraternização, delimitava as competências e sacramentava os valores considerados próprios de cada classe, interferia na política, na administração da justiça e na transmissão de herança da aristocracia, praticamente monopolizava a assistência aos pobres, órfãos e doentes, organizava boa parte do povoamento e fixava a população na terra através da vinculação a uma paróquia específica, ritmava o cotidiano pelo toque dos sinos acompanhando as horas canônicas e definia o ciclo anual pelo calendário litúrgico, chegando mesmo a assumir o papel de polícia e árbitro eminente das consciências privadas através da instituição da confissão, onde segredos e faltas do indivíduo deviam ser revelados.
Em meio a uma sociedade constituída de pessoas iletradas, mantinha o controle quase absoluto do saber erudito. Detendo privilegiadamente informações e conhecimentos importantes, a Igreja garantia que seu domínio se estendesse ao longo de séculos de maneira quase inabalável. Não por acaso provinha do clero a maior parte dos administradores, notários, conselheiros, jurisconsultos e médicos que serviam nas cortes de alto escalão e nos senhorios da aristocracia. Naquela época, tinha-se o costume de fazer com que o segundo filho de uma família nobre seguisse a carreira eclesiástica — o primeiro filho herdava o feudo, segundo o direito de primogenitura. Inversamente, reforçando os laços com o poder laico, os membros mais elevados da hierarquia eclesial, o papa, os cardeais, bispos e abades, eram recrutados entre os nobres. Mesmo os reis e imperadores dependiam da Igreja para legitimar sua autoridade: era ela que os sagrava e ungia com o óleo santo, o que os revestia de uma aura sagrada, e justificava a crença no direito divino dos reis. As próprias noções de autoridade e hierarquia, tão importantes no pensamento medieval, encontravam uma justificação teológica, pois acreditava-se que o mundo tinha origem divina e Deus, em sua sabedoria infinita, havia estabelecido as coisas e pessoas em seus lugares apropriados; até mesmo os anjos, segundo os teólogos, eram divididos em ordens ou hierarquias, e daí a divisão da sociedade em três ordens, e dentro de cada uma se estruturasse, em uma escada de múltiplos degraus, uma organização bastante precisa de eminências e subordinações, superioridades e inferioridades.
Seu poder também se assentava no âmbito econômico. A Igreja se tornou extremamente rica, depositária de um imenso patrimônio em joias, metais preciosos e obras de arte, além de edifícios e outros bens imóveis, geralmente obtido através da doação dos devotos, que assim procuravam melhorar suas chances de serem incluídos entre os bem-aventurados após a morte. Ao mesmo tempo, por séculos a Igreja foi o maior senhor feudal da Europa, detendo, também geralmente através de doações, a posse de um terço a um quarto de todo o território ocidental, e parte significativa desse patrimônio fundiário era enfeudada.
Destarte, a Igreja tinha interesses múltiplos na preservação, controle e legitimação da ordem feudal, e exercia uma influência ideológica, organizadora e normativa esmagadora sobre toda a organização e funcionamento da sociedade e sobre todo o modo de vida da população de todas as classes. Segundo Jérôme Baschet, à Igreja deve-se não apenas a função de coluna vertebral da civilização feudal, mas também a envolveu completamente e lhe deu sua própria forma.
Sancionados pela Igreja, a hierarquia e o poder territorial dos senhores feudais se exerciam através do poder de "dominium", uma forma de controle combinado da terra e das pessoas ali fixadas. A posse da terra não significava uma posse absoluta, mas era ampla e se ramificava de várias maneiras. A posse e exploração direta da terra pelos senhores, chamados "domini", se limitava a uma parte apenas do senhorio, o "manso do senhor", e o restante era arrendado ou usufruído diretamente pelos súditos individuais ou pelas comunidades aldeãs. Porém, esse usufruto impunha o pagamento de uma pesada série de impostos, taxas e outras obrigações devidas ao senhor, o que na prática significava um controle total, embora em sua maior parte indireto, dos meios de produção e das fontes de renda. Nesse contexto, os feudos propriamente ditos, seu componente mais famoso e uma das bases do "dominium", segundo pesquisas recentes constituíam na verdade uma proporção relativamente pequena no total dos territórios dominados, mas tinham um grande significado simbólico na ideologia aristocrática, e eram um instrumento importante para a organização das suas hierarquias internas, subordinando o detentor do feudo a um senhor de hierarquia mais elevada através da relação de vassalagem, o que lhes acarretava uma série de obrigações mútuas, incluindo financeiras. Além disso, aos senhores cabia o controle dos tribunais e a administração de toda a justiça, na maior parte das vezes exercendo eles mesmos a função de juízes, e a eles cabia por excelência o exercício do poder militar, sendo de fato a atividade nas armas considerada a mais honrosa para um aristocrata. Aos militares, em particular à classe dos cavaleiros e aos mercenários recrutados pelos senhores, competia a proteção da população dos senhorios, embora cometessem repetidos abusos e pilhagens contra os camponeses e vilãos.
A Igreja tentava moderar os excessos, as injustiças e a violência da nobreza militarizada, fixando suas funções e comportamento na moldura da ética cristã. Embora essa tentativa tenha falhado tantas vezes, ela contribuiu para elevar um pouco o padrão moral da nobreza, pelo menos num plano ideal, e suas doutrinas constituem parte da substância do famoso código de ética da cavalaria. Neste movimento, a Igreja conseguiu arregimentar a nobreza militar em larga escala para o ideal religioso das cruzadas contra os infiéis e os heréticos e para a reconquista dos Lugares Santos do Oriente, projeto de vastas repercussões que provocou um significativo rearranjo na geopolítica da região mediterrânea, em parte concebido para canalizar, para um propósito então considerado digno, necessário e justo, o expansionismo predador, as ambições desenfreadas de glória e honra e a pouco controlável turbulência endêmica de uma aristocracia fortemente orgulhosa e competitiva.
Finalmente, o "dominium" envolvia também a relação pessoal e estrutural do senhor com seus súditos não aristocráticos, os "laboratores", e que se expressava de três formas principais. A primeira era a da servidão, uma condição que podia ser tão opressiva quanto a escravidão, mas se distinguia dela por alguns traços importantes: os servos não podiam ser mortos ao arbítrio do senhor, tinham alguma liberdade, embora limitada pela obrigação de pagamento de taxas e prestação de serviços, não podiam transmitir herança, nem casar, nem abandonar o senhorio sem o consentimento do senhor, e sua condição em várias regiões era manifesta através de um ritual público de submissão humilhante, o que lhes impunha um estigma adicional de discriminação e vergonha. Ao contrário do que se pensou por muito tempo, pesquisas recentes têm demonstrado que os servos compunham uma parte não preponderante da população rural, que variava de cerca de metade a menos de 20% do total, conforme a região, e em alguns locais, pelo menos por algum tempo, chegou a zero.
A segunda forma dizia respeito aos homens livres, que gozavam de uma liberdade quase irrestrita, incluindo o direto de possuir alódios (terras livres de qualquer jurisdição senhorial), mas essa liberdade com o tempo foi sendo erodida, pois no século XII virtualmente toda a população europeia estava agregada de alguma forma à rede de senhorios, e mesmo os alódios, bastante numerosos até o século IX, no século XIII haviam praticamente desaparecido, sendo sujeitos à tributação e incorporados aos senhorios, e seus possuidores se tornaram de uma ou outra forma clientes ou tutelados dos senhores. Por outro lado, os homens livres recebiam privilégios significativos, detinham alguma autoridade governamental sobre os trabalhadores de suas terras, podiam caçar, participar de tribunais, e em várias regiões eram reconhecidos como o estrato inferior da nobreza.
A terceira forma de relação com os súditos era a dominação exercida sobre a população urbanizada. Mesmo que as vilas e cidades usualmente recebessem cartas de franquia, isenções e privilégios dos senhores, e seus habitantes fossem em sua larga maioria não-servos, a feudalidade penetrava em seus muros de várias maneiras. Os privilégios recebidos dependiam de uma outorga senhorial — que podia ser resultado de lutas violentas, mas geralmente acontecia em negociações diplomáticas —, muitos nobres viviam nas vilas, e ali detinham um significativo patrimônio imobiliário e um elevado prestígio e influência social. Embora pouco a pouco os nobres fossem sendo excluídos do governo direto das vilas à medida que a burguesia nascente se empoderava e assumia o poder urbano através das irmandades, das guildas e dos conselhos cívicos, esse empoderamento acabou reproduzindo a ideologia aristocrática, formando-se uma elite burguesa também aristocrática, que procurava por todos os meios ser assimilada à nobreza incorporando seus valores, adquirindo ou arrendando feudos, adotando brasões, buscando casamentos na nobreza empobrecida, vivendo uma vida de consumo ostensivo, além de inventarem genealogias míticas à maneira dos grandes nobres. No longo prazo, a burguesia desempenhou um importante papel na dissolução do feudalismo.
Os escravos, em número reduzido e mantidos apenas em algumas regiões próximas ao Mediterrâneo, trabalhavam em atividades domésticas.
O feudo.
Os feudos eram os núcleos com base nos quais a sociedade feudal se organizou. Por volta do ano 1000, a maioria das pessoas na Europa ocidental vivia em feudos. Nesse período, a terra converteu-se no bem mais importante, por ser a principal fonte de sobrevivência e de poder.
As terras do feudo distribuíam-se da seguinte forma:
Muitas cidades europeias da Idade Média tornaram-se livres das relações servis e do predomínio dos nobres. Essas cidades chamavam-se burgos. Por motivos políticos, os "burgueses" (habitantes dos burgos) recebiam frequentemente o apoio dos reis que, muitas vezes, estavam em conflito com os nobres. Na língua alemã, o ditado Stadtluft macht frei ("O ar da cidade liberta") ilustra este fenômeno. Em Bruges, por exemplo, conta-se que certa vez um servo escapou da comitiva do conde de Flandres e fugiu por entre a multidão. Ao tentar reagir, ordenando que perseguissem o fugitivo, o conde foi vaiado pelos "burgueses" e obrigado a sair da cidade. Desta maneira, o servo em questão tornou-se livre.
Essas e outras formas de pagamento eram compulsórias. Por meio delas, transferia-se para o senhor feudal a maior parte da produção. Os camponeses tinham de viver com o pouco que sobrava. Moravam em casa de madeira, sem divisões internas, com telhado de palha e chão batido. Assim como os senhores, em sua maioria não sabiam ler nem escrever. Vestiam-se com roupas de lã, linho ou couro. Seu divertimento, geralmente, estava relacionado à fé cristã e aos festejos comemorativos por ocasião do plantio e da colheita.
A economia feudal.
A produção feudal própria do Ocidente europeu tinha por base a economia agrária, de escassa circulação monetária, auto-suficiente. A propriedade feudal pertencia a uma camada privilegiada, composta pelos senhores feudais, altos dignitários da Igreja e longínquos descendentes dos chefes tribais germânicos. As estimativas de renda per capita da Europa feudal a colocam em um nível muito próximo ao mínimo de subsistência. Na Alta Idade Média ocorreu uma acentuada retração das atividades comerciais e artesanais. Em razão disso, houve um processo de ruralização da sociedade da Europa ocidental, com o predomínio da agricultura de subsistência.
A principal unidade econômica de produção era o feudo, que se dividia em três partes distintas: a propriedade individual do senhor, chamada manso senhorial ou domínio, em cujo interior se erigia um castelo fortificado; o manso servil, que correspondia à porção de terras arrendadas aos camponeses e era dividido em lotes denominados tenências; e ainda o manso comunal, constituído por terras coletivas - pastos e bosques -, usadas tanto pelo senhor quanto pelos servos.
Devido ao caráter expropriador do sistema feudal, o servo não se sentia estimulado a aumentar a produção com inovações tecnológicas, uma vez que tudo que produzia de excedente era tomado pelo senhor. Por isso, o desenvolvimento técnico foi pequeno, limitando aumentos de produtividade. A principal técnica adaptada foi a de rotação trienal de culturas, que evitava o esgotamento do solo, mantendo a fertilidade da terra.
Dentro dos feudos, a agricultura era praticada por meio de técnicas simples. Os principais instrumentos eram feitos de madeira, pois o ferro era de difícil aquisição. O arado, puxado por boi, era o equipamento principal. Para não esgotar o solo, usava-se um sistema de rotação trienal: a terra de cultivo era dividida em três partes e o plantio era feito de tal modo que sempre uma dessas partes permanecia em descanso.
Cada família de servos tinha a posse de um lote (ou tenência) em cada um desses campos, para que sempre houvesse terra disponível para o cultivo. O quadro a seguir representa o aproveitamento da terra, de acordo com o "sistema de três campos".
Tributos.
Os servos deviam várias obrigações ao senhor feudal, destacando-se:
Cidades e comércio: nova paisagem.
A partir das Cruzadas, a mudança mais visível na Europa ocidental ficou conhecida pelo nome de renascimento comercial e urbano. Ele significou o desenvolvimento do comércio e das cidades, que tinham tido pouca importância durante os séculos anteriores. O comércio, ainda incipiente, era praticado nas feiras que se realizavam nas vilas ou perto dos castelos e outros lugares fortificados. Inicialmente periódicas, as feiras tornaram-se permanentes, propiciando o aparecimento de núcleos urbanos, os chamados "burgos".
A partir dos burgos, desenvolveram-se novas cidades, ao mesmo tempo que ganharam vida as mais antigas, que não haviam desaparecido por completo. As cidades que se formaram ao pé das fortificações estavam estreitamente vinculadas aos senhores feudais. Esses nobres, proprietários das terras onde ficavam os burgos, cobravam pesadas taxas daqueles que os habitavam. No início, toda a população do burgo chamava-se burguesia; posteriormente esse termo passou a designar apenas comerciantes, banqueiros e alguns artesãos enriquecidos. Com o aumento do comércio e o fortalecimento da burguesia, alguns desses burgos obtiveram pacificamente autorização para negociar sem pagar aos senhores nenhuma tributação. Muitos, porém, tiveram de lutar, unindo-se aos reis, a fim de conseguir dos senhores feudais a licença (franquia) para efetuar suas atividades nas cidades.
As cidades atraíam cada vez mais artesãos, que nelas se fixavam parar viver de seu ofício. Atraíam também servos camponeses que as buscavam para tentar vender seus excedentes agrícolas ou para viver como trabalhadores livres. Atraíam, ainda, comerciantes de sal, de ferro e de inúmeras outras mercadorias, provenientes de regiões distantes.
A moral católica medieval tinha como verdadeiro que "é difícil não pecar quando se exerce a profissão de comprar e vender". Por isso, a Igreja procurou coibir as ambições dos homens de negócios, sempre preocupados com o lucro, impondo o justo preço e condenando a usura. A noção do "justo preço" excluía qualquer ideia de lucro e devia levar em conta apenas o custo das matérias-primas e um pequeno ganho pelo trabalho prestado. Além da tentativa de exploração pelo preço, era considerado usura todo negócio que implicasse em pagamento de juros – por exemplo, o empréstimo.
Esse ideal foi inicialmente adotado por artesãos e comerciantes, cujas atividades eram rigorosamente controladas pelas corporações. Na pratica, porém, não era mais possível à Igreja aplicar suas imposições com rigor. Além disso, os homens de negócios sempre encontravam meios de contornar as interdições religiosas.
As atividades comerciais restabeleceram o uso regular da moeda. Logo, diferentes moedas circulavam nas feiras e nos núcleos urbanos, provenientes de vários feudos e regiões da Europa. Essa variedade criou a necessidade do câmbio, isto é, da troca de moedas. Os que se dedicavam a ele eram chamados de cambistas. Por meio da cobrança de algumas taxas estes cambistas realizavam atividades típicas dos bancos atuais, como empréstimos, câmbio, emissão de títulos e pagamento de dívidas. Tais cambistas proporcionavam assim maior estabilidade às trocas comerciais, pois livraram os comerciantes do transportes de altos valores, em uma época em que as rotas de comércio ainda não ofereciam segurança aos mercadores.
As corporações de ofício foram associações que surgiram a partir do , para regulamentar o processo produtivo artesanal nas cidades que contavam com mais de 10 mil habitantes. Cada corporação agregava pessoas que exerciam o mesmo ofício. Eram elas as responsáveis por determinar preços, qualidade, quantidades da produção, margem de lucro, o aprendizado e a hierarquia de trabalho. Todos aqueles que desejavam entrar na corporação deveriam ser aceitos para a função de aprendiz, que não recebia salário, por um mestre, aquele que detinha as ferramentas e fornecia a matéria-prima. As corporações de ofício delimitavam suas áreas de atuações de forma estrita, de modo que não existia sobreposição de competências, por exemplo, uma alfaiataria não poderia consertar roupas, assim como uma oficina de conserto não tinha permissão de confeccionar peças novas.
As corporações basicamente eram compostas de três classes: os mestres, os jornaleiros (não confundir com jornaleiros, pois a Imprensa ainda não existia e tinham esse nome porque recebiam por dia trabalhado, por diária, por jornada) também chamados de companheiros, e aprendizes. Os mestres eram os donos da oficina, que acolhiam os jornaleiros ou companheiros, e eram, também, responsáveis pelo adestramento dos aprendizes. Os aprendizes não recebiam salários, geralmente eram parentes e moravam com o mestre; e não raras vezes acabavam casando com a filha deste. A extensão do aprendizado variava de acordo com o ramo, podendo durar um ano, ou prolongar-se de dez a doze anos. O período de costume do aprendizado, porém, variava entre dois e sete anos; após o término do aprendizado o aprendiz tornava-se jornaleiro e depois mestre. Entretanto, à medida que se avançava para o fim da Idade Média, tornava-se mais difícil ao jornaleiro atingir a condição de mestre. Isso acontecia principalmente em virtude do domínio que os membros mais ricos passaram a ter sobre as corporações, reduzidas quase que exclusivamente aos seus familiares. A prova pela qual o jornaleiro era submetido para tornar-se mestre ficou mais rigorosa e, por fim, a taxa em dinheiro que era paga ao chegar-se à posição de mestre foi elevada. Percebe-se que esse rigor não era para todos, pois, os filhos dos mestres, se comparados com o povo em geral, continuaram sendo privilegiados a tal ponto que em algumas cidades e em outros lugares, apenas os filhos de um mestre poderiam aspirar a ocupar tal condição.
O comércio de longa distância.
As Cruzadas deram grande impulso às atividades comerciais no Mediterrâneo. Cidades da península Itálica, como Veneza e Gênova, passaram praticamente a monopolizar o contato com o Oriente. Os produtos orientais trazidos pelos comerciantes da península Itálica eram revendidos para outras regiões da Europa. A península Itálica tornou-se, dessa forma, o principal centro comercial europeu.
Outro importante pólo de atividades comerciais desenvolveu-se simultaneamente no norte da Europa, na região de Flandres (norte da atual Bélgica). A partir dele, o comércio se propagou para o mar Báltico, chegando a Rússia. Mais tarde as cidades do Sacro Império Romano-Germânico formaram uma liga comercial chamada de "Hansa Teutônica", que monopolizou o comércio nessa vasta região.
Ligando Flandres (norte) à península Itálica (sul), desenvolveu-se uma rota terrestre que atravessava a região franca de Champagne. Nesse percurso realizavam-se, durante todo o ano, grandes feiras, que serviam de ponto de encontro aos comerciantes europeus. Desse modo, entre os séculos XIII e XIV, formou-se na Europa uma verdadeira teia de rotas por onde começou a fluir um próspero e intenso comércio.
A cultura feudal.
As heresias.
Aqueles que questionavam os dogmas (verdades reveladas) instituídos pela Igreja eram vistos como inimigos. Em outras palavras, os que interpretavam os ensinamentos cristãos de maneira diferente daquela que a Igreja pregava eram chamados de hereges (por professarem uma fé diferente da católica).
Com o intuito de manter a coesão da Igreja e da cristandade, reagindo aos levantes de seitas e grupos dissidentes, a Igreja voltou-se contra os hereges. Como forma de reprimi-los, criou-se o Tribunal do Santo Ofício, mais conhecido como tribunal da Inquisição. A primeira era o ato pelo qual impedia que o cristão recebesse os benefícios da salvação, concedidos por seu intermédio (os sacramentos). Oficializada pelo Papa em 1231, a Inquisição julgava os hereges e dissidentes. Aos que se recusavam a se retratar, punia de maneira implacável, condenando-os a penas variadas, por vezes a pena capital. É interessante notar que os tribunais eclesiásticos eram os mais justos dentre aqueles encontrados na Idade Média, trazendo consigo uma série de inovações que futuramente viriam a implementar os tribunais laicos que hoje conhecemos.
O clero secular e o clero regular.
Desde o final da Antiguidade, a hierarquia do clero era constituída pelo Papa e pelos cardeais, arcebispos, bispos e padres. Eles formavam o "clero secular" (do latim "saeculum", mundo), expressão que designava os sacerdotes que desenvolviam atividades voltadas para o público.
Paralelamente, desenvolveu-se o "clero regular", formado pelos religiosos que viviam em mosteiros (monges e abades), em regime de reclusão ou semirreclusão.
O hábito de viver em mosteiros - chamado monasticismo - foi introduzido no Ocidente no , quando São Bento fundou o mosteiro do Monte Cassino, na península Itálica, dando origem à ordem (ou irmandade) dos beneditinos. A regra criada por São Bento para disciplinar a vida de seus monges, aprovada pelo Papa, serviu de modelo para outras ordens surgidas posteriormente, como a dos franciscanos, a dos dominicanos, etc. O modelo dos mosteiros masculinos, dirigidos por um abade, foi logo instituído para as mulheres.
Os mosteiros ou monastérios desempenharam um importante papel na Europa medieval, cristianizando povos, cultivando terras, organizando e mantendo escolas e bibliotecas.
Ensino, conhecimento e arte.
Durante a Idade Média, as pessoas que sabiam ler e escrever em geral pertenciam ao clero. Os poucos livros que sobreviveram ao período das invasões germânicas eram conservados nas escassas bibliotecas pertencentes à Igreja. Nelas, os monges copistas encarregavam-se de reproduzir os livros à mão. Dessa forma, os integrantes da Igreja eram os únicos capazes de lidar com o saber escrito e, portanto, com o ensino formal.
Todo o ensino estava sob o controle da Igreja e era voltado para o ingresso na vida religiosa. A língua utilizada para transmitir os ensinamentos era o latim, falado pelos integrantes do clero e pelas pessoas cultas. Os primeiros estudos eram feitos nas escolas que funcionavam nos conventos e nas igrejas das vilas, onde se aprendia a ler e escrever, noções de cálculo e canto religioso. A continuação dos estudos (curso superior), orientada sempre por padres ou monges em escolas mantidas nas catedrais, era dividida em dois ciclos: o "trivium" (gramática, retórica, lógica) e o "quadrivium" (música, aritmética, geometria e astronomia).
As universidades.
A principal inovação medieval realizada pelos europeus no campo do ensino e do conhecimento foi a criação das "universidades."
No final do , a primeira instituição de ensino superior a aparecer foi a Escola de Direito de Bolonha, no norte da atual Itália. Outras instituições surgiram quase simultaneamente na península Itálica, na França e na Inglaterra. Até o final do , já havia mais de quarenta delas espalhadas por diversas regiões da Europa.
A disseminação desses estabelecimentos de ensino teve relação com o ressurgimento urbano e comercial que ocorreu na época. Com esse surgimento tornou-se necessário um número de letrados para gerir os negócios, tanto públicos como privados.
Inicialmente regulamentadas pela Igreja, as universidades restringiam-se ao ensino de disciplinas do "trivium" e do "quadrivium". No , ganharam independência e passaram a assumir um caráter mais voltado para a vida secular, ministrando também cursos de artes, de medicina, além de direito e de teologia.
O conhecimento.
Devido à forte presença da Igreja, os primeiros pensadores medievais, chamados "doutores da Igreja", voltaram-se para questões relativas aos dogmas e preceitos da fé, numa tentativa de dar forma à nova religião que se organizava. Inúmeros foram aqueles que estabeleceram os fundamentos da teologia católica, combinando por vezes elementos da filosofia greco-romana com ensinamentos da religião cristã.
Entre os principais estudiosos que ajudaram a transformar a religião de Cristo em uma doutrina formal está Santo Agostinho. Associando o cristianismo aos textos do filósofo grego Platão e de seus seguidores, Santo Agostinho construiu argumentações capazes de sustentar e explicar as verdades religiosas.
Algum tempo depois, São Tomás de Aquino, professor da Universidade de Paris e um dos mais importantes doutores da história da Igreja, reuniu o saber medieval na obra "Suma teológica".
No caminho aberto por ele, a "Escolástica" - movimento que reunia as ideias de Tomás de Aquino - representou uma tentativa de conciliar fé e razão com base no pensamento de Aristóteles, fundindo assim elementos da filosofia pagã com a doutrina católica.
No final da Idade Média, houve algumas tentativas de mudar as orientações teóricas. Na obra de Roger Bacon, por exemplo, estão fortemente presentes preocupações científicas. Monge franciscano inglês do , Bacon recomendava observações e a experimentação como meios indispensáveis para chegar ao conhecimento. Isso lhe custou a condenação pela Igreja ao cumprimento de uma pena de catorze anos de prisão.
Uma arte a serviço de Deus.
A arte medieval era também dominada pelos preceitos da religião. Na pintura e na escultura, os temas representados eram: Deus, os anjos, os santos e, de modo geral, as cenas que instruíssem os fiéis a respeito dos conhecimentos morais e espirituais da doutrina cristã.
Na arquitetura imperava a mesma concepção. As maiores construções medievais foram as igrejas. Nos primeiros tempos, imitavam-se os modelos romanos.
A partir do , desenvolveu-se um estilo arquitetônico propriamente medieval, chamado românico. Os edifícios eram relativamente simples, embora de grandes proporções. Sua aparência sólida, com paredes grossas e poucas janelas, assemelhava-se à das fortalezas. Seus elementos característicos eram a coluna e o arco romano.
A partir do , começou a afirmar-se no norte da França um novo estilo, batizado posteriormente com o nome de gótico. Introduzindo uma nova técnica de construção - o arco ogival -, o estilo gótico disseminou-se com a edificação de enormes catedrais, que passaram a simbolizar a riqueza das novas cidades.
Caracterizadas pelas torres altas e pontiagudas, pelas colunas graciosas e, claro, pelos arcos ogivais, as catedrais são construções elegantes, ornamentadas com muitas estátuas e com belos vitrais coloridos, representando cenas da vida de Cristo, da Virgem Maria e dos santos.
O mundo feudal em transformação.
A sociedade feudal conheceu, entre os séculos XI e XIII, um período de grandes mudanças, assinalado pelo advento da arte gótica, da Escolástica e das universidades.
Durante esse período, que compreende os primeiros séculos da Baixa Idade Média, houve um aumento populacional proporcionado pela diminuição das invasões e das epidemias que assolaram a Europa durante os primeiros séculos do feudalismo. Esses acontecimentos, associados às características do próprio sistema feudal, como descentralização do poder e isolamento dos feudos, minaram algumas estruturas peculiares a esse sistema.
Para a composição do novo quadro, foram decisivas as Cruzadas, expedições de caráter religioso e militar surgidas no final do . Elas contribuíram para acentuar as mudanças na estrutura do feudalismo na Baixa Idade Média.
Em decorrência das Cruzadas, algumas cidades começaram a surgir, outras renasceram e os vínculos de servos e senhores feudais sofreram drásticas alterações. As profundas transformações que se verificaram tiveram como consequência a modificação das organizações internas dos feudos, bem como das relações entre eles e os reis.
As cruzadas.
No , grande parte dos domínios árabes, incluindo a Terra Santa – que englobava Jerusalém e outros lugares onde Jesus viveu e pregou sua doutrina -, caiu em poder dos turcos seljúcidas, um povo vindo do Oriente, que se convertera ao Islã. Diferentemente dos árabes, que nunca haviam se oposto às peregrinações dos cristãos à Terra Santa, os turcos as proibiram.
Diante disso, o papa Urbano II, falando aos nobres reunidos em Clermont-Ferrand, na França, em 1095, fez-lhe um apelo pela libertação da Terra Santa. Por trás da exortação estava o interesse da Igreja em aumentar seu prestígio e expandir seu domínio sobre os territórios controlados pelos muçulmanos.
A adesão dos nobres ao apelo do papa foi quase imediata. Para eles, as expedições à Terra Santa foram vistas como uma forma de conquistar terras, prestígio e riquezas no Oriente. Afinal, muitos estavam empobrecidos por causa do direito de primogenitura.
Assim, no ano seguinte, tiveram início as "Cruzadas". Costurando cruzes vermelhas sobre suas roupas, nobres, camponeses, pobres, mendigos e até mesmo crianças partiram da Europa em grandes expedições militares com objetivo de conquistar a Terra Santa, tomando-a dos muçulmanos.
A primeira Cruzada conseguiu conquistar Jerusalém após três anos de lutas. A vitória permitiu a criação de alguns Estados cristãos na Palestina, nos quais as terras foram distribuídas como na Europa feudal. Pouco tempo depois, entretanto a Terra Santa foi novamente tomada pelos muçulmanos.
Fizeram-se outras sete Cruzadas, a última das quais em 1270. Todas fracassaram. Apesar disso, como consequência delas, o Mediterrâneo foi reaberto à navegação europeia e os contatos culturais e comerciais entre o Ocidente e o Oriente foram restabelecidos.
As Cruzadas contribuíram ainda para aumentar a circulação de pessoas e de riquezas na Europa. Por meio delas, o comércio se fortaleceu e acabou estimulando o povoamento das cidades.
Declínio.
O feudalismo europeu apresenta fases bem diversas entre o , quando os pequenos agricultores são impelidos a se proteger dos inimigos junto aos castelos, e o , quando o mundo feudal conhece seu apogeu, para declinar a seguir. Entretanto, a partir do ano 1000 até cerca de 1150, o feudalismo entra em transformação: a exploração camponesa torna-se intensa, concentrada em certas regiões superpovoadas, deixando áreas extensas de espaços vazios; surgem novas técnicas de cultivo, novas formas de utilização dos animais e das carroças, o que permitiu a produção agrícola garantir um aumento significativo, surgindo, assim, a necessidade de comercialização dos produtos excedentes. Esse renascimento do comércio e o consequente aumento da circulação monetária, reabilita a importância social das cidades e suas comunas. Com as Cruzadas, esboça-se uma abertura para o mundo, quebrando-se o isolamento do feudo.
O restabelecimento do comércio com o Oriente Próximo e o desenvolvimento das grandes cidades, começam a minar as bases da organização feudal, na medida em que aumenta a demanda de produtos agrícolas para o abastecimento da população urbana. Isso eleva o preço dessas mercadorias, permitindo aos camponeses maiores fundos para a compra de sua liberdade. Não que os servos fossem escravos; com o excedente produzido, poderiam comprar de seus senhores lotes de terras e, assim, deixar de cumprir suas obrigações junto ao senhor feudal. É claro que esta situação poderia gerar problemas já que, bem ou mal, o servo vivia protegido dentro do feudo e, para evitá-los, tornavam-se comerciantes ou iam morar em burgos, dominados por outros tipos de senhores, desta vez, comerciais. Ao mesmo tempo, a expansão do comércio cria novas oportunidades de trabalho, atraindo os camponeses para as cidades.
Tais acontecimentos, aliados à formação dos exércitos profissionais — o Rei, agora, não dependeria mais dos serviços militares prestados por seus vassalos —, à insurreição camponesa, à peste, à falta de alimentos decorrente do aumento populacional e baixa produtividade agrária, contribuíram para o declínio do feudalismo europeu. Na França, nos Países Baixos e na Itália, seu desaparecimento começa a se manifestar no final do . Na Alemanha e na Inglaterra, entretanto, ele ainda permanece mais tempo, extinguindo-se na maioria da Europa ocidental por volta de 1500. Em partes da Europa central e oriental, porém, alguns remanescentes resistiram até meados do , como, por exemplo, a Rússia, que só viria a se libertar dos resquícios feudais com a Revolução de 1917.
A dissolução do feudalismo foi apressada no final da Idade Média por uma sucessão de acontecimentos que geraram a chamada "Crise do século XIV". A produção de alimentos sempre foi deficiente no sistema feudal, de modo que a fome era uma ameaça constante. Entre 1315 e 1317, a situação se agravou e provocou surtos de fome em vários lugares da Europa. A falta de estrutura das cidades, para suportar o aumento populacional, associada ao problema da fome acabou desencadeando uma série de epidemias. A pior de todas foi a chamada "peste negra", que assolou a Europa entre 1348 e 1350 e matou cerca de um terço de toda a população.
O sistema feudal começa a entrar em declínio à medida em que, entre outros factores, o povo explorava directamente aterra e remetia o senhor para o lugar de arrendatário, sujeitando-o às variantes do mercado e da moeda. Se bem que se mantenha a vassalidade, instituição que levou ao ponto máximo os laços de dependência de homem para homem e a forma sob a qual funciona o poder do rei, tal não impedia que o monarca fosse afectado por ser um dos principais proprietários do país.
Inúmeras guerras também contribuíram para aumentar a mortalidade e tornar a situação na Europa ainda mais difícil. A maior delas foi, sem dúvida, a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), travada entre as monarquias feudais da Inglaterra e da França. Sob a ação dos três flagelos do – a fome, a peste e a guerra – a população diminuía e a mão-de-obra se tornava cada vez mais escassa. Isso levou os senhores feudais a aumentar a exploração sobre os camponeses. Em consequência, houve inúmeras revoltas, nas quais os camponeses rebelados queimavam propriedades e assassinavam senhores feudais. Em algumas cidades, também se verificaram desordens e motins.
A crise apontava também para uma transformação na estrutura de poder descentralizada, que não conseguia gerar resposta para os problemas que surgiam. Os governos centralizados começaram então a ganhar força, pois conseguiam arbitrar os conflitos inevitáveis em uma sociedade que ganhava complexidade.
Foi nesse contexto que se deu o fortalecimento do poder dos reis e a consequente formação do Estado moderno e do regime absolutista. Desse modo, pode-se dizer que as transformações da Baixa Idade Média – desenvolvimento do comércio e das cidades, uso de moeda, aparecimento da burguesia, fortalecimento do poder central nas mãos do rei – condenaram o feudalismo à dissolução. A essas mudanças podemos acrescentar o Renascimento na península Itálica, no , e as Grandes Navegações, no , todas apontando para o advento dos chamados tempos modernos. Essas novidades indicavam o aparecimento de um novo sistema econômico: o capitalismo. Aos poucos, o sistema capitalista acabaria por substituir inteiramente o feudalismo, tornando-se dominante no séculos seguintes.
O feudalismo como forma universal de interacção social.
Com base na sociologia formal de Georg Simmel, Vladimir Shlappentokh vê o feudalismo não só como uma formação social histórica, mas também como uma forma particular de interacção, generalizada em todas as épocas, que nunca desapareceu completamente, mesmo nos tempos modernos. Resulta da necessidade humana de protecção e da vontade das pessoas de pagar por essa protecção através do pagamento de fidelidade, em espécie ou em dinheiro. As lealdades medievais, as estruturas de dependência na economia subterrânea, os regimes oligárquicos com os seus vassalos, mas também os bandos mafiosos podem ser vistos como formas de interacção feudal. O cientista político e antropólogo Aaron B. Wildavsky apresenta argumentos semelhantes ao constatar a existência de estruturas feudais no império dos Cassitas, no Império Médio do Egipto e no Japão (até ao século XVIII). Shlapentokh postula que as estruturas sociais e económicas que se desviam do tipo ideal do feudalismo medieval europeu não devem ser vistas como variantes do mesmo, mas como formas mistas de diferentes segmentos da sociedade ou da economia (liberal-capitalista, autoritário, etc.), que podem coexistir, por exemplo, tanto nos Estados Unidos como na Rússia. Esta abordagem contradiz os modelos sistémicos, holísticos e integradores da sociedade, como os de Talcott Parsons ou Niklas Luhmann, enquanto a hipótese de sociedades ou economias "híbridas" é parcialmente compatível com o modelo marxista (por exemplo, com Erik Olin Wright
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869 | Ferdinand de Saussure | Ferdinand de Saussure
Ferdinand de Saussure (Genebra, 26 de novembro de 1857 — Morges, 22 de fevereiro de 1913) foi um linguista e filósofo suíço, cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma. Seu pensamento exerceu grande influência sobre o campo da teoria da literatura e dos estudos culturais.
Saussure entendia a linguística como um ramo da ciência mais geral dos signos, que ele propôs que fosse chamada de Semiologia. Graças aos seus estudos e ao trabalho de Leonard Bloomfield, a linguística adquiriu autonomia, objeto e método próprios. Seus conceitos serviram de base para o estruturalismo no .
Biografia.
Ferdinand de Saussure () nasceu em Genebra, em 26 de novembro de 1857. Filho de um eminente naturalista, foi introduzido pelo filólogo e amigo da família Adolphe Pictet aos estudos linguísticos. Saussure estudou Física e Química, mas continuou sendo introduzido aos cursos de gramática grega e latina. Em 1874, começou a estudar sozinho o sânscrito, usando a gramática de Franz Bopp. Por fim, convenceu-se de que sua carreira estava nos estudos da linguagem e ingressou em 1876 na Sociedade Linguística de Paris, fundada em 1866. Estudou línguas europeias na Universidade de Lípsia, em que ingressou em outubro de 1876. Após pouco menos de dois anos, transferiu-se por curto período à Universidade de Berlim. Aos vinte e um anos publicou uma dissertação sobre o sistema primitivo das vogais nas línguas indo-europeias (em francês: "Mémoire sur le système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes", de 1879), a qual foi muito bem aceita. Defendeu sua tese sobre o uso do caso genitivo em sânscrito, em Berlim, e retornou a Paris, onde passou a ensinar sânscrito, gótico, alto-alemão e depois Filologia Indo-Europeia. Retornou a Genebra, onde lecionou sânscrito e linguística histórica em geral.
Entre 1906 e 1910, Saussure ministrou três cursos sobre linguística na Universidade de Genebra. Em 1916, três anos após sua morte, dois de seus discípulos, Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de Albert Ridlinger, compilaram as anotações de alunos que compareceram a estes cursos e editaram o "Curso de linguística Geral", livro seminal da ciência linguística.
Paralelamente ao trabalho teórico reunido no "Curso", Saussure também realizou, entre 1906 e 1909, outro estudo que é comumente chamado de "Os Anagramas de Saussure". Nesse trabalho, o mestre genebrino perscrutou um "corpus" de poemas clássicos para tentar provar a existência de um mecanismo de composição poética baseado na análise fônica das palavras, mecanismo este formado pelo anagrama e pelo hipograma. O hipograma (palavra-tema) é um deus ou um herói diluído foneticamente no poema. O anagrama, por sua vez, é o processo que propicia a diluição do hipograma nos versos.
As dicotomias saussurianas.
Saussure efetua, em sua teorização, uma separação entre Língua ("Langue") e Fala ("Parole"). Para ele, a Língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros. Ela está depositada como produto social na mente de cada falante de uma comunidade e possui homogeneidade. Por isso é o objeto da linguística propriamente dita. A Fala, no entanto, é um ato individual e está sujeito a fatores externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis de análise.
Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrônica, um estudo descritivo da linguística em contraste à visão diacrônica da linguística histórica, a qual estudava a mudança dos signos no eixo das sucessões históricas, estudo este que era a maneira pela qual o estudo de línguas era tradicionalmente realizado no século XIX. Ao propor uma visão sincrônica, Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do tempo (recorte sincrônico).
O sintagma, definido por Saussure como “a combinação de formas mínimas numa unidade linguística superior”, surge a partir da linearidade do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter valor a partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento. Já o paradigma é, como o próprio autor define, um "banco de reservas" da língua, fazendo com que suas unidades se oponham, pois uma exclui a outra.
O signo linguístico constitui-se numa combinação de significante e significado, como se fossem dois lados de uma moeda. O significante é uma "imagem acústica" (cadeia de sons) e reside no plano da forma. O significado é o conceito e reside no plano do conteúdo.
A teoria do valor.
A teoria do valor é um dos conceitos cardeais do pensamento de Saussure. Sumariamente, esta teoria postula que os signos linguísticos estão numa relação diferencial e negativa entre si dentro do sistema de língua, pois um signo só adquire valor na medida em que não é um outro signo qualquer: um signo é aquilo que os outros signos não são.
Como exemplo disso, podemos ter a diferenciação entre cão e homem. A característica positiva "mamífero" não os distingue, mas a característica "quadrúpede", positiva no cão e negativa no homem, os distingue. Existindo outros animais com a característica "quadrúpede", outras características devem ser consideradas para definir o que o animal é. Todavia, é definitivo que não são homem por não possuírem a característica "bípede".
Quando se fala do valor de uma palavra, pensa-se geralmente, e antes de tudo, na propriedade que tem de representar uma ideia, e nisso está, com efeito, um dos aspectos do valor linguístico. O valor, tomado em seu aspecto conceitual, constitui, sem dúvida, um elemento da significação, e é dificílimo saber como esta se distingue dele, apesar de estar sob sua dependência.
Visto ser a língua um sistema em que todos os termos são solidários e o valor de um resulta tão somente da presença simultânea de outros, dois fatores são necessários para a existência de um valor: eles são sempre constituídos por uma coisa "dessemelhante", suscetível de ser "trocada" por outra cujo valor resta determinar; por coisas "semelhantes" que se podem "comparar" com aquela cujo valor está em causa. Dessarte, para determinar o que vale a moeda de cinco francos, cumpre saber: que se pode trocá-la por uma quantidade determinada de uma coisa diferente, por exemplo, pão; que se pode compará-la com um valor semelhante do mesmo sistema, por exemplo uma moeda de um franco, ou uma moeda de algum outro sistema (um dólar etc.). Do mesmo modo, uma palavra pode ser trocada por algo semelhante: uma ideia; além disso, pode ser comparada com algo da mesma natureza: uma outra palavra. Seu valor não estará então fixado, enquanto nos limitarmos a comprovar que pode ser "trocada" por este ou aquele conceito, isto é, que tem esta ou aquela significação; falta ainda compará-la com os valores semelhantes, com as palavras que se lhe podem opor. Seu conteúdo só é verdadeiramente determinado pelo concurso do que existe fora dela. Fazendo parte de um sistema, está não só revestida de uma significação como também, e sobretudo, de um valor, e isso é coisa muito diferente.
Alguns exemplos mostrarão que é de fato assim. O português "carneiro" ou o francês "mouton" podem ter a mesma significação que o inglês "sheep", mas não o mesmo valor, isso por várias razões, em particular porque, ao falar de uma porção de carne preparada e servida à mesa, o inglês diz "mutton" e não "sheep". A diferença de valor entre "sheep" e "mouton" ou "carneiro" se deve a que o primeiro tem a seu lado um segundo termo, o que não ocorre com a palavra francesa ou portuguesa.
No interior de uma mesma língua, todas as palavras que exprimem ideias vizinhas se limitam reciprocamente: sinônimos como "recear," "temer", "ter medo" só tem valor próprio pela oposição; se "recear" não existisse, todo seu conteúdo iria para os seus concorrentes. Inversamente, existem termos que se enriquecem pelo contato com outros. Assim, o valor de qualquer termo que seja está determinado por aquilo que o rodeia; nem sequer da palavra que significa "sol" se pode fixar imediatamente o valor sem levar em conta o que lhe existe em redor; línguas há em que é possível dizer "sentar-se ao sol".
O que se disse das palavras aplica-se a qualquer termo da língua, por exemplo às entidades gramaticais. Assim o valor de um plural português ou francês não corresponde ao de um plural sânscrito, mesmo que a significação seja a mais das vezes idêntica. Se as palavras estivessem encarregadas de representar os conceitos dados de antemão, cada uma delas teria, de uma língua para outra, correspondentes exatos para os sentidos, mas não ocorre assim.
Se a parte conceitual do valor é constituída unicamente por relações e diferenças com os outros termos da língua, pode-se dizer o mesmo da sua parte material. O que importa na palavra não é o som em si, mas as diferenças fônicas que permitem distinguir essa palavra de todas as outras, pois são elas que levam a significação.
Ademais, é impossível que o som, elemento material, pertença por si à língua. Ele não é, para ela, mais que uma coisa secundária, matéria que põe em jogo. Todos os valores convencionais apresentam esse caráter de não se confundir com o elemento tangível que lhes serve de suporte. Assim, não é o metal da moeda que lhe fixa o valor; um escudo, que vale nominalmente cinco francos, contém apenas a metade dessa importância em prata; valerá mais ou menos com esta ou aquela efígie, mais ou menos aquém ou além de uma fronteira política. Isso é ainda mais verdadeiro no que respeita ao significante linguístico; em sua essência, este não é de modo algum fônico; é incorpóreo, constituído, não por sua substância material, mas unicamente pelas diferenças que separam sua imagem acústica de todas as outras.
Esse princípio é tão essencial que se aplica a todos os elementos materiais da língua, inclusive os fonemas. Cada idioma compõe suas palavras com base num sistema de elementos sonoros cada um dos quais forma uma unidade claramente delimitada e cujo número está perfeitamente determinado. Mas o que os caracteriza não é, como se poderia crer, sua qualidade própria e positiva, mas simplesmente o fato de não se confundirem entre si. Os fonemas são, antes de tudo, entidades opositivas, relativas e negativas. Prova-o a margem de ação de que gozam os falantes para a pronunciação, contanto que os sons continuem sendo distintos uns dos outros.
Outro sistema de signos que se comprova existir idêntico estado de coisas é a escrita. De fato:
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870 | Franquismo | Franquismo
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871 | FreeBSD | FreeBSD
O FreeBSD é um sistema operativo livre do tipo Unix-like que provém do Research Unix via a Berkeley Software Distribution (BSD). Porém, por motivos legais o FreeBSD não pode usar a marca registrada Unix, que é um ancestral do BSD, o qual foi historicamente chamado "BSD Unix" ou "Berkeley Unix". A primeira versão do FreeBSD foi lançada em 1993 e hoje em dia o FreeBSD é a distribuição BSD de código aberto mais usada, contabilizando mais de três quartos de todos os sistemas a utilizar derivados do BSD.
O FreeBSD tem similaridades com o Linux, com duas diferenças maiores no âmbito e na licença: o FreeBSD mantém um sistema operativo completo, i.e. o projeto fornece o kernel, os drivers de dispositivos, o espaço de usuário e a documentação, ao contrário do Linux que fornece apenas o kernel e os drivers e deixa a terceiros o software do sistema; e o código-fonte do FreeBSD geralmente é lançado sob uma licença permissiva BSD em oposição do copyleft GPL usado pelo Linux.
O projeto FreeBSD inclui uma equipe de segurança supervisando todo o software integrado na distribuição base. Uma pequena faixa de aplicações de terceiros podem ser instaladas usando o sistema de gestão de pacotes pkgng ou os Ports do FreeBSD, ou diretamente compilando o código-fonte. Devido aos seus termos de licenciamento permissivos, grande parte do código do FreeBSD tornou-se parte integral doutros sistemas operativos tais como o Juniper JUNOS e o OS X da Apple.
Ports.
O Sistema de Ports, também chamado de Coleção de Ports ou simplesmente Ports, é um "sistema de instalação" de pacotes prático e eficiente utilizado pelo FreeBSD. Consiste numa estrutura de diretórios, os quais possuem arquivos ("Makefiles") que especificam todos os pré-requisitos da instalação, como se deve compilar o código fonte, e o necessário para a instalação dos binários criados de um determinado pacote no sistema. Isto de forma praticamente automática, com pouca ou nenhuma intervenção do usuário.
O suporte do Ports é tão abrangente, possuindo atualmente mais de 24.000 pacotes (2014), que dificilmente é necessário procurar programas em outras fontes.
Arquivos binários pré-compilados do Ports são chamados de "pacotes" e estão disponíveis para download. Eles podem ainda ser automaticamente instalados sabendo-se o nome do pacote e passando este como parâmetro para o comando "pkg_add -r".
A maioria dos programas encontrados no Ports, existem para Linux e em muitos casos não é preciso alterar o código fonte. Significa isto que os ambientes gráficos e as aplicações mais comuns usadas no Linux estão presentes no FreeBSD. O código pode não ter diferenças, mas a compilação cria binários distintos.
Compatibilidade binária com Linux.
O FreeBSD fornece compatibilidade binária com muitas outras variações do Unix. O mesmo também é compatível com o sistema operativo GNU/Linux. A razão por trás disso está em poder utilizar programas desenvolvidos para Linux, geralmente comerciais, que só são distribuídos em forma binária e que por isso não podem ser portados para o FreeBSD sem a vontade de seus criadores.
Esta extensão permite que os usuários usem a maioria dos programas que são distribuídas apenas em binários Linux. Quando comparado com o número de programas nativos disponíveis pelo Ports, a quantidade desses programas é insignificante.
Alguns aplicativos que podem ser utilizados sobre a compatibilidade Linux incluem StarOffice, Netscape Navigator, Adobe Acrobat, RealPlayer, VMware Player, Oracle Database, WordPerfect, Skype, Doom 3, Quake 4, a série Unreal Tournament, Firefox com suporte ao Adobe Flash Player e outros. Geralmente não há perda de desempenho na utilização de binários Linux em vez de programas nativos do FreeBSD.
Mascote e lema.
Os derivados do BSD em geral tem como mascote um diabinho vermelho chamado "Daemon" que significa espírito em grego, mas na realidade se refere a programas que rodam na memória autonomamente para servir requisições.
Até 2005, o Beastie era o "logotipo" do FreeBSD, quando foi aberta uma competição para escolher um novo símbolo para o projeto. Em 8 de outubro, ganhou o desenho feito por Anton K. Gural para ser o novo símbolo do FreeBSD.
O lema do FreeBSD é "The Power to Serve", ou seja, "O Poder para servir". Apesar do lema remeter a algo relacionando com servidores ao que aparenta, o FreeBSD é um sistema para propósito de uso geral, ou seja, estação de trabalho, servidores etc. O lema remete ao mascote como citado acima.
História e desenvolvimento do FreeBSD.
O projeto FreeBSD teve seu nascimento no início de 1993, em parte como uma consequência do conjunto de manutenção não-oficial do 386BSD ("Unofficial 386BSD Patchkit"). O primeiro lançamento oficial foi o FreeBSD 1.0 em dezembro de 1993, coordenado por Jordan Hubbard, Nate Williams e Rod Grimes.
O objetivo original era produzir um snapshot intermediário do 386BSD, de forma a poder corrigir uma série de problemas com este sistema, que o mecanismo de manutenção não era capaz de resolver. Alguns se lembrarão do nome inicial do projeto que era "386BSD 0.5" ou "386BSD Interim" em referência a este fato.
386BSD era o sistema operacional de Bill Jolitz, que já estava naquele instante sofrendo quase um ano de negligência. Como o mecanismo de manutenção patchkit se tornava mais e mais desconfortável a cada dia que passava, foi decidido que algo tinha que ser feito ao que ofereceram a ele este "snapshot" "interim". Tais planos foram bruscamente interrompidos quando Bill Jollitz decidiu repentinamente retirar sua sanção ao projeto sem nenhuma indicação clara do que deveria ser feito. Não levou muito para ficar claro que o objetivo continuava a valer a pena, mesmo sem a ajuda de Bill, e foi adotado o nome "FreeBSD", sugerido por David Greenman.
O Início da divulgação e distribuição do sistema.
Os objetivos iniciais foram definidos depois de consultar os usuários recentes do sistema e, uma vez estando claro que o projeto estava na estrada para, talvez, tornar-se uma realidade, entraram em contato com a Walnut Creek CDROM, com o olho aberto à possibilidade de aperfeiçoar os canais de distribuição do FreeBSD para as pessoas que não tinham acesso à Internet.
Walnut Creek CDROM não apenas aprovou a ideia de distribuir o FreeBSD em CD, mas também foi mais longe, ao ponto de oferecer ao projeto uma máquina para trabalho dedicado e uma conexão rápida com a Internet. Sem esta confiança, sem precedentes, da Walnut Creek CDROM no que era, naquele momento, um projeto completamente desconhecido, é muito provável que o FreeBSD não tivesse chegado tão longe e tão rápido ao ponto em que está hoje.
A primeira distribuição em CDROM (e na Internet em geral) foi o FreeBSD 1.0, lançado em novembro de 1993. Era baseado na fita 4.3BSD-Lite (Net/2) da Universidade da Califórnia, Berkeley ("U.C. Berkeley"), com muitos componentes originados do 386BSD e da Fundação do Software Livre ("Free Software Foundation"). Foi um sucesso razoavelmente grande para uma primeira aparição e continuaram o ciclo com uma versão altamente bem sucedida, o FreeBSD 1.1 release de maio de 1994.
Transição e impedimentos.
Por volta desta época (1994), conforme a Novell e U.C. Berkeley acertaram ao longo do processo penal entre ambas, a respeito da situação legal da fita contendo o Net/2 de Berkeley. Uma das condições do acordo eram as concessões da U.C. Berkeley que implicava que grandes trechos do Net/2 fossem códigos "impedidos" e de propriedade da Novell, que havia por sua vez adquirindo-os da AT&T algum tempo antes.
O que a Berkeley recebeu em retribuição foi a "bênção" da Novell para o lançamento da versão 4.4BSD-Lite que, quando acontecesse, seria declarado como "impedido" e todos os usuários do Net/2 seriam fortemente encorajados a mudar de sistema para a nova versão. Isso incluiu o FreeBSD, ao projeto foi dado o prazo final de julho de 1994 para parar de distribuir seu produto baseado na versão Net/2. Sob tais termos de acordo, o projeto poderia lançar uma última versão antes do prazo em questão, o que originou o FreeBSD 1.1.5.1.
O FreeBSD definiu então a árdua tarefa de literalmente se reinventar a partir de um sistema completamente novo e consideravelmente incompleto, o 4.4BSD-Lite. As versões "Lite" continham grandes blocos de código a menos, removidos pelo CSRG de Berkeley (devido a várias decisões legais), códigos necessários para a construção de um sistema inicializável e que podia ser utilizado em produção e o fato é, que a conversão do 4.4 para a plataforma Intel era altamente incompleta.
O projeto levou até novembro de 1994 para concluir esta transição, quando lançou a versão 2.0 do FreeBSD na rede mundial e em CDROM (em dezembro). Apesar de um pouco bruta naquele instante, a versão teve um sucesso significante, e foi seguida pelo FreeBSD 2.0.5, mais robusto e de mais fácil instalação, em junho de 1995.
Breve histórico de versões.
Foi lançado o FreeBSD 2.1.5 em agosto de 1996, que foi bastante popular entre os provedores de internet (ISP) e as empresas a ponto de justificar a viabilidade de outra versão no ramo 2.1-STABLE. Esta versão foi o FreeBSD 2.1.7.1, lançado em fevereiro de 1997, que marcou o término do desenvolvimento mainstream do 2.1-STABLE. Agora em manutenção, apenas aperfeiçoamentos de segurança e outras correções críticas são realizadas neste ramo (RELENG_2_1_0).
O ramo 2.2 do FreeBSD foi iniciado a partir da série parcial de desenvolvimento ("-CURRENT") em novembro de 1996, foi intitulado ramo RELENG_2_2, e a primeira versão completa (2.2.1) foi lançada em abril de 1997. Versões posteriores ao longo do ramo 2.2 foram criadas no verão e outono de 1998, sendo a última delas (2.2.8) lançada em novembro de 1998, marcando o início do fim do ramo 2.2.
A árvore foi ramificada mais uma vez, em 20 de janeiro de 1999, iniciando os ramos 4.0-CURRENT e 3.X-STABLE. A partir da 3.X-STABLE, a versão 3.1 foi lançada, em 15 de fevereiro de 1999; a versão 3.2 foi lançada em 15 de maio de 1999; a 3.3 em 16 de setembro de 1999; a versão 3.4 em 20 de dezembro de 1999, e a 3.5 em 24 de junho de 2000, que foi complementada um pouco depois com uma pequena atualização de segurança, o 3.5.1, que incorporava algumas correções de segurança de última hora para o Kerberos. Esta se tornou a versão final para o ramo 3.X.
Outro ramo foi iniciado em 13 de março de 2000, de forma emergencial na metade do ramo 4.X-STABLE, considerado agora o "ramo -STABLE corrente". Posteriormente houve várias versões desta série: 4.0-RELEASE foi apresentado ao mundo em março de 2000, e a versão mais recente, 4.10-RELEASE surgiu em maio de 2004. Existiriam versões adicionais ao longo do ramo 4.X-STABLE (RELENG_4) ainda em 2003.
A versão 5.0-RELEASE, muito aguardada, foi anunciada em 19 de janeiro de 2003. O resultado culminante de aproximadamente três anos de trabalho, esta versão colocou o FreeBSD no caminho do suporte avançado a multiprocessamento simétrico, suporte avançado a aplicações "multithread" e apresentou ao público suporte às plataformas UltraSPARC® e IA64. Esta versão foi seguida pela 5.1 em junho de 2003.
Em novembro de 2005 foi lançada a versão 6.0, sendo melhorada até à versão 6.4, lançada em novembro de 2008.
No ano de 2008 em fevereiro foi lançada a versão 7.0.
A versão 8.0 foi lançada em novembro de 2009 e em junho de 2013 a 8.4.
O lançamento da versão 9.0 foi feito em janeiro de 2012, desde setembro de 2013 está disponível a 9.2
A versão 10.0 foi lançada em janeiro de 2014.
A versão 11.0 foi lançada em outubro de 2016.
A versão 12.0 foi lançada em dezembro de 2018.
A última versão estável é a 13.0, havendo suporte para as versões 12.2 e 11.4, conhecidas como Legacy.
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872 | Clube de Regatas do Flamengo | Clube de Regatas do Flamengo
O Clube de Regatas do Flamengo (mais conhecido simplesmente como Flamengo, e popularmente pelos apelidos de "Mengo", "Mengão" e "Fla") é uma agremiação poliesportiva brasileira com sede na cidade do Rio de Janeiro, capital do estado homônimo. Fundado no bairro do Flamengo para disputas do esporte remo em 17 de novembro de 1895, tornou-se um dos clubes mais bem-sucedidos e populares do esporte brasileiro, especialmente pelo futebol. Tem como suas cores tradicionais o vermelho e o preto e como seus maiores rivais esportivos o , o e o .
Dentre suas maiores glórias no futebol, destacam-se as conquistas da Copa Intercontinental (único time carioca a ter conquistado um título de dimensão mundial reconhecido pela FIFA) e das Copas Libertadores da América de 1981, 2019 e 2022 (único time carioca a ter conquistado por três vezes a competição, e um dos sete do Brasil a tê-la conquistado mais de uma vez), além de uma Recopa Sul-Americana, uma Copa Mercosul e uma Copa de Ouro Nicolás Leoz, o que lhe confere a quarta posição no ranking de títulos internacionais de clubes brasileiros. Em se tratando de Copa Libertadores da América o Flamengo é o quarto com maior aproveitamento na competição, além de ser o clube com o melhor desempenho considerando apenas duelos entre equipes brasileiras até 2019.
Em relação às conquistas nacionais o Flamengo é, por decisão judicial, e em seguida, pela CBF, oficialmente detentor de sete títulos do Campeonato Brasileiro (1980, 1982, 1983, 1992, 2009, 2019 e 2020) — além da controversa Copa União de 1987 —, quatro títulos da Copa do Brasil, duas Supercopas do Brasil e uma Copa dos Campeões. Estas quatorze conquistas dão ao clube o segundo lugar no ranking de títulos nacionais, atrás apenas do (17 conquistas). Com relação a títulos regionais e estaduais, o clube conquistou um Torneio Rio-São Paulo, uma Taça dos Campeões Estaduais Rio–São Paulo e trinta e sete títulos do Campeonato Carioca e vinte e três Taça Guanabara sendo o maior vencedor das competições estaduais. Por conta destes resultados, o clube é, desde 2017, o líder nacional do Ranking Folha, que dá uma pontuação para títulos e vice-campeonatos conquistados pelas equipes, sendo, atualmente, um dos clubes brasileiros com mais conquistas no que diz respeito ao somatório de títulos reconhecidos de abrangência nacionais e internacionais, o quarto clube brasileiro (empatado com o ) no que diz respeito ao somatório de títulos reconhecidos de abrangência internacional, o segundo em abrangência nacional, e em termos estaduais, é o clube do Estado do Rio de Janeiro com o maior número de títulos oficiais no futebol, considerando títulos de todas as abrangências (internacional, nacional e regional/estadual). Possui o maior número de conquistas do Campeonato Brasileiro considerando a partir de 1971 (quando foi adotado o nome de Campeonato Nacional de Clubes), com 7 títulos (empatado com o Corinthians); contando a Copa União, já listada pela CBF em meio aos títulos brasileiros de 1983 e 1992 como conquista à parte, seria o maior campeão isoladamente. Também é o time com mais jogos na disputa: 1443 (1971 a 2021). É também, segundo um levantamento feito pela ESPN Brasil, o primeiro (e por enquanto único) clube do Brasil ter conquistado todos os títulos nacionais e internacionais possíveis, a saber: campeonato, copa e supercopa nacionais, além dos dois principais torneios continentais, a supercopa continental e o torneio intercontinental.
Entre outros feitos, o Flamengo foi eleito o nono maior clube de futebol do Século XX em levantamento realizado pela FIFA. Em 2019, o Flamengo foi eleito o melhor time da América do Sul e o 4º melhor do mundo conforme o ranking elaborado pela IFFHS. O Flamengo é um dos três clubes do chamado G-12 que nunca foram rebaixados para a segunda divisão no Campeonato Brasileiro. Ao lado do Santos, é também um dos únicos clubes a terem conquistado a Copa Libertadores e o Campeonato Brasileiro em uma mesma temporada (feito este alcançado em 2019). É também, ao lado do Atlético Mineiro, Santa Cruz, Arsenal (Inglaterra), e Dublin (Uruguai), um dos cinco únicos clubes do mundo que já venceram a Seleção Brasileira de Futebol. Detém, junto ao Botafogo, a maior sequência invicta do futebol brasileiro com 52 partidas em 1979 e foi o primeiro clube do Brasil a atingir a marca de mil jogos na primeira divisão do campeonato nacional, em partida realizada contra o Santos em 27 de julho de 2009.
O Flamengo é o clube de futebol mais popular do Brasil, com uma torcida estimada em 40,4 milhões de torcedores espalhados por todas as regiões do Brasil. Segundo levantamento conduzido pela agência de marketing desportivo Gerardo Molina-Euroamerica, o Flamengo é, em números absolutos, o clube de futebol com o maior número de seguidores em todo o mundo. Em razão da força de sua torcida, é o clube brasileiro que mais recebe valores de direitos de transmissão. Desde 2018, o Flamengo é considerado o clube mais valioso do Brasil, tornando-se em 2019, o time mais valioso da América do Sul, além de ser o 70º time de futebol mais valioso do mundo, avaliado em mais de 145,7 milhões de euros. Um Fla-Flu detém o recorde mundial de público de partidas entre clubes: 194 603 espectadores, na final do Campeonato Carioca de 1963, vencido pelo Flamengo após um empate sem gols.
Além do prestígio com o futebol, o Flamengo também se destaca em outras modalidades esportivas coletivas e individuais, notadamente no remo, no polo aquático e no basquetebol. Neste último, é um dos clubes mais tradicionais do país, tendo a sua equipe de basquetebol masculino conquistado quarenta e sete títulos estaduais, oito títulos Brasileiros, um Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões, uma Liga Sul-Americana, uma Liga das Américas, uma Champions League Américas e duas Copas Intercontinentais FIBA.
História.
A origem.
Em fins do século XIX o remo dominava o Rio de Janeiro. O futebol começava apenas a aparecer em alguns clubes, mas ainda era olhado com certo temor, pois não estava sendo recebido com entusiasmo pela sociedade carioca. A criação de um grupo organizado com o objetivo de disputar competições de remo com clubes de outros bairros surgiu entre jovens do bairro do Flamengo, no Café Lamas, no Largo do Machado.
Nestor de Barros, José Agostinho Pereira da Cunha, Felisberto Laport, Augusto Lopes, Mário Spindola e José Félix da Cunha Meneses compraram um barco, chamaram-no de "Pherusa" e o reformaram.
Em 6 de outubro de 1895 os antes citados, juntamente com Maurício Rodrigues Pereira e Joaquim Bahia, saíram da Ponta do Caju, e com o tempo desfavorável, foram rumo à Praia do Flamengo, mas o vento fez o barco virar. Bahia nadou até a praia para conseguir ajuda e chegou algumas horas depois, mas a chuva parou rapidamente e outro barco, o "Leal", resgatou os jovens e o que tinha restado da Pherusa. Então foi iniciada uma nova reforma da embarcação, mas ela foi roubada e desapareceu.
A fundação.
Um novo barco foi comprado e recebeu o nome de "Scyra". Na noite de 17 de novembro de 1895, muita gente estava em um dos corredores da casa número 22 da Praia do Flamengo, onde Nestor de Barros morava num dos quartos. Lá, há muito tempo, já haviam abrigado "Pherusa", e agora guardavam "Scyra". A reunião teve por objetivo a fundação do Grupo de Regatas do Flamengo. Naquela mesma noite foi eleita a primeira diretoria:
Além dos eleitos, foram destacados como sócios-fundadores, José Agostinho Pereira da Cunha, Napoleão Coelho de Oliveira, Mário Espínola, José Maria Leitão da Cunha, Carlos Sardinha, Maurício Rodrigues Pereira, Desidério Guimarães, Eduardo Sardinha, Emido José Barbosa, José Félix Cunha Meneses, George Leuzinger, Augusto Lopes da Silveira, João de Almeida Lustosa e José Augusto Chairéo, sendo que os três últimos faltaram à reunião, mas foram considerados sócios-fundadores. Na oportunidade ficou estabelecido que a data oficial da fundação do clube seria 15 de novembro, feriado nacional.
As cores iniciais foram azul e ouro em listras horizontais bem largas, entretanto, em 1898, por proposta de Nestor de Barros, houve mudança para as atuais: vermelho e preto.
Novos barcos foram sendo comprados e o Mengo começou a destacar-se nas competições. Na I Regata do Campeonato Náutico do Brasil, no dia 5 de junho de 1898, conquistou a sua primeira vitória, com "Irerê", uma baleeira a dois remos. Anteriormente o Flamengo só havia obtido colocações secundárias e muitos segundos lugares, o que lhe valeu, inclusive, o apelido de "Clube de Bronze". Em 1902, diante de seu crescimento, houve a transformação para Clube de Regatas do Flamengo.
Uma curiosidade na história do Clube de Regatas do Flamengo é que seus atletas já haviam se arriscado a praticar o futebol. No dia 25 de outubro de 1903, antes da fundação do departamento de futebol do Flamengo, os remadores flamenguistas se reuniram com os colegas de esporte do Botafogo para a disputa de um amistoso.
"O Mais Querido do Brasil".
Em 1927, um concurso promovido pela água mineral Salutaris e pelo Jornal do Brasil objetivou eleger o "clube mais querido do Brasil". O torcedor deveria escrever o nome do seu time favorito no rótulo da garrafa d'água, ou no cupom impresso no jornal, e envia-lo preenchido para a sede do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. O vencedor levaria para sua sede a portentosa Taça Salutaris e o "título" de clube mais querido do Brasil. Ao final da apuração, o Flamengo somou 254 850 votos e venceu a disputa. Atualmente, a Taça Salutaris é exibida em local de destaque na sala de troféus do Clube de Regatas do Flamengo, ladeada pela Copa Libertadores da América e pela Taça Intercontinental de 1981.
Outro fator que ajudou a popularizar a força do Flamengo pelo país foi a Segunda Guerra Mundial. Com o posicionamento do Brasil como aliado dos Estados Unidos, foram construídas nas cidades de Natal-RN e Belém-PA, pelos americanos, duas antenas de alta captação para pegar sinais enviados dos navios inimigos. Só que as mesmas antenas também permitiram a transmissão de jogos, via rádio, para o Norte e o Nordeste do país.
Na época, com o Rio de Janeiro como a capital do país, a importância do que acontecia em terras cariocas era muito alta. Além disso, o rádio era o meio de comunicação mais utilizado para notícias e, claro, transmissão de esportes. Dessa forma, as vitoriosas campanhas rubro-negras nos estaduais do começo da década de 40 se alastrou, ajudando a popularizar o clube.
Em tempos atuais, pesquisas dos mais variados institutos especializados vêm confirmando que o Rubro-Negro é o clube de maior torcida em âmbito estadual e nacional.
O início no futebol.
A partir de 1902 o remo passou a dividir com o futebol a preferência popular. Assim, os associados do Flamengo tornaram-se sócios também do Fluminense para acompanhar o futebol, e os do clube das Laranjeiras vieram para o rubro-negro a fim de acompanhar as regatas. Alberto Borgerth representava bem o exemplo, pois pela manhã remava pelo Flamengo e à tarde jogava pelo seu clube, o Fluminense.
Entretanto, em 1911, houve a cisão no Fluminense e muitos jogadores do tricolor vieram para o Rubro-negro, resolvendo em assembleia do dia 8 de novembro de 1911 fundar um departamento de esportes terrestres, com Alberto Borgerth na direção. A briga entre Oswaldo Gomes e muitos dos jogadores do primeiro quadro do Fluminense foi a razão da discórdia. Originalmente pensou-se em uma simples adesão ao Botafogo, mas como o alvinegro, na época, era o grande rival do Tricolor Carioca, a ideia foi logo descartada. Em seguida consideraram a ideia de reforçar o já estabelecido Paysandu, mas também foi vetado, uma vez que o clube era composto exclusivamente de ingleses. Finalmente, surgiu a ideia de Borgerth, de se criar uma seção de futebol no Flamengo. A proposta foi aprovada e consagrada na assembleia do clube, realizada no dia 8.
Imagem da equipe.
Escudo.
O escudo do Flamengo mudou um pouco ao longo da história do clube. A maioria das mudanças foram alterações no monograma de letras entrelaçadas, com o mais recente redesenho sendo revelado em 2018.
O clube usa três escudos em diferentes situações: o escudo completo é usado como logotipo oficial do clube, o escudo de remo é usado para todos os uniformes e equipamentos relacionados ao remo e o monograma "CRF" branco é normalmente o único componente do escudo usado em o uniforme de futebol principal.
A partir de 1980, o Flamengo usava três estrelas brancas alinhadas verticalmente ao longo do lado de sua crista monograma para indicar seus três tri-campeonatos da liga estadual (1942-43-44, 1953-54-55 e 1978-79-79 Especial). Quando a Nike se tornou fornecedora de uniformes do Flamengo em 2000, seu primeiro uniforme apresentava o escudo completo com três estrelas acima pela primeira vez. Após o tetracampeonato estadual (1999-2000-2001) e para comemorar os 20 anos da Copa Libertadores e da Copa Intercontinental de 1981, uma quarta estrela branca e uma estrela dourada foram introduzidas acima do escudo. Desde 2005, o clube usa apenas a estrela dourada acima do escudo do monograma "CRF" em suas camisas.
Uniformes.
Na reunião de 1895 que instituiu o clube de remo do Flamengo, as cores oficiais do clube foram definidas como azul e dourado para simbolizar o céu do Rio de Janeiro e as riquezas do Brasil. A equipe adotou um uniforme de grossas listras horizontais azuis e douradas. No entanto, o Flamengo não conseguiu vencer uma única regata em seu primeiro ano e ganhou o apelido de "clube do bronze". As cores do time eram percebidas como má sorte, e o tecido colorido era caro para importar da Inglaterra. Um ano após a criação do clube, as cores oficiais foram substituídas pelas atuais vermelho e preto.
Em 1912, a pedido da equipe de remo do Flamengo (que se opôs ao uso do mesmo uniforme pelo recém-criado time de futebol), os jogadores de futebol vestiram camisas divididas em quarteirões vermelho e preto que ficou conhecido como uniforme "Papagaio de Vintém", nomeado após um estilo particular de pipa. No entanto, a camisa tornou-se sinônimo de azar e foi substituída em 1913 por uma camisa com listras horizontais vermelhas e pretas e faixas brancas mais finas. Este uniforme foi apelidado de cobra coral devido à sua semelhança com o padrão de uma cobra-coral. Este foi o uniforme usado quando o Flamengo conquistou seu primeiro Campeonato Carioca em 1914. As faixas brancas foram retiradas da camisa em 1916, pois o padrão era muito parecido com a bandeira da Alemanha da época, contra quem o Brasil era aliado na Primeira Guerra Mundial. A equipe de remo permitiu que o time de futebol usasse o mesmo uniforme, e assim nasceu o tradicional uniforme de futebol do Flamengo de camisa listrada vermelha e preta, calção branco e meias rubro-negras.
Em 1938, o técnico do Flamengo, Dori Kruschner, sugeriu a criação de um uniforme branco secundário para "melhorar a visibilidade nas partidas noturnas". O novo uniforme foi aprovado pelo clube, e o Flamengo se tornou pioneiro dos uniformes secundários no Brasil. A camisa branca tinha duas listras vermelhas e pretas no peito até 1979, quando foi alterada para um peito branco liso com listras nas mangas. Esta foi a camisa usada pela equipe que conquistou a Copa Intercontinental de 1981.
A partir da década de 1990, o clube começou a experimentar seus segundo e terceiro uniformes alternativos, às vezes vestindo camisas pretas ou vermelhas. Em 1995, por ocasião do centenário do clube, uma camisa "Papagaio de Vintém" foi usada em amistosos. Em 2010, a fornecedora de uniformes Olympikus introduziu um uniforme alternativo azul e dourado que homenageava as cores originais do Flamengo e o uniforme da regata, porém não foi bem recebido pelos torcedores que o compararam ao uniforme usado pelo time satírico fictício "Tabajara" no popular programa de comédia "Casseta & Planeta, Urgente!". Na primeira metade da temporada de 2009, a equipe vestiu um uniforme sem patrocínio pela primeira vez em 25 anos. O Flamengo continuou a usar tradicionalmente camisas listradas vermelhas e pretas com shorts brancos como seu uniforme principal.
Sedes e estádios.
A sede social do Clube de Regatas do Flamengo, também conhecida como "Sede da Gávea", ou simplesmente por "Gávea", é onde está localizada a sede principal do clube. No local, os sócios podem usufruir do parque aquático, quadras de tênis, o estádio de futebol, ginásios de basquetebol e voleibol, brinquedos, restaurantes, além de ter locais para realização de festas. Em 2011 foi inaugurado no local o Museu do Flamengo.
Rua Paysandu.
O estádio estava localizado na rua de mesmo nome, no bairro do Flamengo e pertencia à Família Guinle. Em 31 de outubro de 1915, o clube fez sua estreia no estádio, vencendo o Bangu por 5–1, em jogo do Campeonato Carioca; e jogou lá pela última vez em 1932. Em 25 de setembro de 1925, o Flamengo disputou sua última partida no local, com uma vitória de 5–0, já que não tinha dinheiro para pagar o terreno.
Gávea.
Em 1938, o Flamengo fez sua primeira partida oficial no Estádio da Gávea, perdendo para o Vasco por 2–0; e fez sua última partida oficial em 1997, vencendo o Americano por 3–0.
A sede principal do Flamengo fica na Lagoa, em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas. No local, está a sede social e administrativa do clube. Os sócios podem usufruir do parque aquático, quadras de tênis, futebol, basquetebol e voleibol, brinquedos, restaurantes, além de ter locais para realização de festas.
Além da parte social, existe no local ginásios para disputa e treinamentos de esportes olímpicos. No Ginásio Hélio Maurício próximo as quadras de tênis há a realização de atividades ligadas ao basquetebol, no Ginásio Togo Renan Soares, o Kanela, debaixo da arquibancada do Estádio da Gávea há realização de atividades ligadas ao voleibol e ao futsal. No Ginásio Cláudio Coutinho, acontecem treinamentos da equipe de ginástica artística. A natação também tem seu espaço nas piscinas do Parque Aquático Fadel Fadel. Além disso, o Estádio José Bastos Padilha, mais conhecido como Estádio da Gávea, é o antigo local onde o time de futebol do Flamengo mandava seus jogos de pequeno porte. Atualmente, o campo é utilizado para treinamentos da equipe. Do outro lado da rua da sede, junto à Lagoa Rodrigo de Freitas, encontra-se a base de treinamentos do remo rubro-negro.
Maracanã.
O estádio Jornalista Mário Filho, é o local onde o Flamengo manda suas partidas de futebol. O primeiro jogo do clube no estádio terminou com vitória de 3–1 para o rubro-negro em um amistoso contra o Bangu. Em 1956, o Flamengo aplicou a maior goleada da história do Maracanã, vencendo o São Cristóvão por 12–2. Após reformas de modernização para os Jogos Pan-americanos de 2007, passou a ter capacidade aproximada para 92 mil espectadores, mas por questões de segurança não são colocados a totalidade de ingressos à venda. O recorde atual de público é de 87 795 espectadores, na partida válida pela antepenúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2007, entre Flamengo e , vencida pelo rubro-negro carioca por 2–0, a qual garantiu-lhe vaga na Copa Libertadores da América de 2008.
Cessão da administração ao Flamengo e Fluminense e a criação da "Fla-Flu S.A.".
Em 18 de março de 2019, o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, anunciou a caducidade da concessão, isto é, o cancelamento de todos os contratos com o Consórcio Maracanã, assim como informou também que o Estado o administrará inicialmente a pedido dos clubes, e em até dois meses será feita nova licitação.
Em 5 de abril de 2019, após apresentarem uma proposta de gestão em conjunto do estádio, e foram os escolhidos pelo Governo do Rio para administrar o Maracanã pelos próximos seis meses. Para isso, os dois clubes criaram a sociedade anônima "Fla-Flu S.A.", aberta especialmente para administrar o Maracanã e todo o seu complexo.
CT Ninho do Urubu.
O Centro de Treinamentos Ninho do Urubu é o local onde o Flamengo realiza os seus treinamentos relacionados à equipe de futebol. Fica localizado em Vargem Grande e, apesar de a obra não estar concluída, já é utilizado pelo time principal e categorias de base. Em 2011, foi lançada a construção definitiva do CT, cuja obra poderá ser acompanhada pelos torcedores através do site oficial.
Arena de Beach Soccer Maestro Júnior.
A Arena de Beach Soccer Maestro Júnior fica dentro da sede da Gávea, e foi inaugurada no dia 21 de julho de 2012 para partidas de futebol de areia. Ela recebeu este nome em homenagem a Junior, jogador com o maior número de jogos com a camisa do clube e com passagem pela modalidade após a aposentadoria dos campos.
Rivalidades.
Rivalidade com o Vasco da Gama.
O "Clássico dos Milhões" é o tradicional clássico brasileiro entre Flamengo e Vasco da Gama, ambos do Rio de Janeiro. É considerada uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro e do futebol mundial. O nome do clássico originou-se na década de 1920 e refere-se às duas maiores torcidas do estado do Rio de Janeiro. Ambos os clubes foram estabelecidos no final do século XIX como clubes de remo de regata. A primeira partida de futebol entre os clubes foi disputada em 1923, quando o Vasco entrou na primeira divisão do Campeonato Carioca. De 1972 a 2001, o confronto foi elevado como a mais importante das rivalidades do Flamengo (superando o Fluminense) e se tornou uma das maiores rivalidades de todo o Brasil. Nesse período, Flamengo e Vasco disputaram ou venceram a final de cada uma das fases do campeonato estadual quase todos os anos, frequentemente se enfrentando. Isso também coincidiu com o início do Campeonato Brasileiro e o crescimento da popularidade de ambos os clubes em todo o país. As partidas mais icônicas entre Flamengo e Vasco apresentaram os ídolos dos dois clubes se desafiando: Zico do Flamengo (1971–83; 85–89) e Roberto Dinamite do Vasco da Gama (1971–79; 80–93).
Rivalidade com o Fluminense.
A rivalidade entre esses dois clubes começou em outubro de 1911 quando um grupo de jogadores insatisfeitos do Fluminense deixou seu clube e se juntou ao Flamengo, estabelecendo o departamento de futebol em seu novo clube. O primeiro "Fla-Flu" da história foi disputado no ano seguinte, em 7 de julho. O Fluminense venceu a partida por 3–2, com 800 pessoas presentes. Flamengo e Fluminense são os dois times de maior sucesso no Campeonato Carioca: em 2022, o Flamengo tem 37 títulos estaduais e o Fluminense tem 32. Em 1963, o Maracanã recebeu 194 603 espectadores para assistir ao jogo "Fla-Flu".
Rivalidade com o Botafogo.
O primeiro confronto entre os rivais cariocas Flamengo e Botafogo ocorreu em 1913. A partida ficou conhecida como "Clássico da Rivaldade" na década de 1960. O mascote do urubu do Flamengo originou-se durante a partida de 1º de junho de 1969, contra o Botafogo, quando torcedores do Flamengo lançaram um urubu em campo em resposta aos aplausos racistas de "urubu" do Botafogo e torcedores de outros times. O artilheiro do Flamengo no clássico é Zico e o artilheiro do Botafogo é Heleno de Freitas.
Rivalidade com o Atlético Mineiro.
O Flamengo tem uma rivalidade interestadual com o Atlético Mineiro de Minas Gerais, desenvolvida na década de 1980 a partir de inúmeros confrontos polêmicos entre os dois clubes nas edições do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores daquela década. Manteve sua alta intensidade nos anos seguintes, e é considerada uma das maiores rivalidades interestaduais do futebol brasileiro.
Nação Rubro-Negra.
Tombada pela prefeitura em 17 de outubro de 2007, a torcida do Flamengo é a maior do Brasil e do Mundo está espalhada em todas as regiões brasileiras, com maior concentração nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Pesquisas de diversas meios consideram que o clube tenha entre 33 e 40 milhões de torcedores somente no Brasil. A pesquisa mais recente sobre torcidas no país, realizada pelo Ibope em parceria com o jornal Lance, no ano de 2014, aponta o clube com 16,2% das escolhas, seguido pelo Corinthians com 13,6%, São Paulo com 6,8%, Palmeiras com 5,3% e Vasco com 3,6%. Segundo a pesquisa, 80% da torcida do Flamengo — cerca de 25 milhões de torcedores — não é oriunda do Rio de Janeiro, estado de origem do clube e no qual se localiza sua sede social e o estádio que recebe seus jogos de futebol. No Rio de Janeiro, a torcida responde por 48,2% da população, o que, em números absolutos, corresponde a cerca de 7,9 milhões de torcedores. Um estudo feito em 2012 pela agência argentina de marketing esportivo Gerardo Molina-Euromericas, apontou o Flamengo como a equipe com a maior torcida do mundo.
Segundo pesquisas do instituto Datafolha o Flamengo é o time com mais torcedores nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, é o segundo time com mais torcedores na região Sudeste atrás somente do Corinthians e o quarto no Sul do Brasil. Embora não seja o clube com mais torcedores nas regiões Sudeste e Sul, o Flamengo figura como o clube mais popular nos estados de Santa Catarina e Espírito Santo, e se destaca no estado de Minas Gerais, como o terceiro time com mais seguidores. O fato de o clube ter uma torcida imensa em regiões fora do Sudeste, faz com que torcedores rivais (especialmente os do ) afirmem que o número de torcedores do Flamengo na verdade está inflacionado por conter muitos "simpatizantes" ou "torcedores mistos" (torcedores que dizem torcer para o Flamengo, mas que na verdade torcem por outros clubes e tem o Flamengo apenas como segunda opção). Porém, uma pesquisa realizada em 2019 pelo IBOPE Repucom diz que somente 19% dos torcedores do Flamengo são na verdade "simpatizantes", o terceiro menor valor entre os clubes brasileiros, e apenas 1 ponto percentual a mais que o do .
A torcida rubro-negra tem a melhor média geral de público em jogos do Campeonato Brasileiro, terminando por 11 vezes na frente. Detém o recorde de participações nos maiores públicos da história do futebol brasileiro. Dos 244 maiores públicos já registrados, a torcida teve participação direta em 103, a frente do Vasco, segundo no ranking, com 58 participações. No campeonato brasileiro de futebol, dos 10 maiores públicos a torcida registra participação em 6 jogos, sendo detentora do recorde de público do torneio em partida realizada contra o Santos em 29 de maio de 1983 no estádio Maracanã com presença de 155 523 mil pessoas.
Em 10 de outubro de 2007 a "Camisa 12" do Flamengo foi aposentada em homenagem a esta torcida. A ideia partiu de Reginaldo Beltrão, um conselheiro do clube à época, e foi aceita pelo então presidente Márcio Braga. A carta enviada pelo conselheiro sugeria a aposentadoria do número, para homenagear o que chamou de "maior jogador da história do Flamengo".
Em 1979 foi fundada a torcida Fla-Gay, a primeira torcida de gênero do Brasil.
A torcida do Flamengo é referida carinhosamente por seus seguidores e pela mídia em geral como "Nação Rubro-Negra", originando-se esse termo das proporções de tamanho, diversidade e difusão dos torcedores em todas as regiões do Brasil.
Campanha "Paixão Cega".
Para estimular a presença de deficientes visuais nos jogos do time, em 2016, o clube, em parceria com a agência de comunicação NBS, criou o "Paixão Cega", campanha apoiada pela Lei Nº 837/2011 do Rio de Janeiro, que garante a gratuidade para cegos e acompanhantes não-deficientes a frequentarem eventos esportivos e culturais em todo o estado. A campanha consiste em uma plataforma online onde os torcedores deficientes e não-deficientes são listados e combinados entre si para que possam ir aos jogos juntos.
Em junho de 2019, essa campanha conquistou o prêmio Leão de Prata no Festival Cannes Lions 2019, na categoria Entretenimento para Esporte.
Embaixadas da Nação Rubro-Negra.
As "Embaixadas da Nação" são movimentos espontâneos que ocorrem no Brasil e no exterior. Recentemente, o Clube de Regatas do Flamengo, por meio do Projeto Nação Rubro-Negra, resolveu apoiar tais manifestações espontâneas, conferindo-lhes caráter institucional. Essa oficialização dar-se-á pela emissão de um diploma a ser conferido pelo Clube de Regatas do Flamengo, assinado pelo presidente do Conselho Diretor.
Mascote.
O primeiro mascote do Flamengo foi o marinheiro Popeye, personagem de quadrinhos na década de 1940 (e, posteriormente, de desenhos animados). A ideia para o mascote partiu do chargista argentino Lorenzo Molas, que viu, no Popeye, a força e a persistência do Flamengo, além de sua óbvia ligação com o mar. No entanto, tal mascote nunca foi muito popular entre a torcida do clube.
Na década de 1960, as torcidas rivais começam a chamar os torcedores do Flamengo de "urubus", alusão racista à grande massa de torcedores rubro-negros afro-descendentes e pobres. Tal apelido de cunho ofensivo nunca foi bem recebido pela torcida do Flamengo, até o dia 31 de maio de 1969. Foi em um domingo, quando um torcedor rubro-negro resolveu levar a ave para um jogo entre o Flamengo e Botafogo no Maracanã. Na época, os dois clubes faziam o clássico de maior rivalidade pós-Garrincha. E o Flamengo não vencia o rival fazia quatro anos. Nas arquibancadas, os torcedores do Botafogo gritavam, como sempre, que o Flamengo era time de "urubu".
O urubu foi solto na arquibancada com uma bandeira presa nos pés e, quando caiu no gramado, pouco antes de o jogo iniciar, a torcida fez a festa, vibrando e gritando: "é urubu, é urubu". O Flamengo venceu o jogo por 2–1 e, a partir daí, o novo mascote consagrou-se, tomando o lugar do Popeye. O cartunista Henfil, rubro-negro, tratou de humanizá-lo em suas charges esportivas em jornais e revistas, e o Urubu tornou-se um mascote popular.
Em 2000, o mascote do Flamengo ganhou um desenho oficial e um nome: "Samuca". No entanto, esse nome não se popularizou entre a torcida, que o continua chamando simplesmente de "urubu".
Em 25 de maio de 2008, "Uruba" e "Urubinha" estrearam no Maracanã no jogo Flamengo X Internacional, válido pelo Campeonato Brasileiro de 2008. A partir de então, estão presentes em diversos jogos e eventos do Flamengo.
Hino.
O Flamengo possui dois hinos: o oficial, chamado "Hymno Rubro-Negro", que foi criado em 1920 com letra e música de Paulo Magalhães (ex-goleiro do clube), gravado em 1932 pelo cantor Castro Barbosa e registrado em 1937 no Instituto Nacional de Música, com o refrão ""Flamengo! Flamengo! Tua glória é lutar, Flamengo! Flamengo! Campeão de terra e mar"; e o popular, com letra e música de Lamartine Babo, gravado pela primeira vez por Gilberto Alves em 1945. Este último é o mais conhecido e o que canta as glórias do clube, cujo refrão é "Uma vez Flamengo, sempre Flamengo".
Jogadores destacados.
Esta é uma lista de jogadores de destaque que já passaram pelo Flamengo:
Treinadores.
Esses são os principais treinadores (em ordem alfabética):
Categorias de base.
História.
O Flamengo sempre teve como grande tradição o lema: "Craque o Flamengo faz em casa", e a história do Clube nas categorias de base demonstra isso. Nas últimas gerações, é incontável o número de jogadores revelados na Gávea e recentemente no Ninho do Urubu. É o caso, por exemplo, do maior ídolo da história do Flamengo, Zico, assim como grande parte da geração de ouro do Rubro-Negro, que conquistou o Brasil, a América e o Mundo nos anos 80. Além deles, jogadores de épocas mais recentes, como Sávio, Júlio César e Adriano também tiverem passagens bem-sucedidas pela categoria de base do Fla.
Sub-20 (juniores).
A criação.
A categoria de Juniores foi criada a partir de 1980 e só poderiam jogar na categoria, os jogadores com idade até 20 anos. Antes, a categoria que antecedia o time de profissionais era chamada de Juvenil, que continuou a existir, mas a partir de então, com jogadores de até 17 anos. Os juniores são a última categoria de base da carreira de um jogador. É a fase que precede sua ida para o time profissional ou o seu abandono do futebol. Grandes nomes surgiram para o profissional nesta categoria.
2000 a 2009: o tricampeonato carioca.
Nos anos 2000, o Clube conquistou diversos títulos, como o tricampeonato carioca em 2005, 2006 e 2007 na categoria de juniores, onde também ficou em terceiro lugar no Campeonato Mundial Interclubes, disputado na Malásia, no ano de 2007.
Treinadores.
Esses são os principais treinadores:
Sub-17 (juvenil).
De aspirantes ao profissional a Sub-17.
O time de juvenis sempre foi integrado por jovens jogadores, que tinham idade até 18 anos e que aspiravam por um dia chegar a jogar no time profissional. Até 1979, era a categoria que ficava logo abaixo dos profissionais. A partir de 1980, com a criação da categoria de Juniores, a idade limite para ser jogador juvenil passa a ser de 17 anos. É uma fase importante no desenvolvimento de qualquer atleta, pois é a fase que precede a transição para o futebol profissional, que vem geralmente na categoria de juniores. O juvenil é também conhecido como sub-17.
Dentre os grandes nomes que já passaram por esta divisão de base do Flamengo encontram-se Zico, Djalminha, Júnior Baiano, Marcelinho Carioca, entre outros.
Treinadores.
Esses são os principais treinadores:
Sub-15 (infantil).
Antecessor ao Juvenil.
A categoria Infantil é a categoria que precede a categoria Juvenil. Esta categoria é disputada por atletas de até 15 anos de idade.
Jogadores destacados.
Esta é uma lista de jogadores de destaque que já passaram pelo Flamengo Sub-15:
Treinadores.
Esses são os principais treinadores:
Marca e valor de mercado.
Desde 2014 o Flamengo detém a marca mais valiosa do futebol brasileiro. Em 2016, a empresa BDO RCS Auditores Independentes, apresentou a nona edição de seu estudo anual "Valor das Marcas dos Clubes Brasileiros". De acordo com este levantamento a marca "Flamengo" é a maior do Brasil pelo segundo ano seguido com 1,43 bilhão em valor absoluto, superando o Corinthians (1,42 bilhão) e o Palmeiras (com 1,02 bilhão).
Em janeiro de 2019, o clube se tornou o primeiro do país a deter o status de marca de "Alto Renome" junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o que agregou valor jurídico e econômico à sua marca. Com esta condição, a marca "Flamengo" "passará a receber um tratamento diferenciado em relação à marcas comuns e uma proteção distinta, conferida pela legislação prevista na Lei da Propriedade Industrial", representando uma vantagem em casos de conflitos envolvendo marcas em quaisquer esferas e o aumento substancial de penas em casos de infração.
Clubes de futebol homônimos.
A importância e a popularidade do Clube de Regatas do Flamengo inspirou o batismo de diversos clubes esportivos no mundo.
Outros esportes.
Basquetebol.
Masculino.
O basquete rubro-negro ganhou o primeiro campeonato de basquete organizado no Brasil em 1919, e desde então se tornou um dos times mais tradicionais do país, tendo ganho sete Campeonatos Brasileiros (2008, 2009, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2019), 46 Campeonatos Cariocas (maior vencedor da competição), um Campeonato Sul-Americano de Clubes Campeões (1953), uma Liga Sul-Americana (2009), além de quatro Torneios da CBD (1934, 49, 51 e 53).
Em 2014, o Flamengo conquistou a Liga das Américas, considerada como a "Libertadores do Basquete", invicto e em uma final inédita contra um time do mesmo país, Pinheiros. Com isto se credenciou a participar da Copa Intercontinental de 2014 contra o Maccabi Tel Aviv, campeão da Euroliga. Após duas partidas, disputadas na HSBC Arena, o Flamengo sagrou-se vencedor e tornou-se apenas o segundo clube do Brasil a conseguir tal feito, desde o E.C. Sírio em 1979. Além disso, como já havia logrado o mesmo êxito no futebol, juntou-se ao Real Madrid e ao Barcelona como únicos clubes campeões intercontinentais no basquete e futebol.
Feminino.
Na categoria feminina, o basquetebol rubro-negro foi bicampeão brasileiro em 1954 e 1955, com o talento de Carminha, Didi, Marina, Regina, Ivanira, Luiza Helena Micelli. Exatos dez anos passados, em 1964 e 1965, a equipe voltou a ser campeã brasileira, com algumas atletas que conquistaram o primeiro bicampeonato. Norminha, Angelina, Marlene e Delei (da Seleção Brasileira) foram campeãs no Pan-Americano de 1967, em Winnipeg no Canadá.
Em 1966, o clube sagrou-se campeão mundial de clubes, com um time que era liderada por Angelina, considerada uma das maiores jogadora de basquete de seu tempo.
Futebol americano.
O futebol americano do clube surgiu em 2013, quando o clube montou uma parceria com o Rio de Janeiro Imperadores (anteriormente Fluminense Imperadores). o clube passou então a usar o nome fantasia Flamengo Imperadores.
Futebol feminino.
Em 2016 o futebol feminino do Flamengo conquistou o seu primeiro título nacional da categoria ao vencer o Campeonato Brasileiro contra o então campeão Rio Preto.
Futebol de Masters.
A equipe de futebol de masters do Flamengo foi formada em 2000 por atletas que já se aposentaram dos gramados. A equipe ganhou 2 torneios: O Torneio Lendas do Futebol de 2018 e o Torneio de Lendas da Florida Cup de 2019
Ginástica artística.
A ginástica artística do Flamengo começou em 1950, mesmo ano da fundação da Federação Carioca de Ginástica. O sucesso da modalidade no clube começou ainda na década 70, e se intensificou a partir da década de 80, com a ex-treinadora Georgette Vidor e atletas como Luísa Parente, Soraya Carvalho, Tatiana Figueiredo. Outros ginastas de destaque foram Jade Barbosa e os irmãos Daniele e Diego Hypólito, medalhistas em diversas competições internacionais. Atualmente, o clube não conta com uma seção profissional da modalidade, apenas nas categorias de base.
Judô.
O judô foi introduzido no Flamengo em 8 de agosto de 1954 e foi o primeiro esporte de artes marciais praticado no clube. O Flamengo já conquistou vários títulos na modalidade e contou com atletas da Seleção Brasileira, como Aurélio Miguel, Henrique Guimarães, Walter Carmona e Luiz Onmura. Assim como a ginástica, atualmente apenas atletas da base e as escolinhas estão ativadas.
Natação.
A natação começou no clube da Gávea antes mesmo da inauguração do respectivo departamento, fato que só ocorreu em 1921; embora o parque aquático do Flamengo só tenha ficado pronta em 1965. No fim da década de 30, o clube contou com o quarteto conhecido como "Fortalezas Voadoras" e formado por Piedade Coutinho, Scyla Venâncio, Geysa Carvalho e Ligia Cordovil. Em 1968, a natação rubro-negra conquistou seu primeiro Troféu Brasil e na década de 80 o octacampeonato dessa mesma competição e ainda outro octacampeonato, no Troféu José Finkel, sob o comando de Daltely Guimarães, revelando atletas como Ricardo Prado, Rômulo Arantes e Patrícia Amorim. Outros atletas de importância foram Fernando Scherer ("Xuxa") e Maria Lenk. Em 2001 conquistou o Troféu José Finkel e em 2002 o Troféu Brasil e novamente o Finkel. Em 2010 o clube venceu uma disputa com o Corinthians e contratou o campeão olímpico em 2008 e mundial em 2009, César Cielo, além de Henrique Barbosa e Nicholas Santos provenientes do Esporte Clube Pinheiros. Nesse período, o Flamengo conquistou em 2012 o Troféu Maria Lenk após 10 anos e igualou com o Pinheiros em número de títulos (13). Com o término da gestão de Patrícia Amorim no final daquele ano, a nova diretoria decide não renovar com Cielo, Nicholas e outros nadadores profissionais, mantendo apenas as categorias de base.
Polo aquático.
O polo aquático é o segundo esporte mais antigo da história do clube, após o remo. A equipe fez seu primeiro jogo em 27 de maio de 1913, no Rio de Janeiro, e o time rubro-negro venceu o Clube Internacional de Regatas por 3–2. Somente em 1965, o Flamengo inaugurou seu parque aquático, antes disso os atletas treinavam e jogavam na Lagoa Rodrigo de Freitas ou no mar. O primeiro campeonato carioca masculino veio em 1985 e terminou com um eneacampeonato (nove títulos consecutivos), sendo este último em 1993. Também neste ano, o clube conquistou o Campeonato Sul-Americano de Clubes e o Troféu Brasil, título também vencido de 1985 a 1988. Uma equipe feminina de polo aquático foi formada em 1987, conquistando o Troféu Brasil em 1987 e 1991 e o eneacampeonato estadual terminado em 1995.
Remo.
O "Grupo de Regatas do Flamengo", que depois se tornou "Clube de Regatas do Flamengo" nasceu em 1895 para disputas no remo e por isso a história dessa modalidade na equipe rubro-negra se confunde com a própria história do Flamengo. A primeira vitória veio em 1898 pelo Campeonato Náutico do Brasil, e o primeiro título do esporte e também do clube em 1900, na Regata do IV Centenário da Descoberta do Brasil, conquistando o troféu Jarra Tropon. Em 1905, o clube venceu uma prova clássica, a Taça Sul-América. Segundo o livro "História dos Esportes Náuticos no Brasil", de Alberto Mendonça, até 1908, o Flamengo já tinha conquistado 43 medalhas de ouro, 126 de prata e 141 de bronze. A modalidade fez com que a equipe ficasse conhecida antes mesmo de fundar um departamento de futebol, em 1911; e revelou grandes atletas como Everardo Paes de Lima, Arnaldo Voigt, Alfredo Correia ("Boca Larga"), Ângelo Gammaro ("Angelú") e Antônio Rebello Júnior ("Engole Garfo"); sendo estes três últimos considerados heróis de desporto brasileiro por terem completado a travessia Rio-Santos em 1932.
De 1931 a 1937, foi heptacampeão carioca e, de 1940 a 1943, tetracampeão da mesma competição. Em 1963, começou a "era Buck", que revolucionou o remo rubro-negro, trazendo atletas de outros estados do Brasil e reformando as instalações para acomodar melhor as embarcações. Buck foi treinador da Seleção Brasileira, dirigindo a equipe em várias competições internacionais. No início da década de 1980, o Flamengo ganhou o decacampeonato estadual e voltou a conquistá-lo em 1992. Já venceu o Troféu Brasil masculino 10 vezes, e o feminino uma vez; tem, atualmente, 45 títulos cariocas, sendo o atual bicampeão da competição.
Tênis.
O Flamengo começou a disputar campeonatos de tênis em 1916, e logo conquistou um tricampeonato carioca (1916–17-18), mesmo com os atletas treinando em outros clubes. Até 1932, o clube praticava tênis em seu campo, na Rua Paysandu, mas perdeu seu parque desportivo e só em 1963, inaugurou um departamento e quadras próprias. O maior ídolo deste esporte na equipe rubro-negra foi Thomas Koch.
Voleibol.
O Flamengo tem tradição no voleibol, sendo um dos fundadores da Liga Metropolitana, em 1938, ano em que conquistou seu primeiro título com a equipe feminina, a qual nas décadas de 40, 50 e 60 conquistou vários títulos, sendo apelidade de "Campeã dos campeões". Em 1978 e 1980, o clube venceu o Campeonato Brasileiro, sob a direção de Enio Figueiredo, com atletas como Isabel, Jacqueline e Ida Álvares; e em 1981 o Campeonato Sul-Americano. A equipe feminina ainda conquistou a Super Liga feminina de 2000/2001, derrotando o Vasco na decisão. No masculino, o primeiro campeonato carioca veio em 1949 e nas décadas de 80 e 90 teve atletas como Bernard, Bernardinho e Tande.
eSports.
2018.
Com os "eSports" em alta, os populares jogos eletrônicos, no segundo semestre o Flamengo anunciou sua entrada nesta categoria. Inicialmente tendo uma equipe no "League of Legends" para 2018, e futuramente, no PES. O Flamengo anunciou a intenção de ter times de "eSports" sem parcerias com organizações já existentes. Por conta da cenário competitivo do "League of Legends" ser realizado nos estúdios da Riot Games em São Paulo, tornou-se necessário uma "gaming office" fixa na capital paulista, uma espécie de centro de treinamento para os cyberatletas. Visando um ingresso rápido no cenário do LoL, o "Rubro Negro" comprou a vaga da Merciless Gaming no Circuito Desafiante, a segunda divisão do Campeonato Brasileiro de League of Legends.
Em 21 de novembro o Flamengo anunciou a contratação de Gabriel "miT" Souza, campeão brasileiro pela paiN Gaming em 2015, para a posição de "head coach" do time, visando a preparação e a montagem do time para o Circuito Desafiante. Logo depois foram anunciadas as vindas de Thúlio "SirT" Carlos, anunciado como caçador do time e vindo do Big Gods Jackals dos Estados Unidos, o suporte André "esA", vindo da Keyd Stars, e o meio Daniel "Evrot" Franco. Para ser o atirador "rubro negro", o Flamengo trouxe um dos principais nomes do League of Legends no Brasil, Felipe "brTT" Gonçalves, anunciado ainda em dezembro após sua passagem pela RED Canids em 2017. Para a rota do topo foi contratado o sul-coreano Park "Jisu" Jin-cheol.
Na disputa do Circuito Desafiante, o Flamengo se classificou em primeiro na fase de pontos e se classificou nos playoffs para a grande final, após vencer a T Show por 3–1 na semi, porém, na final diante da IDM Gaming (atualmente, Uppercut Esports) acabou perdendo o título do competição e tendo que decidir a vaga para o CBLOL na série de acesso diante da Team oNe eSports, em uma série disputada com direito a cinco jogos e "pentakill" do atirador Felipe "brTT" Gonçalves o time "Rubro-Negro" se classificou para a elite do League of Legends no Brasil. No segundo split do CBLOL, o time anunciou as saídas do caçador Thúlio "SirT" Carlos e do meio Daniel "Evrot" Franco, segundo a própria comissão técnica devido aos seus rendimentos durante a preparação para o jogo contra a Team oNe. Em seus lugares o Flamengo anunciou o caçador coreano Lee "Shrimp" Byeong-hoon, vindo da FlyQuest Academy e o meio Bruno "Goku" Miyaguchi, vindo da ProGaming eSports. Ao longo da competição o coach Gabriel "MiT" Souza foi afastado e em seu lugar Gabriel "Von" Barbosa assumiu o time. A campanha do time carioca na fase de pontos rendeu o segundo lugar geral na tabela, tendo que enfrentar apenas um jogo para se classificar para a grande final em Porto Alegre (o modelo do split naquela época era em escalada) contra a KaBuM! eSports. Após vencer a CNB por 3–0 o time de brTT e companhia se classificaram para a grande final. Porém o time "Rubro-Negro" acabou sendo surpreendido pelo time dos "Ninjas" e acabou saindo derrotado por 3–2.
2019.
Após a amarga derrota para o time da KaBuM!#KaBuM! eSports, o Flamengo passou por uma reformulação em sua line-up com as saídas do suporte Eidi "esA" Yanagimachi e do topo coreano Park "Jisu" Jin-cheol. Para seus lugares o time "Rubro-Negro" se reforçou com o topo ex-CNB Leonardo "Robo" Souza, eleito o melhor de sua posição no split passado e o suporte coreano Han "Luci" Chang-hoon vindo da Winners. Além disso, foram anunciadas as renovações de contrato com Felipe "brTT" Gonçalves, Lee "Shrimp" Byeong-hoon, Bruno "Goku" Miyaguchi e o coach Gabriel "Von" Barbosa. Também trouxe reforços para a comissão técnica com a chegada do head coach americano Jordan "Grey" Corby, do analista e também jogador Seong "Reven" Sang-hyeon (apelidado na comunidade como "FLAnalista") e a contratação do atirador Gabriel "Juzo" Nishimura ex-Vivo Keyd. No primeiro split o time demonstrou dominação durante a fase de pontos tendo vencido 21 jogos de 22, tendo perdido apenas para a KaBuM! eSports, nos playoffs novamente encontrou a CNB e emplacou outro 3–0 e indo para a final nos estúdios da Riot Games em São Paulo diante da INTZ e-Sports. Mais uma vez o Flamengo acabou por ser surpreendido em outra final perdendo por 3–2 para os "intérpritos" e acumulando mais um vice-campeonato em sua história.
Apesar das imensas críticas e pressão em cima do elenco, o time optou por manter sua line-up tanto de jogadores e comissão técnica visando a conquista do título de campeão brasileiro de League of Legends (no caso a Riot Games considera apenas o campeão do segundo split como campeão brasileiro do ano). Numa intensa disputa com a KaBuM! eSports na fase de pontos, o "Rubro-Negro" se classificou em primeiro lugar para os playoffs, tendo pela frente na semifinal o time da Uppercut Esports (ex-IDM Gaming), porém esquecendo os fantasmas do passado o Flamengo se classificou para a grande final na Jeunesse Arena no Rio de Janeiro, a casa do time. Na final o Flamengo reencontrou o revés do primeiro split, a INTZ, em uma final disputada e emocionante, o Flamengo finalmente conquistou seu primeiro título no cenário competitivo de League of Legends se classificando para a disputa do Mundial na Europa.
Outras modalidades.
O Clube de Regatas do Flamengo é detentor de títulos em diversas modalidades, com milhares de conquistas, sendo três mundiais, dezenove medalhas olímpicas e mais de 50 mil medalhas em outras competições desportivas.
Esportes extintos.
O clube já contou com atletas, equipes e disputou competições nas seguintes modalidades:
Medalhistas olímpicos.
Lista de todos os atletas do C.R. Flamengo que conquistaram medalhas nas Olimpíadas em seus respectivos esportes. São ao todo 2 medalhas de ouro, 7 medalhas de prata e 16 de bronze:
Homenagens.
Em 9 de março de 2007, foi sancionada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, a Lei Estadual 4 998/2007, instituindo o "Dia do Flamengo", festejado no estado em 17 de novembro, data da fundação do clube. Também em 2007 o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Cesar Maia, tombou a Torcida do Flamengo como Patrimônio Cultural da Cidade, por promover espetáculos de alegria no estádio do Maracanã e em diversos estádios, instituindo também, em 17 de outubro de 2007, o Dia do Flamenguista, comemorado em 28 de outubro, mesmo dia do padroeiro do Flamengo, São Judas Tadeu.
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873 | Fluido newtoniano | Fluido newtoniano
Um fluido newtoniano é um fluido cuja viscosidade, ou atrito interno, é constante para diferentes taxas de cisalhamento e não variam com o tempo. A constante de proporcionalidade é a viscosidade. Nos fluidos newtonianos a tensão é diretamente proporcional à taxa de deformação. Apesar de não existir um fluido perfeitamente newtoniano, fluidos mais homogêneos como a água e o ar costumam ser estudados como newtonianos para muitas finalidades práticas.
Fluido não-newtoniano.
O fluido não-newtoniano é um fluido cuja viscosidade varia proporcionalmente à energia cinética que se imprime a esse mesmo fluido, respondendo de forma quase instantânea. Para exemplo temos a mistura do amido de milho (maisena) com água que, dependendo da pressão que recebe, pode ser um sólido ou um líquido, apresentando característica viscosa. Com pressão suficiente torna-se um sólido e com menor pressão volta ao estado líquido.
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874 | Fluido não newtoniano | Fluido não newtoniano
Um fluido não newtoniano é um fluido cujas propriedades são diferentes dos fluidos newtonianos, mais precisamente quando a tensão de cisalhamento não é diretamente proporcional à taxa de deformação. Como consequência, fluidos não newtonianos podem não ter uma viscosidade bem definida.
Caracterização.
Embora o conceito de viscosidade clássica seja vulgarmente utilizado para caracterizar um material, ele pode ser inadequado para descrever o comportamento mecânico de determinadas substâncias líquidas (fluidos não newtonianos), nos quais a viscosidade aparente não é constante durante o escoamento. Estas substâncias são melhor estudados através de suas propriedades reológicas, que mostram as relações entre a tensão aplicada nesta substância e a taxa de deformação sob diferentes condições de escoamento. A obtenção destas propriedades reológicas é feita com viscosímetros. Estas propriedades são descritas pelas equações constitutivas na forma tensorial, que são comuns no campo da mecânica do contínuo, ou na forma escalar por meio de definições de taxas de deformação efetiva e tensão de cisalhamento efetiva.
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877 | Ilha das Flores (Açores) | Ilha das Flores (Açores)
A ilha das Flores situa-se no Grupo Ocidental do arquipélago dos Açores, sobre a Placa Norte-Americana sendo a maior das ilhas que compõem aquele grupo. Ocupa uma área de , na sua maior parte constituída por terreno montanhoso, caracterizado por grandes ravinas e gigantescas falésias. O ponto mais alto da ilha é o Morro Alto, a 914 metros de altitude. A população residente é de habitantes (2011), repartindo-se pelos concelhos de Santa Cruz e Lajes das Flores. É o ponto mais ocidental de Portugal (no Ilhéu de Monchique ) e frequentemente considerada como o ponto mais ocidental da Europa (caso seja considerada parte da Europa, ainda que assente na Placa Norte-Americana). É uma das mais belas do arquipélago, cobrindo-se de milhares de hortênsias de cor azul, que dividem os campos ao longo das estradas, nas margens das ribeiras e lagoas.
História.
Da descoberta e povoamento.
As ilhas do Grupo Ocidental do arquipélago dos Açores - Flores e Corvo - foram encontradas em 1452, quando do retorno da viagem de exploração de Diogo de Teive e seu filho, João de Teive, à Terra Nova. No início do ano seguinte, a 20 de janeiro de 1453, Afonso V de Portugal fez a doação das ilhas de "Corvo Marini" ao seu tio, Afonso I, Duque de Bragança. Nesse documento de doação não é mencionada a ilha das Flores, uma vez que, à época, não tinha um nome. Entretanto era esta a ilha doada, uma vez que a do Corvo era, à época, considerada apenas um ilhéu anexo à primeira. As ilhas seriam posteriormente doadas ao Infante D. Henrique, Mestre da Ordem de Cristo, que, em seu testamento, as nomeia como ilha de São Tomás e ilha de Santa Iria. Com a morte deste passam para o Infante D. Fernando, Duque de Viseu.
A atual toponímia "Flores", em uso desde em 1474 ou 1475, deve-se à abundância de flores de cor amarela, os "cubres" ("Solidago sempervirens") que recobriam a costa da ilha, cujas sementes possivelmente foram trazidas por aves migratórias desde a península da Flórida, na América do Norte.
O primeiro capitão do donatário destas ilhas foi Diogo de Teive, passando a capitania a seu filho, João de Teive. Este cedeu-a a Fernão Teles de Meneses a 20 de janeiro de 1475. Com a morte acidental de Teles de Meneses, a viúva deste, D. Maria Vilhena, que as administrava em nome do seu jovem filho, Rui Teles, negociou estes direitos com Willem van der Haegen. Desse modo, este nobre flamengo que por volta de 1470 havia chegado com avultada comitiva à ilha do Faial, de onde passara à ilha Terceira, passa para as Flores por volta de 1480, pagando à viúva apenas direitos de capitão do donatário, e iniciando-lhe o povoamento. Fixou-se junto à foz da Ribeira de Santa Cruz (ainda actualmente conhecida por Ribeira dos Barqueiros), nos arredores de Santa Cruz das Flores, próximo da Fajã do Conde, cuja povoação começou a se formar, iniciando o cultivo do pastel, planta tintureira em cuja cultura era experimentado. Aí permaneceu durante cerca de dez anos, findo os quais resolveu deixar a ilha, motivado pelo isolamento e pela dificuldade de comunicações da mesma, indo fixar-se na ilha de São Jorge.
Mais tarde, Manuel I de Portugal faz a doação da capitania-donatária a João da Fonseca, a 1 de março de 1504, que retoma o povoamento com elementos vindos da Terceira e da ilha da Madeira, aos quais se somou, por volta de em 1510, nova leva de indivíduos de várias regiões de Portugal, com predomínio dos do norte do país. Este povoamento distribuiu-se ao longo da costa da ilha, com cada família ou grupos afins ocupando a data ou sesmaria que lhes coubera, com base na cultura de trigo, cevada, milho, legumes e na exploração da urzela e do pastel. Desse modo, ainda no recebem carta de foral as povoações de Lajes das Flores (1515) e de Santa Cruz das Flores, assim elevadas a vila. Data de 6 de agosto de 1528, a confirmação régia da posse da Capitania a Pedro da Fonseca, filho de João da Fonseca. Com o falecimento de Pedro da Fonseca, e do seu filho mais velho, João de Sousa, João III de Portugal, faz a doação da capitania-donataria da ilha a Gonçalo de Sousa (12 de janeiro de 1548).
Nos séculos seguintes, os poucos habitantes manter-se-iam isolados em várias partes da ilha, recebendo raras visitas das autoridades régias, e de embarcações de comércio das ilhas do Faial e Terceira em busca em busca de azeite de cachalote, mel, madeira de cedro, manteiga, limões e laranjas, carnes fumadas e, por vezes, louça (deixando panos de lã e linho e outros artigos manufaturados) e outras que ali faziam aguada e adquiriam víveres.
Da Dinastia Filipina aos nossos dias.
No contexto da Dinastia Filipina, a ilha foi invadida por corsários britânicos: a 25 de Julho de 1587 cinco navios desembarcaram tropas que invadiram e saquearam a vila das Lajes e seus arrabaldes, tendo a população em pânico se evadido para os matos vizinhos. Na ocasião foi incendiada e destruída a primitiva matriz da vila, a Igreja do Espírito Santo. Entre outras embarcações de corsários e piratas que aportaram à ilha, de acordo com a tradição local uma delas terá procurado refúgio na gruta dos Enxaréus.
Em 1591 a ilha foi novamente atacada por corsários ingleses.
Em 1593, Filipe I de Portugal nomeou para capitão-do-donatário das ilhas, Francisco de Mascarenhas, conde de Santa Cruz.
No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), quando da ofensiva liberal do 7.º conde de Vila Flor (1831), a ilha reconheceu espontaneamente o governo liberal.
Em meados do , passou a ser visitada por baleeiros estadunidenses, atividade que também passou a ser praticada pelos habitantes da ilha.
O isolamento da ilha apenas foi quebrado com a instalação, em 1966, da Base Francesa das Flores. Nos anos seguintes, foram erguidos um hospital, uma central eléctrica e um aeroporto, infraestruturas que trouxeram grande desenvolvimento à ilha.
Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO.
Esta ilha foi incluída em 27 de Maio de 2009 na lista da Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO, juntando-se à ilha Graciosa e à ilha do Corvo que também já incluem a lista.
Facto que é relevante para a protecção e valorização do ambiente nos Açores. Esta decisão de incluir a ilha das Flores na lista dos sítios com relevância ambiental foi tomada pelo Conselho Coordenador internacional do programa “"O Homem e a Biosfera"”, durante reunião realizada na ilha de Jeju, na República da Coreia do Sul.
A UNESCO salienta que esta reserva inclui toda a ilha, e que esse facto se deve a esta ilha apresentar aspectos uma natureza bem conservada onde se observa uma grande abundância de floresta característica das florestas da Laurisilva típicas da Macaronésia, uma paisagísticos, geológicos, ambientais e culturais de grande importância, e ainda áreas marinhas adjacentes. O documento da UNESCO refere, ainda, as particularidades de excepcional interesse do novo sítio classificado, nomeadamente a existência de “altas escarpas que dominam a maior parte da linha da costa, que é ponteada por pequenos ilhéus”.
Divisão administrativa.
A ilha das Flores está dividida em dois municípios: no nordeste da ilha situa-se o concelho de Santa Cruz das Flores, com sede na vila do mesmo nome; a sudoeste situa-se a vila de Lajes das Flores, também sede de concelho.
O concelho de Santa Cruz das Flores, o mais povoado da ilha, é composto pelas seguintes freguesias:
O concelho das Lajes das Flores é composto pelas seguintes freguesias:
Geomorfologia e geologia.
A ilha tem forma de um trapézio e mede de área total 143.11km2, 17 km de comprimento e 12.5 km de largura máxima.
Pontos de interesse geológico:
Clima.
De uma forma geral, o clima da ilha das Flores pode ser caracterizado pelas suas temperaturas amenas, elevada humidade relativa do ar, frequência de ventos fortes e céu geralmente nublado.
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878 | Ilha do Faial | Ilha do Faial
A ilha do Faial situa-se no extremo ocidental do Grupo Central do arquipélago dos Açores, separada da ilha do Pico por um estreito braço de mar com de 8,3 km (ou 4,5 milhas náuticas) de largura, conhecido por "canal do Faial". A ilha tem a forma aproximada de um pentágono irregular, com 21 km de comprimento no sentido leste-oeste e uma largura máxima de 14 km, a que corresponde uma área de 172,43 km². A população residente é de 14 356 habitantes (2021), a maioria dos quais na Horta, cidade onde se localiza o parlamento açoriano e sede do único concelho da ilha. O clima é temperado oceânico, com temperaturas médias anuais do ar que oscilam entre os 13 °C no Inverno e os 22 °C no Verão, com frequentes vendavais e uma humidade relativa do ar em média acima dos 79%. A ilha é servida pelo Aeroporto da Horta, com ligações aéreas regulares para as restantes ilhas e para o exterior do arquipélago. O Porto da Horta foi um importante entreposto nas ligações marítimas e aéreas (hidroaviões) e por cabo submarino no Atlântico Norte, mantendo uma actividade relevante como porto comercial e local de escala de iates nas travessias entre o continente americano e a Europa. A ilha é localmente conhecida por "ilha Azul", designação que foi popularizada a partir da descrição de Raul Brandão em "Ilhas Desconhecidas". O Vulcão dos Capelinhos, extremo Oeste da ilha, pode ser considerado também o extremo Oeste da Europa caso o Ilhéu de Monchique, nas Flores, seja considerado parte da América insular uma vez que assenta na Placa Norte-Americana.
Geomorfologia e geologia.
Com uma forma quase pentagonal, a ilha emergiu de uma fractura tectónica de orientação ONO-ESE – a mesma que deu origem à Ilha do Pico –, denominada "Fractura Faial Pico", uma estrutura do tipo falha transformante "leaky" que se desenvolve ao longo de 350 km, desde a Crista Média do Atlântico (CMA) até uma área de fundos aplanados sita a sul da Fossa Hirondelle.
Constituída integralmente por materiais vulcânicos, a ilha do Faial estrutura-se em torno de um grande vulcão central, em cujo centro se situa uma profunda caldeira, com relevos muito jovens, pouco trabalhados pela erosão e pelo tectonismo. A presença dessa grande formação central, denominada Maciço da Caldeira (ou Serra da Feteira, nome em geral aplicado apenas ao seu bordo sul) faz com que as elevações da ilha convirjam, de um modo geral, para o centro da ilha, culminando no "Cabeço Gordo", uma elevação sita no bordo sul da Caldeira com 1043 metros de altitude acima do nível médio do mar, a altura máxima na ilha.
No topo do Maciço da Caldeira, abre-se uma grande cratera de abatimento – a "Caldeira" – quase perfeitamente circular e com cerca de 2000 m de diâmetro no seu bordo interior. No fundo da Caldeira, a cerca de 570 metros acima do nível médio do mar e mais de 400 m abaixo da cumeeira, existe uma zona plana, quase perfeitamente circular, albergando no seu centro um pequeno cone rodeado por pequenos lagos e zonas pantanosas. Todo o interior da Caldeira, com as suas paredes quase verticais, é revestido por vegetação luxuriante, avultando diversas espécies da flora da Macaronésia, algumas das quais endémicas nos Açores.
As faldas do Maciço da Caldeira são assimétricas, consequência das diferenças em idade das formações, da existência de vulcanismo secundário e da superimposição no relevo de estruturas tectónicas resultantes das tensões associadas à presença da "Fractura Faial Pico", a formação que comanda a geomorfologia de toda esta região do arquipélago. Neste contexto, podem ser individualizadas três formações distintas:
História Geológica.
A história geológica da ilha do Faial compreende três grandes períodos:
Período Pré-Caldeira.
Pertence ao "período pré-Caldeira", o "complexo vulcânico da Ribeirinha", datado em 800 mil anos antes do presente, a parte mais antiga da ilha, sita na sua região nordeste. Imediatamente para noroeste daquele, surge o "complexo vulcânico dos Cedros", com cerca de 580 mil anos de idade. Para oeste e sudoeste desta região, seguindo a tendência comum nas ilhas sitas a leste da Crista Média do Atlântico de crescer para oeste, entre cerca de 400 mil anos atrás e até há cerca de 10 mil anos, foi-se desenvolvendo um gigantesco cone vulcânico de tipo escudiforme, essencialmente constituído por derrames lávicos resultantes de uma actividade eruptiva predominantemente efusiva. em resultado dessa massa e da presença da Fractura Faial-Pico, há cerca 50 mil anos instalou-se no flanco leste da ilha uma importante actividade tectónica e vulcânica fissural, que deu origem ao denominado "Relevo Falhado da Costa Este". Esta formação constitui um relevo falhado, com levantamento (horst) e afundamento (graben) de grandes blocos separados por falésias quase verticais, pontuado por cones secundários instalados sobre as zonas de fractura.
Formação da Caldeira.
Há 10 mil anos, deu-se uma mudança de estilo eruptivo do vulcão central, entrando numa fase quase exclusivamente explosiva, a qual foi responsável pelos vastos depósitos de pedra-pomes e outros materiais piroclásticos que cobrem quase toda a ilha. Durante esta fase ocorreu o colapso da parte mais alta do vulcão, com afundamento do topo da câmara magmática, originando a formação da actual Caldeira. O colapso parecer ter ocorrido em dois episódios distintos: o primeiro ocorreu no topo da montanha, desenvolvendo-se para o seu interior; o segundo foi originado por um violenta erupção do tipo pliniano, com libertação de uma "nuvem ardente". O abatimento da caldeira terá ocorrido ao mesmo tempo ou imediatamente depois dessa erupção, a qual recobriu mais de 40% da superfície da ilha com uma espessa camada de materiais piroclásticos, mais pujante para norte e leste do centro eruptivo. A maior parte da cobertura vegetal, se não a sua totalidade, foi destruída. A erupção foi acompanhada por poderosas enxurradas, que resultaram da precipitação intensa induzida pela condensação em torno das poeiras vulcânicas presentes na atmosfera, sobre um relevo íngreme caracterizado pela inconsistência do solo. Nas falésias da Praia do Norte encontram-se vestígios desses movimentos de massa.
Período Pós-Caldeira.
Do período anterior resultou a "Caldeira", constituída pela acumulação de materiais de projecção – pedra pomes e cinzas – que atingem notável espessura nas proximidades do bordo da cratera, diminuindo gradualmente à medida que se afastam da caldeira. A formação, talvez devido à sua juventude, tem mostrado relativa estabilidade, embora as suas encostas leste e norte apresentem claros sinais de múltiplos deslizamentos de terras, alguns dos quais (como o que resultou do sismo de 9 de Julho de 1998) já ocorridos depois do povoamento da ilha. O interior da caldeira mantém vulcanismo activo, como testemunha a erupção, com derrame lávico no seu interior, ocorrida há cerca de mil anos, e a actividade freato-vulcânica patente durante a erupção do vulcão dos Capelinhos, em 1957-1958. Embora se desconheça a idade do pequeno cone no seu interior, e se estará relacionado com o "complexo vulcânico do Capelo", segundo a descrição Gaspar Frutuoso (1570-1580), a Caldeira manteve-se praticamente idêntica até à erupção dos Capelinhos, quando, no decurso da crise sísmica de Maio de 1958, se abriram fendas no seu interior que romperam a impermeabilização do fundo da Caldeira. Este facto levou ao escoamento da água dos pequenos lagos ali existentes para interior do cone central, desencadeando violentas explosões freáticas e a ocorrência de actividade fumarólica temporária. Em resultado do sismo de 9 de Julho de 1998, deram-se derrocadas nas paredes quase verticais da cratera. Também pertence a este período a formação do "complexo vulcânico do Capelo", datado de cerca de 5000 anos atrás, resultado de uma importante actividade vulcânica fissural ao longo de uma linha de factura que produziu um alinhamento de cones. Naquela região, para oeste da Caldeira, registaram-se duas erupções históricas que destruíram as freguesias do Capelo e da Praia do Norte:
Durante o século XX, a ilha registou fortes sismos em 31 de Agosto de 1926, em 13 de Maio de 1958 (associado à erupção dos Capelinhos), em 23 de Novembro de 1973 e a 9 de Julho de 1998.
Informações recolhidas por pescadores apontam para a ocorrência de uma erupção vulcânica submarina a 22 de Julho de 2007, num segmento próximo da Crista Média-Atlântica, a cerca de 180 km a sudoeste da Ponta da Capelinhos, na ilha do Faial. O evento foi detectado a partir do equipamento de sonar de uma embarcação, tendo na ocasião sido recolhidos alguns cabos com vestígios de terem sido expostos a altas temperaturas.
O Centro de Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos dos Açores, conjuntamente com o Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, informou que esta ocorrência não foi acompanhada por qualquer actividade sísmica registada nas estações do arquipélago, resultado da baixa magnitude dos eventos que normalmente se encontram associados a estes fenómenos e à distância de terra a que o episódio se desenvolve.
História.
Descoberta e povoamento.
Na cartografia do século XIV, a ilha aparece pela primeira vez individualizada no Atlas Catalão (1375-1377) identificada como "Ilha da Ventura". Gonçalo Velho Cabral, em 1432, terá achado as ilhas do Grupo Central. Diogo de Teive passa ao largo da Ilha do Faial na sua primeira viagem de exploração para ocidente dos Açores, em 1451. Em 1460, no testamento do Infante D. Henrique, encontra-se referida como "ilha de São Luís [de França]". O seu atual nome deve-se à abundância das chamadas faia-das-ilhas ("Myrica faya") aquando do seu povoamento.
O historiador padre Gaspar Frutuoso afirma que o primeiro povoador da ilha terá sido um eremita vindo do Reino. Este vivia só apenas com algum gado miúdo que na ilha deitaram os primeiros povoadores (em 1432?), e mais tarde, os moradores da ilha Terceira. ""Somente no Verão iam pessoas da Terceira a suas fazendas e visitar seus gados e comunicavam com este ermitão". Ele acabaria por desaparecer ao fazer a travessia do canal do Faial para ir até à ilha do Pico, numa pequena embarcação revestida de couro.
O único relato coevo conhecido da primeira expedição à ilha do Faial é de autoria de Valentim Fernandes da Morávia. Ele informa que o confessor da Rainha de Portugal, Frei Pedro, indo à Flandres, como embaixador junto da Duquesa de Borgonha, Infanta D. Isabel de Portugal, relacionou-se com um nobre flamengo chamado Joss van Hurtere, ao qual contou "como se acharam as ilhas em tal rota e que havia nelas muita prata e estanho (porque para ele, as ilhas dos Açores eram as supostas ilhas Cassitérides)". Hurtere convenceu 15 homens de bem, trabalhadores, "dando a mesmo a entender, de como lhes faria ricos"" caso o acompanhassem.
Por volta de 1465, Hurtere desembarcou pela primeira vez na ilha, com aqueles 15 flamengos, no areal da enseada da Praia do Almoxarife. Permaneceram na ilha durante 1 ano, na Lomba dos Frades, até que se esgotaram os mantimentos que tinham trazido. Revoltados por não encontrarem nada do que lhes fora prometido, os seus companheiros andaram para o matar, e Hurteve valeu-se de esperteza para escapar da ilha, retornando para a Flandres comparecendo novamente perante a Duquesa da Borgonha. (Frei Agostinho de Monte Alverne. "Crónicas da Província de São João Evangelista".)
Por volta de 1467, Hurtere regressou numa nova expedição, organizada sob o patrocínio da Duquesa da Borgonha. Ela mandou "homens e mulheres de todas as condições, e bem assim como padres, e tudo quanto convém ao culto religioso, e além de navios carregados de móveis e de utensílios necessários à cultura das terras e à construção de casas, e lhes deu, durante 2 anos, tudo aquilo de que careciam para subsistir", segundo legenda feita pelo geógrafo alemão Martin Behaim no Globo de Nuremberga. Valentim Fernandes acrescenta um pormenor, "por rogo da dita Senhora, os homens que mereciam morte civil mandou que fossem degredados para esta ilha".
Não satisfeito com o local original, Hurtere decidiu contornar a Ponta da Espalamaca. Próximo do local de desembarque mandou erguer a Ermida de Santa Cruz (no local onde hoje existe a Igreja de N. Sra. das Angústias). Hurtere regressou a Lisboa e casou-se com D. Beatriz de Macedo, criada da Casa do Duque de Viseu. O Infante D. Fernando, Duque de Viseu e Mestre da Ordem de Cristo, fez-lhe doação da Capitania do Faial, em 21 de Março de 1468. Por volta de 1470, desembarcou Willem van der Haegen, que aportuguesou o seu nome para Guilherme da Silveira, liderando uma segunda vaga de povoadores. O rápido crescimento económico da ilha ficou a dever-se à cultura de trigo e do pastel.
Em 29 de Dezembro de 1482, a Infanta D. Beatriz incorporou à Capitania do Faial a ilha do Pico.
Do século XVI aos nossos dias.
No contexto da Dinastia Filipina, na sequência da queda da Terceira após o Desembarque da Baía das Mós (1583), D. Álvaro de Bazán enviou para o Faial, último território português que ainda recusava, de armas em punho, obediência a Filipe I de Portugal, uma expedição sob o comando de D. Pedro de Toledo. Repelida pelo fogo do Forte de Santa Cruz da Horta, um corpo de homens de armas desembarcou no sítio do Pasteleiro. Após escaramuças, as forças portuguesas, reforçadas por mercenários franceses foram derrotadas. O Capitão-mor do Faial, António Guedes de Sousa, foi executado às portas do forte.
Subjugada a ilha, aqui foi deixada uma guarnição composta por uma companhia de soldados predominantemente espanhóis, sob o comando de D. António de Portugal. No ano seguinte (1584), incapaz de controlar a insubordinação dos seus soldados, causada principalmente pela falta de pagamento dos soldos este oficial foi substituído no comando pelo capitão Diego Suarez de Salazar (FRUTUOSO, 1998:109-110).
Essa guarnição impediu, em 1587, com o fogo da artilharia do Forte de Santa Cruz, corsários ingleses de apresar um navio oriundo das ilhas de Cabo Verde, fundeado ao abrigo das suas muralhas.
Poucos anos mais tarde, com o aumento da ameaça inglesa nas águas dos Açores, e visando reforçar as defesas concentradas na Terceira, o Mestre-de-Campo Juan de Horbina, governador do terço espanhol sediado em Angra, escreveu ao rei a questioná-lo sobre a eficácia e o perigo da permanência, na Horta, de uma companhia com apenas 168 soldados em um castelo fraco e sem defesa. Em resposta, foi autorizado a que o destacamento na Horta recolhesse a Angra, transportando consigo a artilharia de bronze, o que foi feito em abril de 1589, tendo a defesa sido deixada a cargo da Câmara Municipal da Horta, a quem foi confiada a artilharia de ferro, arcabuzes e piques, com algumas munições para levantamento e armamento das companhias de Ordenanças.
Desse modo, em 20 de setembro daquele mesmo ano, a armada de corsários ingleses sob o comando de Sir George Clifford, conde de Cumberland, perante a recusa do recém-nomeado alcaide do Forte de Santa Cruz, Gaspar de Lemos Faria, em pacificamente permitir aguada e o reabastecimento de víveres, fez desembarcar trezentos homens na praia da Lagoa. esta força, durante uma semana saqueou o Faial e ocupou o forte, entretanto abandonado pelo alcaide, tendo levado a artilharia ali deixada pelos espanhóis
A vila seria novamente saqueada, em 1597, por Sir Walter Raleigh, da armada sob o comando de Robert Devereux, 2.º conde de Essex.
Posteriormente, um grande sismo em 1672, causou extensos danos à ilha.
No século XIX, no contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), quando da ofensiva liberal do 7.º conde de Vila Flor (1831), ao preparar-se para desembarcar na ilha, surgiu uma corveta miguelista, o que levou o conde de Vila Flor a julgar mais prudente retirar para a Terceira para obter reforços. Retornada a expedição, a ilha foi ocupada pelos liberais. Viria a receber a visita de D. Pedro IV em 1832. Este soberano elevou a então vila da Horta a cidade (a terceira no arquipélago) no ano seguinte (1833).
Nesse período, a sua posição estratégica no oceano Atlântico e a existência de um excelente porto abrigado atraiu, até cerca de 1860, não apenas os navios do comércio da laranja, mas principalmente os baleeiros estadunidentes que aí iam reabastecer-se. Também por essa razão, a ilha tornou-se um centro de ligação dos cabos submarinos que ligavam a Europa à América.
No início do século XX a ilha do Faial participou nos primeiros passos da aviação.
No contexto da Primeira Guerra Mundial a cidade da Horta sofreu bombardeamento por parte do Império Alemão (Dezembro de 1916). Ainda à época do conflito, ocorreu a inauguração do Peter Café Sport (1918).
Mais recentemente, destacou-se a erupção do Vulcão dos Capelinhos (1957-1958).
Tradições, Festas e Curiosidades.
A ilha do Faial é a mais frequentemente associada à mítica ilha paradisíaca das viagens de São Brandão conforme relatado nas diversas "Navigatio Sancti Brendani" de cariz lendário atribuídas a este, derivadas da sua biografia.
Festa do Sr. Santo Cristo da Praia do Almoxarife (1 de Fevereiro); Festa de São João Baptista, padroeiro da nobreza da ilha (24 de Junho), Festas do Culto do Divino Espírito Santo; Festa de Nossa Senhora das Angústias, Semana do Mar; Festa de Nossa Senhora da Graça, na Praia do Almoxarife; Festa de Nossa Senhora de Lourdes, na Feteira, Festa de Santa Cecília, na Matriz, padroeira dos músicos (25 de Novembro), Festa de Santa Catarina de Alexandria de Castelo Branco, Festa de Nossa Senhora da Conceição (8 de Dezembro);
A nível de artesanato destacam-se as miniaturas em miolo de figueira que retratam cenas do dia-a-dia, edifícios, flores, animais e pequenos navios, sendo Euclides Silveira da Rosa, o mestre mais conhecido desta arte. A arte popular também engloba esculturas em osso de cachalote, objectos em vime, os bordados de crivo, bordados em ponto de cruz, bordados a palha de trigo sobre tule; as flores de escama de peixe, as toalhas de papel recortado e chapéus e bolsas de palha. Não deixe de conhecer no Capelo, a Escola de Artesanato, pelo trabalho desenvolvido na divulgação do artesanato local e regional, bem como na formação de novos artesãos.
Personalidades de destaque.
De entre as personalidades ligadas à ilha que mais se distinguiram destacam-se:
Economia.
A ilha do Faial tem um setor primário forte na área da agro-pecuária e em que a área agrícola ocupa 28% da área total da ilha. O cultivo é praticado em pequenas explorações, destacando-se as culturas forrageiras, a horta familiar, as culturas de citrinos, bananas, trigo e milho. Na pecuária, destaca-se a criação de gado suíno e bovino. A actividade piscatória, nomeadamente a pesca do atum, é outro pilar importante na sua subsistência. Outrora, a indústria baleeira ("caça à Baleia") foi outra fonte da sua subsistência.
Apresenta uma baixa densidade florestal, de 14,1%, que corresponde a uma área florestal de 645 ha, salientando-se a faia-das-ilhas, para além de cedros-do-mato, zimbros e fetos. Quanto ao sector secundário, é de referir uma moderna indústria – de lacticínios, de carnes de muita boa qualidade e de panificação. No sector terciário, o Turismo é a actividade económica de maior importância na ilha, que resulta fundamentalmente do movimento gerado pela passagem dos veleiros e cruzeiros que atravessam o Atlântico Norte e do turismo sazonal às ilhas. Dispõe de várias e excelentes instalações hoteleiras com pessoal qualificado, e regista-se o grande interesse no desenvolvimento do turismo rural e do eco-turismo.
As principais actividades e atracções turísticas que se podem encontrar no concelho consiste no hipismo, desportos náuticos, excursões de observação de cetáceos (baleias, cachalotes e golfinhos), mergulho e fotografia subaquática, bem como passeios pedestres e marítimos.
Está prevista a construção de um campo de golfe em terrenos já adquiridos nos arredores da cidade, bem como um edifício e de raiz para Gare Marítima e respectivo cais.
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879 | Figueira da Foz | Figueira da Foz
A Figueira da Foz é uma cidade portuguesa do Distrito de Coimbra, inserida na sub-região Região de Coimbra (NUT III), pertencendo à região Centro (NUT II).
É sede do Município da Figueira da Foz que tem uma área total de 379,05 km2, 58.982 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 156 habitantes por km2, subdividido em 18 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Cantanhede, a leste por Montemor-o-Velho e Soure, a sul por Pombal e a oeste pelo Oceano Atlântico.
Foi conhecida como "Rainha das Praias de Portugal". Recentemente, o Cabo Mondego, no promontório conhecido como Serra da Boa Viagem, nos arredores da Figueira da Foz, foi declarado Monumento Natural Nacional.
O atual presidente da câmara, que substituiu Carlos Monteiro (eleito em 2021), é Pedro Santana Lopes (Ind.).
O Município da Figueira da Foz.
A Figueira da Foz fica, portanto, situada no litoral atlântico, junto à foz do rio Mondego e estendendo-se até ao Cabo Mondego, candidato a Património Mundial por ser um lugar exemplar do jurássico de rara visibilidade. É um dos centros turísticos mais importantes de Portugal, com o Casino mais antigo de toda a Península Ibérica e único na região Centro, o Casino Figueira, uma praça de touros, um enorme areal (a praia urbana mais larga da Europa) com equipamentos lúdicos e desportivos e uma animada vida noturna. A cerca de dez quilómetros da cidade, já no limite do município e próximo de Montemor-o-Velho localiza-se o Sítio Classificado dos Montes de Santa Olaia e Ferrestelo com a estação de escavação mais importante do trabalho do arqueólogo figueirense António dos Santos Rocha. Encontrou monumentos e objetos da Idade do Ferro. No monte encontra-se ainda a capela de Santa Eulália com vista deslumbrante sobre os arrozais do Mondego aos seus pés.
A maior parte dos veraneantes vêm de Coimbra, Beiras e de Espanha (Estremadura, Leão e Castela e da Comunidade de Madrid), sendo que alguns destes têm a Figueira da Foz como a sua segunda residência.
Nos últimos 20 anos houve um aumento de alojamentos familiares clássicos, tendo o censos de 2011 registado 43 999, em 25 204 edifícios de habitação familiar clássica. Cerca de 28,1% dos edifícios apresentam necessidades de reparação.
A população activa reparte-se entre as várias actividades económicas da região, com destaque para a pesca, indústria vidreira, actividades ligadas ao turismo, construção naval, produção de celulose, indústria de sal, indústria química e a agricultura (produção de arroz em destaque).
O território concelhio é atravessado a meio pelo Rio Mondego e da sua rede hidrográfica fazem parte várias ribeiras e cinco lagoas (Salgueiros, Vela, Braças, Corvos e Leirosa). A regularização das margens do rio provocou sérias transformações na prática agrícola.
As freguesias.
O município da Figueira da Foz está dividido em 14 freguesias (assinalam-se com asterisco as que integram a malha urbana da cidade):
História.
Lugar de ocupação humana muito antiga, fez parte do reino suevo, e mais tarde viria a ser conquistada aos mouros aquando a conquista de Coimbra por Fernando Magno em 1064, integrando o Reino de Leão e consequentemente o Condado Portucalense.
A Figueira da Foz conheceu um grande crescimento no devido ao movimento do porto e ao desenvolvimento da indústria de construção naval e o seu maior período de progresso foi no final do Século XIX.
Foi elevada à categoria de vila em 1771. Continuou a crescer ao longo do século XIX devido à abertura de novas vias de comunicação e à afluência de veraneantes. Em 20 de Setembro de 1882, foi elevada à categoria de cidade. Nos finais do século XIX e início do século XX construiu-se o chamado Bairro Novo, de malha regular, onde se instalaram os hotéis, o casino, restaurantes, bares nocturnos e alguma actividade comercial. Outro local onde a actividade comercial é evidente é na Rua da República, que liga a zona de entrada da cidade (via Estação dos caminhos-de-ferro) à zona mais central da cidade. Nos últimos tempos foram construídos supermercados e hipermercados na zona mais periférica da cidade. Devido às condições naturais e ao equipamento turístico, a Figueira da Foz impôs-se como estância balnear não apenas para a zona centro de Portugal, mas também para famílias abastadas alentejanas e espanholas. A Figueira da Foz é conhecida como a "Rainha das Praias de Portugal".
Foi a sul desta localidade que, no início do século XIX, desembarcaram as tropas inglesas comandadas por aquele que mais tarde seria Duque de Wellington que vieram ajudar Portugal na luta contra as Invasões Francesas. A 8 de maio de 1834 dá-se o desembarque em Buarcos das tropas constitucionais, no âmbito das Guerras Liberais. No final deste mesmo século, a Figueira da Foz era um dos principais portos portugueses envolvidos na pesca do bacalhau na Terra Nova.
O Casino da Figueira da Foz foi inaugurado em 1884, sendo assim o casino mais antigo da Península Ibérica.
A Câmara Municipal da Figueira da Foz foi feita Comendadora da Ordem de Benemerência a 30 de Janeiro de 1928 e Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública a 31 de Dezembro de 1932.
Em 1982, ano em que se comemorou o Primeiro Centenário da Elevação a Cidade da Figueira da Foz, foi inaugurada a Ponte Edgar Cardoso, que veio substituir a ponte antiga (que não permitia que embarcações passassem sob si). A nova ponte, que rapidamente se transformou num "ex-libris" da cidade, é considerada uma das mais bonitas e imponentes do país. Foi, recentemente, alvo de profundas obras de remodelação. A 6 de Julho desse ano a Cidade da Figueira da Foz foi feita Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique e a 31 de Janeiro de 1986 a Câmara Municipal da Figueira da Foz foi feita 80.ª Sócia Honorária do Ginásio Clube Figueirense.
A Torre do Relógio (situada em frente à Esplanada Silva Guimarães é, igualmente, uma das referências da cidade, bem como o Forte de Santa Catarina. Situa-se também nesta cidade o Palácio Sotto-Mayor, que marca história numa zona mais central da Figueira da Foz. O Parque das Abadias é um dos "pulmões" da cidade e um local de lazer, onde se realizam algumas provas de corta-mato e várias iniciativas com vista a proporcionar momentos agradáveis aos cidadãos do município. Este Parque atravessa a cidade ao meio, indo desde a zona norte da cidade até ao Jardim Municipal, que sofreu, recentemente, intervenções de remodelação.
O Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz teve a sua primeira edição em 1972, tendo sido realizado pela última vez em 2002.
Evolução da População do Município.
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De acordo com os dados do INE o distrito de Coimbra registou em 2021 um decréscimo populacional na ordem dos 5.0% relativamente aos resultados do censo de 2011. No concelho da Figueira da Foz esse decréscimo rondou os 5.1%.
Clima.
A Figueira da Foz tem um clima mediterrânico do tipo Csb de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger. No Inverno as temperaturas variam entre os 7 °C e os 14 °C raramente descendo abaixo dos 0 °C, enquanto no Verão as temperaturas oscilam entre os 15 °C e os 25 °C podendo ultrapassar os 35 °C em vagas de calor. A temperatura média anual ronda os 15 °C enquanto a precipitação média anual é de cerca de 600 mm. A temperatura da água do mar varia entre os 14-15 °C em Janeiro e Fevereiro e entre os 18-19 °C em Agosto e Setembro. No Inverno o tempo tende a estar instável enquanto no Verão o tempo seco e soalheiro pode ser interrompido por dias de céu nebulado ou até mesmo de chuva. No Verão, e principalmente durante a tarde, final do dia e princípio da noite, o vento tende a soprar moderado (por vezes forte) de noroeste.
Transporte.
Rodoviário.
O acesso à Figueira da Foz é feito pelas autoestradas A14, ligando-a a Coimbra e à A1, e A17, ligando-se a Aveiro e à A25 (chegando a Espanha) ao norte e a Leiria e à A8 ao sul. Em alternativa às autoestradas com portagem, é servida pelas estradas N109, ligando Leiria a Gaia (perto do Porto), e N111, ligando a Figueira da Foz a Coimbra e ao IC2, a alternativa gratuita da A1. Existem autocarros expressos para Lisboa, Porto, Leiria, Aveiro e Viseu. Existem também serviços de autocarros regionais para Coimbra e outras localidades próximas.
Ferroviário.
A cidade é servida pelo seu próprio terminal ferroviário, com comboios suburbanos a ligar a Figueira da Foz a Coimbra e alguns comboios regionais que circulam ao longo da Linha do Oeste, embora não haja serviço ferroviário direto para Lisboa ou Porto. A estação ferroviária mais próxima a ser servida por serviços InterCidades é Alfarelos, na Linha do Norte, 18 km a leste. Coimbra-B, 36 km a leste, é a estação mais próxima servida por comboios Alfa Pendular. Ambas as estações têm ligações regulares para Lisboa, Porto e outras das maiores cidades de Portugal. Pombal, ligeiramente mais próxima a 32 km a sudeste, também serve os comboios Alfa Pendular, mas não existe ligação ferroviária directa entre as duas cidades.
Aquático.
Figueira da Foz tem o seu próprio porto, construído ao longo do rio Mondego, com uma marina, um terminal de contentores e estaleiros navais. Além disso, existem instalações para desportos aquáticos, em particular o remo.
Aéreo.
A cidade não dispõe de aeroporto próprio. O aeroporto internacional mais próximo da Figueira da Foz é o Aeroporto do Porto (OPO), localizado 120 km a norte e oferecendo vários destinos internacionais principalmente na Europa, embora o Aeroporto de Lisboa (LIS), localizado 155 km a sul, oferece mais destinos intercontinentais, em particular para a América do Norte, América do Sul e África. O aeródromo mais próximo com voos privados é o Aeródromo Bissaya Barreto (CBP) em Coimbra, 32 km a leste, onde está sediado o Aeroclube da Figueira da Foz. A pista mais próxima capaz de receber aeronaves de fuselagem larga fica na Base Aérea de Monte Real em Leiria, a cerca de 40 km a sul, mas é onde estão estacionados os aviões de caça da Força Aérea Portuguesa, o que torna difícil a sua conversão para albergar a aviação comercial devido à sua posição estratégica no sistema de defesa nacional.
Um aeroporto internacional na Figueira da Foz, o Aeroporto Internacional da Costa de Prata, foi planeado no início da década de 1990, que estaria localizado em Lavos, 7 km a sul do centro da cidade—nunca chegou a ser construído.
Geminações.
A cidade da Figueira da Foz é geminada com as seguintes cidades:
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881 | Fibra óptica | Fibra óptica
Fibra óptica (ou ótica) é um filamento flexível e transparente fabricado a partir de vidro ou plástico extrudido e que é utilizado como condutor de elevado rendimento de luz, imagens ou impulsos codificados. Tem diâmetro de alguns micrometros, ligeiramente superior ao de um fio de cabelo humano. Por ser um material que não sofre interferências eletromagnéticas, a fibra óptica possui uma grande importância em sistemas de comunicação de dados.
Inicialmente as fibras ópticas eram utilizadas como guias de transmissão de sinais ópticos e operavam entre distâncias limitadas, pois apresentavam grande perda de luz na transmissão, alto calor que os lasers produziam e tinham problemas com as emendas. Contudo, em meados dos anos 70, ocorreu um aprimoramento significativo das técnicas ópticas utilizadas e, devido a isso, tornou-se possível a monitoração de grandezas e a troca de informações a longas distâncias. No Brasil a fibra óptica foi introduzida apenas em 1977, após grandes pesquisas, realizadas na sua maioria pela UNICAMP.
Há dois tipos de denominação recorrentes às fibras ópticas, os quais possuem características e finalidades próprias. Um deles é a fibra óptica monomodo. Esta apresenta um único caminho possível de propagação e é a mais utilizada em transmissão a longas distâncias (devido a baixas perdas de informação). Já a fibra multimodo permite a propagação da luz em diversos modos e é a mais utilizada em redes locais (LAN), devido ao seu custo moderado.
Geometria.
As fibras ópticas consistem, geralmente, de um núcleo central cilíndrico e transparente de vidro puro, o qual é envolvido por uma camada de material com menor índice de refração (fator que viabiliza a reflexão total). Ou seja, a fibra óptica é composta por um material com maior índice de refração (núcleo) envolto por um material com menor índice de refração (casca). Ao redor da casca ainda há uma capa feita de material plástico necessária para proteger o interior contra danos mecânicos.
Funcionamento.
A transmissão da luz pela fibra segue um princípio único, independentemente do material usado ou da aplicação: é lançado um feixe de luz numa extremidade da fibra e, pelas características ópticas do meio (fibra), esse feixe percorre a fibra por meio de reflexões sucessivas. A fibra possui no mínimo duas camadas: o núcleo (filamento de vidro) e o revestimento (material eletricamente isolante). No núcleo, ocorre a transmissão da luz propriamente dita. A transmissão da luz dentro da fibra é possível graças a uma diferença de índice de refração entre o revestimento e o núcleo, sendo que o núcleo possui sempre um índice de refração mais elevado, característica que aliada ao ângulo de incidência do feixe de luz, possibilita o fenômeno da reflexão total. Ou seja, a luz é mantida no núcleo através de reflexão interna total. Isto faz com que a fibra funcione como guia de onda, transmitindo luz entre as duas extremidades.
Reflexão total.
formula_1
De modo que formula_2.
Para termos a reflexão total, o formula_3 tem de ser maior do que o formula_4, o qual ocorre quando o ângulo de refração for de 90º.
formula_5, como seno de 90º é 1,
formula_6
formula_7
formula_8 Índice de refração da casca
formula_9 Índice de refração do núcleo
formula_10 Ângulo de incidência (em relação à normal)
formula_11 Ângulo de refração (em relação à normal)
formula_12 Ângulo máximo em que ainda ocorre refração
Desse modo, a partir do formula_4 , ocorrerá o fenômeno da reflexão total dentro da fibra óptica, de modo que apenas os raios com formula_14 permanecerão no núcleo.
Transmissão.
Mesmo confinada a um meio físico, a luz transmitida pela fibra óptica proporciona o alcance de taxas de transmissão (velocidades) elevadíssimas, da ordem de 109 a 1010 bits por segundo (cerca de 40 Gbps), com baixa taxa de atenuação por quilômetro. Mas a velocidade de transmissão total possível ainda não foi alcançada pelas tecnologias existentes. Como a luz se propaga no interior de um meio físico, sofrendo ainda o fenômeno de reflexão, ela não consegue alcançar a velocidade de propagação no vácuo, que é de cerca de 300.000 km/s.
Para transmitir dados pela fibra ótica, são necessários equipamentos especiais, que contêm um componente fotoemissor, que pode ser um diodo emissor de luz ou um diodo laser. O fotoemissor converte sinais elétricos em pulsos de luz que representam os valores digitais binários (0 e 1). Tecnologias como WDM fazem a multiplexação de vários comprimentos de onda em um único pulso de luz, chegando a taxas de transmissão de 1,6 terabits por segundo em um único par de fibras.
Aplicações.
Cabos submarinos.
Os cabos de fibra ótica atravessam oceanos ligando os continentes através dos cabos submarinos. Existem milhares de quilômetros de extensão de cabos sob o mar, atravessando fossas e montanhas submarinas. Nos anos 80, tornou-se disponível, o primeiro cabo fibra óptica intercontinental desse tipo. Instalado em 1988, o cabo associado ao sistema TAT-8, tinha capacidade para 40.000 conversas telefônicas simultâneas, usando tecnologia digital. Desde então, a capacidade dos cabos aumentou. Alguns cabos que atravessam o oceano Atlântico têm capacidade para 200 milhões de circuitos telefônicos.
Os milhares de quilômetros de fibra ótica presentes nos cabos submarinos representam aproximadamente 99% das conexões existentes em nosso planeta. Desse modo, a internet coberta pelos satélites tem uma atuação secundária em comparação a tais cabos. Existem cabos de tamanhos exorbitantes. Um grande exemplo disso é o SeaMeWe 3, o qual conecta 32 países e possui em torno de 39 mil quilômetros de extensão. Os cabos possuem uma estrutura composta de 8 camadas com um diâmetro total de cerca de 7 centímetros.
Redes telefônicas.
As fibras óticas são amplamente utilizadas em redes telefônicas. Em comparação com os cabos convencionais de metal, permitem a transmissão de dados a distâncias muito superiores e com maior largura de banda, de modo que economizam custos em relação aos demais cabos utilizados para os mesmos fins.
Medicina.
As fibras óticas podem ainda ser utilizadas para diversas aplicações, como iluminação, sensores, lasers ou em instrumentos médicos para examinar as cavidades interiores do corpo.
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882 | Flash mob | Flash mob
Um flash mob é um grupo de pessoas que se reúnem repentina e instantaneamente em ambiente público, realizam uma apresentação atípica por um curto período de tempo e rapidamente se dispersam do ambiente como se nada tivesse acontecido. Entre os motivos do movimento, há anseios de entretenimento, crítica e expressão artística. Flash mobs são rotineiramente organizadas por redes sociais, mensagens virais por "e-mail" ou outros meios de telecomunicação.
História do "Flash Mob".
Sabe-se que as mobilizações de pessoas são, historicamente, um recurso muito usado, em manifestações políticas. A história está repleta delas, como por exemplo a Revolução Francesa, onde o povo, para pressionar a monarquia francesa, tomou de assalto a fortaleza-prisão da Bastilha e invadiu o palácio das Tulherias, fazendo a família real refém.
O mesmo aconteceu com os bolcheviques na Rússia, que pretendiam a formação de uma aliança entre operários e camponeses para colocar fim a autocracia czarista.
Contemporaneamente, em meados de 1968, Paris foi palco de uma revolta estudantil, cujas consequências ultrapassaram em muito as fronteiras da França. Convidado para palestrar na Universidade de Paris X (Paris Oeste - Nanterre La Défense), o psicanalista Wilhelm Reich foi vetado pela administração universitária, o que provocou um protesto organizado por estudantes, que acabaram por tomar o controle da universidade em maio daquele ano.
Seguiu-se então uma série de protestos pela cidade, liderados por Daniel Cohn-Bendit, duramente reprimidos pelas forças da ordem. O movimento se propagou, ao ganhar a simpatia de outros setores da sociedade, incorporando reivindicações trabalhistas, de sindicalistas, professores e comerciários, que contestavam o governo De Gaulle. Entre maio e junho, cerca de nove milhões de franceses declararam greve. Paris tornou-se uma espécie de campo de batalha e no dia 13 de maio cerca de um milhão e meio de pessoas participaram de uma marcha contra o governo.
Afinal, porém, De Gaulle venceu as eleições em junho, e o movimento estudantil viu-se fraco perante a famosa “maioria silenciosa”. O maio de 1968 é considerada uma das maiores mobilizações políticas do século XX, marcando o início de uma série de revoltas em vários países do mundo, cujas consequências são sentidas até os dias atuais. O movimento ampliou-se, ultrapassando a esfera do movimento estudantil e incorporando reivindicações de outros grupos sociais, e transformando-se simbolicamente em ponto de ruptura dos paradigmas vigentes até então, nas sociedades ocidentais.
"Happening".
"Happening" é um evento ou situação que surpreende e envolve as pessoas. Pode acontecer em qualquer lugar e sob qualquer circunstância.
O termo apareceu pela primeira vez nos meses de inverno no hemisfério norte de 1959, publicado na revista literária de "Rutgers University". O mais importante evento foi o “"Poetry Incarnation"”, de "Albert Hall" em 11 de junho de 1965, quando uma plateia de sete mil pessoas prestigiou e participou das performances de alguns vanguardistas jovens poetas britânicos e americanos. Allan Kaprow foi o primeiro a dar ao termo o significado de uma forma de expressão artística.
O Primeiro "Flash Mob".
O primeiro "flash mob" foi organizado via "e-mail" (com o endereço "[email protected]," criado para este fim), pelo jornalista Bill Wasik, em "Manhattan". Mandando o "e-mail" para 40 ou 50 amigos (de maneira que eles não soubessem que o evento fora planejado pelo próprio jornalista), Bill convidou as pessoas a aparecerem em frente à loja de acessórios femininos "Claire’s Acessories". Segundo ele, "A ideia era de que as próprias pessoas se tornassem o "show" e que, apenas respondendo a este "e-mail" aleatório, essas pessoas criassem algo" em um movimento anônimo e sem liderança.
No entanto, a loja foi avisada antes do acontecimento e a polícia foi acionada, evitando que as pessoas ficassem na frente da loja, frustrando os planos do primeiro "mob".
O segundo "mob" aconteceu em 3 de junho de 2003, na loja de departamentos Macy's. Wasik e amigos distribuíram "flyers" para pessoas que passavam nas ruas, indicando quatro bares em "Manhattan", onde elas receberam instruções adicionais sobre o caráter e o lugar do evento, minutos antes do seu início. – para evitar o mesmo problema que ocorreu com o primeiro.
Mais de 100 pessoas juntaram-se no 9.º andar de tapetes da loja, reunindo-se em volta de um tapete caro. A quem se aproximasse de um vendedor foi dito que as pessoas reunidas no andar viviam juntas num depósito nos arredores de Nova Iorque, que estavam procurando por um “tapete do amor” e que todos faziam suas decisões de compra em grupo.
"Mobs" Populares.
"Jornada Mundial da Juventude de 2013".
Considerado o maior "flash mob" do mundo com a música de boas-vindas ao Sumo Pontífice Papa Francisco. Foi realizado na Jornada Mundial da Juventude de 2013, no Rio de Janeiro, Brasil, na Praia de Copacabana. Eram mais de 3 milhões de pessoas, jovens fiéis católicos de todas as partes do mundo.
"Pillow Fight".
A famosa guerra de travesseiros ganhou um novo formato quando passou a integrar o quadro de "flash mobs". Nela, pessoas combinam pela "Internet", um determinado local e horário e levam consigo seus travesseiros para guerrear com pessoas desconhecidas. O "Pillow Fight", vem sendo praticado em várias cidades do mundo.
Subway Party.
Uma "Subway Party" (festa no metrô), nada mais é do que um grupo de pessoas que se juntam, no estilo "flash mob", para promover festas dentro dos vagões dos trens metropolitanos de grande cidades como Nova Iorque. Combinado o dia e o horário, os participantes apenas aguardam que um determinado número de pessoas se reúna para que então todos entrem no vagão (geralmente o último) e troquem presentes, ouçam música, dancem, enfim, façam uma festa.
Existem dois tipos de "Subway Party": a primeira ocorre na hora do "rush" e tem o objetivo de “descontrair as pessoas”. Porém ela é muito criticada por atrapalhar as pessoas que fazem uso do transporte público, causar atrasos e incomodar os usuários. A outra acontece no fim na noite e os participantes chegam até a decorar o vagão do trem para uma verdadeira festa, que algumas vezes pode até ser a comemoração de alguma data como o "Halloween". Conforme o trem vai passando as estações o número de participantes também aumenta, já que as pessoas vão sendo convidadas a fazerem parte da festa.
"Zombie Walk".
Consiste em pessoas que se juntam para passar algum tempo caracterizadas como "zumbis" e agindo como tal, dispersando-se em seguida. Esta é outra forma de "flash mob" que está crescendo pelo mundo e atrai cada vez mais pessoas.
"Improv Everywhere".
O "Improv Everywhere" é um dos grupos mais famosos no meio dos "flash mobs". Começou por acaso, sem o propósito de fazer "flash mobs". Charlie Todd, o fundador, foi confundido com o cantor americano Ben Folds e mesmo desmentindo o desentendido, aceitou a insistência das pessoas que o confundiram e cantou para o grupo como se fosse o próprio cantor. A partir desse momento, Charlie percebeu que poderia criar eventos mobilizando pessoas, primeiramente utilizando sua rede de contatos, e assim vários "flash mobs" foram organizados pela "Improv Everywhere". Um dos mais famosos é o "Frozen Grand Central", realizado em Nova York que, no encontro de 200 pessoas, cronometradamente, fingiram estar congeladas e assim ficaram por um minuto, gerando uma enorme discussão.
Além desse flash mob organizado totalmente pela Internet e sem pagar nada para os participantes, a Improv Everywhere já organizou "flash mobs" como o "No Pants", o encontro de pessoas sem calças no Metrô (mesmo causando problemas com a polícia local) e O "MP3 Experiment", no qual os participantes baixaram um mp3 e só ouviram no dia do encontro no parque. Nesse arquivo de áudio havia instruções para uma gincana, cujo objetivo era encontrar uma outra pessoa.
"Oprah Flash Mob Dance".
No dia 10 de setembro o grupo Black Eyed Peas havia quebrado o recorde de maior "flash mob" da história, ao reunir cerca de 21 mil fãs na Avenida Michigan, em Chicago, nos EUA para comemorar a passagem da 24.ª temporada do programa de Oprah Winfrey na TV. O grupo preparou uma surpresa para ela ao tocar o hit "I Gotta Feeling" com uma coreografia inacreditável envolvendo toda essa multidão.
Tudo começa com uma garota dançando sozinha na frente do palco, logo depois toda a multidão começa a fazer a mesma coreografia. Oprah (que não sabia de nada), ficou chocada com o que estava vendo, enquanto gravava tudo em seu celular. A apresentadora então gritou: "Isso é tão legal!! É a coisa mais legal que eu já vi… Chicago, eu amo vocês!!!!!!"
Durante a entrevista que o grupo deu após a apresentação, o líder do grupo, Will.i.am, contou que chamou 800 fãs para ajudar na coreografia, que depois foi passada para as mais de 20 mil pessoas presentes na hora. Sobre isso Will falou: "Eu não pensei que ia ser assim tão espetacular… Você fala sobre a participação da plateia, mas tudo foi além… Isso é tão incrível… É a melhor apresentação que já fizemos!"
A apresentação foi tão bem recebida nos EUA que após a exibição do programa, a música I Gotta Feeling que estava em 4.º lugar no iTunes, voltou ao topo da parada da loja virtual, garantindo assim pelo menos mais uma semana no topo da Billboard Hot 100, onde a música já se encontrava em primeiro há 11 semanas.
"Inauguração do Circuito Cultural Praça da Liberdade".
Em março de 2010, os alunos do programa Valores de Minas, iniciaram um "Flash Mob" na inauguraçào do Circuito Cultural Praça da Liberdade. O movimento começou com uma cantora entoando "O que é, O que é?" do músico Gonzaguinha. A movimentação foi tão envolvente que até mesmo o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia, e o então ex-governador Aécio Neves participaram da dança.
"Maior Flash Mob de Just Dance do Mundo".
O maior "Flash Mob" de "Just Dance" do mundo foi realizado dia 15 de janeiro de 2015 por escoteiros e escoteiras no VI Jamboree Nacional, que aconteceu em Natal, a capital do estado do Rio Grande do Norte, no Brasil, durante os . A iniciativa veio da própria Ubisoft, que desafiou a União dos Escoteiros do Brasil e os escoteiros a conquistar o recorde mundial de mais pessoas dançando "Just Dance" ao mesmo tempo. Mais de quatro mil e trezentos (4300) jovens e adultos dançaram, de 23 estados brasileiros diferentes, além de escoteiros do Chile, EUA e Portugal. Após analises da Ubisoft e do Guinness World Records, os escoteiros brasileiros foram inclusos oficialmente no livro mundial dos recordes.
"International Samba Day".
Está previsto para o próximo dia 2 de dezembro de 2016, um "Flash Mob" de Samba de Gafieira. A data foi escolhida por ser o dia de comemoração deste ritmo de dança. Maiores detalhes podem ser encontrados no site do evento. Em Belo Horizonte, o movimento Samba Uai, reúne as principais academias de dança de salão, as quais estão se organizando para promover ensaios gratuitos para a população que queira participar e com isso divulgar este ritmo tão prazeroso para se dançar à dois.
Aplicações sociais.
No mundo inteiro, "flash mobs" vêm ganhando cada vez mais aspectos políticos e não apenas para mudar a rotina ou modificar o meio urbano. Na Rússia, por exemplo, um grupo de pessoas se reuniu ao redor de um caixão e deram-se as mãos em luto formando um quadrado, declarando a “morte da democracia” em 2003. Por lá, pela repressão às revoltas ou protestos ser intensificada, "flash mobs" são preferências cada vez mais aceitas por serem organizadas rapidamente, atraírem muitas pessoas e depois se dispersar tão rápido quanto aparece, impedindo a ação da polícia muitas vezes.
Um "flashmob" em desafio ao governo foi organizado na Bielorrússia por volta de 2006 que consistia em um grande grupo de pessoas tomando sorvete próximo ao centro da cidade, em contestação a uma lei aprovada em assembleia que proíbe manifestações no país. Mesmo com as pessoas deixando o local depois da realização do pequeno protesto, alguns jovens ainda foram presos.
Na Espanha, após os atentados terroristas aos trens em 11 de março de 2004, vários espanhóis enviaram via "SMS" mensagens pedindo para que dois dias depois se reunissem para uma mobilização em favor dos mortos pelo ataque terrorista, e nessas mensagens a repetição da palavra “"pásalo"” (repasse, em espanhol) tornou-se um ícone desse "mob". O resultado veio no dia 13 de março, onde as pessoas se reuniram de maneira espontânea protestando contra o governo por ocultar dados sobre o atentado terrorista. Ficou também conhecida como “"La rebelion de los SMS"”.
Assim podemos perceber que a realização de "flash mobs" que têm como princípio motivador reivindicações políticas também ocorre. Esse movimento, porém, recebe o nome de "Smart Mob" e já foi realizado em diversas cidades. O roteiro de ação é parecido com o do "flash mob", ou seja, as pessoas reúnem-se em determinado local previamente divulgado pelas mídias sociais, praticam uma atividade inusitada e logo em seguida, dispersam-se na multidão. Na maioria dos casos, a atividade realizada remete à razão pela qual os participantes estão protestando. Essa nova forma de manifestação política é muito eficaz, uma vez que sua rápida divulgação e realização dificulta a ação repressiva das autoridades. Além disso, o fato de os participantes estarem engajados em alguma ação inusitada chama a atenção para a causa do protesto. As greves e manifestações em geral não despertam tanta curiosidade como os Smart Mobs, o que contribui para que um número maior de pessoas familiarize-se com o motivo da reivindicação.
Popularização.
A revista "Wired News" escreveu um artigo sobre o segundo mob e blogueiros espalharam pela Internet —– através do país e do mundo —– de forma interessante e diferente do que o criador do movimento havia imaginado. Segundo Bill Wasik, o movimento era antimanifestação e antipolítico —– uma crítica cínica à atmosfera cultural de conformidade e de sempre querer fazer parte da “próxima moda grandiosa”. No entanto, em outros lugares o mob começou a caracterizar-se como "happening", expressando oposição à corporações e decisões políticas, tornando-se realmente um movimento em si para desorganizar e romper espaços grandes e comerciais.
A popularização do movimento deu-se principalmente pelo sucesso da Internet. Segundo Bill, as pessoas gostaram de "flash mob" por ter um componente "online", permitindo-as verem as comunidades virtuais manifestarem-se fisicamente e literalmente.
Ainda segundo Bill, a mídia ajudou a espalhar o "flash mob", através da imprensa norte-americana com incessantes artigos, taxando-o como movimento. O termo é frequentemente usado para qualquer forma de "smart mobs" como protestos, ataque de negação de serviço de Internet colaborativo; assim como aplicando em estratégia de "marketing", como por exemplo aplicando em aparências promocionais de uma cantora pop ou através de campanhas publicitárias.
Urban Playground.
Nascido do "flash mob" este movimento também acontece quando pessoas comunicam-se via Internet ou algum meio de comunicação móvel e juntam-se a fim de atingir um mesmo objetivo, porém o "Urban Playground" quer simplesmente usar o espaço urbano para promover encontros onde as pessoas possam divertir-se, como uma batalha de bolhas de sabão, uma gigantesca luta de travesseiros, um "picnic" e outros.
Este movimento diferencia-se de um "flash mob" pois as pessoas não permanecem no local por alguns instantes e logo depois dispersam-se; estes eventos podem durar horas, o que dá mais chance de que os participantes se conheçam. Há também um objetivo por trás das reuniões, que é fazer com que as pessoas pratiquem atividades e percam os hábitos sedentários, fazendo do "urban playground" parte da cultura das pessoas.
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883 | François Truffaut | François Truffaut
François Truffaut (Paris, 6 de fevereiro de 1932 — Neuilly-sur-Seine, 21 de outubro de 1984) foi um cineasta francês.
Um dos fundadores do movimento cinematográfico conhecido como Nouvelle Vague e um dos maiores ícones da história do cinema do século XX, em quase 25 anos de carreira como diretor Truffaut dirigiu 26 filmes, conseguindo conciliar um grande sucesso de público e de crítica na maior parte deles.
Os temas principais de sua obra foram as mulheres, a paixão e a infância. Além da direção cinematográfica, ele foi também roteirista, produtor e ator.
Junto com Jean-Luc Godard, Truffaut foi uma das mais influentes figuras do novo cinema francês e inspirou cineastas como Steven Spielberg, Quentin Tarantino, Brian De Palma e Martin Scorsese.
Biografia.
Infância.
Nascido na capital francesa em 6 de fevereiro de 1932, François era filho de Roland Lévy e Jeanine de Montferrand. O garoto jamais conheceu o pai biológico e foi criado pelos avós maternos - já que a mãe o rejeitara. O avô era um homem rígido, enquanto a avó despertou no menino a paixão pela literatura e música.
Com sete anos, François viu o primeiro filme no cinema, "Paradis perdu", de Abel Gance. Dali em diante, interessou-se assiduamente pela sétima arte. Aos 10 anos, François perdeu a avó e foi morar com a mãe, que estava casada com Roland Truffaut, um arquiteto católico. Este acabou registrando o garoto com o seu sobrenome. Foi o período mais difícil da infância de Truffaut. Rechaçado tanto pelo pai adotivo quanto pela mãe, seu espírito rebelde transformou-o em um mau aluno na escola e o induziu a cometer alguns atos de delinquência, como pequenos furtos. Esta fase de convívio com os pais inspiraria futuramente na construção de seu primeiro longa-metragem cinematográfico, o autobiográfico "Os Incompreendidos."
Truffaut costumava faltar às aulas para assistir a muitos filmes secretamente, muitas vezes com o colega de classe Robert Lachenay, seu grande amigo na infância. Aos 14, abandonou a escola definitivamente e passou a viver de pequenos trabalhos e alguns furtos.
A paixão pelo cinema fez o jovem Truffaut fundar, em 1947, um cineclube, chamado "Cercle cinémane". Aquela era uma época de enorme efervescência cultural na França do pós-Segunda Guerra Mundial, e os cineclubes, lotados, eram o local para se assistir às projeções e discuti-las depois.
Mas o "Cercle" não teria vida longa, já que ele concorria com o "Travail et culture", cineclube do escritor e crítico de cinema André Bazin. Quando este soube que o "Cercle" estava à beira da falência, foi conhecer o jovem Truffaut e, sensibilizado com o menino cinéfilo, passou a ser uma espécie de "tutor" para François.
A influência de Bazin na vida de François Truffaut foi decisiva, que se tornou autodidata - esforçava-se para ver três filmes por dia e ler três livros por semana. Ele até chegou a fazer um acordo com o pai adotivo, que lhe custearia despesas derivadas de sua vida cinéfila. Em troca, Roland Truffaut exigiu que François arrumasse um emprego estável e abandonasse o seu cineclube de vez. Mas o garoto descumpriu o acordo, e Roland Truffaut o internou em um reformatório juvenil de Villejuif e passou sua custódia para a polícia. Os psicólogos do reformatório contactaram André Bazin, que prometeu dar um emprego a François no "Travail et culture". Sob liberdade condicional, Truffaut foi internado em um lar religioso de Versailles, mas seis meses depois foi expulso por mau comportamento.
Independência.
Secretário pessoal de André Bazin, aos 18 anos, François Truffaut obteve a emancipação legal dos pais. Bazin continuou a lhe dar a formação adequada em cinema, introduzindo-o no "Objectif 49", um seleto grupo de jovens estudiosos do novo cinema da época, como Orson Welles e Roberto Rossellini (mais tarde, integrariam o grupo" n"omes como Jean-Luc Godard, Suzanne Schiffman e Jean-Marie Straub). Truffaut também participava do "Ciné club du Quartier Latin", boletim sobre cinema coordenado por Eric Rohmer, em que ele daria seus primeiros passos como crítico da sétima arte. Seu primeiro artigo foi sobre o clássico "A regra do jogo", de Jean Renoir.
Em abril de 1950, Truffaut foi contratado como jornalista pela "Elle" e passou a escrever seus primeiros textos para a revista. Também fazia contribuições regulares para outras publicações.
Contudo, em decisão inexplicável, Truffaut largou a profissão e alistou-se nas Forças Armadas francesas. Arrependido logo, tentou escapar, mas acabou preso por tentativa de deserção. Novamente, André Bazin intercedeu por ele e Truffaut livrou-se do serviço militar depois de dois anos, em fevereiro de 1952. Desempregado, aceitou morar com a família de Bazin e se dedicou a ver filmes e escrever artigos como "freelancer".
Cahiers du cinéma.
Em abril de 1951 - época em que François Truffaut estava preso - foi criada a "Cahiers du cinéma." Fundada por André Bazin, Jacques Doniol-Valcroze e Joseph-Marie Lo Duca, tornar-se-ia a mais influente publicação sobre o assunto na França. Em 1953, Bazin ajudou Truffaut a entrar para a "Cahiers". E logo com seu primeiro artigo, "Une Certaine tendance du cinéma française" ("Uma certa tendência do cinema francês", em português), um manifesto contra "a tradição da qualidade" do cinema francês, Truffaut causou polêmica no meio cinematográfico, seja para defendê-lo ou criticá-lo.
Além das críticas contundentes de François Truffaut, a "Cahiers" contava com outros jovens promissores como Claude Chabrol, Eric Rohmer, Jacques Rivette e Jean-Luc Godard.
Ao longo de seis anos na revista, Truffaut publicou 170 artigos, a maioria deles críticas de filmes ou entrevistas com diretores, alguns dos quais se tornariam seus amigos, como Jean Renoir, Max Ophuls e Roberto Rossellini. Mais tarde, também publicou artigos pela revista "Arts-Lettres-Spectacles", reduto dos intelectuais de direita da época.
Alvo constante de críticas de publicações de tendência esquerdista, como "L'Express" e "Les Temps modernes", Truffaut manteve sua postura de atacar aquilo que julgava ser um cinema obsoleto, embora tenha sempre feito questão de evitar o engajamento político (mesmo que tivesse militado em algumas ocasiões, como contra a guerra de independência da Argélia).
A "Nouvelle Vague".
Como crítico, Truffaut desenvolveu seu famoso conceito de "Politique des auteurs" (teoria autoral, em português), o qual uma obra é considerada uma produção individual, seja ela uma canção, um filme ou um livro. Defendia que a responsabilidade sobre um filme dependia quase que exclusivamente de uma única pessoa, em geral o diretor. Para ele, o grande representante de sua teoria era o diretor britânico Alfred Hitchcock.
A "Politique des auteurs" foi a base para o surgimento de um movimento que revolucionaria o cinema francês, a "Nouvelle Vague"", "criada por jovens cineastas franceses que defendiam a produção tanto autoral quanto intimista e de baixo custo.
Em maio de 1955, Truffaut publicou o conto "Antoine et l'Orpheline" na "La Parisienne" (onde também era colaborador) e fez sua primeira entrevista com Alfred Hitchcock, em Paris, para a "Cahiers".
Truffaut foi assistente de produção de Rossellini em 1956 e, no ano seguinte, fundou sua própria companhia de cinema, a "Les films du Carrosse".
Vida pessoal.
Em 1957, Truffaut casou-se com Madeleine Morgenstern, filha do rico distribuidor Ignace Morgenstern (COCINOR). O casamento com Madaleine garantiu plena independência artística e financeira para os trabalhos do então crítico de cinema. Com ela, o cineasta teve duas filhas: Laura (1959) e Eva (1961).
Durante as gravações de "Jules et Jim," o cineasta teve um caso de amor com a atriz francesa Jeanne Moreau, casada na época com o costureiro Pierre Cardin. O casamento de Truffaut já havia sofrido um sério abalo, quando ele teve um curto relacionamento com uma atriz de 17 anos, Maria-France Pisier, protagonista de "Antoine et Colette".
Em 1964, Truffaut decidiu romper seu casamento com Madeleine Morgenstern e manteve o romance com Moreau, recém-separada de Cardin.
Nas filmagens de "Beijos Proibidos", ele se apaixonou pela atriz francesa Claude Jade e os dois chegaram a ficar noivos, mas romperam pouco depois.
Em 1983, nasceu a terceira filha do cineasta, Joséphine Truffaut, com a nova companheira, a atriz francesa Fanny Ardant.
A morte.
Em 1983, Truffaut queixava-se de intensas dores de cabeça. Descobriu mais tarde que estava com câncer no cérebro.
Cogitava fazer sua autobiografia, com o amigo Claude de Givray, mas os problemas de saúde o impediram de finalizá-la.
Em 21 de outubro de 1984, François Truffaut faleceu, no Hospital Americano de Neuilly-sur-Seine, vítima de um tumor cerebral. Encontra-se sepultado no "Cimetière de Montmartre", Ilha de França, Paris na França.
Carreira cinematográfica.
François Truffaut fez seu primeiro filme em 1954, o curta-metragem "Uma Visita", filmado em preto-e-branco e 16mm. Naquele mesmo ano, produziu o argumento de Acossado, de Jean Luc-Godard.
Em 1958, Truffaut e Godard dirigiram o curta "Une Histoire D'Eau". Com a fundação da "Les films du Carrosse", Truffaut produziu outro curta, "Les Mistons", também filmado em pb e 16mm, que recebeu boa recepção da crítica especializada e lhe deu o prêmio de Melhor Diretor do Festival du Film Mondial, de Bruxelas.
Com fundos do sogro, em 1958, ele bancou um projeto inspirado em suas experiências da infância e pré-adolescência, o longa-metragem "Les 400 coups'," que se tornou um sucesso internacional e definitivamente inaugurou a "Nouvelle Vague". Para fazer o papel de ator principal do filme foi escolhido um jovem Jean-Pierre Léaud, que aos 14 anos interpretaria Antoine Doine, o alter-ego do cineasta. Assim como Bazin tornara-se um tutor para Truffaut, este seria o grande mentor de Leaud nos anos seguintes. Em abril de 1959, o filme venceu o prêmio de melhor diretor do Festival de Cannes, além de ter sido indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original.
Em novembro de 1960, foi lançado "Tirez sur le pianiste", segundo longa-metragem do diretor e seu primeiro filme noir, baseado no romance policial "Down There", do norte-americano David Goodis. O filme foi um fracasso de público, o que levou muitos jornalistas a decretarem o fim da "Nouvelle Vague".
Mas Truffaut tentou provar o oposto com "Jules et Jim", lançado em janeiro de 1962, tendo Jeanne Moreau no papel principal. O filme foi uma adaptação do livro homônimo do francês Henri-Pierre Roché, que conta o triângulo amoroso de três amigos. O filme foi um sucesso de crítica e até é considerado uma das obras-primas da "Nouvelle Vague".
Ainda naquele ano, Truffaut lançou o curta "Antoine et Colette", uma sequência das aventuras do personagem Antoine Doinel.
Em maio de 1964, estreou o quarto longa do cineasta, "La peau douce", um drama psicológico sobre a paixão de um renomado conferencista por uma jovem.
Em setembro de 1966, foi lançado "Fahrenheit 451", obra "sui generis" na filmografia do diretor e inspirada na ficção do escritor norte-americano Ray Bradbury. O filme narra a história de uma sociedade totalitária no futuro, onde os livros foram banidos, e recebeu uma indicação do BAFTA e uma do Festival de Veneza. Foi também o primeiro filme colorido do cineasta.
Prestigiado, Truffaut foi cogitado para dirigir "Bonnie & Clyde". Ele fez parte, como tesoureiro, da comitê de defesa da Cinémathèque Française, que tinha como presidente de honra Jean Renoir. O diretor militou ativamente pela instituição, inclusive chegou a panfletar ao lado do filósofo Jean-Paul Sartre.
Em abril de 1968 foi lançado "La mariée était en noir," inspirado na obra do escritor norte-americano William Irish e estrelado por Jeanne Moreau. O filme noir conta a história de uma mulher em busca de vingança pelo assassinato do noivo.
Em setembro daquele ano, estreou "Baisers volés." Mais uma história envolvendo o "alter ego" do diretor, Antoine Doinel apaixona-se por Christine (Claude Jade), uma violonista burguesa. O filme foi também um registro feito da cidade de Paris antes dos acontecimentos de maio de 68.
O cineasta adaptação outra obra do escrito William Irish, "La siréne du Mississipi", lançado em junho de 1969. Com Jean-Paul Belmondo e Catherine Deneuve, o filme conta a história de um rico empresário do tabaco, da ilha de Reunião, que conhecera uma mulher por correspondência e se casaria com ela, mas ele se envolve em uma louca paixão com uma mulher totalmente diferente daquela com a qual pretendia casar.
No fim dos anos 1960, Truffaut e Godard romperam a longa amizade, iniciada na redação da "Cahiers du Cinéma". A ruptura seria para sempre, embora Godard tentasse uma reconciliação nos anos 1980.
Em fevereiro de 1970, foi lançado "L'enfant sauvage", adaptação de Jean Itard. Foi o primeiro filme em que Truffaut atuou em um papel de destaque, ao interpretar o professor Itard, que vivenciou a experiência de encontrar e educar um menino das selvas.
Em setembro daquele ano, foi lançado "Domicile Conjugal", que mostra o personagem Antoine Doinel casado com Christine.
Em novembro de 1971, estreou "Les deux anglaises et le continent", outra adaptação de Henri-Pierre Roché, sobre um triângulo amoroso entre duas jovens inglesas e um rapaz francês no início do século XX. O filme conta com a a participação de Eva, filha de Truffaut.
Em setembro de 1972, foi lançado "Une belle fille comme moi", inspirada na obra do escritor norte-americano Henry Farrell, sobre uma socióloga que entrevista na prisão uma mulher acusada de assassinato.
Uma das obras mais famosas de Truffaut, "La Nuit Américaine "foi lançada em maio de 1973, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1974, além de três BAFTAs. Em uma mistura ficção à realidade, o filme é estrelada pela atriz britânica Jacqueline Bisset e narra a história de uma produção cinematográfica cujo diretor é interpretado pelo próprio Truffaut. Depois do sucesso do filme, o cineasta recusou proposta da Warner Brothers para refilmar "Casablanca".
Em outubro de 1975, foi lançado "L'historie d'Adèle H.", com a atriz francesa Isabelle Adjani e inspirado no diário de Adèle Hugo. O filme narra a paixão ensandecida da filha do poeta francês Victor Hugo pelo Capitão Albert Pinson (Bruce Robinson).
Em 1976, foi lançado "L'argent de poche", filme sobre o cotidiano de pais, alunos e professores em uma pequena cidade do interior da França.
Em abril do ano seguinte, chegava às salas de cinema francesas "L'homme qui aimait les femmes". Em flashback, o filme narra a vida e os casos amorosos de Bertrand Morane, Charles Denne.
Ainda em 1977, o cineasta atuou em "Close Encounters of the ThirdKind", do diretor estadunidense Steven Spielberg.
Inspirado em ""The altar of the dead", de Henry James, "La chambre verte" foi lançado em 1978. A obra conta a história de Julien Davenne (interpretado por Truffaut), um jornalista que venera a mulher prematuramente morta.
Em 1979, chegou ao fim a saga de Antoine Doinel, com o lançamento de "Amor em fuga". Já tendo passado do 30 anos e separado de Christine, Doinel tenta ainda encontrar o amor. A trilha sonora, de Georges Delerue, levou o prêmio César.
Em outubro daquele ano, François Truffaut aceitou o cargo de presidente da Federação Internacional dos Cineclubes.
Em 1980, foi lançado "Le dernier métro, "um dos mais premiados filmes do diretor e que contou com as estrelas do cinema francês Gérard Depardieu e Catherine Deneuve. O filme é narrado durante a França ocupada pelos nazistas, onde um dramaturgo judeu comanda uma peça do porão de seu teatro. Vencedor do César em 10 categorias, recebeu também a indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Em 1981, estreou "La femme d'à coté", que narra a o reencontro dos antigos amantes Bernard (Gérard Depardieu) e Mathilde (Fanny Ardant).
Último filme de Truffaut, "Vivement Dimanche!", lançado em 1983," "é uma adaptação de "The Long Saturday Night"", de Charles Williams, e conta a história de uma mulher que ajuda um homem, acusado por assassinato, a encontrar o verdadeiro criminoso. Foi Indicado na categoria de Melhor Diretor em 1983 no César.
Ligações externas.
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884 | Função (matemática) | Função (matemática)
Uma função é uma relação de um conjunto formula_1 com um conjunto formula_2 Usualmente, denotamos uma tal função por formula_3 formula_4 onde formula_5 é o nome da função, formula_1 é chamado de domínio, formula_7 é chamado de imagem e formula_8 expressa a lei de correspondência (relação) dos elementos formula_9 com os elementos formula_10 Conforme suas características, as funções são agrupadas em várias categorias, entre as principais temos: função trigonométrica, função afim (ou função polinomial do 1° grau), função modular, função quadrática (ou função polinomial do 2° grau), função exponencial, função logarítmica, função polinomial, dentre inúmeras outras.
Conceito.
As funções são definidas por certas relações. Por causa de sua generalidade, as funções aparecem em muitos contextos matemáticos e muitas áreas da matemática baseiam-se no estudo de funções. Deve-se notar que as palavras "função", "mapeamento", "mapa" e "transformação" são geralmente usadas como termos equivalentes. Além disso pode-se ocasionalmente se referir a funções como "funções bem definidas" ou "funções totais". O conceito de uma função é uma generalização da noção comum de fórmula matemática. As funções descrevem relações matemáticas especiais entre dois elementos. Intuitivamente, uma função é uma maneira de associar a cada valor do argumento formula_11 (às vezes denominado "variável independente") um único valor da função formula_12 (também conhecido como "variável dependente"). Isto pode ser feito através de uma equação, um relacionamento gráfico, diagramas representando os dois conjuntos, uma regra de associação, uma tabela de correspondência, etc.. Muitas vezes, é útil associar cada par de elementos relacionados pela função com um ponto em um espaço adequado (por exemplo, no espaço formula_13 geometricamente representado no plano cartesiano). Neste caso, a exigência de unicidade da imagem (valor da função) implica um único ponto para cada entrada formula_11 (valor do argumento).
Assim como a noção intuitiva de funções não se limita a cálculos usando números individuais, a noção matemática de funções não se limita a cálculos e nem mesmo a situações que envolvam números. De forma geral, uma função liga um domínio (conjunto de valores de entrada) com um segundo conjunto, o contradomínio ou codomínio (conjunto de valores de saída), de tal forma que a cada elemento do domínio está associado exatamente um elemento do contradomínio. O conjunto dos elementos formula_15 do contradomínio para os quais existe pelo menos um formula_11 no domínio tal que formula_17 (i.e., formula_11 se relaciona com formula_15), é o conjunto imagem ou chamado simplesmente de imagem da função.
Definição formal.
Sejam dados os conjuntos formula_20 formula_21 uma relação formula_22 e o conjunto dos pares ordenados formula_23 Dizemos que formula_5 é uma função se, e somente se, para todos formula_25 com formula_26 temos formula_27 Ou, em outras palavras, para todo formula_28 existe no máximo um formula_29 tal que formula_30 se relaciona com formula_31 Assim sendo, escrevemos formula_32 quando formula_30 se relaciona com formula_34 por formula_35 O conjunto formula_1 é chamado de conjunto de partida e formula_7 é chamado de contradomínio da função formula_35
Outra maneira de dizer isto é afirmar que formula_5 é uma relação binária entre os dois conjuntos tal que formula_5 é unívoca, i.e. se formula_32 e formula_42 então formula_43 Algumas vezes, na definição de função, impõe-se que todo o elemento do conjunto formula_1 se relaciona com algum elemento de formula_2
Exemplos.
Vejamos as seguintes relações formula_46
Exemplo de aplicação.
Podemos usar uma função para modelar o número de indivíduos em uma população de acordo com o tempo (modelos de crescimento demográfico). Por exemplo, denotando o tempo por formula_47 e o número de indivíduos em um dado tempo formula_48 por formula_49 escrevemos formula_50 formula_51 Assim, temos abstratamente modelado o número de indivíduos (variável dependente) em função do tempo (variável independente). Aqui, o nome da função foi arbitrariamente escolhido como formula_52 o conjunto de partida é o conjunto dos números reais não negativos (assumindo que o tempo é contínuo e não negativo) e o contradomínio é o conjunto dos números naturais (assumindo que o número de indivíduos é sempre um número inteiro não negativo).
Elementos de uma função.
Da definição, temos que uma função tem um nome, um conjunto de partida, um contradomínio (conjunto de chegada) e uma lei de correspondência. Por exemplo, denotamos formula_53 formula_4 onde formula_5 é o nome da função, formula_56 é seu conjunto de partida, formula_57 é seu contradomínio e formula_8 denota sua lei de correspondência.
Em muitos casos, nem todos os elementos do conjunto de partida se relacionam com algum elemento do contradomínio. Aqueles que se relacionam são elementos do chamado domínio da função. Mais precisamente, o domínio de uma função formula_53 formula_4 é o conjunto:formula_61Também, geralmente, nem todos os elementos do contradomínio se relacionam com algum elemento do conjunto de partida. Aqueles que se relacionam são elementos da chamada imagem da função. A imagem de uma função formula_53 formula_4 é o conjunto:formula_64
Exemplo.
Seja formula_65 formula_66 onde o conjunto de partida é dada por formula_67 e o contradomínio porformula_68 Pela lei de correspondência, vemos que, neste caso, formula_69 e formula_70 Veja a ilustração.
Gráfico de uma função.
O gráfico de uma função formula_53 formula_4 é o conjunto:formula_73i.e, é o conjunto dos pares ordenados formula_74 tal que formula_75
Quando possível, usualmente fazemos uma representação geométrica do gráfico da função. Tal representação é usualmente chamada de esboço do gráfico da função (ou, simplesmente gráfico, quando subentendido).
Popularmente, temos os gráficos de funções de uma variável, para as quais seu esboço é dado pelo conjunto de pontos formula_76 no plano cartesiano (veja a ilustração). Neste caso, usualmente as variáveis independentes são chamadas de abcissas e marcadas sobre o eixo horizontal (chamado de eixo das abcissas). As variáveis dependentes são chamadas de ordenadas e marcadas sobre o eixo vertical (chamado de eixo das ordenadas).
Classificação quanto a imagem.
Funções são usualmente classificadas quanto a sua imagem como: funções injetoras, funções sobrejetoras e funções bijetoras.
Seja dada a função formula_53 formula_75 Por definição, formula_5 é injetora (ou injetiva) se, e somente se, para todos formula_80 temos formula_81 A função formula_5 é dita sobrejetora (ou sobrejetiva) quando formula_83 Por fim, uma função injetora e sobrejetora é dita ser bijetora (ou bijetiva). Veja a seguinte tabela.
Funções implícitas e explicitas.
Dizemos que uma função formula_84 é definida de forma explícita (função explícita) quando seus valores formula_15 podem ser expressados pela variável independente formula_86 i.e., quando temos uma relação da forma formula_75 Por outro lado, dizemos que uma tal função é definida de forma implícita (função implícita) quando a relação entre as variáveis dependente e independente é dada como formula_88 onde formula_89 denota uma expressão envolvendo formula_90 e formula_91
Exemplo.
Seja formula_92 dada por formula_93 Isto é, a função que toma dois valores reais e os associa ao produto entre eles. Trata-se de uma função explícita. Agora, a equação formula_94 define implicitamente a função formula_95 que associa um número real não nulo formula_11 ao seu inverso. Ou seja, tal função formula_5 está, aqui, definida implicitamente por formula_98 Notamos que neste caso em particular, podemos definir a função formula_5 de forma explícita, escrevendo formula_100
Composição de funções.
Dadas uma função formula_3 formula_8 e uma função formula_103 formula_104 com formula_105 definimos a função composta de formula_106 com formula_107 por formula_108 formula_109 Analogamente, quando formula_110 também podemos definir a função composta de formula_107 com formula_5 dada por formula_113 formula_114
Exemplo.
Considere as seguintes funções formula_115 e formula_116 dada por:
formula_117 e formula_118
Notamos que formula_110 e, portanto, podemos definir a função composta formula_120por:
formula_121
Também, como formula_105 temos a composição formula_123 dada por:
formula_124
Outras classificações.
Funções são classificadas quanto a uma séries de propriedades (características) além das já mencionadas. Alguns desses tipos de funções são listados a seguir.
História.
O conceito matemático de função emergiu no século XVII em conexão com o desenvolvimento do Cálculo. O termo "função" foi introduzido por Gottfried Leibniz em uma de suas cartas, datada de 1673, na qual ele descreve a declividade de uma curva em um ponto específico. Na antiguidade, embora não se conheça o uso explícito de funções, tal conceito pode ser observado em alguns trabalhos percursores de filósofos e matemáticos medievais, como Oresme.
Matemáticos do século XVII tratavam por funções aquelas definidas por expressões analíticas. Foi durante os desenvolvimentos rigorosos da Análise Matemática por Weierstrass e outros, a reformulação da Geometria em termos da análise e a invenção da Teoria dos Conjuntos por Cantor, que se chegou ao conceito moderno e geral de uma função como um mapeamento unívoco de um conjunto em outro. Não há consenso sobre a quem se deva os créditos da noção moderna de função, sendo cotada os matemáticos Nikolai Lobachevsky, Peter Gustav Lejeune Dirichlet e Dedekind.
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886 | Fotografia | Fotografia
Fotografia: do grego φῶς ["fós"] ("luz") e γραφίς ["grafis"] ("instrumento para escrever, gravar, desenhar ou pintar") ou γραφή ["grafé"] (“escrita”), significa "escrever ou desenhar com luz e contraste"; noutros termos, é essencialmente a "técnica de criação" de imagens por meio de exposição luminosa, fixando-as em uma superfície sensível. A primeira fotografia reconhecida remonta ao ano de 1826 e é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce. Contudo, a invenção da fotografia não é obra de um só autor, mas um processo de acúmulo de avanços por parte de muitas pessoas, trabalhando, juntas ou em paralelo, ao longo de muitos anos. Se por um lado os princípios fundamentais da fotografia se estabeleceram há décadas e, desde a introdução do filme fotográfico colorido, quase não sofreram mudanças, por outro, os avanços tecnológicos têm sistematicamente possibilitado melhorias na qualidade das imagens produzidas, agilização das etapas do processo de produção e a redução de custos, popularizando o uso da fotografia.
Atualmente, a introdução da tecnologia digital tem modificado drasticamente os paradigmas que norteiam o mundo da fotografia. Os equipamentos, ao mesmo tempo que são oferecidos a preços cada vez menores, disponibilizam ao usuário médio recursos cada vez mais sofisticados, assim como maior qualidade de imagem e facilidade de uso. A simplificação dos processos de captação, armazenagem, impressão e reprodução de imagens proporcionados intrinsecamente pelo ambiente digital, aliada à facilidade de integração com os recursos da informática, como organização em álbuns, incorporação de imagens em documentos e distribuição via Internet, têm ampliado e democratizado o uso da imagem fotográfica nas mais diversas aplicações. A incorporação da câmera fotográfica aos aparelhos de telefonia móvel têm definitivamente levado a fotografia ao cotidiano particular do indivíduo.
Dessa forma, a fotografia, à medida que se torna uma experiência cada vez mais pessoal, deverá ampliar, através dos diversos perfis de fotógrafos amadores ou profissionais, o já amplo espectro de significado da experiência de se conservar um momento em uma imagem.
História.
A fotografia não é a obra final de um único criador. Ao longo da história, diversas pessoas foram agregando conceitos e processos que deram origem à fotografia como a conhecemos. O mais antigo destes conceitos foi o da câmara escura, descrita pelo napolitano Giovanni Baptista Della Porta, já em 1558, e conhecida por Leonardo da Vinci que, como outros artistas no século XVI, a usava para esboçar pinturas.
O cientista italiano Angelo Sala, em 1604, percebeu que um composto de prata escurecia ao Sol, supondo que esse efeito fosse produzido pelo calor. Foi então que Johann Heinrich Schulze, fazendo experiências com ácido nítrico, prata e gesso em 1724, determinou que era a prata halógena, convertida em prata metálica, e não o calor, que provocava o escurecimento.
A primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em 1826 pelo francês Joseph Nicéphore Niépce numa placa de estanho coberta com um derivado de petróleo fotossensível chamado "Betume da Judeia." A imagem foi produzida com uma câmera, sendo exigidas cerca de oito horas de exposição à luz solar. Nièpce chamou o processo de "heliografia", gravura com a luz do Sol.
Em 1833, o franco-brasileiro Hércules Florence realizou, em Campinas, o mais antigo registro fotográfico conhecido da América por meio de um papel sensibilizado via cloreto de prata e sendo considerado por alguns como um dos inventores do termo "fotografia".
Posteriormente, Daguerre, outro francês, produzia com uma câmera escura efeitos visuais em um espetáculo denominado "Diorama". Daguerre e Niépce trocaram correspondência durante alguns anos, vindo finalmente a firmarem sociedade.
Após a morte de Nièpce, Daguerre desenvolveu um processo com vapor de mercúrio que reduzia o tempo de revelação de horas para minutos. O processo foi denominado daguerreotipia. Daguerre descreveu seu processo à Academia de Ciências e Belas Artes, na França, e logo depois requereu a patente do seu invento na Inglaterra. A popularização dos daguerreótipos deu origem às especulações sobre o "fim da pintura", inspirando o Impressionismo.
O britânico *William Fox Talbot, que já efetuava pesquisas com papéis fotossensíveis, ao tomar conhecimento dos avanços de Daguerre, em 1839, decidiu apressar a apresentação de seus trabalhos à "Royal Institution" e à "Royal Society", procurando garantir os direitos sobre suas invenções. Talbot desenvolveu um diferente processo denominado calotipo, usando folhas de papel cobertas com cloreto de prata, que posteriormente eram colocadas em contato com outro papel, produzindo a imagem positiva. Este processo é muito parecido com o processo fotográfico em uso hoje, pois também produz um negativo que pode ser reutilizado para produzir várias imagens positivas. À época, Hippolyte Bayard também desenvolveu um método de fotografia. Porém, por demorar a anunciá-lo, não pôde mais ser reconhecido como seu inventor.
No Brasil, o francês radicado em Campinas (São Paulo), Hércules Florence, conseguiu resultados superiores aos de Daguerre, pois desenvolveu negativos. Contudo, apesar das tentativas de disseminação do seu invento, ao qual denominou "Photographie" - foi o legítimo inventor da palavra - não obteve reconhecimento à época. Sua vida e obra só foram devidamente resgatadas em 1976 por Boris Kossoy.
A fotografia então popularizou-se como produto de consumo a partir de 1888. A empresa Kodak abriu as portas com um discurso de marketing onde todos podiam tirar suas fotos, sem necessitar de fotógrafos profissionais com a introdução da câmera tipo "caixão" e pelo filme em rolos substituíveis criados por George Eastman.
Desde então, o mercado fotográfico tem experimentado uma crescente evolução tecnológica, como o estabelecimento do filme colorido como padrão e o foco automático, ou exposição automática. Essas inovações indubitavelmente facilitam a captação da imagem, melhoram a qualidade de reprodução ou a rapidez do processamento, mas muito pouco foi alterado nos princípios básicos da fotografia.
A grande mudança recente, produzida a partir do final do século XX, foi a digitalização dos sistemas fotográficos. A fotografia digital mudou paradigmas no mundo da fotografia, minimizando custos, reduzindo etapas, acelerando processos e facilitando a produção, manipulação, armazenamento e transmissão de imagens pelo mundo. O aperfeiçoamento da tecnologia de reprodução de imagens digitais tem quebrado barreiras de restrição em relação a este sistema por setores que ainda prestigiam o tradicional filme, e assim, irreversivelmente ampliando o domínio da fotografia digital.
Processos fotográficos.
Fotografia em preto e branco.
A fotografia nasceu em preto e branco, mais precisamente como o preto sobre o branco, no início do século XIX. Desde as primeiras formas de fotografia que se popularizaram, como o daguerreótipo - aproximadamente na década de 1823 - até aos filmes preto e branco atuais, houve muita evolução técnica e diminuição dos custos. Os filmes atuais têm uma grande gama de tonalidade, superior até mesmo aos coloridos, resultando em fotos muito ricas em detalhes. Por isso, as fotos feitas com filmes PB são superiores as fotos coloridas convertidas em PB.
Meio tom.
As fotografias em preto e branco destacam-se pela riqueza de tonalidades; a fotografia colorida não tem o mesmo alcance dinâmico.
Na fotografia P&B se costuma utilizar a luz e a sombra de forma mais proeminente para criar efeitos estéticos há quem prefira fotografar apenas em filme preto e branco, mesmo com a maior facilidade e menor custo do equipamento digital. Os sensores das câmeras digitais ainda possuem alcance dinâmico muito menor do que a fotografia P&B e mesmo da colorida, estando mais próximo do slide.
Fotografia colorida.
A fotografia colorida foi explorada durante o século XIX e os experimentos iniciais em cores não puderam fixar a fotografia, nem prevenir a cor de enfraquecimento. Durante a metade daquele século as emulsões disponíveis ainda não eram totalmente capazes de serem sensibilizadas pela cor verde ou pela vermelha - a total sensibilidade a cor vermelha só foi obtida com êxito total no começo do século XX. A primeira fotografia colorida permanente foi tirada em 1861 pelo físico James Clerk Maxwell. O primeiro filme colorido, o Autocromo, somente chegou ao mercado no ano de 1907 e era baseado em pontos tingidos de extrato de batata.
O primeiro filme colorido moderno, o "Kodachrome", foi introduzido em 1935 baseado em três emulsões coloridas. A maioria dos filmes coloridos modernos, exceto o "Kodachrome", são baseados na tecnologia desenvolvida pela Agfa-color em 1936. O filme colorido instantâneo foi introduzido pela Polaroid em 1963.
A fotografia colorida pode formar imagens como uma transparência positiva, planejada para uso em projetor de slides (diapositivos) ou em negativos coloridos, planejado para uso de ampliações coloridas positivas em papel de revestimento especial. O último é atualmente a forma mais comum de filme fotográfico colorido (não digital), devido à introdução do equipamento de foto impressão automático.
Fotografia panorâmica.
A fotografia panorâmica, assim como a palavra panorama, refere-se a uma vista inteira de uma área circunvizinha. As fotografias panorâmicas tentam capturar tal vista.
A máquina fotográfica 360° é uma câmera fotográfica capaz de fazer uma única fotografia panorâmica completa (abrangendo toda a volta) a partir de um determinado ponto.
Fotografia digital.
Fotografia digital é uma imagem digital obtida por meio de uma câmera digital. Sendo um arquivo digital, pode, utilizando um computador, ser editada, impressa, enviada por e-mail ou armazenada em qualquer dispositivo de armazenamento digital.
A fotografia tradicional era um fardo considerável para os fotógrafos que trabalhavam em localidades distantes - como correspondentes de órgãos de imprensa - sem acesso às instalações de produção. Com o aumento da competição com a televisão, houve um aumento na urgência para se transferir imagens aos jornais mais rapidamente.
Fotógrafos em localidades remotas carregariam um minilaboratório fotográfico com eles, e alguns meios de transmitir suas imagens pela linha telefônica. Em 1990, a Kodak lançou o DCS 100, a primeira câmera digital comercialmente disponível. Seu custo impediu o uso em fotojornalismo e em aplicações profissionais, mas a fotografia digital surgiu neste momento.
Em 10 anos, as câmeras digitais se tornaram produtos de consumo, e estão, de modo irreversível, substituindo gradualmente suas equivalentes tradicionais em muitas aplicações, pois o preço dos componentes eletrônicos cai e a qualidade da imagem melhora.
A Kodak anunciou em janeiro de 2004 o fim da produção da câmeras reutilizáveis de 35 milímetros após o término daquele ano. Entretanto, a fotografia "líquida" irá perdurar, pois os amadores dedicados e artistas qualificados preservam o uso de materiais e técnicas tradicionais.
Até chegar ao que hoje é tecnologia de ponta, houve vários processos onde desenvolveram ainda mais a composição fotográfica.
Funcionamento.
Na fotografia digital, a luz sensibiliza um sensor, chamado de CCD ou CMOS, que por sua vez converte a luz em um código eletrônico digital, uma matriz de números digitais (quadro com o valor das cores de todos os pixels da imagem), que será armazenado em um cartão de memória. Tipicamente, o conteúdo desta memória será mais tarde transferido para um computador. Já é possível também transferir os dados diretamente para uma impressora gerar uma imagem em papel, sem o uso de um computador. Uma vez transferida para fora do cartão de memória, este poderá ser apagado e reutilizado.
Revelação de fotos online.
Revelação de fotos online é o nome vulgarmente dado ao procedimento de envio eletrônico de arquivos digitais de imagens para processamento e produção de cópias impressas por empresas especializadas. O termo não é tecnicamente correto, porque este processo dispensa justamente a etapa tradicionalmente conhecida como revelação fotográfica, porém, tem sido largamente incorporado ao vocabulário popular.
Álbuns virtuais.
Com a popularização da fotografia digital, surgiram páginas da Internet especializadas em armazenar fotografias. Desse modo, suas imagens podem ser vistas por qualquer pessoa do planeta que acesse a rede. Elas ficam organizadas por pastas e podem ser separadas por assuntos a livre escolha.
Os álbuns virtuais podem ser usados com vários propósitos, abaixo estão listados alguns exemplos destes:
Equipamentos.
Câmera.
A fotografia se estabiliza como processo industrial no século XX articulando uma câmera ou câmara escura, como dispositivo formador da imagem e um modo de gravação da imagem luminosa – uma superfície fotossensível, que pode ser filme fotográfico, o papel fotográfico ou, no caso da fotografia digital, um sensor digital CCD/CMOS que transforma a luz em um mapa de impulsos elétricos, que serão armazenados como informação em um cartão digital de armazenamento. Nesse processo fica evidente a relação entre a fotografia e seus processos análogos. Por exemplo, a fotocópia ou máquina xerográfica, forma imagens permanentes, mas usa a transferência de cargas elétricas estáticas no lugar do filme fotográfico. Disso provém o termo eletrofotografia. Na raiografia, divulgada por Man Ray em 1922, imagens são produzidas pelas sombras de objetos no papel fotográfico, sem o uso de câmera. E podem-se colocar objetos diretamente do digitalizador ("scanner") para produzir figuras electronicamente.
Fotógrafos controlam a câmera ao expor o material fotossensível à luz, o que se altera qualitativa e quantitativamente segundo as possibilidades de cada aparelho. Os controles são geralmente inter-relacionados. Por exemplo, a exposição varia segundo a abertura (que determina a quantidade de luz) multiplicado pela velocidade do obturador (que determina um tempo de exposição), o que varia o tom da foto, a profundidade de campo fotográfico e o grau de corte temporal do modelo fotografado. Diferentes distâncias focais das lentes permitem variar a conformação da profundidade da imagem, bem como seu ângulo.
Os controles das câmeras podem incluir:
Objetiva.
Para entender um pouco de objetivas, uma de 24 mm equivale a um campo de visão de 75 graus, e uma objetiva de 300 mm equivale a um campo de visão de 12 graus. Com a lente olho de peixe de 6 mm, 8 mm ou 12 mm, o fotógrafo inclui um campo de visão de mais de 190 graus. Uma 500 mm (aquelas que se veem em jogos de futebol, por exemplo) consegue fotografar só o guarda-redes do outro lado do campo de futebol. Ou seja, as lentes com valores inferiores a 50 mm são consideradas grandes angulares, e com valores acima de 150 mm são consideradas teleobjetivas.
A relação que se tem para se considerar uma objetiva como grande angular ou teleobjetivas, vem da comparação do tamanho da objetiva com a diagonal do filme utilizado. As objetivas em torno de 50 mm são consideradas normais, por possibilitarem na área do filme uma imagem com as características e um campo de visão semelhante ao olho humano.
Superfície fotossensível.
Entre 2006 e 2007, as vendas de câmeras fotográficas digitais cresceram 5% nos Estados Unidos, enquanto as de câmeras com filme caíram em mesma quantidade. A despeito do irreversível e crescente domínio da imagem digital no mundo da fotografia, o filme fotográfico ainda ocupa, por variados motivos, um espaço cativo no trabalho de muitos profissionais e aficionados que prometem a essa mídia uma sobrevida assegurada de vários anos.
Controle da imagem.
Velocidade do obturador.
O tempo durante o qual o obturador permanece aberto determina a quantidade de luz que chega ao filme. Ao selecionar uma velocidade do obturador, verifica-se se a câmara está suficientemente firme. Quanto mais firme estiver, mais baixa poderá ser a velocidade do obturador utilizada. Mesmo um movimento minúsculo durante a exposição poderá fazer com que toda a imagem fique tremida. Usar um tripé é a única maneira de garantir o êxito de uma fotografia que exija um tempo de exposição mais longo. Com uma teleobjetiva, a instabilidade da câmara é mais notável do que com uma grande-angular, por isso, quanto maior for a objetiva, maior será a velocidade de obturador necessária. Além de "congelar" a acção, a velocidade do obturador permite criar efeitos que sugerem movimentos, ou efeitos especiais com o "zoom".
Efeito de Panning.
Nem sempre é necessário usar uma velocidade do obturador tão alta. Muitas vezes pode acompanhar-se o movimento enquanto se dispara, para o compensar, usa-se uma técnica chamada "panning".
Congelamento.
A velocidade do obturador desempenha um papel importante na transformação de motivos em movimento em uma imagem estática. Quanto menos tempo o obturador permanecer aberto, menos o motivo se moverá dentro do enquadramento e mais nítido ficará. Por isso utiliza-se uma maior velocidade ao fotografar um motivo em movimento, como um cavalo a correr.
Há ainda outros fatores a considerar. Primeiro, a velocidade real do motivo não indica necessariamente a rapidez com que a imagem irá mudar no visor. Se um motivo se dirigir directamente para a câmara ou se se afastar dela, a imagem mudará mais lentamente do que se ele passar perpendicularmente, e será necessária menos velocidade do obturador para "congelar" o movimento. Um movimento em diagonal no enquadramento necessitará de uma velocidade de obturador intermédiaria. O tamanho da imagem também é importante: um comboio visto como um ponto no horizonte não parecerá mover-se tão depressa como uma papoila oscilando em uma brisa suave em frente da objectiva. Quanto maior a distância focal e mais próximo do motivo, maior a velocidade do obturador.
Usos da fotografia.
A fotografia pode ser classificada como tecnologia de confecção de imagens e atrai o interesse de cientistas e artistas desde o seu começo. Os cientistas usaram sua capacidade para fazer gravações precisas, como Eadweard Muybridge em seu estudo da locomoção humana e animal (1887). Artistas igualmente se interessaram por este aspecto, e também tentaram explorar outros caminhos além da representação fotomecânica da realidade, como o movimento pictural. As forças armadas, a polícia e forças de segurança usam a fotografia para vigilância, identificação e armazenamento de dados.
Fotografias aéreas eram utilizadas para levantamento do uso da terra e planejamento de uma determinada região.
A Fotografia no cotidiano e na vida.
A fotografia pode ser utilizada no processo de investigação do cotidiano de nossos estudantes, a fim de que mediante as imagens obtidas da escola, da família, da vizinhança, da cidade e das coisas que os cercam, eles sejam orientados, através de uma metodologia específica, para análise e estudo desses "momentos documentados" e suas correlações históricas, sociais, geográficas, étnicas e econômicas; na educação, a simples disponibilidade do aparato tecnológico não significa facilitar o processo ensino-aprendizagem. É preciso que o professor alie os recursos tecnológicos com os seus conhecimentos e estratégias de ensino, visando alcançar um objetivo: o conhecimento real da imagem fornecida através da fotografia.
Fotojornalismo.
O fotojornalismo preenche uma função bem determinada e tem características próprias. O impacto é elemento fundamental. A informação é imprescindível.
É na fotografia de imprensa, um braço da fotografia documental, que se dá um grande papel da fotografia de informação, o fotojornalismo. É no fotojornalismo que a fotografia pode exibir toda a sua capacidade de transmitir informações. E essas informações podem ser passadas, com beleza, pelo simples enquadramento que o fotógrafo tem a possibilidade de fazer. Nada acontece hoje nas comunicações impressas ou na mídia sem o endosso da fotografia.
Existem, basicamente, quatro gêneros de fotografia jornalística:
Foto oficial.
Foto oficial ou retrato oficial é uma produção fotográfica de registro e divulgação de personalidades importantes, notadamente de reis, presidentes e governadores. Geralmente é ornada com cores e símbolos oficiais, como bandeira, faixas presidenciais e brasão dos países, estados ou municípios. Há também conotação como imagem divulgadora de ocasiões, produtos e reuniões.
Fotografia em estúdio.
Uma das vantagens de um estúdio grande é permitir uma maior distância entre o motivo e o fundo. Em condições com pouco espaço, é difícil iluminar os dois separadamente, e há o perigo de as sombras do motivo se formarem sobre o fundo.
Iluminando o fundo independentemente, ele pode ser transformado de centenas maneiras. Dê-lhe uma iluminação gradual, iluminando a parte superior e a parte inferior de maneiras diferentes. Em alternativa, projecta formas ou cores sobre o fundo, colocando sobre as luzes máscaras (chamadas gobos) ou acetatos coloridos.
Os rolos de papel branco ou preto são os fundos mais utilizados e os mais versáteis. Os rolos podem ser suspensos do alto da parede de um estúdio, e depois puxados até baixo e estendidos sobre o chão do estúdio, criando uma curvatura de forma a que a junção da parede com o chão não seja visível nas fotografias. A medida que o papel se vai estragando ou sujando, corta-se essa parte e puxa-se mais papel de rolo.
Há uma grande variedade de fundos à venda nas lojas da especialidade, mas saiba que os fundos simples muitas vezes resultam melhor, uma vez que não desviam a atenção, e porque num estúdio pequeno nem sempre é possível desfocar as formas mais elaboradas que o fundo possa ter.
Fotografia como arte.
A discussão sobre se a fotografia é arte ou não é longa e envolve uma diversidade de opiniões.
De acordo com Barthes, muitos não a consideram arte, por ser facilmente produzida e reproduzida, mas a sua verdadeira alma está em interpretar a realidade, não apenas copiá-la. Nela há uma série de símbolos organizados pelo artista e o receptor os interpreta e os completa com mais símbolos de seu repertório.
Fazer fotografia não é apenas apertar o disparador. Tem de haver sensibilidade, registrando um momento único, singular. O fotógrafo recria o mundo externo através da realidade estética.
Em um mundo dominado pela comunicação visual, a fotografia só vem para acrescentar, pode ser ou não arte, tudo depende do contexto, do momento, dos ícones envolvidos na imagem. Cabe ao observador interpretar a imagem, acrescentar a ela seu repertório e sentimento.
Fotógrafo.
Fotógrafo é a pessoa que tira (registra) fotografia, usando uma câmera. É geralmente considerado um artista, pois faz seu produto (a foto) com a mesma dedicação e da mesma forma que qualquer outro artista visual.
Faz parte da cultura brasileira a figura do Fotógrafo Lambe-lambe, profissional que ficava nas praças tirando fotos comercialmente, quando adquirir uma máquina fotográfica era algo muito difícil devido ao seu alto valor comercial.
Amadores e profissionais.
Quando um determinado autor de fotografias baseia grande parte do seu rendimento monetário nesta atividade, diz-se ser um fotógrafo profissional.
Por vezes, o adjetivo profissional é usado erroneamente na fotografia para valorizar uma determinada imagem fotográfica ou perícia de um autor. Na realidade, a qualidade da fotografia nem sempre está relacionada com o fato do seu autor ser ou não profissional. Muitos amadores realizam com regularidade imagens mais bem sucedidas que muitos profissionais.
Na realidade "profissional" refere-se apenas à profissão do autor, e não à qualidade do trabalho. Ao mesmo tempo que um profissional pode realizar um trabalho mal feito, pode-se entender melhor, adiante no parte de "arte".
O adjetivo amador, quando atribuído a um fotógrafo, pode ter um significado muito vasto. Pessoas que apenas fotografam a sua família e vida, para uso pessoal, consideram-se fotógrafas amadores. Outros fotógrafos amadores chegam a publicar livros, realizar exposições e dedicam uma vida inteira ao estudo da fotografia.
Especializações do fotógrafo.
Uma vez que na atualidade a fotografia serve um vasto campo de assuntos e objetivos, foram criadas especializações. O fotógrafo especializa-se para melhor dominar a técnica de um determinado tipo de fotografia ou assunto. As especializações mais conhecidas são a foto reportagem (de eventos sociais), moda, o fotojornalismo, a paisagem, o retrato, a publicitária, (arte da fotografia de objetos em estúdio) e a foto em natureza, ( fotos de aves, animais, borboletas, insetos, répteis, todos livres, não cativeiro e nem de laboratório para está modalidade).
Formação de um fotógrafo.
A formação em fotografia numa escola de arte pode realizar-se através de um curso de fotografia ou de várias disciplinas de fotografia integradas em cursos de arte, design, pintura, multimídia, cinema, jornalismo e etc. Normalmente estes cursos estão orientados para o exercício da fotografia enquanto arte. Porém muitos fotógrafos são autodidatas acabam procurando formação só depois de anos de experiência na prática.
Numa escola profissional, a formação em fotografia está mais orientada para o exercício da fotografia enquanto profissão comercial.
Essência da fotografia.
A discussão sobre o uso da Fotografia é precedido pela tentativa de compreender sua imagem, o que ocorre desde seu desenvolvimento por diversos fotógrafos ao longo do século XIX (como afirma Geoffrey Batchen). Seu caráter artístico evidente constitui um entrave a seu uso pelas ciências sociais, enquanto seu caráter científico a tornou uma espécie de subalterna no campo da arte, características que parecem se reverter na segunda metade do século XX, na medida em que o estudo desse meio se aprofundou, as ciências sociais se abriram para a impossibilidade de completa objetividade, e o campo da arte passou a lidar fortemente com a ideia, em oposição a uma ênfase na forma artística.
Os estudos históricos sobre a foto iniciam por volta de cem anos após sua invenção. Já os estudos teóricos sobre a Fotografia parecem iniciar no pós-guerra, e a principal teoria usada para caracterizar a Fotografia advém do campo da semiótica, ou seja, declina da Semiologia de Saussure.
Numa leitura estrita da obra de Charles Sanders Peirce, definidora do campo da semiótica, a Fotografia se definiria a partir das três categorias de signo, que existem numa ordem de importância e dependência umas das outras: o ícone, que é uma representação qualitativa de um objeto - por exemplo, por analogia (é o caso da imagem fotográfica), o índice, que caracteriza um signo que refere-se ao significante pela causalidade ou pela contiguidade (às vezes diferenciado como índex, como na leitura de Umberto Eco), e o símbolo, cuja relação com o significante é arbitrária e definida por uma convenção (é o caso de uma bandeira de um país, por exemplo).
Ora, os estudos iniciais da Fotografia, bem como os artistas ao longo dos séculos XIX e XX se preocupavam com o problema da iconicidade da Fotografia, isto é, o potencial de sua imagem e o caráter de seu realismo.
O primeiro sinal de problematização dessa modalidade de discurso está na obra de Walter Benjamin, cujo texto "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica", revela uma preocupação com a modificação da recepção da Fotografia e do cinema em relação aos meios tradicionais da arte, estudo pioneiro e extremamente influente que leva instâncias inéditas, como o problema da aura (o que a diferencia da arte clássica) bem como o da multiplicação maciça da imagem.
É na obra de Roland Barthes que vemos um segundo momento da tentativa de tratar da Fotografia como meio. A obra de Barthes passa pela construção do estruturalismo, e sua leitura da obra de Peirce. Mas o universo de Barthes não se resume ao universo do signo; sua obra evidencia uma reatualização da questão do mito e o campo de problemas relativos a morte do autor. Seu grande livro sobre Fotografia, "Câmara Clara", possui um ponto de vista fenomenológico (que refere a Foto ao "noema," conceito da fenomenologia de Husserl), bem como utiliza elementos da psicanálise lacaniana. Ao longo da obra de Barthes, a Foto é lida inicialmente numa chave dialógica característica do estruturalismo, implicando a criação de conceitos tais como conotação e denotação, ou ainda obtuso e o óbvio. O exame continuado do meio leva o autor a perceber a necessidade de abrir o pensamento estrutural: o par "studium"/"punctum" não se relaciona dialeticamente verdadeiramente"." Os termos constituem-se como instâncias fenomenológicas da Fotografia: como "studium," a Fotografia se exibe como objeto indiferente de estudo, enquanto a expressão punctum define a instauração de um fenômeno no qual sujeito e foto se afetam.
Um dos legados da leitura de Barthes sobre a fotografia é a percepção da importância do conceito de "índice", que é desenvolvido posteriormente nas obras de Rosalind Krauss (em "O Fotográfico", e em "A originalidade da Vanguarda"), de Jean-Marie Schaeffer ("A imagem precária"), e Philippe Dubois ("O Ato Fotográfico"). Tal relação não apenas tem sido utilizada no campo da arte, como indica Krauss, mas vem permitindo o uso da Fotografia de modo crescente nas ciências sociais.
Memória e Afeto.
Na fotografia encontra-se a ausência, a lembrança, a separação dos que se amam, as pessoas que já faleceram, as que desapareceram.
Para algumas pessoas, fotografar é um ato prazeroso, de estar figurando ou imitando algo que existe. Já para outras, é a necessidade de prolongar o contato, a proximidade, o desejo de que o vínculo persista.
Strelczenia, 2001, apud Debray (1986, p. 60) assinala que a imagem nasce da morte, como negação do nada e para prolongar a vida, de tal forma que entre o representado e sua representação haja uma transferência de alma. A imagem não é uma simples metáfora do desaparecido, mas sim "uma metonímia real, um prolongamento sublimado, mas ainda físico de sua carne".
A foto faz que as pessoas lembrem do seu passado e que fiquem conscientes de quem são. O conhecimento do real e a essência de identidade individual dependem da memória. A memória vincula o passado ao presente, ela ajuda a representar o que ocorreu no tempo, porque unindo o antes com o agora temos a capacidade de ver a transformação e de alguma maneira decifrar o que virá.
A fotografia captura um instante, põe em evidência um momento, ou seja, o tempo que não para de correr e de ter transformações. Ao olhar uma fotografia é importante valorizar o salto entre o momento em que o objeto foi clicado e o presente em que se contempla a imagem, porém a ocasião fotografada é capaz de conter o antes e depois.
Confia-se, portanto, na capacidade da câmera fotográfica para guardar os instantes que se consideram valiosos. Tirar fotografias ajuda a combater o nada, o esquecimento. Para recordar é necessário reter certos fragmentos da experiência e esquecer o resto. São mais os instantes que se perdem que os que podemos conservar. Segundo Strelczenia (2001), "A memória se premia recordando, fazendo memorável; se castiga com o esquecimento".
Fotografa-se para recordar, porque os acontecimentos terminam e as fotografias permanecem, porém não sabemos se esses momentos foram significativos em si mesmos ou se tornaram memoráveis por terem sido fotografados.
A memória é constitutiva da condição humana: desde sempre o homem tem se ocupado em produzir sinais que permaneçam mais além do futuro, que sirvam de marca da própria existência e que lhe deem sentido. A fotografia traz consigo mais daquilo do que se vê. Ela não somente capta imagens do mundo, mas pode registrar o "gesto revelador, a expressão que tudo resume, a vida que o movimento acompanha, mas que uma imagem rígida destrói ao seccionar o tempo, se não escolhemos a fração essencial imperceptível" (CORTÁZAR, 1986,p. 30)
Todo esse campo de interpretação que a fotografia permite parte de vários fatores, ingredientes que agem profundamente (nem sempre visíveis) no significado da imagem. Segundo Lúcia Santaella e Winfried Nöth (2001), esses elementos são: o fotógrafo, como agente; o fotógrafo, a máquina e o mundo, ou seja, o ato fotográfico, a fenomenologia desse ato; a máquina como meio; a fotografia em si; a relação da foto com o referente; a distribuição fotográfica, isto é, a sua reprodução; a recepção da foto, o ato de vê-la.
É no ensaio fotográfico que a pessoa busca a emoção, algo que ela nunca tenha sentido. A fotografia é capaz de ferir, de comover ou animar uma pessoa. Para cada um ela oferece um tipo de afeto. Na composição de significado da foto, segundo Barthes (1984), há três fatores principais: o fotógrafo ("operator"), o objeto ("spectrum") e o observador ("spectator"). O fotógrafo lança seu olhar sobre o assunto, ele o contamina e faz as fotos segundo seu ponto de vista. O objeto (ou modelo) se modifica na frente de uma lente, simulando uma coisa que não é. No caso do observador, ele gera mais um campo de significado, lançando todo o seu repertório e alterando mais uma vez a imagem.
Barthes (1984, p. 45) observa ainda a presença de dois elementos na fotografia, aquilo que o fotógrafo quis transmitir é chamado de studium, ou seja, é o óbvio, aquilo que é intencional. Já quando há um detalhe que não foi pré-produzido pelo autor, recebe o nome de punctum. Esse último gera um outro significado para o observador, fere, atravessa, mexe com sua interpretação.
"Reconhecer o studium é fatalmente encontrar as intenções do fotógrafo, entrar em harmonia com elas, aprová-las, discuti-las em mim mesmo, pois a cultura (com que tem a ver o studium) é um contrato feito entre os criadores e os consumidores. (…) A esse segundo elemento que vem contrariar o studium chamarei então punctum. Dessa vez, não sou eu que vou buscá-lo, é ele que parte da cena, como uma flecha, e vem me transpassar" (BARTHES, 1984, p. 48).
Por meio das fotografias descobre-se a capacidade de obter camadas inteiras e de emoções que estão escondidas na memória. Também se pode descobrir e obter novas significações que naqueles momentos não estavam explícitas.
As imagens são aparentemente silenciosas. Sempre, no entanto, provocam e conduzem a uma infinidade de discursos em torno delas.
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Florianópolis é um município brasileiro, capital do estado de Santa Catarina, Região Sul do país. O município é composto pela ilha principal, a ilha de Santa Catarina, a parte continental e algumas pequenas ilhas circundantes. A cidade tem uma população de habitantes, de acordo com prévia do censo demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o segundo município mais populoso do estado (após Joinville) e o 48º do Brasil. A região metropolitana tem uma população estimada de habitantes, a 21ª maior do país. A cidade é conhecida por ter uma elevada qualidade de vida, sendo a capital brasileira com maior pontuação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pelo PNUD, das Nações Unidas.
A economia de Florianópolis é fortemente baseada na tecnologia da informação, no turismo e nos serviços. A cidade tem mais de 100 praias registradas e é um centro de atividade de navegação. O jornal estadunidense "The New York Times" afirmou em 2009 que "Florianópolis era o destino do ano". A "Newsweek" considerou que o município é uma das "dez cidades mais dinâmicas do mundo" em 2006. O Índice de Cidades Empreendedoras (ICE) de 2014, elaborado pela filial brasileira da ONG norte-americana Endeavor, elegeu a cidade como o melhor ambiente para o empreendedorismo no país. A cidade também foi considerada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma das "cidades criativas" do Brasil em 2014, ao lado de Curitiba.
A maioria da população vive em partes do centro e norte da ilha principal e no continente. A metade sul é menos habitada. Muitos pescadores comerciais pequenos povoam a ilha. Os barcos de pesca, as rendeiras, o folclore, a culinária e a arquitetura colonial contribuem para o crescimento do turismo e atraem recursos que compensam a falta de um grande parque industrial. Vilarejos imersos em tradição e história, como Santo Antônio de Lisboa e Ribeirão da Ilha, ainda resistem aos avanços da modernidade.
O Aeroporto Internacional Hercílio Luz serve à cidade. Florianópolis é o lar da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), além de dois campi do Instituto Federal de Santa Catarina e de dois "campi" da Universidade do Estado de Santa Catarina, entre outras instituições de ensino superior e profissional.
Origem do nome.
Originalmente foi denominada "ilha de Santa Catarina", já que Francisco Dias Velho, o fundador do povoado, chegou ao local no dia de Santa Catarina. Ela continuou por muito tempo sendo assim chamada, inclusive ao se tornar vila com o nome de Nossa Senhora do Desterro, como comprovam as correspondências oficiais e as cartas de navegação da época onde ainda se mencionava a ilha de Santa Catarina.
Com a independência do Brasil a vila elevou-se a cidade, quando se decidiu fortalecer o nome correto, mas agora passando apenas a se chamar "Desterro". Apesar de ser uma referência a fuga da sagrada família para o Egito, esse nome desagradava certos moradores, uma vez que lembrava "desterrado", ou seja, alguém que está no exílio ou que era preso e mandado para um lugar desabitado.
Esta falta de gosto pelo nome fez com que algumas votações acontecessem para uma possível mudança. Uma das sugestões foi a de "Ondina", nome de uma deusa da mitologia que protege os mares. Este nome foi descartado até que, com o fim da Revolução Federalista, em 1894, em homenagem ao então presidente da República Floriano Peixoto, o governador do estado, Hercílio Luz, mudou o nome para Florianópolis.
A escolha do nome foi, contudo, uma afronta à própria população desterrense. Floriano Peixoto não era uma autoridade com popularidade na cidade e enfrentou grande resistência de seu governo em Desterro. Como a cidade era um dos principais pontos que se opunham ao presidente, este mandou um exército para a cidade para que fosse derrubada esta resistência. O nome foi dado logo após a "Chacina de Anhatomirim" ou "Tragédia de Desterro" ocorrida na fortaleza militar da ilha de Anhatomirim, ao norte da ilha de Santa Catarina, ocasião em que foram fuziladas cerca de 300 pessoas, dentre as quais oficiais do exército, juízes, desembargadores e engenheiros, três dos quais eram franceses.
Ainda hoje há movimentos que pedem uma nova mudança do nome devido à controvérsia.
História.
Civilizações pré-cabralinas.
Antigas populações habitaram a ilha de Santa Catarina em tempos remotos. Existem indícios de presença do chamado Homem de Sambaqui em sítios arqueológicos cujos registros mais antigos datam de quinto A ilha possui numerosas inscrições rupestres e algumas oficinas líticas, notadamente em várias de suas praias. Por volta do ano 1000, os povos indígenas tapuias que habitavam a região foram expulsos para o interior do continente devido à chegada de povos do tronco linguístico tupi provenientes da Amazônia.
No , quando chegaram os primeiros europeus à região, a mesma era habitada por um desses povos do tronco tupi, os carijós. Os carijós praticavam a agricultura, mas tinham, na pesca e coleta de moluscos, as atividades básicas para sua subsistência. A ilha de Santa Catarina era conhecida como "Meiembipe" ("montanha ao longo do mar") pelos carijós. O estreito que a separa do continente era chamado "Y-Jurerê-Mirim", termo que quer dizer "pequena boca d'água" e que também se estendia à própria ilha. Os carijós viriam a ser escravizados pelos colonos de origem portuguesa de São Vicente.
Séculos XVI e XVII.
Já no início do , embarcações que demandavam a Bacia do Prata aportavam na ilha de Santa Catarina para abastecer-se de água e víveres. Entretanto, somente por volta de 1673 é que o bandeirante Francisco Dias Velho, junto com sua família e agregados, deu início ao povoamento da ilha com a fundação de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) — segundo núcleo de povoamento mais antigo do estado, ainda fazendo parte da vila de Laguna — desempenhando importante papel político na colonização da região.
Nessa época ocorreram naufrágios de embarcações que depois foram estudadas e deram origem a dois projetos de arqueologia subaquática em Florianópolis, um no norte e outro no sul da ilha. Diversos artefatos e partes das embarcações foram recuperados pelos pesquisadores responsáveis por essas iniciativas, financiadas principalmente pela iniciativa privada.
Século XVIII.
A partir da vinda de Dias Velho intensificou-se o fluxo de paulistas e vicentistas, que ocuparam vários outros pontos do litoral. Em 15 de março de 1726 a povoação da ilha de Santa Catarina foi separada da vila da Laguna, sendo em 26 de março do mesmo ano elevada à categoria de vila.
A ilha de Santa Catarina, por sua posição estratégica como vanguarda dos domínios portugueses no Brasil meridional, passou a ser ocupada militarmente a partir de 1737, quando começaram a ser erigidas as fortalezas necessárias à defesa do seu território. Esse fato resultou num importante passo na ocupação da ilha.
A partir de meados do , a ilha de Santa Catarina passou a receber uma expressiva quantidade de migrantes açorianos, que chegaram ao Brasil incentivados pela Coroa portuguesa para aliviar o excedente populacional e ocupar a parte meridional de sua colônia na América do Sul. Com a migração, prosperaram a agricultura e a indústria manufatureira de algodão e linho, permanecendo, ainda hoje, resquícios desse passado, no que se refere à confecção artesanal da farinha de mandioca e das rendas de bilro.
Nessa época, em meados do século XVIII, verificou-se a implantação das "armações" para pesca da baleia, na Armação da Piedade, na vizinha Governador Celso Ramos, na Armação do Pântano do Sul, cujo óleo era comercializado pela Coroa fora de Santa Catarina, não trazendo benefício econômico à região.
Século XIX.
No século XIX, em 24 de fevereiro de 1823, Desterro foi elevada à categoria de cidade; tornou-se capital da Província de Santa Catarina em 1823 e inaugurou um período de prosperidade, com o investimento de recursos federais. Projetaram-se a melhoria do porto e a construção de edifícios públicos, entre outras obras urbanas. A modernização política e a organização de atividades culturais também se destacaram, marcando inclusive os preparativos para a recepção ao imperador D. Pedro II (1845). Em outubro desse mesmo ano, ancorada a embarcação imperial nos arredores da ilha, D. Pedro permaneceu em solo catarinense por quase um mês. Neste período, o imperador dirigiu-se várias vezes à igreja (hoje Catedral Arquidiocesana), passeou pelas ruas da Vila do Desterro e, na "Casa de Governo", concedeu "beija-mão".
Em 1891, quando o marechal Deodoro da Fonseca, por influência da Revolta da Armada, renunciou à presidência da recém-instituída república, o vice-presidente Floriano Peixoto assumiu o poder, mas não convocou eleições após isso, contrariando o prescrito na constituição promulgada neste mesmo ano, fato que gerou duas revoltas: a Segunda Revolta da Armada (originária da Marinha, no Rio de janeiro) e a Revolução Federalista (patrocinada por fazendeiros gaúchos).
As duas insurreições chegaram ao Desterro com o apoio dos catarinenses, entre os quais esteve Elesbão Pinto da Luz. Entretanto, Floriano Peixoto conteve-as ao aprisionar seus líderes e, com isso, restaram no domínio da cidade tão-somente simpatizantes do presidente, que, em sua homenagem, deram à capital a denominação de Florianópolis, ou seja, "cidade de Floriano". Os revoltosos, por sua vez, vieram a ser fuzilados na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim - por isso, o episódio foi chamado de Chacina de Anhatomirim. No final do século XIX, em 1898, foi fundado um importante colégio pela Congregação das Irmãs da Divina Providência, o Colégio Coração de Jesus.
Século XX.
A cidade, desde o entrar do , passou por profundas transformações. A construção civil fez-se um dos seus principais suportes econômicos. A implantação das redes básicas de energia elétrica, do sistema de fornecimento de água e da rede de esgotos somou-se à construção da Ponte Hercílio Luz, tudo a assinalar o processo de desenvolvimento urbano. Além disso, em 1943 foi anexada ao município a parte continental, antes pertencente à vizinha São José.
Ao final do século XX — nas três últimas décadas, principalmente —, a ilha experimentou singular afluência de novos moradores, iniciada com a transferência da sede da Eletrosul do Rio de Janeiro para o centro da ilha, com sede fixada no bairro Pantanal, e com a instalação do campus da Universidade Federal de Santa Catarina na Trindade.
O surgimento do Aeroporto Hercílio Luz no sul da ilha e da pavimentação da BR-101 também contribuíram para tirar a cidade do isolamento. Construíram-se duas novas pontes ligando a ilha ao continente: a ponte Colombo Salles e a ponte Pedro Ivo Campos, e grandes aterros foram construídos no Centro e no Sul da Ilha.
Os bairros mais afastados da ilha também foram objeto de intensa urbanização. Surgiram novos bairros, tal como Jurerê Internacional, de alto nível socioeconômico, enquanto em alguns pontos começou uma ocupação desordenada, sem o devido zelo com respeito a obras de urbanização.
No início do século XXI a cidade passou a ter um dos piores trânsitos do Brasil, com um veículo para menos de dois habitantes, número que no verão aumenta gradativamente com a chegada dos turistas.
Geografia.
De acordo com a divisão regional vigente desde 2017, instituída pelo IBGE, o município pertence às Regiões Geográficas Intermediária e Imediata de Florianópolis. Até então, com a vigência das divisões em microrregiões e mesorregiões, fazia parte da microrregião de Florianópolis, que por sua vez estava incluída na mesorregião da Grande Florianópolis.
Florianópolis é uma das três capitais do Brasil situadas em ilhas (as outras duas são Vitória e São Luís). Localiza-se no leste do estado de Santa Catarina e é banhada pelo Oceano Atlântico. Grande parte de seu território (97,23%) está situado na ilha de Santa Catarina, que está situada de forma paralela ao continente, separada dele por um estreito canal, e possui uma forma alongada e estreita, com comprimento médio de 55 km e largura média de 18 km. Com litoral bastante recortado, possui várias enseadas, pontas, ilhas, baías e lagoas. A área total do município, compreendendo a parte continental e a insular, é de 675,41 km². Seu relevo é formado por cristas montanhosas e descontínuas, servindo como divisor de águas da ilha. O ponto mais alto da ilha é o morro do Ribeirão, com 532 metros de altitude. Paralelamente às montanhas, surgem esparsas planícies em direção leste e na porção noroeste da ilha. Na face leste da ilha, há presença de dunas formadas pela ação do vento.
Na ilha de Santa Catarina existe uma grande laguna de água salgada, a Lagoa da Conceição, e uma grande lagoa de água doce, a Lagoa do Peri. Dois grandes aquíferos subterrâneos contribuem em parte para abastecimento público de água do município: o Aquífero Campeche, ao sul, e o Aquífero Ingleses, ao norte. Já, os rios, em geral riachos pequenos, não recebem muita atenção: no Centro o rio da Bulha foi canalizado, enquanto que recentemente a poluição no rio do Brás e no rio Papaquara, no norte da ilha, só chamou a atenção por ter tirado a balneabilidade da praia de Canasvieiras. Os outros mananciais importantes são as bacias do Ratones, Saco Grande, Itacorubi e Rio Tavares. Todas essas têm um manguezal em sua foz, sendo o do Itacorubi o 2º maior em área urbana do Brasil.
Considerava-se que Florianópolis tinha 42 praias, sendo este durante décadas um dos "slogans" do município e ainda muito citado. Por encomenda do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), realizou-se, pela primeira vez, um levantamento completo sobre as praias da capital catarinense, no qual foram mapeadas mais de 100 praias. Como o objetivo do trabalho era toponímico, para cumprir a lei municipal que determinava a sinalização de todas as praias, ficaram de fora mais de uma dezena que, de tão desconhecidas, nem possuíam denominação. Os testes de balneabilidade mostram que muitas estão impróprias para banho, principalmente no continente, mas também em praias conhecidas da ilha.
Clima.
O clima em Florianópolis é subtropical úmido (do tipo "Cfa" de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger). A temperatura média anual é de 21 °C; o verão é morno e abafado e o inverno é fresco. Durante o ano inteiro as precipitações são bem distribuídas. Ao longo do ano, normalmente, a temperatura mínima nos meses mais frios é de 13 °C e a temperatura máxima nos meses mais quentes é de 29 °C e raramente são inferiores a 8 °C ou superiores a 34 °C.
Florianópolis apresenta características climáticas inerentes ao litoral sul-brasileiro. As estações do ano são bem caracterizadas, verão e inverno são relativamente definidos, sendo o outono e primavera estações de transição com características semelhantes. É a quarta capital mais fria do país, ficando atrás apenas de Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. A ilha de Santa Catarina sofre muita influência dos ventos, principalmente do quadrante Sul, comumente mais frios e secos, o que faz com que a sensação térmica no inverno geralmente seja inferior às temperaturas mínimas registradas.
A precipitação é bastante significativa e bem distribuída durante o ano. A precipitação normal anual é superior a milímetros (mm). Não existe uma estação seca, porém o verão é normalmente a estação que apresenta o maior índice pluviométrico (Hermann et alii, 1986). Elevadas precipitações ocorrem em janeiro e fevereiro, acima de 200 mm mensais, enquanto nos meses de abril a agosto ocorrem os valores mais baixos, entre 70 mm e 140 mm.
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), referentes ao período de 1931 a 1983 e a partir de 1987, a menor temperatura registrada em Florianópolis foi de em 30 de agosto de 1958 e a maior atingiu em 3 de janeiro de 2019, batendo o recorde anterior de em 10 de fevereiro de 1973. O maior acumulado de precipitação observado em 24 horas alcançou em 15 de novembro de 1991. Outros acumulados iguais ou superiores a foram: em 19 de maio de 2010, em 22 de julho de 1973, em 22 de fevereiro de 1994, em 1 de fevereiro de 2008, em 23 de abril de 1936, em 20 de dezembro de 2022, em 25 de dezembro de 1995, em 15 de novembro de 1957, em 16 de dezembro de 2008.
Meio ambiente.
Em Florianópolis ocorrem naturalmente basicamente três grandes grupos de vegetação, todos considerados dentro do bioma Mata Atlântica. São eles, de acordo com o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis: floresta ombrófila densa; manguezal e restinga. Cada tipo de vegetação por sua vez apresenta diferentes subtipos e estágios de evolução, sendo que graças ao relevo acidentado da ilha de Santa Catarina, os diferentes ecossistemas presentes são enriquecidos ainda mais por diferentes elementos geográficos, como lagoas, lagunas, rios, dunas, costões rochosos e praias, tornando a cidade riquíssima em paisagens naturais. Apesar da maior parte da vegetação original de Florianópolis ter sido destruída pela agricultura ao longo dos séculos, paradoxalmente, o processo de urbanização da cidade, que evoluiu a partir das décadas de 40 e 50 do século XX, fez com que a maior parte das atividades agrícolas extensivas fossem abandonadas, afastando o desmatamento de várias áreas, principalmente seus morros.
Através de uma extensa pesquisa realizada em 2013, Florianópolis foi considerada a segunda capital brasileira com maior área de Mata Atlântica preservada de acordo com os critérios da Fundação SOS Mata Atlântica, ocupando 26% do seu território. A cidade conta com várias áreas naturais legalmente protegidas, que também integram a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, um importante conjunto de áreas prioritárias para conservação a nível mundial instituídas pela UNESCO/ONU. Devido esta característica, a cidade tem sido cogitada para receber também o título internacional de Reserva da Biosfera Urbana. Apesar da proteção legal de muitas áreas, várias ainda se encontram ameaçadas por atos ilegais como construções irregulares, esgoto e poluição de diferentes tipos. Além disso, a cidade conta ainda com regiões naturais importantes sem proteção legal significativa, como a planície alagável do Pântano do Sul, Dunas dos Ingleses, Dunas do Santinho e outros locais onde há proposta de se criar novas Unidades de Conservação.
Instituídos por lei, a árvore símbolo da cidade é o garapuvu e a flor símbolo é a orquídea "Cattleya purpurata", também símbolo do Estado de Santa Catarina. Já a ave símbolo da cidade é o martim-pescador-verde.
Demografia.
De acordo com estimativa do IBGE de 2020, havia pessoas na cidade. A densidade de população era de 753,4 habitantes por quilômetro quadrado. Florianópolis e Vitória, no Espírito Santo, são as únicas capitais no Brasil que não são as cidades mais populosas de seus respectivos estados. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) revelou os seguintes números: 366 mil pessoas brancas (90,0%), 37 mil pardos (9,0%), 4 000 pessoas negras (1,0%), 400 pessoas asiáticas ou ameríndias (0,1%).
Região metropolitana.
A Região Metropolitana de Florianópolis é uma região metropolitana criada pela , foi extinta pela e reinstituída pela .
Composição étnica.
Florianópolis tem uma população na sua maioria composta de brasileiros de ascendência europeia. Sua colonização em massa começou em meados do século XVIII, principalmente com a chegada dos colonizadores portugueses das ilhas dos Açores. Logo, a população de Florianópolis é composta, principalmente, por descendentes de portugueses açorianos, alemães e italianos. Mais ao sul, alguns bairros também preservam a identidade de vila rural (ver Área rural de Florianópolis) e a herança deixada pelos antepassados açorianos é perceptível em sua maneira de falar, em suas atividades de artesanato, na arquitetura e em festas tradicionais.
A pequena aldeia de Santo Antônio de Lisboa é um exemplo da arquitetura desse período e em Ribeirão da Ilha, a parte mais antiga da capital, os moradores ainda falam o dialeto açoriano, que é difícil de compreender à primeira escuta. Em Ribeirão da Ilha está a Igreja de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão, construída em 1806. A Lagoa da Conceição, com suas muitas dunas de areia, restaurantes e vida noturna à beira-mar e onde as mulheres fazem rendas para vender na rua, também conseguiu manter muitos traços de sua arquitetura colonial.
Por outro lado, a cidade ganhou um ar cosmopolita com a chegada de brasileiros de outros estados e de estrangeiros que escolheram a ilha para viver. Florianópolis, que no início do período de colonização, era um importante centro de caça de baleias, é hoje um polo tecnológico na área de Tecnologia da Informação. A cidade soma cerca de 15 mil novos moradores por ano, sendo que sua população costuma dobrar durante a temporada de verão.
Política.
O total de eleitores do município de Florianópolis era em julho de 2011 de 316 621, divididos em quatro zonas eleitorais: zona 12 - 61 720; zona 13 - 56 574; zona 100 - 118.485 e zona 101 - 76 554. O ex-prefeito da cidade foi Gean Marques Loureiro, que tomou posse no dia 1 de janeiro de 2017.Foi reeleito em 2020, com 53,46% dos votos válidos, no primeiro turno das eleições municipais e deixou o cargo de prefeito dia 31 de março de 2022, visando a eleição ao governo do estado. Com a renúncia de Gean, foi empossado o até então vice-prefeito Topázio Neto.
Cidades-irmãs.
As Cidades irmãs de Florianópolis são:
Subdivisões.
Existem atualmente 12 distritos em Florianópolis:
Economia.
De acordo com estatísticas de 2002, as atividades agrícolas representaram 0,05%, a fabricação representa 3,41% e o setor do comércio e serviços 96,54% da economia de Florianópolis. O turismo é uma das bases da economia local e muitos habitantes e turistas vão para a cidade em busca de sua beleza singular, além dos fortes traços da cultura açoriana, observada na arquitetura, folclore, tradições culinárias e religiosas. Suas restrições ambientais sobre a construção e desenvolvimento comercial têm sido relativamente rigorosas, ajudando a cidade a manter o seu caráter original.
Entre 1970 e 2004, a população de Florianópolis triplicou de tamanho, assim como o número de favelas. Mas a economia local cresceu cinco vezes e a renda também aumentou como consequência. Enquanto muitas cidades brasileiras se estão esforçando para tirar seus rendimentos da indústria e dos serviços, Florianópolis está tendo sucesso em outras áreas. Graças em parte a uma regra federal que por décadas barrou a indústria pesada na ilha, houve a fundação de várias universidades públicas e privadas que fazem desta uma das cidades mais acadêmicas do Brasil.
Para atender às demandas de seu público acadêmico, a cidade investiu pesadamente em estradas e escolas, sendo agora bem classificada em diferentes aspectos do desenvolvimento, como alfabetização (97 por cento) e eletrificação (perto de 100 por cento). Ao final de 1990, as empresas privadas foram migrando para a ilha, ou emergindo das "incubadoras" da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Entre as inovações que eclodiram da cidade estão a criação da urna eletrônica brasileira, que tornaram as eleições brasileiras livres de fraudes e eficientes. As autoridades locais dizem agora que o seu objetivo é tornar a região o "Vale do Silício brasileiro".
Além de suas praias de areia branca, Florianópolis oferece muitas atrações históricas, incluindo os locais dos colonos açorianos originais, a Lagoa da Conceição e Santo Antônio de Lisboa. O turismo em Florianópolis tem crescido significativamente nos últimos anos, com um número crescente de visitantes vindos de outras grandes cidades no Brasil (especialmente Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro), bem como de outros países da América do Sul (em especial a Argentina, com voos diretos oferecidos diariamente a partir Buenos Aires).
Além disso, um número maior de turistas de outras regiões também começaram a visitar a ilha (particularmente da Europa e dos Estados Unidos). À medida que o número de visitantes cresce a cada ano, Florianópolis enfrenta o desafio constante de garantir que sua infraestrutura e recursos limitados sejam atualizados para acomodar todos os turistas adequadamente. Entre os problemas particularmente preocupantes estão a falta de saneamento básico em algumas áreas, que muitas vezes drenam o esgoto diretamente para o oceano, o que polui as praias que atraem tantos visitantes.
Florianópolis tem sua economia alicerçada principalmente no setor de tecnologia da informação e comunicação. Conforme dados oficiais de 2013, conta com um polo de base tecnológica de mais de 600 empresas de software, hardware e serviços de alta tecnologia, sendo este setor o maior arrecadador de impostos e responsável por mais de 45% do PIB no município.
Turismo.
Considerada por muitos habitantes e turistas que a visitam como detentora de uma beleza singular, dotada de fortes traços da cultura açoriana, observados nas edificações, artesanato, no folclore, culinária e nas tradições religiosas, Florianópolis tem no seu turismo diversificado uma de suas principais fontes de renda. Presentemente, dentre os atrativos turísticos, além das praias, têm importância particular as localidades onde se instalaram as primeiras comunidades de imigrantes açorianos, como Ribeirão da Ilha, Lagoa da Conceição, Santo Antônio de Lisboa e o próprio centro histórico. Ocorrem diversos eventos na cidade ao longo do ano inteiro, merecendo destaque pela sua peculiaridade, relevância econômica, projeção e consistência: a Festa Nacional da Ostra (FENAOSTRA) e o "Ironman". Sedia, anualmente, a única etapa latino-americana do campeonato mundial de triatlo radical.
A Praça XV de Novembro é o principal ponto de convergência da cidade. Destaca-se por seus valores arquitetônicos, culturais e comportamentais. Este logradouro existe com notável relevo desde a fundação de Florianópolis, época em que a ilha nem sequer se denominava Desterro. Tudo começou por intermédio do fundador, Francisco Dias Velho, que, no ponto local mais elevado, estabeleceu sua moradia e, ao lado desta, ergueu sua então denominada "casa de reza" (a atual Catedral Metropolitana). Somados a seus valores interiores, neste ponto principal do centro urbano se veem, além da bela e famosa figueira centenária, vários monumentos e hermas que reverenciam acontecimentos e vultos da história catarinense e brasileira. A Praça XV mostra, em seu derredor, construções históricas que não raro serviram para sediar governos que delas ditavam leis às gentes ilhoa e barriga-verde.
Infraestrutura.
Transportes e energia.
O Aeroporto Internacional Hercílio Luz de Florianópolis firmou-se, nas últimas temporadas de verão, como um dos principais destinos brasileiros de turistas domésticos e internacionais. Recebe mais de 3,5 milhões de passageiros por ano. Um novo terminal de passageiros foi inaugurado em 2019, após a concessionária Floripa Airport assumir a gestão do aeroporto, o que deve aumentar ainda mais o movimento. O transporte marítimo é pouco utilizado no município, exceto em função do turismo. No entanto, existem linhas regulares de transporte lacustre na Lagoa da Conceição, ligando a localidade da Costa da Lagoa — isolada por terra — à sede do distrito e à margem oposta da Lagoa.
Florianópolis tem a pior malha viária entre as 27 capitais brasileiras e a segunda pior do mundo num universo de 164 núcleos urbanos, conforme pesquisa da Universidade de Brasília (UnB, 2006), com dados atualizados em 2015. Um dos principais critérios para a elaboração do ranking foi o valor de integração para cada uma das vias das cidades analisadas, isto é, a representação numérica do quão acessível é cada rua ou avenida em relação às demais.
No transporte rodoviário há a Estação Rodoviária Rita Maria. No transporte público em Florianópolis é realizado principalmente através de ônibus. Destaca-se o Sistema Integrado de Mobilidade, formado por seis Terminais de Integração: na região central, o TICEN – Terminal de Integração do Centro e o TITRI – Terminal de Integração da Trindade; no leste o TILAG – Terminal de Integração da Lagoa; no sul o TIRIO – Terminal de Integração do Rio Tavares; e no norte o TISAN – Terminal de Integração de Santo Antonio e o TICAN – Terminal de Integração de Canasvieiras. Outros três terminais foram construídos mas nunca usados.
Nesse sistema, as linhas alimentadoras ligam os bairros aos terminais regionais, que por sua vez se ligam ao TICEN pelas linhas principais. Ainda existe em Florianópolis o chamado Transporte Executivo, cujos ônibus são mais confortáveis e mais caros, que não possui pontos de parada predefinidos. O sistema de ônibus de Florianópolis é operado pelas empresas Transol, Estrela-Insular, Emflotur-Biguaçu, e Canasvieiras, que formam o Consórcio Fênix. É também intenso o tráfego de ônibus coletivos vindos dos municípios vizinhos. O sistema intermunicipal urbano, que atende à região metropolitana, é operado por cinco empresas, sendo duas do grupo de empresas do Consórcio Fênix - Estrela e Biguaçu - e outras três distintas - Jotur, Santa Terezinha e Imperatriz. Além disso, as linhas intermunicipais, interestaduais e internacionais, têm operação no Terminal Rodoviário Rita Maria.
Florianópolis é atendida com a rede de distribuição da Celesc e rede de transmissão da Eletrosul. É a sede de diversas empresas de energia, onde se destacam Eletrosul e Tractebel, além de empresas menores como BAESA, Enercan, Foz do Chapecó, Maesa e TSLE. Conta também com uma unidade do ONS.
Planejamento urbano.
Florianópolis, apesar de suas particularidades, não é um caso extremo em comparativo com a realidade brasileira no que diz respeito ao processo histórico de planejamento urbano, ainda que a precariedade de alguns aspectos de sua infraestrutura urbana possa denotar o contrário. Como largamente discutido dentre pesquisadores em planejamento urbano, o Brasil está marcado em sua história urbana por experiências de planejamento pontuais e/ou reformas de cunho infraestrutural ou paisagístico. Excetuando-se o planejamento e execução de cidades novas, a política urbana foi ser nacionalizada somente nos anos 1960, o que pode ser visto em Florianópolis.
Na capital catarinense, os primeiros traços de planejamento puderam ser vistos nos núcleos de fundação dos séculos XVIII e XIX, de claro padrão da colonização portuguesa Posteriormente, foram realizadas reformas higienistas e de infraestrutura, especialmente no início do século XX, que alteraram a configuração urbana principalmente do centro da cidade. Estas reformas tiveram como principal consequência a segregação socioespacial de determinados grupos e também a deterioração da condição ambiental de rios e mananciais que cruzavam a região central neste período. A cidade, muito desarticulada neste momento, dependia da relação entre continente e o centro insular, por via do transporte marítimo e da ponte Hercílio Luz.
Consequentemente, foi elaborado o primeiro plano diretor da cidade, no ano de 1954 por um escritório de urbanismo sediado em Porto Alegre. De cunho funcionalista e com poucas considerações sobre a configuração urbana já existente, o plano previa zoneamento e diretrizes para sua aplicação na área insular, visando um reforço do centro como vetor do crescimento em detrimento das zonas continentais. Sua versão final, no entanto, nunca foi aplicada. Nas décadas de 1960 e 1970, já sob a égide da ditadura militar, ficou a cargo do urbanista Luís Felipe Gama D’Eça a releitura do plano anterior e a elaboração de um novo, que foi finalizado em 1976 com características regionalizantes e também de metropolização da ilha, de acordo com algumas das premissas do planejamento da Serviço Federal de Habitação e Urbanismo. No entanto, Gama D’Eça, que constituiu um plano de caráter modernista, racionalista e desenvolvimentista, foi excluído do processo de implantação do plano e da criação do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), preconizado por ele e fundado em 1977. Porém, mesmo com as significativas obras e reformas implementadas pelos militares nas décadas de 1970 e 1980, na prática o plano pouco alterou a dinâmica urbana local e os usos dados à cidade.
Neste contexto foi elaborado o plano de 1997. Possuindo características neoliberais, mas sendo o primeiro elaborado integralmente pela equipe do IPUF, mostrou-se contraditório em seus referenciais e sofreu críticas tanto de técnicos quanto da população. Já em 2001, com a promulgação do Estatuto da Cidade, percebeu-se a necessidade da elaboração de um novo plano, menos tecnocrático. A elaboração e implantação do plano já sob a égide desta lei e com orientação do Ministério das Cidades se mostrou conturbada e com diferentes processos: em um primeiro momento, por via de um processo participativo distribuído geograficamente, sendo substituído por um elaborado por uma consultoria privada de origem argentina e sofrendo várias alterações na câmara de vereadores e uma aprovação com diversos conflitos, entre os anos de 2013 e 2014.
Desde aprovado, este Plano Diretor foi alvo de análises, críticas e reivindicações, especialmente por setores da sociedade civil e pesquisadores da área de planejamento urbano. Desde 2014 tem sido alvo de disputas jurídicas dentre diferentes instâncias governamentais, como o município de Florianópolis, o Ministério Público Federal e o Superior Tribunal de Justiça.
Cultura.
Teatro.
Há três teatros de médio e grande portes em Florianópolis: o Teatro Ademir Rosa, localizado no Centro Integrado de Cultura (CIC), o Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), na Praça Pereira Oliveira e o Teatro Governador Pedro Ivo, situado no Centro Administrativo do Estado (SC 401). Existem ainda salas menores como o Teatro da Igrejinha na Universidade Federal de Santa Catarina, Teatro da UBRO, Teatro Armação, a sala de teatro do SESC e espaços teatrais alternativos como a Casa de Máquinas do Casarão da Lagoa, todas na parte insular da cidade.
Museus e galerias de arte.
São variados os museus e galerias na capital catarinense. Na região central, destacam-se o Museu Victor Meirelles, que fica na casa onde viveu o pintor e tem suas obras em exposição, a galeria de arte da "Fundação Cultural Badesc" e o Museu de Florianópolis Sérgio Grando, localizado no prédio reformado onde ficava a Casa de Câmara e Cadeia. No Centro Integrado de Cultura (CIC) ficam o Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), o "Museu da Imagem e Som" e o "Espaço Lindolf Bell". No Palácio Cruz e Souza, está instalado o Museu Histórico de Santa Catarina, com relíquias que contam um pouco da história do estado. Outros espaços são o "Museu de Armas Major Lara Ribas", localizado no Forte Sant'Ana (ao lado da Ponte Hercílio Luz), que expõe artigos bélicos e históricos, a "Galeria de Arte" e o "Museu Universitário" da Universidade Federal de Santa Catarina e a galeria do "Espaço Cultural Arquipélago", localizado no bairro Agronômica. A "Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes" (Fundação Franklin Cascaes) foi fundada em e hoje está instalada no Forte de Santa Bárbara.
Literatura e música.
A cidade tem sua academia de letras, a Academia Desterrense de Letras, cujo patrono é o poeta Cruz e Sousa, localizada no Centro Integrado de Cultura (CIC), que também abriga a Biblioteca Pública de Santa Catarina, a maior e mais antiga do estado. Na cidade também está sediada a Academia Catarinense de Letras, fundada em 1920.
Cruz e Sousa (1861-1898), poeta natural de Florianópolis, foi expoente do simbolismo no Brasil, marcado pela publicação em 1893 de "Missal" e "Broquéis".
Em Florianópolis estão sediadas as seguintes orquestras: Orquestra Filarmonia Santa Catarina; Orquestra Sinfônica de Santa Catarina (OSSCA); Orquestra Sinfônica de Florianópolis; Camerata Florianópolis; Orquestra Sinfônica das Comunidades (OSCOM); Orquestra Experimental do Instituto Federal de Santa Catarina (OEXP) e Orquestra de Cordas da Ilha.
Desde 2013 a Orquestra de Baterias de Florianópolis reúne anualmente centenas de bateristas para tocar em conjunto em pontos históricos da cidade, considerada pela organização "o maior encontro de baterias das Américas". Em 2019 ocorreu sua maior edição, contando com 590 bateristas na Passarela Nego Quirido.
Cinema.
No passado, Florianópolis tinha diversas salas em vários pontos do Centro da cidade, as quais foram desaparecendo com o tempo e as mudanças sociais e tecnológicas. O primeiro deles foi o Cassino, que mudou várias vezes de nome, sendo depois o Cine Glória, o Cine Imperial, o Cine Coral e depois Cine Carlitos. Hoje seu prédio abriga serviços públicos da prefeitura. Outras eram o Cine Rex, mais tarde renomeado como Cine Ritz, o Cine Roxy, o Cine Odeon - este no Teatro Álvaro de Carvalho - o Cine Cecomtur, o Cine Palace, o Cine Lido e o Cine São José - neste último estreou o primeiro longa-metragem catarinense, "O Preço da Ilusão", inteiramente filmado na cidade.
Na atualidade, as salas de cinema comerciais ficam dentro dos "shopping centers" da cidade, pertencendo a grandes redes. Como a maior parte dos shoppings fica na região mais central da cidade, apenas recentemente as primeiras salas de cinema abriram no norte e sul da Ilha, mas também dentro de centros comerciais recém-abertos dessas regiões.
Além disso, há salas de circuito de arte no Centro Integrado de Cultura (CIC), no Espaço Cultural Sol da Terra e no Paradigma Cine Arte. Florianópolis conta também com cineclubes como o Rogério Sganzerla da Universidade Federal de Santa Catarina, Cineclube da Alliance Française localizado na Fundação Cultural Bradesco, Cineclube "Ó Lhó Lhó" no Instituto Federal de Santa Catarina, Cineclube Carijó no bairro Canasvieiras e Cinema Falado no Museu Victor Meirelles.
Esportes.
Diferentes esportes, coletivos e individuais, possuem destaque na história de Florianópolis. Anualmente se disputam na cidade etapas do "Ironman", além de maratonas e outras provas, como a Volta à Ilha, maior corrida de revezamento por equipe em extensão da América Latina.
Gustavo Kuerten, o Guga, nasceu na cidade e é considerado o maior tenista masculino brasileiro de todos os tempos, tendo sido vencedor de três torneios de Roland Garros, um dos Grand Slam, e alcançado o topo do ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais). Por sua carreira, foi condecorado com posição no Hall da Fama da ATP. Graças a fama de Guga, Florianópolis tornou-se um polo da modalidade e recebeu diversos torneios, como a Copa Davis e a Fed Cup (atual Copa Billie Jean King).
O skate tem se destacado como um esporte importante, com áreas voltadas aos skatistas em diversos bairros, com destaque para o bairro do Rio Tavares. Isadora Pacheco e Yndiara Asp, ambas campeãs nacionais na modalidade park, e Pedro Barros, campeão mundial e multi medalhista nos X Games na mesma modalidade, representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2021, com Pedro conquistando a medalha de prata. A pista de skate na Costeira do Pirajubaé é a maior do Sul do Brasil e recebe uma das etapas do circuito nacional.
Como a cidade é principalmente localizada em uma ilha cercada de outras pequenas ilhas, é uma de suas atrações como atividades esportivas o mergulho livre e autônomo. As localidades mais frequentadas para este esporte são a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e a ilha do Campeche. Outros esportes relacionados a água são populares, como o remo, cujo auge foi no período anterior ao aterro da Baía Sul. Porém, ainda hoje, há três clubes principais que formam atletas nas principais categorias disputadas: Clube de Regatas Aldo Luz; Clube Náutico Francisco Martinelli e Clube Náutico Riachuelo. Estas equipes formaram atletas brasileiros que disputaram os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, como Gibran Vieira da Cunha, Fabiana Beltrame, que em 2004 foi a primeira remadora brasileira a participar das Olímpiadas, e Josiane Lima, que com o bronze nas Paralimpíadas de 2008 conquistou a primeira medalha olímpica do Brasil no esporte. Os três ficam sediados no Parque Náutico Walter Lang, no Centro, em frente ao estreito entre as baías.
Na natação, o grande destaque foi Fernando Scherer, o "Xuxa", que conquistou diversas medalhas e recordes mundiais e olímpicos. Ainda na água, o surfe também é bastante popular entre profissionais e amadores, com dezenas de praias com ondas adequadas e um clima variado que ajuda na adaptação de surfistas brasileiros, que precisam enfrentar águas frias em competições mundiais. A cidade recebeu diversas competições da modalidade, incluindo etapas do WCT, a primeira divisão do surfe masculino, em 1986, 1987 e 1989, na Joaquina, e também do WQS, a segunda divisão, que teve dois bicampeões locais, os irmãos Teco Padaratz, nos anos 1990, e Neco Padaratz, nos anos 2000. Além deles, Adriano de Souza, o Mineirinho, campeão mundial do WCT em 2018, é radicado na cidade desde 2010.
Florianópolis também se destaca no cenário nacional do rúgbi. O Desterro Rugby Clube, fundado em 1995, venceu o Campeonato Brasileiro de Rugby XV em três oportunidades, em 1996, 2000 e 2005, e também um Brasil Sevens em 2014.
Um esporte cujas equipes locais tiveram teve grande destaque nacional foi o voleibol, primeiramente com a equipe masculina da Unisul, a partir do final da década de 1990. Após conquistar a temporada 2003–04 da Superliga, a equipe transferiu-se para a cidade vizinha de São José e depois para Joinville, onde ficou até a Unisul encerrar o time. Em 2005, Florianópolis passou a ser representada na Superliga Masculina pela Cimed, fundada naquele ano. Esta participou de seis edições da Superliga, sendo finalista em cinco delas e conquistando quatro títulos, o primeiro em 2005-06, o segundo em 2007-08, o terceiro em 2008-09 e o quarto em 2009-10, além do Sul-Americano de 2009. O time continuou por mais um ano após a saída da Cimed em 2012, com o nome de Super Imperatriz Volêi, até ser desativado.
O automobilismo teve seus momentos: a cidade não tem um autódromo, mas entre 1986 e 1997, um circuito de rua era feito no Centro, recebendo provas da Fórmula 2 Sul-Americana, da Fórmula 3 Sul-Americana e da Fórmula Ford. Um outro circuito de rua foi feito no início dos anos 2000 na Via Expressa Sul, onde aconteceram edições da Copa Clio e da Fórmula Renault. Além dessas competições, sete edições do Desafio Internacional das Estrelas, uma competição amistosa de kart, foram realizadas na cidade, no Kartódromo dos Ingleses e na Arena Sapiens Park, que foi construída para o evento, atraindo grandes estrelas dos esportes a motor.
Futebol.
O esporte mais popular do Brasil, o futebol, teve diversos representantes ao longo dos anos, tanto no masculino quanto no feminino. Dois clubes profissionais de futebol masculino se mantiveram até hoje e juntos possuem 36 títulos catarinenses, o que é um recorde no estado. Desde 1924, disputam o chamado "Clássico de Florianópolis".
O Avaí foi fundado em 1923 e tem como cores o azul e o branco. É conhecido como "o Leão da Ilha" ou "o Time da Raça". Joga no bairro Carianos, no estádio Aderbal Ramos da Silva, mais conhecido como "Ressacada". Teve em seu plantel jogadores famosos no Brasil inteiro, como Zenon, Lico e Renato Sá, todos catarinenses. Foi campeão brasileiro da Série C em 1998, sendo a primeira equipe catarinense a vencer uma das divisões do Campeonato Brasileiro, e também foi campeão do Campeonato Catarinense por 18 vezes, a última em 2021. Na maior parte dos anos 2000 o clube permaneceu na Série B nacional, até 2008, quando subiu pela primeira vez nos pontos corridos, e desde então o clube alternou entre a primeira e a segunda divisão, tendo destaque para a campanha de 2009, quando terminou a Série A na sexta colocação, a melhor posição de um clube catarinense na competição. Em 2023 disputa a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
O Figueirense foi fundado em 1921 e tem como cores o preto e o branco. Apelidado por seus torcedores de "Figueira", também é conhecido como "O Furacão do Estreito", "A Máquina do Estreito" ou "Esquadrão de Aço" - o bairro Estreito, na parte continental da cidade, é onde fica localizado o estádio onde joga a equipe, o estádio Orlando Scarpelli. Conquistou 18 vezes o título estadual, sendo o mais recente o de 2018, o que faz dele o maior vencedor do Campeonato Catarinense junto do seu rival Avaí. Em 2007, tornou-se o primeiro clube da capital a chegar a uma final nacional, sendo vice-campeão da Copa do Brasil. Atualmente o clube faz parte da Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro, tendo também alternado entre a Série A e a Série B desde 2009, sendo que no período de 2002 a 2008 esteve consecutivamente na Série A, o que nenhum outro clube catarinense jamais conseguiu.
Além dos dois, outros três clubes de futebol masculino da cidade venceram Campeonatos Catarinenses: o Externato em 1925, o Atlético Catarinense em 1934 e o Paula Ramos em 1959. Destas, o Atlético, equipe relacionada ao Exército, encerrou as atividades; o Externato se afastou do futebol de campo, se fundindo mais tarde com o rival Internato - ambos originaram-se no Colégio Catarinense - formando a Associação Desportiva Colegial, que ganhou destaque no futebol de salão; e o Paula Ramos Esporte Clube existe até hoje, não tendo mantido o departamento de futebol, mas sendo ainda ativo em outros esportes - com destaque para a parceria de sucesso com o Figueirense no futebol 7: o Figueirense/Paula Ramos, cuja equipe feminina é tricampeã mundial e já conquistou todos os títulos da modalidade.
No futebol feminino, Florianópolis tem duas equipes profissionais: após tentativas tímidas de ter uma equipe profissional, o Avaí fez parceira com o Kindermann, clube de Caçador, formando o Avaí/Kindermann, equipe que venceu as quatro últimas edições do Campeonato Catarinense, sido finalista do Campeonato Brasileiro em 2020 e participado da Copa Libertadores de 2020 e 2021. Com o fim das atividades do Kindermann, o Avaí assumiu a gestão da equipe integralmente. A outra equipe da cidade é o Açores, que se profissionalizou recentemente e disputou o Campeonato Catarinense de 2021.
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889 | The X-Files | The X-Files
The X-Files () é uma série de televisão norte-americana de ficção científica criada por Chris Carter. A série foi exibida originalmente entre 10 de setembro de 1993 e 19 de maio de 2002, no canal norte-americano Fox, e em um reavivamento de duas temporadas adicionais exibidas entre 24 de janeiro de 2016 e 21 de março de 2018. Além da série de TV, dois filmes também integram sua franquia: "The X-Files", lançado em 1998, que ajuda a explorar a história maior narrada pela série e "", lançado em 2008, que serve apenas como um evento episódico.
Na série, os agentes especiais do FBI, Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson), investigam os Arquivos-x: casos não solucionados envolvendo fenômenos paranormais. Mulder acredita na existência de extraterrestres e em paranormalidade, enquanto Scully, uma médica cética, é designada para fazer análises científicas das descobertas de Mulder e propor alternativas racionais ao seu trabalho. Ainda no começo da série, ambos os agentes tornam-se alvo de uma trama conspiratória e passam a confiar apenas um no outro e em outras poucas pessoas. Os agentes também descobrem os planos do governo de manter a existência de vida extraterrestre um segredo. Eles desenvolvem um relacionamento próximo, começando com um sentimento platônico e depois tornando-se um relacionamento romântico no término da série. Além dos episódios que ajudam a explorar esta história maior contada pela série, há também histórias curtas, que lidam com o paranormal, contadas em apenas um episódio.
"The X-Files" foi inspirada por séries de TV anteriores que também tiveram elementos de suspense e ficção científica, como "The Twilight Zone", "Night Gallery", "Tales from the Darkside", "Twin Peaks", e especialmente "". As primeiras sete temporadas tiveram Duchovny e Anderson em igualdade como protagonistas. Nas oitava e nona temporadas, Anderson continuou enquanto Duchovny aparecia esporadicamente. Novos atores foram adicionados ao elenco principal: Os agentes do FBI John Doggett (Robert Patrick) e Monica Reyes (Annabeth Gish), e também o chefe de Mulder e Scully, Diretor-Assistente Walter Skinner (Mitch Pileggi) foi promovido ao elenco principal. As primeiras cinco temporadas foram filmadas em Vancouver e a partir da sexta temporada a produção se deu em Los Angeles. Para a produção do segundo filme e do reavivamento da série, a produção voltou a Vancouver.
"The X-Files" foi um sucesso para a emissora norte-americana Fox e recebeu críticas amplamente positivas, porém, sua história maior foi criticada próximo ao seu final. Inicialmente considerada uma série com uma legião específica de fãs, tornou-se parte da cultura popular que indagou temas como descrença a governos, teorias da conspiração e espiritualidade. Tanto a série em si quanto seus atores principais receberam múltiplas nomeações e prêmios e, à época de sua conclusão foi a série mais longa de ficção científica da história da TV norte-americana, vindo a perder este posto posteriormente para "Stargate SG-1".
No Brasil, foi exibido pela Rede Record e pela Fox Brasil. Estava disponível no catálogo da Netflix e atualmente está disponívle na Star+. Também já foi reprisado pelo canal por assinatura TCM ou através do serviço de TV pela internet Telecine Play. Em 11 de março de 2022, a série voltou a ser exibida na televisão aberta, desta vez pela pela Rede Brasil de Televisão. Em Portugal, foi originalmente emitida pela TVI, tendo sido retransmitida nos últimos anos pela Fox. Desde 19 de Outubro de 2015, a RTP Memória passou a reexibir a série de 2ª a 6ª feira, no horário das 23 horas, integrada no novo programa-tipo da estação. Trata-se de uma decisão histórica, pois é pela primeira vez que a RTP Memória exibe uma produção que tinha sido exibida numa emissora de televisão privada, e nunca a RTP tinha exibido esta série em toda a sua vida. Atualmente, a RTP Memória tem alcançado verdadeiros níveis históricos de audiências graças à exibição da série, e a série tem alcançado grande sucesso neste canal.
Em sua primeira exibição, a série totalizou 202 episódios divididos em nove temporadas. Em Março de 2015, foi anunciado o retorno da série no formato de uma minissérie, com as filmagens começando em meados de 2015. Chris Carter retornaria como produtor executivo e escritor. David Duchovny, Gillian Anderson e Mitch Pileggi foram confirmados na atuação de seus personagens. A estreia foi em 24 de Janeiro de 2016. A décima temporada foi exibida entre 24 de janeiro de 2016 e 22 de fevereiro de 2016, e a décima primeira temporada foi exibida entre 3 de janeiro de 2018 e 21 de março de 2018.
Produção.
Concepção.
Em 1992, o novo presidente do braço de produção da Fox, Peter Roth, chamou Chris Carter para produzir uma série para o canal. Apesar de anos fazendo comédias, Carter tinha a ideia de fazer uma produção sombria, que descreveu a Roth como uma versão mais nova de "", que também teria inspiração nas séries "Além da Imaginação" e "Alfred Hitchcock Presents". Roth se entusiasmou, apesar de Carter dizer que não queria os vampiros da série - então popularizados com "Interview with the Vampire" - mas um foco maior em OVNIs e o paranormal. Para ter um conceito mais estável que o de "Kolchak", Carter resolveu se basear em "The Silence of the Lambs" e firmar a série a partir de dois agentes do FBI que resolveriam casos não totalmente resolvidos, Fox Mulder - batizado com o nome de um vizinho de infância e o sobrenome de solteira de sua mãe - e Dana Scully - com o sobrenome inspirado pelo locutor de beisebol Vin Scully (e o parceiro de Scully, Jerry Doggett, batizaria o substituto de Mulder na oitava temporada, John Doggett). Também agregou uma conspiração para evitar o vazamento de informações sobre os alienígenas, inspirado nas investigações do caso Watergate.
O projeto inicial do autor acabou sendo recusado pelos executivos da emissora, o que fez com que ele voltasse a revisar o conceito do projeto para reapresentá-lo algumas semanas depois. Após a revisão, o projeto obteve aprovação do vice-presidente do canal, Pete Greenblatt, levando Carter a expandir seu esboço de roteiro para um episódio piloto. Este seria filmado em Vancouver, que tinha custos de filmagens menores que os de Los Angeles e oferecia boas florestas para locação. Carter uniu-se ao produtor Daniel Sackheim, que trabalhava na série policial "NYPD Blue", e produziu o material inicial da série, baseando-se no documentário "The Thin Blue Line" e no programa televisivo britânico "Prime Suspect". Após testes, escolheram para interpretar os protagonistas David Duchovny, que gostara do roteiro mas pensou que o piloto seria apenas um serviço antes de participar de mais filmes, e a desconhecida Gillian Anderson, que só tinha um trabalho na TV até o momento e fez o teste querendo mais visibilidade para conseguir novos papéis. O piloto de "Arquivo X" foi filmado ao longo de duas semanas em março de 1993, e dois meses depois foi aprovado pelos executivos da Fox. Carter estava determinado em tornar a relação entre os dois personagens principais da trama estritamente platônica, baseando o estilo de interação entre eles no que foi utilizado pelo autor Sydney Newman no seriado televisivo "The Avengers" para o casal de personagens Emma Peel e John Steed. A série ganhou um horário na noite de sexta, porém a emissora colocava mais fé no programa imediatamente anterior a "Arquivo X", o "western" "The Adventures of Brisco County, Jr" - que sofreria com baixas audiências e duraria só uma temporada, em contraste ao contínuo aumento de espectadores de "Arquivo X".
A clássica série "cult" dos anos 1990 "Twin Peaks" foi uma grande influência para a criação da atmosfera obscura misturada com um toque surreal de drama e ironia dada à série. Duchovny já havia aparecido nessa mesmo "show" travestido como uma agente da DEA, e o personagem Mulder havia sido comparado com o também agente do FBI Dale Cooper (que era mais um dos personagens de "Twin Peaks").
Música.
O compositor Mark Snow se envolveu com "Arquivo X" através de uma amizade com o produtor executivo R.W. Goodwin. Inicialmente, quando a equipe de produção falava sobre quem iria ser o encarregado das composições, Chris Carter não sabia a quem perguntar. No total, de 10 a 15 pessoas foram vistas, mas Goodwin continuou a pressionar para Snow ser o chefe de composição. Snow fez três audições, mas não recebeu nenhum aviso da produção se iria ou não trabalhar na série. Então um dia, o agente de Snow ligou para ele, falando sobre o episódio piloto, e dizendo que ele havia conseguido a parte.
Enquanto Snow mostrava suas propostas de um tema para Carter, o produtor os rejeitava. Carter saiu da sala e Snow colocou a mão e o antebraço no seu teclado em frustração. Um som ecoante surgiu, e tanto Snow quanto Carter consideraram bastante adequado para a música de abertura. O segundo episódio, "Deep Throat", foi a primeira vez que Snow compôs sozinho a trilha sonora de um episódio inteiro de Arquivo-X.
Snow também compôs a trilha sonora para o filme "" e a lançou no álbum "The X-Files: I Want to Believe: Original Motion Picture Score". As músicas foram gravadas com a Hollywood Studio Symphony em maio de 2008 no Newman Scoring Stage. A banda britânica UNKLE gravou uma nova versão da música tema para os créditos final do filme.
Sinopse.
O Arquivo X é um arquivo que contém relatos sobre casos paranormais não explicados que acabaram guardados no subsolo do FBI. Mais tarde, foram achados pelo agente Fox Mulder. Desacreditado e debochado pelos outros membros do FBI, Mulder começa a investigar esses arquivos X, que contêm casos de abduções e parecem envolver uma conspiração do governo americano para esconder a existência de vida extraterrestre. Nos arquivos, também se encontram casos envolvendo satanismo, relatos de aparições de fantasmas, ocultismo e outros casos misteriosos.
Sua busca pela verdade também tem, como meta, encontrar sua irmã, raptada há mais de vinte anos e que ele acredita ter sido abduzida por alienígenas.
Na tentativa de invalidar as suas investigações e fechar o arquivo x, o FBI recruta a agente Dana Scully, uma agente que, além de médica, cientista e legista, é cética e deve reportar e dar uma explicação científica para os estranhos casos que Mulder e ela vão investigar, mais ou menos como uma espiã. Entretanto, com o passar do tempo, a própria agente Scully começa a se dar conta de que as inacreditáveis teorias de seu parceiro fazem sentido e cada vez mais a sua ciência passa não mais a confrontar o que testemunha, mas a buscar respostas científicas para tais acontecimentos.
Pouco a pouco, Scully torna-se mais crente e sua parceria com Mulder evolui a estágios inesperados de grande amizade (nas temporadas seguintes, um romance) e cumplicidade na busca pela verdade e para desbaratar a grande conspiração que envolve os altos escalões do governo americano.
Temas.
Abordando temas tais como teorias da conspiração envolvendo alienígenas, encobrimentos governamentais de alto nível e paranormalidade, a série conseguiu conjugar características de séries como "A Quinta Dimensão", "Além da Imaginação" e "Twin Peaks". Também abordava, frequentemente, temas mais místicos, como satanismo, relatos de aparições de fantasmas, ocultismo, e outros arquivos x sem explicações.
Os filmes "All the President's Men", "Three Days of the Condor", "Close Encounters of the Third Kind", "Raiders of the Lost Ark", "Rashomon", "The Thing", "The Boys from Brazil" e "JFK" também foram citados como inspirações pelos produtores. O episódio "Triangle", por exemplo, teve o uso de planos contínuos inspirado em "Rope", de Alfred Hitchcock. Além deste, outros capítulos tiveram seus roteiros influenciados por outras grandes obras do cinema e da televisão.
O sucesso da série.
Arquivo X fez tanto sucesso que originou um "spin-off" chamado "The Lone Gunmen" (lit. 'Os Pistoleiros Solitários'), focado nos três amigos de Mulder que investigam atividades secretas do governo norte-americano. Suas descobertas são publicadas num jornal independente chamado de A Bala Mágica, publicado pela editora Os Pistoleiros Solitários, batizado em homenagem à teoria de que um segundo atirador estaria envolvido no assassinato de John Kennedy. Arquivo X foi celebrado pela crítica e público e também tornou-se um fenômeno internacional. O tom conspiratório com mistura de paranoia e terror encantou muitos telespectadores. É um dos maiores fenômenos de audiência dos últimos anos. Com fãs no mundo todo, a série já foi exibida em mais de trinta países. Foi premiada com o Globo de Ouro como melhor série dramática de televisão e vários prêmios Emmy ao longo dos nove anos da série. Foi líder em audiência em vários países como Austrália, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal, entre outros.
Filmes.
O primeiro filme foi "Arquivo X: O Filme" e o segundo foi . O primeiro filme ocorre entre a quinta e a sexta temporada da série. Enquanto o segundo filme ocorre seis anos após os eventos do final da nona temporada, em 2008.
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890 | Função química | Função química
Em química, o grupo de algumas substâncias compostas que possuem propriedades químicas semelhantes, denominadas propriedades funcionais, recebe o nome de função química.
Quando um determinado elemento possui características como acidez ou basicidade, solubilidade em água, reatividade de acordo com determinada função química, diz-se que este pertence a esta função química. As funções químicas são divididas de acordo com a divisão clássica.
Existem quatro tipos de função inorgânica: óxido, ácido, base e sal. O critério de classificação dessas funções é o tipo de íons que se formam quando ela é dissolvida em água.
Em função da natureza inexistente dos compostos químicos, as funções podem primariamente ser divididas entre funções inorgânicas que são as funções de compostos que não possuem cadeia carbônica, que é a principal característica desses compostos. Classificação de óxidos, ácidos, bases e sais minerais são funções orgânicas em referência em H2O.
Óxidos.
Óxidos são compostos binários em que o elemento oxigênio apresenta número de oxidação igual a -2 e é o mais eletronegativo da fórmula tornando-o o mais potente elemento.
As propriedades de um óxido dependem das características específicas do elemento formador.
Classificação dos óxidos.
Obs: os óxidos anfóteros se comportam como óxidos básicos na presença de ácidos e como óxidos ácidos na presença de bases.
Obs2: os óxidos mistos são a "soma" dos óxidos formados por um elemento, ou seja, é uma nuvem com todos os tipos de óxidos desse elemento:
Nomenclatura dos óxidos.
a) para qualquer óxido
Exemplos:
b) para elementos com nox fixo
Exemplos:
c) para elementos que não apresentam nox fixo
Exemplos:
d) para óxidos ácidos (ou anidridos) apenas
Exceções: para os elementos B+3, C+4 e Si+4 só se usa o sufixo "ico".
Exemplos:
Nomenclatura dos peróxidos.
Exemplos:
Nomenclatura dos superóxidos.
Exemplo:
Ácidos.
Segundo Arrhenius, ácido é toda a substância que libera um íon H+ em água, ou, mais detalhadamente substâncias que em meio aquoso se dissociam, liberando o cátion formula_13 e um ânion diferente de formula_14. A teoria atual de Brønsted-Lowry define como ácido uma substância capaz de receber um par de elétrons. Além disso, a teoria de Arrhenius também foi atualizada:
Classificação dos ácidos
a) de acordo com a presença de oxigênio
b) de acordo com o grau de dissociação iônica
Obs: o cálculo de α nos ácidos é igual ao desenvolvido nas bases.
Nomenclatura dos ácidos.
a) Hidrácidos
Exemplos:
b) Oxiácidos
Como podem ser obtidos através da hidratação dos óxidos ácidos, há a mesma sistemática de nomenclatura.
Obs: quanto menos oxigênio, menor é o nox do elemento central e quanto mais oxigênio, maior é o nox do mesmo, como mostra os exemplos abaixo.
Exemplos:
Bases.
Bases são, segundo Arrhenius, compostos que em meio aquoso se dissociam, liberando como ânion formula_14 e um cátion diferente de formula_13. A teoria atual de Lewis define como base uma substância capaz de doar um par de elétrons.
Classificação das bases.
a) de acordo com o grau de dissociação
É o mesmo cálculo usado nos ácidos
Nomenclatura das bases.
a) quando o cátion possui nox fixo
Exemplo:
b) quando o cátion não apresenta nox fixo
Exemplos:
Sais.
Sais são compostos que em meio aquoso se dissociam, liberando pelo menos um cátion diferente de formula_13 e pelo menos um ânion diferente de formula_14. São definidos, muito limitadamente, como compostos binários resultante da reação de um ácido e uma base.
Obs: Quando dissolvidos em água, seus íons dissociados ganham mobilidade e se tornam condutores de eletricidade
Classificação dos sais.
a) de acordo com a presença de oxigênio
b) de acordo com a presença de H+ ou OH-
Nomenclatura dos sais.
Regras básicas:
Exemplo:
b) para oxissais
Usamos uma extensão da tabela de óxidos ácidos e oxiácidos, pois a nomenclatura dos oxissais também depende do nox.
Exceções: Como os elementos B+3, C+4 e Si+4 só possuem sufixo "ico" na forma de ácido, quando sais, usa-se sempre o sufixo "ato".
Exemplos:
Obs: quando na fórmula do sal há um hidrogênio, acrescentamos o prefixo "bi" ao nome do cátion.
Funções Orgânicas.
São as funções de compostos que possuem uma cadeia carbônica com hidrogênios terminais definida. Álcool, fenol, cetona, aldeído e éter são exemplos de funções orgânicas.
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893 | Geologia | Geologia
Geologia, do grego γη- (geo-, "a terra") e λογος ("logos", "palavra", "razão") é uma das ciências da Terra que se dedica ao estudo da crosta terrestre, da matéria que a compõe, o seu mecanismo de formação, as alterações que ocorrem desde a sua origem e a estrutura que a sua superfície possui atualmente. A geologia foi essencial para determinar a idade da Terra, que se calculou ter cerca de 4,6 bilhões de anos, e a desenvolver a teoria denominada tectônica de placas, segundo a qual a litosfera terrestre, que é rígida e formada pela crosta e o manto superior, dispõe-se fragmentada em várias placas tectônicas, as quais se deslocam sobre a astenosfera, que tem comportamento plástico.
O geólogo ajuda a localizar e a gerir os recursos naturais, o petróleo e o carvão, e os metais, como o ouro, ferro, cobre e urânio, por exemplo. Muitos outros materiais possuem interesse econômico: as gemas, muitos minerais com aplicação industrial, como asbesto, pedra pomes, perlita, mica, zeólitos, argilas, quartzo, ou elementos como o enxofre e cloro.
A Astrogeologia é o termo usado para designar estudos similares de outros corpos do sistema celeste.
A geologia relaciona-se diretamente com muitas outras ciências, em especial com a geografia e a astronomia. Por outro lado, a geologia serve-se também de ferramentas fornecidas pela química, física e matemática, entre outras ciências, enquanto que a biologia e a antropologia servem-se da Geologia para dar suporte a muitos dos seus estudos. A palavra "geologia" foi usada pela primeira vez por Jean-André Deluc, em 1778, sendo introduzida de forma definitiva por Horace-Bénédict de Saussure, em 1779.
No Brasil, a profissão de geólogo é regulamentada pela Lei nº 4.076, de 23 de junho de 1962 e fiscalizada pelos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (CREA), instalados em todos os estados. Existem 35 cursos presenciais de graduação em Geologia e Engenharia Geológica, distribuídos em 18 das 27 unidades federativas brasileiras.
História.
Na China, Shen Kuo (1031 - 1095) formulou uma hipótese de explicação da formação de novas terras, baseando-se na observação de conchas fósseis de um estrato numa montanha localizada a centenas de quilómetros do oceano. O sábio chinês defendia que a terra formava-se a partir da erosão das montanhas e pela deposição de silte.
A obra "Peri lithon", de Teofrasto (372-287), estudante de Aristóteles, permaneceu por milénios como obra de referência na ciência. A sua interpretação dos fósseis apenas foi revogada após a Revolução Científica. A sua obra foi traduzida para latim e para outras línguas europeias.
O médico Georg Agricola (1494-1555) escreveu o primeiro tratado sobre mineração e metalurgia, "De re metallica libri XII," em 1556, no qual se podia encontrar um anexo sobre as criaturas que habitavam o interior da Terra ("Buch von den Lebewesen unter Tage"). A sua obra cobria temas como a energia eólica, hidrodinâmica, transporte e extracção de minerais, como o alumínio e enxofre.
Nicolaus Steno (1638-1686) foi o autor de vários princípios da geologia, como o princípio da sobreposição das camadas, o princípio da horizontalidade original e o princípio da continuidade lateral, três princípios definidores da Estratigrafia.
James Hutton é visto frequentemente como o primeiro geólogo moderno. Em 1785 apresentou uma teoria intitulada "Teoria da Terra" (Theory of the Earth) à Sociedade Real de Edimburgo. Na sua teoria, explicou que a Terra seria muito mais antiga do que tinha sido suposto previamente, a fim de permitir "que houvesse tempo para ocorrer erosão das montanhas de forma a que os sedimentos originassem novas rochas no fundo do mar, que ulteriormente foram levantadas e constituíram os continentes". Hutton publicou uma obra com dois volumes, acerca desta teoria, em 1795.
Em 1811, George Cuvier e Alexandre Brongniart publicaram a sua teoria sobre a idade da Terra, baseada na descoberta, por Cuvier, de ossos de elefante, em Paris. Para suportar a sua teoria, os autores formularam o princípio da sucessão estratigráfica.
Em 1830, Sir Charles Lyell publicou, pela primeira vez, a sua famosa obra "Princípios da Geologia." Contínuas revisões foram publicadas posteriormente, até à sua morte, em 1875. Lyell promoveu com sucesso durante a sua vida a doutrina do uniformitarismo, que defende que os processos geológicos são lentos e ainda ocorrem nos dias hoje. No sentido oposto, a teoria do catastrofismo defendia que as estruturas da Terra formavam-se em eventos catastróficos únicos, permanecendo inalteráveis após esses acontecimentos.
Durante o século XIX, a geologia debateu-se com a questão da idade da Terra. As estimativas variavam entre alguns milhões e os milhões de anos. No século XX, o maior avanço da geologia foi o desenvolvimento da teoria da tectónica de placas, nos anos 60. A teoria da deriva dos continentes foi inicialmente proposta por Alfred Wegener e Arthur Holmes, em 1912, mas não foi totalmente aceita até a teoria da tectónica de placas ser desenvolvida.
Campos da geologia e disciplinas relacionadas.
Existem muitos campos diferentes dentro da disciplina geologia, e seria difícil listá-los a todos. De qualquer forma, entre eles incluem-se:
Importantes princípios da geologia.
A geologia rege-se por princípios que permitem, por exemplo, ao observar a disposição actual de formações, estabelecer a sua idade relativa e a forma como foram criadas.
Princípio da Sobreposição das Camadas
Segundo este princípio, em qualquer sequência a camada mais jovem é aquela que se encontra no topo da sequência. As camadas inferiores são progressivamente mais antigas. Este princípio pode ser aplicado em depósitos sedimentares formados por acresção vertical, mas não naqueles em que a acresção é lateral (por exemplo em terraços fluviais). O princípio da sobreposição das camadas é válido para as rochas sedimentares e vulcânicas que se formam por acumulação vertical de material, mas não pode ser aplicado a rochas intrusivas e deve ser aplicado com cautela às rochas metamórficas.
Princípio da Horizontalidade Original
O princípio da horizontalidade original afirma que a deposição de sedimentos ocorre em leitos horizontais. A observação de sedimentos marinhos e não marinhos numa grande variedade de ambientes suporta a generalização do princípio.
Princípio das Relações de Corte
Este princípio, introduzido por James Hutton, afirma que uma rocha ígnea intrusiva, ou falha que corte uma sequência de rochas, é mais jovem que as rochas por ela cortadas. Esse princípio permite a datação relativa de eventos em rochas metamórficas, ígneas e sedimentares, sendo fundamental para o trabalho em terrenos orogênicos jovens e antigos. Este princípio é válido para qualquer tipo de rocha cortada por umas das estruturas acima relacionadas.
Princípio dos Fragmentos Inclusos
Este princípio de datação relativa diz que os fragmentos de rochas inclusas em corpos ígneos (intrusivos ou não) são mais antigos que as rochas ígneas nas quais estão inclusos. Este princípio, juntamente com o princípio das relações de corte, é fundamental em áreas formadas por grandes corpos intrusivos, permitindo a datação relativa não só de rochas estratificadas, mas também de rochas ígneas e metamórficas.
Princípio da Sucessão Faunística
O Princípio da Sucessão Faunística, ou Princípio da Identidade Paleontológica, diz que os grupos de fósseis (animais ou vegetais) ocorrem no registro geológico segundo uma ordem determinada e invariável, de modo que, se esta ordem é conhecida, é possível determinar a idade relativa entre camadas a partir de seu conteúdo fossilífero. Esse princípio, inicialmente utilizado como um instrumento prático, foi posteriormente explicado pela Teoria da Evolução, de Charles Darwin. Diversos períodos marcados por extinção de grande parte da vida, evidenciados nas rochas devido à escassez do conteúdo fossilífero, são conhecidos na história da Terra e levaram ao desenvolvimento da Teoria do Catastrofismo.
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896 | Geografia | Geografia
Geografia (do grego γεωγραφία, "geographia", literalmente "descrição da terra") é uma área da ciência dedicado ao estudo responsável por examinar a superfície do planeta Terra e compreender todos os aspectos físicos e humanos deste. A primeira pessoa a usar a palavra γεωγραφία foi Eratóstenes (276–194 aC). A geografia é uma disciplina abrangente que busca uma compreensão da Terra e suas complexidades humanas e naturais — não apenas onde os objetos estão, mas também como eles mudaram e vieram a ser. Embora a geografia seja específica do planeta Terra, muitos conceitos podem ser aplicados de forma mais ampla a outros corpos celestes no campo da ciência planetária.
A geografia é muitas vezes definida em termos de dois ramos: geografia humana e geografia física. A geografia humana está preocupada com o estudo das pessoas e suas comunidades, culturas, economias e interações com o meio ambiente, estudando suas relações com e através do espaço e lugar. A geografia física está preocupada com o estudo de processos e padrões no ambiente natural, como a atmosfera, hidrosfera, biosfera e geosfera. Para alguns, a Geografia também é uma prática humana de conhecer onde se vive, para compreender e planejar o local de moradia de um indivíduo. Um dos temas centrais da geografia é a relação homem-natureza. Ambos os ramos fazem uso de filosofias geográficas, conceitos e ferramentas semelhantes e muitas vezes têm sobreposição significativa. Um desses conceitos, a primeira lei da geografia, proposta por Waldo Tobler, é "tudo está relacionado a tudo o mais, mas coisas próximas são mais relacionadas do que coisas distantes".
As quatro tradições históricas em pesquisa geográfica são análises espaciais dos fenômenos naturais e humanos, estudos de área de lugares e regiões, estudos das relações homem-terra e ciências da terra. A geografia tem sido chamada de "a disciplina mundial" e "a ponte entre as ciências humanas e físicas".
Visão geral.
A geografia é uma ciência que estuda a relação entre a Terra e seus habitantes. Os geógrafos querem saber onde vivem os homens, as plantas e os animais, onde se localizam os rios, os lagos, as montanhas e as cidades. Estudam o porquê desses elementos se encontrarem onde estão e como eles se relacionam. A palavra "geografia" vem do grego "geographía" ("γεογραπηία"), que significa "descrição da Terra".
A geografia depende muito de outras áreas do conhecimento, para obter informações básicas, especialmente em alguns ramos especializados. Utiliza os dados da química, da geologia, da matemática, da história, da física, da astronomia, da antropologia e da biologia e, principalmente, da ecologia, pois tanto a Ecologia como a Geografia são estudos relacionados: ambos estão preocupados com as análises biológicas, de fatores geológicos e dos ciclos biogeoquímicos dos Ecossistemas, isto é, da relação entre os seres vivos (inclusive os povos) e seu meio ambiente.
Os geógrafos utilizam inúmeras técnicas, como viagens, leituras e estudo de estatísticas. Os mapas são seu instrumento e meio de expressão mais importante. Além de estudar mapas, os geógrafos os atualizam, graças às suas pesquisas especializadas, aumentando assim o nosso conhecimento geográfico.
Como o conhecimento da geografia é útil às pessoas em sua vida cotidiana, o aprendizado da geografia se inicia no jardim de infância ou no ensino fundamental e estende-se até à universidade. O objetivo básico do estudo da geografia é o desenvolvimento do sentido de direção, da capacidade de ler mapas, da compreensão das relações espaciais e do conhecimento do tempo, do clima e dos recursos naturais.
O homem sempre precisou e utilizou o conhecimento geográfico. Os povos pré-históricos tinham de encontrar cavernas e reservas regulares de água. Tinham também de morar perto de um lugar onde pudessem caçar, Saber localizar rastros de animais e trilhas de inimigos. Usavam carvão ou argila colorida para desenhar mapas primitivos de sua região nas paredes das cavernas e em peles secas de animais. Com o tempo, o homem aprendeu a lavrar a terra e a domesticar os animais. Essas atividades o forçaram a prestar mais atenção ao clima e à localização dos pastos.
Atualmente, não nos satisfazemos com um conhecimento geográfico limitado a área que circunda nossas casas. Hoje, nem mesmo basta às pessoas conhecer as terras e os mares próximos, como acontecia na época do império Romano. Para satisfazer nossas necessidades, precisamos saber um pouco da geografia da Terra inteira.
Ontologia.
Há muitas interpretações do que seria o objeto geográfico. Ratzel afirma que a Geografia estuda as "relações recíprocas entre sociedade e meio, entre a vida e o palco de seus acontecimentos". Filósofos que buscaram criar uma ontologia marxista, como Georg Lukács, influenciaram a construção de um modelo de análise do objeto da Geografia. Milton Santos se debruçou sobre a construção de um modelo ontológico, explicitado na análise dialética do movimento da "totalidade para o lugar".
Uma afirmação comum é de que "há tantas geografias quantos forem os geógrafos". Apesar das múltiplas possibilidades de orientações teórico-metodológicas caminharem em direções diferentes, deve-se respeitar a caracterização da Ciência Geográfica e as formulações acerca de seu objeto.
Cabe ainda afirmar que a distinção entre Geografia Humana e Geografia Física se refere aos ramos da Ciência Geográfica, pois as Geograficidades não apresentam essa fragmentação, decorrente exclusivamente da construção do conhecimento sobre a realidade.
De qualquer forma, a ciência deve dar conta de questionar a relação dialética do homem com a natureza; é impossível analisar o "meio natural" sem entender a relação que tem com o homem e, da mesma forma, é impossível analisar o "meio social" sem compreender as determinações que vêm da relação que ele tem com a natureza. Há ainda discussões entre a Geografia técnica e a Geografia escolar, porém ambas as partes do conhecimento científico são apuradas através do questionamento da razão, ou seja, derivam da filosofia grega.
Princípios básicos.
O estudo da geografia compreende quatro linhas de investigação principais. São elas:
Localização.
Uma das principais tarefas da geografia é dizer onde se situam as diferentes localidades do mundo e interpretar as vantagens e as desvantagens da localização. Assim que o homem começou a se afastar dos limites da sua casa, precisou medir as distâncias e registrar essas medidas. Começou a desenhar mapas grosseiros, para mostrar as distâncias e as direções. No I, quando começou a grande era das explorações, mais que nunca foram necessários cartógrafos (desenhistas de mapa) para registrar as descobertas dos novos continentes e oceanos.
O mapa não apenas mostra onde está um lugar, mas também fornece sua posição em relação a outros. ("Veja": mapa).
Descrição dos lugares.
Nem todas as pessoas se satisfazem em conhecer apenas a localização de um ponto da Terra, como Paris, São Paulo, a África ou o Ártico. Querem saber que tipo de ambiente a natureza oferece na região e o que as pessoas já fizeram nele. Querem saber como os habitantes utilizaram a terra, que tipo de casas construíram, como e onde construíram estradas, como são afinal eles próprios. Querem saber em que aspecto a região se assemelha e difere de outros lugares, e o que significa essa semelhança e diferença. Em outros tempos, os viajantes relatavam essas informações de viva voz. Hoje, as pessoas complementam esses relatórios com dados escritos, fotos tiradas do solo ou das alturas e com mapas, preparados com equipamentos de precisão extremamente eficazes.
Mudanças na face da Terra.
Quase todo mundo já viu exemplos de mudança na superfície da Terra. Algumas mudanças são feitas pelo homem, como por exemplo, a eliminação de uma favela ou a alteração do curso de um rio. Essas mudanças são em geral muito mais rápidas que as provocadas pela natureza, como, por exemplo, a formação de uma grande garganta pela ação da erosão, que demora milhões de anos para acontecer.
Muitas perguntas ocorrem aos geógrafos quando examinam as mudanças sofridas pela Terra: querem saber como os acidentes geográficos surgiram no lugar onde estão hoje, como o homem modificou a superfície da Terra, querem descobrir a aparência da Terra no passado, e por que as cidades se desenvolveram onde estão hoje. Os geógrafos também pretendem descobrir por que certas áreas do mundo são mais densamente povoadas que outras.
Relações espaciais.
As relações espaciais interessam tanto aos geógrafos quanto aos astrônomos. Os astrônomos estudam principalmente as relações entre os planetas, as estrelas e outros corpos celestes. Os geógrafos limitam seu estudo às relações espaciais entre os pontos da Terra. Por exemplo, estudam como o crescimento de uma cidade dependeu de um rio, e como a água do rio foi afetada pela cidade. Os geógrafos encaram os seres humanos em suas relações espaciais, assim como os historiadores veem a vida humana em suas relações temporais.
Os geógrafos sempre procuraram saber como os seres humanos se relacionam com o globo terrestre. As condições naturais podem limitar as possibilidades do ser humano, como no deserto, ou oferecer ótimas possibilidades de vida, como num vale fértil. As variações de tempo, as erupções vulcânicas e outras mudanças na natureza podem afetar as atividades diárias das pessoas. Além disso, as próprias pessoas são fator importante nas mudanças geográficas. Elas queimam florestas, escavam ou represam os leitos dos rios e provocam a erosão do solo. Os esforços para compensar os danos resultantes dessas alterações são parte importante dos movimentos de conservação da natureza.
Os geógrafos também estudam as ligações entre elementos geográficos. Por exemplo, podem investigar de que maneira as populações do Nordeste brasileiro dependem das chuvas, ou qual a relação entre o clima e o solo na África tropical.
História do pensamento geográfico.
A história do pensamento geográfico se inicia com os gregos, os quais foram a primeira cultura conhecida a explorar ativamente a Geografia como ciência e filosofia, sendo os maiores contribuintes Tales de Mileto, Heródoto, Eratóstenes, Hiparco, Aristóteles, Estrabão e Ptolomeu. A cartografia feita pelos romanos, à medida que exploravam novas terras, incluía novas técnicas. O périplo era uma delas, uma descrição dos portos e escalas que um marinheiro experiente poderia encontrar ao longo da costa; dois exemplos que sobreviveram até hoje são os périplos do cartaginês Hanão, o Navegador, e um périplo do mar eritreu, que descreve as costas do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico.
Durante a Idade Média, Árabes como Edrisi, ibne Batuta e ibne Caldune aprofundaram e mantiveram os antigos conhecimentos gregos. As viagens de Marco Polo espalharam pela Europa o interesse pela Geografia. Durante a Renascença e ao longo dos séculos XVI e XVII, as grandes viagens de exploração reavivaram o desejo de bases teóricas mais sólidas e de informação mais detalhada. A Geographia Generalis de Bernardo Varenius e o mapa-múndi de Gerardo Mercator são exemplos importantes.
Durante o , a Geografia foi sendo discretamente reconhecida como disciplina e tornou-se parte dos currículos universitários. Ao longo dos últimos dois séculos, a quantidade de conhecimento e o número de instrumentos aumentou enormemente. Há fortes laços entre a Geografia, a Geologia e a Botânica. No Ocidente, durante os séculos XIX e XX, a disciplina geográfica passou por quatro fases importantes: determinismo geográfico, geografia regional, revolução quantitativa e geografia radical.
O determinismo geográfico defendia que as características dos povos se devem à influência do meio natural. Deterministas proeminentes foram Carl Ritter, Ellen Churchill Semple e Ellsworth Huntington. Hipóteses populares como "o calor torna os habitantes dos trópicos preguiçosos" e "mudanças frequentes na pressão barométrica tornam os habitantes das latitudes médias mais inteligentes" eram assim defendidas e fundamentadas. Os geógrafos deterministas tentaram estudar cientificamente a importância de tais influências. Nos anos 1930, esta escola de pensamento foi largamente repudiada por lhe faltarem bases sustentáveis e por ser propensa a generalizações.
O determinismo geográfico constitui um embaraço para muitos geógrafos contemporâneos e leva ao ceticismo sobre aqueles que defendem a influência do meio na cultura (como as teorias de Jared Diamond).
Porém, o determinismo foi uma teoria reducionista do pensamento do alemão Friedrich Ratzel, que dizia que o meio influencia, mas não determina o homem. E muito provavelmente esta teoria tenha sido criada por políticos e militares de uma classe hegemônica-dominante-europeia para justificar a exploração em suas colônias. Tanto que para os geógrafos mais esclarecidos, o possibilismo de Vidal de La Blache (teoria que vem a dizer que o homem tem a possibilidade de intervir no meio), seria na verdade uma complementação, uma continuação da teoria de Ratzel e não uma oposição, como a maioria enxerga e ensina, de forma simplista.
A Geografia Regional representou a reafirmação de que os aspectos próprios da Geografia eram o espaço e os lugares. Os geógrafos regionais dedicaram-se à recolha de informação descritiva sobre lugares, bem como aos métodos mais adequados para dividir a Terra em regiões. As bases filosóficas foram desenvolvidas por Vidal de La Blache e Richard Hartshorne. Vale a pena lembrar que, enquanto Vidal vê a região como uma determinada paisagem, onde os gêneros de vida determinam a condição e a homogeneidade de uma região, Hartshorne não utilizava o termo região: para ele os espaços eram divididos em classes de área, nas quais os elementos mais homogêneos determinariam cada classe e, assim, as descontinuidades delas levariam às divisões das áreas. E este ficou conhecido como método regional.
A revolução quantitativa foi a tentativa da Geografia se redefinir como ciência, no renascer do interesse pela ciência que se seguiu ao lançamento do Sputnik. Os revolucionários quantitativos, frequentemente referidos como "cadetes espaciais", declaravam que o propósito da Geografia era o de testar as leis gerais do arranjo espacial dos fenômenos. Adotaram a filosofia do neopositivismo ou positivismo lógico das ciências naturais e viraram-se para a Matemática — especialmente a estatística — como um modo de provar hipóteses. A revolução quantitativa fez o trabalho de campo para o desenvolvimento dos sistemas de informação geográfica.
Neste caso, é bom lembrar que a geografia em seu início, com Humboldt, Ratzel, Ritter, La Blache, Hartshorne e outros, já se utilizava de métodos positivistas, e a mudança de paradigma, que ocorreu com a matematização do espaço, foi a da inclusão da informática para a quantificação dos dados, pelo método neopositivista, por volta dos anos 1950, no Brasil.
Apesar das perspectivas positivista e pós-positivista permanecerem importantes na Geografia, a Geografia Radical surgiu como uma crítica ao positivismo. O primeiro sinal do surgimento da Geografia Radical foi a Geografia Humanista. A partir do Existencialismo e da Fenomenologia, os geógrafos humanistas (como Yi-Fu Tuan) debruçaram-se sobre o sentimento de, e da relação com, lugares. A mais influente foi a Geografia Marxista, que aplicou as teorias sociais de Karl Marx e seus seguidores aos fenômenos geográficos. David Harvey e Richard Peet são bem conhecidos geógrafos marxistas. A Geografia feminista é, como o nome sugere, o uso de ideias do feminismo no contexto geográfico. A mais recente versão da Geografia Radical é a geografia pós-modernista, que emprega as ideias do pós-modernismo e teorias pós-estruturalistas, para explorar a construção social das relações espaciais.
No Brasil.
Quanto ao conhecimento geográfico, no Brasil, não se pode deixar de observar a grande importância e influência do Geógrafo mais reconhecido do país, seguidor de Aziz Ab'Saber e seu pioneirismo, não por profissão, mas por mérito, Milton Santos. Com várias publicações, Milton Santos, tornou-se o pai da Geografia Crítica, que faz análises fenomenológicas dos fatos e incidências de casos. Isso é importante, visto que a Geografia é uma ciência global e abrangente e, somente, o olhar geográfico aguçado consegue identificar determinados processos, sejam naturais, sociais ou espaciais. Vale ressaltar também os importantes estudos do professor Jurandyr Ross, que se dedicou a mapear, de forma bastante detalhada, o relevo brasileiro, além das inúmeras publicações do professor e doutor José William Vesentini, que se tornaram referência no estudo da Geografia no Brasil.
Não podendo esquecer de geógrafos como Armen Mamigonian, Manuel Correia de Andrade, Roberto Lobato Corrêa, Ruy Moreira, Armando Correa da Silva, Antonio Cristofoletti, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Melhem Adas, entre outros de outras épocas, não tão conhecidos como os que fizeram suas carreiras na Universidade de São Paulo.
Epistemologia.
A Geografia como ciência surge sob forte influência do Positivismo Lógico. E essa condição se expressa em grande parte nos estudos de geografia até hoje. Entretanto, a Ciência evoluiu e transformou as suas orientações teórico-metodológicas.
Sobre a sua epistemologia, é importante destacar um problema não só da geografia, como também de todas as ciências ambientais: os recursos metodológicos utilizados na verificação dos postulados ou estudos geográficos são oriundos dos primeiros passos do naturalismo (Humboldt e Ritter).
É fácil concluir que, em detrimento de diversas mudanças na temática ambiental, as ciências ambientais não poderiam utilizar recursos de verificação originárias de um tempo em que o ambiente não despertava atenção alguma da mídia e menos ainda dos poderes políticos, que enxergavam apenas o fortalecimento de suas economias em função de uma interminável exploração e esgotamento dos recursos naturais. Por isso, é extremamente necessário pensar em uma nova epistemologia, não só para geografia, mas para todas as demais ciências ambientais.
Com o surgimento da discussão a respeito de um estatuto próprio para as Ciências Humanas, a Geografia sente a necessidade de revisar sua epistemologia. Os críticos do positivismo, sob influência do Historicismo de Hegel e Dilthey, afirmavam ser impossível manter a objetividade e a neutralidade do conhecimento científico. Um exemplo claro é a ideia de "Incomensurabilidade do Conhecimento", de Thomas Kuhn, na qual afirma a impossibilidade de separar os conceitos e juízos de valor do conhecimento dito neutro.
Ainda no contexto do embate "historicismo" x "positivismo", surgem dois grandes nomes da Geografia: Friedrich Ratzel e Vidal de La Blache. O primeiro, influenciado por Ritter e Haeckel, notabilizou-se pelos estudos de Geografia Política e de alguma forma ajudou a consolidar a Geografia de Estado. Já o outro, empirista, trabalhou principalmente sobre o conceito de Gênero de Vida e afastou a Geografia das relações com a sociologia, então representada pela morfologia social de Émile Durkheim. Essa condição é exemplificada na famosa definição: "Geografia é a ciência dos lugares e não dos Homens". La Blache e Ratzel representavam, respectivamente, as escolas Francesa e Alemã, em uma época em que as universidades se fecharam em seus próprios países, criando escolas nacionais. Lucien Febvre, historiador francês, em seu livro "A Terra e Evolução do Homem", criou uma imagem reducionista deste conflito teórico-ideológico, através da criação dos conceitos de "escolas geográficas": Determinismo e Possibilismo. Essa consideração reducionista contribuiu para criar imagens errôneas sobre os dois autores e, por muito tempo, Ratzel foi entendido como simples "determinista geográfico" e La Blache, como um simples "possibilista geográfico". Hoje, essa concepção foi superada e o recorte abstrato de Febvre foi relativizado, na medida em que nenhum dos dois Geógrafos se enquadrava completamente nas escolas a eles atribuídas.
Durante a renovação pragmática nos EUA, surgiu a corrente da Geografia Teorética, na qual os métodos quantitativos geográficos agiam com métodos numéricos peculiares para a geografia. Por consequência, a análise do espaço, provavelmente encontrará temas como a análise de rácios, análise discriminatória, e não — paramétrica, e testes estatísticos, nos estudos geográficos. Um expoente dessa corrente no Brasil foi Antonio Christofoletti, co-fundador da Revista de Geografia Teorética.
Sob a influência da Fenomenologia de Husserl e Merleau-Ponty, foram desenvolvidos estudos de Geografia da Percepção, que valorizam a construção subjetiva da noção de espaço perceptivo. Inter-relações com a psicologia de massas e psicanálise, entre outras áreas, garantiram uma multidisciplinaridade desses estudos na revisão e desenvolvimento de conceitos como horizonte geográfico, percepção de lugar, sociabilidade e percepção do espaço, espaço esquizoide, entre outros. Alguns textos de Armando Corrêa da Silva fazem referência à Geografia da Percepção. Cabe também ressaltar que a influência da fenomenologia foi importante para o desenvolvimento da Geografia Humanista.
No final da década de 1970, iniciou-se um movimento de renovação crítica da Geografia humana, marcado no Brasil pelo encontro nacional de Geógrafos em 1978 no Ceará. Esse movimento acompanhou a inserção do marxismo como base teórica do discurso geográfico humano e assimilou um arcabouço conceitual do marxismo na construção de teorias sobre a (re)produção do espaço e as formações sócio-espaciais.
No Brasil, um representante dessa corrente, conhecida como "Geocrítica" ou Geografia Crítica, foi Milton Santos. O geógrafo Armando Corrêa da Silva escreveu alguns artigos sobre as possíveis limitações que uma adesão radical a essa corrente pode causar.
Na Itália, Massimo Quaini foi o principal autor a escrever sobre a relação entre a corrente marxista e a Ciência Geográfica.
O principal veículo de divulgação da Renovação Crítica da Geografia humana foi a Revista Antipode, criada em agosto de 1968, nos Estados Unidos, sob a direção editorial de Richard Peet, então professor na University of British Columbia. O primeiro artigo da Revista justificava seu subtítulo — A Radical Jornal Of Geography — escrito por David Stea, "Positions, Purposes, Pragmatics: A Journal Of Radical Geography", introduzia no mundo acadêmico uma publicação que viria a ter muita importância para discussões no âmbito da ciência geográfica.
Antipode já contou com a participação de Geógrafos como Milton Santos e David Harvey, que até hoje é um dos colaboradores, além de um grupo de cientistas do mundo todo: EUA, Canadá, Japão, Índia, Inglaterra, Espanha, África do Sul, Países Baixos, Suíça, Quênia, coordenados sob a editoração de Noel Castree, da Universidade de Manchester (Inglaterra) e Melissa Wright, da Universidade da Pensilvânia (EUA).
Profissão.
No Brasil, o Geógrafo é o profissional que fez o Bacharelado em Geografia, legalmente habilitado através da Lei 6 664/79, no qual remete-se ao registro no CREA — Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura — de seu Estado.
A diferenciação profissional entre um Geógrafo e um Professor de Geografia é que o Geógrafo possui habilitação para emissão de pareceres técnicos, desde que regularmente associado ao CREA, assim como para a elaboração de EIA/RIMA, podendo também prestar concursos públicos para quadros estatais que precisem de bacharelados.
Já o professor de Geografia é o profissional que tem titulação de Licenciado em Geografia, podendo exercer legalmente apenas as funções de docência, do 6º ano ao 9º ano do Ensino Fundamental (antigas 5ª a 8ª série), e todo o Ensino Médio de uma mesma escola.
Para lecionar no Ensino Superior, tanto o licenciado quanto o bacharel, o requisito é um curso de mestrado, não necessariamente na Geografia, mas também nas áreas afins. A obrigatoriedade fica por conta de cada edital de concurso ou da política interna das universidades.
Historicamente, o geógrafo perdeu colocação no mercado de trabalho para o Engenheiro Ambiental e o Geólogo, devido à visão segmentada do conhecimento que o mercado de trabalho exigiu nos últimos anos, uma vez que o geógrafo não se compatibiliza com análises segmentadas e, sim, é capacitado para lidar com a visão de totalidade, que envolve as análises das dinâmicas sócio-espaciais, seu principal objeto de estudo.
Apesar de nos últimos anos o próprio modo capitalista de produção ter contribuído para a segmentação do conhecimento, há uma tendência no mercado de trabalho, onde é importante ter a capacitação de analisar a totalidade dos fenômenos de maneira interdisciplinar. Dessa forma, o Geógrafo acaba sendo um importante profissional cada vez mais designado para coordenar equipes multidisciplinares, devido a sua formação abrangente.
Com isso, os Geógrafos vêm, nesta última década, ganhando considerável espaço no mercado de trabalho no Brasil e no mundo, em função principalmente de novas tecnologias, que estão sendo aliadas para a conversão e produção de trabalhos em meio digital.
Frente ao mercado de trabalho atual no Brasil, alguns profissionais compartilham informações em comum. São estes os Geógrafos, Engenheiros Agrimensores e Engenheiros Cartógrafos.
No dia 29 de maio, comemora-se o dia do geógrafo.
Ramos da geografia.
Geografia física.
A geografia física (ou fisiografia) se foca na geografia dentro das Ciências da Terra. Tem como objetivo entender a litosfera, hidrosfera, atmosfera, pedosfera, e os padrões da fauna e flora global (biosfera). A Geografia física pode ser dividida nas seguintes categorias:
Geografia humana.
A geografia humana (ou sociografia) é o ramo da geografia que estuda os padrões e processos que formam a interação humana com os vários ambientes. Ela envolve os aspectos humanos, políticos, culturais, sociais e econômicos. Apesar do foco principal da geografia humana não ser a paisagem física da Terra (ver geografia física), dificilmente é possível discutir a geografia humana sem se referir à paisagem física onde as atividades humanas acontecem e, assim, a geografia ambiental emerge como um link entre estes dois ramos da geografia. A geografia humana pode ser dividida em muitas categorias, como por exemplo:
Com o passar do tempo, várias maneiras de se ver o estudo da geografia humana têm aparecido, como :
Geografia ambiental.
A geografia ambiental é um ramo da geografia que descreve os aspectos espaciais da interação entre humanos e o mundo natural. Isso requer o entendimento dos aspectos tradicionais da geografia física e humana, assim como os modos como as sociedades conceitualizam o ambiente.
A geografia ambiental emergiu como um ponto de ligação entre a geografia física e a humana, como resultado do aumento da especialização destes dois campos de estudo. Além disso, como a relação do homem com o ambiente tem mudado, em consequência da globalização e mudança tecnológica, uma nova aproximação é necessária, para entender esta relação dinâmica e mutável. Exemplos de áreas de pesquisa em geografia ambiental incluem administração de emergência, gestão ambiental, sustentabilidade, e ecologia política.
Geografia matemática.
A geografia matemática tem seu foco na superfície da Terra, estudando sua representação matemática e sua relação com a lua e o sol. Esta vocação dual não é contraditória, porque, através do estudo dos fenômenos da superfície, que ocorrem produto da interação com o sol e a lua, pode ser mapeado o Equador, os trópicos, as linhas polares, coordenadas geográficas e, até, medir o tamanho da Terra. Normalmente, os conteúdos da geografia matemática são primeiro tratados, abordando um estudo introdutório da geografia, para cobrir a localização da Terra no universo e do sistema solar, movimentos da terra, a influência do sol e da lua sobre a superfície (ponto inevitável e essencial em ramos como a climatologia, hidrologia) e à definição e compreensão dos sistemas de localização, como a base para todo o estudo geográfico.
Geografia matemática incorpora uma vasta área de estudos envolvidos com a análise espacial, como a Cartografia, geomática, fotogrametria, Geoestatística, Sistema de informação geográfica (SIG), Sensoriamento remoto, e Sistema de Posicionamento Global (GPS), Geografia Astronômica, Topografia e Orografia.
Cartografia.
A Cartografia é um ramo da geografia matemática que estuda a representação da superfície da Terra, com símbolos abstratos (mapeamento). Apesar de outros campos da geografia dependerem de mapas para a apresentação de suas análises, a fabricação dos mapas é abstrata o suficiente para ser considerada separadamente. A cartografia cresceu de uma coleção de técnicas de representação, até se tornar uma verdadeira ciência. A cartografia clássica acabou se juntando a uma abordagem mais moderna da análise geográfica, apoiada pelos Sistemas de Informações Geográficas (SIG).
Cartógrafos precisam aprender psicologia cognitiva e ergonômica, para entenderem como os símbolos conduzem a informações sobre a Terra mais eficazes, e psicologia comportamental, para induzir os leitores de seus mapas a atuar de acordo com as informações. Precisam aprender corretamente geodésia e matemática, razoavelmente avançada, para entender como a forma da Terra distorce mapas, pois estes são projetados em uma superfície plana, para a visualização. Através da produção de mapas e cartas, a Cartografia manifesta-se como uma linguagem essencial para a produção de imagens geográficas, através de conceitos espaciais como a Localização, Densidade, Distribuição, Escala, Distância. Pode ser dito, sem muitas controvérsias, que a cartografia é a semente da qual a geografia nasceu. Muitos geógrafos citam uma “fantasia de infância” com mapas, como um primeiro sinal de que acabariam em suas áreas.
Geomática.
Geomática é o ramo da geografia que surgiu desde a revolução quantitativa da geografia, em meados da década de 1950. A geomática envolve o uso de técnicas espaciais tradicionais, usadas em cartografia e topografia e suas aplicações nos computadores. Este ramo se tornou mais utilizado com muitas outras disciplinas, usando técnicas como SIG e Sensoriamento remoto. A geomática também levou a uma revitalização de alguns departamentos de geografia, especialmente na América do Norte, onde o assunto estava em declínio, durante a década de 1950.
Topografia.
Topografia é a ramo da geografia matemática que estuda todos os acidentes geográficos, definindo a situação e a localização deles, que podem ficar em qualquer área. Tem a importância de determinar analiticamente as medidas de área e perímetro, localização, orientação, variações no relevo, etc. E, ainda, representá-las graficamente em cartas (ou plantas) topográficas.
Geografia regional.
A geografia regional é o ramo da geografia que estuda as regiões da Terra, de todos os tamanhos. Ela tem um caráter principalmente descritivo. O principal objetivo é entender ou definir as particularidades de uma determinada região, que consiste de elementos naturais e humanos. Também é dada atenção para a regionalização, que cobre as técnicas apropriadas para delimitar o espaço em regiões.
Técnicas geográficas.
A geografia, em seus estudos para a compreensão do mundo, utiliza-se de alguns instrumentos essenciais para algumas de suas áreas. Produções como os mapas são a base para muitas das análises e observações realizadas pelos diversos campos, e a evolução das técnicas instrumentais acaba influenciando muito a evolução da própria geografia. Assim foi com o surgimento das imagens de sensoriamento remoto e os Sistemas de Informações Geográficas. Cada técnica instrumental acaba, então, fundando uma área da ciência para si própria.
Sistema de Informações Geográficas.
Sistemas de Informações Geográficas (SIG) tratam do armazenamento de informações sobre a Terra, para visualização e processamento através de um computador, de forma precisamente apropriada à informação que se deseja fornecer. Além de todas as outras subdisciplinas da geografia, especialistas em SIG precisam entender técnicas de computação e sistemas de banco de dados. O SIG revolucionou o campo da cartografia, e praticamente toda a fabricação de mapas de hoje em dia é feita com a ajuda de alguma forma de software SIG. SIG também se refere à ciência do uso de tais softwares e suas técnicas de representação, análise e previsão das relações espaciais.
Sensoriamento remoto.
Sensoriamento remoto é a ciência da obtenção de informações sobre as características da Terra, através de medições feitas à distância. Dados sensoriados remotamente vêm de várias maneiras, como por imagens de satélite, fotografias aéreas e dados obtidos por sensores manuais. Geógrafos utilizam cada vez mais dados obtidos por sensoriamento remoto, para conseguirem informações sobre a superfície terrestre, o oceano e a atmosfera, pois esta técnica: a) fornece informações objetivas, em várias escalas espaciais (de local a global), b) fornece uma visão sinóptica da área de interesse, c) permite o acesso a locais distantes e/ou inacessíveis, d) fornece informações espectrais fora da porção visível do espectro eletromagnético, e e) facilita o estudo de como as características e as áreas mudam através do tempo. Dados de sensoriamento remoto podem ser analisados tanto independentes como juntos de outras camadas digitais de dados (como por exemplo nos SIG).
Métodos geográficos quantitativos.
A Geoestatística trata de análise quantitativa, especificamente a aplicação da metodologia estatística à exploração de fenômenos geográficos. Geoestatística é utilizada extensivamente em uma variedade de campos, incluindo: hidrologia, geologia, exploração de petróleo, análises climáticas, planejamento urbano, logística e epidemiologia. A base matemática para a geoestatística deriva da análise de clusteres, análise linear discriminante e testes estatísticos não-paramétricos. Aplicações da geoestatística dependem muito dos Sistemas de Informações Geográficas, particularmente da interpolação (estimativa) de pontos não-medidos. Geógrafos têm feito contribuições notáveis ao método das técnicas quantitativas.
Métodos geográficos qualitativos.
Métodos geográficos qualitativos ou técnicas de pesquisa etnográficas são utilizados pelos geógrafos. Na geografia cultural, há uma tradição do emprego de técnicas de pesquisa qualitativa, também utilizada na antropologia e na sociologia. Observações participativas e entrevistas em campo fornecem aos geógrafos humanos dados qualitativos.
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897 | Georg Cantor | Georg Cantor
Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (São Petersburgo, 3 de março de 1845 – Halle, 6 de janeiro de 1918) foi um matemático alemão nascido no Império Russo.
Conhecido por ter elaborado a moderna teoria dos conjuntos, foi a partir desta teoria que chegou ao conceito de número transfinito, incluindo as classes numéricas dos cardinais e ordinais e estabelecendo a diferença entre estes dois conceitos, que colocam novos problemas quando se referem a conjuntos infinitos. Nasceu em São Petersburgo (Rússia), filho do comerciante dinamarquês, George Waldemar Cantor, e de uma musicista russa, Maria Anna Böhm. Em 1856 sua família mudou-se para a Alemanha, continuando aí os seus estudos. Estudou no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique. Doutorou-se na Universidade de Berlim em 1867. Teve como professores Ernst Kummer, Karl Weierstrass e Leopold Kronecker.
Em 1872 foi docente na Universidade de Halle-Wittenberg, na cidade alemã Halle an der Saale, onde obteve o título de professor em 1879. Toda a sua vida irá tentar em vão deixar a cidade, tendo acabado por pensar que era vítima de uma conspiração.
Cantor provou que os conjuntos infinitos não têm todos a mesma potência (potência significando "tamanho"). Fez a distinção entre conjuntos numeráveis (ou enumeráveis) (em inglês chamam-se "countable" — que se podem contar) e conjuntos contínuos (ou não-enumeráveis) (em inglês "uncountable" — que não se podem contar). Provou que o conjunto dos números racionais Q é (e)numerável, enquanto que o conjunto dos números reais IR é contínuo (logo, maior que o anterior). Na demonstração foi utilizado o célebre argumento da diagonal de Cantor ou método diagonal. Nos últimos anos de vida tentou provar, sem o conseguir, a "hipótese do contínuo", ou seja, que não existem conjuntos de potência intermédia entre os numeráveis e os contínuos — em 1963, Paul Cohen demonstrou a indemonstrabilidade desta hipótese. Em 1897, Cantor descobriu vários paradoxos suscitados pela teoria dos conjuntos. Foi ele que utilizou pela primeira vez o símbolo formula_1 para representar o conjunto dos números reais.
Durante a última metade da sua vida sofreu repetidamente de ataques de depressão, o que comprometeu a sua capacidade de trabalho e o forçou a ficar hospitalizado várias vezes. Provavelmente ser-lhe-ia diagnosticado, hoje em dia, um transtorno bipolar — vulgo maníaco-depressivo. A descoberta do Paradoxo de Russell conduziu-o a um esgotamento nervoso do qual não chegou a se recuperar. Começou, então, a se interessar por literatura e religião. Desenvolveu o seu conceito de Infinito Absoluto, que identificava a Deus. Ficou na penúria durante a Primeira Guerra Mundial, morrendo num hospital psiquiátrico em Halle.
Nas palavras de David Hilbert: "Ninguém nos poderá expulsar do paraíso que Cantor criou".
Biografia.
Georg Cantor nasceu em 1845 na colônia mercantil de São Petersburgo, na Rússia, onde viveu até os onze anos de idade. Georg, o mais velho de seis filhos, era considerado um excelente violinista. Seu avô Franz Böhm (1788-1846) (irmão do violinista Joseph Böhm) foi um solista conhecido, tocando inclusive na orquestra imperial russa. O pai de Cantor foi membro da bolsa de valores de São Petersburgo; quando ficou doente, a família mudou-se para a Alemanha em 1856, primeiro para Wiesbaden, depois para Frankfurt, em busca de invernos mais amenos do que os de São Petersburgo. Em 1860, Cantor se formou com méritos na Realschule em Darmstadt; suas habilidades excepcionais em matemática, (trigonometria em particular), atraíram atenção acadêmica. Em 1862, Cantor entrou na Instituto Federal de Tecnologia de Zurique. Depois de receber uma herança substancial com a morte de seu pai em junho de 1863, Cantor transferiu seus estudos para a Universidade de Berlim, onde assistiu a palestras de Leopold Kronecker, Karl Weierstrass e Ernst Kummer. Ele passou o verão de 1866 na Universidade de Göttingen, doutorando-se em 1867.
Teoria dos conjuntos.
O início da teoria dos conjuntos como um ramo da matemática é frequentemente marcado pela publicação do trabalho de Cantor de 1874, "Ueber eine Eigenschaft des Inbegriffes aller reellen algebraischen Zahlen" ("Sobre uma Propriedade da Coleção de Todos os Números Algébricos Reais") Este trabalho foi o primeiro a fornecer uma prova rigorosa de que havia mais de um tipo de infinito. Anteriormente, todas as coleções infinitas tinham sido implicitamente assumidas como equinumerosas (isto é, de "o mesmo tamanho" ou com o mesmo número de elementos). Cantor provou que a coleção de números reais e a coleção de números inteiros positivos não são equinumeráveis. Em outras palavras, os números reais não são contáveis. Sua prova provém do argumento diagonal que ele elaborou em 1891. O artigo de Cantor também contém um novo método de construção de números transcendentais. Os números transcendentais foram construídos pela primeira vez por Joseph Liouville em 1844.A Cantor chegou a esses resultados usando duas construções. Sua primeira construção mostra que escrever os números algébricos reais como uma sequência a1, a2, a3, ... Em outras palavras, os números algébricos reais são contáveis. Cantor inicia sua segunda construção com uma sequência qualquer de números reais. Usando essa sequência, ele constrói intervalos aninhados cuja interseção contém um número real que não está na sequência. Como toda sequência de números reais pode ser usada para construir um real que não esteja na sequência, os números reais não podem ser escritos como uma sequência - isto é, os números reais não são contáveis. Ao aplicar sua construção à sequência dos números algébricos reais, Cantor inventou um número transcendental. Cantor salienta que suas construções provam mais - a saber, elas fornecem uma nova prova do teorema de Liouville: Cada intervalo contém infinitamente muitos números transcendentais. O próximo artigo de Cantor contém uma construção que prova que o conjunto de números transcendentais tem o mesmo "poder" (ver abaixo) que o conjunto de números reais.
Entre 1879 e 1884, Cantor publicou uma série de seis artigos que juntos formaram uma introdução à sua teoria dos conjuntos. Ao mesmo tempo, havia uma crescente oposição às ideias de Cantor, lideradas por Kronecker, que admitia conceitos matemáticos apenas se pudessem ser construídos em um número finito de passos a partir dos números naturais, o que ele considerava intuitivamente dado. Para Kronecker, a hierarquia de infinitos de Cantor era inadmissível, já que aceitar o conceito de infinito atual abriria a porta para paradoxos que desafiariam a validade da matemática como um todo. Cantor também introduziu o conjunto Cantor durante este período.
O quinto artigo da série, "Grundlagen einer allgemeinen Mannigfaltigkeitslehr"e ("Fundamentos de uma Teoria Geral de Agregados"), publicado em 1883, foi o mais importante dos seis e também foi publicado como uma monografia separada. Continha a resposta de Cantor aos seus críticos e mostrava como os números transfinitos eram uma extensão sistemática dos números naturais. Cantor começa definindo conjuntos bem ordenados. Os números ordinais são então introduzidos como os tipos de ordem de conjuntos bem ordenados. Cantor então define a adição e multiplicação dos números cardinal e ordinal. Em 1885, Cantor estendeu sua teoria dos tipos de ordem para que os números ordinais simplesmente se tornassem um caso especial de tipos de ordem.
Em 1891, ele publicou um artigo contendo seu elegante "argumento diagonal" para a existência de um conjunto incontável. Ele aplicou a mesma ideia para provar o “teorema de Cantor”: a cardinalidade do conjunto de poder de um conjunto A é estritamente maior que a cardinalidade de A. Isso estabeleceu a riqueza da hierarquia de conjuntos infinitos, e da aritmética cardinal e ordinal que Cantor tinha definido. Seu argumento é fundamental na solução do problema de Halting e na prova do primeiro teorema da incompletude de Kurt Gödel. Cantor escreveu sobre a conjectura de Goldbach em 1894.
Entre 1895 e 1897, Cantor publicou um artigo de duas partes em "Mathematische Annalen"; esses foram seus últimos artigos significativos sobre a teoria dos conjuntos. A aritmética cardinal e ordinal são revisadas. Cantor queria que o segundo artigo incluísse uma prova da hipótese do continuum, mas teve de se contentar em expor sua teoria de conjuntos bem ordenados e números ordinais. Cantor tenta provar que se A e B são conjuntos com A equivalente a um subconjunto de B e B equivalente a um subconjunto de A, então A e B são equivalentes. Ernst Schröder havia elaborado esse teorema um pouco antes, mas sua prova, assim como a de Cantor, era falha. Felix Bernstein forneceu uma prova correta em sua tese de doutorado em 1898; daí o nome Teorema de Cantor-Bernstein-Schroeder.
Paradoxo de Cantor.
Teorema: (Cantor) cardA < cardP(A). Logo dado qualquer número cardinal, sempre existe um número cardinal maior que o número cardinal dado.
A cardinalidade é o número de elementos de um conjunto, Por exemplo, o conjunto A={2,4,6,8} contém 4 elementos e por isso possui cardinalidade 4.
Cantor descreve um dos primeiros paradoxos da teoria dos conjuntos. Aceitando a definição de conjuntos dada por Cantor, podemos conceber o conjunto U de todos os conjuntos. Esse conjunto U seria o conjunto universal, portanto teria potência máxima, já que seria composto por todos os conjuntos. Em particular ele teria que ser um elemento de si mesmo, o que pode ser estranho. Porém ao considerarmos o conjunto das partes de U, ou seja, é o conjunto P(U), pelo teorema de Cantor P(U) > U. Mas isso contradiz a suposição inicial, de que existe um conjunto universal U, ou conjunto de todos os conjuntos. Tal conjunto não existe, como não existe infinito absoluto, isto é, que seja “maior” de todos.
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Eric Arthur Blair (Motihari, Índia Britânica, – Camden, Londres, Reino Unido, ), mais conhecido pelo pseudónimo George Orwell, foi um escritor, jornalista e ensaísta político inglês, nascido na Índia Britânica. Sua obra é marcada por uma inteligência perspicaz e bem-humorada, uma consciência profunda das injustiças sociais, uma intensa oposição ao totalitarismo e uma paixão pela clareza da escrita. Sua hostilidade ao Stalinismo e pela experiência do socialismo soviético, um regime que Orwell denunciou em seu romance satírico "A Revolução dos Bichos," (traduzido no Brasil também como A Fazenda dos Animais, a partir das edições de 2020) se revelou uma característica constante em sua obra.
Considerado talvez o melhor cronista da cultura inglesa do século XX, Orwell dedicou-se a escrever resenhas, ficção, artigos jornalísticos polémicos, crítica literária e poesia. Ele é mais conhecido pelo romance distópico "Nineteen Eighty-Four", escrito em 1949, e pela novela satírica "Animal Farm" (1945). Juntas, estas obras venderam mais cópias do que os dois livros mais vendidos de qualquer outro escritor do século XX. Um outro livro de sua autoria, "Homage to Catalonia" (1938) — um relato de sua experiência como combatente voluntário no lado republicano da Guerra Civil Espanhola — também é altamente aclamado, assim como seus ensaios sobre política, literatura, linguagem e cultura. Em 2008, o "The Times" classificou-o em segundo lugar em uma lista de "Os 50 maiores escritores britânicos desde 1945".
A influência de Orwell na cultura contemporânea, tanto popular quanto política, perdura até hoje. Vários neologismos criados por ele, assim como o termo "orwelliano" — palavra usada para definir qualquer prática social autoritária ou totalitária — já fazem parte do vernáculo popular.
Biografia.
Primeiros anos de vida e educação.
Eric Arthur Blair nasceu em 25 de junho de 1903 em Motihari, parte da colônia "(presidency)" de Bengala, então domínio da Índia britânica, atualmente distrito de Champaran Oriental, estado de Bihar, República da Índia, próximo da fronteira do país com o Nepal. Seu bisavô paterno, Charles Blair (1776–1854), era um escocês radicado na Inglaterra que havia feito fortuna em Dorset, e se casado no final da década de 1790 com "Lady" Mary Fane (bisavó paterna do autor e filha de Thomas Fane, 8º Conde de Westmorland), tendo passado os últimos dias de sua vida como senhorio de uma fazenda escravocrata na Jamaica. Seu avô, Thomas Richard Arthur Blair (1803–1867), terceiro filho de Charles e Mary, havia sido um clérigo da Igreja Anglicana. Embora Thomas tenha herdado o título de nobreza, o mesmo não ocorreu com a fortuna da família; Eric Blair descrevia sua família como sendo de "classe média-alta inferior". Seu pai Richard Walmesley Blair (1857–1939), filho caçula de seu avô e natural da Cornualha, trabalhava no Departamento de Ópio do Serviço Civil Indiano, agência do governo britânico que regulava o serviço público na colônia. Sua mãe, Ida Mabel Limouzin-Blair (1875–1943), nasceu em Penge, Surrey e cresceu na Birmânia (atual Miamar), onde o pai dela, um francês, estava envolvido em empreendimentos especulativos. Eric tinha duas irmãs: Marjorie, nascida em 1898, e Avril, nascida em 1908. Quando Eric tinha um ano de idade, sua mãe o levou para morar na Inglaterra.
Em 1904, Eric e sua família se estabeleceram em Shiplake, nos arredores da cidadezinha de Henley-on-Thames, no interior de Oxfordshire, uma localidade entre Oxford e Londres. Eric foi criado na companhia de sua mãe e das irmãs e, com exceção de breves visitas, ele não veria o pai, que trabalhava na Irlanda (ilha), novamente até o ano de 1912. O diário de sua mãe, datado de 1905, indica que a família praticava uma animada rodada da atividades sociais e possuía vastos interesses artísticos. A família se mudou para o vilarejo de Shiplake antes da Primeira Guerra Mundial e Eric fez amizade com a família Buddicom, ingleses de Plymouth, Devon, em especial com Jacintha Buddicom (1901–1993), que também se tornaria poetisa. Quando se conheceram, Eric estava se equilibrando de cabeça para baixo em um campo e, ao ser perguntado a razão pela qual o fazia, respondeu: "você é mais notado se você se equilibrar de cabeça para baixo do que se você ficar de cabeça para cima". Jacintha e Eric liam e escreviam poemas e sonhavam em se tornar escritores famosos. Nesse época, Eric havia confessado à amiga que poderia vir a escrever um livro semelhante a "A Modern Utopia", romance de H. G. Wells (1866–1946), um de seus ídolos de infância. Durante este período, ele gostava de caçar, pescar e observar aves com o irmão e a irmã de Jacintha.
Aos cinco anos de idade, Eric Blair começou a frequentar o internato em Henley-on-Thames onde Marjorie havia sido matriculada. Tratava-se de um convento católico dirigido por irmãs Ursulinas francesas, exiladas de seu país de origem após o ensino religioso ter sido banido de lá em 1903. Sua mãe queria que ele fosse educado em uma escola privada, mas a família não era suficientemente rica para pagar as mensalidades, tornando-se, pois, necessário conseguir para ele uma bolsa de estudos. O irmão de Ida Blair, Charles Limouzin, que vivia na costa sul da Inglaterra, foi encarregado de encontrar a melhor escola possível para preparar Eric para os mais altos desafios — a família acreditava que a formação dele era mais importante do que a das irmãs — e, assim sendo, ele recomendou a Escola de São Cipriano, em Eastbourne, Sussex. Limouzin, que era um hábil jogador de golfe, entrou em contato com o diretor da escola através do Eastbourne Royal Golf Club, onde ele havia ganhado várias competições em 1903 e 1904. O diretor se comprometeu a ajudar Eric a ganhar a bolsa, e fez um acordo, que permitiu que os pais de Blair pagassem apenas metade das mensalidades normais. Blair odiou a escola, tendo o seu ensaio "Such, Such Were the Joys", publicado postumamente, sido baseado nas suas experiências nela. Na escola São Cipriano, Blair conheceu Cyril Connolly, que também se tornaria um escritor notável e que, como editor da revista "Horizon", publicou muitos dos ensaios de Orwell. Enquanto esteve na escola, Blair escreveu dois poemas que foram publicados no "Henley and South Oxfordshire Standard", um jornal local, ficou em segundo lugar (atrás de Connolly) no Prémio de História Harrow, onde teve o seu trabalho elogiado pelo examinador externo da escola, e ganhou bolsas de estudo para o Wellington College e o Eton College, dois dos mais distintos internatos ingleses.
Depois de passar um período em Wellington, em 1917 Blair tornou-se "bolsista do rei" em Eton, onde permaneceu até 1921. Seu tutor era A. S. F. Gow, um companheiro do Trinity College em Cambridge, que continuou sendo uma fonte de conselhos durante sua carreira. Em Eton, Blair teve Aldous Huxley como professor de francês por um breve período de tempo. No entanto, não se tem evidências de contato entre os dois fora da sala de aula, com exceção de uma carta de Huxley para Blair datada de 21 de outubro de 1949, após a publicação de "Nineteen Eighty-Four", onde ele cumprimentou o ex-aluno pelo "excelente e profundamente importante livro". Cyril Connolly também seguiu para Eton, mas não teve a oportunidade de conviver com Blair, visto que estavam em séries diferentes. Os boletins de Blair sugerem que ele negligenciou os estudos acadêmicos, embora ele tenha então trabalhado com Roger Mynors na produção de uma revista acadêmica e participado dos Jogos Eton Wall. Seus pais não possuíam dinheiro suficiente para matriculá-lo numa universidade sem a ajuda de uma bolsa de estudos, chegando a conclusão de que suas notas baixas tornariam-no incapaz de obter tal benesse. De acordo com um de seus amigos, Steven Runciman, Blair possuía uma ideia romântica sobre o Oriente e, por algum motivo, foi decidido que ele deveria fazer parte da Polícia Imperial Indiana. Para tal, era deveria passar um exame de admissão. Naquela época, seu pai havia-se aposentado em Southwold, Suffolk, e Blair foi matriculado em um "cursinho" denominado "Craighurst", onde estudou arte e cultura clássicas, Inglês e História. Blair foi aprovado no sétimo lugar entre os 27 classificados.
Birmânia.
A avó de Blair morava em Moulmein e, devido ao fato de possuir parentes na região, decidiu trabalhar na Birmânia (atual Myanmar). Em outubro de 1922, navegou a bordo do SS Herefordshire via Canal do Suez e Ceilão para assumir o seu cargo na Polícia Imperial Indiana em Birmânia. Um mês depois, chegou a Rangum e partiu rumo a Mandalay, onde se localizava a escola de formação policial. Depois de uma curta passagem por Maymyo, principal posto policial das montanhas de Birmânia, foi enviado, no início de 1924, para o posto fronteiriço de Myaungmya no Delta do Irrawaddy.
A vida enquanto policia imperial trouxe responsabilidades consideráveis para o jovem Blair, enquanto a maioria dos seus conhecidos estavam na universidade em Inglaterra. Quando ele foi enviado para Twante como oficial subdivisional, era responsável pela segurança de cerca de 200 000 pessoas. No final de 1924, foi promovido a Assistente de Superintendente Distrital e enviado para Sirião, mais perto de Rangum. Em setembro de 1925, foi para Insein, onde se localiza a segunda maior prisão de Burma. Em Insein mantinha "longas conversas sobre todos os assuntos possíveis" com uma amiga jornalista, Maria Elisa Langford-Rae (que mais tarde se tornaria esposa de Kazi Lhendup Dorjee), que observou o seu "senso de justiça absoluta nos mínimos detalhes".
Em , mudou-se para Moulmein, onde morava a sua avó. No final daquele ano, foi para Katha onde, em 1927, contraiu dengue. Ele tinha o direito de voltar para Inglaterra naquele ano e, devido à doença, foi autorizado a voltar para casa mais cedo, em Julho. Enquanto estava de licença em Inglaterra no ano de 1927, reavaliou a sua vida e demitiu-se da Polícia Imperial Indiana, com a intenção de se tornar escritor. A sua experiência como policia em Burma inspirou o romance "Burmese Days" (1934) e os ensaios "A Hanging" (1931) e "Shooting an Elephant" (1936).
Londres e Paris.
De volta à Inglaterra, foi morar na casa da família em Southwold, onde restabeleceu laços com amigos e participou de um jantar com ex-alunos do Eton College. Ele visitou seu antigo tutor Gow na Universidade de Cambridge a fim de obter conselhos de como se tornar escritor e, como resultado, decidiu mudar para Londres. Ruth Pitter, uma conhecida da família, o ajudou a encontrar um alojamento e, até o final de 1927, ele morou em um quarto em Portobello Road (uma placa azul em sua comemoração foi colocada nesta residência). Pitter se interessou por seus escritos, já que ele coletava material literário sobre uma classe social diferente da dele: os nativos em Burma.
Seguindo o exemplo de Jack London, a quem admirava, Blair começou a fazer expedições exploratórias nas favelas de Londres. Em seu primeiro passeio, ele foi para Limehouse Causeway a fim de passar uma noite em um alojamento popular. Por algum tempo, Blair viveu como "um nativo" de seu próprio país, se vestindo como vagabundo sem concessões aos costumes e às expectativas da classe média. Ele registraria suas experiências de vida na pobreza em "The Spike", seu primeiro ensaio publicado, e na segunda metade de seu primeiro livro, "Down and Out in Paris and London" (1933).
Na primavera de 1928, mudou-se para Paris, onde o custo relativamente baixo de vida e estilo de vida boêmio era um atrativo para muitos aspirantes a escritores. Morou na Rue du Pot-de-Fer. Sua tia Nellie Limouzin também morava em Paris e lhe fornecia ajuda social e, quando necessário, financeira. Ele também escreveu romances, dos quais apenas "Burmese Days" sobreviveu a esse período. Mais bem sucedido como jornalista, ele publicou artigos no "Monde" (não confundir com o "Le Monde"), "G. K.'s Weekly" e "Le Progres Civique" (fundada pela coalizão de esquerda Le Cartel des Gauches).
Ele adoeceu gravemente em março de 1929 e, pouco depois, teve todo o seu dinheiro roubado da casa de hospedagem. Seja por necessidade ou simplesmente para coletar material literário, realizou trabalhos domésticos, como lavador de pratos num hotel de luxo na Rue de Rivoli, proporcionando experiências que seriam relatadas em "Down and Out in Paris and London". Em agosto de 1929, enviou uma cópia de "The Spike" para a revista "New Adelphi" em Londres. Esta era de propriedade de John Middleton Murry, que havia deixado o controle editorial nas mãos de Max Plowman e Sir Richard Rees. Plowman aceitou publicar a obra.
Revolução Espanhola.
Juntou-se à luta no POUM (Partido Operário de Unificação Marxista), uma milícia de marxistas revolucionários não-estalinistas contra Francisco Franco e seus aliados Mussolini e Hitler, na Guerra Civil Espanhola. Foi ferido no pescoço. Uma bala danificou-lhe as cordas vocais, saindo pelas costas, e desde então sua voz ficou ligeiramente inaudível. Mais tarde escreveria o livro Homage to Catalonia, em que relata sua experiência no conflito.
Morte.
Orwell morreu em Londres de tuberculose, aos 46 anos de idade. Tendo solicitado um funeral de acordo com os ritos anglicanos, foi enterrado na All Saints' Churchyard, Sutton Courtenay, Oxfordshire, com o simples epitáfio: "Here lies Eric Arthur Blair, born June 25, 1903, died January 21, 1950" ("Aqui jaz Eric Arthur Blair, nascido em 25 de Junho de 1903, falecido em 21 de Janeiro de 1950"); nenhuma menção é feita a seu célebre pseudónimo.
Posições ideológicas.
Orwell reconheceu que o nazismo era uma forma de capitalismo que empresta do socialismo apenas as características que o tornarão eficiente para fins bélicos. Em 1944, escreveu que "a palavra 'fascismo' é quase inteiramente sem sentido... quase qualquer inglês aceitaria 'valentão' como sinônimo de 'fascista'", nesse sentido, também descreveu a palavra como algo que já não tem qualquer significado, exceto para significar "algo não desejável".
Em 1946, o autor previu o colapso da União Soviética que "o regime russo ou se democratiza ou morrerá". Ele foi considerado pelo historiador Robert Conquest, dos EUA, como uma das primeiras pessoas que fizeram tal previsão. De acordo com um artigo de Conquest, publicado em 1969, "Com o tempo, o mundo comunista será confrontado com uma crise fundamental. Não podemos dizer com certeza que ele vai se democratizar. Mas tudo indica que ele terá, como disse Orwell, que se democratizar ou perecer ... Temos também, no entanto, que estar preparados para lidar com as mudanças cataclísmicas, pois a agonia do aparelho estatal atrasado do pais, pode ser destrutiva e perigosa".
Em seu texto “"Notes on Nationalism"” cita o catolicismo político como uma forma de ideologia (ele chamou-o de "nacionalismo", em um sentido diferente do tradicionalmente empregado ao termo) independente de qualquer outro.
Quanto ao movimento de não-violência Orwell argumentou que a estratégia de resistência não violenta de Gandhi poderia funcionar em países com "uma imprensa livre e o direito de reunião" que possibilitassem "não apenas apelar à opinião pública externa, mas atrair uma massa de pessoas para o movimento, ou mesmo para tornar suas intenções conhecidas pelo adversário"; sem essas condições, o escritor era cético quanto à eficiência da abordagem de Gandhi.
No final da Segunda Guerra Mundial, o escritor inglês usou o termo "guerra fria" em seu ensaio "Você e a bomba atômica", publicado em 19 de outubro de 1945 no jornal britânico "Tribune". Contemplando um mundo vivendo à sombra da ameaça da guerra nuclear, Orwell olhou para as previsões de James Burnham de um mundo polarizado, escrevendo:
No "The Observer" de 10 de março de 1946, Orwell escreveu: "após a conferência de Moscou em dezembro passado, a Rússia começou a fazer uma 'guerra fria' contra a Grã-Bretanha e o Império Britânico".
Influência na linguagem e na escrita.
Em seu ensaio "Política e Língua Inglesa" (1946), Orwell escreveu sobre a importância de uma linguagem precisa e clara, argumentando que a escrita vaga pode ser usada como uma ferramenta poderosa de manipulação política porque molda a maneira como pensamos. Nesse ensaio, Orwell fornece seis regras para escritores:
Andrew N. Rubin argumenta que "Orwell afirmou que devemos estar atentos a como o uso da linguagem tem limitado nossa capacidade de pensamento crítico, assim como devemos estar igualmente preocupados com as maneiras pelas quais os modos dominantes de pensamento remodelaram a própria linguagem que nós usamos."
O adjetivo "orwelliano" conota uma atitude e uma política de controle pela propaganda, vigilância, desinformação, negação da verdade e manipulação do passado. Em "Mil novecentos e oitenta e quatro", Orwell descreveu um governo totalitário que controlava o pensamento controlando a linguagem, tornando certas ideias literalmente impensáveis. Várias palavras e frases de "Mil novecentos e oitenta e quatro" entraram na linguagem popular de lingua inglesa. "Novilíngua" é uma linguagem simplificada e ofuscante projetada para tornar o pensamento independente impossível. "Duplipensar" significa sustentar duas crenças contraditórias simultaneamente. A "Polícia do Pensamento" é aquela que suprime todas as opiniões divergentes. "Prolefeed" é homogeneizada, fabricada literatura superficial, filme e música usados para controlar e doutrinar a população através da docilidade. "Big Brother" é um ditador supremo que observa a todos.
Orwell pode ter sido o primeiro a usar o termo "guerra fria" para se referir ao estado de tensão entre as potências do Bloco Ocidental e do Bloco Oriental que se seguiu à Segunda Guerra Mundial em seu ensaio, "You and the Atom Bomb", publicado em "Tribune" em 19 de outubro de 1945. Ele escreveu:"Podemos estar caminhando não para um colapso geral, mas para uma época tão terrivelmente estável como os impérios escravistas da antiguidade. A teoria de James Burnham foi muito discutida, mas poucas pessoas ainda consideraram suas implicações ideológicas — isto é, o tipo de mundo — visão, o tipo de crenças e a estrutura social que provavelmente prevaleceria em um Estado que era ao mesmo tempo invencível e em estado permanente de 'guerra fria' com seus vizinhos."
Obras.
Romances.
George Orwell publicou seis romances:
Baseadas em experiências pessoais.
Enquanto a substância de muitos dos romances de Orwell, particularmente "Burmese Days", é tirado de suas experiências pessoais, as obras a seguir são apresentadas como documentários narrativos, ao invés de fictícios.
Notas.
Para Stansky e Abrahams, Ida Blair mudou-se para a Inglaterra em 1907, com base em informações fornecidas por Avril Blair sobre uma época antes do seu nascimento. As provas em contrário seriam um diário de Ida Blair datado de 1905 e uma fotografia de Eric aos três anos de idade num típico jardim de uma casa suburbana inglesa. A data anterior também coincide com o ano em que Marjorie, então com seis anos de idade, precisaria entrar numa escola inglesa para efectuar a primária.
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901 | Gato de Schrödinger | Gato de Schrödinger
O Gato de Schrödinger é uma experiência mental, frequentemente descrita como um paradoxo, desenvolvida pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, em 1935. A experiência procura ilustrar a interpretação de Copenhague da mecânica quântica, imaginando-a aplicada a objetos do dia a dia. No exemplo, há um gato encerrado em uma caixa, de forma a não estar apenas vivo ou apenas morto, mas, sim em uma sobreposição desses dois estados.
Por sua vida supostamente atrelar-se a um evento aleatório — usualmente o decaimento radioativo — Schrödinger interpreta que um gato "vivomorto" surgiria como reflexo de um estado físico atípico ao senso comum, mas presente em sistemas quânticos: um estado de superposição ou emaranhamento quânticos. Em termos técnicos, o estado "vivomorto" (claramente distinto do estado vivo, distinto do estado morto), compõe-se pela soma desses dois estados e constitui "de fato", a situação do gato no experimento, ao menos enquanto o sistema permanecer fechado, sem ser observado. Porém, um cuidado é necessário na interpretação da superposição de estados: não significa que ambos são válidos ao mesmo tempo.
O experimento também traz à tona questionamentos quanto à natureza do "observador", e da "observação" na mecânica quântica; se "você", pelo fato de abrir a caixa e deparar-se com o gato ou vivo ou morto (colapso da função de onda), é ou não o responsável pela vida ou pela morte do gato; à parte o próprio gato como observador, por simplicidade.
Foi no transcurso desse experimento que Schrödinger criou o termo "Verschränkung" (em português, entrelaçamento).
Origem e motivação.
O experimento mental de Schrödinger foi proposto como discussão do artigo EPR, nomeado devido aos seus autores: Albert Einstein, Podolsky, Rosen em 1935. O paradoxo EPR abordou a estranha natureza das superposições quânticas. Amplamente exposta, a superposição quântica é a combinação de todos os possíveis estados do sistema (por exemplo, as possíveis posições de uma partícula subatômica). A interpretação de Copenhague implica que a superposição apenas sofre colapso em um estado definido no exato momento da medição quântica.
Schrödinger e Einstein trocaram cartas sobre o artigo EPR de Einstein, durante o qual Einstein indicou que a superposição quântica de um barril instável de pólvora irá, após um tempo, conter ambos componentes explodidos e não-explodidos.
Para melhor ilustrar o suposto paradigma incompleto da mecânica quântica, Schrödinger aplicou a teoria da mecânica quântica em uma entidade viva que podia ou não estar consciente. No experimento mental original de Schrödinger, ele descreveu como, em princípio, seria possível transformar a superposição dentro de um átomo para uma superposição em grande escala de um gato morto e vivo por relacionar gato e átomo com a ajuda de um "mecanismo diabólico". Ele propôs um cenário com um gato em uma caixa lacrada, onde a vida ou morte do gato é dependente do estado de uma partícula subatômica. De acordo com Schrödinger, a interpretação de Copenhague implica que o gato permanece vivo e morto até que a caixa seja aberta.
Schrödinger não desejava promover a ideia de gatos vivos-e-mortos como uma séria possibilidade; o experimento mental serve para ilustrar a complexidade extrema da mecânica quântica e da matemática necessária para descrever os estados quânticos. Entendida como uma crítica da interpretação de Copenhague – a teoria prevalecente em 1935 – o experimento mental do gato de Schrödinger permanece um tópico padrão para todas as interpretações da mecânica quântica; a maneira como cada interpretação lida com o gato de Schrödinger é frequentemente usada como meio de ilustrar e comparar características particulares de cada interpretação, seus pontos fortes e fracos.
Descrição do experimento.
O experimento mental do Gato de Schrödinger consiste em um gato preso dentro de uma caixa sem transparências, junto a um frasco de veneno e um contador Geiger ligados por relés, e um martelo. O contador Geiger será acionado ou não. Se for, transmitirá movimento através dos relés; o martelo baterá no frasco de veneno quebrando-o e o gato morrerá. Mas se o contador não acionar, o martelo não quebrará o frasco e o gato permanecerá vivo. Esse experimento mental foi proposto por Erwin Schrödinger, em 1935, para demonstrar os estados de superposição quântica: só saberemos se o gato está vivo ou morto se abrirmos a caixa, mas se isso for feito, alteraremos a possibilidade do gato estar vivo ou morto. O princípio desta está intrinsecamente ligado ao Princípio da Incerteza de Heisenberg. O estado de superposição quântica acontece quando for desconhecido o estado de um corpo. Se não pudermos identificá-lo, diremos que este corpo está em todos os estados. Não poderíamos inferir, por exemplo, que o gato não está em estado nenhum, já que foi colocado dentro da caixa e sabemos que ele está lá.
Schrödinger escreveu:
O texto acima é a tradução de dois parágrafos do artigo original bem mais extenso, o qual aparece na revista alemã "Naturwissenschaften" ("Ciências Naturais") em 1935.
A famosa experiência mental de Schrödinger coloca a questão: "quando" o sistema quântico para de ser uma mistura de estados e se torna ou um ou o outro?
Se o gato sobreviver, isso lembra que ele está apenas vivo. Mas as explicações das experiências EPR que são consistentes com a mecânica quântica microscópica padrão requerem que objetos macroscópicos, como gatos e cadernos, não podem ter sempre apenas uma descrição clássica. O propósito da experiência mental é para ilustrar esse aparente paradoxo: nossa intuição diz que nenhum observador pode estar em uma mistura de estados, mesmo que eles sejam gatos, por exemplo, eles não podem estar em tal mistura. É necessário que os gatos sejam observadores, ou sua existência em um estado clássico simples e bem definido exige outro observador externo? Cada alternativa pareceu absurda para Albert Einstein, que estava impressionado pela habilidade do experimento mental para esclarecer esses problemas; em uma carta a Schrödinger datada de 1950 ele escreveu:
Note que nenhuma carga de pólvora é mencionada no esquema de Schrödinger, que usa um contador Geiger como amplificador e cianeto no lugar de pólvora; a pólvora foi apenas mencionada na sugestão original de Einstein para Schrödinger 15 anos antes.
Interpretação de Copenhague.
Na interpretação de Copenhague na mecânica quântica, um sistema para a superposição de estados se torna um ou outro quando uma observação acontece. Essa experiência torna aparente o fato de que a natureza da medição, ou observação, não é bem definida nessa interpretação. Alguns interpretam a experiência, enquanto a caixa estiver fechada, como um sistema onde simultaneamente existe uma superposição de estados "núcleo decaído/gato morto" e "núcleo não-decaído/gato vivo", e apenas quando a caixa é aberta e uma observação é feita é que, então, a função de onda colapsa em um dos dois estados. Mais intuitivamente, alguns pensam que a "observação" é feita quando a partícula do núcleo atinge o detector. Essa linha de pensamento pode ser desenvolvida pelas teoria de colapso objetiva. Por outro lado, a interpretação de muitos mundos nega que esse colapso sequer ocorra.
Steven Weinberg disse:
A interpretação de muitos mundos de Everett & Histórias consistentes.
Na interpretação de muitos mundos da mecânica quântica, a qual não isola a observação como um processo especial, ambos estados vivo e morto do gato persistem, mas são incoerentes entre si. Nos outros mundos, quando a caixa é aberta, a parte do universo contendo o observador e o gato são separados em dois universos distintos, um contendo um observador olhando para um gato morto, outro contendo um observador vendo a caixa com o gato vivo.
Como os estados vivo e morto do gato são incoerentes, não têm comunicação efetiva ou interação entre eles. Quando um observador abre a caixa, ele se entrelaça com o gato, então, as opiniões dos observadores do gato sobre ele estar vivo ou morto são formadas e cada um deles não tem interação com o outro. O mesmo mecanismo de incoerência quântica é também importante para a interpretação em termos das Histórias consistentes. Apenas "gato morto" ou "gato vivo" pode ser parte de uma história consistente nessa interpretação.
Roger Penrose criticou isso:
Embora a visão mais aceita (sem necessariamente endossar os Vários-Mundos) é que a incoerência é o mecanismo que proíbe tal percepção simultânea.
Uma variante da experiência do Gato de Schrödinger conhecida como máquina de suicídio quântico foi proposta pelo cosmologista Max Tegmark. Ele examinou a experiência do Gato de Schrödinger da perspectiva do gato, e argumentou que essa teoria pode ser distinta entre a interpretação de Copenhague e a de muitos mundos.
Interpretação conjunta.
A interpretação conjunta afirma que superposições não são nada mais do que subconjuntos de um grande conjunto estatístico. Sendo esse o caso, o vetor estado não se aplicaria individualmente ao experimento do gato, mas apenas às estatísticas de muitos experimentos semelhantes. Os proponentes dessa interpretação afirmam que isso faz o paradoxo do Gato de Schrödinger um problema trivial não resolvido.
Indo por esta interpretação, ela descarta a ideia que um simples sistema físico tem uma descrição matemática que corresponde a isso de qualquer jeito.
Teorias de colapso objetivas.
De acordo com as teorias de colapso objetivo, superposições são destruídas espontaneamente (independente de observação externa) quando algum princípio físico objetivo (de tempo, massa, temperatura, irreversibilidade etc) é alcançado. Assim, espera-se que o gato tenha sido estabelecido em um estado definido muito tempo antes da caixa ser aberta. Isso poderia vagamente ser dito como "o gato se observa", ou "o ambiente observa o gato".
Teorias do colapso objetivo requerem uma modificação da mecânica quântica padrão, para permitir superposições de serem destruídas pelo processo de evolução no tempo.
Em teoria, como cada estado é determinado pelo estado imediatamente anterior, e este pelo anterior, "ad infinitum", a pré-determinação para cada estado teria sido determinada instantaneamente pelo "princípio" inicial do Big Bang. Assim o estado do gato vivo ou morto não é determinada pelo observador, ele já foi pré-determinado pelos momentos iniciais do universo e pelos estados subsequentes que sucessivamente levaram ao estado referenciado no experimento mental.
Aplicações práticas.
O experimento é puramente teórico, e o esquema proposto jamais poderá ser construído. Efeitos análogos, entretanto, tem algum uso prático em computação quântica e criptografia quântica. É possível enviar luz em uma superposição de estados através de um cabo de fibra óptica. Colocando um grampo no meio do cabo que intercepta e retransmite, a transmissão irá quebrar a função de onda (na interpretação de Copenhague, "realizar uma observação") e irá provocar que a luz caia em um estado ou em outro. Por testes estatísticos realizados na luz recebida na outra ponta do cabo, o observador pode saber se ele permanece na superposição de estados ou se ele já foi observado e retransmitido. Em princípio, isso permite o desenvolvimento dos sistemas de comunicação que não possam ser grampeados sem que o grampo seja notado na outra ponta. O experimento pode ser citado para ilustrar que a "observação" na interpretação de Copenhague não tem nada a ver com percepção (a não ser em uma versão do Panpsiquismo onde é verdade), e que um grampo perfeitamente imperceptível irá provocar que as estatísticas no fim do cabo sejam diferentes.
Em computação quântica, a frase "cat state" (Estado do gato) frequentemente refere-se ao emaranhamento dos qubits onde os qubits estão em uma superposição simultânea de todos sendo 0 e todos sendo 1, ou seja, formula_1 + formula_2.
Extensões.
Embora a discussão desse experimento mental fale sobre "dois" possíveis estados (gato vivo e gato morto), na realidade teria um "número enorme" de estados possíveis, pois a temperatura e grau e estado de decomposição do gato iria depender de exatamente quando e como mecanismo foi acionado, ou se o mecanismo foi acionado, ou ainda qual o estado do gato imediatamente antes da morte.
Em outra extensão, físicos foram tão longe como sugerir que astrônomos observando matéria escura no universo durante 1998 poderiam ter "reduzido sua expectativa de vida" através de um cenário de pseudo-Gato de Schrödinger, embora esse seja um ponto de vista controverso.
Outra variação do experimento é do Amigo de Wigner, no qual tem dois observadores externos, o primeiro que abre e inspeciona a caixa e quem então comunica suas observações a um segundo observador. O problema aqui é, a função de onda entra em colapso quando o primeiro observador abre a caixa, ou apenas quando o segundo observador é informado das observações do primeiro observador?
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902 | GNOME | GNOME
GNOME é um projeto de software livre abrangendo o Ambiente de Trabalho GNOME, para os usuários, e a Plataforma de Desenvolvimento GNOME, para os desenvolvedores. O projeto dá ênfase especial a usabilidade, acessibilidade e internacionalização.
O desenvolvimento do GNOME é supervisionado pela Fundação GNOME, que representa oficialmente o projeto junto a empresas, organizações e a sociedade como um todo. O projeto conta ainda com uma série de equipes com missões específicas, inclusive com uma equipe de engenharia de lançamentos, responsável pelo característico calendário de lançamentos semestrais.
A comunidade de desenvolvimento do GNOME conta tanto com voluntários quanto com empregados de várias empresas, inclusive grandes empresas como Hewlett-Packard, IBM, Novell, Red Hat, Oracle, entre outras. Historicamente "GNOME" era um acrônimo para "GNU Network Object Model Environment"; apesar disso, o GNOME nunca fez parte do projeto GNU. O projeto GNU, por sua vez, usa indevidamente a marca registrada.
História.
O projeto GNOME foi criado em 15 de agosto de 1997 pelos mexicanos Miguel de Icaza e Federico Mena Quintero, como uma resposta ao Windows 95. O projeto KDE já estava em andamento, mas para ser usado ou desenvolvido era necessário instalar o Qt, um conjunto de ferramentas que na época não tinha uma licença livre. Miguel de Icaza descartou a ideia de reimplementar a API do Qt usando software livre porque projetos análogos, como o GNUstep, Wine and LessTif, mostravam um progresso muito lento. Antes da criação do GNOME, Miguel e Federico tinham tentado colaborar com o GNUstep, mas desistiram por considerar sua comunidade desorganizada, e seu código cheio de erros.
A plataforma de desenvolvimento aproveitou e aprimorou o GTK, um conjunto de ferramentas usado pelo editor de imagens GIMP, em cujo desenvolvimento Federico Quintero estava também envolvido. Miguel de Icaza ficou muito impressionado com a arquitetura COM quanto passou por uma entrevista na Microsoft, e o reflexo foi o desenvolvimento da biblioteca Bonobo, incorporada ao GNOME 1.4. Além de permitir o reaproveitamento de componentes de software, o Bonobo colaborou para que o desenvolvimento de aplicativos para o GNOME pudesse ser feito com qualquer linguagem de programação. Outra característica da plataforma de desenvolvimento do GNOME é ser completamente escrita em C, o que também facilita a criação de bindings para outras linguagens de programação. A plataforma de desenvolvimento do GNOME é escrita principalmente nas linguagens de programação C, C++, Javascript, Python e Vala. Toda a plataforma de desenvolvimento do GNOME usa a licença GNU Lesser General Public License, uma licença livre que permite a utilização da plataforma GNOME por software proprietário.
GNOME 2.
O lançamento do GNOME 2.0 marcou uma guinada nos rumos do projeto, que passou a enfatizar a usabilidade em vez da configurabilidade. A plataforma foi quase inteiramente reescrita, trazendo várias melhorias como melhoria de desempenho, melhor internacionalização (usando Unicode internamente), suavização da renderização de fontes, e principalmente a estreia de sua plataforma de acessibilidade.
GNOME 3.
Anteriormente, o GNOME usava a metáfora tradicional da área de trabalho, mas no GNOME 3 isso foi substituído pelo GNOME Shell, uma metáfora mais abstrata em que a alternância entre diferentes tarefas e áreas de trabalho virtuais ocorre em uma área separada chamada Visão Geral ("Overview"). Além disso, como o Mutter substituiu o Metacity como gerenciador de janelas padrão, os botões minimizar e maximizar não aparecem mais por padrão, e a barra de título, a barra de menus e a barra de ferramentas são substituídas pela barra de cabeçalho por meio da "Decoração do lado do cliente" ("Client-Side Decoration - CSD"). "Adwaita" substituiu o "Clearlooks" como o tema padrão. Muitos aplicativos principais do GNOME também passaram por reformulações para fornecer uma experiência de usuário mais consistente.
Em setembro de 2017, o Projeto GNOME lançou o GNOME 3.26, fornecendo correções de bugs e novos recursos principais.
O GNOME Shell é a interface padrão do Ubuntu desde a versão 17.10, substituindo o Unity.
Críticas ao GNOME 3.x.
Devido a mudança "agressiva" de visual e de usabilidade do GNOME 2 para o GNOME 3, vários usuários criticaram a nova versão, dentre eles Linus Torvalds, fazendo surgir o ambiente MATE como uma alternativa ao GNOME 3.
As grandes mudanças na versão 3 inicialmente provocaram críticas generalizadas. O ambiente de desktop MATE foi bifurcado a partir da base de código do GNOME 2 com a intenção de manter a interface tradicional do GNOME 2, mantendo-o compatível com a moderna tecnologia Linux, como o GTK + 3. A equipe do Linux Mint abordou a questão de outra maneira ao desenvolver o "Mint GNOME Shell Extensions" que funcionava em cima do GNOME 3 e permitia que ele fosse usado pela metáfora tradicional da área de trabalho. Isso eventualmente levou à criação da interface de usuário do Cinnamon, que foi bifurcada a partir da base de código do GNOME 3.
Em 2005, nas listas oficiais de desenvolvimento do GNOME, Linus Torvalds encorajou os usuários a mudar para o KDE 3 ao invés de usar o GNOME. Em 2009, ele tentou novamente o GNOME, mas, insatisfeito com sua percepção de perda de produtividade, ele mudou para o Xfce, fazendo outra publicação dura contra o GNOME. Em 2013, ele voltou ao GNOME 3 afirmando que "está ficando menos doloroso" e "as coisas estão melhores do que há um ano".
A partir de 2015, a recepção crítica foi muito mais positiva. Por exemplo, o Debian, uma distribuição do Linux que tinha usado historicamente o GNOME 2, mudou para o Xfce quando o GNOME 3 foi lançado mas readotou o GNOME 3 a tempo para o lançamento do Debian 8 "Jessie".
GNOME 40.
O GNOME 40 foi lançado em 24 de março de 2021. Ele segue imediatamente a versão 3, mas adota um novo esquema de versão e um cronograma de futuros lançamentos principais em um ciclo fixo de seis meses.
O GNOME 40 organiza os espaços de trabalho e o painel de forma horizontal, em vez de usar um design vertical em sua visão geral de atividades, como seus antecessores. O lançamento também traz novos gestos do touchpad.
Design.
Human Interface Guidelines (HIG).
Desde o GNOME 2, a produtividade tem sido o foco principal do GNOME. Para este fim, as Diretrizes de Interface Humana do GNOME ("Human Interface Guidelines - HIG") foram criadas. Todos os programas do GNOME compartilham um estilo coerente de interface gráfica do usuário (GUI), mas não estão limitados ao emprego dos mesmos widgets da GUI. Em vez disso, o design da GUI do GNOME é guiado por conceitos descritos no "GNOME HIG", ele próprio baseado em "insights" da ergonomia cognitiva. Seguindo o HIG, os desenvolvedores podem criar programas GUI de alta qualidade, consistentes e utilizáveis, já que ele trata de tudo, desde o design da GUI até o layout recomendado de "widgets" baseados em "pixels".
Durante a reescrita do GNOME 2, muitas configurações consideradas de pouco valor para a maioria dos usuários foram removidas. Havoc Pennington resumiu o trabalho de usabilidade em seu ensaio de 2002 "Free Software UI", enfatizando a ideia de que todas as preferências têm um custo, e é melhor fazer o software se comportar corretamente por padrão do que adicionar uma preferência de interface para obter o comportamento desejado:
GNOME Shell.
O "GNOME Shell" é a interface oficial de usuários do ambiente de desktop GNOME. Possui uma barra superior contendo (da esquerda para a direita): um botão de "Atividades", um menu de aplicativos, um relógio e um menu de "status" do sistema integrado. O menu do aplicativo exibe o nome do aplicativo em foco e fornece acesso a funções como acessar as preferências do aplicativo, fechar o aplicativo ou criar uma nova janela do aplicativo. O menu de status contém vários indicadores de "status" do sistema, atalhos para as configurações do sistema e ações de sessão, incluindo o "logout", alternar usuários, bloquear a tela e suspender o computador.
Clicar no botão "Atividades", mover o mouse para o canto superior esquerdo ou pressionar a tecla "Super" exibe o "Overview" ("Visão Geral"). A "Visão Geral" oferece aos usuários uma visão geral das atividades atuais e fornece uma maneira de alternar entre janelas e espaços de trabalho e iniciar aplicativos. O "Dash (Painel)" à esquerda abriga atalhos para aplicativos favoritos e janelas abertas e um botão de seleção de aplicativo para mostrar uma lista de todos os aplicativos instalados. Uma barra de pesquisa é exibida na parte superior e uma lista de espaços de trabalho para alternar entre espaços de trabalho está à direita. As notificações aparecem na parte inferior da tela.
Começando com o GNOME 3.8, o GNOME fornece um "Modo Clássico" para aqueles que preferem uma experiência de área de trabalho tradicional (semelhante ao GNOME 2).
Compatibilidade.
O GNOME é executado no Wayland e no X Window System. O suporte a Wayland foi introduzido no GNOME 3.10 e considerado “para a maioria dos usuários […] uma experiência utilizável no dia-a-dia” na versão 3.20 e priorizados em relação às sessões X. O GNOME 3.24 irá estender a compatibilidade do Wayland para os drivers da NVidia.
Versões do GNOME estão disponíveis na maioria das distribuições do Linux como o ambiente de desktop padrão ou como uma opção instalável e também nas coleções de portas da maioria dos BSDs.
Em maio de 2011, Lennart Poettering propôs o systemd como uma dependência do GNOME. Como o systemd está disponível apenas no Linux, a proposta levou a uma discussão sobre a possível queda do suporte para outras plataformas em futuras versões do GNOME. Já que o suporte multi-terminal do GNOME 3.2 só está disponível em sistemas que usam o systemd. Em novembro de 2012, a equipe de lançamento do GNOME concluiu que o systemd pode ser usado para funcionalidades não básicas.
Desenvolvimento.
O GNOME é desenvolvido pelo Projeto GNOME e fornece o "GNOME Desktop Environment", uma interface gráfica com o usuário e um conjunto de aplicativos principais, e a Plataforma de Desenvolvimento GNOME ("GNOME Development Platform"), uma estrutura para criar aplicativos que se integram à área de trabalho.
Tal como acontece com a maioria dos projetos de software livre, o desenvolvimento do GNOME é gerenciado de forma livre. A discussão ocorre principalmente em várias listas de discussão públicas. Os desenvolvedores e usuários do GNOME se reúnem em uma reunião anual do GUADEC para discutir o estado atual e a direção futura do GNOME.
O GNOME incorpora padrões e programas do Freedesktop.org para melhor interoperar com outros desktops e é escrito principalmente em C, C ++, Vala, Python e JavaScript. Várias vinculações de nomes estão disponíveis.
GUADEC.
GUADEC ("GNOME Users And Developers European Conference") é a Conferência Anual de Usuários e Desenvolvedores do GNOME, reunião anual de desenvolvedores, entusiastas e usuários individuais, profissionais, institucionais e educacionais do GNOME. É um fórum onde os membros do projeto GNOME apresentam seus trabalhos e discutem futuros desenvolvimentos do GNOME. Sediado anualmente em um país europeu diferente, o GUADEC é um catalisador para o futuro desenvolvimento e direção do GNOME.
Ferramentas de desenvolvimento.
Programadores criaram softwares para fornecer ferramentas de desenvolvimento consistentes com a área de trabalho do GNOME e para facilitar o desenvolvimento do software GNOME.
O GNOME Builder é o novo ambiente de desenvolvimento integrado, o Anjuta é o mais antigo. O software Glade Interface Designer constrói interfaces gráficas usando os elementos gráficos de controle no GTK. Devhelp é um navegador de APIs, Accerciser um explorador de acessibilidade.
Existem várias ferramentas de depuração, incluindo Nemiver, GtkInspector e Alleyoop, que também foram fornecidas para facilitar o desenvolvimento do software GNOME.
Opções de integração para ferramentas de desenvolvimento de terceiros (por exemplo, NoFlo) também existem.
A biblioteca libsoup permite acessar servidores HTTP a partir de aplicativos GNOME.
BuildStream é uma estrutura flexível e extensível para a modelagem de "build" e "CI pipelines" em um formato YAML declarativo, escrito em Python. Seu mascote é um castor, porque os castores constroem coisas em um fluxo de água.
Plataforma de desenvolvimento.
A biblioteca de estruturas e utilitários de dados GLib, o sistema de objeto e tipo GObject e o kit de ferramentas de "widget" GTK + compõem a parte central da plataforma de desenvolvimento do GNOME. Essa base é ampliada ainda mais com a estrutura D-Bus IPC, biblioteca Cairo de desenho baseada em vetores 2D, biblioteca gráfica acelerada Clutter, biblioteca internacional de renderização de texto Pango, API de áudio de baixo nível PulseAudio, estrutura multimídia GStreamer e várias bibliotecas especializadas, incluindo NetworkManager, PackageKit, Telepathy (mensagens instantâneas) e WebKit.
O ambiente de área de trabalho GNOME não consiste apenas da biblioteca gráfica de elementos de controle GTK + e dos principais aplicativos que fazem uso dela. Existem alguns pacotes de software adicionais que compõem o ambiente de área de trabalho do GNOME, como os acima.
Aplicativos.
Há um grande número de programas baseados em GTK e "Clutter" escritos por vários autores. Desde o lançamento do GNOME 3.0, o Projeto GNOME se concentra no desenvolvimento de um conjunto de programas que considera os "Aplicativos Principais do GNOME" ("GNOME Core Applications"). As semelhanças dos "Aplicativos Principais do GNOME" são a aderência às diretrizes atuais do "GNOME HUD", bem como a integração firme com as camadas subjacentes do GNOME, como, por exemplo, GVfs e também uns com os outros, como "GOA (gnome-online-accounts)" e GNOME Files com o Google Drive e GNOME Photos com o Google Photos. Alguns programas são programas existentes renomeados com uma interface de usuário renovada, enquanto outros foram escritos do zero.
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905 | Gavião | Gavião
Os gaviões são aves de rapina da família dos Acipitrídeos. Os gaviões são comuns em todos os continentes, com exceção da Antártica.
Todos estes grupos são membros da família Accipitridae, que inclui os gaviões e "buzzards", assim como os milhafres, "harriers" e águias. Alguns autores, ainda, usam "gavião" geralmente para qualquer aciptrídeo pequeno a médio que não seja uma águia.
Os nomes comuns de algumas aves incluem o termo "gavião", refletindo o uso tradicional e não a taxonomia.
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906 | Gavião-real | Gavião-real
O gavião-real (nome científico: "Harpia harpyja"), também chamado cutucurim, gavião-de-penacho, harpia, uiraçu, uiracuir, uiruuetê, uraçu, águia-imperial-brasileira, águia-imperial ou uiraçu-verdadeiro, é uma ave acipitriforme da família dos acipitrídeos ("Accipitridae"). É a maior e mais poderosa ave de rapina encontrada em toda a sua extensão e está entre as maiores espécies de águias existentes no mundo. Geralmente habita florestas tropicais de baixa altitude na camada superior (emergente) do dossel. A destruição de seu habitat natural fez com que desaparecesse de muitas partes de seu antigo território e está quase extirpado de grande parte da América Central.
Etimologia.
O nome específico "harpyja" e a palavra "harpia" no nome comum vêm do grego antigo "harpyia". Referem-se às harpias da mitologia grega antiga, espíritos do vento que levavam os mortos para o Hades ou Tártaro, e diziam ter um corpo como um abutre e o rosto de uma mulher. Por causa do tamanho e ferocidade do animal, os primeiros exploradores europeus da América Central nomearam-nas como harpias. "Gavião-de-penacho" e "gavião-real" são referências ao penacho na cabeça característico da espécie, com um formato semelhante ao de uma coroa. "Uiruuetê" é um termo tupi que contém o termo "e'tê", "verdadeiro", "gwï'ra", "ave", e talvez "'una" no sentido de "preto" ou "-u'su" no sentido de "grande" "Uiraçu" e "uraçu" (registrado a primeira vez em 1822 como "uiraaçu") vieram do termo tupi "gwïrawa'su", construído a partir de "gwï'ra", "ave", e "wa'su", "grande". "Uiracuir" ou "uirakuir" vieram da junção dos termos tupi para "pássaro" ("gwirá, uirá") e para "cortante/afiado" ("kuir, cuir") utilizados por nativos guaranis da região mais a sudeste da América do Sul. Por fim, "Cutucurim" é de origem incerta, mas possivelmente deriva de cutiú (do tupi "kuti'u"), que significa "gavião preto do Amazonas", e o elemento final "-una", "preto", que pode reduzir-se a "-um" e "-u".
Taxonomia.
O gavião-real foi descrito pela primeira vez por Carlos Lineu em seu livro de 1758 10.ª edição do "Systema Naturae" como "Vultur harpyja", em homenagem à mitológica harpia. Sendo único membro do gênero "Harpia", o gavião-real está mais intimamente relacionado com o uiraçu-falso ("Morphnus guianensis") e a águia-papua ("Harpyopsis novaeguineae"), os três que compõem a subfamília dos harpiíneos ("Harpiinae") dentro da grande família dos acipitrídeos ("Accipitridae"). Apesar de antigamente ser classificado como próximo a águia-filipina ("Pithecophaga jefferyi"), uma análise de DNA mostrou que essa espécie é mais próxima ao grupo dos circetíneos ("Circaetinae").
Descrição.
Morfologia.
A parte superior do gavião-real é coberta com penas pretas, e a parte inferior é principalmente branca, com exceção dos tarsos emplumados, que são listrados de preto. Uma larga faixa preta na parte superior do peito separa a cabeça cinzenta da barriga branca. A cabeça é cinza pálido e é coroada com uma crista dupla. A parte superior da cauda é preta com três faixas cinzas, enquanto a parte inferior é preta com três faixas brancas. As íris são cinzentas, castanhas ou vermelhas, a cera e o bico são pretos ou enegrecidos e os tarsos e dedos são amarelos. A plumagem de machos e fêmeas é idêntica. O tarso atinge até 13 centímetros de comprimento.
Os gaviões-reais fêmeas geralmente pesam de seis a nove quilos. Uma fonte afirma que as fêmeas adultas podem pesar até 10 quilos. Uma fêmea cativa excepcionalmente grande, chamada "Jezebel", pesava 12,3 quilos. Estando em cativeiro, esta grande fêmea pode não ser representativa do peso possível em gaviões selvagens devido às diferenças na disponibilidade de alimentos. O macho, em comparação, é muito menor, variando de quatro a seis quilos. O peso médio dos machos foi relatado como 4,4 a 4,8 quilos contra uma média de 7,3 a 8,3 quilos para fêmeas adultas, uma diferença de 35% ou mais na massa corporal média. Os gaviões-reais podem medir de 86,5 a 107 centímetros de comprimento total e com uma envergadura de 176 a 224 centímetros. Entre as medidas padrão, a corda da asa mede 54 a 63 centímetros, a cauda mede 37 a 42 centímetros, o tarso tem 11,4 a 13 centímetros comprimento, e a cimeira exposta da cera tem de 4,2 a 6,5 centímetros. O tamanho médio da garra é de 8,6 centímetros nos machos e 12,3 centímetros nas fêmeas.
Essa ave é citada como a maior águia ao lado da águia-filipina, que é um pouco mais longa em média (com média de um metro de comprimento), mas pesa um pouco menos, e o pipargo-gigante ("Haliaeetus pelagicus"), que talvez seja um pouco mais pesado em média (a média de três aves assexuadas foi de 7,75 quilos). O gavião-real pode ser a maior espécie de ave da América Central, e grandes aves aquáticas, como pelicanos-americanos ("Pelecanus erythrorhynchos") e jaburus ("Jabiru mycteria") tenham massas corporais médias apenas um pouco mais baixas. A envergadura do gavião-real é relativamente pequena, embora as asas sejam bastante largas, uma adaptação que aumenta a manobrabilidade em habitats florestais, sendo uma característica compartilhada por outras aves de rapina em habitats semelhantes. A envergadura do gavião-real é superada por várias grandes águias que vivem em habitats mais abertos, como as dos gêneros "Haliaeetus" e "Aquila". A Águia-de-haast ("Harpagornis moorei") extinta era significativamente maior do que todas as águias existentes, incluindo o gavião-real.
Cantos e gritos.
Esta espécie é em grande parte silenciosa quando está longe do ninho. Quando estão no ninho, os adultos emitem um grito penetrante, fraco e melancólico, com o chamado dos machos incubantes descrito como "gritos ou lamentos sussurrantes". As chamadas das fêmeas durante a incubação são semelhantes, mas são mais baixas. Ao se aproximar do ninho com comida, o macho costuma emitir "chiados rápidos, chamadas de ganso e gritos agudos ocasionais". A vocalização em ambos os pais diminui à medida que os filhotes envelhecem, enquanto os filhotes se tornam mais vocais. Os filhotes chamam "chi-chi-chi-chi-chi-chi-chi", aparentemente em resposta à chuva ou luz solar direta. Quando os humanos se aproximam do ninho, os filhotes fazem sons descritos como "coaxando", "grasnando" e "assobiando".
Distribuição e habitat.
Raro em toda a sua extensão, o gavião-real é encontrado desde o México, passando pela América Central e América do Sul até o sul da Argentina. Nas florestas tropicais, vive na camada emergente. É mais comum no Brasil, onde é encontrada em todo o território nacional. Com exceção de algumas áreas do Panamá, a espécie está quase extinta na América Central, após o corte de grande parte da floresta tropical lá (tendo sido completamente extirpada de El Salvador, por exemplo). O gavião-real habita florestas tropicais de várzea e pode ocorrer dentro dessas áreas desde o dossel até a vegetação emergente. Geralmente ocorre abaixo de uma altitude de 900 metros, mas indivíduos já foram registrados em altitudes de até metros. Dentro da floresta tropical, caça no dossel ou às vezes no chão, e pousa em árvores emergentes em busca de presas. Geralmente não ocorrem em áreas ocupadas pelo homem, mas visita regularmente o mosaico floresta/pastagem semiaberto, principalmente em incursões de caça. Os gaviões-reais podem ser encontradas sobrevoando as fronteiras da floresta em uma variedade de habitats, como cerrados, caatingas, palmeiras de buriti, campos cultivados e cidades.
Comportamento.
Reprodução.
Os gaviões-reais, como as águias em geral, são monogâmicos e formam pares unidos por toda a vida, mas, exceto durante a época de reprodução, os parceiros têm cada um seu próprio território de caça e só se reúnem para acasalar. Em algumas partes do Panamá e da Guiana, ninhos ativos foram localizados a três quilômetros de distância um do outro, enquanto estão a cinco quilômetros um do outro na Venezuela. No Peru, a distância média entre ninhos foi de 7,4 quilômetros e a área média ocupada por cada casal reprodutor foi estimada em hectares. Em áreas menos ideais, com floresta fragmentada, os territórios de reprodução foram estimados em 25 quilômetros. O gavião-real fêmea põe dois ovos brancos em um grande ninho de gravetos forrado com folhas e musgo, que geralmente mede 1,2 metro de profundidade e 1,5 metro de diâmetro e pode ser usado por vários anos. Os ninhos se localizam no alto de árvores, geralmente na bifurcação principal, entre 16 a 43 metros, dependendo da estatura das árvores locais. O gavião-real costuma construir seu ninho na copa das mafumeiras ("Ceiba pentandra"), uma das árvores mais altas da América do Sul. Em muitas culturas sul-americanas, cortar a mafumeira é considerado má sorte, o que pode ajudar a proteger o habitat desta águia. A ave também usa outras árvores grandes para construir seu ninho, como a castanheira-do-pará ("Bertholletia excelsa"). Um local de nidificação encontrado no Pantanal brasileiro foi construído em uma árvore de cambará ("Vochysia divergens").
A época de reprodução estende-se de junho a novembro. Não se conhece nenhum tipo de exibição entre os pares de gaviões-reais, e acredita-se que acasalem por toda a vida. Um par de gaviões-reais geralmente cria apenas um filhote a cada 2-3 anos. Após a eclosão do primeiro pintinho, o segundo ovo é ignorado e normalmente não eclode, a menos que o primeiro filhote morra. O ovo é incubado por volta de 56 dias. Quando o filhote tem 36 dias de idade, pode ficar de pé e andar desajeitadamente. O pintinho empluma aos 6 meses, e os pais continuam a alimentá-lo por mais 6 a 10 meses. O macho captura grande parte da comida à fêmea que incuba o ovo, e depois apara o seu filhote, mas também faz turnos de incubação enquanto a fêmea forrageia, enquanto ela traz presas de volta ao ninho. A maturidade reprodutiva não é alcançada até que as aves tenham 4 a 6 anos de idade. Os adultos podem ser agressivos com humanos que perturbam o local de nidificação ou que pareçam ser uma ameaça para seus filhotes.
Técnicas de caça.
O gavião-real adulto é um carnívoro no topo da cadeia alimentar, cuja velocidade máxima de voo pode atingir 80 km/h. Todavia, foi notado que dois gaviões-reais jovens que estavam sendo soltas na natureza como parte de um programa de reintrodução foram caçados por uma onça-pintada ("Panthera onca") e uma jaguatirica ("Leopardus pardalis"). Os gaviões-reais possuem as maiores garras de todas as águias viva e foram registrados como levantando presas que pesam o mesmo que seu próprio peso corporal. Isso permite que elas capturem preguiças vivas, assim como outras presas proporcionalmente grandes. Mais comumente, os gaviões-reais usam a tática de caça de poleiro, na qual escaneiam a atividade das presas enquanto empoleiram-se brevemente entre voos curtos de árvore em árvore. Ao avistar a presa, o gavião-real mergulha rapidamente e a agarra. Às vezes, os gaviões-reais executam predação do tipo "sentar e esperar" (comuns em aves de rapina que vivem na floresta), pousando por longos períodos em um ponto alto perto de uma abertura, um rio ou uma salina, onde muitos mamíferos vão para obter nutrientes. Ocasionalmente, eles também podem caçar voando dentro ou acima do dossel. Eles também foram observados em perseguições aéreas: perseguindo outras aves em voo, esquivando-se rapidamente entre árvores e galhos, um estilo de predação comum aos falcões do gênero "Accipiter" que caçam pássaros.
Alimentação.
Os machos geralmente pegam presas relativamente menores, com um intervalo típico de 0,5 a 2,5 quilos ou cerca de metade do seu próprio peso. As fêmeas maiores pegam presas maiores, com um peso mínimo de presas registrado de cerca de 2,7 quilos. Os gaviões-reais adultos pegam regularmente grandes bugios ("Alouatta") machos, macacos-aranha ("Ateles") ou bichos-preguiça ("Folivora") pesando de seis a nove quilos em voo. As presas levadas para o ninho pelos pais são normalmente de tamanho médio, tendo sido registradas presas de um a quatro quilos. As presas trazidas para o ninho por machos pesavam em média 1,5 quilo, enquanto a presa trazida para o ninho pelas fêmeas tiveram uma média de 3,2 quilos. Em outro estudo, aves não nidificantes pegaram presas em média de 4,24 quilos, mais do que a média das nidificantes, de 3,64 quilos, com espécies de presas estimadas em peso médio de 1,08 quilos (para gambá-comum ("Didelphis marsupialis")) a 10,1 quilos (para o mão-pelada ("Procyon cancrivorus") adulto). No geral, as presas do gavião-real pesam entre 0,3 a 6,5 quilos, com o tamanho médio de presa igual a 2,6 ± 0,8 quilos Uma recente revisão de literatura e pesquisa usando armadilhas fotográficas lista um total de 116 espécies diferentes de presas. Uma pesquisa realizada por Aguiar-Silva entre 2003-05 em um local de nidificação em Parintins, Amazonas, coletou restos de presas oferecidas ao filhote. Os pesquisadores descobriram que 79% das presas eram compostas por preguiças de duas espécies: 39% preguiça-comum ("Bradypus variegatus") e 40% de preguiça-real ("Choloepus didactylus"). Pesquisa semelhante no Panamá, onde dois subadultos criados em cativeiro foram liberados, descobriu que 52% das capturas do macho e 54% das fêmeas eram de duas espécies de preguiça (preguiça-comum e "Choloepus hoffmanni").
Em vários ninhos na Guiana, os macacos constituíam cerca de 37% dos restos de presa encontrados nos ninhos. Da mesma forma, os macacos-prego ("Sapajus") compuseram 35% dos restos encontrados em 10 ninhos na Amazônia equatoriana. Macacos capturados regularmente incluem macacos-prego, parauacus ("Pithecia"), bugios, guigós ("Callicebus"), saimiris e macacos-aranha. Macacos menores, como micos ("Saguinus") e saguis (dos gêneros "Callithrix", "Callibella", "Cebuella", "Mico") são aparentemente ignorados como presas por esta espécie. Gaviões-reais machos geralmente caçam macacos pequenos ou jovens, mas as gaviões-reais fêmeas adultos são conhecidos por matar macacos maiores como macaco-barrigudo-cinzento ("Lagothrix cana"), "Alouatta palliata" e "Ateles chamek", que pode pesar até 9 quilos. Até mesmo os maiores macacos da América do Sul, como o macaco-aranha-preto adulto ("Ateles paniscus"), que pode pesar entre 7,5 e 13,5 quilos pode ser vítima do gavião-real. Em outro estudo, gaviões-reais reprodutores caçaram "Alouatta pigra" que podem pesar de 6,4 a 11,3 quilos, embora sejam desconhecidas as idades dos macacos capturados por esses gaviões-reais.
Outros mamíferos parcialmente arborícolas e até terrestres também são predados dada a oportunidade, incluindo porcos-espinho (eretizontídeos), esquilos, gambás (didelfiídeos), tamanduás (vermilíngues), tatus (dasipodídeos e clamiforídeos) e animais carnívoros, como juparás ("Potos flavus"), quatis ("Nasua"), iraras ("Eira barbara") e, ocasionalmente, gatos-maracajás ("Leopardus wiedii") e graxains-do-mato ("Cerdocyon thous"). Há um relato de gaviões-reais atacando jaguatiricas adulta e mãos-peladas. No Pantanal, um par de águias nidificantes predava em grande parte porcos-espinho ("Coendou prehensilis") e cutias ("Dasyprocta azarae"). O gavião-real também pode atacar espécies de aves, como as araras: no campo de pesquisa de Parintins, a arara-vermelha ("Ara chloropterus") compunha 0,4% das presas, com outras aves no valor de 4,6%. Outros papagaios também são predados, assim como cracídeos como mutuns e outras aves como seriemas (cariamídeos). Em uma ocasião, um juvenil dependente aprendeu rapidamente a caçar urubus-de-cabeça-preta ("Coragyps atratus"). Itens de presas adicionais relatados incluem répteis como iguanas, teiús ("Tupinambis") e cobras. O gavião-real já foi registrado atacando animais de criação, incluindo galinhas, cordeiros, cabras e porcos jovens, mas isso é extremamente raro em circunstâncias normais. Eles controlam a população de mesopredadores, como os macacos-prego, que atacam amplamente os ovos das aves e que (se não controlados naturalmente) podem causar extinções locais de espécies sensíveis.
Estado e conservação.
Embora o gavião-real ainda ocorra em uma área considerável, sua distribuição e populações diminuíram consideravelmente. Está ameaçado principalmente pela perda de habitat devido à expansão da extração de madeira, pela pecuária e pela agricultura. Secundariamente, é ameaçado por ser caçado como uma ameaça real ao gado e, supostamente, à vida humana, devido ao seu grande tamanho. Embora não seja conhecido por caçar humanos e raramente atacar animais domésticos, o tamanho grande da espécie e o comportamento destemido em torno dos humanos fazem dela um “alvo irresistível” para os caçadores. Tais ameaças se aplicam em toda a sua extensão, em grande parte das quais o pássaro se tornou apenas uma visão transitória; no Brasil, foi praticamente exterminada da Mata Atlântica e só é encontrada em números apreciáveis nas partes mais remotas da bacia amazônica; um relato jornalístico brasileiro de meados da década de 1990 já reclamava que na época só era encontrado em números expressivos em território brasileiro no lado norte da linha do Equador. Registros científicos da década de 1990, no entanto, sugerem que a população de gaviões-reais da Mata Atlântica pode ser migratória. Pesquisas posteriores no Brasil estabeleceram que, em 2009, o gavião-real, fora da Amazônia brasileira, estava criticamente ameaçado no Espírito Santo, São Paulo e Paraná, ameaçada no Rio de Janeiro, e provavelmente extirpada no Rio Grande do Sul (onde uma observação em março de 2015 foi feita no Parque Estadual do Turvo) e Minas Gerais – o tamanho real de sua população total no Brasil é desconhecido.
Ao longo das pesquisas no Brasil, foi classificado em várias listas de conservação: em 2005, constava como criticamente em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo; em 2010, como criticamente em perigo na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais e no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná; em 2011, como criticamente em perigo na Lista das Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção em Santa Catarina; em 2014, como criticamente em perigo na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Rio Grande do Sul e em perigo no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo; em 2014, como vulnerável na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014; em 2017, como criticamente em perigo na Lista Oficial das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção do Estado da Bahia; e em 2018, como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e como em perigo na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Estado do Rio de Janeiro.
Globalmente, o gavião-real é considerado quase ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) em sua Lista Vermelha e ameaçado de extinção pelno Apêndice I da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES). O Fundo Peregrino até recentemente a considerava uma "espécie dependente da conservação", o que significa que depende de um esforço dedicado à reprodução em cativeiro e liberação na natureza, bem como à proteção do habitat, para evitar que atinja a situação de ameaçada, mas agora aceitou a situação de quase ameaçado. O gavião-real é considerado criticamente ameaçado no México e na América Central, onde foi extirpado na maior parte de sua antiga área de distribuição; no México, costumava ser encontrado tão ao norte quanto Veracruz, mas hoje provavelmente ocorre apenas em Chiapas na Selva Zoque. É considerado quase ameaçado ou vulnerável na maior parte da porção sul-americana de sua área de distribuição. Na Argentina, é encontrado apenas nas florestas do vale do rio Paraná, na província de Misiones. Desapareceu de El Salvador, e quase desapareceu da Costa Rica.
Iniciativas nacionais.
Várias iniciativas à recuperação da espécie estão em andamento em vários países. Desde 2002, o Fundo Peregrino iniciou um programa de conservação e pesquisa ao gavião-real na província de Darién, no Panamá. Um projeto de pesquisa semelhante – e maior, dadas as dimensões dos países envolvidos – está ocorrendo no Brasil, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), por meio do qual dezenas de locais de nidificação conhecidos estão sendo monitorados por pesquisadores e voluntários das comunidades locais. Um filhote de gavião-real foi equipado com um transmissor de rádio que permite rastreá-lo por mais de três anos, com o sinal de satélite enviado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Além disso, foi feito um registro fotográfico de um ninho na Floresta Nacional de Carajás à edição brasileira da revista "National Geographic".
O Fundo Peregrino realizou um projeto de criação e soltura em cativeiro que liberou um total de 49 aves no Panamá e em Belize. O Fundo Peregrino também realizou um projeto de pesquisa e conservação sobre esta espécie desde o ano 2000, tornando-se o estudo mais antigo sobre gaviões-reais. Em Belize, o Projeto de Restauração da Harpia de Belize começou em 2003 com a colaboração de Sharon Matola, fundadora e diretora do Zoológico de Belize e do Fundo Peregrine. O objetivo deste projeto era o restabelecimento do gavião-real em Belize. A população da águia diminuiu devido à fragmentação da floresta e destruição de ninhos, resultando na quase extirpação da espécie. Os gaviões-reais criados em cativeiro foram soltos na Área de Conservação e Manejo Rio Bravo, em Belize, escolhida por seu habitat florestal de qualidade e as ligações com a Guatemala e o México. A ligação do habitat com a Guatemala e o México foi importante à conservação do habitat de qualidade e do gavião-real em nível regional. Até novembro de 2009, 14 gaviões-reais foram soltos na região e são monitorados pelo Fundo Peregrino, por meio de telemetria via satélite.
Em janeiro de 2009, um filhote da população quase extirpada do estado brasileiro do Paraná foi incubada em cativeiro na reserva mantida nas proximidades da represa de Itaipu pela empresa estatal brasileira/paraguaia Itaipu Binacional. Em setembro, uma fêmea adulta, após 12 anos de cativeiro em uma reserva particular, recebeu um rádio transmissor antes de ser devolvida à natureza nas proximidades do Parque Nacional do Pau Brasil (antigo Parque Nacional do Monte Pascoal), na estado da Bahia. Em dezembro, um 15.º gavião-real foi solto na Área de Conservação e Manejo Rio Bravo, em Belize. A soltura foi programada para coincidir com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 2009, em Copenhague. O 15.º gavião-real, apelidada de "Esperança" pelos funcionários da Peregrine no Panamá, foi o "garoto-propaganda" da conservação da floresta em Belize, um país em desenvolvimento, e da importância dessas atividades em relação às mudanças climáticas. O evento recebeu cobertura das principais entidades de mídia de Belize, e contou com o apoio e a participação do embaixador dos Estados Unidos em Belize, Vinai Thummalapally, e do alto comissário britânico em Belize, Pat Ashworth.
Na Colômbia, em 2007, um macho adulto e uma fêmea subadulta confiscados do tráfico de animais selvagens foram devolvidos à natureza e monitorados no Parque Nacional Paramillo, em Córdova, com outro casal mantido em cativeiro em um centro de pesquisa para reprodução e eventual libertação. Um esforço de monitoramento com a ajuda de voluntários de comunidades nativas americanas também está sendo feito no Equador, com o patrocínio conjunto de várias universidades espanholas — esse esforço é semelhante a outro que vem acontecendo desde 1996 no Peru, centrado em torno de um nativo comunidade da Província de Tambopata, Região de Madre de Dios.
Na cultura humana.
O gavião-real é a ave nacional do Panamá e está representado no brasão de armas do Panamá. O 15.º gavião-real solto em Belize, batizado de "Esperança", foi apelidado de "Embaixador das Mudanças Climáticas", à luz da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2009. A ave apareceu no verso da nota venezuelana de dois mil bolívares fuertes. Um gavião-real foi a inspiração por trás do design de Fawkes, a Fênix, na série de filmes Harry Potter. Um gavião-real vivo foi usado para representar a agora extinta águia-de-haast em "Monsters We Met" da British Broadcasting Corporation (BBC). Está desenhado no brasão de armas do estado brasileiro do Paraná, do Museu Nacional e do 4.º Batalhão de Aviação do Exército Brasileiro.
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909 | Lendas sobre a origem do guaraná | Lendas sobre a origem do guaraná
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910 | Projeto GNU | Projeto GNU
Projeto GNU, em computação, é um projeto lançado em 27 de setembro de 1983 pelo ativista, programador e hacker Richard Stallman. Atualmente, a Free Software Foundation (FSF) é a principal organização que patrocina o projeto. Já na década de 1980, quase todo software era proprietário, o que significa que ele possuía donos que proibiam e evitavam a cooperação dos usuários. Isso tornou o Projeto GNU necessário. O objetivo do projeto era criar um sistema operacional, chamado GNU, baseado em software livre.
Etimologia.
O nome “GNU” foi escolhido porque atende a alguns requisitos; em primeiro lugar, é um acrônimo recursivo para “GNU is Not Unix”, depois, porque é uma palavra real e, finalmente, é divertido de falar (ou Cantar).
A palavra “livre” em “software livre” se refere à liberdade, não ao preço. Você pode ou não pagar para obter software do projeto GNU. De qualquer forma, uma vez que você tenha o software, você tem quatro liberdades específicas ao usá-lo: a liberdade de executar o programa como você desejar; a liberdade de copiá-lo e dá-lo a seus amigos e colegas; a liberdade de modificar o programa como você desejar, por ter acesso total ao código-fonte; a liberdade de distribuir versões melhoradas e, portanto, ajudar a construir a comunidade. (Se você redistribuir software do projeto GNU, você pode cobrar uma taxa pelo ato físico de transferir uma cópia, ou você pode simplesmente dar cópias de graça.)
Manifesto GNU.
O Manifesto GNU foi escrito por Richard Stallman e publicado em Março de 1985 no Dr. Dobb's Journal of Software Tools. O manifesto teve o objetivo de explicar e definir os objetivos do projeto GNU e convidar pessoas para participar e ajudar no desenvolvimento do GNU. Grande parte do texto explica como a filosofia do software livre funciona e porque seria uma boa escolha para a indústria tecnológica seguí-la. O texto é tido com elevada consideração pelo movimento do software livre como uma fonte de filosofia fundamental.
No Manifesto, Stallman listou quatro liberdades essenciais para os usuários de software: 1- Liberdade para usar o programa para qualquer propósito, 2 - Liberdade para estudar a mecânica do programa e modificá-la, 3 - Liberdade para redistribuir cópias e 4 - Liberdade para modificar e melhorar versões para o uso público. Para implementar essas liberdades os usuários precisam ter acesso completo ao código do programa. Para assegurar que o código se mantenha aberto e de livre acesso, Stallman criou a GNU General Public License (Licença de Uso Público Geral), que permite que o software e suas futuras gerações derivadas se mantenham livres para o uso público.
Projetos de software GNU.
Lista de alguns programas desenvolvidos pelo projeto GNU:
O projecto GNU também ajuda com o desenvolvimento de outros pacotes, como:
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911 | Guerra dos Emboabas | Guerra dos Emboabas
A Guerra dos Emboabas foi um confronto travado de 1707 a 1709 pelo direito de exploração das recém-descobertas jazidas de ouro na Capitania de São Vicente, região do atual estado de Minas Gerais, no Brasil. O conflito contrapôs os desbravadores vicentinos e os forasteiros que vieram depois da descoberta das minas. O primeiro grupo, formado pelos bandeirantes paulistas, havia descoberto a região das minas e, por esta razão, reclamava a exclusividade de explorá-las, e era liderado por Borba Gato. O outro grupo era heterogêneo e composto de portugueses provenientes da Europa e migrantes das demais partes do Brasil, sobretudo da costa leste nordestina, liderado por Manuel Nunes Viana, era pejorativamente apelidado de "emboabas" pelos paulistas.
Em novembro de 1708, Cachoeira do Campo, hoje distrito de Ouro Preto, foi um dos palcos do sangrento conflito envolvendo os direitos de exploração de ouro na futura Capitania de Minas Gerais. Este episódio não foi todo esclarecido ainda, sendo que, nele, várias passagens permanecem obscuras. Uma das teses levantadas é a que diz que tudo começa quando a frente luso-nordestina se choca com os paulistas subindo o rio São Francisco com seu gado.
Os emboabas.
Logo que a notícia da descoberta do ouro se espalhou, milhares de pessoas se deslocaram para a região, ficando pejorativamente conhecidos como "emboabas". O termo é proveniente do termo da língua geral paulista "mbóaba", que significa literalmente "pata peluda" ("mbó", pata + "aba", peluda). Originalmente, o termo designava as aves com pernas cobertas de penas. Como os forasteiros sempre usavam calças e sapatos, ao contrário dos bandeirantes, estes começaram a utilizar o termo para se referir aos forasteiros.
Em sentido diverso, segundo o Dicionário Houaiss, "emboaba" seria a junção das palavras tupis "mbo" ("fazer que") + "aba" ("ferir"), sendo que "mbo'aba" seria um epíteto coletivo, aplicado a um grupo, e não apenas a um indivíduo. Assim, "os que invadem, agridem".
Contexto.
A corrida pelo ouro atraiu, para a região, cerca de 50 mil pessoas "que fervilhavam à beira dos rios e caminhos, nos sertões distantes e inóspitos". Os bandeirantes se achavam com maiores direitos sobre o ouro das minas, seja por eles terem sido os descobridores do lugar, seja por aquela região fazer parte da capitania de São Vicente, seja pela debilidade recente demonstrada pela coroa portuguesa ao ter de recorrer à ajuda dos bandeirantes paulistas para vencer a Guerra dos Palmares e a Confederação dos Cariris. Prova disso foi petição da Câmara de São Paulo, de 7 de abril de 1700, que requereu que a outorga do território aurífero fosse dada exclusivamente pelas autoridades dessa capitania. Teve papel, no conflito, o protetor de Manuel Nunes Viana, Pascoal da Silva Guimarães.
Enquanto isso, os colonos da Bahia e de Pernambuco estavam muito mais ligados aos reinóis portugueses que aos colonos paulistas. Os nomes que trocaram entre si mostravam suas diferenças. Os da terra eram chamados de "nômades", ou "bandoleiros sem lei"; estes, por sua vez, apelidaram os estrangeiros e os vindos de outras capitanias brasileiras de "emboabas".
Para os paulistas, aqueles que não participaram dos esforços na procura de ouro não deveriam ter os mesmos direitos na exploração. A tensão entre os paulistas (também chamados de vicentinos) e os demais exploradores crescia, motivada pelo aumento no fluxo populacional e pela insistência dos paulistas e emboabas de controlarem a região.
Apesar de se misturarem pelas regiões povoadas das minas, paulistas e emboabas não se uniam: ao contrário, se juntavam cada grupo com um representante. O ex-bandeirante Manuel de Borba Gato era o líder dos paulistas, enquanto os emboabas eram liderados por Manuel Nunes Viana, português que veio para Bahia jovem, e era conhecido por atos de coragem que o trouxeram para a região onde era proprietário de lucrativas minas.
Outra causa da guerra seria o alto preço dos mantimentos, inclusive pela limitada oferta em ocasião do aumento da demanda. Os comentários de Antonil em 1709 o provam e se tornou clássico o trecho em que relata: "a abundância de mantimentos e de todo o usual que hoje há nas Minas e do pouco caso que se faz dos preços extraordinariamente altos: um alqueire de farinha em São Paulo custava 640 réis, mas em Minas 43 000 réis! E assim por diante, uma libra de açúcar 120 réis em São Paulo e 1 200 nas Minas, uma galinha de 160 para 4 000 réis etc." Eliane Teixeira Lopes cita, em sua obra, um ensaio de Eduardo Frieiro, "Feijão, angu e couve", de 1966, que corrobora os acontecimentos. E J. Soares de Mello, em seu livro "Emboabas", de 1979, página 48, comenta: "Foi na época da fome como medida de prudência que Artur de Sá concedeu a Amaral Gurgel o estanco ou monopólio dos açougues. Não tardaram nada os abusos. O povo foi esmagado. E quando o monopólio chegou aos seus anos derradeiros e veladamente começaram as transações para o prorrogar, os paulistas se levantaram."
Por carta, o rei, para suprir a falta de gado, ordenara a dom Álvaro conceder a maior parte possível das terras entre o Rio de Janeiro e a serra dos Órgãos "com a obrigação de cada um dos donatários de pôr um curral de gado dentro de dois e até três anos no sitio que se lhes der, por se entender que com a fertilidade destas terras abundarão as capitanias em gado." Mas nada era assim tão simples. Em 1702, o governador dom Álvaro da Silveira e Albuquerque fizera doação, aumentando o domínio de Muribeca, no Espírito Santo, propriedade do colégio dos jesuítas do Rio de Janeiro, fundado no século XVII em terras doadas pelo Conde de Castelo Melhor, e que em 1701 possuía apenas 1 630 cabeças de gado - enquanto isso, suas fazendas no Rio e em Santa Cruz, Campos dos Goitacases e Campos Novos de São João em 1701 teriam 20 mil.
Foram baldadas, de 1702 a 1705, as providências do governador da Bahia, dom Rodrigo da Costa, para obstar a emigração que, das províncias beira-mar, se estava dando para as minas descobertas no atual Estado de Minas, principalmente vinda da Bahia, donde se transportavam muitas pessoas com seus escravos. Dom Rodrigo estabeleceu diversos presídios no interior para apreensão de escravos que fossem conduzidos para as minas. O ouro foi a pedra ímã, uma veemente atração: e formaram-se dois partidos, o dos paulistas e o dos emboabas. O historiador Diogo de Vasconcelos comenta: "paulistas e taubateanos teriam declarado talvez guerra pela posse de terrenos em Minas se não surgissem os forasteiros, inimigo comum que os amedrontou e uniu. Do reino, vinha o exemplo - formado de senhorios e conselhos autônomos, fabricado aos poucos e aos pedaços, federação de distritos fundidos pela política e nacionalizados pela história. Quando, no Brasil, as capitanias passaram a ser incorporadas à Coroa, ao governo direto do reino, o fizeram na forma por que antes existiam, não se tinha concebido a ideia abstrata e consolidária da pátria: forasteiro, para a gente paulista, ou quase inimigo, era o natural de outras províncias, porque entendiam pertencer-lhes domínio exclusivo das minas por eles descobertas e povoadas no sertão."
O conflito.
Datam de 1706 as primeiras dissensões no arraial da Ponta do Morro, depois do Rio das Mortes, pela "morte injusta e tirânica que fez um paulista de um humilde forasteiro que vivia de uma pobre agência". Outro cronista diz por haver alguns índios carijós embriagados matado um português. Diogo de Vasconcelos, por sua vez, descreve: "Viajando por ali uns carijós para São Paulo, entraram a beber na venda de um novato reinol; rivalidade era tema assentado de todas as conversas; os carijós começam a falar de reinóis, defendidos pelo novato, pouco experiente, entre a bebida, houve altercação, e no ardor da discussão, foi morto o português pelos carijós. Fugiram estes pelo brejo do vale, saindo assim na lagoa Jucunem, e houve dois dias de batida para os descobrir – voltaram os do arraial, os moradores tinham-se reunido e determinado enviar ao Rio uma comissão de procuradores pedir a dom Fernando Martins Mascarenhas Lencastre compadecer-se da situação e lhes mandar autoridade para reprimir malfeitores e bandidos."
Em 1707, no Arraial Novo do Rio das Mortes, dois chefes importantes dos paulistas foram linchados pelos emboabas. Com medo de uma vingança, fugiram para a mata, ficando apenas um pequeno grupo na resistência. Os paulistas, apesar de terem motivos para agir, limitaram-se a enterrar seus chefes, e não enfrentaram os emboabas. Isso encorajou os emboabas que haviam fugido para a mata a voltar e a não mais se aterrorizarem com os paulistas.
Não se deve pensar, segundo os historiadores, que estava em jogo apenas o ouro: intervieram, também, criadores de gado e não apenas mineradores emigrados de São Vicente. Os criadores reagiram ao sistema de contratos com o objetivo de assegurar, com exclusividade, o fornecimento a açougues de animais para o abate e de arbitrar a venda da carne ao consumidor.
Em 1708, um choque inevitável aconteceu, e os dois lados voltaram a guerrear. Manuel de Borba Gato interveio, banindo Nunes Viana da região do Rio das Velhas, porém, sem sucesso. Várias tentativas de acordo foram feitas, todas infrutíferas. Os emboabas tomaram a iniciativa de desarmar todos os paulistas que encontravam, com o pensamento que estes preparavam um grande ataque contra eles. Houve pouca resistência, e, ao fim de 1708, os emboabas já tinham o controle de duas das três áreas de mineração mais importantes. Os paulistas refugiaram-se na região de Rio das Mortes.
Os emboabas reuniram-se e proclamaram Nunes Viana governador da região mineradora, numa afronta ao rei, que era o único a ter a prerrogativa para a escolha. Em seguida, os emboabas encarregaram Bento do Amaral Coutinho da expulsão dos paulistas restantes. Os paulistas não opuseram resistência, e recuaram mais uma vez, desta vez para Parati e São Paulo.
Capão da Traição.
O mais trágico e emblemático episódio da Guerra dos Emboabas ficou perpetuado na história como "Capão da Traição". Após a derrota dos paulistas na batalha campal de Cachoeira do Campo, estes se renderam e foram anistiados com a pena de se retirarem da região das minas. Vários paulistas pararam em um capão (mata baixa cercada de floresta) na região situada próxima aos Arraiais da Ponta do Morro (próximo à atual Tiradentes) e Novo de Nossa Senhora do Pilar (atual São João del-Rei), provavelmente na região da antiga Fazenda do Córrego. Talvez tivessem os paulistas a intenção de reorganizar a sua tropa e marchar novamente contra os emboabas, agora em guerra de cerco, ou guerra de tocaia.
O exército emboaba encontrava-se também nas imediações. Os paulistas enviaram, então, alguns índios cativos para averiguar a posição dos emboabas e atraí-los para uma emboscada no capão. A estratégia funcionou e o exército dos emboabas marchou em direção da armadilha paulista, sendo recebido a tiros e muitos de seus caindo vitimados de disparos vindo de cima do arvoredo.
Mas houve o contra-ataque por parte dos emboabas comandados por Bento do Amaral Coutinho. Após ver tombar seu negro de confiança, Bento reorganizou seu exército em linha e, marchando para trás todo o destacamento emboaba, ficou fora da alça de mira dos paulistas. Estes, por sua vez, viram-se cercados e resistiram bravamente por dois dias, até solicitarem a trégua e a rendição a Bento do Amaral. Este chefe emboaba chegou a jurar pela Santíssima Trindade que, após a rendição e deposição das armas dos paulistas, não os mataria e expediria livre conduto para estes seguirem para fora da região das minas. Mas, após a rendição e entrega das armas, Bento decretou o massacre de todos os cerca de 300 paulistas capturados.
Derrota dos paulistas.
O confronto terminou por volta de 1709, graças à intervenção do governador do Rio de Janeiro, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que destituiu Nunes Viana e manteve a estrutura administrativa emboaba. Sem os privilégios desejados e sem forças para guerrear, os paulistas retiraram-se da região. Sua última tentativa de expedição punitiva contra os emboabas foi derrotada no Rio das Mortes. Muitos deles foram para o oeste, onde, mais tarde, descobriram novas jazidas de ouro, na região dos atuais estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás.
Testemunhos.
Bento Furtado Fernandes de Mendonça.
Relato clássico dos descobrimentos das Minas Gerais, a "Notícia dos primeiros descobridores das primeiras minas de ouro pertencentes a estas Minas Gerais, pessoas mais assinaladas nestas empresas e dos mais memoráveis casos acontecidos desde os seus princípios", escrita pelo "coronel das três vilas", Bento Furtado Fernandes de Mendonça, falecido em 1765, e filho de um dos mais notáveis bandeirantes dos primeiros anos das minas: Salvador Fernandes Furtado. Esse relato faz menção à Guerra dos Emboabas e permite inferir o estado de espírito daquela época:
Borba Gato.
O melhor relato sobre os acontecimentos saiu da pena do superintendente Borba Gato, que escreveu longamente ao governador dom Fernando Martins Mascarenhas Lencastre em 29 de novembro de 1708, das minas do Rio das Velhas:
Este documento está na Biblioteca Nacional de Lisboa, Arquivo de Marinha e do Ultramar, docs 3212 a 3225 do Rio de Janeiro. Borba Gato é assim o primeiro historiador dos emboabas. Tumultos e dissensões paralisaram as Minas, extinguiram trabalho e anularam colheitas. Só se cuidava da guerra e os moradores estavam reduzidos à miséria. Não era entretanto chegado o momento de descerrar ao Governador quanto sabia. Escreveu não para acusar mas para apurar responsabilidades.
João da Veiga da Costa.
João da Veiga da Costa, que era mestre de campo do Terço dos auxiliares das Capitanias da vila de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, escreveria em 19 de abril de 1719:
Bento do Amaral Coutinho.
Datada de 16 de janeiro de 1709 temos uma carta, escrita do arraial de Ouro Preto por Bento do Amaral Coutinho e enviada a dom Fernando Martins Marcarenhas Lencastre - e por tal carta demonstra que não seria facinoroso como a história quer, porque o governador não se corresponderia amistosamente com um fora da lei. Diz nela:
Junta no Rio de Janeiro.
Em 16 de janeiro de 1709, houve Junta no Rio:
O governador decidiu, portanto, partir a 2 de março, pois precisou de um mês para os preparativos de uma jornada que imaginava penosíssima - tempo de chuvas, caminhos intransitáveis, colheita longe, gastos excessivos.
Influência na literatura brasileira.
A guerra dos Emboabas foi tema da obra de ficção "A Muralha" (1954), da escritora brasileira Diná Silveira de Queirós.
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914 | Guerra do Contestado | Guerra do Contestado
A Guerra do Contestado foi um conflito armado ocorrido de outubro de 1912 a agosto de 1916, que teve como partes beligerantes posseiros e pequenos proprietários de terras contra os governos dos estados de Santa Catarina e Paraná, além do Governo Federal brasileiro. O palco foi uma região rica em erva-mate e madeira, disputada por ambos os estados e que ficou conhecida como Contestado.
Uma faixa de terras com aproximadamente trinta quilômetros de largura e que atravessava os estados do Paraná e de Santa Catarina, foi desapropriada para a construção da Estrada de Ferro que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul, o que provocou a expulsão dos posseiros da região e a falência de vários pequenos fazendeiros que viviam da extração da madeira. Ademais, concluída a obra da linha férrea pela empresa norte-americana "Brazil Railway Company", de propriedade de Percival Farquhar, que também era dono da madeireira "Southern Brazil Lumber & Colonization Company", formou-se um significativo contingente de trabalhadores desocupados.
Os problemas sociais, decorrentes principalmente da falta de regularização da posse de terras e da insatisfação da população hipossuficiente, numa região em que a presença do poder público era pífia, favoreceram o início do conflito. Entre os camponeses revoltados, o messianismo e o fanatismo religioso favoreceram a crença de que se tratava de uma guerra santa, o que exacerbou os ânimos para a luta, na qual cerca de oito mil deles pereceram.
Antecedentes.
Antes dos acontecimentos que culminaram na guerra, houve:
Preliminares: o poder dos monges.
Para entender-se bem a guerra sertaneja, é preciso voltar um pouco no tempo e resgatar o valor da figura de três monges da região. O primeiro monge que galgou fama foi João Maria de Agostini, um rezador leigo de origem italiana, que peregrinou pregando e atendendo doentes, de 1844 a 1870, por um amplo território que ia de Sorocaba, em São Paulo, até Rio Pardo e Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e sua ética e forma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que não exerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria posteriormente. João Maria morreu em 1870, em Sorocaba, estado de São Paulo.
O segundo monge adotou o codinome (alcunha) de João Maria, mas seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf, provavelmente de origem síria. Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura firme e uma posição messiânica. Sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem". Chegou, inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na região entre os rios Iguaçu e Uruguai. É de destacar a sua influência inquestionável sobre os crentes, a ponto de estes esperarem a sua volta através da ressurreição, após seu desaparecimento em 1908.
As entrelinhas do que estava por vir estavam se amarrando entre si. A espera dos fiéis acabou em 1912, quando apareceu publicamente a figura do terceiro monge. Este era conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas, tendo se apresentado com o nome de José Maria de Santo Agostinho, ainda que, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas, Estado do Paraná, ele fosse, na verdade, um soldado desertor condenado por estupro, de nome Miguel Lucena de Boaventura.
José Maria pregava uma vida de respeito ao próximo, aos animais e à natureza, assinalava a existência de fontes de água (que logo a população passou a chamar de "águas santas" ou "águas do monge") e recomendava a edificação de cruzeiros.
Como ninguém conhecia ao certo a sua origem, como aparentava uma vida reta e honesta, não lhe foi difícil granjear em pouco tempo a admiração e a confiança do povo. Um dos fatos que lhe granjearam fama foi a presunção de ter ressuscitado uma jovem (provavelmente apenas vítima de catalepsia patológica). Supostamente também recobrou a saúde da esposa do coronel Francisco de Almeida, acometida de uma doença incurável. Com este episódio, o monge ganha ainda mais fama e credibilidade ao rejeitar terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido, lhe queria oferecer.
A partir daí, José Maria passou a ser considerado santo: um homem que veio à terra apenas para curar e tratar os doentes e necessitados. Metódico e organizado, estava muito longe do perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler e escrever e anotava em seus cadernos as propriedades medicinais das plantas encontradas na região. Com o consentimento do coronel Almeida, montou no rancho de um dos capatazes o que chamou de "farmácia do povo", onde fazia o depósito de ervas medicinais que utilizava no atendimento diário, até horas tardias da noite, a quem quer que o visitasse.
Os confrontos se iniciam.
Após a conclusão das obras do trecho catarinense da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, a companhia Brazil Railway Company, que recebeu do governo 15 km de cada lado da ferrovia, iniciou a desapropriação de km² de terras (equivalentes a alqueires) ocupadas já há muito tempo por posseiros que viviam na região entre o Paraná e Santa Catarina. O governo brasileiro, ao firmar o contrato com a Brazil Railway Company, declarou a área como devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse aquelas terras. "A área total assim obtida deveria ser escolhida e demarcada, sem levar em conta sesmarias nem posses, dentro de uma zona de trinta quilômetros, ou seja, quinze para cada lado". Isso, e até mesmo a própria outorga da concessão feita à Brazil Railway Company, contrariava a chamada Lei de Terras de 1850. Não obstante, o governo do Paraná reconheceu os direitos da ferrovia; atuou na questão, como advogado da Brazil Railway, Affonso Camargo, então vice-presidente do estado.
Esses camponeses que viram o direito às terras que ocupavam ser usurpado, e os trabalhadores que foram demitidos pela companhia (1910), decidiram então ouvir a voz do monge José Maria, sob o comando do qual organizaram uma comunidade. Resultando infrutíferas quaisquer tentativas de retomada das terras - que foram declaradas devolutas, pelo governo brasileiro, no contrato firmado com a ferrovia - cada vez mais se passou a contestar a legalidade da desapropriação. Uniram-se ao grupo diversos fazendeiros que, por conta da concessão, estavam perdendo terras para o grupo de Farquhar, bem como para os coronéis que mandavam na região.
A união destas pessoas em torno de um ideal, levou à organização do grupo armado, com funções distribuídas entre si. O messianismo adquiria corpo. A vida era comunitária, com locais de culto e procissões, denominados redutos. Tudo pertencia a todos. O comércio convencional foi abolido, sendo apenas permitidas trocas. Segundo as pregações do líder, o mundo não duraria mais mil anos e o paraíso estava próximo. Ninguém deveria ter medo de morrer porque ressuscitaria após o combate final. É de destacar a importância atribuída às mulheres nesta sociedade. A virgindade era particularmente valorizada.
O "santo monge" José Maria rebelou-se, então, contra a recém formada república brasileira e decidiu dar status de governo independente à comunidade que comandava. Para ele, a república era a "lei do diabo". Nomeou "imperador do Brasil" um fazendeiro analfabeto, nomeou a comunidade de "Quadro Santo" e criou uma guarda de honra constituída por 24 cavaleiros que intitulou de "Doze Pares de França", numa alusão à cavalaria de Carlos Magno na Idade Média.
Os camponeses uniram-se a este, fundando alguns povoados, cada qual com seu santo, sendo estes como uma "monarquia celeste", com ordem própria, à semelhança do que Antônio Conselheiro fizera em Canudos.
Convidado a participar da festa do Senhor do Bom Jesus, na localidade de Taquaruçu (município de Curitibanos), o monge foi acompanhado de cerca de 300 fiéis, e lá permaneceu por várias semanas, atendendo aos doentes e prescrevendo remédios.
Desconfiado com o que acontecia e com medo de perder o mando da situação local em Curitibanos, o coronel Francisco de Albuquerque, rival do coronel Almeida, enviou um telegrama para a capital do estado pedindo auxílio contra "rebeldes que proclamaram a monarquia em Taquaruçu".
Primeiras mortes.
O governo brasileiro, então comandado pelo marechal Hermes da Fonseca, responsável pela Política das Salvações, caracterizada por intervenções político-militares que em diversos Estados do país pretendiam eliminar seus adversários políticos, sentiu indícios de insurreição neste movimento e decidiu reprimi-lo, enviando tropas para acalmar os ânimos.
Antevendo o que estava por vir, José Maria parte imediatamente para a localidade de Irani com todo o seu carente séquito. A localidade nesta época pertencia a Palmas, cidade que estava na jurisdição do Paraná e que tinha com Santa Catarina questões jurídicas não resolvidas por conta de divisas territoriais, e que acabou vendo nessa grande movimentação uma "estratégia" de ocupação daquelas terras.
A guerra do Contestado inicia-se neste ponto: em defesa de suas terras, várias tropas do Regimento de Segurança do Paraná são enviadas para o local, a fim de obrigar os invasores a voltar para Santa Catarina.
Em 22 de outubro de 1912, a polícia do Paraná deu início a um ataque que resultou na batalha do Irani, em um lugar chamado "Banhado Grande", na qual morreram 11 sertanejos, entre eles o monge José Maria, e 10 soldados, inclusive o coronel João Gualberto Gomes de Sá Filho.
José Maria foi enterrado com tábuas pelos seus fiéis, a fim de facilitar a sua ressurreição, já que os caboclos acreditavam que este ressuscitaria acompanhado de um "exército encantado", vulgarmente chamado de "Exército de São Sebastião", que os ajudaria a fortalecer a "monarquia celeste" e a derrubar a república, que cada vez mais se acreditava ser um instrumento do diabo, dominado pelas figuras dos coronéis.
Mais confrontos, ataques e contra-ataques.
Um ano após o primeiro combate, uma menina de 11 anos, chamada Teodora, passou a relatar que tinha sonhos com José Maria e que este ordenava a todos os seus seguidores a dirigirem-se para Taquaruçu. Depois formam-se outras "cidades santas" ou redutos dos sertanejos, como Caraguatá, Santo Antônio, Caçador Grande, Bom Sossego, Santa Maria (a maior cidade, com mais de 20 mil habitantes), Pedra Branca, São Miguel e São Pedro.
Em 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal, foi enviado a Taquaruçu um efetivo de 700 soldados, equipados por artilharia e metralhadoras. Estes logram êxito na empreitada, incendeiam completamente o acampamento dos jagunços, mas sem muitas perdas humanas, já que os caboclos e fiéis da causa do Contestado se refugiaram em Caraguatá, local de difícil acesso e onde já viviam cerca de 20 mil pessoas.
Os fiéis que mudaram para Caraguatá, interior do atual município de Lebon Régis, eram chefiadas por Maria Rosa, uma jovem com quinze anos de idade, considerada pelos historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já que "combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil". Após a morte de José Maria, Maria Rosa afirmava receber espiritualmente ordens dele, o que a fez assumir a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos, então cerca de seis mil homens.
De março a maio outras expedições foram realizadas, porém todas sem sucesso. Em 9 de março de 1914, embaladas pela vitória de Taquaruçu, que tinham destruído completamente, as tropas cercam e atacam Caraguatá, porém com um resultado desastroso, culminando na fuga em pânico dos soldados, que foram perseguidas pelos revoltosos. Esta nova vitória encheu os contestadores de ânimo. O fato repercute em todo o interior, trazendo para o reduto ainda mais pessoas com interesses afins, mas também atinge em cheio ao governo e aos órgãos legalmente constituídos.
Como cada vez mais pessoas se engajavam abertamente ao movimento, piquetes foram formados pelos fiéis para o arrebanhamento de animais da região a fim de suprir as necessidades alimentícias do núcleo de Caraguatá. São então fundados os redutos de Bom Sossego e São Sebastião. Só neste último se aglomeravam cerca de 2 mil pessoas.
Além de colocar em prática técnicas de guerrilha para a defesa dos ataques do governo, os "fanáticos" passaram ao contra-ataque. Em 2 de setembro, lançaram um documento que se intitulou "Manifesto Monarquista", deflagrando-se, a partir de então, o que chamavam de a guerra santa, caracterizada por saques e invasões de propriedades de coronéis e por um discurso que exigia pobreza e cobrava exploração ao máximo da República.
Invadiam as fazendas dos coronéis tomando para si tudo o que precisavam para suprir as necessidades do reduto. Além disso, amparados nas vitórias que tiveram, atacaram várias cidades, como foi o caso de Curitibanos, onde os alvos eram invariavelmente os cartórios, locais onde se encontravam os registros das terras que antes a eles pertenciam. Não bastasse isso, num outro ataque na localidade de Calmon, destruíram completamente a segunda serraria da Lumber, uma das empresas que vieram de fora para explorar a madeira da faixa de terra de 30 quilômetros (15 quilômetros de cada lado) às margens da ferrovia.
O controle começa a mudar de lado.
Com a ordem social cada vez mais caótica na região, o governo central designou o general Carlos Frederico de Mesquita, veterano de Canudos, para comandar uma ação contra os rebeldes. Inicialmente tentou, sem êxito, um acordo para dispensar os revoltosos; a seguir atacou duramente Santo Antônio, obrigando os rebeldes a fugir. O reduto de Caraguatá, que antes vira as tropas do governo fugirem perseguidas por revoltosos, teve de ser abandonada às pressas pelos mesmos revoltosos, devido a uma grande epidemia de tifo. Considerando, equivocadamente, dispersos os revoltosos, o general Mesquita dá a luta por encerrada.
Mas a calmaria terminaria logo. Os revoltosos rapidamente se reagrupam e se organizam na localidade de Santa Maria, interior norte do município de Lebon Régis, intensificando os ataques: tomam e incendeiam a estação de Calmon; dizimam a vila de São João (Matos Costa), atacam Curitibanos e ameaçam Porto União da Vitória, cuja população abandona a cidade em desespero.
Os boatos chegam até Ponta Grossa e dizem que os revoltosos e seu exército pretendem marchar até o Rio de Janeiro para depor o presidente. Os rebeldes já dominam, nesta altura dos acontecimentos, cerca de 250 km² da região do Contestado.
O governo federal jogou uma outra, e ainda mais dura, cartada: nomeou o general Setembrino de Carvalho para o comando das operações contra os contestadores. Este chegou a Curitiba em setembro de 1914, chefiando cerca de sete mil homens, com ordens de sufocar a rebelião e pacificar a região a qualquer custo. Sua primeira providência foi restabelecer as ligações ferroviárias e guarnecê-las para evitar novos ataques.
Nas proximidades da ferrovia, o exército construiu o Campo da Aviação de Rio Caçador, onde hoje existe o município homônimo. Como apoio de operações de guerra, pela primeira vez na história do Brasil foram usados dois aviões para fins de reconhecimento. Em um acidente durante as operações, morreu o capitão Ricardo Kirk, primeiro aviador militar do Brasil.
Astutamente, Setembrino enviou um manifesto aos revoltosos no qual garantia a devolução de terras para quem se entregasse pacificamente. Garantia também, por outro lado, um tratamento hostil e severo para quem resolvesse continuar em luta contra o governo.
Mudança de estratégia.
Com o passar do tempo, general Setembrino de Carvalho adotou uma nova postura de guerra, evitando o combate direto, que era o que os revoltosos esperavam e para o que estavam se preparando, optando por cercar o reduto dos fanáticos com tropas por todos os lados, evitando que entrassem ou saíssem da região onde estavam. Para isto, o general dividiu seu efetivo em quatro alas com nomes dos quatro pontos cardeais e, gradativamente, foi avançando e destruindo qualquer resistência que encontrasse pelo caminho.
Com esta nova estratégia, rapidamente começou a faltar comida nos acampamentos dos revoltosos. Isto teve como consequência imediata a rendição de dezenas de caboclos. Contudo, a maioria dos que se entregavam eram velhos, mulheres e crianças - talvez uma contra-estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comida aos combatentes que ficaram para trás e que ainda defenderiam a causa.
Neste ponto da guerra do Contestado, começa a se destacar a figura de Deodato Manuel Ramos, vulgo "Adeodato", considerado pelos historiadores como o último líder dos contestadores. Adeodato transferiu o núcleo dos revoltosos para o vale de Santa Maria, que contava ainda com cerca de 50 mil homens. Só que aí, à medida que ia faltando o alimento, Adeodato passou a revelar-se cada vez mais autoritário, não aceitando a rendição. Aos que se entregavam, aplicava sem dó a pena de morte.
Cerco fechado, sem pressa e deixando os revoltosos nervosos lutarem contra si mesmos, em 8 de fevereiro de 1915 a ala Sul, comandada pelo tenente-coronel Estillac, chegou a Santa Maria. De um lado as forças do governo, bem armadas, bem alimentadas, de outro, rebeldes também armados, mas famintos e sem ânimo para resistir muito tempo. A luta inicial foi intensa e, à noite, o tenente-coronel ordenou a retirada, afinal, já contabilizara só no seu lado 30 mortos e 40 feridos. Novos ataques e recuos ocorreram nos dias seguintes.
Em 28 de março de 1915, o capitão Tertuliano Potiguara parte da vila de Reinchardt com homens em direção a Santa Maria, perdendo só em emboscadas durante o trajeto, 24 homens. Depois de vários confrontos, num deles Maria Rosa, a líder espiritual dos rebeldes, morre às margens do rio Caçador. Em 3 de abril, as tropas de Estillac e Potyguara avançam juntas e ordenadas para o assalto final a Santa Maria, onde restavam apenas alguns combatentes já quase mortos pela fome.
Em 5 de abril, depois do grande assalto a Santa Maria, o general Estillac registra que "tudo foi destruído, subindo o número de habitações destruídas a 5 mil (…) as mulheres que se bateram como homens foram mortas em combate (…) o número de jagunços mortos eleva-se a 600. Os redutos de Caçador e de Santa Maria estão extintos. Não posso garantir que todos os bandidos que infestam o Contestado tenham desaparecido, mas a missão confiada ao exército está cumprida". Os rebeldes sobreviventes se dispersaram em muitas cidades.
Em dezembro de 1915, o último dos redutos dos revoltosos foi devastado pelas tropas de Setembrino. Adeodato fugiu, vagando com tropas no seu encalço. Conseguiu, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como foragido, ficou ainda oito meses escondendo-se pelas matas da região. Mas a fome e o cansaço, além de uma perseguição sem trégua, fizeram com que Adeodato se rendesse. Encerrava-se então, em agosto de 1916, com a prisão de Adeodato, a Guerra do Contestado.
Adeodato foi capturado e condenado a 30 anos de prisão. Entretanto, em 1923, sete anos após ter sido preso, Adeodato foi morto pelo próprio diretor da cadeia numa tentativa de fuga.
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915 | Goa | Goa
Goa () é um estado da Índia. Situa-se entre Maarastra a norte e Carnataca a leste e sul, na costa do mar da Arábia, a cerca de 400 km a sul de Bombaim. É o menor dos estados indianos em território e quarto menor em população, e o mais rico em PIB "per capita" da Índia.
A sua língua oficial é o concani, mas ainda existem pessoas neste estado que falam português, devido ao domínio de Portugal na região por mais de 400 anos. As suas principais cidades são Vasco da Gama, Pangim (outrora também chamada Nova Goa), Margão e Mapuçá. Goa, a partir de 1510, foi a capital do Estado Português da Índia. Na década de 1960 existiram vários movimentos de libertação, e um dos mais marcantes foi feito pelo exército indiano em 1961, a maioria das nações reconheceram a ação da Índia, mas Portugal apenas reconheceu a anexação do Estado Português da Índia em 1974.
As suas igrejas e conventos encontram-se classificadas como Património da Humanidade pela UNESCO.
História.
Antecedentes.
A primeira referência a Goa data de cerca de , em escrita cuneiforme da Suméria, onde é chamada "Gubio." Formada por povos de diferentes etnias da Índia, a influência dos sumérios aparece no primeiro sistema de medidas da região.
No período védico tardio é chamada "Gomantak"em sânscrito, que significa "terra semelhante ao paraíso, fértil e com águas boas". O "Mahabharata" conta que os primeiros arianos que chegaram a Goa eram fugitivos da extinção, pela seca do rio Saraswati, 96 famílias que chegaram por volta de A eles uniram-se os Kundbis vindos do sul, para, durante 250 anos, resgatar solo do mar, aumentando o espaço fértil entre este e as montanhas.
Cerca de 200 a.C., Goa tornou-se a fronteira sul do império de Açoca: os dravidianos tinham sido empurrados para o sul pelos arianos, como refere a "Geografia" de Estrabão. Por volta de 530–550, Goa é citada como um dos melhores portos do Indostão, sendo chamada de "Sindabur, Chandrapur" ou "Buvah-Sindabur" pelos árabes e turcos.
Depois do Império Máuria Goa foi disputada por vários impérios em batalhas sangrentas. Por volta do Goa, então concentrada em torno do rio Zuari, prosperou pelo comércio com os árabes. Em 1347 caiu sob domínio islâmico do Sultanato de Deli, e muitos templos a deuses hindus foram destruídos. Em 1370 o território foi conquistado pelo Reino de Bisnaga, que dominou a região até 1469, quando foi conquistada pelo Sultanato de Bamani, do qual se separou em 1489 o Sultanato de Bijapur, que pôs a zona na suas mãos, e estabeleceu como sua capital auxiliar a Velha Goa.
Presença portuguesa.
Goa foi cobiçada por ser o melhor porto comercial da região. A primeira investida portuguesa deu-se em 1510, de 4 de Março a 20 de Maio. Nesse mesmo ano, em uma segunda expedição, a 25 de Novembro, Afonso de Albuquerque, auxiliado pelo corsário hindu Timoja, tomou Goa aos muçulmanos, que se renderam sem combate, por o sultão se achar em guerra com o Decão. Nesse período, um cronista português descreve Goa, no período de 1512–1515:
Uma outra descrição coeva fornece maiores detalhes:
Com a derrota dos muçulmanos da região, em 1553 um quinto dela estava sob domínio português, recebendo o nome de «Velhas Conquistas». Os governadores portugueses da cidade pretendiam que fosse uma extensão de Lisboa no Oriente e para tal criaram algumas instituições e construíram-se várias Igrejas para expandir o cristianismo e fortificações para a defender de ataques externos.
A partir de meados do verifica-se um alargamento dos territórios de Goa, que passam a integrar as «Novas Conquistas».
Apesar de, com a chegada da Inquisição , muitos dos residentes locais terem sido convertidos violentamente ao cristianismo ameaçados com castigos ou confisco de terra, títulos ou propriedades, a maior parte das conversões foram voluntárias tendo muitos dos missionários que aí pregaram alcançado fama. Entre estes conta-se São Francisco Xavier, que ficou conhecido como o "Apóstolo das Índias" por ter exercido a sua missionação não só em Goa, mas também noutros pontos da Índia, como Uvari que não se encontravam sob domínio Português.
A decadência do porto no foi consequência das derrotas militares dos portugueses para a Companhia Holandesa das Índias Orientais dos Países Baixos no Oriente, tornando o Brasil e, mais tarde, no , as colónias africanas, o centro económico de Portugal. Houve dois curtos períodos de dominação britânica e e poucas outras ameaças externas após este período.
Durante o domínio britânico na Índia, muitos habitantes de Goa emigraram para Mumbai, Calcutá, Puna, Karachi e outras cidades. O isolamento de Goa diminuiu com a construção das vias férreas a partir de 1881, mas a emigração em busca de melhores oportunidades económicas aumentou.
Em 1842 foi fundada a Escola Médico-Cirúrgica de Goa que formou médicos que viriam a exercer em todo o Império Português. Em 1900 Goa teve seu primeiro jornal bilingue -português.
A independência da Índia.
No contexto da descolonização, após os Ingleses terem deixado a Índia (1947) e os Franceses Pondicherry (1954), o governo português, liderado por António de Oliveira Salazar, recusou-se a negociar com a Índia. Por essa razão, de 18 para 19 de dezembro de 1961 uma força indiana de 40 mil soldados conquistou Goa, encontrando pouca resistência. À época, o Conselho de Segurança das Nações Unidas considerou uma resolução que condenava a invasão, o que foi vetado pela União Soviética. A maioria das nações reconheceram a ação da Índia, mas Portugal apenas a reconheceu após a Revolução de 25 de Abril de 1974.
A ação missionária em Goa.
Goa destacou-se por ter sido sede de duas grandes ações civilizadoras portuguesas no Oriente: a religiosa e a educacional. Foi considerada a "Roma do Oriente", erigida em Sé Metropolitana das dioceses de Moçambique, Ormuz, Cochim, Meliapor, Malaca, Nanquim e Pequim na China, e Funay no Japão, a partir de 4 de Fevereiro de 1557. Dali partiram para o apostolado os grandes vultos do catolicismo português no Oriente, como São Francisco Xavier e São João de Brito.
No que tange à ação educacional, em Goa foram erguidas inúmeras escolas e liceus, uma escola médica e institutos profissionais e técnicos. Vultos das letras portuguesas como o poeta Luís de Camões (""), Garcia de Orta ("Colóquios dos Simples e Drogas da Índia") e Manuel Maria Barbosa du Bocage, ali redigiram parte das suas obras.
Cronologia.
Damão e Diu desde o início, e muito mais tarde também Dadrá e Nagar-Aveli, ficaram ligados a Goa, sob o nome de Estado da Índia Portuguesa, ligados não só pela administração, com centro em Goa, mas também por outros sentimentos, porém separados por cerca de 700 e Logo após a integração na Índia estiveram ainda ligados a Goa, porém, quando esta se tornou um Estado dentro da República da Índia, Damão e Diu passaram a ser administrados directamente pelo Governo Central da Índia, sob o nome de Território da União de Damão e Diu ("Union Territory Of Daman & Diu"). Dadrá e Nagar-Aveli, integrados alguns anos antes na Índia (1954), formam um território à parte.
Clima e geografia.
Com uma área de quilómetros quadrados, seu território estende-se pelo Concão (a costa oeste indiana) por 101 quilômetros de litoral e, mais ao interior, encontram-se as montanhas dos Gates Ocidentais, cuja maior elevação é o monte Songosor, de O Mandovi, o Zuari, o Terekhol, o Chaporá e o rio do Sal são os principais rios de Goa. Goa tem mais que quarenta ilhas estuarinas, oito ilhas marinhas e dezenove ilhas de rio.
Goa, estando na zona tropical e na costa do mar Arábico, tem um clima quente e húmido em quase todo o ano. O mês de maio é o mais quente, com temperaturas de aproximadamente 35 °C, aliadas a altas humidades. As chuvas de monção chegam no começo de junho e representam um alívio no calor forte do período. Essas chuvas duram até setembro. Goa tem, ainda, uma pequena estação fresca entre o meio de dezembro e fevereiro. Estes meses têm noites com temperaturas de 20 °C e dias quentes com 29 °C aproximadamente, com moderadas rajadas de chuva.
Subdivisões de Goa.
O estado é atualmente dividido em dois distritos:
Pangim (ou Panaji) é, simultaneamente, a capital do estado e do distrito de Goa Norte, enquanto que Margão é a capital do distrito de Goa Sul. Ambos os distritos são governados por um governador nomeado pelo governo indiano.
Os distritos ainda são divididos em concelhos ou talucas (ou "tehsil").
Idiomas.
O idioma oficial de Goa é o . Depois de Portugal ter perdido o controlo sobre Goa, o concani e o marata passaram a ser os idiomas mais falados no estado. O concani é o idioma primordial no estado; depois vêm a o marata e o , que são usadas para propósitos educacionais, oficiais e literários. Outras línguas incluem o , o e o .
Demografia.
O gentílico de Goa é o goês ou a goesa na língua portuguesa, "Goenkar" em concani e "Govekar" em marata. Goa tem uma população de 1,344 milhões de habitantes, o que o torna o quarto menor estado indiano em relação a população, depois somente dos estados de Siquim, Mizoram e Arunachal Pradesh. A população tem crescido 14,9% por década e há 363 pessoas por cada quilómetro quadrado da sua superfície total. 49,77% de sua população vive em áreas urbanas. A proporção sexual do estado é de 960 mulheres para mil homens.
O hinduísmo (65,8%), o cristianismo (26,7%) e o islão (6,8%) são as três maiores religiões goesas. O catolicismo romano teve incremento em Goa quando Portugal administrou o estado, proporcionando que muitos se tornassem católicos. Há ainda uma pequena comunidade judaica em Goa.
As maiores cidades do estado são Vasco da Gama, Margão, Pangim, Mormugão e Mapuçá.
Cultura pop.
Goa é considerada o berço do "psy trance" (abreviatura de "psychedelic trance"), em especial, a variedade "Goa trance".
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917 | Goiás | Goiás
Goiás é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Situa-se na Região Centro-Oeste do país, no Planalto Central brasileiro. O seu território é de 340 257 km², sendo delimitado pelos estados de Mato Grosso do Sul a sudoeste, Mato Grosso a oeste, Tocantins a norte, Bahia a nordeste, Minas Gerais a leste, sudeste e sul e pelo Distrito Federal a leste.
Goiânia é a capital e maior cidade do estado, assim como sede da Região Metropolitana de Goiânia. Outras cidades importantes, fora da região metropolitana de Goiânia, são: Anápolis, Rio Verde, Itumbiara, Catalão, Luziânia, Águas Lindas de Goiás, Valparaíso de Goiás, Formosa, Planaltina, Jataí, Caldas Novas, Cristalina e Goianésia, que também são algumas das maiores cidades em população do interior do estado. Seus municípios situados a leste formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, uma das duas RIDES no país. Ao todo, o estado possui 246 municípios.
Com 7,2 milhões de habitantes, é o estado mais populoso da Região Centro-Oeste e o 11º mais populoso do país. Possui, ainda, a nona maior economia entre as unidades federativas brasileiras. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, em 2022 registram-se eleitores.
A história de Goiás remonta ao início do século XVIII, com a chegada dos bandeirantes vindos de São Paulo, atraídos pela descoberta de minas de ouro. Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, liderou a primeira bandeira com a intenção de se fixar no território, que saiu de São Paulo em 3 de julho de 1722. A região do Rio Vermelho foi a primeira a ser ocupada, onde fundou-se Vila Boa (mais tarde renomeada para Cidade de Goiás), que serviu como capital do território durante 200 anos. O processo de independência de Goiás se deu gradativamente, impulsionado pela formação de juntas administrativas. O desenvolvimento e povoamento do estado deu-se, de forma mais intensificada, a partir da mudança da capital para Goiânia, na década de 1930, e com a construção de Brasília, em 1960.
Etimologia.
A origem do topônimo Goiás (anteriormente, Goyaz) é incerta e necessita de pesquisas mais aprofundadas. Usualmente, afirma-se que o termo viria da suposta tribo dos índios Goiases que teria habitado a região próxima a Cidade de Goiás e se extinguido rapidamente. Entretanto, não há qualquer vestígio físico ou imaterial da existência real de tal tribo. Há apenas relatos distantes, esparsos e divergentes que apontam que haveria um mito entre os indígenas e caboclos vicentinos, principais integrantes das bandeiras que iniciaram a ocupação de Goiás no século XVIII, dizendo que haveria no interior do continente um povo chamado “Goyá” ou “Guaiana” que possuía cerâmica e agricultura bem desenvolvidas e seriam parentes da Nação Tupi. Daí o termo “Guaiá”, forma composta de “Gua” e “iá”, que em Tupi significa, entre outras possibilidades, "indivíduo igual", "pessoas de mesma origem". Isto nos leva a supor que quando as bandeiras encontraram ouro na Serra Dourada, próximo à atual cidade de Goiás, o nome mítico "Guaiá" teria sido empregado para denominar a área pelos indígenas paulistas, que também pertenciam ao grupo Tupi. Como os únicos integrantes dos Tupis na região eram os Avá-Canoeiros, podemos concluir que eles tiveram na realidade contato com esta tribo. Outra conclusão possível e que seriam Kaiapós. Assim, o topônimo "Goiás" viria de um engano dos primeiros bandeirantes, motivado pelos mitos dos indígenas que compunham as bandeiras.
O nome Goiás, quando utilizado no meio de uma frase, dispensa o emprego de artigo, similarmente ao que acontece na designação dos estados de Mato Grosso, de Mato Grosso do Sul, de Alagoas e de Minas Gerais.
História.
Os registros históricos mais antigos encontrados na região do atual estado de Goiás, foram datados de cerca de 11 mil anos atrás, o que indica que a ocupação humana na área iniciou-se há milhares de anos. Grande parte dos sítios arqueológicos presentes no estado estão situados em Serranópolis, Caiapônia e na Bacia do Paranã, abrigados em rochosos de arenito e quartzito, além de grutas de maciços calcários. Além destes, há fortes indícios de ocupação pré-histórica nos municípios de Uruaçu e Niquelândia que, juntos, abrigam abundante material lítico do homem pré-histórico, conhecido como "homem Paranaíba".
Por conseguinte, o "homem Paranaíba" é tido como o primeiro representante humano que viveu na área, pertencente ao grupo caçador-coletor. Outro grupo caçador-coletor que viveu na região foi o da "Fase Serranópolis", cujo comportamento foi influenciado por mudanças climáticas, o que fez com que este passasse a se alimentar de moluscos terrestres e dulcícolas, além de uma quantidade maior de frutos. Populações ceramistas também ocuparam o território goiano, em uma época em que o clima e a vegetação eram, supostamente, semelhantes aos atuais. Estas populações ceramistas viveram há cerca de dois mil anos, e eram divididos em: Una, Aratu, Uru e Tupi-Guarani.
A cultura ceramista da tradição Una, a mais antiga, habitava abrigos e grutas naturais. Alimentavam-se sobretudo de vegetais, e cultivavam milho, cabaça, amendoim, abóbora e algodão. Também foram responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia da produção de vasilhames cerâmicos. Os Aratus habitavam grandes agrupamentos, situados em ambientes abertos, principalmente em matas próximas a rios ou riachos. São os primeiros aldeões conhecidos. Assim como os Una, cultivavam milho, feijão e algodão. Eram responsáveis pela produção de vasilhames cerâmicos de diferentes tamanhos e, confeccionavam rodelas de fusos, utilizados na fiação do algodão, dentre outros artefatos oriundos da manipulação da argila. Já a população da tradição Uru só veio chegar ao território do atual estado, muito tempo após os Aratus. Sua passagem pela pré-história goiana tornou-se conhecida através dos sítios arqueológicos localizados no vale do Rio Araguaia e seus afluentes, datados do século XII. A mais recente das populações, os Tupi-Guaranis, é datada de 600 anos atrás. Estes viviam em aldeias super populosas, dispersas na bacia do Alto Araguaia e na bacia do Tocantins.
Período colonial.
Aos tempos do descobrimento do Brasil pelos portugueses, a região do atual estado de Goiás era habitada pelos índios Avás-canoeiros, tupi-guaranis e tapuias. A ocupação do território goiano teve início com Catarina Silva e as expedições de aventureiros (bandeirantes) provenientes da Capitania de São Vicente. As Bandeiras objetivavam procurar metais preciosos e capturar índios que, por sua vez, serviam como mão de obra escrava no desenvolvimento da agricultura e minas, tanto no "território dos Goyazes" quanto na Capitania de São Vicente. Além destas, outras expedições saíam do Pará, nas chamadas Descidas com vistas à catequese e ao aldeamento dos índios da região. Todas essas expedições tinham como rota o território do atual estado, mas não se dava a criação de vilas permanentes e nem a manutenção de um notável número de população na região.
Com a descoberta de ouro na área, a ocupação efetiva se consolidou, tornando-se propriamente dita. Devido à descoberta de ouro em Minas Gerais (próximo à Ouro Preto) e em Mato Grosso (próximo à Cuiabá) entre 1698 e 1718, acreditava-se que a região também possuía abundância em minérios, ideia que ganhou força com a crença, de origem renascentista, de que o ouro era mais abundante quanto mais próximo da Linha do Equador e no sentido leste-oeste. Assim sendo, a busca por ouro no território se intensificou cada vez mais, fazendo deste o foco das expedições dos Bandeirantes pela região.
Umas das Bandeiras mais importantes recebida pelo território goiano foi a liderada por Francisco Bueno, a primeira a encontrar ouro nestas terras, em 1682, embora em pequena quantidade. A região explorada por essa Bandeira estendeu-se das margens do Rio Araguaia até a região do atual município de Anhanguera. Bartolomeu Bueno da Silva, filho de Francisco Bueno e conhecido por Anhanguera (Diabo velho), também fazia parte desta Bandeira. Segundo registros, Bartolomeu Bueno da Silva interessou-se pelo ouro que adornava algumas índias de uma tribo, mas não obteve sucesso em obter informações confiáveis sobre a localização exata desse ouro. Para descobrir a localização, Anhanguera resolveu ameaçar por fogo nas fontes e rios da região, utilizando aguardente para convencer os índios da tribo de que tinhas "poderes" e meios para fazer isto acontecer. Apavorados, os índios levaram-no imediatamente às jazidas, surgindo assim o apelido "Anhanguera" (Diabo Velho ou Feiticeiro).
O filho de Anhanguera, também chamado Bartolomeu Bueno da Silva , tentou retornar aos locais onde seu pai havia passado, 40 anos após o acontecido. Bueno da Silva tinha como objetivo encontrar a “Serra dos Martírios”, um lugar fantástico onde grandes cristais aflorariam, tendo formas semelhantes a coroas, lanças e cravos, referentes à “Paixão de Cristo”. Esse lugar, místico, nunca foi encontrado, mas este acabou chegando às regiões próximas ao rio Vermelho, onde encontrou ouro em maior quantidade em 1722. Bartolomeu Bueno da Silva acabou fixando-se na vila de Sant'Anna, em 1727, que mais tarde viria a se tornar a Vila Boa de Goyaz.
Depois de seu retorno a São Paulo, onde apresentou os achados em terras goianas, Bueno da Silva foi nomeado capitão-mor das "minas das terras do povo Goiá". Apesar disso, sua influência foi sendo diminuída a medida que a administração régia se organizava na região. Acusado de sonegação de rendas, Bueno da Silva perdeu direitos obtidos junto ao rei, falecendo pobre e sem poder em 1740. O ouro explorado na área era retirado principalmente da superfície dos rios, através da peneiragem do cascalho, se tornando escasso após 1770. A região passou a viver basicamente da pequena agricultura de subsistência e de algumas atividades relativas à pecuária. Nesta época, as principais regiões de Goiás exploradas pela Capitania de São Paulo eram o Centro-Sul (proximidades dos limites com São Paulo). o Alto Tocantins e o Norte da capitania, até os limites da cidade de Porto Nacional (hoje pertencente ao Tocantins). Estas regiões, entretanto, só viriam a receber ocupação humana intensamente a partir dos séculos XIX e XX, como resultado da ampliação da pecuária e agricultura.
Separação da Capitania de São Paulo.
O atual estado de Goiás foi administrado, no período colonial, pela Capitania de São Paulo, na época a maior delas, estendendo-se do Uruguai até o atual estado de Rondônia. Todavia, seu poder não era tão extenso e proeminente, ficando distante das populações e, também, dos rendimentos.
Depois da descoberta de ouro em Goiás, em 1722, os portugueses buscaram aproximar-se da região produtora, como uma forma de controlar melhor a produção de ouro e evitar o contrabando, além de servir como uma resposta mais imediata aos ataques dos índios e controlar os conflitos e revoltas entre os mineradores. Assim sendo, foi criado através de alvará régio a Capitania de Goiás, desmembrada de São Paulo em 1744, com a divisão efetivada em 1748. O primeiro governador da então Capitania de Goyaz foi Dom Marcos de Noronha, que passou a residir em Vila Boa de Goyaz.
Durante a maior parte do período colonial e imperial, os limites territoriais entre as capitanias e províncias não eram demarcados com exatidão, estando quase sempre definidos pelos limites das paróquias ou através de deliberações políticas oriundas do poder central. Nesse período, Goiás foi uma das administrações a sofrer maiores perdas de território, com diversas divisões. Duas perdas significativas de território marcaram Goiás na época colonial: O Triângulo Mineiro e o Leste do Mato do Grosso.
A região que hoje corresponde ao Triângulo Mineiro pertenceu à capitania de Goiás, desde sua criação, em 1744, até 1816, pouco antes da independência brasileira. A região foi incorporada a Minas Gerais devido a pressões pessoais de integrantes de grupos dirigentes da região. Apesar de ter passado à hegemonia mineira, o Triângulo continuou sofrendo influência goiana nas suas mais variadas ações, sobretudo na questão política. Em 1861, a Assembleia Geral sediou uma das maiores discussões políticas à época, entre parlamentares de Minas Gerais e de Goiás, por conta da tentativa mineira de ampliar ainda mais o território de Minas Gerais, incorporando áreas do Sul Goiano e próximas ao Rio São Marcos, administradas pela Capitania de Goiás.
As capitanias de Mato Grosso e Goyaz começaram as discussões acerca de seus limites territoriais em 1753. Como resultado das discussões, ficou definido que os limites entre as duas capitanias seria a partir do Rio das Mortes até o Rio Pardo, sendo que este último seria usado como o último limite entre as duas, por sua localização quase na fronteira do Brasil com Bolívia. Em 1838, Mato Grosso reiniciou as movimentações de contestação de limites territoriais, criando a vila de Sant'Ana do Paranaíba, próximo ao limite pré-estabelecido com Goiás. O caso foi tratado pela Assembleia Geral apenas em 1864, que criou uma legislação específica para o entrave. A situação perdurou até a República Velha, com a criação do município de Araguaia em 1913 por parte de Mato Grosso, e criação de Mineiros por parte de Goiás, o que culminou no agravamento do conflito. A questão ficou em suspenso até 1975, quando uma nova demarcação foi efetuada, durante o Regime militar. A decisão final veio em 2001, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) demarcou, por definitivo, a nascente "A" do Rio Araguaia como ponto de partida das linhas demarcatórias entre os dois estados, resultando em perda territorial para Goiás.
Império.
De 1780 em diante, a Capitania de Goiás iniciou um processo de ruralização e regressão a uma economia de subsistência, devido ao esgotamento das jazidas auríferas, o que causou graves problemas financeiros, pela ausência de um produto básico rentável. Os portugueses
agiram ativamente para tentar reverter essa situação, incentivando e promovendo a agricultura na região. Todavia, a ação não gerou resultados positivos, já que os agricultores temiam o pagamento de dízimos. Outros motivos que contribuíram para o fracasso da iniciativa foi a ausência de um mercado consumidor, dificuldade de exportação - sobretudo pela ausência de um sistema viário - e a falta de interesse dos mineiros pelo trabalho agrícola, pouco rentável.
Quando o Brasil conquistou a independência, em 1822, a Capitania de Goyaz foi elevada à categoria de província. Porém, essa mudança pouco alterou a realidade socioeconômica de Goiás, que ainda enfrentava um quadro de pobreza e isolamento geográfico. Poucas mudanças ocorreram, sendo a maioria de ordem política e administrativa. A expansão da pecuária em Goiás alcançou relativo êxito nas três primeiras décadas do século XIX, resultando em um significativo aumento populacional, principalmente no sul da província. A maioria dos migrantes que chegavam ao estado, vinham de outras províncias próximas, como Grão-Pará, Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Com essa migração, surgiram novas localidades, que logo tornaram-se cidades: no sudoeste goiano, Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia (então Rio Bonito), Quirinópolis (então Capelinha), entre outras. O norte da província também mudou consideravelmente com o aumento populacional. Além do surgimento de novas cidades, as que já existiam (Imperatriz, Palma, São José do Duro, São Domingos, Carolina e Arraias, ganharam novo impulso.
O poder central, apesar de distante, ainda exercia amplo poder sobre a região, pois detinham a livre escolha dos presidentes de província e outros cargos de importância política - todos de nacionalidade portuguesa - descontentando os grupos locais. Após a abdicação de D.Pedro I, Goiás experimentou um movimento nacionalista liderado pelo padre Luiz Bartolomeu Marquez, pelo bispo Dom Fernando Ferreira e pelo coronel Felipe Antônio. De imediato, o movimento recebeu o apoio das tropas, conseguindo depor todos os portugueses que ocupavam cargos públicos em Goiás, entre eles, o presidente da província.
Vários partidos foram fundados na província por grupos locais insatisfeitos com a influência exercida pelo governo central. Nas últimas décadas do século XIX, surgiram os partidos O Liberal, em 1878, e o Conservador, em 1882. Jornais também foram fundados, usados principalmente como meio de difusão das ideias destes partidos, entre eles Tribuna Livre, Publicador Goiano, Jornal do Comércio, Folha de Goyaz e O Libertador. Com isso, representantes próprios foram enviados à Câmara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando as bases para as futuras oligarquias.
O jornal O Libertador havia sido fundado pelo poeta goiano Antônio Félix de Bulhões, e usado por este como meio de divulgação de seus ideais abolicionistas. Félix de Bulhões também promoveu festas para angariar fundos, com o objetivo de alforriar escravos, e compôs o Hino Abolicionista Goiano. Com a sua morte, em 1887, várias sociedades emancipadoras se uniram e fundaram a Confederação Abolicionista Félix de Bulhões. Aproximadamente 4 mil escravos viviam em Goiás, à época da promulgação da Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888.
O ensino educacional em Goiás foi regulamentado em 1835, pelo presidente da província, José Rodrigues Jardim. Em 1846, foi criado na então capital, Cidade de Goiás, o Liceu, que contava com o ensino secundário. À época, jovens do interior de família classe média-alta e alta concluíam seus estudos em Minas Gerais e faziam curso superior em São Paulo, e os de família menos abastada, encaminhavam-se para a escola militar ou seminários. No entanto, a maioria da população permanecia analfabeta. Somente em 1882 foi criada a primeira Escola Normal de Goiás, na capital deste.
República.
O Brasil passou ao regime republicano em 15 de novembro de 1889, fazendo de Goiás um estado. Entretanto, pouco se modificou na unidade administrativa em termos socioeconômicos, em especial pelo isolamento resultante da carência dos meios de comunicação. Aliado a isso, a ausência de centros urbanos e de um mercado interno, além de uma economia de subsistência, também contribuíram para os problemas enfrentados pela população goiana. Apenas mudanças administrativas e políticas foram vistas.
A primeira fase da República no Brasil, que durou desde sua proclamação até 1930, acentuou a disputa entre as elites oligárquicas de Goiás pelo poder político. Os principais grupos de elite eram os Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado, que exerciam influência nas mais diversas atividades do estado. Os Bulhões apresentaram forte influência sobre a política do estado até por volta de 1912, com sua liderança maior em José Leopoldo de Bulhões, sucedidos pela elite oligárquica dos Jardim Caiado, liderada por Antônio Ramos Caiado, com seu poder exercido até 1930.
Um dos meios de desenvolvimento advindos da mudança para o período republicano, de forma imediata, foi a instalação do telégrafo em 1891, usado para a transmissão de notícias. Posteriormente, a estrada de ferro em território goiano, que chegou no início do século XX, também foi de grande importância para a urbanização na região e a ligação com outras partes do país, facilitando a produção de arroz para exportação. Entretanto, a estrada de ferro não se estendeu até a cidade de Goiás, capital estadual à época, assim como não se prolongou ao norte do estado, devido principalmente a falta de recursos financeiros. Essas regiões permaneciam praticamente incomunicáveis. A pecuária, predominante na parte sul, passou a ser o setor mais importante da economia.
Com a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência do Brasil, foram registradas alterações no cenário político estadual. Getúlio Vargas destituiu os governadores e nomeou um governo provisório composto por três membros. O Dr. Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado em Goiás, passando a ser interventor do estado dias após sua primeira nomeação. Outra iniciativa surgida como resultado da revolução foi um plano de ação adotado pelo governo nacional, para levar desenvolvimento a alguns estados interioranos do país, entre os quais Goiás, que recebeu investimentos nas áreas do transporte, educação, saúde e exportação. O plano de ação de desenvolvimento em Goiás previa uma outra medida para alcançar o objetivo: A mudança da capital estadual e construção da futura capital.
Construção de Goiânia.
Os ideais de "progresso e desenvolvimento", levantados durante a revolução de 1930, foram os principais impulsionadores da mudança da capital goiana, proposta que já havia sido pensada em governos anteriores, mas que nunca havia sido habilitada em parte por falta de apoio do governo nacional. A região onde se encontra a atual capital foi escolhida por apresentar melhores condições hidrográficas, topográficas, climáticas e pela proximidade da estrada de ferro.
No dia 24 de outubro de 1933, lançou-se o projeto de construção e mudança da sede do governo do estado de Goiás, sendo que dois anos depois, em 7 de novembro de 1935, a mudança provisória da nova capital foi iniciada. Para escolher o nome da nova capital, foi promovido um concurso, administrado pelo semanário "O Social". O nome escolhido foi "Goiânia", conforme sugerido pelo professor Alfredo de Castro.
Em 23 de março de 1937, a mudança da capital para Goiânia foi finalizada. O município de Goiás perdeu o posto de sede estadual por meio do Decreto 1.816 daquele ano. Cinco anos após sua instalação definitiva como capital, Goiânia já registrava 15 mil habitantes, atraídos principalmente do norte de Goiás e de estados próximos, como Minas Gerais, Piauí, Bahia e Maranhão.
Goiás experimentou um crescimento acelerado em vários setores, a partir de 1940, resultado de políticas adotadas tanto pelo governo estadual quanto pelo governo nacional, como o desbravamento do Mato Grosso Goiano, a campanha nacional de "Marcha para o Oeste" - com a finalidade de povoação de áreas do interior do Brasil - e a construção de Brasília, que viria a ser a nova capital nacional, assim como ocorrido com Goiânia.
A imigração no estado se intensificou, a urbanização e o êxodo rural foram estimuladas, e a agropecuária se espalhou para outras partes do território, que não fossem apenas o sul. Entretanto, assim como outras partes do país, a industrialização ainda era recorrente e a economia era quase que integralmente dependente do setor primário (agricultura e pecuária), com a vigência do sistema latifundiário.
Em contrapartida, como meio de estimular o desenvolvimento de outras áreas econômicas no estado (principalmente a industrialização), foram criados o Banco do Estado e a Centrais Elétricas de Goiás (CELG), na década de 1950.
A continuação dessa inciativa se deu no governo de Mauro Borges Teixeira, que governou Goiás entre 1960 e 1964. Mauro Borges Teixeira também procurou descentralizar a economia, elaborando outro projeto, chamado de "Plano de Desenvolvimento Econômico de Goiás", que funcionou como uma diretriz onde se abrangia áreas de agricultura e pecuária, transportes e comunicações, energia elétrica, educação e cultura, saúde e assistência social, levantamento de recursos naturais e turismo.
Geografia.
O estado de Goiás está localizado no Planalto central brasileiro, entre chapadas, planaltos, depressões e vales. Há bastante variação de relevo no território goiano, onde ocorrem terrenos cristalinos sedimentares antigos, áreas de planaltos bastante trabalhadas pela erosão, bem como chapadas, apresentando características físicas de contrastes marcantes e beleza singular. As maiores altitudes localizam-se a leste e a norte, na Chapada dos Veadeiros (1.784 metros), na Serra dos Cristais (1250 m) e na Serra dos Pireneus (1395 m). As altitudes mais baixas ocorrem especialmente no oeste do estado.
Goiás é banhado por quatro bacias hidrográficas: a Bacia do rio Paraná, a Bacia do Tocantins, a Bacia do rio Araguaia e uma pequena porção da Bacia do rio São Francisco à leste do estado. Os principais rios são: Paranaíba, Aporé, Araguaia, São Marcos, Corumbá, Claro, Paranã, dos Bois, das Almas, Vermelho, Verdão e Maranhão.
Biodiversidade.
A fauna em Goiás é riquíssima, destacando-se animais de variadas espécies, como capivaras e antas, as margens de rios e riachos. Nas matas: onças, tamanduás,lobos-guarás,macacos e animais típicos do cerrado, como a ema e a seriema. Pássaros de variadas espécies enriquecem a fauna goiana, além de peixes e anfíbios nos rios e lagos espalhados em todo o estado. Para proteger as florestas, a flora e a fauna, foram criados pelo Governo parques e reservas florestais, onde são proibidas a pesca, a derrubada das árvores e a caça. Os principais parques de proteção ambiental no estado são o Parque Nacional das Emas, situado no município de Mineiros, no sul do estado, e o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, nos municípios de Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante.
Com exceção da região do "Mato Grosso Goiano", onde domina uma pequena área de floresta tropical em que existem árvores de grande porte aproveitadas pela indústria, como o mogno, jequitibá e peroba, o território goiano apresenta a típica vegetação do Cerrado. Arbustos altos e árvores de galhos retorcidos de folha e casca grossas com raízes profundas formam boa parte da vegetação. Municípios como Goiânia, Anápolis, bem como diversos outros localizados no sul do estado possuem estreitas faixas de floresta Atlântica, as quais, na maioria das vezes, cobrem margens de rios e grandes serras. Ao contrário das áreas de caatinga do Nordeste brasileiro, o subsolo do cerrado apresenta água em abundância, embora o solo seja ácido, com alto teor de alumínio, e pouco fértil. Por esse motivo, na estação seca, parte das árvores perde as folhas para que suas raízes possam buscar a água presente no subsolo. Exemplos de árvores do cerrado são: lobeira, mangabeira, pequizeiro, e de algumas plantas medicinais, como a caroba e a quineira.
Clima.
O clima é majoritariamente tropical savânico ("Aw"). Basicamente, há duas estações bem definidas: a chuvosa, que vai de outubro a abril, e a seca, que vai de maio a setembro. A média térmica é de 26 °C, e tende a subir nas regiões oeste e norte, e a diminuir nas regiões sudoeste, sul e leste. As temperaturas mais altas são registradas entre setembro e outubro, e as máximas podem chegar a até 40 °C.
As temperaturas mais baixas, por sua vez, são registradas entre maio e julho, quando as mínimas, dependendo da região , podem chegar a até 9 °C. A tipologia climática tropical se faz presente na maior parte do estado, apresentando invernos secos e verões chuvosos. As temperaturas variam de região para região; no sul giram em torno dos 20 °C aumentando ao norte para 25 °C. O índice de chuvas segue o regime das temperaturas.
A oeste do estado o índice atinge 1 800 mm anuais diminuindo no sentido leste para 1 500 mm/ano. Em parte do estado, mais precisamente no planalto de Anápolis e Luziânia ocorre o clima tropical de altitude com temperaturas médias anuais baixas, porém, a precipitação ocorre da mesma forma que no restante do estado.
Meio ambiente.
A expansão da agropecuária tem causado graves prejuízos ao cerrado goiano. As matas ciliares estão sendo destruídas e as reservas permanentes sendo desmatadas, para ceder espaço para o gado bovino e as plantações. Na região de nascentes do Rio Araguaia, a implantação de pastagens fez surgir inúmeros focos de erosão provocados pelo desmatamento, causando as voçorocas (valetas profundas causadas pela erosão), praticamente incontroláveis, que atingem o lençol freático. Algumas dessas valas chegam a medir 1,5 km de extensão, por 100 m de largura e 30 m de profundidade.
Esse quadro desolador, aliado ao assoreamento dos rios, tem feito com que Goiás enfrente sérios problemas de abastecimento de água, uma situação que se torna grave nos períodos de estiagem prolongada. A vazão das nascentes de águas, em 1999, alcançou os mais baixos níveis desde 1989, de acordo com a Secretaria do Meio Ambiente, fazendo com que o governo já pense na possibilidade de adotar racionamento de água para as cidades mais populosas, como é o caso de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis.
Demografia.
De acordo com o censo de 2010 divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Goiás contava com habitantes, fazendo deste o estado mais populoso da Região Centro-Oeste. Segundo estimativas do mesmo instituto, a população atingiu, em 2021, habitantes.
O crescimento demográfico no estado acentuou-se após a fundação das cidades de Goiânia, em 1933, e Brasília, em 1960. Atualmente a taxa de crescimento demográfico em Goiás é maior do que a média nacional brasileira. Em 2010 a densidade demográfica era de 17,20 hab/km². O território goiano é marcado tanto por vazios demográficos quanto por regiões de alta concentração populacional. As áreas mais densamente povoadas do estado são a Região Metropolitana de Goiânia, com cerca de 2 milhões de habitantes, Microrregião de Anápolis, com mais de meio milhão de habitantes, e o Entorno do Distrito Federal, com um pouco mais de 1 milhão de habitantes.
Religiões.
Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 58,89% da população do estado era católica romana, 28,07% eram evangélicos, 8,11% não tinha religião, 2,46% eram espíritas, 0,67% Testemunhas de Jeová, 1,01% outras religiosidades cristãs (que incluem Igreja Católica Apostólica Brasileira, Igreja Ortodoxa, mórmons e outras) e 0,79% de outras religiões.
Segundo a divisão da Igreja Católica no Brasil, Goiás pertence à Regional Centro-Oeste e seu território é dividido em uma província eclesiástica, com sede na Arquidiocese de Goiânia.
A maioria da população protestantes em Goiás é pentecostal, cerca de 18,99%. 1,15% são batistas, 0,78% presbiterianos, 0,67% adventistas os demais grupos (luteranos, congregacionais e metodistas e outras igrejas de missão) constituem juntos 0,19% da população do estado e 6,28% não possuem denominação. Entre os pentecostais o maior grupo são as Assembleias de Deus com 10,62% da população do Estado, seguida pela Congregação Cristã no Brasil com 1,37% da população goiana e Igreja Universal do Reino de Deus com 1,07% da população.
Composição étnica.
De acordo com estudo genético autossômico de 2008, a composição (ancestralidade) da população de Goiás como um todo encontrar-se-ia assim descrita: 83,70% europeia, 13,30% africana e 3,0% indígena.
Os primeiros habitantes de Goiás foram as populações das diversas nações indígenas que ocupavam praticamente todo o atual território do Estado. Apesar dessa aparente diversidade, daquele período até o início do século XIX, Goiás era uma unidade cuja população era majoritariamente negra - principalmente, levando em consideração que os indígenas, a essa altura, se dividiam em três destinos: parte havia sido exterminada, parte fazia guerra contra o colonizador e parte vivia em aldeamentos oficiais. O recenseamento de 1804, o primeiro oficial, mostrou que 85,9% dos goianos eram "pardos e pretos".
Esse perfil só vai ser alterado gradativamente na passagem da sociedade mineradora para a sociedade agropastoril, que vai promover uma nova ocupação do Estado ao longo do século XIX e metade do século XX, com correntes migratórias de Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Pará. Esses movimentos vão promover uma ampla mestiçagem, constituindo, de certa forma, o perfil do habitante do cerrado , o sertanejo goiano. Desse total de habitantes, 3,7 milhões são nascidos em Goiás e 1,3 milhão são nascidos em outros Estados. Desses últimos, 331 mil são de Minas Gerais; 188 mil, da Bahia; 129 mil, do Distrito Federal; 88 mil, do Maranhão; 78 mil, de São Paulo; 73 mil, de Piauí; e 70 mil, do Tocantins. Graças a esses imigrantes , hoje os goianos tem sangue holandês e francês.
A população indígena em Goiás ultrapassa 10 mil habitantes. 39 781 hectares perfazem a soma das quatro áreas indígenas atualmente existentes no estado - três da quais se encontram demarcadas pela Funai. Tais áreas localizam-se nos seguintes municípios: Aruanã, Cavalcante, Colinas do Sul, Minaçu, Nova América e Rubiataba, sendo que a maioria da população considerada parda, possui ancestrais indígenas.
Política.
Goiás é um estado da federação, sendo governado por três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás e outros tribunais e juízes. Também é permitida a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos.
Goiânia é o município com o maior número de eleitores, com 958,4 mil destes. Em seguida aparecem Aparecida de Goiânia, com 277,6 mil eleitores, Anápolis, com 260,2 mil eleitores, Luziânia (117,7 mil eleitores), Rio Verde (114,8 mil eleitores) e Águas Lindas de Goiás, Trindade e Itumbiara, com 85,9 mil, 77,2 mil e 65,1 mil eleitores, respectivamente. O município com menor número de eleitores é Anhanguera, com 1,1 mil.
Tratando-se sobre partidos políticos, todos os 35 partidos políticos brasileiros possuem representação no estado. Conforme informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base em dados de abril de 2016, o partido político com maior número de filiados em Goiás é o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), com membros, seguido do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com membros e do Partido Progressista (PP), com filiados. Completando a lista dos cinco maiores partidos políticos no estado, por número de membros, estão o Partido dos Trabalhadores (PT), com membros; e o Democratas (DEM), com membros. Ainda de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o Partido Novo (NOVO) e o Partido da Causa Operária (PCO) são os partidos políticos com menor representatividade na unidade federativa, com e membros, respectivamente.
Subdivisões.
O estado de Goiás é composto por 246 municípios, que estão distribuídos em 22 regiões geográficas imediatas, que por sua vez estão agrupadas em seis regiões geográficas intermediárias, segundo a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017.
As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. Na divisão vigente até 2017, os municípios do estado estavam distribuídos em 18 microrregiões e cinco mesorregiões, segundo o IBGE.
Economia.
A composição da economia do estado de Goiás está baseada na produção agrícola, na pecuária, no comércio e nas indústrias de mineração, alimentícia, de confecções, mobiliária, metalurgia e madeireira. Agropecuária é a atividade mais explorada no estado. Estas tendências do estado pode ser exemplificada por sua pauta de exportações que, em 2012, se baseou em Soja (21,59%), Milho (12,17%), Farelo de Soja (9,65%), Minério de Cobre (8,51%) e Carne Bovina Congelada (7,90%).
A agropecuária é a atividade mais explorada no estado e umas das principais responsáveis pelo rápido processo de agro - industrialização que Goiás vem experimentando. Privilegiado com terras férteis, água abundante, clima favorável e um amplo domínio na tecnologia de produção, o estado é um dos grandes exportadores de grãos, além de possuir um dos maiores rebanhos do país. O estado de Goiás destaca-se na produção de cana-de-açúcar, milho, soja, tomate, sorgo, feijão, girassol, alho, além de também produzir algodão, arroz, café e trigo. Em 2019, Goiás foi o 4º estado brasileiro com maior produção de grãos, 10% da produção nacional.
A criação pecuária compreende 22,87 milhões de bovinos (sendo o 2º maior rebanho do Brasil), 1,053 milhões de suínos (6º maior rebanho no brasileiro), 49,5 mil bufalinos, além de equinos, asininos (jumentos, mulas e burros), ovinos e aves (cerca de 90 milhões de galináceos - galos, galinhas, frangos e pintos - sendo o maior rebanho de aves do Centro-Oeste e o 6º no Brasil). Em janeiro de 2019, Goiás ocupou a sexta posição entre os estados brasileiros no que diz respeito ao Valor Bruto da Produção (VBP), com valor agregado de 45,14 bilhões de reais. Em 2016, Goiás foi o quarto maior produtor de leite, respondendo por 10,1% da produção de leite do país. O número de galinhas no Estado foi de 64,2 milhões de cabeças em 2015. A produção de ovos de galinha neste ano foi de 188 milhões de dúzias. Goiás foi o 9º maior produtor de ovos, 5% da produção nacional.
O estado é rico em reservas minerais. O subsolo goiano apresenta grandes variedades de minérios, que dá condições economicamente muito favoráveis. Sendo os principais minérios o níquel, cobre, ouro, nióbio, alumínio (bauxita), calcário e o fosfato, sendo os principais municípios mineradores Niquelândia, Barro Alto e Catalão. Goiás tinha, em 2017, 4,58% da participação na mineração nacional (3º lugar no país, somente atrás de Minas Gerais e Pará, os grandes estados mineradores do país). No níquel, Goiás foi o maior produtor, tendo obtido 154 mil toneladas a um valor de R$ 1,4 bilhão.
Goiás tinha em 2017 um PIB industrial de R$ 37,1 bilhões, equivalente a 3,1% da indústria nacional. Emprega 302.952 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Construção (25,6%), Alimentos (25,2%), Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Energia Elétrica e Água (17,2%) e Derivados do Petróleo e Biocombustíveis (7,4%) e Químicos (3,7%). Estes 5 setores concentram 79,1% da indústria do estado.
Em 2000, foi criado em Anápolis um polo farmaquímico, responsável pela produção de matérias-primas para a indústria de medicamentos, uma vez que o município já contava com um pólo farmacêutico. A instalação dos novos laboratórios farmaquímicos, composto de oito laboratórios farmacêuticos de médio e grande porte já instalados no Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA), contribui para a expansão do setor, um reflexo direto da aprovação da Lei dos Medicamentos Genéricos, que possibilitou aos laboratórios ampliarem sua participação no mercado interno.
O estado tem se tornado um importante pólo automotivo. Nos últimos anos o estado tem atraído a instalação de novas montadoras de automóveis no Brasil. Já possui duas montadoras instaladas - a japonesa Mitsubishi (MMC) na cidade de Catalão e a do Grupo CAOA em Anápolis, com a sul-coreana Hyundai e a sino-brasileira CAOA Chery. Em maio de 2011 foi assinado protocolo de intenção para a construção e instalação de uma unidade da montadora de automóveis japonesa Suzuki Motors .
Turismo.
O turismo em Goiás é muito cosmopolitano, como as belezas naturais, como águas termais, locais intocados pelo homem do cerrado, grutas, cachoeiras, e temos também o turismo histórico, como em Pirenópolis e Cidade de Goiás, com seus monumentos históricos, e temos as festas tradicionais como ocorre em Pirenópolis, que é o caso das cavalhadas de Pirenópolis e a Festa do Divino de Pirenópolis.
As águas termais encantam os turistas principalmente de Goiânia, região Sudeste e de Brasília que vão para Caldas Novas, hoje considerada uma das cidades turísticas mais visitadas do Brasil, por abrigar grandes hotéis de classe superior e o maior parque hidrotermal do mundo com suas águas que chegam a 58 °C, recebendo cerca de 300 mil turistas em época de fim de ano e cerca de 1 milhão durante o ano inteiro. A cidade também é conhecida por ser uma das cidades com o maior número de hotéis de luxo, mesmo não sendo uma cidade grande, superando cidades como Pelotas-Rs, Búzios, Palmas, Governador Valadares, Piracicaba-Sp e Goiânia.
Infraestrutura.
Saúde.
Conforme dados de 2009, existiam no estado estabelecimentos hospitalares, com leitos. Destes estabelecimentos hospitalares, 1 577 eram públicos, sendo 1 547 de caráter municipais, 19 de caráter estadual e 11 de caráter federal. 1 434 estabelecimentos eram privados, sendo 1.369 com fins lucrativos e 65 sem fins lucrativos. 52 unidades de saúde eram especializadas, com internação total, e 2 200 unidades eram providas de atendimento ambulatorial. Em 2005, 77% da população goiana tinha acesso à rede de água, enquanto apenas 36,6% tinha acesso à rede de esgoto sanitário. Em 2009, verificou-se que o estado tinha um total de 393,1 habitantes por leitos hospitalares e, em 2005, registrou-se 11,4 médicos para cada grupo de 10 mil habitantes. A mortalidade infantil é de 18,9 a cada mil nascimentos, de acordo com dados de 2008.
Uma pesquisa promovida pelo IBGE em 2008 revelou que 75,8% da população do estado avalia sua saúde como boa ou muito boa; 66,8% da população realiza consulta médica periodicamente; 40,6% dos habitantes consultam o dentista regularmente e 9,7% da população esteve internada em leito hospitalar nos últimos doze meses. Ainda conforme dados da pesquisa, 31,6% dos habitantes declararam ter alguma doença crônica e 24,8% possuíam plano de saúde. Pouco mais da metade dos domicílios particulares no estado são cadastrados no programa Unidade de Saúde da Família: 52,4%.
Na questão da saúde feminina, 36,6% das mulheres com mais de 40 anos fizeram exame clínico das mamas nos últimos doze meses; 49,1% das mulheres entre 50 e 69 anos fizeram exame de mamografia nos últimos dois anos; e 80% das mulheres entre 25 e 59 anos fizeram exame preventivo para câncer do colo do útero nos últimos três anos.
Educação.
Com 3 512 estabelecimentos de ensino fundamental, 1 960 unidades pré-escolares, 866 escolas de nível médio e 29 instituições de nível superior, a rede de ensino do estado é a mais extensa do Centro-Oeste do país. Ao total, são matrículas e docentes registrados. O fator "educação" do IDH no estado atingiu em 2005 a marca de 0,891 – patamar consideravelmente médio, em conformidade aos padrões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – ao passo que a taxa de analfabetismo indicada pelo último censo demográfico do IBGE foi de 8,6%, superior às porcentagens verificadas em 11 estados brasileiros. A taxa de analfabetismo funcional é de 19,7% da população.
Goiás possui várias instituições educacionais, sendo que as mais renomadas delas estão localizadas principalmente na Região Metropolitana de Goiânia e em Anápolis. Na lista de estados brasileiros por taxa de alfabetismo, Goiás aparece em décimo quarto lugar, com 9,6% de sua população analfabeta e 21,4% analfabeta funcional. Esses dados colocam Goiás logo acima de Rondônia e atrás do Espírito Santo, exatamente na metade da lista. As cidades que mais se destacaram em educação segundo o IDEB são: Anápolis, Itumbiara, Rio Verde, São Luís de Montes Belos, Cristalina, Formosa, Jataí, Caldas Novas, Bom Jesus de Goiás, Morrinhos, Aparecida de Goiás, Porangatu, Niquelândia e Novo Gama. Todas essas cidades ficaram acima da média esperada pelo IDEB.
As instituições públicas de ensino superior são as seguintes: Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Instituto Federal de Goiás (IFG) e Instituto Federal Goiano (IFGoiano). Em 2018, o campus da UFG foi desmembrado para a criação da Universidade Federal de Jataí (UFJ) e Universidade Federal de Catalão (UFCat), após articulação da bancada goiana, com o senador Wilder Morais na sub-relatoria da comissão que iniciou os trabalhos para a conversão em universidades independentes.
As mais notáveis instituições privadas de ensino superior são as seguintes: Universidade Paulista (UNIP), Instituto Unificado de Ensino Superior Objetivo (IUESO), Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara (ILES/ULBRA), Faculdade Metropolitana de Anápolis (FAMA), Faculdade Araguaia, Faculdades e Colégio Aphonsiano, Faculdade Aliança de Itaberaí (FAIT), Faculdade Cambury, Faculdade Estácio de Sá de Goiás (FESGO), Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Universidade Paulista (UNIP),Faculdade Alves Faria (ALFA), UniEvangélica, Faculdade do Instituto Brasil (Fibra), Universidade Anhanguera (Uni-Anhanguera), Faculdade Sete de Setembro, Faculdade Padrão, Centro de Ensino Superior de Catalão (CESUC), Faculdade Educacional de Ciências Humanas de Anicuns (FECHA), Centro de Ensino Superior de Jataí (CESUT), Instituto de Ensino Superior de Rio Verde - Faculdade Objetivo (IESRIVER), Centro Universitário de Mineiros (UNIFIMES), Faculdade Quirinópolis (FAQUI), Faculdade Mineirense, Fundação Almeida Rodrigues (FAR), Faculdade de Caldas Novas (UNICALDAS), Faculdade de Goiás (FAGO), Faculdade do Norte Goiano (FNG), Faculdade Montes Belos (FMB), Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Goiatuba (FAFICH), Faculdade Sul-americana (FASAM) e Universidade de Rio Verde (UNIRV), Faculdade Alfredo Nasser ( UNIFAN).
Transportes.
Goiás possui uma extensa malha viária. Conta com 2 094 km de rodovias federais, 21 212 quilômetros de rodovias estaduais e 64 690 quilômetros de rodovias municipais, o que totaliza 87 996 quilômetros de rodovias. São mais de 13.000 km de estradas pavimentadas e cerca de 1.200 km de vias duplicadas. A BR-060 tem mais de 520 km duplicados entre Brasília, Goiânia e Jataí. A BR-050 (que passa por Catalão, e liga cidades como Brasília, Uberlândia, Uberaba e Santos) é quase totalmente duplicada no estado, com mais de 200 km de rodovias entre Cristalina e a divisa com Minas Gerais. A BR-153 (que corta o estado de Norte a Sul, ligando Itumbiara, na divisa com Minas Gerais, a Porangatu, na divisa com Tocantins) também está duplicada entre Goiânia e a divisa com Minas Gerais, havendo também um projeto para duplicá-la entre Anápolis e a divisa com Tocantins. Também há duas rodovias duplicadas que ligam Goiânia à BR-070 (que liga Brasília a Aragarças e ao Mato Grosso.). A duplicação de rodovias no estado começou na década de 2000 e vem evoluindo constantemente desde então. Outra rodovia de destaque é a BR-040 que liga Brasília a Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro conecta também, por sua vez, diversos municípios goianos como Cristalina, Luziânia, Valparaíso de Goiás.
O transporte ferroviário era pouco utilizado em Goiás: o Estado possuía um trecho de linha férrea que interliga parte de Minas Gerais ao Sudeste de Goiás e um outro trecho que interliga o Sudeste Goiano à capital Goiânia passando por Senador Canedo, cidade na qual possui grande distribuidoras petrolíferas e abatedouros de grande porte junto a margem dessa ferrovia. Posteriormente, o Governo Federal começou as obras da Ferrovia Norte-Sul com grande parte já pronta em Goiás, despontando do recém criado Porto Seco de Anápolis em direção ao Tocantins lado norte e lado sul indo em direção a Minas Gerais. A Ferrovia Norte-Sul está em construção desde 1985. Em 4 de março de 2021, a Rumo iniciou a operação no trecho entre São Simão (GO) e Estrela d'Oeste (SP), após investimentos de 711 milhões de reais. Em São Simão foi construído um terminal com capacidade estática de 42 mil toneladas e capacidade de movimentar por ano, 5,5 milhões de toneladas de soja, milho e farelo de soja. Já no dia 29 de maio de 2021, partiu do Terminal Multimodal de Rio Verde (GO) a primeira composição ferroviária carregada com soja, com destino ao Porto de Santos. Esta viagem marcou a inauguração do trecho entre Rio Verde e São Simão (GO) com pouco mais de 200 km.
Há apenas uma hidrovia no Rio Paranaíba e o principal porto dela é o de São Simão que faz parte da Hidrovia Paraná-Tietê.
O tráfego aéreo em Goiás possui vários aeroportos, sendo o mais movimentado o Aeroporto Internacional de Goiânia. Foi construída a Base Aérea de Anápolis para aeronaves supersônicas da Força Aérea Brasileira.
Cultura.
Música.
Muitos são os nomes que se destacam e projetam na área artística em Goiás. A área musical é de maior alcance, com vários cantores, duplas e bandas com origem no estado, nos mais variados estilos, especialmente no sertanejo. Entre estes, destacam-se: Marília Mendonça, Jorge e Mateus, Zezé Di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Amado Batista, Guilherme e Santiago, Bruno e Marrone, Humberto e Ronaldo, Chrystian e Ralf, João Neto e Frederico, Cristiano Araújo, Wanessa Camargo, Marcelo Barra, Leo Jaime e Odair José. Entre as bandas, pode-se citar: Banda Uó e Pedra Leticia .
Literatura.
O Estado de Goiás produziu grandes nomes na âmbito literário ao longo das décadas, dentre os quais vários atingiram projeção e influência nacioanis. Entre os mais aclamados escritores está a poetisa Cora Coralina, que foi projetada nacionalmente pela admiração que recebia de Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. O contista Hugo de Carvalho Ramos, que influenciou Guimarães Rosa e Monteiro Lobato, foi considerado o autor do melhor livro do cânone literário goiano, "Tropas e Boiadas", eleito por um júri de críticos, jornalistas, escritores e outras sumidades escolhidas pelo jornal O Popular. Além dos dois, merece destaque também o imortal Bernardo Élis que atingiu a proeza de ser o primeiro e único goiano, até hoje, a ser membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a Cadeira 1. Apesar de Bernardo Élis ter sido o único a ingressar na ABL, a entidade também consagrou dois outros autores goianos com a maior premiação literária brasileira, o Prêmio Machado de Assis; são eles Gilberto Mendonça Teles (1989) e José J. Veiga (1997).
Além dos autores de prestígio nacional e internacional já citados, deve-se destacar também outros grandes nomes como Bariani Ortêncio, Leo Lynce, Miguel Jorge, Eli Brasiliense, Carmo Bernardes, Rosarita Fleury, Afonso Félix de Souza, Leodegária de Jesus e muitos outros.
Cinema.
Em se tratando de cinema no Estado de Goiás, é indispensável a menção ao Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), um dos maiores sobre o tema do mundo.
Alguns dos principais nomes da história do cinema goiano incluem João Bennio (dirigiu, por exemplo, "O azarento", filmado em Goiânia e Piracanjuba, "Simeão, o boêmio", em Pirenópolis), Cici Pinheiro (teria dirigido o primeiro filme goiano, "O ermitão de Muquém (1966)", mas não o completou por falta de financiamento), Jocelan Melquiades de Jesus (diretor de "A fraude (1968)"), José Petrillo, Lourival Belém Jr., Rosa Berardo, entre outros.
Cineastas mais recentes também têm ganhado destaque em festivais nacionais e internacionais, dos quais pode-se citar Fabio Meira, cineasta do filme As duas Irenes (2017), exibido no Festival de Berlim, um dos três principais festivais do mundo junto ao de Cannes e de Veneza; Flávia Neves que dirigiu o longa "Fogaréu," também exibido na Berlinale; Lázaro Ribeiro, diretor do curta "Hugo" sobre a vida do escritor Hugo de Carvalho Ramos; Pedro Novaes; Jarleo Barbosa; Henrique e Marcela Borela.
Artes Plásticas.
No âmbito das artes plásticas há alguns nomes do cenário goiano que atingiram prestígio nacional e, em alguns casos, internacional.
Do período barroco, um dos únicos nomes conhecidos em Goiás mas que ganhou projeção nacional foi Veiga Valle (1806-1874), cuja obra está no acervo do Museu da Boa Morte na cidade de Goiás. Ainda no século XIX, podemos citar André Antonio da Conceição, sobre o qual pouco se sabe, mas sua obra mais importante foi a pintura do forro da capela-mor da Igreja de São Francisco de Paula também em Goiás Velho.
Já no século passado, há uma quantidade muito maior de artistas plásticos conhecidos dentre os quais vale citar Siron Franco, Octo Marques, Goiandira do Couto, Amaury Menezes, Ana Maria Pacheco, Elder Rocha Lima, Neusa Moraes, Maria Guilhermina, entre outros. Alguns estrangeiros foram extremamente importantes no cenário artístico local ao terem se radicado em Goiás, como o italiano Frei Confaloni, o alemão Gustav Ritter e o português Antônio Porteiro.
Focando apenas no universo da arquitetura e urbanismo, dois nomes merecem atenção por terem projetado Goiânia, a nova capital, a partir de 1933. São eles Attilio Corrêa Lima (responsável por boa parte do conjunto art déco de Goiânia) e Armando de Godoy (projetou o Setor Sul da cidade nos moldes ingleses de cidade-jardim). Ainda em Goiânia, pode-se destacar as obras de Oscar Niemeyer pelo CCON e Paulo Mendes da Rocha pelas obras do Estádio Serra Dourada, do Terminal Rodoviário de Goiânia e do Jóquei Clube de Goiás. Podemos mencionar ainda as obras de Arnaldo Mascarenhas (Flamboyant Shopping), José Neddermeyer e Jorge Félix (Teatro Goiânia).
Museus.
Em Goiânia, há vários museus dedicados a períodos e personalidades da história regional, nacional e aos diversos movimentos artísticos, sendo eles: Museu de Arte de Goiânia (MAG), Museu Zoroastro Artiaga, Museu Predo Ludovico Teixeira, Memorial do Cerrado, Museu Frei Confaloni, Museu da Imagem e do Som (MIS), entre outros. Na cidade de Goiás, a antiga capital, existem alguns museus como o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, destacando o acervo de Veiga Valle, expoente do barroco em Goiás, o Museu das Bandeiras e o Museu da Polícia Militar dedicado a difusão da história e cultura da Polícia Militar do Estado de Goiás. Em Pilar de Goiás, há o Museu Casa da Princesa, onde a princesa Isabel residiu por cerca de um ano.
Culinária.
A culinária goiana é muito diversificada sendo seus principais pratos o peixe na telha, o suã (espinha dorsal de porco) com arroz, o arroz com pequi, e também os pratos de todos os dias dos brasileiros como o arroz e feijão; além da pamonha, que é usada como prato principal nas refeições; os frutos são a jabuticaba, a gabiroba, o jatobá, a mama-cadela, entre muitos outros do cerrado. Também se destacam as misturas, nome que se dá às verduras, como a serralha e a taioba, além da introdução da guariroba, um dos principais ingredientes do empadão, como vegetal na dieta quase diária.
A quitanda, denominação que se dá aos biscoitos caseiros, também é diversificada: quebrador, mané pelado (bolo de mandioca assado na folha de bananeira), biscoito-de-queijo (que foi inventado em Goiás), mentira (biscoito de polvilho frito), a peta, o quase esquecido "brevidade" (polvilho batido com ovos e açúcar), o pastelinho de doce de leite e o bolinho doce de arroz (esses dois últimos são quitandas típicas da Cidade de Goiás). É riquíssima a variedade de doces: marmelada em caixeta (região de Luziânia), moça-de-engenho (melado batido e emoldurado em forma de escultura), doce-de-leite (sobretudo com pau de mamão ralado ou sidra ralada), doce-de-ovo (ambrosia feita diretamente no melaço), de frutas cristalizadas (riquíssimos em Pirenópolis), doce de sidra ralada, de cascas de frutas (laranja, limão), entre tantos outros. As rapaduras temperadas (com leite, casca de laranja, sidra ou amendoim).
Os temperos são muito diversificados sendo uma culinária rica em temperos como açafrão, gengibre e pimenta, sendo este último empregado em quase todos os pratos salgados. O pequi, por exemplo, nas antigas vilas de Meia Ponte (hoje Pirenópolis), e Vila Boa, ainda no início do século XVIII, começou a ser utilizado na culinária de Goiás. Na região que circunda a cidade industrial de Catalão, o pequi era empregado tão somente na fabricação do sabão de pequi, de propriedades terapêuticas. Hoje já é comercializado em compota. O fruto pode ser degustado das mais variadas formas: cozido, no arroz, no frango, com macarrão, com peixe, com carnes, ao leite e na forma de um dos mais apreciados licores de Goiás.
Eventos.
Goiás tem inúmeras festas tradicionais, como os carnavais em diversas cidades do estado, o Carna - Goiânia que é conhecido como carnaval fora de época que vem pessoas do Brasil inteiro.
As principais festas religiosas são as famosas Romarias do Divino Pai Eterno, em Trindade, a festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, em Catalão, onde acontece a tradicional Congada de Catalão a festa de Nossa Senhora da Abadia, no povoado de Muquém, em Niquelândia, que juntam fiéis do estado inteiro, e a festa em louvor a Nossa Senhora Auxiliadora que acontece na cidade de Iporá que é considerada a Terceira maior concentração religiosa do estado de Goiás.
E também em Pirenópolis na Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis, com as Cavalhadas de Pirenópolis, trazida de Portugal no século XVIII, sendo sua primeira edição em 1819. É uma festa intercultural, pois reúne traços europeus, africanos e indígenas. Reúne amantes da música e da arte do mundo inteiro, sendo essa, a mais tradicional festa do centro-oeste brasileiro.
Um dos mais importantes eventos culturais do estado é o FICA, Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, que em 2010 teve sua 12ª edição. O festival acontece anualmente, em meados de junho, na Cidade de Goiás, antiga Vila Boa (capital do estado de Goiás até a transferência para Goiânia), e patrimônio histórico da humanidade. A mostra exibe 15 horas de vídeos com o que de melhor se produz sobre meio ambiente e tem a maior premiação de festivais de cinema e vídeo da América Latina. Os eventos paralelos trazem shows, oficinas e debates com nomes nacionais e internacionais. Cerca de 70 mil pessoas passam pela cidade durante a semana do Festival.
Esportes.
Goiás tem diversas modalidades esportivas, como o futsal, vôlei e o rugby, mas o principal esporte do estado é o futebol, sendo que todos os anos é realizado o Campeonato Goiano de Futebol, popularmente conhecido como Goianão. Os principais clubes de futebol são o , , , , , , , e o . O principal estádio de Goiás é o Estádio Serra Dourada. O time mais conhecido, com a maior estrutura física e com a maior torcida do Centro-Oeste é o , que disputa o Campeonato Brasileiro Série A, Copa do Brasil, e já disputou a Copa Libertadores da América e a final da Copa Sul-americana.
O vôlei também é muito praticado pela população goiana ocupando a 3ª colocação na preferência, sendo o segundo colocado o futsal. Um local onde o vôlei e o futsal são muito praticados é na cidade de Anápolis, possuindo o Ginásio Internacional com capacidade de sediar jogos oficiais. O rugby é o quarto colocado na preferência dos goianos, é esporte que mais cresce no país, muito por causa das Olimpíadas de 2016. Ainda com a conclusão no Novo Estádio Olímpico, o rugby em Goiás tem muito a crescer. O rugby em Goiás é representado pela Federação Goiana de Rugby (FGRu), e tem como principais clubes: Goianos Rugby Clube, UFG Rugby, Gigantes Itumbiara Rugby e o Anápolis Rugby.
Goiânia, capital do estado, foi uma das 18 cidades candidatas a subsede da Copa do Mundo FIFA de 2014, mas não foi escolhida. A Federação Goiana de Futebol já é a sétima colocada do ranking da CBF.
No estado nasceram os medalhistas olímpicos Dante no vôlei e Carlos Jayme na natação; além dos medalhistas em Mundiais César Sebba no basquete e Diogo Villarinho na maratona aquática.
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919 | Grécia | Grécia
Grécia ( ), oficialmente República ( ) e historicamente conhecida como Hélade (), é um país localizado no sul da Europa. De acordo com dados do censo de 2011, a população grega é de cerca de 11 milhões de pessoas. Atenas é a capital e a maior cidade do país.
O país está estrategicamente localizado no cruzamento entre a Europa, a Ásia, o Oriente Médio e a África. Tem fronteiras terrestres com a Albânia a noroeste, com a Macedônia do Norte e a Bulgária ao norte e com a Turquia no nordeste. O país é composto por nove regiões geográficas: Macedônia, Grécia Central, Peloponeso, Tessália, Epiro, Ilhas Egeias (incluindo o Dodecaneso e Cíclades), Trácia, Creta e Ilhas Jônicas. O Mar Egeu fica a leste do continente, o Mar Jônico a oeste e o Mar Mediterrâneo ao sul. A Grécia tem a 11.ª maior costa do mundo, com km de comprimento, com um grande número de ilhas (cerca de , das quais 227 são habitadas). Oitenta por cento do país é composto por montanhas, das quais o Monte Olimpo é a mais elevada, a m de altitude.
A Grécia moderna tem suas raízes na civilização da Grécia Antiga, considerada o berço de toda a civilização ocidental. Como tal, é o local de origem da democracia, da filosofia ocidental, dos Jogos Olímpicos, da literatura ocidental, da historiografia, da ciência política, de grandes princípios científicos e matemáticos, das artes cênicas ocidentais, incluindo a tragédia e a comédia. As conquistas culturais e tecnológicas gregas influenciaram grandemente o mundo, sendo que muitos aspectos da civilização grega foram transmitidos para o Oriente através de campanhas de Alexandre, o Grande, e para o Ocidente, através do Império Romano. Este rico legado é parcialmente refletido nos 17 locais considerados pela UNESCO como Patrimônio Mundial no território grego, o sétimo maior número da Europa e o 13.º do mundo. O Estado grego moderno, que engloba a maior parte do núcleo histórico da civilização grega antiga, foi criado em 1830, após a Guerra da Independência Grega contra o antigo Império Otomano.
Atualmente, a Grécia é um país democrático e desenvolvido, com uma economia avançada e de alta renda, um alto padrão de vida e um índice de desenvolvimento humano (IDH) considerado muito alto pelas Nações Unidas. A Grécia é um membro fundador da Organização das Nações Unidas (ONU), é membro do que é hoje a União Europeia desde 1981 (e da Zona Euro desde 2001), além de ser membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) desde 1952. A economia grega é também a maior dos Balcãs, onde a Grécia é um importante investidor regional.
Etimologia.
Grego é o nome pelo qual os romanos designavam os helenos, habitantes da Hélade que ficou conhecida como Grécia. As formas portuguesa "Grécia", castelhana, romena e italiana "Grecia", francesa "Grèce", inglesa "Greece", alemã "Griechenland" são um eruditismo calcado sobre o latim "Græcia".
História.
Pré-história e primeiras civilizações.
A evidência mais antiga da presença de ancestrais humanos no sul dos Bálcãs, datada de , pode ser encontrada na caverna Petralona, na Macedônia Central. A caverna Apidima em Mani, no sul da Grécia, contém os restos mais antigos de humanos anatomicamente modernos fora da África, datados de 210 mil anos atrás. Todos os três estágios da Idade da Pedra (Paleolítico, Mesolítico e Neolítico) estão representados na Grécia, por exemplo, na caverna Franchthi. Os assentamentos neolíticos na Grécia, datados do , são os mais antigos da Europa, pois a Grécia fica na rota pela qual a agricultura se espalhou do Oriente Próximo para a Europa.
A Grécia abriga as primeiras civilizações avançadas da Europa e é considerada o berço da civilização ocidental, começando com a civilização cicládica nas ilhas do Mar Egeu por volta de , a civilização minoica em Creta , e depois a civilização micênica no continente . Essas civilizações possuíam escrita, os minoicos escrevendo em um alfabeto não decifrado conhecido como Linear A e os micênicos em Linear B, uma forma primitiva do grego. Os micênicos absorveram gradualmente os minoicos, mas entraram em colapso violentamente por volta de , junto com outras civilizações, durante o evento regional conhecido como colapso da Idade do Bronze.
Isso deu início a um período conhecido como a Idade das Trevas Grega, da qual os registros escritos estão ausentes. Embora os textos Linear B desenterrados sejam muito fragmentários para a reconstrução do cenário político e não possam apoiar a existência de um Estado maior, registros contemporâneos hititas e egípcios sugerem a presença de um único Estado sob o domínio de um "Grande Rei" baseado na Grécia continental.
Período arcaico e clássico.
O fim da Idade das Trevas Grega é tradicionalmente datado de , o ano dos primeiros Jogos Olímpicos da Antiguidade. Acredita-se que a "Ilíada" e a "Odisseia", os textos fundamentais da literatura ocidental, tenham sido compostos por Homero nos séculos VIII ou . Com o fim da Idade das Trevas, surgiram vários reinos e cidades-Estados em toda a península grega, que se espalharam pelas margens do Mar Negro, sul da Itália ("Magna Graecia") e Ásia Menor. Esses Estados e suas colônias alcançaram grandes níveis de prosperidade que resultaram em um "boom" cultural sem precedentes na Grécia clássica, expresso em arquitetura, teatro, ciência, matemática e filosofia. Em , Clístenes instituiu o primeiro sistema democrático de governo do mundo em Atenas.
Em , o Império Aquemênida (ou Persa) controlava as cidades gregas da Ásia Menor e Macedônia. As tentativas de algumas das cidades-Estados gregas da Ásia Menor de derrubar o domínio persa falharam e a Pérsia invadiu os estados da Grécia continental em , mas foi forçada a se retirar após uma derrota na Batalha de Maratona em . Em resposta, as cidades-Estados gregas formaram a Liga Helênica em , liderada por Esparta, que foi a primeira união historicamente registrada dos Estados gregos desde a união mítica da Guerra de Troia.
Uma segunda invasão pelos persas aconteceu em . Após decisivas vitórias gregas em 480 e em Salamina, Plateias e Mícale, os persas foram forçados a se retirar pela segunda vez, marcando sua eventual retirada de todos os seus territórios europeus. Lideradas por Atenas e Esparta, as vitórias gregas nas Guerras Greco-Persas são consideradas um momento crucial na história do mundo, pois os 50 anos de paz que se seguiram são conhecidos como a Idade de Ouro de Atenas, período seminal de desenvolvimento na Grécia Antiga que lançou muitas das bases da civilização ocidental.
A falta de unidade política na Grécia resultou em conflitos frequentes entre os Estados gregos. A guerra intra-grega mais devastadora foi a Guerra do Peloponeso , vencida por Esparta e que marcou o fim do Império Ateniense como a principal potência na Grécia antiga. Atenas e Esparta foram mais tarde ofuscadas por Tebas e, eventualmente, pela Macedônia, com a última unindo a maioria das cidades-Estados do interior da Grécia na Liga de Corinto (também conhecida como Liga Helênica ou Liga Grega), sob o controle de Filipe II.
Apesar desse desenvolvimento, o mundo grego permaneceu amplamente fragmentado e não estaria unido sob uma única potência até o período romano. Esparta não se juntou à Liga e lutou ativamente contra ela, levantando um exército liderado por Ágis III para garantir as cidades-Estado de Creta para a Pérsia.
Após o assassinato de Filipe II, seu filho Alexandre III ("O Grande") assumiu a liderança da Liga de Corinto e iniciou uma invasão do Império Aquemênida com as forças combinadas da Liga em . Invicto em batalha, Alexandre havia conquistado o os territórios persas em . Quando morreu em , havia criado um dos maiores impérios da história, estendendo-se da Grécia à Índia. Após sua morte, seu império se dividiu em vários reinos, sendo os mais famosos o Império Selêucida, o Egito Ptolomaico, o Reino Greco-Bactriano e o Reino Indo-Grego. Muitos gregos migraram para Alexandria, Antioquia, Selêucia e muitas outras novas cidades helenísticas na Ásia e na África.
Embora a unidade política do império de Alexandre não pudesse ser mantida, ela resultou na civilização helenística e espalhou a língua grega e a cultura grega nos territórios conquistados por Alexandre. Considera-se geralmente que a ciência, a tecnologia e a matemática gregas atingiram seu pico durante o período helenístico.
Período helenístico e romano.
Após um período de confusão após a morte de Alexandre, a dinastia antigónida, descendente de um dos generais de Alexandre, estabeleceu seu controle sobre a Macedônia e a maioria das cidades-Estados gregas em . Por volta de , a República Romana se envolveu cada vez mais nos assuntos gregos e se engajou em uma série de guerras romano-macedônicas. A derrota da Macedônia na Batalha de Pidna, em , sinalizou o fim do poder antigonídeo na Grécia. Em , a Macedônia foi anexada como uma província romana e o restante da Grécia tornou-se um protetorado romano.
O processo foi concluído em , quando o imperador romano Augusto anexou o restante da Grécia e a constituiu como província senatorial da Acaia. Apesar de sua superioridade militar, os romanos admiravam e se tornaram fortemente influenciados pelas realizações da cultura grega, daí a famosa declaração de Horácio: "Graecia capta ferum victorem cepit" ("A Grécia, embora capturada, levou seu conquistador selvagem em cativeiro"). Os épicos de Homero inspiraram a "Eneida" de Virgílio, e autores como Sêneca, o jovem, escreveram usando estilos literários gregos. Heróis romanos, como Cipião Africano, tendiam a estudar filosofia e consideravam a cultura e a ciência gregas um exemplo a ser seguido. Da mesma forma, a maioria dos imperadores romanos mantinha uma admiração por coisas de natureza grega. O imperador romano Nero visitou a Grécia em 66 e se apresentou nos Jogos Olímpicos, apesar das regras contra a participação de não gregos.
As comunidades de língua grega do Oriente helenizado foram fundamentais para a disseminação do cristianismo primitivo nos séculos II e III, sendo que os primeiros líderes e escritores do cristianismo (principalmente Paulo de Tarso) eram principalmente de língua grega, embora geralmente não fossem da própria Grécia. O Novo Testamento foi escrito em grego e algumas de suas seções (Coríntios, Tessalonicenses, Filipenses, Apocalipse de João de Patmos) atestam a importância das igrejas na Grécia no início do cristianismo. No entanto, grande parte da Grécia se apegou tenazmente ao paganismo e as práticas religiosas gregas antigas ainda estavam em voga no final do , quando foram proibidas pelo imperador romano Teodósio I em 391–392. Os últimos jogos olímpicos registrados foram realizados em 393 e muitos templos foram destruídos ou danificados no século seguinte. Em Atenas e nas áreas rurais, o paganismo é atestado desde o e até mais tarde. O fechamento da Academia de Atenas, da escola neoplatônica, pelo imperador Justiniano em 529 é considerado por muitos como o fim da antiguidade, embora haja evidências de que a Academia continuou suas atividades por algum tempo depois disso. Algumas áreas remotas, como o sudeste do Peloponeso, permaneceram pagãs até o .
Período bizantino.
O Império Romano do Oriente, após a queda do Império Romano do Ocidente no , é convencionalmente conhecido como Império Bizantino (mas era simplesmente chamado de "Império Romano" em seu próprio tempo) e durou até 1453. Com sua capital em Constantinopla, sua língua e cultura literária eram gregas e sua religião era predominantemente cristã ortodoxa oriental.
Desde o , os territórios balcânicos do Império, incluindo a Grécia, sofreram o deslocamento de invasões bárbaras. Os ataques e devastação dos godos e hunos nos séculos IV e V e a invasão eslava da Grécia no resultou em um colapso dramático na autoridade imperial na península grega. Após a invasão eslava, o governo imperial manteve o controle formal apenas das ilhas e áreas costeiras, particularmente das cidades amuralhadas densamente povoadas, como Atenas, Corinto e Tessalônica, enquanto algumas áreas montanhosas do interior se sustentavam por conta própria e continuavam a reconhecer os interesses da autoridade imperial. Fora dessas áreas, acredita-se que uma quantidade limitada de assentamentos eslavos tenha surgido, embora em uma escala muito menor do que se pensava anteriormente. No entanto, a visão de que a Grécia na antiguidade tardia passou por uma crise de declínio, fragmentação e despovoamento agora é considerada ultrapassada, pois as cidades gregas mostram um alto grau de continuidade institucional e prosperidade entre os séculos IV e VI (e possivelmente mais tarde também). No início do , a Grécia possuía aproximadamente 80 cidades de acordo com a crônica "Sinecdemo' e o período do ao VII é considerado de alta prosperidade, não apenas na Grécia, mas em todo o Mediterrâneo Oriental.
Até o , quase toda a Grécia moderna estava sob a jurisdição da Santa Sé de Roma, de acordo com o sistema da Pentarquia. O imperador bizantino Leão III moveu a fronteira do Patriarcado de Constantinopla para o oeste e para o norte no .
A recuperação bizantina de províncias perdidas começou no final do e a maior parte da península grega ficou sob controle imperial novamente, em etapas, durante o . Esse processo foi facilitado por um grande influxo de gregos da Sicília e da Ásia Menor para a península grega, enquanto ao mesmo tempo muitos eslavos foram capturados e restabelecidos na Ásia Menor e os poucos que restaram foram culturalmente assimilados. Durante os séculos XI e XII, o retorno da estabilidade resultou em um forte crescimento econômico na península grega — muito mais forte do que o dos territórios anatólios do Império.
Após a Quarta Cruzada e a queda de Constantinopla aos "latinos" em 1204, a Grécia dividiu-se entre o Despotado do Epiro (um estado sucessor bizantino) e o domínio do Reino da França (conhecido como "latinocracia"), enquanto algumas ilhas estavam sob controle da República de Veneza. O restabelecimento da capital imperial bizantina em Constantinopla em 1261 foi acompanhado pela recuperação de grande parte da península grega pelo império, embora o Principado da Acaia no Peloponeso e o rival Despotado do Epiro no norte continuassem importantes potências regionais no , enquanto as ilhas permaneciam em grande parte sob controle genovês e veneziano. Durante a dinastia paleóloga (1261–1453), surgiu uma nova era do patriotismo grego, acompanhada de um retorno à Grécia antiga.
Como tais personalidades proeminentes da época também propuseram mudar o título imperial para "Imperador dos Helenos" e, no final do , o imperador era frequentemente chamado dessa maneira. Da mesma forma, em vários tratados internacionais da época, o imperador bizantino é denominado "Imperator Graecorum".
No , grande parte da península grega foi perdida pelo Império Bizantino, primeiro para os sérvios e depois para os otomanos. No início do , o avanço otomano significava que o território bizantino na Grécia estava limitado principalmente à sua maior cidade da época, Tessalônica, e ao Peloponeso (Despotado da Moreia). Após a queda de Constantinopla para os otomanos em 1453, a Moreia foi um dos últimos Estados remanescentes do Império Bizantino a resistir aos turco-otomanos. No entanto, ele também caiu para os otomanos em 1460, completando a conquista otomana da Grécia continental. Com a conquista turca, muitos estudiosos gregos bizantinos, que até então eram os principais responsáveis pela preservação do conhecimento grego clássico, fugiram para o Ocidente, levando consigo um grande corpo de literatura e, assim, contribuindo significativamente para o período do Renascimento.
Possessões venezianas e domínio otomano.
Enquanto a maior parte da Grécia continental e das ilhas do Mar Egeu estava sob controle otomano no final do , Chipre e Creta continuaram sendo território veneziano e só caíram para os otomanos em 1571 e 1670, respectivamente. A única parte do mundo de língua grega que escapou do domínio otomano no longo prazo foram as ilhas Jônicas, que permaneceram venezianas até serem capturadas pela Primeira República Francesa em 1797, depois passaram para o Reino Unido em 1809 até sua unificação com a Grécia em 1864.
Enquanto alguns gregos nas ilhas Jônicas e Constantinopla viviam em prosperidade e, no caso dos fanariotas, alcançaram posições de poder dentro do governo otomano, grande parte da população da Grécia continental sofreu as consequências econômicas da conquista otomana. Impostos foram cobrados e, nos anos posteriores, o Império Otomano decretou uma política de criação de propriedades hereditárias, transformando efetivamente as populações gregas rurais em servos.
A Igreja Ortodoxa Grega e o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla foram considerados pelos governos otomanos como autoridades dominantes de toda a população cristã ortodoxa do Império Otomano, etnicamente grega ou não. Embora o Estado otomano não tenha forçado os não muçulmanos a se converterem ao islamismo, os cristãos enfrentaram vários tipos de discriminação que pretendiam destacar seu "status" "inferior". A discriminação contra os cristãos, principalmente quando combinada com o tratamento severo das autoridades otomanas locais, levou a conversões ao Islã, mesmo que superficialmente. No , muitos "cripto-cristãos" retornaram à sua antiga lealdade religiosa.
A natureza da administração otomana da Grécia variava, embora fosse invariavelmente arbitrária e muitas vezes dura. Quando eclodiram conflitos militares entre o Império Otomano e outros estados, os gregos usavam armas contra os otomanos, com poucas exceções. Essas revoltas eram reprimidas pelos otomanos com grande derramamento de sangue.
Os séculos XVI e XVII são considerados como uma "idade das trevas" na história grega, com a perspectiva de derrubar o domínio otomano parecendo remota. Corfu resistiu a três cercos principais em 1537, 1571 e 1716, os quais resultaram na repulsa aos otomanos. No entanto, no , devido ao seu domínio do transporte marítimo e do comércio, surgiu uma classe rica e dispersa de comerciantes gregos. Esses comerciantes passaram a dominar o comércio dentro do Império Otomano, estabelecendo comunidades em todo o Mediterrâneo, nos Bálcãs e na Europa Ocidental. Embora a conquista otomana tenha separado a Grécia de importantes movimentos intelectuais europeus, como a Reforma e o Iluminismo, essas ideias, juntamente com os ideais da Revolução Francesa e o nacionalismo romântico, começaram a penetrar no mundo grego através da diáspora mercantil. No final do , Rigas Feraios, o primeiro revolucionário a visualizar um Estado grego independente, publicou uma série de documentos relacionados à independência grega, incluindo, entre outros, um hino nacional e o primeiro mapa detalhado da Grécia, em Viena. Feraios foi assassinado por agentes otomanos em 1798.
Período contemporâneo.
Guerra de independência.
No final do , um aumento na aprendizagem secular durante o Iluminismo Grego ao ressurgimento entre os gregos da diáspora da noção de uma nação grega que remonta à Grécia antiga, distinta dos outros povos ortodoxos, e tendo direito à autonomia política. Uma das organizações formadas nesse meio intelectual foi a Filiki Eteria, uma organização secreta formada por comerciantes em Odessa em 1814. Apropriando-se de uma longa tradição da profecia messiânica ortodoxa que aspirava à ressurreição do Império Romano do Oriente e criando a impressão de que tinham o apoio do Império Russo, eles conseguiram, em meio a uma crise do comércio otomano a partir de 1815, envolver os estratos tradicionais do mundo ortodoxo grego em sua causa nacionalista liberal. A Filiki Eteria planejava lançar a revolução no Peloponeso, nos Principados do Danúbio e em Constantinopla. A primeira dessas revoltas começou em 6 de março de 1821, nos Principados do Danúbio, sob a liderança de Alexandros Ypsilantis, mas logo foi reprimida pelos otomanos. Os eventos no norte levaram os gregos do Peloponeso a entrar em ação e, em 17 de março de 1821, os maniotas declararam guerra aos otomanos.
No final do mês, o Peloponeso estava em revolta aberta contra os otomanos e em outubro de 1821 os gregos sob liderança de Theodoros Kolokotronis haviam capturado Tripolitsa. A revolta do Peloponeso foi rapidamente seguida por revoltas em Creta, Macedônia e Grécia Central, que logo seriam reprimidas. Enquanto isso, uma marinha grega improvisada estava obtendo sucesso contra a marinha otomana no Mar Egeu e impedia que os reforços otomanos chegassem pelo mar. Em 1822 e 1824, turcos e egípcios devastaram as ilhas, incluindo Quio e Psara, cometendo massacres contra a população. Aproximadamente três quartos da população grega de Quio, de 120 mil habitantes, foram mortos, escravizados ou morreram de doenças. Isto teve o efeito de galvanizar a opinião pública na Europa Ocidental em favor dos rebeldes gregos.
Tensões logo se desenvolveram entre diferentes facções gregas, levando a duas guerras civis consecutivas. Enquanto isso, o sultão otomano negociou com Mehmet Ali, do Egito, que concordou em enviar seu filho Ibraim Paxá para a Grécia com um exército para reprimir a revolta em troca de ganhos territoriais. Ibraim desembarcou no Peloponeso em fevereiro de 1825 e teve sucesso imediato: no final de 1825, a maior parte do Peloponeso estava sob controle egípcio e a cidade de Missolonghi — sitiada pelos turcos desde abril de 1825 — caiu em abril de 1826. Embora Ibraim tenha sido derrotado em Mani, ele conseguiu reprimir a maior parte da revolta no Peloponeso e Atenas foi retomada.
Após anos de negociação, três grandes potências, França, Império Russo e Reino Unido, decidiram intervir no conflito e cada nação enviou uma marinha para a Grécia. Após as notícias de que as frotas otomano-egípcias combinadas iam atacar a ilha grega de Hydra, a frota aliada interceptou a frota otomana-egípcia em Navarino. Um impasse de uma semana terminou com a Batalha de Navarino, que resultou na destruição da frota otomano-egípcia. Uma força expedicionária francesa foi despachada para supervisionar a evacuação do exército egípcio do Peloponeso, enquanto os gregos procederam à parte capturada da Grécia Central em 1828. Como resultado de anos de negociação, o nascente Estado grego foi finalmente reconhecido sob o Protocolo de Londres em 1830.
Reino.
Em 1827, Ioánnis Kapodístrias, de Corfu, foi escolhido pela Terceira Assembléia Nacional em Trezena como o primeiro governador da Primeira República Helênica. Kapodistrias estabeleceu uma série de instituições estatais, econômicas e militares. Logo surgiram tensões entre ele e os interesses locais. Após seu assassinato em 1831 e a subsequente conferência de Londres, um ano depois, as Grandes Potências de Reino Unido, França e Rússia instalaram o príncipe bávaro Otto von Wittelsbach como monarca. O reinado de Otto foi despótico e, em seus primeiros 11 anos de independência, a Grécia foi governada por uma oligarquia da Baviera liderada por Josef Ludwig von Armansperg como primeiro-ministro e, mais tarde, pelo próprio Otto, que detinha o título de rei e primeiro-ministro. Durante esse período, a Grécia permaneceu sob a influência de suas três grandes potências protetoras, França, Rússia e Reino Unido, além da Baviera.
Apesar do absolutismo do reinado de Otto, os primeiros anos foram fundamentais na criação de instituições que ainda são a base da administração e educação gregas. Medidas importantes foram tomadas na criação do sistema educacional, nas comunicações marítimas e postais, na administração civil eficaz e, mais importante, no código legal. O revisionismo histórico assumiu a forma de "desbizantinificação" e des "desotomanização", em favor da promoção da herança grega antiga do país. Nesse espírito, a capital nacional foi transferida de Náuplia, onde estava desde 1829, para Atenas, que na época era uma vila. Uma reforma religiosa também ocorreu e a Igreja da Grécia foi estabelecida como igreja nacional do país, embora Otto permanecesse católico. 25 de março, o dia da Anunciação, foi escolhido como o aniversário da Guerra da Independência Grega, a fim de reforçar o vínculo entre a identidade nacional grega e a Ortodoxia. Pavlos Karolidis chamou os esforços da Baviera para criar um Estado moderno na Grécia como "não apenas apropriado para as necessidades das pessoas, mas também baseado em excelentes princípios administrativos da época".
Otto foi deposto na Revolução de 23 de outubro de 1862. Várias causas levaram ao seu depoimento e exílio, incluindo o governo dominado pela Baviera, impostos pesados e uma tentativa fracassada de anexar Creta a partir do Império Otomano. O catalisador da revolta foi a demissão de Konstantínos Kanáris por Otto. Um ano depois, ele foi substituído pelo príncipe Guilherme da Dinamarca, que levou o nome de Jorge I e trouxe consigo as ilhas Jônicas como um presente de coroação da Grã-Bretanha. Uma nova Constituição em 1864 mudou a forma de governo da Grécia da monarquia constitucional para a república coroada mais democrática. Em 1875, o conceito de maioria parlamentar como requisito para a formação de um governo foi introduzido por Charilaos Trikoupis, restringindo o poder da monarquia de nomear governos minoritários de sua preferência. No final do , os gregos continuaram a batalha contra os turcos para continuar liberando territórios anteriormente ocupados, como Tessália e Epiro. Durante as Guerras dos Balcãs, a Grécia conseguiu também recuperar a Trácia e a Macedônia.
Primeira Guerra Mundial.
Em meio à insatisfação geral com a aparente inércia e inatingibilidade das aspirações nacionais sob a liderança do cauteloso reformista Geórgios Theotókis, um grupo de oficiais militares organizou um golpe em agosto de 1909 e logo depois chamou a Atenas o político cretense Eleftherios Venizelos, que transmitia uma visão da regeneração nacional. Depois de vencer duas eleições e se tornar primeiro-ministro em 1910, Venizelos iniciou amplas reformas fiscais, sociais e constitucionais, reorganizou as forças armadas, fez da Grécia um membro da Liga Balcânica e liderou o país durante as Guerras dos Balcãs. Em 1913, o território e a população da Grécia quase dobraram, anexando Creta, Epiro e Macedônia. Nos anos seguintes, a luta entre o rei Constantino I e o carismático Venizelos sobre a política externa do país nas vésperas da Primeira Guerra Mundial dominou a cena política do país e dividiu o país em dois grupos opostos. Durante partes da Primeira Guerra Mundial, a Grécia tinha dois governos: um pró-alemão monarquista em Atenas e um pró-Entente venizelista em Tessalônica. Os dois governos foram unidos em 1917, quando a Grécia entrou oficialmente na guerra ao lado da Entente.
Após a Primeira Guerra Mundial, a Grécia tentou uma expansão adicional na Ásia Menor, uma região com uma grande população grega nativa na época, mas foi derrotada na Guerra Greco-Turca de 1919–1922, contribuindo para uma fuga maciça de gregos da Ásia Menor. Esses eventos se sobrepuseram, com ambos ocorrendo durante o genocídio grego (1914–1922), um período durante o qual, segundo várias fontes, oficiais otomanos e turcos contribuíram para a morte de várias centenas de milhares de gregos na Ásia Menor, juntamente com um número semelhante de assírios e um número bastante maior de armênios. O êxodo grego resultante da Ásia Menor foi tornado permanente e ampliado em uma troca oficial de população entre a Grécia e a Turquia. A troca fazia parte dos termos do Tratado de Lausanne, que encerrou a guerra.
A era seguinte foi marcada pela instabilidade, pois mais de 1,5 milhão de refugiados gregos expulsos da Turquia tiveram que ser integrados à sociedade grega. Gregos capadócios, gregos pônticos e gregos de Antioquia também estavam sujeitos à troca populacional. Alguns dos refugiados não sabiam falar o idioma dos gregos do continente. Os refugiados também fizeram um aumento dramático da população no pós-guerra, pois o número de refugiados era mais de um quarto da população anterior da Grécia.
Após os eventos catastróficos na Ásia Menor, a monarquia foi abolida por meio de um referendo em 1924 e a Segunda República Helênica foi declarada. Em 1935, um general monarca que virou político Georgios Kondylis tomou o poder após um golpe de Estado e aboliu a república, realizando um referendo fraudulento, após o qual o rei Jorge II retornou à Grécia e foi restaurado ao trono.
Segunda Guerra Mundial e guerra civil.
Em 1936, seguiu-se um acordo entre o primeiro-ministro Ioannis Metaxas e o chefe de estado Jorge II, que instalou Metaxas como chefe de um regime ditatorial conhecido como Regime de 4 de Agosto, inaugurando um período de regime autoritário que duraria, com pausas curtas, até 1974.
Em 28 de outubro de 1940, a Itália fascista exigiu a rendição da Grécia, mas o governo grego recusou e, na Guerra Greco-Italiana seguinte, a Grécia repeliu as forças italianas na Albânia, dando aos Aliados sua primeira vitória sobre as forças do Eixo em terra. A luta e a vitória gregas contra os italianos receberam elogios exuberantes na época. A mais proeminente é a citação atribuída a Winston Churchill: "Portanto, não diremos que os gregos lutam como heróis, mas diremos que os heróis lutam como gregos". O general francês Charles de Gaulle estava entre os que elogiaram a ferocidade e a resistência do povo grego. Em um comunicado oficial divulgado para coincidir com a celebração nacional grega do Dia da Independência, De Gaulle expressou sua admiração pela resistência grega:
O país acabaria por despachar urgentemente as forças nazistas durante a Batalha da Grécia, apesar da forte resistência grega, particularmente na Batalha da Linha Metaxas. O próprio Adolf Hitler reconheceu a bravura e a coragem do exército grego, afirmando em seu discurso ao Reichstag em 11 de dezembro de 1941, que: "A justiça histórica me obriga a declarar que dos inimigos que assumiram posições contra nós, o soldado grego em particular lutou com a mais alta coragem. Ele capitulou apenas quando a resistência se tornou impossível e inútil."
Os nazistas passaram a administrar Atenas e Tessalônica, enquanto outras regiões do país foram entregues aos parceiros da Alemanha nazista, como a Itália fascista e Bulgária. A Ocupação da Grécia pelas potências do Eixo trouxe terríveis dificuldades para a população civil grega. Mais de 100 mil civis morreram de fome durante o inverno de 1941–1942, dezenas de milhares morreram por causa de represálias de nazistas e colaboradores, a economia do país foi arruinada e a grande maioria dos judeus gregos (dezenas de milhares) foram deportados e assassinados em campos de concentração nazistas. A resistência grega, um dos movimentos de resistência mais eficazes da Europa, lutou veementemente contra os nazistas e seus colaboradores. Os ocupantes alemães cometeram inúmeras atrocidades, execuções em massa, massacres de civis e destruição de cidades e vilarejos em represália. No curso da campanha antiguerrilha, centenas de aldeias foram sistematicamente incendiadas e quase um milhão de gregos ficaram desabrigados. No total, os alemães executaram cerca de 21 mil gregos, os búlgaros 40 mil e os italianos 9 mil gregos.
Após a libertação e a vitória dos Aliados sobre o Eixo, a Grécia anexou as ilhas do Dodecaneso da Itália e recuperou a Trácia Ocidental da Bulgária. O país quase imediatamente mergulhou em uma sangrenta guerra civil entre forças comunistas e o governo grego anticomunista, que durou até 1949 com a vitória da última. O conflito, considerado uma das primeiras lutas da Guerra Fria, resultou em mais devastação econômica, deslocamento da população em massa e severa polarização política pelos próximos trinta anos da história do país.
Embora as décadas do pós-guerra tenham sido caracterizadas por conflitos sociais e pela marginalização generalizada da esquerda nas esferas política e social, a Grécia, no entanto, experimentou um rápido crescimento e recuperação econômica, impulsionados em parte pelo Plano Marshall, administrado pelos Estados Unidos.
Regime militar e terceira república.
A demissão do governo centrista de George Papandreou pelo rei Constantino II em julho de 1965 provocou um período prolongado de turbulência política, que culminou em um golpe de Estado em 21 de abril de 1967 pelo regime dos coronéis. Sob a junta, os direitos civis foram suspensos, a repressão política foi intensificada e os abusos dos direitos humanos, incluindo tortura sancionada pelo Estado, eram galopantes. A brutal repressão da revolta da Politécnica de Atenas em 17 de novembro de 1973 desencadeou os eventos que causaram a queda do regime de Papadopoulos, resultando em um contra-golpe que derrubou Georgios Papadopoulos e estabeleceu o brigadeiro Dimitrios Ioannidis como o novo homem forte da junta. Em 20 de julho de 1974, a Turquia invadiu a ilha de Chipre em resposta a um golpe cipriota apoiado pela Grécia, desencadeando uma crise política na Grécia que levou ao colapso do regime e à restauração da democracia por meio de Metapolitefsi.
O ex-primeiro-ministro Konstantinos Karamanlis foi convidado a voltar de Paris, onde viveu no exílio desde 1963, marcando o início da era Metapolitefsi. As primeiras eleições multipartidárias desde 1964 foram realizadas no primeiro aniversário da revolta politécnica. Uma constituição democrática e republicana foi promulgada em 11 de junho de 1975, após um referendo que decidiu não restaurar a monarquia.
Enquanto isso, Andreas Papandreou, filho de George Papandreou, fundou o Movimento Socialista Pan-helênico (PASOK) em resposta ao partido conservador da Nova Democracia de Karamanlis, com as duas formações políticas dominando o governo nas próximas quatro décadas. A Grécia voltou à OTAN em 1980 e tornou-se o décimo membro das Comunidades Europeias (posteriormente subsumida pela União Europeia) em 1 de janeiro de 1981, dando início a um período de crescimento sustentado. Investimentos ampliados em empresas industriais e infraestrutura pesada, bem como fundos da União Europeia e receitas crescentes do turismo, transporte marítimo e um setor de serviços em rápido crescimento elevaram o padrão de vida do país a níveis sem precedentes. As relações tradicionalmente tensas com a vizinha Turquia melhoraram quando terremotos sucessivos atingiram os dois países em 1999, levando ao levantamento do veto grego contra a tentativa da Turquia de ingressar na UE.
O país adotou o euro em 2001 e sediou com sucesso os Jogos Olímpicos de Verão de 2004 em Atenas. Mais recentemente, a Grécia sofreu muito com a recessão do final dos anos 2000 e tem sido central na crise da dívida pública da Zona Euro. Devido à adoção do euro, quando a Grécia passou por uma crise financeira, não conseguiu mais desvalorizar sua moeda para recuperar a competitividade. O desemprego juvenil foi especialmente alto durante os anos 2000.
Geografia.
Localizada no sul da Europa e sudeste da Europa, a Grécia consiste em um continente peninsular montanhoso que se projeta para o mar no extremo sul dos Balcãs, terminando na península do Peloponeso (separada do continente pelo canal do istmo de Corinto) e estrategicamente localizada na encruzilhada entre Europa, Ásia e África. Devido ao seu litoral altamente recortado e às numerosas ilhas, a Grécia possui o 11º litoral mais extenso do mundo, com km; suas fronteiras terrestres medem km. O país fica aproximadamente entre latitudes 34° e 42° N e longitudes 19° e 30° E, com os pontos extremos sendo: a aldeia Ormenio; a ilha dos Gavdos; a ilha Strongyli (Kastelorizo, Megisti) e a ilha Othonoi.
Oitenta por cento da Grécia consiste em montanhas ou colinas, tornando o país um dos mais montanhosos da Europa. O Monte Olimpo, a morada mítica dos deuses gregos, culmina no pico de Mytikas, m, o mais alto do país. A Grécia Ocidental contém vários lagos e pântanos e é dominada pelos Montes Pindo, uma continuação dos Alpes Dináricos, que prossegue através do Peloponeso central, cruza as ilhas de Kythera e Antikythera e encontra o caminho para o sudoeste do mar Egeu, na ilha de Creta, onde termina. As ilhas do Egeu são picos de montanhas subaquáticas que antes constituíam uma extensão do continente. O Pindo é caracterizado por seus picos altos e íngremes, muitas vezes dissecados por inúmeros desfiladeiros e uma variedade de outras paisagens cársticas. O espetacular desfiladeiro de Vikos, parte do Parque Nacional Vikos-Aoos na cordilheira de Pindo, é listado pelo livro "Guinness World Records" como o desfiladeiro mais profundo do mundo.
Ilhas.
A Grécia possui um vasto número de ilhas — entre 1 200 e 6 mil, dependendo da definição, 227 das quais são habitadas — e é considerado um país transcontinental não contíguo. Creta é a ilha maior e mais populosa; Eubéia, separada do continente pelo estreito de Euripo, com 60 m de largura, é a segunda maior, seguida por Lesbos e Rodes.
As ilhas gregas são tradicionalmente agrupadas nos seguintes aglomerados: as ilhas Argo-Sarônicas, no golfo de Sarônica, perto de Atenas, as Cíclades, uma coleção grande mas densa que ocupa a parte central do Mar Egeu, as ilhas Egeias do Norte, um agrupamento solto do costa oeste da Turquia, o Dodecaneso, outra coleção solta no sudeste entre Creta e Turquia, as Espórades, um pequeno grupo na costa nordeste da Eubéia, e as ilhas Jônicas, localizadas a oeste do continente no Mar Jônico.
Clima.
O clima da Grécia pode ser classificado em três tipos (mediterrânico, a alpino e o temperado) que influenciam regiões bem definidas do seu território. A cadeia de montanhas de Pindo afeta fortemente o clima do país, tornando o lado ocidental dela (áreas propensas a ventos do sul), em média, mais úmidas do que as áreas situadas a leste da mesma (sotavento das montanhas). O tipo de clima mediterrâneo apresenta invernos suaves e úmidos e verões quentes e secos. As regiões das Cíclades, Dodecaneso e Creta, no Peloponeso Oriental e partes da Grécia Central, são as regiões mais afetadas por este tipo de clima. Temperaturas raramente atingem valores extremos ao longo das costas, embora, como a Grécia é um país altamente montanhoso, nevascas ocorram com frequência no inverno. Às vezes neva mesmo nas Cíclades ou no Dodecaneso.
O clima alpino é dominante, principalmente nas áreas montanhosas do noroeste da Grécia (partes do Epiro, na Grécia central, Tessália, Macedônia Ocidental), bem como na parte central do Peloponeso, incluindo partes das prefeituras da Acaia, Arcádia e Lacônia, onde a cadeia de montanhas do Pindo passa. Finalmente, o clima temperado afeta a Macedônia Central e a Macedônia Oriental e Trácia, que apresentam invernos frios e húmidos e verões quentes e secos com tempestades frequentes. Atenas está localizada em uma área de transição que caracteriza os climas mediterrânico e temperado. Os subúrbios ao norte da cidade são dominados pelo clima temperado, enquanto o centro da cidade e os subúrbios ao sul desfrutam de um clima mediterrânico típico.
Demografia.
O órgão de estatística oficial da Grécia é o Instituto Nacional de Estatística da Grécia (INEG). De acordo com o INEG, a população total da Grécia em 2017 era de 10 816 286. Esse número é dividido em homens e mulheres. Como as estatísticas de 1971, 1981 e 2001 demonstram, a população grega sofreu envelhecimento ao longo de décadas.
A taxa de natalidade em 2003 situou-se em 9,5‰ (14,5‰ em 1981). Ao mesmo tempo, a taxa de mortalidade aumentou ligeiramente, de 8,9‰ em 1981 para 9,6‰ em 2003. Em 2001, 16,71% da população tinha 65 anos ou mais, 68,12% entre as idades de 15 e 64 anos, e 15,18% tinham 14 anos ou menos. A sociedade grega também mudou rapidamente com o passar do tempo. As taxas de casamento continuavam a cair de quase 71 em 1981 até 2002, para 51 em 2004. As taxas de divórcio, por outro lado, têm aumentado — de 191,2‰ casamentos em 1991, para 239,5‰ casamentos em 2004.
Migração.
Ao longo do , milhões de gregos migraram para Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá e Alemanha, criando uma grande diáspora grega. A migração líquida começou a mostrar números positivos a partir da década de 1970, mas até o início da década de 1990, o principal influxo foi o retorno de migrantes gregos ou de gregos pônticos e outros de países como Rússia, Geórgia, Turquia, República Tcheca e outros lugares do antigo bloco soviético.
Um estudo do Observatório das Migrações do Mediterrâneo sustenta que o censo de 2001 registrou 762 191 pessoas residentes na Grécia sem cidadania grega, o que constitui cerca de 7% da população total. Dos não cidadãos residentes, 48 560 eram cidadãos da União Europeia ou da Associação Europeia de Comércio Livre e 17 426 eram cipriotas com "status" privilegiado. A maioria vem dos países da Europa de Leste: Albânia (56%), Bulgária (5%) e Romênia (3%), enquanto os migrantes da antiga União Soviética (Geórgia, Rússia, Ucrânia, Moldávia etc.) representam 10% da população. total. Alguns dos imigrantes da Albânia são da minoria grega albanesa, centrada na região do Epiro Setentrional.
O censo de 2011 registrou cidadãos gregos (91,56%), cidadãos albaneses (4,44%), cidadãos búlgaros (0,7%), cidadãos romenos (0,43%), cidadãos paquistaneses (0, 32%), cidadãos georgianos (0,25%) e pessoas tinham outra cidadania ou não identificada (2,3%). Cerca de 189 mil pessoas da população total de cidadãos albaneses foram relatadas em 2008 como gregos étnicos do sul da Albânia, na região histórica do Epiro do Norte.
O maior agrupamento de população imigrante não pertencente à UE são os grandes centros urbanos, especialmente o município de Atenas, com 132 mil imigrantes que representam 17% da população local e, em seguida, Tessalônica, com 27 000 imigrantes atingindo 7% da população local. Há também um número considerável de co-etnias provenientes das comunidades gregas da Albânia e da antiga União Soviética.
A Grécia, juntamente com Itália e Espanha, é um importante ponto de entrada para imigrantes ilegais que tentam entrar na União Europeia. Os imigrantes ilegais que entram na Grécia geralmente o fazem da fronteira com a Turquia, no rio Evros e das ilhas do leste do mar Egeu, em frente à Turquia (principalmente Lesbos, Quio, Cós e Samos). Em 2012, a maioria dos imigrantes ilegais que entraram na Grécia vinham do Afeganistão, seguidos por paquistaneses e bengaleses.
Em 2015, a chegada de refugiados por via marítima aumentou dramaticamente principalmente devido à Guerra Civil Síria. Houve 856.723 chegadas por via marítima na Grécia, um aumento de quase cinco vezes em relação ao mesmo período de 2014, dos quais os sírios representam quase 45%. A maioria dos refugiados e migrantes usa a Grécia como país de trânsito, enquanto seus destinos pretendidos são as nações do norte da Europa, como Áustria, Alemanha e Suécia.
Religião.
A Constituição grega reconhece a Ortodoxia Oriental como a fé "predominante" do país, garantindo a liberdade religiosa para todos. O governo grego não mantém estatísticas sobre grupos religiosos e os censos não pedem afiliação religiosa. Segundo o Departamento de Estado dos Estados Unidos, estima-se que 97% dos cidadãos gregos se identificam como ortodoxos orientais, pertencentes à Igreja Ortodoxa Grega, que usa o rito bizantino e a língua grega, a língua original do Novo Testamento. A administração do território grego é compartilhada entre a Igreja da Grécia e o Patriarcado de Constantinopla.
Numa pesquisa de 2010 do Eurostat-Eurobarometer, 79% dos cidadãos gregos responderam que "acreditam que Deus existe". Segundo outras fontes, 15,8% dos gregos se descrevem como "muito religiosos", o mais alto entre todos os países europeus. A pesquisa também descobriu que apenas 3,5% nunca frequenta uma igreja, em comparação com 4,9% na Polônia e 59,1% na República Tcheca.
As estimativas da minoria muçulmana grega reconhecida, localizada principalmente na Trácia, variam em torno de 100 000, (cerca de 1% da população). Alguns dos imigrantes albaneses na Grécia vêm de uma origem nominalmente muçulmana, embora a maioria seja de orientação secular. Após a Guerra Greco-Turca de 1919–1922 e o Tratado de Lausana de 1923, a Grécia e a Turquia concordaram em transferir a população com base na identidade cultural e religiosa. Cerca de 500 000 muçulmanos da Grécia, predominantemente definidos como turcos, mas também muçulmanos gregos como os vallahades do oeste da Macedônia, foram trocados com aproximadamente 1,5 milhão de gregos da Turquia. No entanto, muitos refugiados que se estabeleceram em antigas aldeias otomanas muçulmanas na Macedônia Central e foram definidos como gregos cristãos ortodoxos do Cáucaso chegaram da antiga província russa da Transcaucásia do oblast de Kars, depois de terem sido retrocedidos para a Turquia antes do intercâmbio oficial da população.
O judaísmo está presente na Grécia há mais de 2 000 anos. A antiga comunidade de judeus gregos é chamada de romaniotas, enquanto os judeus sefarditas já foram uma comunidade de destaque na cidade de Tessalônica, com cerca de 80 000, ou mais da metade da população, em 1900. No entanto, após a ocupação alemã da Grécia e do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, estima-se um número em torno de 5 500 pessoas.
A comunidade católica romana é estimada em cerca de 250 000, dos quais 50 000 são cidadãos gregos. A sua comunidade é nominalmente separada da menor Igreja Católica Bizantina Grega, que reconhece a primazia do papa, mas mantém a liturgia do rito bizantino. Os antigos calendárioistas representam 500 000 seguidores.
Os protestantes, incluindo a Igreja Evangélica Grega e as Igrejas Evangélicas Livres, têm cerca de 30 000 seguidores. Outras minorias cristãs, como Assembleias de Deus, Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular e várias igrejas pentecostais do Sínodo Grego da Igreja Apostólica totalizam cerca de 12 000 membros. A Igreja Apostólica Livre Independente de Pentecostes é a maior denominação protestante na Grécia, com 120 igrejas. Não há estatísticas oficiais sobre a Igreja Apostólica Livre de Pentecostes, mas a Igreja Ortodoxa estima os seguidores em 20 000. As Testemunhas de Jeová relatam ter membros ativos no país.
Desde 2017, o politeísmo helênico, ou helenismo, é legalmente reconhecido como uma religião praticada ativamente na Grécia, com estimativas de 2 000 praticantes ativos e mais 100 000 "simpatizantes". O helenismo se refere a vários movimentos religiosos que continuam, revivem ou reconstroem as práticas religiosas gregas antigas.
Línguas.
A primeira evidência textual da língua grega antiga remonta ao e à escrita Linear B, associada à civilização micênica. O grego era uma língua franca amplamente falada no mundo mediterrâneo e além durante a Antiguidade Clássica, e acabaria se tornando a linguagem oficial do Império Bizantino. Durante os séculos XIX e XX, houve uma grande disputa conhecida como a questão da língua grega, sobre se a língua oficial da Grécia deveria ser o arcaico katharevousa, criado no e usado como língua estadual e acadêmica, ou o dimotiki, o forma da língua grega que evoluiu naturalmente do grego bizantino e era a língua do povo. A disputa foi finalmente resolvida em 1976, quando o dimotiki se tornou a única variação oficial da língua grega, e o katharevousa caiu em desuso.
Hoje, a Grécia é relativamente homogênea em termos linguísticos, com uma grande maioria da população nativa usando o grego como sua primeira ou única língua. Entre a população de língua grega, os falantes do distinto dialeto pôntico vieram para a Grécia a partir da Ásia Menor após o genocídio grego e constituem um grupo considerável. O dialeto da Capadócia chegou à Grécia também devido ao genocídio, mas está em perigo e pouco se fala agora. Os dialetos gregos indígenas incluem o grego arcaico falado pelos sarakatsani, pastores da Macedônia Grega e outras partes do norte da Grécia. A língua tsaconiana, uma língua grega distinta derivada do grego dórico em vez do grego koiné, ainda é falada em algumas aldeias do sudeste do Peloponeso.
A minoria muçulmana na Trácia, que corresponde a aproximadamente 0,95% da população total, é formada por falantes de turco, búlgaro (pomaks) e romani. O romani também é falado pelos ciganos cristãos em outras partes do país. Outras línguas minoritárias têm sido tradicionalmente faladas por grupos regionais da população em várias partes do país. Seu uso diminuiu radicalmente no decorrer do , por meio da assimilação com a maioria de língua grega. Hoje elas são mantidas apenas pelas gerações mais velhas e estão à beira da extinção. Isso vale para os arvanitas, um grupo de língua albanesa localizado principalmente nas áreas rurais ao redor da capital Atenas, e para os arromenos e moglenitas, também conhecidos como vlachs, cuja língua está intimamente relacionada ao romeno e que costumava viver espalhada por várias áreas da Grécia central montanhosa. Os membros desses grupos se identificam etnicamente como gregos. Perto das fronteiras gregas do norte, também existem alguns grupos de língua eslava, conhecidos localmente como de língua eslavo-macedônia, cuja maioria dos membros se identifica etnicamente como gregos. Estima-se que, após as trocas populacionais de 1923, a Macedônia tenha 200 mil a 400 mil falantes de eslavos.
Cidades mais populosas.
Quase dois terços do povo grego vive em áreas urbanas. Os maiores e mais influentes centros metropolitanos da Grécia são Atenas e Tessalônica — que são comumente referidas em grego como "συμπρωτεύουσα" (literalmente "co-capitais") — com populações metropolitanas de aproximadamente 4 milhões e 1 milhão de habitantes respectivamente. Outras cidades importantes com populações urbanas acima de 100 000 habitantes incluem Patras, Heraclião, Larissa, Volos, Rodes, Ioannina, Agrinio, Chania e Chalcis.
Política.
Governo.
A Grécia é uma república parlamentar. O chefe de Estado nominal é o presidente da república, que é eleito pelo parlamento para um mandato de cinco anos. A atual constituição foi elaborada e aprovada pelo Quinto Parlamento Revisionista dos Helenos e entrou em vigor em 1975 após a queda da junta militar de 1967–1974. Ela foi revisada por duas vezes desde que entrou em vigor, em 1986 e em 2001. A Constituição, que consiste em 120 artigos, prevê a separação dos poderes em executivo, legislativo e judiciário, e concede extensas garantias específicas (reforçado em 2001), das liberdades civis e direitos sociais.
Segundo a Constituição, o poder executivo é exercido pelo presidente da república e pelo governo. A partir de emenda à Constituição de 1986, as funções do presidente foram reduzidas de forma significativa, e agora elas são, em grande parte, cerimoniais; a maior parte do poder político, portanto, está nas mãos do primeiro-ministro. A posição do primeiro-ministro, chefe de governo da Grécia, pertencente ao atual líder do partido político que possa obter um voto de confiança do Parlamento. O presidente da república nomeia formalmente o primeiro-ministro e, na sua recomendação, nomeia e exonera os restantes membros do Conselho de Ministros.
O poder legislativo é exercido pelos 300 membros eletivos do parlamento unicameral. As leis aprovadas pelo parlamento são promulgadas pelo presidente da república. As eleições parlamentares são realizadas a cada quatro anos, mas o presidente da república é obrigado a dissolver o parlamento sobre a proposta anterior do Conselho de Ministros, tendo em vista lidar com um assunto nacional de excepcional importância. O presidente é também obrigado a dissolver o parlamento no início, se a oposição conseguir aprovar uma moção de censura.
O poder judiciário é independente do poder executivo e do legislativo e compreende três Tribunais Supremos: o Tribunal de Cassação , o Conselho de Estado e o Tribunal de Contas . O sistema judiciário é composto também por tribunais civis, que julgam processos cíveis e penais, e os tribunais administrativos, que julgam os litígios entre os cidadãos e as autoridades gregas administrativas.
Nas eleições legislativas de janeiro de 2015, o partido de extrema-esquerda, Syriza venceu com 70% dos votos apurados, conquistando 149 das 300 cadeiras do Parlamento e tornando primeiro-ministro Alexis Tsipras, de 40 anos. As eleições legislativas de julho de 2019 foram ganhas pelo partido de direita conservadora, Nova Democracia, tornando Kyriakos Mitsotakis o primeiro-ministro.
Relações internacionais.
A política externa da Grécia é conduzida pelo Ministério de Relações Exteriores e seu chefe, o Ministro de Relações Exteriores, atualmente Nikos Dendias. Oficialmente, os principais objetivos do ministério são representar a Grécia perante outros Estados e organizações internacionais; salvaguardar os interesses do Estado grego e de seus cidadãos no exterior; promover a cultura grega; promover relações mais estreitas com os países da diáspora grega; e incentivar a cooperação internacional. O ministério identifica duas questões de particular importância para o Estado grego: os desafios turcos aos direitos de soberania grega no Mar Egeu e o espaço aéreo correspondente e o conflito no Chipre envolvendo a ocupação turca do norte do Chipre.
Além disso, devido à sua proximidade política e geográfica com a Europa, Ásia, Oriente Médio e África, a Grécia é um país de importância geoestratégica significativa, que foi alavancada para desenvolver uma política regional para ajudar a promover a paz e a estabilidade nos Balcãs, no Mediterrâneo e no Oriente Médio. Isso concedeu o "status" de poder médio do país nos assuntos globais.
Forças armadas.
As Forças Armadas Helênicas são supervisionadas pelo Estado Maior Helênico da Defesa Nacional ( — ΓΕΕΘΑ), com autoridade civil do Ministério da Defesa Nacional. É composto por três ramos: Exército Helênico ("Ellinikos Stratos", ES); Marinha Helênica ("Elliniko Polemiko Navtiko", EPN) e Força Aérea Helênica ("Elliniki Polemiki Aeroporia", EPA). Além disso, a Grécia mantém a Guarda Costeira Helênica para aplicação da lei no mar, busca e salvamento e operações portuárias. Embora possa apoiar a marinha durante a guerra, ela reside sob a autoridade do Ministério dos Transportes.
O país tem um total de militares, dos quais estão ativos e são de reserva. A Grécia ocupa a 15.ª posição no mundo em número de cidadãos que servem nas forças armadas, devido em grande parte ao serviço militar obrigatório para homens entre as idades de 19 e 45 anos (as mulheres são isentas de recrutamento, mas podem servir nas forças armadas). O serviço militar obrigatório é de nove meses para o Exército e um ano para a Marinha e a Força Aérea. Como membro da OTAN, os militares gregos participam de exercícios e destacamentos sob os auspícios da aliança, embora o seu envolvimento nas missões da OTAN seja mínimo.
Economia.
Panorama.
Segundo as estatísticas do Banco Mundial para o ano de 2013, a economia da Grécia é a 43.ª maior em produto interno bruto nominal em 242 bilhões de dólares e a 52.ª maior em paridade do poder de compra (PPC) em 284 bilhões de dólares. Além disso, a Grécia é a 15.ª maior economia dos 27 membros da União Europeia. Em termos de renda per capita, a Grécia está classificada em 38.º ou 40.º no mundo, com de dólares e de dólares para PIB e PPP nominais, respectivamente. A economia grega é classificada como avançada e de alta renda.
A Grécia é um país desenvolvido, com um alto padrão de vida e uma alta classificação no Índice de Desenvolvimento Humano. Sua economia compreende principalmente o setor de serviços (85,0%) e a indústria (12,0%), enquanto a agricultura representa 3,0% da produção econômica nacional. As indústrias gregas importantes incluem o turismo (com 14,9 milhões de turistas internacionais em 2009, classificado como o 7.º país mais visitado na União Europeia e o 16.º no mundo pela Organização Mundial de Turismo) e transporte mercante (com 16,2% da capacidade total do mundo, a marinha mercante grega é a maior do mundo), enquanto o país também é um produtor agrícola considerável (incluindo a pesca) na UE. Apesar disso, depois da crise econômica de 2008, o país passou a registrar altas taxas de desemprego, que ficou em 21,7% em abril de 2017. A taxa de desemprego jovem (42,3% em março de 2018) é extremamente alta em comparação com os padrões da UE.
Com uma economia maior do que todas as outras economias dos Balcãs juntas, a Grécia é um importante investidor regional. O país é o segundo maior investidor de capital estrangeiro na Albânia, o terceiro investidor na Bulgária e está entre os três principais investidores estrangeiros na Romênia e na Sérvia e o parceiro comercial mais importante e o maior investidor estrangeiro da Macedônia do Norte. Os bancos gregos abrem uma nova agência em algum lugar dos Balcãs quase semanalmente. A empresa grega de telecomunicações OTE tornou-se um forte investidor na antiga Iugoslávia e em outros países dos Balcãs.
A Grécia foi membro fundador da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da Organização de Cooperação Econômica do Mar Negro (BSEC). Em 1979, foi assinada a adesão do país às Comunidades Europeias e ao mercado único e o processo foi concluído em 1982. A Grécia foi aceita na União Econômica e Monetária da União Europeia em 19 de junho de 2000 e em janeiro de 2001 adotou o euro como sua moeda, substituindo o dracma a uma taxa de câmbio de 340,75 dracma por euro. A Grécia também é membro do Fundo Monetário Internacional e da Organização Mundial do Comércio.
Agricultura.
A agricultura contribui com 3,8% do PIB e emprega 12,4% da força de trabalho do país. Em 2010, a Grécia foi o maior produtor de algodão (183 800 toneladas) e pistache (8 000 toneladas) e ficou em segundo lugar na produção de arroz (229 500 toneladas) e azeitonas (147 500 toneladas), terceiro na produção de figos (11 000 toneladas), amêndoas (44 000 toneladas), tomates (1,4 milhão de toneladas) e melancias (578 400 toneladas) e quarto na produção de tabaco (22 000 toneladas) da União Europeia.
Indústria naval.
A indústria naval tem sido um elemento-chave da atividade econômica grega desde os tempos antigos. A navegação continua sendo uma das indústrias mais importantes do país, representando 4,5% do PIB, empregando cerca de 160 000 pessoas (4% da força de trabalho) e representando um terço do déficit comercial.
De acordo com um relatório de 2011 da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, a marinha mercante grega é a maior do mundo, com 16,2% da capacidade global total, ante 15,96% em 2010, A Grécia possui uma indústria significativa de construção e manutenção de navios. Os seis estaleiros ao redor do porto de Pireu estão entre os maiores da Europa.
Turismo.
Uma porcentagem importante do produto interno bruto (PIB) da Grécia vem do turismo. De acordo com estatísticas do Eurostat, a Grécia recebeu mais de 19,5 milhões de turistas em 2009, o que significa um aumento em relação aos 17,7 milhões de turistas que visitaram o país em 2007. A grande maioria dos visitantes na Grécia em 2007 vieram do continente europeu, alcançando 12,7 milhões de turistas, enquanto a maioria dos visitantes vindos de uma única nacionalidade foram os do Reino Unido (2,6 milhões), seguidos de perto por aqueles da Alemanha (2,3 milhões).
Em 2010, a periferia mais visitada da Grécia foi a da Macedônia Central, com 18% do fluxo turístico do país total (atingindo 3,6 milhões de turistas), seguido de Attica, com 2,6 milhões, e do Peloponeso, com 1,8 milhão. O Norte da Grécia é a região geográfica mais visitada do país, com 6,5 milhões de turistas, enquanto a Grécia Central é a segunda, com 6,3 milhões.
Em 2010, a "Lonely Planet" considerou Salonica, a segunda maior cidade do país, como a quinta melhor cidade do mundo para festas, comparável a outras cidades como Dubai e Montreal. Em 2011, Santorini foi votada como "melhor ilha do mundo" na "Travel + Leisure". A ilha vizinha de Míconos ficou em quinto lugar na categoria europeia.
Infraestrutura.
Saúde.
A Grécia possui um sistema de assistência universal à saúde. Ele é misto, combinando um serviço nacional de saúde com seguro social de saúde (SHI). Um relatório da Organização Mundial da Saúde publicado em 2000, o sistema de saúde grego ficou em 14.º lugar no desempenho geral entre os 191 países pesquisados. Em um relatório da Save the Children de 2013, a Grécia foi classificada no 19.º lugar entre 176 países pelo estado de mães e bebês recém-nascidos. Em 2010, havia 138 hospitais com 31 000 leitos, mas em 2011, o Ministério da Saúde anunciou planos para diminuir o número para 77 hospitais com leitos para reduzir despesas e melhorar ainda mais os padrões de saúde.
As despesas de saúde da Grécia como porcentagem do PIB foram de 9,6% em 2007, logo acima da média da OCDE de 9,5%. Até 2015, os gastos caíram para 8,4% do PIB (em comparação com a média da UE de 9,5%), um declínio de um quinto desde 2010. No entanto, o país mantém a maior proporção de médicos por população de qualquer país da OCDE e a maior proporção de médico/paciente na UE.
A expectativa de vida na Grécia está entre as mais altas do mundo; um relatório da OCDE de 2011 colocou-a em 80,3 anos, acima da média da OCDE de 79,5 anos, enquanto um estudo mais recente de 2017 descobriu que a expectativa de vida em 2015 era de 81,1 anos, ligeiramente acima da média da UE de 80,6. A ilha de Icaria possui a maior porcentagem de nonagenários no mundo; aproximadamente 33% dos ilhéus têm 90 anos ou mais. Icaria é posteriormente classificada como uma "zona azul", uma região em que as pessoas supostamente vivem mais que a média e têm taxas mais baixas de câncer, doenças cardíacas ou outras doenças crônicas.
No entanto, um relatório da OCDE de 2011 mostrou que a Grécia tinha a maior porcentagem de fumantes diários adultos de qualquer um dos 34 membros da OCDE. A taxa deobesidade do país é de 18,1%, acima da média da OCDE de 15,1%, mas consideravelmente mais baixa que a taxa estadunidense de 27,7%. Em 2008, a Grécia teve a maior taxa de boa saúde percebida na OCDE, com 98,5%. A mortalidade infantil, com uma taxa de 3,6 mortes por 1.000 nascidos vivos, ficou abaixo da média da OCDE de 2007, de 4,9.
Transportes.
Desde a década de 1980, a rede rodoviária e ferroviária da Grécia foi significativamente modernizada. Trabalhos importantes incluem a auto-estrada A2 (Egnatia Odos), que liga o noroeste da Grécia (Igoumenitsa) ao norte da Grécia (Thessaloniki) e ao nordeste da Grécia (Kipoi) e a Ponte Rio-Antirio, a mais longa ponte suspensa na Europa ( m), que conecta o Peloponeso (Rio, a 7 km de Patras) com a Etólia-Acarnânia (Antirrio) no oeste da Grécia.
A Área Metropolitana de Atenas, em particular, é servida por algumas das mais modernas e eficientes infraestruturas de transporte da Europa, como o Aeroporto Internacional de Atenas, a rede de rodovias A6 (Attiki Odos) e o sistema de metrô de Atenas A maioria das ilhas gregas e muitas das principais cidades da Grécia são conectadas por via aérea principalmente das duas principais companhias aéreas gregas, a Olympic Air e a Aegean Airlines.
As conexões ferroviárias desempenham um papel um pouco menor na Grécia do que em muitos outros países europeus, mas também foram ampliadas, com novas conexões ferroviárias suburbanas, atendidas pela Proastiakos em torno de Atenas, em direção ao aeroporto, Kiato e Cálcis; em torno de Tessalônica, em direção às cidades de Lárissa e Edessa; e ao redor de Patras. As linhas ferroviárias internacionais conectam as cidades gregas ao resto da Europa, aos Bálcãs e à Turquia.
Telecomunicações.
Entre 1949 e 1980, as comunicações telefônicas na Grécia eram um monopólio estatal da Organização Helênica de Telecomunicações, mais conhecida por sua sigla OTE. Apesar da liberalização das comunicações telefônicas no país na década de 1980, a OTE ainda domina o mercado grego em seu setor e emergiu como uma das maiores empresas de telecomunicações no sudeste da Europa. Desde 2011, o principal acionista da empresa é a Deutsche Telekom, com uma participação de 40%, enquanto o Estado grego continua a deter 10% das ações da empresa. A OTE possui várias subsidiárias nos Balcãs.
Outras empresas de telecomunicações móveis ativas na Grécia são a Wind Hellas e a Vodafone. O número total de contas de telefone celular ativas no país em 2009, com base em estatísticas das operadoras de telefonia móvel do país, foi superior a 20 milhões, uma penetração de 180%. Além disso, existem 5,745 milhões de telefones fixos ativos no país.
A Grécia tende a ficar atrás dos seus parceiros da União Europeia em termos de uso da Internet, com a diferença fechando rapidamente nos últimos anos. A porcentagem de famílias com acesso à Internet mais que dobrou entre 2006 e 2013, de 23% para 56%, respectivamente (em comparação com uma média da UE de 49% e 79%). Ao mesmo tempo, houve um aumento maciço na proporção de famílias com conexão de banda larga, de 4% em 2006 para 55% em 2013 (em comparação com uma média da UE de 30% e 76%). Até 2019, a porcentagem de domicílios gregos com acesso à Internet e conexão de banda larga atingiu 78,5% e 78,1% a população, respectivamente.
Energia.
A produção de eletricidade na Grécia é dominada pela estatal Dimosia Epichirisi Ilektrismou (conhecida principalmente por sua sigla ΔΕΗ, transliterada como DEI). Em 2009, o DEI supriu 85,6% de toda a demanda de energia elétrica na Grécia, enquanto o número caiu para 77,3% em 2010. Quase metade (48%) da produção de energia da DEI é gerada usando lignito, uma queda em relação aos 51,6% em 2009. Doze por cento da eletricidade da Grécia vem de usinas hidrelétricas e outros 20% de gás natural. Entre 2009 e 2010, a produção de energia de empresas independentes aumentou 56%, de gigawatt-hora em 2009 para GWh em 2010.
Em 2012, as energias renováveis representaram 13,8% do consumo total de energia do país, um aumento em relação aos 10,6% em 2011, um número quase igual à média da UE de 14,1% em 2012. Cerca de 10% da energia renovável do país vem da energia solar, enquanto a maioria vem da biomassa e reciclagem de resíduos. Em conformidade com a diretiva da Comissão Europeia sobre energias renováveis, a Grécia pretende obter 18% de sua energia proveniente de fontes renováveis até 2020.
Em 2013, de acordo com o Operador Independente de Transmissão de Energia na Grécia (ΑΔΜΗΕ), mais de 20% da eletricidade na Grécia foi produzida a partir de fontes de energia renováveis e usinas hidrelétricas. Esse percentual em abril atingiu 42%. A Grécia atualmente não possui usinas nucleares em operação; no entanto, em 2009, a Academia de Atenas sugeriu o início da pesquisa sobre a possibilidade da exploração da energia nuclear no país.
Em 2021, a Grécia tinha, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica, em energia eólica (23º maior do mundo), em energia solar (24º maior do mundo), e em biomassa.
Ciência e tecnologia.
A Secretaria-Geral de Pesquisa e Tecnologia do Ministério do Desenvolvimento e Competitividade é responsável por projetar, implementar e supervisionar a política nacional de pesquisa e tecnologia. Em 2017, os gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) atingiram uma alta histórica de 2 bilhões de euros, igual a 1,14% do PIB grego.
Embora abaixo da média da UE de 1,93%, entre 1990 e 1998, as despesas totais de P&D na Grécia tiveram o terceiro maior aumento na Europa, depois da Finlândia e da Irlanda. Devido à sua localização estratégica, força de trabalho qualificada e estabilidade política e econômica, muitas empresas multinacionais como Ericsson, Siemens, Motorola, The Coca-Cola Company e Tesla, Inc têm sua sede regional de pesquisa e desenvolvimento na Grécia. A disponibilidade à internet de banda larga é muito comum na Grécia, sendo que havia um total de ligações de banda larga no país em 2010. Isso se traduz em 18,6% de penetração de banda larga.
Entre os parques tecnológicos da Grécia estão o Parque Científico e Tecnológico da ilha de Creta (Heraclião), a Parque Tecnológico da Salonica, o Parque Tecnológico de Lavrio e de Parque Científico de Patras. A Grécia é um dos membros da Agência Espacial Europeia (ESA) desde 2005. A cooperação entre a ESA e a Comissão Helênica Espacial Nacional começou no início de 1990. Em 1994, a Grécia e a ESA assinaram seu primeiro acordo de cooperação. Tendo solicitado formalmente sua completa adesão em 2003, a Grécia tornou-se o décimo sexto membro da ESA, em 16 de março de 2005.
Educação.
Os gregos têm uma longa tradição de valorizar e investir na "paideia" (educação), que foi defendida como um dos mais altos valores da sociedade no mundo grego e helenístico. A primeira instituição europeia descrita como universidade foi fundada em Constantinopla do e continuou operando em várias encarnações até a queda da cidade para os otomanos em 1453. A Universidade de Constantinopla foi a primeira instituição secular de ensino superior da Europa cristã e, de certa forma, a primeira universidade do mundo. Setenta e dois por cento dos adultos gregos com idades entre 25 e 64 anos concluíram o ensino médio, o que é um pouco menos que a média da OCDE de 74%. O aluno grego médio obteve 458 pontos em alfabetização, matemática e ciências no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) da OCDE de 2015. Essa pontuação é inferior à média da OCDE de 486. Em média, as meninas superaram os meninos em 15 pontos, muito mais do que a diferença média da OCDE de dois pontos.
O Ministério da Educação da Grécia exerce o controle sobre as escolas públicas, formula e implementa legislação, administra o orçamento, administra e coordena os exames de admissão nas universidades de nível nacional, estabelece o currículo nacional, nomeia o corpo docente das escolas públicas e coordena outros serviços. O papel de supervisão do Ministério é exercido em todo o país através dos Escritórios Públicos de Educação da Unidade Regional, denominados Direções Regionais do Ensino Primário e Secundário. As escolas públicas são financiadas pelo governo e são gratuitas, juntamente com os livros públicos. Cerca de 25% dos programas de pós-graduação têm aulas gratuitas, enquanto cerca de 30% dos estudantes são elegíveis para participar de programas gratuitos, com base em critérios individuais. A educação formal na Grécia compreende três estágios educacionais. A primeira etapa da educação formal é a etapa primária (Δημοτικό, seis anos, 6 a 12 anos), seguida pela etapa secundária, que se separa em duas etapas: o ginásio obrigatório (Γυμνάσιο, três anos, 12 a 15 anos) e liceu não obrigatório (κειο, três anos, 15 a 18 anos de idade).
De acordo com a Lei-Quadro (3 549/2007), o ensino superior público consiste de dois setores paralelos: o setor "universidade" (universidades, institutos politécnicos, escolas de belas artes, universidade aberta) e o setor Tecnológico (instituições de educação tecnológica e escolas de formação pedagógica e tecnológica). Há também o ensino terciário não universitário, que oferece em institutos estatais formação profissional de duração de dois anos, que operam sob a autoridade de outros Ministérios. Os alunos são admitidos a estes institutos de acordo com seu desempenho em exames nacionais que ocorrem após a conclusão do terceiro grau. Além disso, os alunos com mais de 22 anos de idade podem ser admitidos na Universidade Aberta Helênica através de um tipo de loteria. A Universidade Nacional Capodistriana de Atenas é a mais antiga universidade do Mediterrâneo oriental.
Cultura.
A cultura da Grécia evoluiu ao longo de milhares de anos, começando na Grécia micênica e continuando principalmente na Grécia clássica, através da influência do Império Romano e de sua continuação oriental grega, do Império Romano Oriental (ou Império Bizantino). Outras culturas e nações, como os Estados latino e franco, o Império Otomano, a República Veneziana, a República Genovesa e o Império Britânico também deixaram sua influência na cultura grega moderna, embora os historiadores atribuam à Guerra da Independência Grega a revitalização de uma entidade única e coesa de sua cultura multifacetada.
Nos tempos antigos, a Grécia era o berço da cultura ocidental. As democracias modernas devem uma dívida às crenças gregas no governo pelo povo, julgamento por júri e igualdade perante a lei. Os gregos antigos foram pioneiros em muitos campos que se apoiam no pensamento sistemático, incluindo biologia, geometria, história, filosofia, física e matemática. Eles introduziram formas literárias importantes como poesia épica e lírica, história, tragédia e comédia. Na busca de ordem e proporção, os gregos criaram um ideal de beleza que influenciou fortemente a arte ocidental.
Arte e arquitetura.
A produção artística na Grécia começou nas civilizações pré-históricas cicládica e minoica, ambas influenciadas pelas tradições locais e pela arte do Antigo Egito. A escultura grega antiga era composta quase inteiramente de mármore ou bronze; com o bronze fundido se tornando o meio preferido para grandes obras no início do . O mármore e o bronze são fáceis de formar e muito duráveis. As esculturas criselefantinas, usadas para imagens de culto no templo e obras de luxo, usavam ouro, mais frequentemente em forma de folha e marfim para todas ou partes (faces e mãos) da figura, e provavelmente gemas e outros materiais, mas eram muito menos comuns e apenas fragmentos sobreviveram. No início do , a escavação sistemática de sítios arqueológicos gregos antigos havia produzido uma infinidade de esculturas com traços de superfícies notavelmente multicoloridas. Não foi até descobertas publicadas pelo arqueólogo alemão Vinzenz Brinkmann, no final do , que a pintura de esculturas gregas antigas se tornaram um fato estabelecido.
A arte e a arquitetura das sociedades gregas existem desde o início da Idade do Ferro () até o final do Antes disso (Idade do Bronze), a arte grega do continente e das ilhas (excetuando-se Creta, onde havia uma tradição diferente chamada arte minoica) é conhecida como arte micênica, e a arte grega mais tardia, chamada helenística, é considerada integrante da cultura do Império Romano (arte romana). Os gregos, inicialmente um conjunto de tribos relativamente autônomas que apresentavam fatores culturais comuns, como a língua e a religião, instalaram-se no Peloponeso nos inícios do primeiro milênio antes de Cristo, dando início a uma das mais influentes culturas da Antiguidade. Após a fase orientalizante (entre o e ), cujas manifestações artísticas foram inspiradas pela cultura mesopotâmica, a arte grega conheceu um primeiro momento de maturidade durante o período arcaico, que se prolongou até Marcado pela expansão geográfica, pelo desenvolvimento econômico e pelo incremento das relações internacionais, assistiu-se nesta altura à definição dos fundamentos estéticos e formais que caracterizarão as posteriores produções artísticas gregas.
Após a independência grega, os arquitetos gregos modernos tentaram combinar elementos e motivos tradicionais gregos e bizantinos com os movimentos e estilos da Europa Ocidental. Patras foi a primeira cidade do Estado grego moderno a desenvolver um plano de cidade. Em janeiro de 1829, Stamatis Voulgaris, engenheiro grego do exército francês, apresentou o plano da nova cidade ao governador Ioánnis Kapodístrias, que o aprovou. Voulgaris aplicou a regra ortogonal no complexo urbano de Patras.
Teatro.
O teatro em sua forma ocidental nasceu na Grécia. A cidade-Estado da Atenas Clássica, que se tornou um poder cultural, político e militar significativo durante esse período, foi o seu centro, onde foi institucionalizada como parte de um festival chamado Dionísia, que homenageava o deus Dionísio. A tragédia (final do ), a comédia () e a sátira foram os três gêneros dramáticos que surgiram lá. Durante o período bizantino, a arte teatral foi fortemente oprimida. Segundo Marios Ploritis, a única forma sobrevivente foi o teatro folclórico ("Mimos" e "Pantomimos"), apesar da hostilidade do Estado oficial.
Mais tarde, durante o período otomano, a principal arte folclórica teatral foram os "Karagiozis". O renascimento que levou ao teatro grego moderno ocorreu na Creta veneziana. Os dramaturgos significativos incluem Vitsentzos Kornaros e Georgios Chortatsis. O teatro grego moderno nasceu após a independência da Grécia, no início do , e foi inicialmente influenciado pelo teatro e pelo melodrama heptaneano, como a ópera italiana. O Nobile Teatro de San Giacomo di Corfù foi o primeiro teatro e ópera da Grécia moderna e o local onde foi realizada a primeira ópera grega, o "Candidato Parlamentar" de Spyridon Xyndas (baseado em um libreto exclusivamente grego). Durante o final do e início do XX, a cena do teatro ateniense foi dominada por revistas, comédias musicais, operetas e noturnas e dramaturgos notáveis, incluindo Spyridon Samaras e outros. O Teatro Nacional da Grécia foi inaugurado em 1900 como Teatro Real.
Literatura.
A literatura grega pode ser dividida em três categorias principais: literatura grega antiga, bizantina e moderna. Atenas é considerada o berço da literatura ocidental. No início da literatura grega, estão as duas obras monumentais de Homero: a "Ilíada" e a "Odisseia". Embora as datas de composição variem, esses trabalhos foram criados por volta de 800 a.C. ou depois. No período clássico, muitos dos gêneros da literatura ocidental se tornaram mais proeminentes. A poesia lírica, odes, pastorais, elegias, epigramas; apresentações dramáticas de comédia e tragédia; historiografia, tratados retóricos, dialética filosófica e tratados filosóficos surgiram neste período. Os dois principais poetas líricos foram Safo e Píndaro. A era clássica também viu o início do gênero do drama.
Das centenas de tragédias escritas e executadas durante a era clássica, apenas um número limitado de peças de três autores sobreviveu: as de Ésquilo, Sófocles e Eurípides. As peças sobreviventes de Aristófanes também são um tesouro da apresentação cômica, enquanto Heródoto e Tucídides são dois dos historiadores mais influentes desse período. A maior conquista em prosa do foi na filosofia, com as obras dos três grandes filósofos.
A literatura bizantina refere-se à literatura do Império Bizantino, escrita em grego ático, medieval e moderno, e é a expressão da vida intelectual dos gregos bizantinos durante a Idade Média cristã. Embora a literatura bizantina popular e a literatura grega moderna tenham começado no , as duas são indistinguíveis.
A literatura grega moderna refere-se à literatura escrita em grego moderno comum, emergindo do final dos tempos bizantinos no . O poema do renascimento cretense, "Erotokritos", é sem dúvida a obra-prima desse período da literatura grega. É um romance de versos escrito por volta de 1600 por Vitsentzos Kornaros (1553–1613). Mais tarde, durante o período do iluminismo grego (Diafotismo), escritores como Adamantios Korais e Rigas Feraios prepararam com suas obras a Revolução Grega (1821–1830).
Figuras principais da literatura grega moderna incluem Dionysios Solomos, Andreas Kalvos, Angelos Sikelianos, Emmanuel Rhoides, Demetrius Vikelas, Kostis Palamas, Penélope Delta, Yiannis Ritsos, Alexandros Papadiamantis, Níkos Kavvadías, Andreas Embirikos, Kostas Karyotakis, Gregorios Xenopoulos, Konstantínos Kaváfis, Kostas Kariotakis e Kiki Dimoula. Dois autores gregos receberam o Prêmio Nobel de Literatura: Giórgos Seféris em 1963 e Odysseas Elytis em 1979.
Filosofia.
A maioria das tradições filosóficas ocidentais começou na Grécia Antiga no . Os primeiros filósofos são chamados de "pré-socráticos", que designam que vieram antes de Sócrates, cujas contribuições marcam uma virada no pensamento ocidental. Os pré-socráticos eram das colônias ocidentais ou orientais da Grécia e apenas fragmentos de seus escritos originais sobrevivem, em alguns casos apenas uma frase. Um novo período de filosofia começou com Sócrates. Como os sofistas, ele rejeitou inteiramente as especulações físicas nas quais seus predecessores haviam se entregado e fez dos pensamentos e opiniões das pessoas o seu ponto de partida. Os aspectos de Sócrates foram unidos pela primeira vez por Platão, que também os combinou com muitos dos princípios estabelecidos pelos filósofos anteriores, e desenvolveu todo esse material na unidade de um sistema abrangente. Aristóteles, o discípulo mais importante de Platão, compartilhou com seu professor o título de maior filósofo da antiguidade. O aluno de Platão preferia partir dos fatos dados pela experiência. Exceto por esses três filósofos gregos mais importantes, outras escolas conhecidas da filosofia grega de outros fundadores durante os tempos antigos foram estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo.
A filosofia bizantina refere-se às ideias filosóficas distintas dos filósofos e estudiosos do Império Bizantino, especialmente entre os séculos VIII e XV. Era caracterizada por uma visão de mundo cristã, mas que podia extrair ideias diretamente dos textos gregos de Platão, Aristóteles e neoplatonistas. Na véspera da queda de Constantinopla, Gemistus Pletho tentou restaurar o uso do termo "helênico" e defendeu o retorno aos deuses olímpicos do mundo antigo. Depois de 1453, vários estudiosos bizantinos gregos que fugiram para a Europa Ocidental contribuíram para o Renascimento. No período moderno, Diafotismos (em grego: Διαφωτισμός, "iluminação", "iluminação") era a expressão grega da Era do Iluminismo e de suas ideias filosóficas e políticas. Alguns representantes notáveis foram Adamantios Korais, Rigas Feraios e Theophilos Kairis. Outros filósofos gregos da época moderna ou cientistas políticos incluem Cornelius Castoriadis, Nicos Poulantzas e Christos Yannaras.
Culinária.
A culinária grega é característica da saudável dieta mediterrânea, que é sintetizada pelos pratos de Creta. A culinária grega incorpora ingredientes frescos a uma variedade de pratos locais, como moussaka, pastitsio, salada grega, fasolada, spanakopita e souvlaki. Alguns pratos podem ser encontrados na Grécia antiga, como skordalia (um espesso purê de nozes, amêndoas, alho e azeite), sopa de lentilha, retsina (vinho branco ou rose selado com resina de pinheiro) e pasteli (barra de chocolate com gergelim assada) com mel). Em toda a Grécia, as pessoas costumam gostar de comer pratos pequenos, como o meze, com vários molhos, como tzatziki, polvo grelhado e peixe pequeno, queijo feta, dolmades (arroz, passas e grãos de pinho envoltos em folhas de videira), vários tipos de leguminosas, azeitonas e queijos. O azeite é adicionado a quase todos os pratos.
Algumas sobremesas doces incluem melomakarona, diples e galaktoboureko, e bebidas como ouzo, metaxa e uma variedade de vinhos, incluindo a retsina. A culinária grega difere amplamente de diferentes partes do continente e de ilha para ilha. Ele usa alguns aromas com mais frequência do que outras cozinhas mediterrâneas: folhas de orégano, hortelã, alho, cebola, endro e louro. Outras ervas e especiarias comuns incluem manjericão, tomilho e sementes de erva-doce. Muitas receitas gregas, especialmente nas partes norte do país, usam especiarias "doces" em combinação com carne, por exemplo, canela e cravo em ensopados.
Esportes.
A Grécia é o berço dos antigos Jogos Olímpicos da Antiguidade, registrados pela primeira vez em em Olímpia, e sediou os modernos Jogos Olímpicos duas vezes, os inaugurais Jogos Olímpicos de Verão de 1896 e os Jogos Olímpicos de Verão de 2004. Durante o desfile das nações, a Grécia é sempre chamada em primeiro lugar, como a nação fundadora das Olimpíadas modernas. A nação competiu em todos os Jogos Olímpicos de Verão, um dos únicos quatro países a fazê-lo. Tendo conquistado um total de 110 medalhas (30 de ouro, 42 de prata e 38 de bronze), a Grécia é classificada em 32.º por medalhas de ouro na contagem de medalhas olímpicas de todos os tempos. Seu melhor desempenho foi nos Jogos Olímpicos de Verão de 1896, quando a Grécia terminou em segundo lugar na tabela de medalhas com 10 medalhas de ouro.
A Seleção Grega de Futebol, classificada em 12.º no mundo em 2014 (e tendo atingido o 8º lugar no mundo em 2008 e 2011), foi coroada campeã europeia na Euro 2004. A Super Liga Grega é a liga de futebol profissional mais alta do país, composta por dezesseis equipes. Os mais bem-sucedidos são Olympiacos, Panathinaikos e AEK Athens. A Seleção Grega de Basquetebol tem uma tradição de décadas de excelência no esporte, sendo considerada uma das principais potências do basquete do mundo; em 2012, ficou em 4.º no mundo e 2.º na Europa. Eles venceram o campeonato europeu duas vezes em 1987 e 2005.
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920 | Galileu Galilei | Galileu Galilei
Galileo di Vincenzo Bonaulti de Galilei, mais conhecido como Galileu Galilei (Pisa, 15 de fevereiro de 1564 — Florença, 8 de janeiro de 1642), foi um astrônomo, físico e engenheiro florentino, às vezes descrito como polímata. Frequentemente é referenciado como "pai da astronomia observacional", "pai da física moderna", "pai do método científico" e "pai da ciência moderna".
Galileu estudou o princípio da relatividade e fenômenos como a rapidez e a velocidade, a gravidade e a queda livre, a inércia e o movimento de projéteis, mas também trabalhou em ciência e tecnologia aplicadas. Nesse âmbito, ele descreveu as propriedades de pêndulos e "balanços hidrostáticos", inventou o termoscópio e várias bússolas militares, e usou o telescópio para observações científicas de objetos celestes. Suas contribuições à astronomia observacional incluem a confirmação visual das fases de Vênus, a observação dos quatro maiores satélites de Júpiter, a observação dos anéis de Saturno e, a análise das manchas solares.
Galileu defendeu os controversos heliocentrismo e copernicanismo, quando a maioria adotava modelos geocêntricos, como o sistema ticônico (combinação dos sistemas Copernicano e Ptolemaico). Ele teve a oposição de astrônomos, que duvidavam do heliocentrismo por conta da ausência da observação de uma paralaxe estelar. O assunto foi então investigado em 1615 pela igreja através da Inquisição Romana, que concluiu que o tema era "tolo e absurdo em filosofia e formalmente herético, pois contradiz explicitamente em muitos lugares o sentido da Sagrada Escritura".
Mais tarde, Galileu defendeu suas opiniões no "Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas Mundiais" (1632), que parecia atacar o papa Urbano VIII e, assim, alienou-o dos jesuítas, que até então o haviam apoiado. Foi julgado pela Inquisição, considerado "veementemente suspeito de heresia" e forçado a se retratar, e passou o resto de sua vida em prisão domiciliar. Enquanto estava preso, escreveu a obra "Duas Novas Ciências", na qual resumiu o trabalho feito, cerca de quarenta anos antes, nas duas ciências atualmente designadas cinemática e força dos materiais.
Início da vida e família.
Galileu nasceu em Pisa, então parte do Ducado de Florença, na Península Itálica, em 15 de fevereiro de 1564, como o primeiro dos seis filhos de Vincenzo Galilei, um lutenista, compositor e teórico musical, e Giulia ("née" Ammannati), que se haviam casado em 1562. Galileu tornou-se um lutenista talentoso e, desde cedo, teria aprendido com o pai um ceticismo em relação às autoridades estabelecidas.
Quando Galileu Galilei tinha oito anos, sua família se mudou para Florença, mas ele ficou com um tutor, Jacopo Borghini, por dois anos. Ele foi educado de 1575 a 1578 na Abadia de Vallombrosa, a cerca de trinta quilômetros ao sudeste de Florença.
Nome.
Galileu costumava referir-se a si mesmo apenas pelo seu primeiro nome. Na época, os sobrenomes eram opcionais na Itália, e seu nome próprio tinha a mesma origem que seu nome de família, Galilei. Esse seu sobrenome deriva, em última análise, de um ancestral, Galileo Bonaiuti, um importante médico, professor e político em Florença no século XV. Galileu Bonaiuti foi enterrado na Basílica de Santa Cruz, em Florença, a mesma igreja onde, cerca de duzentos anos mais tarde, seu descendente mais famoso, Galileu Galilei, também foi enterrado.
Quando referia-se a si mesmo com mais de um nome, por vezes o fazia com o nome "Galileo Galilei Linceo", uma referência à Academia de Lincei, uma organização pró-ciência de elite na Itália, da qual era membro. Era comum as famílias da Toscana de meados do século XVI nomearem o filho mais velho com o sobrenome dos pais. Portanto, Galileu Galilei não recebeu necessariamente o nome de seu ancestral Galileo Bonaiuti. O nome italiano masculino "Galileu" (daí o sobrenome "Galilei") deriva do latim "Galilæus", que significa "Galiléia", uma região biblicamente significativa no norte de Israel.
As raízes bíblicas do nome e sobrenome de Galileu se tornariam objeto de um famoso trocadilho. Em 1614, durante o caso Galileu, um dos oponentes de Galileu, o padre dominicano Tommaso Caccini, proferiu contra Galileu um sermão controverso e influente em que citou o versículo bíblico de Atos 1:11: "Vocês, homens da Galileia, por que estão olhando para o céu?".
Filhos.
Apesar de ter sido um devoto católico romano, Galileu foi pai de três filhos fora do casamento, com Marina Gamba. Eles tiveram duas filhas, Virginia (nascida em 1600) e Livia (nascida em 1601), e um filho, Vincenzo (nascido em 1606).
Por causa de seu nascimento ilegítimo, o pai considerou que as meninas jamais conseguiriam se casar, e que potencialmente elas seriam pivô de problemas – na forma da necessidade de apoio financeiro contínuo ou de dotes proibitivamente caros – semelhantemente aos extensos problemas financeiros que Galileu experimentou com duas de suas irmãs. Logo, sua única alternativa viável era a vida religiosa. As duas meninas foram aceitas pelo convento de San Matteo, em Arcetri, e permaneceram lá pelo resto de suas vidas.
Virginia recebeu o nome de Maria Celeste ao entrar no convento. Ela morreu em 2 de abril de 1634 e está enterrada com Galileu na Basílica de Santa Cruz. Lívia adotou o nome de Arcangela e viveu doente a maior parte de sua vida. Mais tarde, Vincenzo foi legitimado como herdeiro legal de Galileu e casou-se com Sestilia Bocchineri.
Carreira como cientista.
Embora Galileu tenha considerado seriamente o sacerdócio quando jovem, a pedido de seu pai ele se matriculou, em 1580, na Universidade de Pisa para obter um diploma de medicina. Em 1581, quando estava estudando medicina, ele notou um candelabro oscilante, que, empurrado por correntes de ar, balançava em arcos ora maiores, ora menores. Em comparação com o seu próprio batimento cardíaco, parecia a ele que o lustre levava a mesma quantidade de tempo para girar para frente e para trás, não importando o quão longe estivesse balançando. Quando voltou para casa, montou dois pêndulos de igual comprimento e balançou um com uma grande amplitude e o outro com um pequeno alcance e descobriu que eles oscilavam em sincronia. Não foi até o trabalho de Christiaan Huygens, quase cem anos depois, que a natureza tautocrônica de um pêndulo oscilante foi usada para criar um relógio preciso. Até esse ponto, Galileu havia sido deliberadamente mantido longe da matemática, pois um médico tinha uma renda mais alta que um matemático. No entanto, depois de assistir acidentalmente a uma palestra sobre geometria, ele convenceu seu relutante pai a deixá-lo estudar matemática e filosofia natural em vez de medicina. Ele criou um termoscópio, um precursor do termômetro, e, em 1586, publicou um pequeno livro sobre o projeto de uma balança hidrostática que ele havia inventado (o que o levou à atenção do mundo acadêmico). Galileu também estudou "disegno", um termo que englobava belas artes e, em 1588, obteve o cargo de instrutor na Accademia delle Arti del Disegno, em Florença, ensinando perspectiva e "chiaroscuro". Inspirado na tradição artística da cidade e nas obras dos artistas renascentistas, Galileu adquiriu uma mentalidade estética. Enquanto jovem professor na Accademia, iniciou uma amizade, que carregaria para o resto da vida, com o pintor florentino Cigoli, que incluiu as observações lunares de Galileu em uma de suas pinturas.
Em 1589, ele foi nomeado para a cátedra de matemática em Pisa. Em 1591, seu pai morreu e ele foi encarregado dos cuidados de seu irmão mais novo, Michelagnolo. Em 1592, ele se mudou para a Universidade de Pádua, onde ensinou geometria, mecânica e astronomia até 1610. Durante esse período, Galileu fez descobertas significativas tanto em pesquisa fundamental (por exemplo, na cinemática do movimento e na astronomia), quanto em ciência aplicada (por exemplo, resistência dos materiais e como pioneiro do telescópio). Seus múltiplos interesses incluíam o estudo da astrologia, que na época era uma disciplina ligada aos estudos de matemática e astronomia.
Métodos científicos.
Galileu fez contribuições originais para a ciência do movimento por meio de uma combinação inovadora de experimentos e matemática. Mais típicos da ciência na época eram os estudos qualitativos de William Gilbert, sobre magnetismo e eletricidade. O pai de Galileu, Vincenzo Galilei, um lutenista e teórico da música, realizou experimentos estabelecendo talvez a mais antiga relação não linear conhecida na física: para uma corda esticada, o tom varia como a raiz quadrada da tensão. Essas observações se enquadram no quadro da tradição musical pitagórica, bem conhecida pelos fabricantes de instrumentos, que inclui o fato de que subdividir uma corda por um número inteiro produz uma escala harmoniosa. Assim, uma quantidade limitada de matemática relacionava música e ciências físicas há muito tempo e o jovem Galileu pôde ver as observações de seu próprio pai expandir essa tradição.
Galileu foi um dos primeiros pensadores modernos a afirmar claramente que as leis da natureza são matemáticas. Em "Il Saggiatore", ele escreveu "A filosofia está escrita neste grande livro, o universo ... Está escrito na linguagem da matemática e seus caracteres são triângulos, círculos e outras figuras geométricas; ... ". Suas análises matemáticas são um desenvolvimento adicional de uma tradição empregada pelos filósofos naturais escolásticos tardios, que Galileu aprendeu quando ele estudou filosofia.
Galileu mostrou uma apreciação moderna pela relação adequada entre matemática, física teórica e física experimental. Ele entendeu a parábola, tanto em termos de seções cônicas quanto em termos das ordenadas (y) variando como o quadrado da abcissa (x). Galileu afirmou ainda que a parábola era a trajetória teoricamente ideal de um projétil uniformemente acelerado na ausência de resistência do ar ou de outros distúrbios. Ele admitiu que há limites para a validade dessa teoria, observando, com base teórica, que uma trajetória de projétil de tamanho comparável ao da Terra não poderia ser uma parábola, mas mesmo assim ele manteve que, para distâncias até o alcance da artilharia de sua época, o desvio da trajetória de um projétil de uma parábola seria muito pequeno.
Astronomia.
Baseado apenas em descrições incertas do primeiro telescópio prático que Hans Lippershey tentou patentear na Holanda em 1608, Galileu, no ano seguinte, fez um telescópio com ampliação de cerca de três vezes. Mais tarde, ele criou versões aprimoradas com ampliação de até trinta vezes. Com um telescópio refractor, o observador podia ver imagens ampliadas e retas na Terra - o que geralmente é conhecido como telescópio terrestre ou luneta. Ele também poderia usá-lo para observar o céu; por um tempo ele foi um dos que conseguiu construir telescópios bons o suficiente para esse fim. Em 25 de agosto de 1609, ele demonstrou um de seus primeiros telescópios, com uma ampliação de cerca de oito ou nove vezes, aos legisladores venezianos. Seus telescópios também eram uma linha lateral lucrativa para Galileu, que os vendia a comerciantes que os consideravam úteis no mar e como itens de troca. Ele publicou suas observações astronômicas telescópicas iniciais em março de 1610 em um breve tratado intitulado "Sidereus Nuncius" ("Mensageiro Estrelado").
Supernova de Kepler.
Tycho e outros observaram uma supernova de 1572. A carta de Ottavio Brenzoni, de 15 de janeiro de 1605, a Galileu trouxe a supernova de 1572 e a nova menos brilhante de 1601 ao conhecimento de Galileu. Galileu observou e discutiu a supernova de Kepler em 1604. Como essas novas estrelas não exibiam paralaxe diurna detectável, Galileu concluiu que eram estrelas distantes e, portanto, refutou a crença aristotélica na imutabilidade dos céus.
As luas de Júpiter.
Em 7 de janeiro de 1610, Galileu observou com seu telescópio o que ele descreveu na época como "três estrelas fixas, totalmente invisíveis por sua pequenez", todas próximas a Júpiter e em uma linha reta através dele. Observações nas noites subsequentes mostraram que as posições dessas "estrelas" em relação a Júpiter estavam mudando de uma maneira que seria inexplicável se fossem realmente estrelas fixas . Em 10 de janeiro, Galileu observou que uma delas havia desaparecido, uma observação que ele atribuiu ao fato de estar escondida atrás de Júpiter. Dentro de alguns dias, ele concluiu que elas estavam orbitando Júpiter: ele havia descoberto três das quatro maiores luas de Júpiter. Ele descobriu a quarta lua em 13 de janeiro. Galileu nomeou o grupo das quatro "estrelas mediceanas", em homenagem a seu futuro patrono, Cosme II de Médici, grão-duque da Toscana, e os três irmãos de Cosimo. Mais tarde, os astrônomos os renomearam como "satélites galileus" em homenagem a seu descobridor. Esses satélites foram descobertos independentemente por Simon Marius em 8 de janeiro de 1610 e agora são chamados Io, Europa, Ganymede e Callisto, os nomes dados por Marius em sua obra "Mundus Iovialis" publicada em 1614.
As observações de Galileu sobre os satélites de Júpiter causaram uma revolução na astronomia: um planeta com planetas menores em órbita não estava em conformidade com os princípios da cosmologia aristotélica, que sustentava que todos os corpos celestes deveriam circular a Terra e muitos astrônomos e filósofos inicialmente se recusaram a acreditar que Galileu poderia ter descoberto uma coisa dessas. Suas observações foram confirmadas pelo observatório de Cristóvão Clávio e ele recebeu boas-vindas de um herói quando visitou Roma em 1611. Galileu continuou a observar os satélites nos dezoito meses seguintes e em meados de 1611, ele havia obtido estimativas extraordinariamente precisas para seus períodos - um feito que Kepler julgara impossível.
Vênus, Saturno e Netuno.
Desde setembro de 1610, Galileu observou que Vênus exibia um conjunto completo de fases semelhantes às da Lua. O modelo heliocêntrico do Sistema Solar desenvolvido por Nicolaus Copernicus previa que todas as fases seriam visíveis, uma vez que a órbita de Vênus ao redor do Sol faria com que seu hemisfério iluminado ficasse de frente para a Terra quando estava no lado oposto do Sol e se afastasse da Terra quando estava no lado terrestre do Sol. Por outro lado, no modelo geocêntrico de Ptolomeu, era impossível para qualquer das órbitas dos planetas cruzar a concha esférica que carregava o Sol. Tradicionalmente, a órbita de Vênus era colocada inteiramente no lado mais próximo do Sol, onde só podia exibir fases crescentes e novas. No entanto, também era possível colocá-lo inteiramente no lado mais distante do Sol, onde ele exibia apenas fases gibosas e cheias. Após as observações telescópicas de Galileu das fases crescente, gibosa e cheia de Vênus, o modelo ptolomaico tornou-se insustentável. Assim, no início do século XVII, como resultado de sua descoberta, a grande maioria dos astrônomos se converteu em um dos vários modelos planetários geo-heliocêntricos, como o modelo capelano.
Galileu observou o planeta Saturno e, a princípio, confundiu seus anéis com planetas, pensando que era um sistema de três corpos. Quando ele observou o planeta mais tarde, os anéis de Saturno estavam diretamente orientados na Terra, fazendo-o pensar que dois dos corpos haviam desaparecido. Os anéis reapareceram quando ele observou o planeta em 1616, confundindo-o ainda mais.
Galileu também observou o planeta Netuno em 1612. Ele aparece em seus cadernos como uma das muitas estrelas escuras não observáveis. Ele não percebeu que era um planeta, mas notou seu movimento em relação às estrelas antes de perdê-lo de vista.
Manchas solares.
Galileu fez estudos a olho nu e telescópicos de manchas solares. Sua existência levantou outra dificuldade com a perfeição imutável dos céus, como postulado na física celestial aristotélica ortodoxa. Uma aparente variação anual em suas trajetórias, observada por Francesco Sizzi e outros em 1612-1613, também forneceu um argumento poderoso contra o sistema ptolemaico e o sistema geoheliocêntrico de Tycho Brahe.
Lua.
Em 30 de novembro de 1609, Galileu apontou seu telescópio para a Lua. Apesar de não ser a primeira pessoa a observar a Lua através de um telescópio (o matemático inglês Thomas Harriot já havia feito isso quatro meses antes, mas apenas viu uma "mancha estranha"), Galileu foi o primeiro a deduzir a causa da desigual como a oclusão de luz das montanhas e crateras lunares. Em seu estudo, ele também fez gráficos topográficos, estimando as alturas das montanhas. A Lua não era uma esfera translúcida e perfeita como se acreditava e como afirmava Aristóteles, e dificilmente era o primeiro "planeta", uma "pérola eterna que ascenderia magnificamente ao império celestial", como proposto por Dante. Às vezes, Galileu é creditado com a descoberta da libração lunar na latitude em 1632, embora Thomas Harriot ou William Gilbert possam ter feito isso antes.
Via Láctea e estrelas.
Galileu observou a Via Láctea, que antes se acreditava ser uma nebulosa, e descobriu que era uma multidão de estrelas tão densas que pareciam nuvens quando vistas a partir da Terra. Ele localizou muitas outras estrelas muito distantes para serem visíveis a olho nu e observou a estrela dupla Mizar na Ursa Maior em 1617.
No "Mensageiro Estrelado", Galileu relatou que as estrelas apareciam como meras labaredas de luz, essencialmente inalteradas na aparência pelo telescópio, e as comparavam aos planetas, que o telescópio revelou ser discos. Porém, pouco depois, em "Cartas sobre Manchas Solares", ele relatou que o telescópio revelou que as formas das estrelas e dos planetas eram "bastante redondas". Desse ponto em diante, ele continuou relatando que os telescópios mostravam a redondeza das estrelas e que as estrelas vistas através do telescópio mediam alguns segundos de arco de diâmetro. Ele também criou um método para medir o tamanho aparente de uma estrela sem um telescópio. Conforme descrito em seu "Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas Mundiais", seu método era pendurar uma corda fina em sua linha de visão da estrela e medir a distância máxima a partir da qual a estrela seria totalmente obscurecida. A partir de suas medições dessa distância e da largura da corda, ele conseguiu calcular o ângulo subtendido pela estrela em seu ponto de observação.
Em seu "Diálogo," ele relatou que havia encontrado o diâmetro aparente de uma estrela de primeira grandeza não mais do que cinco para ser arco-segundos, e que de um de sexta magnitude em cerca de 5/6 segundos de arco. Como a maioria dos astrônomos de sua época, Galileu não reconheceu que os tamanhos aparentes de estrelas que ele mediu eram espúrios, causados por difração e distorção atmosférica, e não representavam os verdadeiros tamanhos de estrelas. No entanto, os valores de Galileu eram muito menores do que as estimativas anteriores dos tamanhos aparentes das estrelas mais brilhantes, como as feitas por Tycho Brahe, e permitiram que Galileu contivesse argumentos anti-copernicanos, como os feitos por Tycho, de que essas estrelas teriam que ser absurdamente grandes para que suas paralaxes anuais sejam indetectáveis. Outros astrônomos como Simon Marius, Giovanni Battista Riccioli e Martinus Hortensius fizeram medições semelhantes de estrelas, e Marius e Riccioli concluíram que os tamanhos menores não eram pequenos o suficiente para responder ao argumento de Tycho.
Engenharia.
Galileu fez uma série de contribuições para o que hoje é conhecido como engenharia, distinta da física pura. Entre 1595 e 1598, Galileu concebeu e melhorou uma bússola geométrica e militar adequada para uso por artilheiros e topógrafos. Isto expandiu os instrumentos anteriores projetados por Niccolò Tartaglia e Guidobaldo del Monte. Para os atiradores, ofereceu, além de uma maneira nova e segura de elevar os canhões com precisão, uma maneira de calcular rapidamente a carga de pólvora para balas de canhão de diferentes tamanhos e materiais. Como instrumento geométrico, permitiu a construção de qualquer polígono regular, o cálculo da área de qualquer polígono ou setor circular e uma variedade de outros cálculos. Sob a direção de Galileu, o fabricante de instrumentos Marc'Antonio Mazzoleni produziu mais de 100 dessas bússolas, que Galileu vendeu (junto com um manual de instruções que ele escreveu) por 50 "liras" e ofereceu um curso de instrução no uso das bússolas por 120 "liras".
Em 1609, Galileu foi, juntamente com o inglês Thomas Harriot e outros, um dos primeiros a usar um telescópio refrator como instrumento para observar estrelas, planetas ou luas. O nome "telescópio" foi cunhado para o instrumento de Galileu por um matemático grego, Giovanni Demisiani, em um banquete realizado em 1611 pelo príncipe Federico Cesi para fazer de Galileu um membro de sua Accademia dei Lincei. Em 1610, ele usou um telescópio a curta distância para ampliar as partes de insetos. Em 1624, Galileu havia usado um microscópio composto. Ele entregou um desses instrumentos ao cardeal Zollern em maio daquele ano para apresentação ao duque da Baviera e, em setembro, enviou outro ao príncipe Cesi. Os linceanos desempenharam novamente um papel ao nomear o "microscópio" um ano depois, quando o colega Giovanni Faber cunhou a palavra para a invenção de Galileu a partir das palavras gregas "μικρόν" ("mícron") que significa "pequeno" e "σκοπεῖν" ("skopein") "olhar para". A palavra deveria ser análoga a "telescópio". Ilustrações de insetos feitas com um dos microscópios de Galileu e publicadas em 1625, parecem ter sido a primeira documentação clara do uso de um microscópio composto.
Em 1612, tendo determinado os períodos orbitais dos satélites de Júpiter, Galileu propôs que, com um conhecimento suficientemente preciso de suas órbitas, alguém pudesse usar suas posições como um relógio universal, o que tornaria possível a determinação da longitude. Ele trabalhou nesse problema de tempos em tempos durante o resto de sua vida, mas os problemas práticos eram graves. O método foi aplicado com sucesso por Giovanni Domenico Cassini em 1681 e mais tarde foi amplamente utilizado para grandes levantamentos de terra; esse método, por exemplo, foi usado para analisar a França e, mais tarde, por Zebulon Pike, o centro-oeste dos Estados Unidos, em 1806. Para a navegação marítima, onde as observações telescópicas delicadas eram mais difíceis, o problema da longitude acabou exigindo o desenvolvimento de um cronômetro marinho portátil prático, como o de John Harrison.
Galileu foi convidado em várias ocasiões para aconselhar sobre esquemas de engenharia para aliviar as inundações nos rios. Em 1630, Mario Guiducci provavelmente foi fundamental para garantir que ele fosse consultado por Bartolotti sobre um plano para cortar um novo canal para o rio Bisenzio, perto de Florença.
Física.
O trabalho teórico e experimental de Galileu sobre os movimentos dos corpos, juntamente com o trabalho amplamente independente de Kepler e René Descartes, foi um precursor da mecânica clássica desenvolvida por Sir Isaac Newton. Galileu conduziu várias experiências com pêndulos. Acredita-se popularmente (graças à biografia de Vincenzo Viviani) que eles começaram assistindo os balanços do candelabro de bronze na catedral de Pisa, usando seu pulso como um temporizador. Experimentos posteriores são descritos na obra "Duas Novas Ciências". Galileu afirmou que um pêndulo simples é isócrono, ou seja, que suas oscilações sempre levam a mesma quantidade de tempo, independentemente da amplitude. De fato, isso é apenas aproximadamente verdade, como foi descoberto por Christiaan Huygens.
Galileu é menos conhecido, mas ainda creditado, por ser um dos primeiros a entender a frequência do som. Raspando um cinzel em velocidades diferentes, ele vinculava a afinação do som produzido ao espaçamento dos saltos do cinzel, uma medida de frequência. Em 1638, Galileu descreveu um método experimental para medir a velocidade da luz, organizando que dois observadores, cada um com lanternas equipadas com persianas, observem as lanternas um do outro a alguma distância. O primeiro observador abre o obturador da lâmpada e, o segundo, ao ver a luz, abre imediatamente o obturador da sua própria lanterna. O tempo entre o primeiro observador abrir o obturador e ver a luz da lâmpada do segundo observador indica o tempo que leva para a luz viajar entre os dois observadores. Galileu relatou que, quando tentou isso a uma distância de menos de um quilômetro, não conseguiu determinar se a luz apareceu ou não instantaneamente. Em algum momento entre a morte de Galileu e 1667, os membros da "Accademia del Cimento" de Florença repetiram o experimento a uma distância de cerca de uma milha e obtiveram um resultado igualmente inconclusivo.
Corpos em queda.
Uma biografia de Galileu feita por seu aluno, Vincenzo Viviani, afirmou que ele havia jogado bolas do mesmo material, mas de massas diferentes, da Torre Inclinada de Pisa para demonstrar que o tempo de descida era independente da massa. Isto era contrário ao que Aristóteles havia ensinado: que objetos pesados caem mais rápido que objetos mais leves, em proporção direta ao peso. Embora essa história tenha sido recontada em relatos populares, o próprio Galileu não relata tal experimento e geralmente é aceito pelos historiadores que foi no máximo um experimento mental que realmente não ocorreu. Uma exceção é Drake, que argumenta que o experimento aconteceu, mais ou menos como Viviani descreveu. O experimento descrito foi realmente realizado por Simon Stevin (vulgarmente conhecido como Stevinus) e Jan Cornets de Groot, embora o edifício usado tenha sido a torre da igreja em Delft em 1586. No entanto, a maioria de seus experimentos com corpos em queda foram realizados usando planos inclinados, onde as questões de tempo e resistência do ar eram muito reduzidas. Em qualquer caso, observações de objetos de tamanhos semelhantes de diferentes pesos caíram na mesma velocidade são documentadas em obras tão antigas quanto as de João Filopono, no século VI, e das quais Galileu estava ciente.
Em "Discorsi", de 1638, o personagem de Galileu, Salviati, amplamente considerado o porta-voz de Galileu, sustentava que todos os pesos desiguais cairiam com a mesma velocidade finita no vácuo. Mas isso havia sido proposto anteriormente por Lucrécio e Simon Stevin.
Galileu propôs que um corpo em queda caísse com uma aceleração uniforme, desde que a resistência do meio pelo qual ele caísse permanecesse insignificante, como no caso do vácuo. Ele também derivou a lei cinemática correta para a distância percorrida durante uma aceleração uniforme a partir do repouso — a saber, que é proporcional ao quadrado do tempo decorrido ("d" ∝ "t" 2). Antes de Galileu, Nicole d'Oresme, no século XIV, tinha derivado a lei do tempo ao quadrado para mudanças uniformemente aceleradas e Domingo de Soto havia sugerido no século XVII que corpos caindo através de um meio homogêneo seria uniformemente acelerado.
Ele também concluiu que os objetos "retêm sua velocidade" na ausência de impedimentos ao movimento, contradizendo assim a hipótese aristotélica geralmente aceita de que um corpo só poderia permanecer em chamados movimentos "violentos", "não naturais" ou "forçados" enquanto um agente de mudança (o "motor") continuasse a agir sobre ele. Ideias filosóficas relacionadas à inércia foram propostas por João Filopono e Jean Buridan. Galileu afirmou: "Imagine qualquer partícula projetada ao longo de um plano horizontal sem atrito; então sabemos, pelo que foi explicado mais detalhadamente nas páginas anteriores, que essa partícula se moverá ao longo do mesmo plano com um movimento uniforme e perpétuo, desde que o plano não tenha limites". Isto foi incorporado às leis do movimento de Newton (primeira lei), exceto na direção do movimento: a de Newton é reta, a de Galileu é circular (por exemplo, o movimento dos planetas em torno do Sol, que segundo ele, e diferentemente de Newton, ocorre na ausência de gravidade).
Teoria das marés.
O cardeal Bellarmine havia escrito em 1615 que o sistema copernicano não poderia ser defendido sem "uma verdadeira demonstração física de que o Sol não circunda a Terra, mas a Terra circunda o Sol". Galileu considerava sua teoria das marés para fornecer tal evidência. Essa teoria era tão importante para ele que, originalmente, ele pretendia chamar seu "Diálogo nos Dois Principais Sistemas Mundiais de" "Diálogo no Maré e no Mar."
Para Galileu, as marés eram causadas pelo deslizamento da água nos mares, quando um ponto na superfície da Terra acelerava e desacelerava devido à rotação da Terra em seu eixo e à revolução em torno do Sol. Ele circulou seu primeiro relato das marés em 1616, dirigido ao cardeal Orsini.
Se essa teoria estivesse correta, haveria apenas uma maré alta por dia. Galileu e seus contemporâneos estavam cientes dessa inadequação, porque há duas marés altas diárias em Veneza, em vez de uma, com cerca de 12 horas de diferença. Galileu descartou essa anomalia como resultado de várias causas secundárias, incluindo a forma do mar, sua profundidade e outros fatores. Albert Einstein mais tarde expressou a opinião de que Galileu desenvolveu seus "argumentos fascinantes" e os aceitou acriticamente por um desejo de prova física do movimento da Terra. Galileu também rejeitou a ideia, conhecida desde a antiguidade e por seu contemporâneo Johannes Kepler, de que a Lua causava a maré. Galileo também teve nenhum interesse nas órbitas elípticas dos planetas propostas por Kepler.
Controvérsia sobre cometas e "Il Saggiatore".
Em 1619, Galileu se envolveu em uma controvérsia com o padre Orazio Grassi, professor de matemática no Colégio Romano. Começou como uma disputa sobre a natureza dos cometas, mas quando Galileu publicou "Il Saggiatore", em 1623, havia se tornado uma controvérsia muito mais ampla sobre a própria natureza da ciência. A página frontal do livro descreve Galileu como filósofo e "Matematico Primario" do Grão-Duque da Toscana.
Como "Il Saggiatore" contém uma riqueza de ideias de Galileu sobre como a ciência deve ser praticada, foi referido como seu manifesto científico. No início de 1619, o padre Grassi publicou anonimamente um panfleto, "Uma Disputa Astronômica sobre os Três Cometas do Ano de 1618", que discutia a natureza de um cometa que apareceu no final de novembro do ano anterior. Grassi concluiu que o cometa era um corpo ígneo que se movia ao longo de um segmento de um grande círculo a uma distância constante da Terra.
Os argumentos e conclusões de Grassi foram criticados em um artigo subsequente, "Discurso sobre os Cometas", publicado sob o nome de um dos discípulos de Galileu, um advogado florentino chamado Mario Guiducci, embora tenha sido amplamente escrito pelo próprio Galileu. Galileu e Guiducci não ofereceram nenhuma teoria definitiva sobre a natureza dos cometas, embora eles apresentassem algumas tentativas de conjecturas que agora são conhecidas por estarem erradas. (A abordagem correta para o estudo de cometas foi proposta na época por Tycho Brahe.) Na passagem inicial, o "Discurso de" Galileu e Guiducci insultou gratuitamente o jesuíta Christoph Scheiner, e várias observações não-elogiosas sobre os professores do Colégio Romano foram espalhadas por todo o trabalho. Os jesuítas ficaram ofendidos e Grassi logo respondeu com uma polêmica obra própria, "O Equilíbrio Astronômico e Filosófico", sob o pseudônimo de Lothario Sarsio Sigensano, alegando ser um dos seus próprios alunos.
"Il Saggiatore" foi a resposta devastadora de Galileu ao "Equilíbrio Astronômico". Foi amplamente reconhecido como uma obra-prima da literatura polêmica na qual os argumentos de "Sarsi" são submetidos a um desprezo minguante. Foi recebido com grande aclamação e agradou particularmente o novo papa, Urbano VIII, a quem fora dedicado. Em Roma, na década anterior, Barberini, o futuro Urbano VIII, havia ficado ao lado de Galileu e da Academia Linceana.
A disputa de Galileu com Grassi alienou permanentemente muitos dos jesuítas que antes eram solidários com suas ideias e Galileu e seus amigos estavam convencidos de que esses jesuítas foram os responsáveis por provocar sua condenação posterior. No entanto, a evidência para isso é, na melhor das hipóteses, ambígua.
Controvérsia sobre o heliocentrismo.
Em todo o mundo anterior ao conflito de Galileu com a Igreja, a maioria das pessoas instruídas subscrevia a visão geocêntrica aristotélica de que a Terra era o centro do universo e que todos os corpos celestes giravam em torno da Terra ou do sistema ticônico, que misturava geocentrismo com heliocentrismo.
A oposição ao heliocentrismo e os escritos de Galileu combinaram objeções científicas e religiosas. A oposição científica veio de Tycho Brahe e de outros e surgiu do fato de que, se o heliocentrismo fosse verdade, um paralaxe estelar anual deveria ser observado, embora não existisse tal evidência na época. (Somente em 1838 Friedrich Bessel foi capaz de observá-lo com precisão.) Copérnico e Aristarco postularam corretamente que a paralaxe era insignificante porque as estrelas estavam muito distantes. No entanto, Tycho respondeu que, como as estrelas pareciam ter um tamanho angular mensurável, se as estrelas estivessem tão distantes e seu tamanho aparente fosse devido ao seu tamanho físico, elas seriam muito maiores que o Sol. (De fato, não é possível observar o tamanho físico de estrelas distantes sem telescópios modernos). No sistema de Tycho, as estrelas eram um pouco mais distantes que Saturno e o Sol e as estrelas eram comparáveis em tamanho.
A oposição religiosa ao heliocentrismo surgiu de referências bíblicas como o Salmo , e 1 Crônicas que incluem texto afirmando: "O mundo também está estabelecido. Não pode ser movido". Da mesma maneira, o diz: "Ele (o Senhor) lançou os fundamentos da terra, para que não se movesse para sempre". Além disso, Eclesiastes declara: "O sol também nasce, e o sol se põe, e corre para o seu lugar onde nasce", e Josué 10:14 afirma: "Sol, fique parado em Gibeão ...".
Galileu defendeu o heliocentrismo com base em suas observações astronômicas de 1609 ("Sidereus Nuncius" 1610). Em dezembro de 1613, a Grã-duquesa Cristina de Florença confrontou um dos amigos e seguidores de Galileu, Benedetto Castelli, com objeções bíblicas ao movimento da Terra. Segundo Maurice Finocchiaro, isto foi feito de maneira amigável e graciosa, por curiosidade. Induzido por esse incidente, Galileu escreveu uma carta a Castelli na qual argumentava que o heliocentrismo não era realmente contrário aos textos bíblicos e que a Bíblia era uma autoridade sobre fé e moral, não sobre ciência. Esta carta não foi publicada, mas circulou amplamente. Dois anos depois, Galileu escreveu uma carta para Cristina, que expandiu seus argumentos anteriormente feitos em oito páginas para quarenta páginas.
Em 1615, os escritos de Galileu sobre heliocentrismo haviam sido submetidos à Inquisição Romana pelo padre Niccolò Lorini, que alegava que Galileu e seus seguidores estavam tentando reinterpretar a Bíblia, o que era visto como uma violação do Concílio de Trento e parecia perigosamente com o protestantismo. Lorini citou especificamente a carta de Galileu a Castelli. Galileu foi a Roma para defender a si mesmo e a suas ideias copernicanas e bíblicas. No início de 1616, o monsenhor Francesco Ingoli iniciou um debate com Galileu, enviando-lhe um ensaio contestando o sistema copernicano. Galileu afirmou mais tarde que acreditava que este ensaio tivesse sido fundamental na ação contra o copernicanismo que se seguiu. Segundo Maurice Finocchiaro, Ingoli provavelmente foi contratado pela Inquisição para escrever uma opinião de especialista sobre a controvérsia e o ensaio forneceu a "principal base direta" para as ações da Inquisição.
O ensaio focalizou dezoito argumentos físicos e matemáticos contra o heliocentrismo. Ele tomou emprestado principalmente dos argumentos de Tycho Brahe e mencionou notavelmente o argumento dele de que o heliocentrismo exigia que as estrelas fossem muito maiores que o Sol. Ingoli escreveu que a grande distância para as estrelas na teoria heliocêntrica "prova claramente ... que as estrelas fixas são desse tamanho, pois podem superar ou igualar o tamanho do círculo de órbita da própria Terra". O ensaio também incluiu quatro argumentos teológicos, mas Ingoli sugeriu que Galileu se concentrasse nos argumentos físicos e matemáticos, e ele não mencionou as ideias bíblicas de Galileu. Em fevereiro de 1616, uma comissão inquisitorial declarou o heliocentrismo: "tolo e absurdo em filosofia e formalmente herético, pois contradiz explicitamente em muitos termos o sentido da Sagrada Escritura". A Inquisição concluiu que a ideia do movimento da Terra "recebe o mesmo julgamento em filosofia e ... em relação à verdade teológica, é pelo menos errônea na fé".
O papa Paulo V instruiu o cardeal Bellarmine a entregar essa descoberta a Galileu e a ordená-lo a abandonar a opinião de que o heliocentrismo era fisicamente verdadeiro. Em 26 de fevereiro, Galileu foi chamado à residência de Bellarmine e ordenado a: "abandonar completamente ... a opinião de que o sol fica parado no centro do mundo e a Terra se move e, a partir de agora, não a sustenta, ensina ou defende de qualquer maneira, seja oralmente ou por escrito."
O decreto da Congregação do Index proibiu "De Revolutionibus, de" Copérnico, e outros trabalhos heliocêntricos até a correção. As instruções de Bellarmine não proibiram Galileu de discutir o heliocentrismo como uma ideia matemática e filosófica, desde que ele não advogasse por sua verdade física.
Durante a década seguinte, Galileu ficou bem longe da controvérsia. Ele reviveu seu projeto de escrever um livro sobre o assunto, incentivado pela eleição do cardeal Maffeo Barberini como papa Urbano VIII em 1623. Barberini era amigo e admirador de Galileu, e se opôs à advertência de Galileu em 1616. O livro resultante de Galileu, "Diálogo sobre os Dois Principais Sistemas Mundiais", foi publicado em 1632, com autorização formal da Inquisição e permissão papal.
Inconscientemente ou deliberadamente, Simplicio, o defensor da visão geocêntrica aristotélica no "Diálogo", era frequentemente pego em seus próprios erros e às vezes se via como um tolo. De fato, embora Galileu afirme no prefácio de seu livro que o personagem recebeu o nome de um famoso filósofo aristotélico (Simplicius em latim, "Simplicio" em italiano), o nome "Simplicio" em italiano também tem a conotação de "simplório".
A maioria dos historiadores concorda que Galileu não agiu por malícia e se sentiu surpreendido pela reação ao seu livro.
Galileu havia alienado um de seus maiores e mais poderosos apoiadores, o Papa, e foi chamado a Roma para defender seus escritos em setembro de 1632. Ele finalmente chegou em fevereiro de 1633 e foi levado ao inquisidor Vincenzo Maculani para ser acusado. Ao longo de seu julgamento, Galileu sustentou firmemente que, desde 1616, manteve fielmente sua promessa de não manter nenhuma das opiniões condenadas e, inicialmente, negou sequer defendê-las. No entanto, ele acabou sendo persuadido a admitir que, ao contrário de sua verdadeira intenção, um leitor de seu "Diálogo" poderia muito bem ter tido a impressão de que ele pretendia ser uma defesa do copernicanismo. Em vista da negação bastante implausível de Galileu de que ele jamais sustentou as ideias copernicanas depois de 1616 ou pretendeu defendê-las no "Diálogo", seu interrogatório final, em julho de 1633, concluiu que ele era ameaçado de tortura se não dissesse a verdade, mas ele manteve sua negação apesar da ameaça.
A sentença da Inquisição foi proferida em 22 de junho em três partes essenciais:
Segundo a lenda popular, depois de retratar sua teoria de que a Terra se movia ao redor do Sol, Galileu supostamente murmurou a frase rebelde "E ainda assim se move". Uma pintura de 1640 do pintor espanhol Bartolomé Esteban Murillo ou um artista de sua escola, na qual as palavras foram ocultas até a restauração em 1911, retrata um Galileu encarcerado, aparentemente contemplando as palavras "E pur si muove" escritas na parede de sua masmorra. O relato escrito mais antigo conhecido da lenda data de um século após sua morte, mas Stillman Drake escreve "não há dúvida agora que as famosas palavras já eram atribuídas a Galileu antes de sua morte".
Depois de um período com o amigável Ascanio Piccolomini (o arcebispo de Siena), Galileu foi autorizado a voltar para sua casa em Arcetri, perto de Florença, em 1634, onde passou parte de sua vida em prisão domiciliar. Galileu recebeu ordem de ler os sete salmos penitenciais uma vez por semana pelos três anos seguintes. No entanto, sua filha Maria Celeste o aliviou do fardo depois de obter permissão eclesiástica para assumir o cumprimento da ordem.
Foi enquanto Galileu estava em prisão domiciliar que dedicou seu tempo a uma de suas melhores obras, "Duas Novas Ciências". Aqui, ele resumiu o trabalho que havia feito cerca de quarenta anos antes, nas duas ciências agora denominadas cinemática e força dos materiais, publicadas nos Países Baixos para evitar os censores. Este livro recebeu muitos elogios de Albert Einstein. Como resultado deste trabalho, Galileu é frequentemente chamado de "pai da física moderna". Ele ficou completamente cego em 1638 e sofria de uma hérnia e insônia dolorosas, por isso foi autorizado a viajar para Florença para aconselhamento médico.
Dava Sobel argumenta que antes do julgamento de Galileu em 1633, o papa Urbano VIII havia se preocupado com as intrigas da corte e os problemas de Estado, e começou a temer perseguição ou ameaças à própria vida. Nesse contexto, Sobel argumenta que o problema de Galileu foi apresentado ao papa por membros da corte e inimigos de Galileu. Tendo sido acusado de fraqueza na defesa da igreja, Urbano reagiu contra Galileu por raiva e medo.
Morte.
Galileu continuou a receber visitantes até 1642, quando, após sofrer febre e palpitações cardíacas, morreu em 8 de janeiro de 1642, aos 77 anos. O Grão-Duque da Toscana, Ferdinando II, desejava enterrá-lo no corpo principal da Basílica de Santa Cruz, ao lado dos túmulos de seu pai e de outros ancestrais, e erigir um mausoléu de mármore em sua homenagem.
Esses planos foram abandonados, no entanto, depois que o papa Urbano VIII e seu sobrinho, o cardeal Francesco Barberini, protestaram porque Galileu havia sido condenado pela Igreja Católica por "veemente suspeita de heresia". Ele foi enterrado em uma pequena sala ao lado da capela dos noviços, no final de um corredor, do transepto sul da basílica até a sacristia.
Ele foi enterrado novamente no corpo principal da basílica em 1737, depois que um monumento foi erguido lá em sua homenagem; durante essa exumação, três dedos e um dente foram removidos de seus restos mortais. Um desses dedos, o dedo médio da mão direita de Galileu, está atualmente em exposição no Museo Galileo, em Florença, Itália.
Legado.
Reavaliações posteriores da Igreja.
O caso Galileu foi amplamente esquecido após a morte dele e a controvérsia se acalmou. A proibição da Inquisição de reimprimir as obras de Galileu foi levantada em 1718, quando foi concedida permissão para publicar uma edição de suas obras (excluindo o condenado "Diálogo") em Florença. Em 1741, o Papa Bento XIV autorizou a publicação de uma edição dos trabalhos científicos completos de Galileu que incluíam uma versão levemente censurada do "Diálogo". Em 1758, a proibição geral contra obras que defendiam o heliocentrismo foi removida do Index Librorum Prohibitorum, embora a proibição específica de versões sem censura do "Diálogo" e "De Revolutionibus," de Copernicus, tenha permanecido. Todos os vestígios de oposição oficial ao heliocentrismo pela igreja desapareceram em 1835, quando essas obras foram finalmente retiradas do Index.
O interesse pelo caso Galileu foi revivido no início do século XIX, quando os polemistas protestantes o usaram (e outros eventos como a Inquisição Espanhola e o mito da Terra plana) para atacar o catolicismo romano. O interesse por ele aumentou e diminuiu desde então. Em 1939, o papa Pio XII, em seu primeiro discurso na Pontifícia Academia das Ciências, poucos meses após sua eleição para o papado, descreveu Galileu como um dos "heróis mais audaciosos da pesquisa ... sem medo dos obstáculos. e os riscos a caminho, nem temeroso dos monumentos funerários". Seu conselheiro próximo de 40 anos, o professor Robert Leiber, escreveu: "Pio XII teve muito cuidado para não fechar prematuramente nenhuma porta (à ciência). Ele foi enérgico nesse ponto e lamentou isso no caso de Galileu."
Em 15 de fevereiro de 1990, em um discurso proferido na Universidade Sapienza de Roma, o cardeal Ratzinger (mais tarde Papa Bento XVI ) citou alguns pontos de vista atuais sobre o caso Galileu como formando o que ele chamou de "um caso sintomático que nos permite para ver quão profunda é a dúvida da idade moderna, da ciência e da tecnologia hoje". Algumas das opiniões que ele citou foram as do filósofo Paul Feyerabend, a quem ele citou como tendo dito: "A Igreja na época de Galileu mantinha muito mais proximidade com a razão do que o próprio Galileu e ela também levou em consideração as consequências éticas e sociais dos ensinamentos de Galileu. Seu veredicto contra Galileu foi racional e justo e a revisão desse veredicto só pode ser justificada com base no que é politicamente oportuno". O cardeal não indicou claramente se ele concordava ou discordava das afirmações de Feyerabend. Ele disse, no entanto: "Seria tolice construir uma apologética impulsiva com base nessas visões".
Em 31 de outubro de 1992, o papa João Paulo II reconheceu que a Igreja havia errado ao condenar Galileu por afirmar que a Terra gira em torno do Sol. "João Paulo disse que os teólogos que condenaram Galileu não reconheceram a distinção formal entre a Bíblia e sua interpretação".
Em março de 2008, o chefe da Pontifícia Academia de Ciências, Nicola Cabibbo, anunciou um plano para homenagear Galileu erguendo uma estátua dele dentro das paredes do Vaticano. Em dezembro do mesmo ano, durante os eventos que marcaram o 400º aniversário das primeiras observações telescópicas de Galileu, o Papa Bento XVI elogiou suas contribuições à astronomia. Um mês depois, no entanto, o chefe do Pontifício Conselho para a Cultura, Gianfranco Ravasi, revelou que o plano de erguer uma estátua de Galileu nos terrenos do Vaticano havia sido suspenso.
Impacto na ciência moderna.
Segundo Stephen Hawking, Galileu provavelmente tem mais responsabilidade pelo nascimento da ciência moderna do que qualquer outra pessoa, sendo que Albert Einstein o chamou de "pai da ciência moderna".
As descobertas astronômicas e investigações de Galileu sobre a teoria copernicana levaram a um legado duradouro que inclui a categorização das quatro grandes luas de Júpiter descobertas por ele (Io, Europa, Ganimedes e Calisto) como as "luas galileanas". Outros esforços e princípios científicos têm o nome de Galileu, incluindo a sonda Galileo, a primeira sonda a entrar em órbita em torno de Júpiter, a proposta de sistema global de navegação por satélite Galileo, a transformação entre sistemas inerciais na mecânica clássica denominada transformação galileana e a Gal (unidade), às vezes conhecido como "Galileo", que é uma unidade de aceleração não SI.
Em parte porque o ano de 2009 foi o quarto centenário das primeiras observações astronômicas registradas por Galileu com o telescópio, as Nações Unidas programaram-no para ser o Ano Internacional da Astronomia. O planeta Galileu e o asteróide 697 Galilea são nomeados em sua homenagem.
Na mídia artística e popular.
Galileu é mencionado várias vezes na seção "ópera" da música "Bohemian Rhapsody, da banda Queen.
Várias peças do século XX foram escritas sobre a vida de Galileu, incluindo "A Vida de Galileu" (1943) pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht, com uma adaptação cinematográfica (1975), e "Lamp At Midnight" (1947) por Barrie Stavis, assim como a peça de 2008 "Galileo Galilei".
Kim Stanley Robinson escreveu um romance de ficção científica intitulado "Galileo's Dream" (2009), no qual o Galileu é trazido ao futuro para ajudar a resolver uma crise da filosofia científica; a história se move para frente e para trás entre a época de Galileu e um futuro distante hipotético e contém uma grande quantidade de informações biográficas.
Escritos.
Os primeiros trabalhos de Galileu que descrevem instrumentos científicos incluem o tratado de 1586, intitulado "La Billancetta", que descreve uma balança precisa para pesar objetos no ar ou na água e o manual impresso de 1606, "Le Operazioni del Compasso Geometrico et Militare," sobre a operação de um sistema geométrico e uma bússola militar.
O "Sidereus Nuncius" de Galileu, escrito em 1610, foi o primeiro tratado científico a ser publicado com base em observações feitas através de um telescópio. Ele relatou suas descobertas de:
Galileu publicou uma descrição das manchas solares em 1613, intitulada "Cartas sobre as Manchas Solares" sugerindo que o Sol e o céu são corruptíveis. As "Cartas" também relataram suas observações telescópicas de 1610 de todo o conjunto de fases de Vênus e sua descoberta dos intrigantes "apêndices" de Saturno e seu desaparecimento subsequente, ainda mais intrigante. Em 1615, Galileu preparou um manuscrito conhecido como "Carta à Grã-duquesa Christina", que não foi publicada em formato impresso até 1636. Essa carta era uma versão revisada da "Carta a Castelli", denunciada pela Inquisição como uma incursão na teologia, defendendo o copernicanismo como fisicamente verdadeiro e consistente com as Escrituras. Em 1616, após a ordem da Inquisição de Galileu de não manter ou defender a posição copernicana, Galileu escreveu o "Discurso sobre as Marés" ("Discorso sul flusso e o refluxo del mare") baseado na terra copernicana, na forma de um carta particular ao cardeal Orsini. Em 1619, Mario Guiducci, aluno de Galileu, publicou uma palestra escrita em grande parte por Galileu, sob o título "Discurso sobre os Cometas" ("Discorso Delle Comete"), argumentando contra a interpretação jesuíta dos cometas.
Em 1623, Galileu publicou "Il Saggiatore", que atacava teorias baseadas na autoridade de Aristóteles e promovia a experimentação e a formulação matemática de ideias científicas. O livro foi muito bem-sucedido e até encontrou apoio entre os escalões mais altos da igreja cristã.
Publicações.
As principais obras escritas de Galileu são as seguintes:
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922 | Gouryella | Gouryella
Gouryella é um projeto de trance que juntou Ferry Corsten, Tiësto e posteriormente, John Ewbank. Atualmente o projeto conta apenas com Ferry Corsten.
A palavra "Gouryella" significa céu em linguagem aborígena. O projeto é estrondosamente conhecido pelos seus dois primeiros lançamentos, Gouryella e Walhalla, em Maio e Setembro de 1999, respectivamente. As duas faixas são consideradas dois clássicos do trance. Muitos ouvintes do Trance Music consideram "Gouryella" o melhor projeto de Trance já feito. Todos os singles lançados por eles tiveram um videoclip, à excepção de Walhalla.
Biografia.
Em 1999, os bem-sucedidos holandeses Tiësto e Ferry Corsten juntaram-se para criar este projeto de trance. Para mostrar bem o seu enorme sucesso, houve 20 lançamentos de CDs separados dos 4 singles dos Gouryella em 9 editoras diferentes.
O projeto Gouryella é conhecido por ter lançado 6 faixas: Gouryella, Gorella, Walhalla, In Walhalla, Tenshi e Ligaya. No entanto, Gorella e In Walhalla são B-Sides que poderão apenas ser encontrados nos CDs que se lançaram nos mercados alemão e holandês.
Nos finais de 2000, Tiësto decidiu abandonar o projecto para se dedicar na sua carreira a solo e Ferry escreveu Ligaya, lançada em 2002, sozinho.
O primeiro single, Gouryella, lançado em Maio de 1999, teve, talvez, o maior sucesso de todos os singles e o CDM (CD Maxi-Single) contou com remixes de Gigilo e Armin van Buuren. Walhalla, lançado em Setembro do mesmo ano, também contava com remixes de Armin van Buuren e Hybrid.
O lançamento de Tenshi em Outubro de 2000 mostra um lado diferente dos Gouryella, mais longe do "euphoric hardcore" evidenciado por Gouryella e Walhalla, o que, segundo alguns fãs, representou a crescente influência de Tiësto no projecto. Contudo, um estonteante remix de Transa tornou a faixa um clássico. O CDM de Tenshi contém remixes de Transa, ATB, Mark Moon, Ratty (Scooter) e Ronald Klinkenberg.
Ferry produziu, já sem Tiësto, Ligaya, lançada em 2002, continha, ao contrário dos singles anteriores, vocais, de Patty Gaddum. Os autores dos remixes foram Paul van Dyk, Green Court, Airbase, Hiver & Hammer, Yoji Biomehanika, Walt (estes dois últimos num estilo mais hardstyle trance), para além do próprio Ferry Corsten.
Para além do projecto Gouryella, os mesmos autores, Ferry Corsten e DJ Tiësto lançaram também um single, We Came, sob o nome de Vimana. Este single contém um B-Side, Dreamtime. No entanto, estas faixas não têm o estilo "hardcore euphoric", mais próprio dos Gouryella.
Atualmente o projeto Gouryella retomou suas atividades contando apenas com a participação de Ferry Corsten.
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923 | Gibraltar | Gibraltar
Gibraltar (; ; ; ; ) é um território ultramarino britânico localizado no extremo sul da Península Ibérica. Corresponde a uma pequena península, com uma estreita fronteira terrestre a norte, é limitado, dos outros lados, pelo mar Mediterrâneo, estreito de Gibraltar e baía de Gibraltar, já no Atlântico. A Espanha mantém a reivindicação sobre "o Rochedo", o que é totalmente rejeitado pela população gibraltina.
O nome Gibraltar tem origem na no topónimo árabe "jabal al-Tariq" que significa "montanha de Tárique". A montanha, um promontório militarmente estratégico na entrada do mar Mediterrâneo, guarnece o estreito oceânico que separa a África do continente europeu. O nome é uma homenagem ao general berbere Tárique que em 711 aí desembarcou, iniciando a conquista do Reino Visigótico.
Antes foi chamado pelos fenícios de Calpe, uma das Colunas de Hércules. Popularmente, Gibraltar é chamada de "Gib" ou "The Rock" ("o Rochedo").
História.
A região de Gibraltar tem seus primeiros sinais de ocupação humana datados entre 128 e 34 mil anos antes de Cristo, inclusive com a presença dos extintos neandertais. Ao longo da história, outros povos habitaram o local: cartagineses, romanos, vândalos, muçulmanos e espanhóis. Em 1462, as tropas comandadas por Juan Alonso Pérez de Guzmán, duque de Medina Sidónia, ao serviço da Coroa de Castela, expulsaram os muçulmanos e ocuparam de forma relativamente fácil a zona, de modo definitivo. Atualmente, o brasão e a bandeira evocam o antigo reino de Castela.
Uma força anglo-neerlandesa liderada por Sir George Rooke apoderou-se de Gibraltar em 1704. Para a história ficaram episódios heróicos como a que levou a batizar uma das praias como "Baía dos Catalães" (Catalan Bay) devido ao facto de ter desembarcado na mesma a 4 de agosto de 1704 um batalhão de 300 a 350 soldados da Catalunha que combateram lado a lado com as tropas anglo-holandesas contra as forças borbónicas de . Quando o Conde de Toulouse Luís Alexandre de Bourbon tentou a reconquista do território, os soldados catalães foram muito bem sucedidos na sua missão de defendê-la e evitar a reconquista borbónica, o que levou a baía a ser conhecida pelo nome atual.
O território acabou por ser cedido à Grã-Bretanha pela Espanha no Tratado de Utrecht em 1713, como parte do pagamento da Guerra da Sucessão Espanhola. Nesse tratado, Espanha cedeu à Inglaterra ""… a total propriedade da cidade e castelo de Gibraltar, junto com o porto, fortificações e fortes (…) para sempre, sem qualquer exceção ou impedimento"."
Apesar de tudo, o tratado de cessão estipula que nenhum comércio por terra entre Gibraltar e a Espanha deve ocorrer, exceto para provisões em caso de emergência se Gibraltar não conseguir ser abastecida por mar. Uma condição especial nesse tratado é que "nenhuma permissão deve ser dada sob qualquer pretexto, tanto a judeus quanto a mouros, para morarem ou terem residência na dita cidade de Gibraltar". Ambas restrições foram rapidamente ignoradas, sendo que por muitos anos tanto judeus quanto árabes moraram pacificamente em Gibraltar, e em 1882 foi criada a Câmara de Comércio de Gibraltar. O final do artigo X do Tratado indica que se à Coroa britânica "lhe parecer conveniente dar, vender ou dispor, de qualquer modo, a propriedade da dita Cidade de Gibraltar, foi acordado e concordado por este Tratado, que se dará a Coroa de Espanha a primeira ação antes que outros para a redimir".
Em junho de 1779 as forças combinadas de Espanha e França montaram um cerco a Gibraltar após a assinatura do terceiro Pacto de Família com o fim de contrariarem a suposta superioridade britânica, enfraquecer o seu poderio no Mediterrâneo, e reconquistar Minorca. Sob o comando do general George Eliott estavam cinco mil soldados que se opuseram ao cerco formado por terra e mar. Este foi levantado apenas a 7 de fevereiro de 1783, sem que tivessem as forças franco-espanholas tomado Gibraltar, o que foi tomado no Reino Unido como uma grande vitória militar. Eliott foi tornado cavaleiro e agraciado com o novíssimo título de Barão Heathfield de Gibraltar.
Durante a ditadura fascista de Francisco Franco, apesar de terem sido levadas a cabo negociações com o Alemanha Nazi para uma possível invasão, as fronteiras do "rochedo" mantiveram-se encerradas, e durante a Segunda Guerra Mundial albergaram as tropas da Força H da Marinha Real Britânica, bem como o quartel-general do General Dwight D. Eisenhower.
No início dos anos 1960, o governo espanhol levantou a "questão de Gibraltar" perante a Comissão de Descolonização das Nações Unidas e a Assembleia Geral aprovou as resoluções 2 231, de 1966 e 2 353, de 1967, que pediam o início das conversações entre Espanha e Reino Unido para por fim a situação "colonial" de Gibraltar, salvaguardando os interesses do povo de Gibraltar. Em resposta a estas resoluções, as autoridades de Gibraltar apelaram o direito à autodeterminação e o Reino Unido organizou um referendo em 1967 para os gibraltinos, em que 99,64% dos eleitores manifestaram a sua vontade de permanecer sob soberania britânica, o que também foi interpretado adicionalmente como uma rejeição ao regime franquista.
A abertura da fronteira e o intercâmbio de bens voltou a ser possível em dezembro de 1982. Mais recentemente, num segundo referendo que ocorreu em novembro de 2002, 99% dos votantes rejeitaram qualquer proposta de partilha de soberania entre o Reino Unido e Espanha. No entanto, os gibraltinos têm procurado um "status" mais avançado e um relacionamento com o Reino Unido que reflita o presente nível de autogoverno. Uma nova constituição para o território foi aprovada por uma maioria de 60% em 2006.
Em julho de 2009 o ministro dos Negócios Estrangeiros de Madrid, Miguel Ángel Moratinos (PSOE), fez uma visita histórica a Gibraltar, pela primeira vez em 300 anos um ministro espanhol visitou o "rochedo", e levou a cabo negociações sobre diversas matérias, não deixando, contudo, de reclamar a soberania de Espanha, apesar das ruas estarem engalanadas pelos moradores com bandeiras britânicas e gibraltinas.
Política.
Gibraltar é um dos territórios ultramarinos britânicos, onde o poder executivo é partilhado pelo governador, designado pelo monarca do Reino Unido, e pelo seu governo autónomo, presidido por um Ministro Principal. Desde a adoção das cartas constitucionais de 1969 e de 2006, este último desenvolveu a sua autonomia em diversos aspetos, embora os assuntos de defesa, relações externas, segurança interna e finanças sejam competências reservadas ao governador de Gibraltar.
Geografia.
Gibraltar é uma pequena península localizada no sul da Península Ibérica, com uma superfície de 6,8 km², limitada a norte por uma estreita fronteira terrestre com Espanha e, dos outros lados, pelo Mar Mediterrâneo, Estreito de Gibraltar e Baía de Algeciras, com 12 km de linha de costa.
O seu aspeto é de um promontório com 426 m de altitude e o seu clima é mediterrânico, com invernos suaves e verões quentes.
Economia.
Uma vez que Gibraltar não possui recursos agrícolas nem minerais, os seus habitantes, na maior parte, têm as suas atividades económicas relacionadas com o porto, as docas, as bases da NATO (OTAN), o comércio eletrónico e as atividades financeiras. As principais atividades são as reparações navais, o abastecimento aos navios, as indústrias alimentares e de bebidas, o turismo, o comércio e os serviços de reexportação.
Embora a presença naval britânica em Gibraltar tenha diminuído muito desde o seu auge, antes da Segunda Guerra Mundial, o estreito de Gibraltar é uma das mais frequentadas vias marítimas do Mundo, com a passagem de um navio a cada seis minutos.
Subdivisões.
Gibraltar não tem subdivisões como outros territórios. Todavia, em termos meramente estatísticos pode ser subdividido em sete áreas residenciais. Elas estão listadas em baixo, sendo os dados da população retirados do censo de 2001.
Infraestruturas.
Transportes.
Gibraltar é servida pelo Aeroporto de Gibraltar.
Complexos desportivos.
Estádio Victoria, com capacidade para pessoas.
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